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DOENÇAS CARENCIAIS E SUPLEMENTAÇÃO MINERAL Paulo Marcos Ferreira Antônio Último de Carvalho Elias Jorge Facury Filho Sandra Gesteira Coelho Ana Luiza Costa Cruz Borges Marina Guimarães Ferreira Rafael Guimarães Ferreira Escola de Veterinária de UFMG Centro de Extensão Abril de 2005 1. HISTÓRICO Embora existam relatos de uso do sal (Cloreto de Sódio) na alimentação animal no início da era cristã, os primeiros e os mais importantes estudos sobre nutrição mineral ocorreram a partir do início do século passado. Existem relatos do uso medicinal do zinco pelos egípcios no tratamento das enfermidades cutâneas, na época da construção das pirâmides. No entanto, grandes descobertas na nutrição mineral ocorreram especialmente nos anos 70. O atual notável desenvolvimento genético das diversas linhagens de bovinos tem provocado grandes mudanças nas exigências nutricionais desses animais e os minerais têm- se mostrado particularmente importantes na produtividade e saúde dos mesmos. 2. INTRODUÇÃO No Brasil, o uso de minerais na alimentação dos bovinos passa quase sempre por produtos industrializados utilizados aleatoriamente, sem nenhuma avaliação de sua composição mineral. Esse mercado desperta grandes interesses comerciais de muitas indústrias que, freqüentemente, não dão o retorno desejável aos produtores. Não se pode nunca desprezar os valores minerais das gramíneas ou de outros alimentos, visto que muitas vezes representam a principal fonte de minerais e, com freqüência, atendem aos requisitos de alguns elementos. Além disto, muitos produtos são fabricados para todo o Brasil desconsiderando-se as grandes diferenças regionais ou locais. O custo gerado pela utilização de misturas minerais comerciais pode chegar a 30-40% das despesas de uma fazenda de gado de corte. Pode- se estimar em animais destinados ao abate em 6-7% o valor final do boi gordo como custo de mineralização. Preocupante é o fato de que muitos minerais utilizados nessas misturas são dispensáveis ou podem estar contribuindo ainda mais para o desbalanceamento da fórmula, e outros, absolutamente necessários, podem estar sendo fornecidos abaixo dos requisitos. O exemplo mais comum é a utilização de ferro na maioria das fórmulas comerciais sendo que no Brasil o maior problema observado é exatamente o inverso, ou seja, excesso de ferro em nossas pastagens e, maior equívoco ainda, é a utilização do óxido de ferro não metabolizado pelos ruminantes. Por outro lado, observam-se níveis pobres de minerais como fósforo, enxofre, zinco, cobre e selênio, sabidamente deficientes na maioria das nossas pastagens, e freqüentemente mal suplementados. 2 3. MINERAIS São elementos inorgânicos, sendo que nem todos os elementos químicos do corpo animal são minerais como, por exemplo, carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. A queima por combustão dos alimentos a altas temperaturas e a transformação em cinzas não medem corretamente a matéria mineral total do corpo animal, visto que elementos como enxofre, selênio, flúor e até sódio e cloro podem se perder neste processo. Os minerais são constituintes dos ossos e dentes, responsáveis pela manutenção e regulação da pressão osmótica, do equilíbrio ácido-básico, componente ou ativador de numerosos sistemas enzimáticos (aproximadamente 300 já identificados) ou hormonais entre tantas outras funções. 9 Composição Mineral do Corpo: O corpo animal tem aproximadamente 4% de minerais, sendo o cálcio o mais abundante (2%). O fósforo representa 1% e a soma dos outros elementos restantes, 1%. Apesar desta composição, os minerais que apresentam maior mobilidade podem ter requisitos diários mais elevados como o Potássio, por exemplo. 4. CLASSIFICAÇÃO DOS MINERAIS 9 Macrominerais: Os macrominerais - Cálcio (Ca), Fósforo (P), Potássio (K), Magnésio (Mg), Enxofre (S), Sódio (Na) e Cloro (Cl), são os minerais exigidos em concentrações mais altas pelo organismo animal e relacionados em porcentagem (%) da matéria seca (m.s) diária. 9 Microminerais: Os microminerais (elementos traços) são aqueles exigidos em concentrações menores, expressas em partes por milhão (ppm) ou mg/Kg da matéria seca diária. Os mais tradicionais são oito: Zinco (Zn), Ferro (Fe), Manganês (Mn), Cobre (Cu), Cobalto (Co), Iodo (I), Selênio (Se), Flúor (F), acrescentados do Molibdênio (Mo) e Cromo (Cr), já com funções bem definidas. A partir de 1970 foram incluídos na relação dos minerais essenciais, Arsênico, Boro, Chumbo, Lítio, Níquel, Silício, Estanho, Vanádio e Rubídio, determinados a partir de dietas purificadas em sistemas isolados, livres dos mesmos, avaliando-se efeitos benéficos sobre o organismo. Embora alguns destes elementos já tenham suas funções claramente definidas são requeridos em quantidades diminutas, não merecendo preocupação no fornecimento e sua presença, sendo suprida por contaminações dos alimentos. 3 5. REQUERIMENTOS E TOLERÂNCIA Têm sido determinados por organismos internacionais como NRC (National Research Council), ARC (Agriculture Research Council) e outros. Poucos trabalhos são realizados no Brasil buscando informações dos nossos rebanhos sob nossas condições. Os requerimentos são expressos em proporções da matéria seca da dieta/dia. Deve-se considerar que não existe requerimento único ou nível máximo de segurança tolerável, visto que estes variam em função de interações entre minerais e também pela regulação homeostática que muitas vezes protege contra deficiências ou excessos marginais através da alteração das taxas de absorção ou de excreção. Desta forma, animais com deficiências têm maior capacidade de absorção do que outros com “status” adequados, podendo além disso, reduzir a excreção via leite, urina, etc. As requisições podem ser alteradas em função dos níveis de produtividade, pois alguns minerais são componentes, por exemplo, da carne e do leite. A princípio pode-se considerar que não existe substância tóxica nem atóxica, mas sim concentrações tóxicas das substâncias. A água, por exemplo, pode ser consumida em níveis prejudiciais ao organismo. De forma geral, os níveis de tolerância dos macroelementos são 2-10 vezes o requisito, enquanto os dos microelementos variam de 4-1500 vezes. Estes níveis podem ser alterados em função do estado fisiológico, idade, produção, raça, adaptação, disponibilidade biológica da fonte, interrelações entre minerais e efeitos sazonais. 6. DISPONIBILIDADE BIOLÓGICA O valor biológico dos minerais é analisado sempre de forma comparativa com outra fonte do mineral usada como referência. O melhor exemplo refere-se ao valor biológico das fontes de fósforo onde o fosfato tricálcico é o padrão 100%, o bicálcico comparativamente apresenta valor 95%, a farinha de ossos calcinados 90%, o fosfato monoamônico 119%, o fósforo das forrageiras 60% e o do milho 30%. O cálcio das fontes minerais também apresenta uma grande diferença de disponibilidade quando comparado ao das forragens aproximadamente 90% para 30%. Alguns minerais, independentemente das fontes, são altamente disponíveis como o potássio, sódio e cloro, e outros também são pouco disponíveis como o manganês, ferro e cobre. Em função da homeostase podem ocorrer grandes variações da absorção com o zinco que pode variar em função do “status” entre 10-80%. Geralmente as fontes de microelementos inorgânicos são consideradas com valores biológicos elevados e os orgânicos (proteinados) são superiores a estas. 4 7. AVALIAÇÃO DO “STATUS” MINERAL Nenhum parâmetro isolado é inteiramente confiável no diagnóstico dos problemas minerais. Para um diagnóstico deve-se lançar mão de vários métodos e compará-los. Os índices produtivos do rebanho, sinaisclínicos de doenças observados, análise dos alimentos, da água, do solo e dos tecidos animais são os métodos mais utilizados. O diagnóstico deve ser checado com a resposta positiva às correções realizadas. Os resultados das análises minerais e suas interpretações nos diversos tecidos se encontram na tabela 4. 8. IMPORTÂNCIA DA ÁGUA, DO SOLO E DOS ALIMENTOS A água de muitas regiões pode ser uma importante fonte de minerais ou, mais freqüentemente, um sério problema para a mineralização adequada. Águas com excesso de sal (cloreto de sódio) dificultam a ingestão de misturas minerais já que o sal (NaCl) é o palatabilizante e o inibidor de consumo das mesmas. Em algumas regiões, a presença de águas duras, ricas em Ca e Mg especialmente, merecem ser avaliadas no balanceamento. Além disto, algumas vezes se detectam águas sulfurosas e ferruginosas que podem dificultar a criação de ruminantes. 9. PRINCIPAIS MINERAIS 9.1. Cálcio e Fósforo Estes elementos devem ser avaliados em conjunto, pois existe uma grande interrelação entre eles. Sua deficiência prolongada em animais jovens leva ao raquitismo e, em adultos, leva a osteomalácia. A deficiência de fósforo no Brasil, provavelmente se constitui no maior obstáculo aos programas de mineralização, pois representa o maior custo das misturas minerais (70-85% do valor total). A relação entre o cálcio e o fósforo só se constitui em problema para bovinos quando superiores a 7:1 ou inferiores a 1:1 (Ca:P). Em condições normais, os bovinos toleram bem estas relações, mas são utilizadas preferencialmente relações como 2:1 até 1,2:1. A homeostase de Ca e P é mantida graças a três hormônios: PTH (Paratormônio), 1,25 dihidroxicolecalciferol (vitamina D) e a Calcitonina. A Calcitonina deprime a absorção intestinal do cálcio, a desmineralização óssea e a reabsorção renal quando os níveis de Cálcio se encontram elevados. A vitamina D estimula a absorção intestinal destes minerais quando necessário e o PTH aumenta a excreção de fósforo quando os níveis de cálcio estão baixos ou os de fósforo altos. Assim, o PTH é secretado nos casos de hipocalcemia, aumentando a reabsorção óssea. Os requisitos 5 de cálcio e fósforo da dieta aumentam em função do ganho de peso e da produção de leite especialmente. 