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Direito Civil - Pablo Stolze - Aula 18

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INTENSIVO REGULAR ROTATIVO 
 Disciplina: Direito Civil 
 Tema: Aula 17 
 Prof.: Pablo Stolze 
 Data: 27/11/2007 e 29/11/2007 
 
 
 
- 1 – 
 
 
MATERIAL DE APOIO 
DIREITO CIVIL 
DIREITOS REAIS 
 
 
 
Prof.: Pablo Stolze Gagliano 
www.novodireitocivil.com.br 
 
 
1. Introdução 
 
Os Direitos Reais ou Direito das Coisas, enquanto ramo do Direito Civil, traduzem o conjunto de 
normas e princípios reguladores das relações jurídicas referentes às coisas suscetíveis de 
apropriação pelo homem, segundo uma finalidade social. 
 
Sob outra perspectiva, com fundamento na doutrina do professor ARRUDA ALVIM, poderíamos 
enumerar as seguintes características dos direitos reais, para distingui-los dos direitos de natureza 
pessoal1: 
 
a) legalidade ou tipicidade – os direitos reais somente existem se a respectiva figura 
estiver prevista em lei (art. 1225, CC-02 e arts. 524 e 674, CC-16); 
b) taxatividade – a enumeração legal dos direitos reais é taxativa (numerus clausus), ou 
seja, não admite ampliação pela simples vontade das partes; 
c) publicidade – primordialmente para os bens imóveis, por se submeterem a um 
sistema formal de registro, que lhes imprime esta característica; 
d) eficácia erga omnes – os direitos reais são oponíveis a todas as pessoas, 
indistintamente. Ressalte-se, outrossim, que esta eficácia erga omnes deve ser 
entendida com ressalva, apenas no aspecto de sua oponibilidade, uma vez que o 
exercício do direito real – até mesmo o de propriedade, mais abrangente de todos – 
deverá ser sempre condicionado (relativizado) pela ordem jurídica positiva e pelo 
interesse social, uma vez que não vivemos mais a era da ditadura dos direitos2; 
e) inerência ou aderência –o direito real adere à coisa, acompanhado-a em todas as 
suas mutações. Esta característica é nítida nos direitos reais em garantia (penhor, 
anticrese, hipoteca), uma vez que o credor (pignoratício, anticrético, hipotecário), 
gozando de um direito real vinculado (aderido) à coisa, prefere outros credores 
desprovidos desta prerrogativa; 
f) seqüela – como conseqüência da característica anterior, o titular de um direito real 
poderá perseguir a coisa afetada, para buscá-la onde se encontre, e em mãos de 
quem quer que seja. É aspecto privativo dos direitos reais, não tendo o direito de 
seqüela o titular de direitos pessoais ou obrigacionais; 
 
 
 
 
 
 
1 ALVIM, Arruda. Confronto entre Situação de Direito Real e de Direito Obrigacional. Prevalência da Primeira, Prévia e 
Legitimamente Constituída – Salvo Lei Expressa em Contrário. Parecer publicado na Revista de Direito Privado, vol. 1, 
janeiro/março de 2000. São Paulo: RT, 2000, págs. 103/106. 
2 Nesse sentido, já advertia DUGUIT: “A propriedade não é mais o direito subjetivo do proprietário; é a função social do detentor 
da riqueza”. (DUGUIT, Leon. Las Transformaciones Generales del Derecho Privado. Madri: Ed. Posada, 1931, pág. 37). 
 INTENSIVO REGULAR ROTATIVO 
 Disciplina: Direito Civil 
 Tema: Aula 17 
 Prof.: Pablo Stolze 
 Data: 27/11/2007 e 29/11/2007 
 
 
 
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2. Posse 
 
 Teorias Fundamentais da Posse 
 
Savigny – Sua teoria é simples. A posse consiste no poder exercido sobre determinada coisa, com a 
intenção, o propósito, de tê-la para si. Seu conceito pode ser decomposto em dois elementos: animus 
(a intenção de domínio, a vontade de ter a coisa como sua) e corpus (o poder, o contato direito sobre 
a coisa, a apreensão física da “res”). Por ser carregada de subjetivismo, esta teoria foi duramente 
criticada por Ihering. Ademais, não explicava bem a posse indireta, eis que a noção de “corpus” não 
estaria nítida. A despeito de suas falhas, indiscutivelmente, esta teoria influenciou- e influencia – 
inúmeros sistemas no mundo. 
 
