Buscar

EVOLUÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


Continue navegando


Prévia do material em texto

Evolução dos Direitos Fundamentais
O reconhecimento dos direitos fundamentais em documentos escritos, como se vê atualmente, é fruto de uma longa e árdua caminhada. Todavia, conforme assevera José Afonso da Silva “o reconhecimento desses direitos caracteriza-se como reconquista de algo que, em termos primitivos, se perdeu, quando a sociedade se dividira entre proprietários e não proprietários.”
Isto porque, nas sociedades primitivas não existia a ideia de subordinação ou opressão social do indivíduo, o poder pertencia à sociedade como um todo. Contudo, com o surgimento do Estado Absoluto, passa a existir um sistema de dominação e subordinação social.
Nesse contexto, os menos favorecidos não tinham qualquer tipo de proteção contra os abusos das classes dominantes. Sofriam com as bases do chamado “governo dos homens”, em que o poder soberano era exercido por um indivíduo que detinha o poder absoluto, sobre tudo e todos, sem, contudo, submeter-se a quaisquer regras ou leis. 
Nessa época, o valor predominante ainda era a propriedade, fundada no feudalismo e a servidão do homem ao senhorio, de forma que o homem tinha que se adequar ao valor maior daquele momento histórico.
No âmago da Idade Média, defronte a ultrajante forma que o homem era tratado, começam a surgir movimentos que buscavam alterar a posição dominante, em especial, proteção a direitos básicos do homem.
Desses movimentos, pode-se elencar as cartas e estatutos assecuratórios de direitos fundamentais ingleses, tais como a Magna Carta de 1.215, a Petition of Rights de 1.628, o Habeas Corpus Amendment Act de 1.679 e a Bill of Rights de 1.6887, que exerceram forte influência na sociedade ocidental e serviram de base para a Declaração Francesa dos Direitos do Homem de 1789.
Assim, após a Revolução Francesa (1789), surge o Estado Liberal, baseado numa estrutura de freios e contrapesos, conforme previsto na teoria de separação de poderes de Montesquieu, que trouxe os primeiros Direitos Fundamentais, denominados direitos negativos, pois surgiram contra os abusos do Estado Absoluto e trouxeram em seu bojo direitos como o respeito à liberdade do indivíduo, a igualdade – ainda que formal-, a propriedade e a legalidade.
Os primeiros direitos fundamentais têm o seu surgimento ligado à necessidade de se impor limites e controles aos atos praticados pelo Estado e suas autoridades constituídas. Nasceram, pois, como uma proteção à liberdade do indivíduo frente à ingerência abusiva do Estado. Por esse motivo – por exigirem uma abstenção, um não fazer do Estado em respeito à liberdade do indivíduo – são denominados direitos negativos
Todavia, o enriquecimento de poucos, assim como a inatividade do Estado no âmbito das questões sociais, gerou forte crise no Estado Liberal, a qual foi agravada com o advento da Revolução Industrial, ocorrida em meados do século XIX.
Com o fim da Primeira Grande Guerra, ocorre uma mudança de paradigma na sociedade. Viu-se a necessidade de o Estado intervir nas questões de cunho social, como a educação, saúde, trabalho, etc.
No início do século XX, surge, então, o Estado social que trouxe novos direitos fundamentais, porém, de caráter social que exigiam do Estado prestações sociais como, saúde, educação, habitação, etc., por isso são chamados de direitos positivos. 
Observa-se que os direitos fundamentais foram ganhando espaço no cenário mundial gradativamente ao longo do tempo e, após a Segunda Guerra Mundial, em face dos abusos perpetrados pelos participantes desse episódio lastimável da humanidade.
Diante disso criou-se a Declaração Universal dos Direitos Humanos que buscou efetivar dois valores expressivos e fundamentais: a liberdade (civil e política) e a igualdade (econômica, social e cultural).
Os direitos de primeira geração ou dimensão