9 Funções O Cálcio é essencial na formação do esqueleto(99%), coagulação sangüínea, regulação do ritmo cardíaco, excitabilidade neuromuscular, ativação de diversos sistemas enzimáticos e permeabilidade de membranas. O fósforo participa também da formação do esqueleto(80%), estando ainda distribuído nos tecidos moles, hemácias, músculos e tecidos nervosos. É essencial a microbiota ruminal especialmente para as bactérias celulolíticas, tendo papel fundamental nas reações de produção de energia (ATP). Além disto é importante no tamponamento do sangue, na atividade de vários sistemas enzimáticos e metabolismo das proteínas. 9 Requerimentos Os requisitos de cálcio para a produção de leite variam em função do teor de gordura e da matéria seca, sendo em torno de 1,22g/litro para a vaca Holandesa (4% de gordura) e de 1,45g/L para a Jersey. Para ganho de peso é de 17g por Kg de peso (vivo)/ganho. Os requisitos para mantença são de ±0,06% m.s. Para o fósforo, estima-se para produção de leite 0,9g por litro de leite (4 % de gordura), e para crescimento varia de 9g p/Kg p.v jovem até 6g p/Kg para animais mais maduros. TABELA 1- Requisitos de Cálcio, Fósforo e Magnésio MINERAIS MANTENÇA + LACTAÇÃO ENGORDA Kg PRENHEZ LACTAÇÃO Kg/Leite CÁLCIO 0,06% + 0,06% 8-17g 1,0g 1,2-1,4g FÓSFORO 0,06% + 0,06% 9g 1,5g 0,9g MAGNÉSIO 0,06% 0,45g 0,33 0,6g 9 Deficiências Geralmente, as pastagens brasileiras apresentam níveis médios de cálcio e níveis baixos ou muito baixos de fósforo. Para gado de corte, estes níveis de fósforo se constituem no maior obstáculo à produção, exigindo por parte de técnicos e criadores uma atenção especial. Em algumas pastagens do cerrado os níveis são tão baixos que sua correção através do consumo voluntário de misturas minerais se torna muito difícil. Para gado leiteiro, o fornecimento de concentrados quase sempre reduz o problema com o fósforo, já que os grãos são mais ricos neste 6 elemento do que as forragens. A preocupação passa a ser o balanceamento de ambas nas rações em função dos diferentes níveis de produção. As deficiências crônicas destes elementos levam em bovinos jovens ao raquitismo e à Osteomalácia nos adultos. As deficiências agudas causam os quadros de Hipocalcemia Puerperal (HP). Hipocalcemia Puerperal: A deficiência aguda de cálcio em vacas recém-paridas (hipocalcemia), se constitui em um problema metabólico grave, em função da dificuldade do organismo em promover uma homeostase rápida da calcemia, com o aumento da demanda na produção de colostro. Os níveis de cálcio no colostro são de 2,2 gramas por litro (bem mais elevados do que os do sangue) e, os do leite são de 1,3 gramas por litro, o que significa que para produzir 9 litros de colostro deveria ser mobilizado todo o cálcio sangüíneo. Isto torna imprescindíveis os processos de reabsorção óssea e absorção intestinal do cálcio. A doença ocorre em vacas leiteiras, entre 48 – 72 horas após o parto, principalmente a partir da terceira parição. Sua incidência vem aumentando à medida que o nível de produção das vacas vem se elevando. Etiologia: Ainda se constitui em assunto de pesquisa, pois não se conhecem detalhadamente todos os seus mecanismos. Na manutenção da calcemia estão envolvidos o PTH, o metabólico ativo da vitamina D - 1,25 (OH)2D3 e os receptores específicos presentes nos rins, ossos e intestinos. Entre as teorias endócrinas da doença citam-se a insuficiência da paratireóide, o hipercalcitonismo e o metabolismo anormal da vitamina D. Entretanto, alguns estudos têm demonstrado que a maioria das vacas que apresentam a hipocalcemia possuem concentrações normais de PTH. Somente 20 a 30% têm problemas de atraso na liberação do PTH ou da vitamina D, sendo exatamente os animais que não respondem ao tratamento. Estudos recentes indicam que a resposta dos rins e do tecido ósseo ao PTH está diminuída nestes casos e que se modifica em função da dieta do pré-parto, especialmente por causa dos cátions (Na e K) que promovem uma leve alcalose metabólica. Além disto a presença do Mg pode influir nos efeitos do PTH sobre o tecido ósseo. A conclusão que se pode chegar é que a alcalose do pré-parto predispõe as vacas à hipocalcemia. A calcitonina imobiliza o cálcio no osso por diminuição da atividade osteoclástica, mas os níveis de calcitonina nos casos de hipocalcemia não diferem dos normais. Os principais fatores relacionados à hipocalcemia em vacas leiteiras são o manejo da dieta do pré-parto e pós-parto: Excesso de Ca (às vezes de P) no período de transição; Deficiência de Mg no período seco; 7 Excesso de NNP (influência sobre o Mg); Alta relação de carboidratos solúveis/estruturais, dificultando a função ruminal e causando engorda excessiva; Excesso de cátions na dieta do pré-parto (K). Alguns autores chegam a considerar a hipocalcemia como uma seqüela da intoxicação por K, causando alcalose, reduzindo atividades dos receptores tissulares e baixando a absorção do Mg; Deficiência de Ca, P e Mg no pós-parto. Sinais Clínicos: No início da doença pode ocorrer excitação, ranger de dentes, tetania ou flacidez, especialmente nos membros posteriores. A evolução leva a decúbito esternal, sonolência, cabeça voltada para o flanco, depressão da consciência, extremidades frias, dilatação pupilar, e diminuição dos reflexos. Em fase mais avançada ocorre decúbito lateral, extensão dos membros, dispnéia, gemidos e morte. Prevenção: Uma das alternativasde prevenção da doença é reduzir a administração de Ca no pré-parto a um mínimo compatível com o uso de forrageiras (máximo de 45g vaca/dia) mantendo a relação Ca:P 1:1 ou menor que este nível. Na Argentina, em animais com lactações até 5.500 kg/305 dias, esta medida, acompanhada pela administração de 35-40g de Mg/vaca dia, mostrou-se eficiente. Para animais com lactações maiores de 7.000 kg, ou quando as forragens eram ricas em K e NNP, o balanço cátion-aniônico (DCAD) negativo na ordem de menos 50 a menos 200 mEq/kg/m.s., usado nas últimas 4 a 6 semanas da gestação, foi mais eficiente. Para isto, foram administrados cloretos e sulfatos (sais aniônicos) na dieta. O uso de 150 g de cloreto de cálcio, 150 g de sulfato de amônio e 29 g de óxido de magnésio vaca/dia, reduziu significativamente a prevalência de hipocalcemia. Entretanto, a utilização das equações de DCAD negativas não são práticas na rotina das fazendas. DCAD = (Na + K) – (Cl + S) ou DCAD = (0,2 Ca + 0,16 Mg + Na + K) – (Cl + 0,6 S + 0,64 P) Esta equação tem sido usada na determinação do balanço catiônico, mas tem sido sugerido como bom parâmetro do risco da hipocalcemia, a medição do pH urinário nas últimas 3 semanas da gestação sendo que, para vacas holandesas o pH ideal está entre 6,2–6,8 e, para as jerseys, entre 5,8-6,3. Quando a dieta está rica em cátions o pH fica acima de 8,2 o que indicaria a necessidade de redução dos mesmos ou a administração de sais aniônicos. Após a mudança da dieta, o pH pode ser reavaliado a cada 48 horas. A utilização oral do propionato de cálcio e do propileno-glicol fornecendo 90g de Ca e administrado 24-48 horas, 8 no pré-parto e 6 horas no pós-parto, tem se mostrado muito eficientes, demonstrando ainda efeitos anti-cetogênicos. 9 Toxidade Atenção especial deve ser dada a rações com altos níveis de cálcio para vacas de altas produções e forragens originárias de regiões calcáreas. Embora o cálcio seja um elemento de baixa toxidade pode ser responsável por distúrbios metabólicos quando elevado. 9.2. Magnésio Mineral bastante importante, sendo que sua homeostase não está relacionada a nenhum mecanismo hormonal. Os rins têm papel importante na manutenção, através do mecanismo excreção/reabsorção. O hormônio da paratireóide (PTH) liberado nas hipocalcemias aumenta os níveis plasmáticos de magnésio, mas não aumenta nos casos de hipomagnesemia. Desta forma, a homeostase do magnésio depende principalmente do fornecimento na dieta. 9 Funções: Essencial para formação dos ossos e dentes, estando envolvido no metabolismo dos carboidratos, lipídios, ácidos nucléicos e proteínas como catalisador de diversas enzimas. Importante no metabolismo energético, na transmissão de impulsos nervosos, na contração muscular e na integridade da membrana celular. 