Ihering – Seu pensamento é um pouco diferente. A posse não precisaria ser decomposta em dois 
elementos, pois o corpus não seria requisito independente. Seria um elemento implícito. Posse é, 
simplesmente, em uma análise objetiva, a exteriorização da propriedade. Em outras palavras, 
possuidor é a pessoa que exerce poderes de proprietário, imprimindo destinação econômica à coisa. 
Por considerar irrelevante a prova do animus – intenção de ter a coisa como sua -, esta teoria 
conseguiu explicar, de maneira bem mais satisfatória, a posse indireta. 
 
Segundo a professora Mariana Santiago, países que sofreram influência do direito romano, como 
França, Portugal, Itália, Espanha, Argentina seguiram a teoria subjetiva de Savigny. Já países como 
Alemanha, Suíça, China, México e Peru optaram pela teoria objetiva de Ihering (fonte: 
www.jus.com.br). 
 
O Código Civil Brasileiro, ao regular a posse, em seu art. 1196, optou, em nosso sentir, pela teoria 
objetiva (constitucionalmente reconstruída com base no princípio da função social), mas, em diversos 
dispositivos, deixa-se influenciar pela corrente saviniana, a exemplo da disciplina da usucapião (vide, 
v.g., no art. 1238, a referência inequívoca feita ao animus: “possuir como seu”). 
 
Kohler – A posse seria um instituto social, admitida para garantir a paz social (tb. referida por 
Beviláqua, in “Direito da Coisas”). Trata-se de teoria sem a importância das anteriores. Em nosso 
sentir, identifica-se com a própria finalidade do direito que é, exatamente, a garantia de pacificação 
social. 
 
Questões Especiais de Concurso: 
 
1. O que é o “fâmulo da posse”? 
Trata-se do mero detentor da coisa, aquele que conserva a posse em nome de outrem (com mero 
animus detinendi), a exemplo do motorista particular ou do bibliotecário (art. 1198) 
 
2. O que é “constituto possessório”? 
Trata-se da operação jurídica que altera a titularidade na posse, de maneira que, aquele que possuía 
em seu próprio nome, passa a possuir em nome de outrem (Ex.: eu vendo a minha casa a Fredie, e 
continuo possuindo-a, como simples locatário). 
 
3. O que é “auto-tutela da posse”? 
Trata-se de meio legítimo de auto-defesa, exercido segundo o princípio da proporcionalidade, 
operando-se em duas situações: legítima defesa e desforço incontinenti. Tais atos de defesa 
devem ser moderados, e mediante o uso de meios necessários. A sua disciplina é feita no art. 1210, 
parágrafo primeiro do Código Civil. 
 
 4. O que é “interversão da posse”? 
 INTENSIVO REGULAR ROTATIVO 
 Disciplina: Direito Civil 
 Tema: Aula 17 
 Prof.: Pablo Stolze 
 Data: 27/11/2007 e 29/11/2007 
 
 
 
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Tal expressão traduz a transformação ou a inversão no título a posse, como se dá na hipótese de o 
possuidor precário (titular de uma posse “de favor”) passar a atuar na qualidade de legítimo 
proprietário. 
 
5. O que é “patrimônio de afetação”? 
 
Segundo Hércules Aghiarian, “Este novo sistema de direito real de garantia oferece oportunidade ao 
incorporador para destacar de seu patrimônio, ou de terceiros parceiros, um conjunto de bens que será 
reconhecido como patrimônio autônomo. Constituído pelos recursos obtidos com a comercialização das 
futuras unidades, pelas benfeitorias a serem agregadas a suas receitas, ou mesmo o próprio imóvel 
sobre o qual venha a ser edificada a incorporação. Este patrimônio constituído responderá, quando 
necessário, por quebras e outras indenizações surgentes por culpa do incorporador, em favor dos 
referidos promitentes-compradores, ficandoimune, aliás, às responsabilidades pessoais daquele, como 
se verá” (fonte: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6408). 
 
Consagrado na Lei nº 10.931/04, o patrimônio de afetação visa a imprimir maior segurança jurídica 
nas relações travadas no âmbito do mercado imobiliário, especialmente em favor do consumidor. 
 
Neste sentido, informa o site Precisão Consultoria: 
 
“Esta medida se torna relevante para evitar o que o mercado apelidou de ‘efeito bicicleta’ ou 
‘pedalada’, que significa a situação das empresas em dificuldade econômica que desviam recursos de 
um novo empreendimento para um anterior e assim sucessivamente, formando um ciclo vicioso que 
tantos prejuízos já causou no passado, ainda vivos na memória recente do país. Com a nova regra, 
todas as dívidas, de natureza tributária, trabalhista e junto a instituições financeiras, ficam restritas ao 
empreendimento em construção, não tendo qualquer relação com outros compromissos e dívidas 
assumidas pela empresa. Dessa forma, na hipótese de ocorrer falência da empresa 
construtora/incorporadora, os compradores poderão dar continuidade à obra, contratando outra 
empresa no lugar da falida, configurando o objetivo de garantir ao consumidor a entrega de imóvel 
comprado na planta” (fonte: http://www.precisao.eng.br/fmnresp/afeta.htm ). 
 
 Principais Classificações 
 
A) Posse Direta e Posse Indireta (art. 1197); 
B) Posse Justa e Posse Injusta (art. 1200); 
C) Posse de Boa-Fé e Posse de Má-Fé (arts. 1201 e 1202); 
D) Posse Nova e Posse Velha;3 
 
 Quem pode Adquirir a Posse (art. 1205) 
 
 Modos de Perda da Posse (art. 1223) 
 
 Principais Efeitos da Posse 
 
A) Percepção dos Frutos (arts. 1214, 1215, 1216) 
 
 
3 O CC-02 não repetiu os arts. 507 e 508 do CC anterior, que diferenciavam posse nova e velha, para efeito de pedido de 
liminar. Entretanto, entende-se que, nesse ponto, permanece em vigor o art. 924 do CPC. 
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Vale lembrar, quanto aos produtos, que duas correntes de pensamento se desenvolveram: a primeira 
sustenta que pertencem sempre ao proprietário, na forma do art. 1232; já a segunda (Clóvis 
Beviláqua), entende que se pode aplicar, por analogia, a disciplina da percepção dos frutos do CC. 
 
B) Responsabilidade pela Perda ou Deterioração da Coisa (arts. 1217 e 1218) 
 
C) Indenização pelas Benfeitorias Realizadas e Direito de Retenção (arts. 1219 e 1220); 
 
D) Proteção Possessória;4 
 
 
3. Direito Real na Coisa Própria – Propriedade 
 
 Conceito. 
 
Trata-se de um direito real complexo, definido no art. 1228 do CC, e compreensivo das faculdades 
reais de usar, gozar/fruir, dispor e reivindicar a coisa¸ segundo a sua função social. 
 
Segundo Gustavo Tepedino, baseando-se em Perlingieri, a função social da propriedade constitui o 
título justificativo, a causa de atribuição dos poderes do seu titular, de maneira que: 
 
 “a propriedade, portanto, não seria mais aquela atribuição de poder tendencialmente plena, cujos 
confins são definidos externamente, ou, de qualquer modo, em caráter predominantemente negativo, 
de tal modo que, até uma certa demarcação, o proprietário teria espaço livre para as suas atividades e 
para a emanação de sua senhoria sobre o bem. A determinação do conteúdo da propriedade, ao 
contrário, dependerá de centros de interesses extra-proprietários, os quais vão ser regulados no 
âmbito da relação jurídica de propriedade” (Temas Atuais de Direito Civil, Contornos Constitucionais da 
Propriedade Privada, Ed. Renovar). 
 
 Características 
 
A) complexo – pois é formado por um plexo de poderes ou faculdades; 
B) absoluto – pois a sua oponibilidade é “erga omnes”; 
C) perpétuo – uma vez que não se extingue pelo simples não-uso; 
D) exclusivo – nesse sentido é entendido, pois afasta o exercício do poder dominial de terceiro 
sobre a mesma coisa, ressalvando-se apenas a situação do condomínio, em que há divisão ideal 
do bem; 
E) elástico5 - pois pode ser distendido ou contraído, para formar outros direitos reais, sem perder 
a sua essência; 
 
 
 Extensão (art. 1229 e art. 1230) 
 
 Principal Limitação Constitucional ao Direito de Propriedade – A sua Função Social (art. 
5. , incs. XXII e XXIII)6 
 
 Limitações Legais – Direitos de Vizinhança 
 
 
4 Tema desenvolvido em outra cadeira no curso LFG. 
5 Cuidado com esta característica para concurso! 
6 Veja, a respeito da função social, os textos complementares deste material de apoio. 
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 Disciplina: Direito Civil 
 Tema: Aula 17 
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 Data: 27/11/2007 e 29/11/2007 
 
 
 
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Trata-se do conjunto de regras que disciplina a convivência pacífica entre vizinhos. Têm natureza de 
obrigações “propter rem”. 
 
A) Uso Normal da Propriedade (arts. 1277 e ss.); 
B) Árvores Limítrofes (arts. 1282 e ss.); 
C) Passagem Forçada (arts. 1286 e ss.); 
D) Passagem de Cabos e Tubulações (arts. 1286 e ss.); 
E) Das Águas (arts. 1288 e ss.); 
F) Limites e Direito de Tapagem (arts. 1297 e ss.); 
G) Direito de Construir (arts. 1299 e ss.) 
 
Faremos a análise desse tema, em sala de aula, mas, desde já, recomendamos o texto escrito por 
LUIZ EDSON FACHIN, a respeito dos “Direitos de Vizinhança”, na obra coletiva “Questões 
Controvertidas de Direito Civil – vol. 2”, Ed. Método. 
 
TEXTOS COMPLEMENTARES 
 
TEXTO 01 
 
Posse: Fato ou Direito ? 
Arruda Alvim (texto gentilmente cedido, dos seus originais “Comentários ao Código Civil) 
 
Num dos ângulos básicos da visão possessória de Savigny ------ depois de colocar a 
questão consistente em se estabelecer se a posse é fato ou direito ------ constatamos aí ser 
considerada, a posse, em si mesma, como um fato puro, em relação ao qual, todavia, encontram-se 
atreladas conseqüências de direito. Em realidade, mais explicitamente, a dúvida é a que consiste saber 
se a posse é mero fato, ou, se é fato e direito. A idéia é a de que a posse é um fato; porém, melhor 
explicada, deve levar a que, conquanto seja um fato, não é ela (apenas) um fato, no sentido de nesse 
se esgotar. Muito pelo contrário, à posse ligam-se conseqüências jurídicas de alta significação, e, ainda 
que se possa afirmar que ela é fato, as aludidas conseqüências são insuscetíveis de serem negadas. 7 
Ernst Immanuel Bekker, 8 sublinha a discussão em sua época, em relação a ser a posse 
fato ou direito, afirmando que a posse, como comportamento e fazer [do possuidor] é fato; como 
somatório das conseqüências jurídicas, é direito. Este último autor, ao tratar da aquisição e perda da 
posse, fundamentalmente como fatos, conclui: “A posse é um fato. Não é um direito ---- nem ilícito --- 
acompanha [caminha com] o direito”. 
Há autores que sublinham que a posse é elemento de duração de direitos, v.g., como 
Konrad Cosak, que diz: “…mas é [a posse] objeto de um direito e como tal suporte fático ou pelo 
menos elemento fundamental do suporte fático para a subsistência ou a perdurabilidade de um 
 
7 Friedrich Carl von Savigny, Das Recht des Besitzes, Eine civilitistische Abhandlung [O direito de posse - 
Dissertação civilística], 7ª ed, Viena, Carl Gedold’s Sohn, 1865, § 5º, p. 43, onde diz que a posse é um fato 
puro (,…ein blossesFactum ist:…) – (v. notas 22 e ss, infra). 
8 V. Ernst Immanuel Bekker, Das Recht des Besitzes bei den Römern [O Direito da Posse nos Romanos], Leipzig, ed. Breitkopf 
und Härtel, 1880, no capítulo § 5º (“Ius und Factum”) – (“Direito e Fato”), p. 33 – no original: “Der Besitz ist ein Faktum. Er ist 
kein Recht, ----- kein Umrecht ----- er geht neben dem Rechte einher”. Igualmente Anton Randa V. Der Besitz nach 
österreichem Rechte [A posse no direito austríaco], Leipzig, edição de Breitkopf e Härtel, 1876, § 3º, p. 32. 
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direito”. 9 Afirma Konrad Büchel que é fato porque o ladrão pode ter posse, pois se fosse direito, 
haveria sempre de ser adquirida por meios jurídicos, onde diz que a posse somente pode ser entendida 
como relação de fato (“Er kann demnach der Besitz nur als faktisches Verhältnis, als causa facti, in 
Betracht kommen, und muß daher überall als begründet erscheinen,……” – em vernáculo: ( “Por isto é 
que a posse deve ser havida como relação de fato, como causa de fato, e por isso, acima de tudo, 
deve aparecer como fundada,…”). 10 
Anton Friedrich Justus Thibaut, por sua vez, estabelece os elementos materiais da posse, 
dizendo que, em conformidade com o próprio significado romano, que é, também, no seu sentir, o do 
direito alemão, possidere, significa poder físico: “O possidere romano indica, tal como o alemão 
possuir, entendido a partir do sentido originário da palavra significa o fato de alguém poder sentar 
numa coisa ou de ter poder físico de apreensão de um corpo”. 11 
Mas é relevante não deixarmos de ter presente que a posse não se reduz a um mero 
fato, senão que provoca uma série grande de conseqüências de ordem jurídica. Essa posição, entre 
muitos, é a de Dernburg, depois de descrever a posse em si mesma, ou, numa posição que pode ser 
designada de estática. Diz que “A posse como tal não é um direito. Todavia, na maioria dos casos a ela 
corresponde o direito”.12 Essas noções são, substancialmente, repetidas em livros contemporâneos, 13 
o que não significa para esses autores, também, que não ocorram significativas conseqüências 
jurídicas, a partir ou ainda que a partir da afirmação categórica de que a posse é um fato. Em 
realidade, a afirmação feita por esses autores (inclusive Savigny) deve ser lida como significando que a 
posse é apenas um fato, em si mesma considerada. Essa afirmação, por certo, não se estende e não 
pretende afastar o conjunto imenso de efeitos jurídicos, que derivam do “fato” da posse, como se 
acentuou. 
Mas, para que se configure esse fato da posse ------ diferentemente da situação de 
detenção, onde há, também, uma situação aparente de poder (controle material) sobre uma coisa, que 
se mostra exteriormente tal como se fosse posse ------ é necessário que haja uma intenção específica, 
a que denominou de animus domini, no entender de Savigny, posição que não é a do nosso Código 
Civil e não o era do de 1.916. Na detenção há de reconhecer-se uma situação de fato a que 
corresponderia a uma situação jurídica. A situação de fato do detentor corresponderia à propriedade. 14 
É através do animus possidendi que essa situação de detenção se alça à situação de posse, não sendo 
esta, todavia, a noção de detenção assumida por este Código e nem pelo Código Civil de 1916. 15 E, o 
 
9 V. Konrad Cosac, Der Besitz des Erben [A posse dos herdeiros], Weimar, Böhlau, 1877, p. 4 – no original: “…aber er ist 
Gegenstand eines Rechtes und als solcher Thatbestand oder wenigstens Hauptelemente des Thatbestands für die Entstehung 
und Fortdauer eines Rechtes”. 
10 V. Konrad Büchel, Ueber die Natur des Besitzes [Sobre a natureza da Posse], Marburg, ed. Elwert, 1868, p. 8. 
11 V. Anton Friedrich Justus Thibaut, na sua obra Ueber Besitz und Verjärung [Sobre Posse e Prescrição], Jena, edição Michael 
Mauke, 1802, § Iº - no original: “Das Römische possidere deutet, wie das Deutsche Besißen, seinem ursprünglichen Worte 
verstande zufolge, das Factum an, da Jemand eine körperliche Sache durch Sißen oder körperliches Begreifen in seiner 
physichen Gewalt hat,…”. 
12 V. Heinrich Dernburg, Das Sachenrecht des Deutschen Reichs und Preußens [O direito das coisas no Reino alemão e da 
Prússia], 4ª ed. retrabalhada, edição da Halle S.A. - Livraria Waisenhauses, 1908, § 11, p. 49 (“Conceito e essência da Posse”), 
- no original: “Der Besiß als solcher ist kein Recht. Doch in der Mehrheit der Fälle entspricht er dem Rechte”. 
13 V. Jan Shapp e Wolfgang Schur, Sachenrecht [Direito das Coisas], Munique, 2002, ed. Vahlen, § 5º, b, nº 44, p. 26, onde se 
lê que a “Posse é fato, não direito” (“Der Besitz ist Tatsache, kein Recht” – destaque do original) 
14 V. Friedrich Carl von Savigny, Das Recht des Besitzes, Eine civilitistische Abhandlung [O direito de posse - Dissertação 
civilística], 7ª ed., Viena, Carl Gedold’s Sohn, 1865, § 1º, p. 27) [“…, so liegt in der Detention die Ausübung des Eigenthums, 
und sie ist der f a c t i s c h e Zustand, welcher dem Eigenthum, als einem r e c h t l i c h e n Zustand, correspondiert”] 
(destaques do autor) – (“…reside na detenção o exercício da propriedade, e é ela a s i t u a ç ã o fática, através da qual a 
propriedade, como uma situação j u r í d i c a , corresponde”) - (destaques do original). 
15 V. Friedrich Carl von Savigny, Das Recht des Besitzes, Eine civilitistische Abhandlung [O direito de posse, Dissertação 
civilística], cit., § 9º, p. 109, onde diz que ‘por meio do qual [animus possidendi] é que a detenção foi alçada à situação de 
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 Disciplina: Direito Civil 
 Tema: Aula 17 
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 Data: 27/11/2007 e 29/11/2007 
 
 
 
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animus possidendi, a seu turno, explica-se pelo animus domini ou animus rem sibi habendi, que é o 
animus (ou, a intenção) que só o possuidor pode exercitar, como se proprietário fosse e como este se 
comportaria em relação à coisa; ou seja, ele quer faticamente exercer senhoria [sobre a coisa], tal 
como um proprietário exerce o seu direito. 
Embora freqüentemente utilizada, a expressão animus domini não encontra apoio em 
nenhum texto do direito romano, sendo uma tradução apontada da paráfrase de Teófilo que não 
corresponderia à tradução de animus domini, mas animus dominantis. Ao contrário encontra-se, ainda 
que escassamente, a expressão animus possidendi, com suas expressões análogas animus possidentis, 
animus possessionis. 16 - 17 A concepção de Savigny teve como pano de fundo a inspiração, 
possivelmente, do pensamento de Kant 18, e a noção de liberdade, i.e., a esfera de liberdade do 
possuidor e a agressão a essa situação, que justificava a defesa da posse. 19 
Se, v.g., é o proprietário que exerce a posse, correspondente ao direito de propriedade, 
esta é uma manifestação do direito subjetivo de que é titular; se, diferentemente, outrem é o 
possuidor (sem titularidade alguma), a situação é diferente, justificando-se a si própria.20 
A concepção de Savigny teve como mérito realçar os dois elementos que compõem a 
base do fenômeno possessório (corpus e animus); não teria, porém, resistido às observações e 
objeções traçadas por Ihering, que procurou desmontar a teoria de Savigny. Segundo palavras de 
Ihering “Llamar a la posesión de las cosas exterioridad o visibilidad de la propiedad, es resumir en una 
frase toda la teoria posesoria”21. 
De outra parte, ainda, Ihering nunca negou o papel da vontade, pois não há dúvida de 
que a posse exige o “querer” como pressuposto do “ter” (rectius, possuir). Como explica Cornil, 
responsável por aprofundar a teoria objetiva: “Em toda relação possessória está implicada 
necessariamente a vontade. Sem vontade a relação exterior com a coisa, fosse mesmo um contato 
corporal imediato, é uma simples relação de justaposição local a que é completamente indiferente o 
 