Os direitos de primeira geração ou dimensão referem-se às liberdades negativas clássicas, que enfatizam o princípio da liberdade, configurando os direitos civis e políticos. Surgiram nos finais do século XVIII e representavam uma resposta do Estado liberal ao Absolutista, dominando o século XIX, e corresponderam à fase inaugural do constitucionalismo no Ocidente. Foram frutos das revoluções liberais francesas e norte-americanas, nas quais a burguesia reivindicava o respeito às liberdades individuais, com a consequente limitação dos poderes absolutos do Estado. Oponíveis, sobretudo, ao Estado, são direitos de resistência que destacam a nítida separação entre o Estado e a sociedade. Exigem do ente estatal, precipuamente, uma abstenção e não uma prestação, possuindo assim um caráter negativo, tendo como titular o indivíduo.
Podem exemplificar os direitos de primeira dimensão o direito à vida, à liberdade, à propriedade, à liberdade de expressão, à liberdade de religião, à participação política, etc.
Os direitos de segunda geração ou dimensão
Os direitos de segunda geração ou dimensão relacionam-se com as liberdades positivas, reais ou concretas, assegurando o princípio da igualdade material entre o ser humano. A Revolução Industrial foi o grande marco dos direitos de segunda geração, a partir do século XIX, implicando na luta do proletariado, na defesa dos direitos sociais (essenciais básicos: alimentação, saúde, educação etc.). O início do século XX é marcado pela Primeira Grande Guerra e pela fixação de direitos sociais. Isso fica evidenciado, dentre outros documentos, pela Constituição de Weimar, de 1919 (Alemanha), e pelo Tratado de Versalhes, 1919 (OIT).
O direito de segunda geração, ao invés de se negar ao Estado uma atuação, exige-se dele que preste políticas públicas, tratando-se, portanto de direitos positivos, impondo ao Estado uma obrigação de fazer, correspondendo aos direitos à saúde, educação, trabalho, habitação, previdência social, assistência social, entre outros.
Bonavides ao fazer referência aos direitos de segunda geração afirmou que "(...) são os direitos sociais, culturais e econômicos bem como os direitos coletivos ou de coletividades, introduzidos no constitucionalismo das distintas formas de Estado social, depois que germinaram por obra da ideologia e da reflexão antiliberal deste século. Nasceram abraçados ao princípio da igualdade, do qual não se podem separar, pois fazê-lo equivaleria a desmembrá-los da razão de ser que os ampara e estimula".
Por fim, os Direitos fundamentais de terceira geração surgem na segunda metade do século XX, os quais consagram os princípios da fraternidade e da solidariedade. São atribuídos genericamente a todas as formações sociais protegendo interesses de titularidade coletiva ou difusas.
Como se vê, são direitos usufruídos por toda a coletividade, de forma que não se destinam à proteção dos indivíduos em si, mas sim uma universalidade de detentores, que podem reclamar ou defender tais direitos, haja vista que têm por preocupação a proteção de coletividades, e não do homem individualmente considerado. Representam uma nova e relevante preocupação com as gerações humanas, presentes e futuras, expressando a ideia de fraternidade e solidariedade entre os diferentes povos e Estados soberanos.
Essa classificação tripartite é clássica na doutrina, embora haja doutrinadores pátrios e estrangeiros que já anunciam uma quarta e até mesmo em uma quinta dimensão desses direitos como Paulo Bonavides que defende a ideia de globalização dos direitos fundamentais, com a quarta dimensão sendo composta pelo direito à democracia, ao pluralismo e à informação. Da mesma forma, Augusto Zimmermann vislumbra uma quinta dimensão dos direitos fundamentais: os direitos inerentes ao ciberespaço, resultado do grande e rápido desenvolvimento da internet e do crescente acesso a esta realidade virtual.
Em síntese, pode-se dizer que os direitos fundamentais estão articulados esquematicamente da seguinte forma: 1ª geração (direitos individuais e políticos); 2ª geração (direitos sociais, econômicos e culturais); e, 3ª geração (direito à paz, ao desenvolvimento econômico, à comunicação etc.)