9 Requerimentos: A presença de níveis elevados de K na dieta (+ 4% m.s.dos alimentos) afeta significativamente a absorção do Mg pelo epitélio do rúmen. A ocorrência de tetania das pastagens está associada principalmente a este antagonismo e também à presença do NH4 no rúmen. Esta alteração é mais importante em gado de corte do que em gado de leite. Nossos minerais comerciais praticamente não contêm Mg para atendimento dos requisitos. A principal fonte de fornecimento é o óxido de magnésio, sendo que o calcário dolomítico é indisponível para bovinos. Para vacas leiteiras tem-se mantido uma relação Ca:P:Mg em função da produção de leite. A exigência de magnésio varia de 0,10% da matéria seca para gado de corte até 0,40% para vacas leiteiras de alta produção. O uso de mais de 5% de MgO no sal mineral pode torná- lo pouco palatável. Hipomagnesemia Uma vaca de 550 kg tem aproximadamente 250g de Mg, sendo 70% nos ossos e 30% intracelular. O Mg é absorvido, principalmente no 9 rúmen, dependendo da atividade da bomba Na/K – ATPase. Presença de grandes quantidades de ácidos graxos de cadeia curta estimulam a absorção do mesmo. O K e o NNP dificultam o metabolismo do Mg. A absorção do Mg parece não ser regulada por nenhum mecanismo hormonal. O nível sangüíneo é praticamente dependente da ingestão diária do mineral. No final da gestação e início da lactação ocorrem grandes mobilizações do Mg extra-celular. Para produção de 8 litros de leite ocorre a mobilização de todo o Mg do plasma. Se a ingestão é insuficiente, inicialmente há uma redução do Mg na excreção urinária e depois ocorre hipomagnesemia sub-clínica (níveis entre 1,2 e 1,5mg/dl), contribuindo para a ocorrência de hipomagnesemia quando do parto, menor desenvolvimento da glândula mamária, menor produção de leite e redução de seu nível de gordura e aparecimento do quadro clínico. Em vacas de alta produção o stress térmico, a acidose ruminal e a cetose sub-clínica contribuem para o aparecimento da hipomagnesemia por redução do consumo de alimentos. O diagnóstico é baseado nos sinais clínicos, nos níveis plasmáticos inferiores a 1mg/dl e, na urina, inferiores a 0,5mg/dl. Os principais sinais clínicos observados são andar vacilante, olhar fixo, irritação nervosa, paresia espástica, tremores musculares principalmente da musculatura da cabeça, pescoço, e orelhas. Nas fases mais avançadas ocorrem violentos ataques espasmódicos, convulsões generalizadas, dilatação pupilar, perda da visão, salivação espumosa abundante e intensa movimentação da língua. 9 Toxidade: O magnésio apresenta baixa toxidade e os mecanismos homeostáticos regulam sua absorção em função das demandas diretamente a partir da dieta. Níveis elevados no mineral (+5%) podem levar a diminuição do consumo voluntário da mistura. 9.3. Sódio e cloro O sódio e o cloro são os minerais mais antigos do mundo, sendo que o sal era utilizado como forma de pagamento de soldados romanos. A principal fonte é o cloreto de sódio, sendo a única fonte mineral que os bovinos ingerem voluntariamente e que é responsável por regular a ingestão da mistura mineral. Desta forma, o sal funciona como palatabilizante das misturas minerais e também como inibidor do consumo, quando atingidos os requisitos de sódio. As concentrações de Na nas plantas são muito pequenas e quase não influenciam no atendimento dos requisitos. No entanto, em algumas regiões a presença de águas salobras (salgadas) pode atender parcialmente ou totalmente as necessidades de Na e Cl, dificultando tremendamente o consumo de misturas minerais pelos animais, embora 10 o mecanismo de excreção via urinária permita a tolerância de níveis elevados na dieta. 9 Funções: A principal função do Na e Cl, juntamente com o K, é a manutenção da pressão osmótica e do equilíbrio ácido-básico. Além disto, o Na e K têm papel essencial na transmissão e condução de impulsos nervosos, na função cardíaca, no transporte de nutrientes para dentro e fora das células (Bomba de sódio-potássio). A manutenção da concentração interna de sódio é controlada pelo hormônio antidiurético e aldosterona, que agem para manter constante a proporção Na:K. A aldosterona regula a reabsorção renal de sódio, enquanto o hormônio antidiurético é responsável pelas mudanças da pressão osmótica dos fluidos extracelulares. O sistema renina-angiotesina-aldosterona (RAA) ajusta a reabsorção de Na. 9 Requerimentos: O sal (cloreto de sódio) é utilizado para suprir a exigência de Na, desestimulando estudos sobre o Cl quando suprido através do NaCl. A exigência de sódio varia de 0,04-0,25, sendo que, para bezerros recém- nascidos até 90 dias, é de 0,4%. Animais em lactação e animais em climas quentes com excesso de transpiração ou em stress térmico apresentam grandes perdas de sal e água. Assim, as exigências dependem da capacidade de adaptação dos animais e da atividade dos mesmos. O nível de potássio na dieta também se relaciona com a exigência de sódio, poiso K em níveis elevados aumenta o requisito do sódio. Entretanto, dentro da necessidade normal do K o consumo de Na é menor. Quando os níveis são inferiores aos requisitos, pode ocorrer grande consumo de cloreto de sódio (NaCl). Este fato tem sido observado em alguns confinamentos de bovinos onde se utilizam dejetos suínos com níveis deficientes de potássio. As forragens verdes quando comparadas às secas, promovem maiores consumos de NaCl. A maioria das plantas contém níveis pouco expressivos de Na, no entanto, os alimentos de origem animal apresentam níveis consideráveis. Deve-se ressaltar a importância da água salgada de algumas regiões conforme comentado anteriormente. 9 Deficiências: A deficiência de Na e Cl leva principalmente à perversão do apetite, sendo que os animais lambem o suor dos outros animais, lambem madeiras, solo e ingerem grandes quantidades de água, devido à ânsia por sal. Pode ocorrer redução da produção leiteira. 11 9.4. Potássio É o terceiro mineral mais abundante do corpo, apresentando um dos maiores requisitos diários. As plantas podem ser boas fontes, especialmente aquelas provenientes de terras férteis. O estágio de maturação tende a diminuir os níveis deste elemento. Algumas vezes, níveis adequados nas gramíneas tenras podem se tornar baixos quando estas forrageiras são submetidas a ações climáticas como sol e chuva. Dietas ricas em grãos podem conter níveis deficientes de potássio. O potássio é o principal cátion intracelular, sendo que suas funções estão correlacionadas especialmente ao sódio e cloro. Este mineral é importante no transporte de O2 e CO2, no sangue, necessário na transmissão de impulsos nervosos batimentos cardíacos, e ativador ou cofator de vários sistemas enzimáticos. 9 Requerimentos: Os bovinos necessitam de níveis que variam de 0,65-1,3% da matéria seca. Estes níveis estão condicionados especialmente à produção de leite, stress calórico (suor), excitação, febre, diarréia e interações com o Na. Quando o Na se encontra em níveis elevados, a necessidade de K aumenta também. Além disto, quando se substitui a proteína vegetal por nitrogênio não protéico (NNP), pode abaixar os níveis de potássio da dieta. As raízes comestíveis, proteínas vegetais e o melaço constituem-se em boas fontes deste elemento. No milho freqüentemente os níveis podem ser baixos. 9 Deficiência: Perda do apetite, ingestão excessiva de água, redução do crescimento, fraqueza muscular, paralisia, diarréia e desordens nervosas são sintomas da deficiência deste mineral. Deficiências marginais podem ocasionar, algumas vezes,o excesso de consumo de mineral por avidez pelo NaCl, o que contribui ainda mais para a redução do K. O melhor parâmetro de avaliação é a análise bromatológica dos alimentos. 9 Suplementação: A principal fonte de suplementação seria o KCl (45 % K). No entanto é pouco palatável e de difícil administração. A adubação de pastagens e a utilização de forragens verdes garantem uma melhor ingestão. O potássio da dieta é absorvido quase que totalmente. 12 9 Toxicidade: Alguns autores têm citado que o máximo tolerável seria de 3% da m.s na dieta. No entanto, este valor não parece estar correto visto que, freqüentemente, as forragens verdes chegam a apresentar 4-5% de potássio, sem acarretar qualquer tipo de problema aparente para os animais, graças aos mecanismos de excreção que são muito eficientes. 9.5.Enxofre Este elemento representa, aproximadamente, 0,15-0,20% do peso corporal animal, está ligado a vários aminoácidos essenciais como metionina, cistina e cisteína, fazendo parte do sulfato de condroitina das cartilagens, ossos, tendões e paredes dos vasos sangüíneos. É componente de hormônios como insulina, oxitocina, estrógenos e vitaminas como tiamina e biotina. Os microorganismos do rúmen incorporam o Enxofre inorgânico em compostos orgânicos, através da incorporação à proteína microbiana. A deficiência de Enxofre reduz a população da microbiota celulolítica. Os tecidos dos mamíferos não são capazes de sintetizar substâncias como metiomina, tiamina e biotina. Devem ser supridos pela dieta ou por síntese da microbiota quando são fornecidos os substratos adequados como enxofre, nitrogênio e energia. Neste caso, podem ser sintetizados em quantidades suficientes para atender às demandas diárias dos ruminantes. Para vacas de alta produção pode ocorrer que a quantidade produzida não atenda inteiramente os requisitos, especialmente em função das dietas que, com freqüência causam acidoses subclínicas dificultando o metabolismo ruminal. 9 Requerimentos: O requerimento de enxofre diz respeito basicamente às necessidades da microbiota nas sínteses descritas. Nos casos de deficiência, poucos microorganismos transformadores de celulose se acham presentes no rúmen. A recomendação para gado de corte é de 0,15% da m.s. da dieta e, para gado leiteiro, é de 0,20-0,30%. A relação da taxa de N:S deve ser em torno de 10:1, para uma adequada síntese celular. 9 Deficiência: Os produtos minerais industrializados comercializados no Brasil, praticamente não contêm Enxofre. Nos casos de bovinos criados em pastagens pobres em proteína, a deficiência de enxofre é um problema esperado. Estes animais contam somente com o enxofre presente nos vegetais que, freqüentemente é baixo e insuficiente para atender às necessidades. Em pastagens de leguminosas os níveis podem ser adequados. Mas nos de braquiárias os níveis de proteínas podem ser 13 baixos. Merecendo desta maneira cuidados especiais nas formulações específicas. 9 Toxidade: A toxidade do Enxofre pode ocorrer principalmente quando o fornecimento ocorre em níveis elevados (+ 0,4%)m.s, ou por interações entre Cobre: Molibdênio: Enxofre. Níveis elevados de enxofre na ausência de molibdênio podem levar à deficiência de Cobre por formação de Sulfeto de Cobre. Níveis elevados de molibdênio na dieta (+ de 5ppm) podem levar à redução dos níveis de cobre por formação de tio ou tetra molibdatos cúpricos Dietas ricas em Enxofre reduzem a absorção do molibdênio. Devido à semelhança da estrutura química pode haver competição entre o enxofre e o selênio. O excesso de enxofre pode levar à formação de sulfatos causando a destruição da tiamina (B1) e quadro de Polioencefalomalácia. Algumas águas sulfurosas podem apresentar níveis elevados de enxofre e causar intoxicações. 9.6. Zinco Utilizado no tratamento de lesões de pele por muitas culturas antigas como a egípcia, o zinco passou a ter importância na nutrição de ruminantes a partir de 1960, embora já houvesse descrição de sua importância em enzimas como anidrase carbônica e de sua utilização no tratamento da paraqueratose em suínos.Freqüentemente se acha associado a outros elementos como Cd, Pb, Cu e Fe. Nos cerrados brasileiros tem sido encontrado, quase sempre, em níveis muito baixos. O Zinco é um elemento distribuído uniformemente pelos tecidos epidermidérmicos como pele e pêlos. A maior absorção em ruminantes ocorre no rúmen. Sua absorção pode ser prejudicada por alguns fatores como níveis elevados de Ca, fitatos, fibras, P, Cu, Cd e Cr e, pode aumentar, com caseína, extrato de fígado, óleo de milho, farinha de sangue e vitamina D. A capacidade de absorção animal está relacionada com as demandas fisiológicas: Condições normais: aproximadamente 50% Deficiências: aproximadamente 80% Excessos: aproximadamente 10% Dietas com níveis baixos para vacas em lactação podem promover decréscimo da excreção pelo leite e fezes, algumas vezes levando a deficiências de bezerros em amamentação. 14 9 Funções Desempenha papel importante em numerosos sistemas enzimáticos tanto fazendo parte da molécula como com função de ativação; na estabilização e metabolismo do RNA,DNA e ribossomos; na produção, armazenagem e secreção de hormônios (insulina, corticóides); na reprodução (desenvolvimento dos órgãos sexuais, espermatogênese e na fêmea do estro até o parto e também na lactação); no crescimento e proteção das membranas; como função antioxidante e no crescimento da microbiota ruminal. 9 Requerimentos Os requerimentos para bovinos variam de 60-100ppm dependendo da idade, estado fisiológico, ambiente e saúde do animal. Animais mais velhos apresentam menor capacidade de absorção, assim como animais que já deixaram de crescer. Quanto maior a taxa de crescimento, maior é o requerimento. Infestações parasitárias, coccidiose e sudoração excessiva aumentam a exigência. 9 Fontes As leguminosas apresentam níveis mais elevados que as gramíneas. A grande maioria das forragens tem menos d 40ppm. Os níveis tendem a diminuir com a maturação das plantas. Produtos de origem animal são ricos em Zinco. O colostro tem uma concentração mais elevada de Zinco, enquanto no leite é de aproximadamente 4ppm em condições naturais. A suplementação deve ser contínua porque a capacidade de estocagem é muito pequena. As principais fontes inorgânicas são os sulfatos (aproximadamente 35% Zn) e os óxidos (70-80% Zn), a fonte orgânica é o zinco–metionina com 10-15% de Zn. 9 Deficiência A deficiência deste elemento pode apresentar redução do crescimento, paraqueratose, pelagem áspera, perda de pêlo, pele escamosa, alopecia, depressão no funcionamento das gônadas, redução da capacidade imunológica, problemas articulares, rachaduras na pele próxima aos cascos, arqueamento das pernas, menor consumo de alimentos, em ovinos, perda de lã, problemas reprodutivos. Os níveis elevados de cálcio na dieta podem prejudicar o metabolismo do Zinco e, menos comumente, observa-se que níveis elevados de Cu (200 ppm) aumentam as exigências de Zinco na dieta. 15 9 Toxidade O Zinco é considerado um mineral pouco tóxico, considerando-se como de risco, o nível de 1000ppm. 9.7. Ferro Utilizado desde 1500 AC por diversas culturas antigas, o Ferro é um dos mais abundantes minerais nas forrageiras, podendo, freqüentemente, ter nas plantas níveis muito elevados. No Brasil, não se conhecem deficiências naturais em ruminantes adultos. A homeostase é controlada pela absorção já que a capacidade de excreção é limitada, sendo absorvido como Fe(++) e metabolizado como Fe(+++) complexado no organismo através da transferrina. Altos níveis de Fósforo reduzem a absorção do Fe. O Ca, Cu, Mn e Pb desencadeiam competições pela absorção. O principal local de armazenamento é o fígado. A metabolização do Fe depende de uma enzima Ceruloplasmina que é Cu dependente. A perda do Fe absorvido só ocorre por hemorragias. O Fe liberado da hemoglobina é, na sua maioria, reabsorvido e parte pode ser excretada pela bile. 9 Funções O Fe participa de diversas reações bioquímicas como o transporte de oxigênio, hemoglobina, mioglobina, transporte de elétrons (citocromos) e o ciclo do ácido cítrico; está presente em várias enzimas ou ativa outras; tem função importante no ciclo do ácido tricarboxílico,sendo que todas as vinte quatro enzimas possuem Fe; faz parte da composição do Lactoferrino que é uma glicoproteína das células da glândula mamária com papel semelhante a antibiótico. 9 Requerimentos Existem grandes diferenças individuais na capacidade de absorção, ocorrendo especialmente durante as deficiências. Os requerimentos para ruminantes estão entre 40-100 ppm. Bezerros alimentados com leite apresentam o maior requerimento (100 ppm) e podem ser os únicos animais do rebanho a apresentarem deficiência. O Cu, Mn, Pb e Cd competem com o Fe por locais de absorção e o excesso de Ca e P podem também ser prejudiciais. 9 Fontes A terra contém 20-100 vezes a concentração de Ferro das plantas, podendo ser uma fonte importante. As forragens quase sempre contêm níveis de Ferro acima dos requisitos e os alimentos de origem animal são ainda mais ricos. A média de ferro determinada nas forragens brasileiras está acima de 200 ppm. O leite de vaca tem entre 0,18-0,31 16 ppm. A biodisponibilidade é maior nas fontes de origem animal. Para suplementação mineral, utiliza-se o Sulfato Ferroso(++), sendo que o Óxido de Ferro(+++) não é metabolizado adequadamente. A maioria dos minerais comerciais do Brasil contém Óxido de Ferro. 9 Deficiência A deficiência de Ferro pode levar à anemia Microcítica Hipocrômica que pode ocorrer em ruminantes jovens alimentados exclusivamente de leite. Animais com anemia tornam-se apáticos, magros e com baixo consumo de alimentos, podendo haver elevada ocorrência de doenças por reduzir a resposta do sistema imunológico. Em adultos, podem ocorrer por perdas sangüíneas, hemorragias e verminoses. Teor em alimentos inferior a 100 ppm justificam a suplementação. 9 Toxidade No Brasil é comum a toxidade, uma vez que encontramos freqüentemente pastagens com níveis elevados e, às vezes, também, águas com excesso de Ferro (+0,4 ppm). Na água, o ferro se apresenta sob a forma de sulfato que, por ser hidrossolúvel, é capaz de neutralizar seu mecanismo de bloqueio da absorção. Consideram-se 1000 ppm como nível tóxico. Níveis elevados podem interferir em outros minerais como Cu e Zn. Existe descrição de deficiência de Cu com Fe entre 250- 500 ppm em bovinos e ovelhas. Se a absorção da dieta superar a capacidade de ligação da transferrina no sangue e tecidos, o Fe livre é capaz de provocar oxigênio reativo (radicais livres) levando a “stress” oxidativo e causando danos aos tecidos. Alguns estudos têm demonstrado que esta situação em vacas gestantes pode contribuir para a presença de edema de úbere. Por esta razão, tem-se recomendado o uso de minerais e vitaminas com função anti-oxidativas em vacas no final de gestação (Zn, Cu, Se e Vitamina E). 9.8. Cobre Mineral extremamente importante na suplementação mineral dos ruminantes que apresentam situações comuns de deficiência, merecendo cuidados com relação à toxidade. Este elemento desempenha importantes funções no organismo participando como componente de diversas enzimas como Citocromo-Oxidase, Lisil Oxidase, Elastina, Ceruloplasmina, Tirosinase, Superóxido-Dismutase e Dopamina entre outras. 17 9 Funções A Ceruloplasmina (ferroxidase) é necessária para oxidação do Ferro para que possa ser transportado pelo organismo (transferrino). A Citocromo- oxidase é necessária ao transporte de elétrons durante a respiração aeróbica (redução de Oxigênio na água) e formação da mielina. A Lisil- oxidase catalisa formação de colágenos nos ossos e da elastina na parede arterial. A Tirosinase é importante na formação da melanina. A Dopamina atua como neurotrasmissor. Tem importantes efeitos nas células T e B, nos neutrófilos e macrófagos, sendo que níveis baixos suprimem a Interleucina. A Superóxido Dismutase tem papel importante no metabolismo dos lipídeos e função contra stress oxidativo. 9 Requerimentos Os requisitos de cobre variam de 10 – 25 ppm. Níveis elevados de Zinco na dieta podem interferir na absorção do cobre (+1000 ppm). A disponibilidade do Cobre diminui na presença de Enxofre e do Molibidênio que podem formar um complexo tetratiomolibdato insolúvel. Teores elevados de Ferro exigem a elevação do Cobre (15% para cada 200 ppm quando acima de 400 ppm). Grandes ingestões de terra podem reduzir a disponibilidade do Cobre por presença excessiva de Ferro. A presença de Molibdênio acima de 5 ppm pode interferir no metabolismo do Cobre e níveis de Enxofre superiores a 0,3% da dieta também. 9 Fontes A principal fonte mineral é o Sulfato de Cobre (25–35%de Cu). As fontes orgânicas são melhor metabolizadas, mas o custo é muito elevado (tem aproximadamente 10% de Cu).O Cobre das plantas apresenta níveis bastante variáveis sendo que no Brasil quase sempre abaixo dos requisitos. No cerrado brasileiro os níveis costumam ser mais baixos. Nas plantas os níveis decrescem com a maturidade, mas a disponibilidade aumenta (provavelmente pela diminuição do Mo). Em cereais é mais disponível do que em gramíneas. 9 Deficiência Os principais sinais clínicos são a anemia (microcítica, Hipocrônica), despigmentação da pele e dos pêlos, diarréia, problemas ósseos, aneurisma arterial, falência cardíaca, redução do crescimento, aumento da sensibilidade a doenças, manqueira, infertilidade e ataxia neonatal (especialmente em ovelhas). 9 Toxidade Pode ocorrer em qualquer espécie animal, mas os ruminantes são bastante susceptíveis, especialmente os ovinos. Os bovinos toleram até 18 100 ppm enquanto os ovinos podem morrer com 20 ppm na dieta. Os caprinos são um pouco mais resistentes do que os ovinos, mas menos que os bovinos. Existem algumas diferenças entre as raças de bovinos e de ovinos com relação a susceptibilidade à toxicidade do cobre. Os sinais de intoxicação são de hemólise intensa, icterícia, hemoglobinúria, necrose hepática e morte. O uso de cama de frango pode levar à intoxicação por Cu, pela presença alta deste elemento na mesma. A ataxia enzoótica neonatal ocorre por deficiência crônica de cobre em ovelhas gestantes, levando a desmielinização simétrica cerebral e degeneração dos tratos motores da medula espinhal, doença esta, já descrita também em caprinos e ovinos. 9.9. Manganês Manganês é um elemento essencial ao metabolismo animal funcionando como constituinte e ativador de diversos sistemas enzimáticos. No Brasil, a deficiência de Manganês não é muito esperada, pois a maioria de nossas pastagens contêm níveis adequados deste mineral. Pode ser acumulado no fígado, ossos, pâncreas e rins. A absorção é baixa em ruminantes adultos sendo mais elevada nos jovens. Altas concentrações de Ca, P e K reduzem a disponibilidade do mesmo e aumentam sua excreção. Níveis baixos de Fe induzem a uma maior absorção e o excesso de Mn pode induzir a deficiência de Fe. A homeostase ocorre através dos mecanismos de absorção x excreção, sendo que 25 – 30% dos requisitos devem ser ingeridos diariamente. 9 Funções As principais enzimas que contêm Mn são a Arginase, Piruvato Carboxilase, Mn Superóxido-dismutase e Glicosil-transferase. A Piruvato-carboxilase tem importância no metabolismo das gorduras e dos hidratos de carbono. A Mn-Superóxido-dismutase é importante como agente antioxidante juntamente com as enzimas Superóxidos- dismutase do Cu e do Zn . A Glicosil- transferase está envolvida na formação de protrombina, na síntese de glicoproteínas e de mucopolissacarídeos. 9 Requerimentos Os requerimentos de Mn são de 40 ppm na matéria seca. As gramíneas tendem a ter níveis mais altos do que as leguminosas que assim como o leite são pobres em Mn. A maioria das misturas comercial de minerais contém níveis adequados de Mn para suprir “possíveis deficiências” que não devem ser muito esperadas. 19 9 Fontes As matérias primas mais utilizadas na confecção de minerais são o Sulfato de Mn (25% Mn) e o Óxido de Mn (50% Mn), ambos com boa disponibilidade. 9 Deficiência A deficiência de Mn compromete o crescimento, podendo causar anormalidade do esqueleto (deformações ósseas), problemas reprodutivos (redução do cio e baixa taxa de concepção), ataxia devido ao não desenvolvimento do ouvido e contratura tendinosa. As deficiências podem ocorrer especialmente por níveis baixos na dieta associados a níveis elevados de Ca, P e Fe. 9 Toxidade É bastante improvável a intoxicação por Mn. Ovelhas e bovinos toleram níveis de até 1000 ppm na matéria seca. Podem ocorrer alterações no metabolismo do Ferro e do Iodo. 9.10. Iodo O Iodo é um dos elementos mais antigos conhecidos desempenhando importante função para o homem e os animais. É necessário para a síntese dos hormônios tireoidianos (Tiroxina T4 e Triidotironina T3) que regulam o metabolismo energético. Estes hormônios têm a função de aumentar o metabolismo basal para produção do calor. As concentrações nas forragens variam em função do tipo de solo e da proximidade do oceano (são mais elevados quando próximos do mar). A água do mar contém iodato que os ruminantes absorvem. 9 Funções A única função conhecida do iodo é a de participar da síntese dos hormônios da tireóide. A Tiroxina (T4) contém 65% de Iodo. A maior parte do Iodo ingerido é absorvido pelo rúmen (70–80%) e abomaso(10%). Os hormônios da tireóide são responsáveis pelo desenvolvimento físico e mental, maturação dos tecidos, funcionamento neuro-muscular, formação de pele e pêlos, metabolismo de nutrientes, ação sobre outras glândulas (gônodas), metabolismo celular, receptores da vitamina A, receptores de hormônios esteróides e outros. 9 Requerimentos O clima e o ambiente alteram a secreção dos hormônios da tireóide durante o verão. Substâncias bociogênicas (repolho, mandioca, caroço 20 de algodão, grão de soja, amendoim, babaçu) aumentam em até duas vezes o requisito que tem variado entre 0,3 – 0,6 ppm. 9 Fontes Alguns óleos e sementes são ricos em Iodo (0,1–0,2 ppm) e o estágio de maturação das plantas contribui para redução do seu teor. Os derivados do leite, também são listados como boas fontes do mineral. As fontes usadas comercialmente para fabricação de suplementos minerais são o Iodato de Cálcio ou Potássio que contêm aproximadamente, 60% de Iodo com boa disponibilidade. Os Iodetos não devem ser utilizados, pois são facilmente volatilizados. 9 Deficiência A principal manifestação clínica da deficiência deste mineral é o aparecimento do bócio, podendo ainda ser observados a fraqueza, o nascimento de animais cegos e sem pêlos, irregularidades ou supressão do estro, aborto, infertilidade e mau desenvolvimento cerebral. O diagnóstico é feito pelo bócio e avaliação dos hormônios T3 e T4. 9 Toxidade Os níveis máximos toleráveis para bovinos e ovinos são de 50 ppm. O excesso de Iodo inibe os hormônios da tireóide. Os animais apresentam anorexia, lerdeza, lacrimejamento excessivo, descarga nasal e tosse. A resposta imunológica pode se tornar reduzida assim como os níveis de T3. 9.11. Cobalto O Cobalto é componente da vitamina B12 Cobalamina, sendo muito importante para o desempenho adequado dos microorganismos do rúmen. A maior parte do Cobalto no corpo se encontra no fígado e rins, sob a forma de vitamina B12 principalmente. A transferência via placentária não é grande e as reservas, ao nascimento, são pequenas. Quando a suplementação é adequada para vacas leiteiras, os níveis no leite são mais elevados. Nas pastagens, freqüentemente, os níveis se apresentam baixos e os solos com menos de dois ppm também são considerados deficientes. Em algumas regiões do Brasil os níveis são tão baixos que inviabilizam a criação de bovinos quando não suplementados. 9 Funções Componente da vitamina B12 que é co-fator da coenzina adenosilcobalamina necessária para a conversão do propionato em succinato e da metilcobalamina para metionina. A vitamina B12 21 relaciona-se com a síntese de proteínas, carboidratos e gorduras. Além disto promove a síntese e maturação das hemácias, a integridade do sistema nervoso e influencia no sistema imunológico. 9 Requerimentos A partir de 6-8 semanas a microbiota do rúmen já está apta a sintetizar a vitamina B12. A grande maioria dos autores recomenda 0,1 ppm como nível adequado de Cobalto. Alguns estudos atuais têm, no entanto, sugerido níveis mais elevados como 0,3 – 0,5 ppm para melhor atividade da microbiota. Bovinos alimentados com dietas com teores de fibra elevados apresentam melhor digestibilidade com 1,0ppm de Cobalto. 9 Fontes Freqüentemente, os alimentos concentrados apresentam níveis adequados de Cobalto, o que não ocorre nas forragens. A principal fonte de fornecimento do mineral é o Sulfato de Cobalto (20% Co). 9 Deficiência Os ruminantes são muito sensíveis à deficiência de B12 devido à importância da gliconeogênese a partir do propionato para succinato atendendo os requisitos de glicose dos tecidos. O ácido propiônico é uma das mais importantes fontes de energia para os ruminantes. O aparecimnto do ácido metilmalônico na urina é uma boa indicação da deficiência de B12. Esta deficiência pode reduzir a produção de metionina e a retenção de nitrogênio. Animais jovens são mais sensíveis às deficiências de Co e apresentam baixa taxa de desenvolvimento, emagrecimento, anemia macrocítica normocrômica, baixa resistência a infecções (redução da atividade dos neutrófilos) e degeneração gordurosa do fígado. A atividade da microbiota ruminal desaparece após alguns dias de deficiência na dieta dificultando a produção de ácido propiônico. 9 Toxidade O Cobalto apresenta baixa toxidade para todas as espécies estudadas. A vitamina B12 em doses elevadas é também bastane segura. Recomenda-se como nível máximo tolerável 10 ppm de Cobalto. A intoxicação pode levar a policitemia, poliúria, diarréia, sialorréia, depressão respiratória e baixa taxa de hemoglobina. O excesso de Cobalto leva a problemas como metabolismo do Ferro. 9.12. Selênio A primeira preocupação com o elemento referia-se a estudos sobre sua toxidade, o que permaneceu até 1957. Até hoje muitas formulações 22 minerais não contêm Selênio ou têm níveis extremamente baixos não atendendo satisfatoriamente os requisitos por medo das intoxicações. O Selênio não é um elemento abundante no solo, sendo o mais pobre dos elementos tóxicos. A elevação dos níveis de Cobalto na dieta aumenta a excreção urinária do elemento e, quando os níveis são baixos, a capacidade de retenção é elevada. 9 Funções É o menos abundante e o mais tóxico dos elementos essenciais. Componente necessário à enzima glutationa peroxidase que tem importante função na proteção dos tecidos contra danos oxidativos causados por radicais livres. Existe uma relação estreita entre os teores de Se da dieta e os níveis séricos da glutationa perixidase. A vitamina E também neutraliza os radicais peróxidos, mas sua ação está limitada às membranas celulares. O Se elimina indiretamente os radicais livres antes de atingirem as membranas celulares. Algumas funções importantes desempenhadas pelo Se não podem ser realizadas pela vitamina E como, por exemplo: • Preservação e integridade do pâncreas, permitindo digestão normal das gorduras e absorção da vitamina E; • Redução da quantidade de vitamina E para a manutenção das membranas lipídicas; • Auxílio na retenção da vitamina E no plasma. Por outro lado, a vitamina E reduz o requerimento de Selênio de duas maneiras: • Mantendo o Selênio no corpo de forma ativa e prevenindo a perda; • Prevenindo a destruição das membranas lipídicas ao inibir as hidroperóxidases e ao reduzir a quantidade de Glutationa Peroxidase necessária à destruição dos peróxidos. O Se realiza suas funções principalmente através das selenoproteínas sendo que já foram detectadas de 30-35 delas nos tecidos da glândula mamária. É essencial para o metabolismo do hormônio da tireóide (triiodotironina-T3) que se apresenta reduzida nas deficiências do elemento. Importante para as contrações uterinas, em trabalho realizado com ovinos promoveu uma elevação de 25% o número de contrações uterinas, possivelmente contribuindo para a redução das retenções placentárias 9 Requerimentos Diversos trabalhos indicam que dietas com 0,1 ppm de Se garantiam boas condições de saúde aos bovinos. Entretanto diversos trabalhos atuais vêm recomendando como ideal 0,3 ppm por Kg da m.s./dieta/dia 23 com melhores resultados. A homeostase dentro de certos limites é controlada pela excreção urinária. 9 Deficiências A Doença do Músculo Branco (Distrofia Muscular Nutricional) levando à necrose muscular dos músculos estriados é uma alteração comum em bezerros e cordeiros ocorrendo também em outras espécies domésticas. As lesões são mais freqüentes nos músculos dos posteriores e ombros, sendo bilaterais e simétricas. Em vacas leiteiras está associada à retenção de placenta e à mastite. A redução da resposta imune relacionada a baixos níveis de Selênio na dieta tem sido responsabilizada pela maior ocorrência de infecção nos ruminantes. Outros problemas descritos são a infertilidade, menor mobilidade do espermatozóide, alterações do eletrocardiograma e menos resistência das hemácias, apresentando ainda redução dos níveis plamáticos de T3 e elevação dos de T4. 9 Fontes As fontes orgânicas são melhor metabolizadas. O Selenito de Sódio (45% de Se) é a fonte mais utilizada nas misturas minerais. O enxofre e o arsênico são os principais antagonistas. Dietas ricas em enxofre comprometem o selênio quando este se encontra em nível menor que 0,3 ppm. As plantas perdem selênio com a maturidade. A alfafa e também alguns grãos de cereais são fonte rica em selênio. Suplementos de selênio, especialmente os injetáveis, devem ser utilizados cuidadosamente. 9 Toxidade É o elemento essencial mais tóxico. A literatura cita 2-5 ppm como nível tóxico, mas em ovelhas, em experimento realizado durante um ano, com 10 ppm não resultou em toxidade. Os sinais clínicos agudos da toxidade são lesões hepáticas e renais, salivação excessiva, hemorragias pulmonares, ascite, cegueira e marcha cambaleante. Na forma crônica aparecem claudicações, perda de pêlos, malformações dos cascos, dificuldade de locomoção, erosões articulares, anorexia e edemas. 24 10. OUTROS MINERAIS (MO, F, CR) 10.1. Molibdênio Componente essencial de diversas enzimas como xantina oxidase, sulfeto oxidase e aldeído oxidase, encontrados no leite e muitos tecidos. Estas enzimas estão envolvidas no metabolismo das purinas, pirimidinas, aldeídos e oxidação de sulfitos. O requerimento não é bem conhecido, mas é muito baixo e está relacionado a suas interações com o Enxofre e o Cobre. Níveis acima de 10 ppm são tóxicos e podem interferir no metabolismo do Cobre. Se os níveis são baixos os requisitos de Cobre diminuem. 10.2. Flúor Elemento benéfico aos dentes e ossos, mas que pode ser tóxico em função dos níveis administrados. As principais causas de fluorose nos ruminantes são as águas contaminadas e os fosfatos com alto teor do elemento. O flúor das águas por ser solúvel é mais bem absorvido e de maior risco de intoxicação. Tem afinidade pelos ossos e dentes combinado ao cálcio, sendo importante na prevenção da placa bacteriana. Os níveis tóxicos do flúor para ovelhas vão de 60-150 ppm sendo mais sensíveis as jovens e para bovinos, o limite está entre 30-50 ppm. Os principais sinais clínicos de fluorose são as deformidades do esqueleto, as lesões dentárias, diarréia e laminite. As dietas ricas em cálcio reduzem a toxidade do flúor. 10.3. Cromo Foi identificado como substância potencializadora da insulina, melhorando a tolerância à glicose. Foi demonstrado ainda que o Cr melhorava a imunidade dos bovinos por proliferação dos linfócitos. Alguns autores recomendam o uso na dieta de 0,5 ppm. A melhor forma de suplementação é a fonte orgânica do picolinato de Cromo, mas é de uso proibido em alguns países. No organismo é encontrado no ácido nicotínico, ácido glutânico, glicina e cisteína. A administração no homem é bem aceita para o metabolismo normal da glicose. 11. SUPLEMENTAÇÃO MINERAL Apesar de se utilizar diversos parâmetros no diagnóstico das deficiências minerais, a avaliação dos alimentos ebalanceamento da dieta em função destas análises, é o melhor método que se pode empregar. Evidentemente exige acompanhamento permanente do desempenho dos animais, uso de análises de amostras representativas dos alimentos 25 consumidos e determinação do consumo das misturas utilizadas, para que se corrijam possíveis consumos irregulares. No balanceamento das misturas deve-se estar atento às diversas interações minerais e procurar corrigir possíveis prejuízos de elementos causados por antagonismos ou por baixo consumo. Para implementação de programas as análises do solo são pouco representativas devendo-se preferenciar as de forragens. As amostras devem ser colhidas da forma mais representativa possível da área de pastagem utilizando-se faca ou tesoura e cortando-se a parte aérea representando a de pastejo dos animais. As amostras colhidas devem ser uniformizadas para retirada de número menor de amostras conforme a situação local. Nas nossas condições os meses de janeiro e agosto representam freqüentemente as melhores e as piores amostras para a maioria dos minerais. Na literatura atual existe grande diversidade de tabelas tanto para gado de leite quanto de corte, o que nos leva a utilizar as consideradas mais confiáveis. Na determinação dos suplementos deve-se ter em conta sempre que os requisitos minerais para saúde são mais elevados do que para a produção, e que animais submetidos a condições de “stress” necessitam destes níveis. Mas não devem ser utilizados níveis tóxicos dos minerais. Veja o gráfico a seguir: 26 Gráfico 1 MINERALIZAÇÃO N ív ei s N ut ri ci on ai s Programa Nutricional 1 Programa Nutricional 2 Forrageira de Boa Qualidade Forrageira de Má Qualidade Status Saúde NRC/ARC Deficiência Tóxico 27 EXEMPLO DE CÁLCULO DE MISTURA MINERAL MINERAIS ANÁLISE FORRAGE M NECESSIDAD E DEFICIT VACA 400 kg de p.v. com 10 kg de m.s.dia Cálcio 0,15% 0,20% 0,05% 5 g Fósforo 0,10% 0,18% 0,08% 8 g Magnésio 0,08% 0,10% 0,02% 2 g Enxofre 0,07% 0,10% 0,03% 3 g Potássio 1,5 % 0,60-1,2% ↑ - Sódio - 0,10% 0,10% 10 g Zinco 20 ppm 80 ppm 60 ppm 600 mg Cobre 4 ppm 10 ppm 6 ppm 60 mg Ferro 200 ppm 60 ppm ↑ - Manganês 150 ppm 30 ppm ↑ - Cobalto - 0,3 ppm 0,3 ppm 3 mg Iodo - 0,6 pm 0,6 ppm 6 mg Selênio - 0,3 ppm 0,3 ppm 3 mg Cálculo: Inicia-se pelo Ca:P, calculando inicialmente o de menor deficit. Cálcio: Deficit 5 g Fosfato bicálcico = 22% de cálcio 100g - 22g de Ca X - 5 X = 22,7g de Fosfato bicálcico Além do cálcio o fosfato bicálcico contém fósforo que deve ser calculado e abatido do total requerido: 100g - 18 de P 22,7 - X X = 4,08 de fósforo Fósforo : Déficit inicial 8–4 = 4 g Fosfato monoamônico (Map) contém 23% fósforo 100 23% X 4 X = 17,39g de Map 28 Magnésio - Deficit 2 g Óxido de Magnésio (50% de Mg) 100 – 50g 2 - X X = 4 g de MgO Enxofre- Deficit : 3 g Enxofre ventilado (100% de S) 100 - 100 3 - X X = 3 g de S Sódio- Deficit : 10 g NaCl (36% de Na) 36g - 100 10 - X X = 27,78 de NaCl Zinco- Deficit : 600 mg Óxido Zinco (75% de Zn) 75 g - 100 0,6 - X X = 0,8 de ZnO Cobre- Deficit : 60 mg Sulfato de Cobre (25% de Cu) 25 g - 100 0,06 - X X = 0,24 de CuSO4 Cobalto- Deficit : 3 mg Sulfato de Co (20% Co) 20g - 100 0,003 - X X = 0,015 de CoSO4 Iodo- Deficit : 6 mg Iodato de K (60%de I) 60 g - 100 0,006 - X X = 0,010 de KI03 Selênio- Deficit : 3 mg Selenito de Na (45% de Se) 45 g - 100 0,003 - X X = 0,0067 de Selenito 29 TOTAIS Correção para 100 Fosfato Bicálcico 22,7 29,93 Map 17,4 22,94 MgO 4,0 5,27 S 3,0 3,95 NaCl 27,8 36,678 ZnO 0,67 0,88 CuS04 0,24 0,31 CoS04 0,015 0,02 Iodato 0,010 0,013 Selenito 0,0067 0,009 Somas 75,84 100,00 Obs.A soma total das matérias primas (75,84g) representa o consumo esperado da mistura, alterações no NaCl devem ser feitas para correções deste consumo sempre que for diferente. Isto pode ocorrer, pois o sódio foi calculado pela média de consumo esperado (0,10%) e pode apresentar variações de ingestões de 0,04 – 0,18% da matéria seca. 12. DIAGNÓSTICO DAS DEFICIÊNCIAS E INTOXICAÇÕES O diagnóstico dos problemas minerais deve passar por uma metodologia de trabalho envolvendo análise clínica e zootécnica do rebanho, análise da água, do solo e da forragem, determinações bioquímicas em tecidos e fluídos orgânicos e respostas às suplementações, utilizando dados zootécnicos do rebanho. As observações clínicas do rebanho, detectando animais que apresentem sinais clínicos de deficiências/toxidade para investigação detalhada, são de extrema importância no diagnóstico. Paralelamente os dados zootécnicos do rebanho dizem muito de seu estado de saúde e os resultados, a partir de possíveis correções, são extremamente importantes na avaliação do “status”. A análise da água, freqüentemente demonstra presença de minerais em níveis pouco significativos, mas em alguns casos, pode ser bastante importante pela presença de minerais como Na, Cl, Ca, Mg, S, F e Fe. A análise do solo tem importância pela ingestão que os ruminantes fazem dele, chegando em algumas regiões a 0,5-1,0 Kg dia, acrescentando microelementos que podem ser mais ricos na terra do que nas plantas como, por exemplo, o Al,Fe e Mn. 30 A análise da forragem, especialmente para gado de corte onde se constitui no único alimento, deve ser uma ferramenta a ser explorada e da maior utilidade. Para isto, é muito importante que as amostras colhidas representem o alimento ingerido pelos animais. Deve-se colher amostras bem representativas em relação à área estudada e, especialmente, da parte onde os animais estejam pastejando. As plantas variam em suas capacidades de reter minerais em função da espécie forrageira, época do ano, solo e outros, mas espelham de alguma maneira a fertilidade do solo. Alguns minerais se apresentam em níveis mais elevados nas plantas verdes como P, K e Zn, enquanto outros nas maduras como o Mg. As leguminosas, de forma geral, são mais ricas em minerais e também só se desenvolvem bem em solos mais férteis. As braquiárias se desenvolvem em qualquer tipo de solo, mas refletem bem a qualidade dos mesmos em sua composição mineral. As análises de tecidos e fluídos orgânicos são definitivas nos diagnósticos dos casos de deficiência/toxidade e representam melhor o “status” mineral animal. 13. MINERALIZAÇÃO Gado de Corte 9 Análise da forragem duas vezes ao ano no meio de cada estação (verde-seca); 9 Complementação da dieta com suplemento mineral através de cálculo específico estimando o consumo em função do teor de Na (sal) e ajustando possíveis diferenças para + ou -, elevando ou reduzindo seu teor na mistura; 9 Verificação dos resultados zootécnicos comparando-os com os anteriores ao programa implementado; 9 Realização de testes bioquímicos dos animais, por amostragem, em casos de dúvidas. Gado de leite 9 Implementação de programa de mineralização, utilizando dieta total (TMS), subdividindo o rebanho no maior número possível de lotes, em função da produção. 9 Em animais mestiços ou de menor nível de produção, utilização de programa para suplementar na ração os teores de Ca, P, Mg ajustados por kg leite produzido. Exemplo: 1 kg ração para 3 kg de leite contendo 6g Ca, 4,5g P, 3g Mg. Outros elementos não ajustados diretamente com a produção podem ser oferecidos em mistura livre de bom consumo. 31 TABELA 1- PRINCIPAIS FONTES DE MINERAIS PRODUTOS ELEMENTOS% FOSFATO MONOAMÔNEO Fósforo Magnésio 23 0,5 FOSFATO BICÁLCICO (serrana) Cálcio Fósforo Magnésio Ferro Enxofre Manganês Cromo 24,3 - 24,9 18,4 - 18,7 1,72 - 1,78 0,35 - 0,46 0,28 - 0,61 0,07 5 ppm FARINHA DE OSSOS CALCINADOS Cálcio Fósforo 36-38 16-17 CARBONATO DE CÁLCIO Cálcio 32 - 46 ENXOFRE VENTILADO Enxofre 99 ÓXIDO DE MAGNÉSIO Magnésio 54 - 55 CLORETO DE SÓDIO Sódio Cloro 34-38 56-62 CLORETO DE POTÁSSIO Potássio 45 – 63 ÓXIDO DE ZINCO “90” ZINCO QUELATADO Zinco 72 – 75 15 SULFATO DE COBRE COBRE QUELATADO Cobre 25 – 35 15 SULFATO FERROSO QUELATO DE FERRO Ferro 25 15 SULFATO DE MANGANÊS Manganês 25 SULFATO DE COBALTO QUELATO DE COBALTO Cobalto 20 15 IODATO DE CÁLCIO Iodo 60 SELENITO DE SÓDIO Selênio 45 RUMENSIN Monoensina 10 MOLIBDATO DE SÓDIO Molibdênio 39-40 CLORETO DE CROMO CROMO QUELATADO Cromo 46? 10 CLORETO DE NÍQUEL Níquel 45 32 Tabela 2-NÍVEIS DE MINERAIS E VITAMINAS RECOMENDADOS PELO NRC PARA VACAS LEITEIRAS EM LACTAÇÃO MACRO ELEMENTOS MINERAIS VACAS PEQUENAS BAIXA PRODUÇÃO VACAS GRANDES ALTA PRODUÇÃO MÁXIMO TOLERÁVEL CÁLCIO % 0.43 0.77 2.0 FÓSFORO % 0.28 0.48 1.0 MAGNÉSIO % 0.20 0.25 0.5 POTÁSSIO % 0.90 1.00 3.0 SÓDIO % 0.18 0.18 - CLORO % 0.25 0.25 - ENXOFRE % 0.20 0.25 0.40 MICROELEMENTOS MINERAIS EXIGÊNCIAS MÁXIMO TOLERÁVEL ZINCO ppm 40.0 500.0 FERRO ppm 50.0 1000.0 MANGANÊS ppm 40.0 1000.0 COBRE ppm 10.0 100.0 COBALTO ppm 0.1 10.0 IODO ppm 0.6 50.0 SELÊNIO ppm 0.3 2.0 VITAMINAS U.I. P/ Kg m.s. da dieta EXIGÊNCIAS MÁXIMO TOLERÁVEL A 3.200 30.000 D 1.000 4.500 E 15 900 Tabela 3- Recomendações de algumas Universidades Americanas RECOMENDAÇÕES DE MICROELEMENTOS DIFERENTES DO NRC REFERÊNCIA COBRE FERRO MANGANÊS ZINCO UNIV.ILLINOIS 15 ppm 100 ppm 60 ppm 60 ppm UNIV.FLÓRIDA 22 ppm 110 ppm 45 ppm 45 ppm NC STATE UNIV. 20 ppm 50 ppm 60 ppm 100 ppm 33 Tabela 4- Diagnóstico das Deficiências Minerais Mineral Material Preferencial Normal Subclínico Clínico Cálcio (Aguda) (Crônica) Soro (mg/dl)– Ca total % mineral da costela Urina (mg/dl) 8,0-10,5 30-38% 2,0-50,0 5,5-7,5 25-30% <5,3 <25% <0,1 Fósforo Soro (mg/dl) % mineral da costela 4,5-6 17-20% 3,5-4,5 15-17% <3,0 <12% Magnésio Soro (mg/dl) Urina Líquor 1,9-2,3 10 – 25 2,0-2,5 1,5-1,85 2,0-2,5 - <1,5 <0,5 <0,5 Enxofre Somente na Dieta Sódio Urina (meq/L) Soro (meq/L) 10-50 135-152 - 130-135 <1,0 <125 Potássio Soro (meq/L) 4-5,5 - <2,5? Zinco Fígado (ppm/ms) 100-400 50-150 <50 Cobre Fígado (ppm/ms) Soro (ceruloplasmina-UI/L) Hemácias- Cu/ZnSuperóxido- (mg/g hemoglobina) 100-400 40-50 <0,3 40-100 10-30 <40 <5 <0,3 Iodo Soro I(µg /dl) Soro (tiroxina µg /ml) Leite I (mg/L) 10-50 20-100 30-300 5-10 <10 <10 <5 Cobalto Soro(Vit. B12- µg /ml (Ác.Metilmalônico)mmol/ml <0,4 <1,5 0,25-4 2,5-5 <0,2 >5 34 Selênio Sangue-etileno diamino (EDTA) - Glutationa peroxidase Fígado (ppm/ms) 0,2-1 mg/ml 20-35 mmol 0,25-0,60 0,1- 0,2 10-20 <0,1 <10 <0,15 Manganês Fígado (ppm/ms) 10-25 5-10 <4 Ferro Sangue-Volume Globular Fígado (ppm/ms) 33% 200-1500 <25 <20 <150 Goff,J.P.,2004 35 Tabela 5- Cálculo Dos Minerais Nas Fórmulas Químicas Elementos PesoAtômico Fórmula Química Porcentagens CÁLCIO 40,0 CaCo3 CaHPO4.2H2O 32-46 22-25 CARBONO 12,0 CLORO 35,4 NaCl 61 CROMO 52,0 Quelato CrCl 10 46 COBALTO 59,0 CoSO4.7H2O 20-21 COBRE 63,5 CuSO4.5H2O Quelato 25-35 15 ENXOFRE 32,0 S (Elementar) 99 FERRO 56,0 FeSO4.H2O 25-35 FÓSFORO 31,0 NH4H2PO4 23-24 FLÚOR 19,0 HIDROGÊNIO 1,0 IODO 127,0 KI03 , CaI2 60 MAGNÉSIO 24,3 MgO 50-54 MANGANÊS 55,0 MnSO4.H2O MnO 29 50-55 MOLIBDÊNIO 96,0 Na2MoO4.H2O 39-40 NÍQUEL 58,7 NiCl 50 NITROGÊNIO 14,0 OXIGÊNIO 15,0 POTÁSSIO 39,1 KCl 45-52,5 SELÊNIO 78,0 SeNa203 45 SÓDIO 22,4 NaCl 39 ZINCO 65,4 ZnO ZnSO4 Quelato 70-75 35 15 36 Def. de Cu – Clareamento e perda de pêlos(acromotriquia) Deficiência Cu –Anemia e perda da pigmentação da pele (Dr.Diomedes Barbosa PA) DEFICIÊNCIA DE ZINCO DEFICIÊNCIA DE ZINCO Deficiênia de Zinco – Paraqueratose 37 Deficiênia de Zinco – Paraqueratose Deficiência de Cobalto: Emagrecimento (Gentileza Dr.Diomedes Barbosa -PA) Deficiência Fósforo Deformidades e Osteofagia (Gentileza Dr. Diomedes Barbosa -PA) 38 14. VITAMINAS (Tradução de parte do capítulo de vitaminas do NRC 2001) As vitaminas são classificadas como lipossolúveis (A, D, E, K) e hidrossolúveis (vitaminas do complexo B e vitamina C). Possuem diversas funções como participação em rotas metabólicas, imunidade e regulação genética. Deficiências clínicas ou sub clínicas de vitaminas podem levar a doenças ou queda no desempenho animal. O gado de leite requer vitaminas A, D, E e K. No entanto elas são sintetizadas no próprio organismo animal (luz solar), ou são suficientemente fornecidas na dieta (forragens frescas). A tendência da criação intensiva em confinamento, diminui o acesso a forragens frescas e diminui a síntese de vitamina D, levando à necessidade de suplementação das vitaminas A, D e E. A atividade da vitamina A é definida em equivalentes retinol. Uma UI de vitamina A corresponde a 0,3µg de trans retinol. O retinol não é encontrado nas plantas, mas muitos alimentos contêm β-caroteno e outros carotenóides podem ser convertidos em vitamina A pelos animais. Entretanto, a eficiência de conversão é pobre e a maioria dos alimentos não os possuem em quantidades suficientes. As forragens contêm β caroteno, porém os grãos ou subprodutos são pobres em β- caroteno. A degradação ruminal da vitamina A pode ser grande. Dados in vitro sugerem que a degradação ruminal de vitamina A foi aproximadamente 20% quando os bovinos receberam dietas à base de forragens, mas foi a 70% quando receberam dietas com 50% a 70% de concentrado. De 0 a 35% do β-caroteno da dieta é destruído no rúmen. 