Buscar

Tributos anselmo

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Direito Tributário 2 Hugo Goes
CAPÍTULO II (1ª parte)
TRIBUTO
1. CONCEITO
CTN – Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se
possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante
atividade administrativa plenamente vinculada.
a) Prestação pecuniária – deve ser pago em dinheiro, não admitindo o pagamento em
serviços ou em bens diversos do dinheiro.
b) Compulsória – o dever de pagar tributo nasce diretamente da lei, sem que se interponha
qualquer ato de vontade daquele que assume a obrigação. A vontade do contribuinte é
irrelevante e por isso até mesmo os incapazes podem ser sujeitos passivos das obrigações
tributárias. Assim, o tributo é uma prestação compulsória, ou seja, obrigatória.
c) Em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir – o tributo deve ser pago em moeda
corrente do País (obrigação pecuniária). De acordo com a maioria dos tributaristas, nosso
direito desconhece o tributo in natura ou in labore.
Tributo in natura: parte da mercadoria comercializada é entregue ao Fisco a título de
pagamento de tributo, por exemplo.
Tributo in labore: a cada mês o sujeito passivo destinaria alguns dias de seu trabalho à
entidade tributante.
Como se pode notar, há uma redundância no art. 3º do CTN, pois “pecuniárias” são
precisamente as prestações em dinheiro ou “em moeda”. Se a prestação é pecuniária, seu
valor só há de poder (ou melhor, ele deverá) expressar-se em moeda, pois inconcebível seria
que se expressasse em sacos de farinha (Amaro, 2002: 20). Assim, a expressão “em moeda
ou cujo valor nela se possa exprimir” não tem qualquer significado no art. 3º do CTN.
No entanto, há quem veja, no texto comentado, uma abertura para a criação de tributos
in natura ou in labore. Sob essa perspectiva, Kiyoshi Harada afirma que “a forma usual de
satisfazer o tributo é em moeda corrente; porém, nada impede que possa o pagamento do
tributo ser feito por algo equivalente à moeda, desde que a legislação ordinária de cada
entidade tributante assim o determine, como faculta o CTN. Alguns autores incluem até o
trabalho humano, fato que tem causado controvérsia quanto à natureza tributária do serviço
militar, que é obrigatório e é instituído em lei” (Harada, 2002: 303).
De qualquer modo, não nos parece que assim possa ler-se o texto legal, pois prestação
pecuniária é sempre expressa “em moeda” ou (o que dá no mesmo) tem valor que nela
(moeda) se exprime. Para que o conceito abrangesse tributos in natura ou in labore, ter-se-ia
de dizer: “tributo é a prestação em moeda, bens ou serviços etc.”, ou ainda: “tributo é a
prestação cujo valor se expressa em moeda, ou nela se possa traduzir etc”. Se se disse
“prestação pecuniária”, afastou-se, como objeto da obrigação tributária, tudo que não seja
pecuniária (Amaro, 2002: 20/21).
d) Que não se constitua sanção de ato ilícito –essa expressão serve para distinguir o tributo
da multa.
A multa sempre representa uma penalidade pecuniária pela prática de ato ilícito
(vender mercadoria sem a emissão de nota fiscal, por exemplo).
A cobrança de tributo não representa imposição de penalidade. A hipótese de
incidência do tributo é sempre algo lícito.
 Não se conclua, por isto, que um rendimento auferido em atividade ilícita não esteja
sujeito a tributo. Nem se diga que admitir a tributação de tal rendimento seria admitir a
tributação do ilícito (Machado, 2002: 59).
Quando se diz que o tributo não constitui sanção de ato ilícito, isto quer dizer que a lei
não pode incluir na hipótese de incidência tributária o elemento ilicitude. Se o faz, não está
instituindo um tributo, mas uma penalidade. Todavia, um fato gerador de tributo pode ocorrer
em circunstâncias ilícitas, mas essas circunstâncias são estranhas à hipótese de incidência do
tributo, e por isso mesmo irrelevantes do ponto de vista tributário (Machado, 2002: 59/60).
Tomemos o exemplo do imposto de renda: se alguém percebe rendimento decorrente
da exploração de uma casa de prostituição, ou de jogo de azar, o imposto de renda será
devido. Não que incida sobre a atividade ilícita, mas porque a hipótese de incidência do tributo
(no caso, a aquisição de renda ou proventos de qualquer natureza) ocorreu. Para que o
Direito Tributário 3 Hugo Goes
imposto de renda seja devido é necessário que o contribuinte adquira renda ou proventos de
qualquer natureza. Isto basta. Não importa como adquiriu a renda ou os proventos. Se
decorrente de atividade lícita ou ilícita, isso não está dito na descrição normativa da hipótese
de incidência, sendo, portanto, irrelevante (Machado, 2002: 60).
 Vejamos a esse respeito o que diz a jurisprudência do STF:
"Sonegação fiscal de lucro advindo de atividade criminosa: non olet. Drogas: tráfico de
drogas, envolvendo sociedades comerciais organizadas, com lucros vultosos subtraídos à
contabilização regular das empresas e subtraídos à declaração de rendimentos:
caracterização, em tese, de crime de sonegação fiscal, a acarretar a competência da Justiça
Federal e atrair pela conexão, o tráfico de entorpecentes: irrelevância da origem ilícita, mesmo
quando criminal, da renda subtraída à tributação. A exoneração tributária dos resultados
econômicos de fato criminoso — antes de ser corolário do princípio da moralidade — constitui
violação do princípio de isonomia fiscal, de manifesta inspiração ética." (HC 77.530, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, DJ 18/09/98).
e) Instituída em lei – O tributo só pode nascer da lei (princípio da legalidade, CF, art. 150, I). O
tributo federal só pode ser criado por lei da União; o estadual, só por lei do respectivo Estado; e
o municipal, só por lei do respectivo Município.
A lei instituidora do tributo é, em regra, a lei ordinária. Só nos casos expressamente
previstos pela Constituição é que se há de exigir lei complementar para esse fim.
f) Cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada
 A atividade administrativa pode ser classificada em: arbitrária, discricionária e
vinculada.
Arbitrária: é aquela em cujo desempenho a autoridade não sofre qualquer limite. Sua
liberdade é absoluta. Não deve obediência a qualquer regra jurídica. Esse tipo de atividade é
incompatível com o Estado Democrático de Direito.
Discricionária: é aquela em cujo desempenho a autoridade administrativa dispõe de
liberdade para decidir sobre a conveniência e a oportunidade de agir e sobre como agir.
Vinculada: é aquela em cujo desempenho a autoridade administrativa não goza de
liberdade para apreciar a conveniência nem a oportunidade de agir.
 O ato de cobrar tributos dos contribuintes não poderá ser nem discricionário nem
arbitrário, isto é, terá que ser vinculado à lei, ou seja, nos limites da lei. A autoridade
administrativa agirá exatamente como determina a norma legal. Ou o tributo é devido, nos
termos da lei, e neste caso há de ser cobrado, ou não é devido, também nos termos da lei, e
neste caso não será cobrado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributário. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 21ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002.
www.editoraferreira.com.br

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais