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Brucelose Definição Brucelose é uma enfermidade transmissível, de caráter crônico, causada por bactérias do gênero Brucella, as quais infectam diversas espécies de mamíferos domésticos e silvestres, bem como o ser humano. Histórico Lesões típicas de brucelose foram recentemente identificadas pelo pesquisador L.. Capasso em esqueletos de vítimas da primeira onda vulcânica do monte Vesúvio, em 79 a..C No império Romano, uma doença febril (associada ao consumo de leite e queijo), era endêmica na ilha de Malta e recebia a denominação de febre de Malta. O médico David Bruce foi o primeiro pesquisador a isolar o microrganismo responsável pela febre de Malta (que foi chamado de Micrococcus melitensis); Bang, em 1895, descobriu o agente em feto bovino abortado e da febre ondulante (brucelose) em humanos, o qual, mais tarde, recebeu o nome de B. abortus; Em 1914, Jacob Traum isolou o microrganismo B. suis de um feto abortado; Abril de 2003: primeiro relato científico de infecção humana por Brucella spp; Etiologia O agente etiológico da brucelose é uma bactéria gram-negativa, classificada no filo Proteobacteria, na classe Alphaproteobacteria, na ordem Rhizobiales, na família Brucellaceae e no gênero Brucella.. Estrutura antigênica Amostras lisas: B. abortus, B. suis, B. melitensis, B. ceti, B. microti e B. inopinata (parte hidrofílica do LPS contém a cadeia O); Amostras rugosas: B. canis e B. ovis (cadeia O ausente). Os principais antígenos que conferem especificidade ao gênero estão presentes no lipopolissacarídio (LPS) da parede celular, principal responsável pela indução de anticorpos e pela virulência da Brucella.. Epidemiologia A enfermidade causada por B. abortus tem distribuição mundial, exceto nos países que a erradicaram por trabalhos sistemáticos, como é o caso do Japão, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Israel e alguns países da Europa. No Brasil, a brucelose bovina ocorre de maneira endêmica em praticamente todo o território nacional, podendo ser diagnosticada nos rebanhos. A menor taxa de prevalência é observada no estado de Santa Catarina; as maiores taxas, na Região Centro-Oeste; Fontes de infecção As espécies de hospedeiros preferenciais são aquelas responsáveis pela manutenção das respectivas espécies e biovares da Brucella. Desse modo, os caprinos e os ovinos constituem as principais fontes de infecção para B. melitensis; os bovinos, para B. abortus; os suínos, para B. suis. Para os bovinos, a principal fonte de infecção é a vaca, principalmente em gestação, pois o parto ou abortamento representam a ocasião de maior risco de disseminação. O touro infectado, quando usado na monta natural, tem pouca importância epidemiológica na manutenção da enfermidade. Entre os suínos e os cães, além da fêmea gestante, o macho infectado pode ser fonte de infecção importante. Nos ovinos, o reprodutor é a principal fonte de infecção de B. ovis, o qual elimina, em geral, o agente pelo sêmen, bem como pela urina. A fêmea é pouco importante na manutenção do agente no rebanho. Vias de eliminação O agente etiológico pode ser eliminado da fonte de infecção por diversas vias, como feto, membranas e líquidos fetais, descargas vaginais, leite, fezes e sêmen. A eliminação da Brucella ocorre, principalmente, após o parto ou abortamento. Embora as vacas abortem, em geral, apenas no primeiro parto após a infecção, os animais continuam eliminando a Brucella pelo leite e por descargas uterinas de modo assintomático nos partos subsequentes. A maioria das espécies de Brucella é eliminada pelo sêmen. Os machos podem eliminá-la por períodos prolongados ou por toda a vida. O sêmen é a principal via de transmissão para B. ovis, B. suis e B. canis. Meios de transmissão Água e alimentos contaminados são os principais meios de transmissão. Aerossóis podem ser meios de transmissão em ambiente fechado e com grande concentração da bactéria em suspensão no ar. Nos bovinos, é importante considerar, ainda, o contato resultante do hábito de lamber membranas fetais, fetos e bezerros recém-nascidos. Na brucelose bovina, a transmissão por inseminação artificial com sêmen de touro infectado é extremamente importante, sendo responsável por surto de abortamentos em propriedades. A transmissão por meio da ordenha mecânica deve ser considerada de vaca a vaca pela presença de brucelas no leite, o que contamina teteiras. Ao contrário do que ocorre com os bovinos, para os suínos a monta natural é um meio de transmissão frequente. Os principais riscos de transmissão associados à brucelose em granjas suínas são representados pela introdução de animais infectados. Patogenia A Brucella tem a capacidade de infectar células epiteliais e fagocitárias, tecido respiratório, neurônios e tecidos reprodutivos masculinos e femininos. Nas células não fagocitárias, a bactéria tende a localizar-se no retículo endoplasmático rugoso (RER). Em células fagocitárias, ela utiliza vários mecanismos para evitar ou suprimir a resposta bactericida. O LPS das amostras lisas está relacionado com a capacidade de sobrevivência intracelular, pois essas amostras sobrevivem intracelularmente melhor que as rugosas. O LPS das amostras lisas tem baixa toxicidade para macrófagos e baixa pirogenicidade, além de ser fraco indutor de interferon e de TNF, facilitando a manutenção no organismo animal. A estrutura lopopolissacarídica da Brucella tem baixa carga negativa e, como consequência, não ativa complemento nem induz moléculas microbicidas e bactericidas. B. melitensis é considerada a espécie mais patogênica para o ser humano, seguida por B. suis, B. abortus e B. canis. Já a bactéria B. ovis não é infectante para o ser humano, não se constituindo em zoonose. Em todos os locais, a Brucella prolifera-se intracelularmente. Se o animal estiver prenhe, ocorre a colonização da placenta. A afinidade da bactéria com a placenta e o feto, principalmente pelos trofoblastos corioalantoidianos, tem sido relacionada com a presença de eritritol nesses tecidos, o qual favorece a multiplicação de B. abortus, porém não B. abortus B19. Os níveis mais elevados de eritritol em bovinos são observados na placenta e em líquidos fetais a partir do 5° mês de gestação, relacionados com a multiplicação exponencial da Brucella a partir da metade e do terço final da gestação. A proliferação da Brucella nos trofoblastos leva à placentite, à infecção do feto e ao abortamento. Bovinos Bezerros nascidos de fêmeas com brucelose podem ter sido infectados intrauterinamente, atuando como portadores latentes responsáveis pela manutenção da brucelose no rebanho. Esses animais nascem sadios e podem ou não apresentar anticorpos colostrais, dependendo da sorologia materna, mas são sorologicamente negativos após o período de persistência de anticorpos colostrais (4 a 6 meses) Em geral, a infecção é detectada somente quando os animais chegam à maturidade sexual, ficam prenhes e abortam. A glândula mamária e os linfonodos supramamários são locais de persistência do B. abortus. Clínica A sintomatologia observada depende do estado imunitário do rebanho. Em rebanhos suscetíveis não vacinados, observam-se abortamentos a partir do 5° mês de gestação, principalmente no terço final. Os abortamentos ocorrem, comumente, no primeiro parto após a infecção. Cerca de 20% dos animais infectados não abortam, enquanto 80% abortam somente uma vez. Como sequelas comuns, são observadas retenção de placenta e metrite. Diagnóstico direto Isolamento e identificação do agente etiológico: a Brucella pode ser isolada de diversos materiais: feto abortado, placenta, exsudato uterino, leite, testículo, abcessos de cernelha, gânglios linfáticos e sangue. Para o isolamento, pode-se semear o material diretamente em meio de cultura ou inoculá-lo, antes,em animal de laboratório. Diagnóstico indireto Diagnóstico sorológico: o recurso mais comumente utilizado para a identificação de animais infectados é o diagnóstico sorológico, por ser mais rápido e simples. Para fins de diagnóstico sorológico, é fundamental considerar que o gênero Brucella é dividido em dois grupos: as espécies lisas e rugosas. As bactérias B. melitensis, B. abortus e B. suis são lisas e apresentam o polissacarídio O como parte do antígeno lipopolissacarídio; B. ovis e B. canis são rugosas e não contêm quantidades detectáveis de polissacarídio O na superfície celular Por esse motivo, o diagnóstico de infecção por espécie lisa sempre deve considerar um antígeno preparado com alguma espécie lisa, enquanto aquele por espécie rugosa sempre deve usar uma espécie rugosa como antígeno. As espécies lisas são naturalmente aglutinogênicas, ao contrário das rugosas. Vacina A vacina mais amplamente utilizada no controle de brucelose bovina é desenvolvida com amostra B 19 de B. abortus. Trata-se de vacina viva (atenuada), aplicada uma única vez em bezerras com idade entre 3 e 8 meses. De 65 a 75% dos animais vacinados ficam resistentes à infecção; os demais podem infectar-se, mas geralmente não abortam. Apesar da importância da vacinação, a B 19 apresenta algumas desvantagens: títulos residuais de anticorpos no soro sanguíneo e no leite, infecção persistente pela amostra vacinal, patogenicidade para o ser humano, aplicação restrita à fêmeas e necessidade constante de manutenção das cepas-padrão com características lisas. Para superar algumas desvantagens da vacina B 19, outras vacinas têm sido desenvolvidas, como a RB 51, constituída por amostra rugosa, que não leva a formação de anticorpos contra o lipopolissacarídio de amostras lisas. É recomendada em focos e em situações de alto risco, para fêmeas com idade superior a 8 meses e não reagentes nos testes sorológicos.
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