14.1. Vitamina A A vitamina A é necessária para crescimento normal e desenvolvimento fetal, espermatogênese, manutenção do tecido esquelético e tecido epitelial. Vacas gestantes podem apresentar sintomas que indicam deficiências de vitamina A, como abortos, aumentos da prevalência de retenção de placenta e mortalidade de bezerros. A vitamina A também aumenta a resistência às doenças e tem efeitos na imunidade celular. O β-caroteno além da sua função de pró-vitamina A é antioxidante e melhora a capacidade imune dos neutrófilos. Existe uma clara evidência da necessidade da vitamina A para o desempenho reprodutivo. Revisando dados antigos, os requerimentos de vitamina A para animais em crescimento de rebanhos leiteiros aumentou a 80UI/kg de peso vivo. A exigência de vitamina A para bovinos adultos aumentou para 110 UI/kg de peso vivo. 39 Vacas secas normalmente recebem dietas com baixas quantidades de concentrado e a biodisponibilidade de vitamina A pode ser maior que para vacas lactantes. Condições que justificam a suplementação de vitamina A: • Dietas pobres em forragens ou que contêm grandes quantidades de silagem de milho e baixas quantidades de feno; • Dietas que apresentam forragensde baixa qualidade; • Aumento da exposição de animais a agentes infecciosos; • Épocas onde ocorre a redução da atividade do sistema imunológico do animal. 14.2. Vitamina D A vitamina D é um precursor necessário para a produção do hormônio regulador de cálcio, 1,23-diidroxivitamina D. Pode ser produzida na pele de alguns mamíferos (conversão fotoquímica), incluindo bovinos. A vitamina D convertida na pele é transportada para o fígado rapidamente evitando altas concentrações na corrente sangüínea. Do fígado, os produtos intermediários vão ao rim e são convertidos em 1,23- diidroxivitamina D, aumentam o transporte ativo de cálcio e fósforo, além da manutenção da função imune. A deficiência de vitamina D reduz a capacidade de manter a homeostase de cálcio e fósforo, resultando num declínio para fósforo e para cálcio. Isso pode causar raquitismo e osteomalácia em animais jovens e adultos, respectivamente. A quantidade de vitamina D na dieta necessária para prover substrato para produção de 1,23- diidroxivitamina D é difícil de ser definida. Animais expostos ao sol necessitam de vitamina D na dieta. As exigências de vitamina D para vacas de leite adultas pelo NRC (1989) foram fixadas em 30 UI/kg de peso vivo. Esses valores estão acima do que muitos estudos sugerem necessários para manutenção de concentrações plasmáticas normais de 2 3-hidroxivitamina D (17 UI/kg PV) ou cálcio e fósforo (10UI/kg PV) no plasma. Baseado em todos os dados disponíveis, as exigências de 30UI/kg PV estabelecidas previamente parecem justificáveis. 14.3. Vitamina E A vitamina E é o nome genérico para uma série de compostos lipossolúveis chamados tocoferóis e tocotrienóis. A forma biologicamente mais ativa da vitamina E é a α-tocoferol, que é a forma mais comumente encontrada nos alimentos. O conteúdo de vitamina E dos alimentos é altamente variável. Dependendo da espécie e maturidade, forragens frescas contêm entre 80 e 200 UI de vitamina E/kg de MS. Silagem e feno contêm de 20 a 80% menos de α-tocoferol que 40 forragens frescas. Em geral, as concentrações de vitamina E em concentrados são baixas. Normalmente o tempo de estocagem diminui as concentrações de α-tocoferóis. A forma comercial do suplemento de vitamina E é rac-α-tocoferyl acetato. A forma esterificada é mais estável que a forma alcoólica. Perdas na atividade biológica da vitamina E são esperadas nos suplementos vitamínicos. A função melhor explicada da vitamina E é como antioxidante celular. Esta função, e talvez as outras, estejam envolvidas na manutenção de membranas celulares, no metabolismo do ácido araquidônico, na imunidade e na função reprodutiva. A doença do músculo branco é um sinal clássico de deficiência de vitamina E. Experimentos mais recentes com vitamina E têm enfocado a sua relação com desordens reprodutivas, mastite e função imune. A suplementação de vitamina E para vacas de leite no período pré-parto melhorou a função dos neutrófilos e macrófagos (Hogan et al., 1990; 1992). As exigências para animais em pastejo provavelmente são menores pelo fato de que as forragens frescas são fonte de vitamina E. Benefícios adicionais na saúde de bezerros podem ser observados pelo aumento do consumo de vitamina E pelas vacas e novilhas no final da gestação. Aumento de consumo de vitamina E durante o período pré-parto, significativamente eleva a vitamina E do colostro. Para vacas lactantes, a recomendação de vitamina E mudou de 0.8 UI/kg PV se forragens conservadas eram fornecidas. A quantidade de vitamina E necessária para suplementação tende a ser mudada nas dietas: • Quando forragens frescas são fornecidas, a dieta requer cerca de 67% menos vitamina E suplementar, se comparada com dietas à base de forragens conservadas; • Deve ser aumentada quando as dietas fornecidas contêm baixa proporção de forragens ou baixo nível de selênio; quando utilizam- se gorduras protegidas e em períodos de imunodepressão; • Grandes quantidades de vitamina E podem reduzir os sabores oxidativos no leite. 14.4. Vitamina K Vitamina K é um termo genérico usado para descrever um grupo de compostos de quinona que exibem efeitos anti-hemorrágicos. A forma 41 básica da vitamina K é 2-metil-1,4-naftoquinona. Os três isômeros mais comuns são filoquinonas, menaquinonas e menadiona. Os bovinos requerem vitamina K para a síntese de pelo menos uma dúzia de proteínas, entre elas, fatores sanguíneos e proteínas do sangue. Esses fatores protéicos dependentes da vitamina K são componentes de um sistema complexo que tem a função de prevenir a hemorragia pela ativação da trombina pela formação de coágulos. Uma deficiência de vitamina K raramente ocorre, pois vegetais são ricos em filoquinonas e as menaquinonas são sintetizadas pelas bactérias no rúmen. Os microorganismos ruminais sintetizam a maioria das vitaminas lipossolúveis: biotina, ácido fólico, niacina, ácido pantotênico, piridoxina, riboflavina, tiamina e vitamina B12 que também podem ser fornecidas pelos alimentos. A vitamina C é sintetizada pelos ruminantes. Deficiências dessas vitaminas são raras em animais com rúmen desenvolvido. 14.5. Outras vitaminas 9 A biotina age como cofator para muitas enzimas envolvidas nas reações de carboxilação. Sendo muito importante na formação da queratina dos cascos. Bactérias ruminais normalmente sintetizam a biotina e as concentrações excedem 9µg/L de fluido ruminal. Entretanto em condições de acidose ruminal subclínica a quantidade produzida pode não atender os requisitos. 9 O ácido fólico participa de coenzimas para movimentação de compostos monocarbonados em rotas bioquímicas. O ácido fólico é necessário para a síntese de ácidos nucléicos. 9 Inositol é um nutriente importante no metabolismo e no transporte de lipídeos, constituinte de fosfolipídeos e com atividade lipotrópica. As deficiências de inositol parecem não ocorrer, pois o ácido fítico, do qual o inositol faz parte, é degradado no rúmen. Contudo durante períodos de lipidose hepática e na síndrome do fígado gorduroso, a suplementação de inositol tem sido investigada. 9 A niacina é o nome genérico para piridina ácido 3 carboxílico e seus derivados que demonstram atividades similares a forma amida (nicotinamida). A niacina funciona como uma coenzima no transporte de elétrons (NADH;NADPH). A niacina tem um papel importante na respiração celular e no metabolismo dos carboidratos, lipídeos e aminoácidos. 42 9 O ácido pantotênico é constituinte da coenzima A e é essencial para várias reações fundamentais no metabolismo, incluindo a oxidação dos ácidos graxos, catabolismo dos aminoácidos e síntese de acetilcolina. 9 A riboflavina é constituinte de vários sistemas enzimáticos associados com metabolismo intermediário. As exigências tissulares aparentemente são encontradas através da síntese microbiana da vitamina no rúmen. 9 A tiamina é uma vitamina hidrossolúvel com importante função de coenzima em várias rotas do metabolismo energético. Tem papel não muito bem definido no sistema nervoso. Deficiências de tiamina têm sido encontradas quando surgem associações de tiaminases nos alimentos ou ocorre destruição desta vitamina no rúmen. Dietas ricas em sulfato ou que causam diminuição do pH ruminal, podem causar deficiência de tiamina. Qualquer deficiência de tiamina pode causar desordens no sistema nervoso central. Polioencefalomalácia é a desordem mais comum por deficiência de tiamina. 9 A vitamina B12 é um cofator para duas enzimas maiores, metil- malonil coenzima A mutase e tetraidrofolatometiltransferase. A vitamina B12 não é encontrada nos tecidos das plantas e os microorganismos são única fonte desta vitamina. A deficiência de vitamina B12 tem sido demonstrada em bezerros que
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