posse’ -----“…, durch welchen [animus possidendi] die Detention zum Besitz erhoben wurde”. V. comentários aos arts. 1.198 e 
1.208, em que, ao lado dos comentários a esses textos, se procura estudar a detenção nos quadros das teorias subjetiva e 
objetiva. 
16 V. Paola Lambrini, L’Elemento Soggettivo nelle Situazioni Possessorie Del Diritto Romano Classico [O Elemento Subjetivo nas 
Situações Possessórias do Direito Romano Clássico], Padova, Cedam, 1998, p. 28. 
17 V. Savigny, Das Recht des Besitzes, Eine civilitistische Abhandlung, cit., § 9º, p. 110 [O direito de posse, Dissertação 
civilística], onde está dito: “…de tal forma que animus possidendi através do animus domini ou animus rem sibi habendi 
demandam ser esclarecidos, [e] por conseqüência somente vale para o que é possuidor, de cuja coisa ele se comporta como 
proprietário [e] tem a detenção, isto é, em relação à qual ele tem o controle material, tal como um proprietário está autorizado 
em razão do seu direito”) – no original: “…, so daß der animus possidendi durch animus domini oder animus sibi habendi erklärt 
werden muß, folglich nur der als Besitzer gelten kann, welcher die Sache als Eigenthümer behandelt, deren Detention er hat, d. 
h., welcher sie factisch eben so beherrschen will, wie ein Eigenthümer Kraft seines Rechts zu thun befugt ist, …”. Com essa 
explicação, v. Moreira Alves, Posse, 2ª ed., 2.ª tiragem, Rio de Janeiro, Forense, 1997, vol. I, p. 212, nota 692. 
18 Disse o autor francês Jean-Marc Trigeaud: “La possession-droit savignienne coincide pleinement dans sa configuration et sa 
structure avec la notion Kantienne” – (“A posse-direito savigniana coincide inteiramente na sua configuração e estrutura com a 
noção kantiana”). Para uma síntese da influência de Kant e do idealismo alemão na teoria de Savigny, v. Jean-Marc Trigeaud, La 
Possession des Biens Immobiliers, Economica, 1981, p.459 e ss. 
19 Para uma notícia ampla, v. Moreira Alves, Posse, 1.ª ed., 2.ª tiragem, vol. I, cit., 1997, pp. 209-210 e nota 691, da p. 209. 
Observa-se dessa informação (nota 691) que, até mesmo alguns lineamentos da idéia de posse, tal como fora entendida por 
Kant, teriam penetrado no pensamento de Savigny (V. no Livro Introdutório ao Direito das Coisas e o Direito Civil item 1.8.2, 
nota 109, o texto de Kant). 
20 V. Fedele, ob. ult. cit., I, 2, p. 14, o qual explica a última situação do texto como um fenômeno autônomo (possideo quia 
possideo ----- possuo porque possuo; possuo como estava possuindo). 
21 V. Rudolf von Ihering, La Teoria de La Posesión, 2ª ed., trad. Adolfo Posada, Madrid, 1912, tomo I, p. 222. 
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direito”. 22 Contudo, no que tange ao ônus da prova da posse, a comprovação do animus colocaria o 
julgador em posição difícil. Assim, o que deve determinar a existência da posse relaciona-se com o seu 
perfil (em rigor, perfil externo, o que aparece), tal como reconhecido pelo ordenamento jurídico23. 
Ihering procurou demonstrar que a distinção entre posse (possessio civilis) e detenção 
(possessio naturalis) com base no animus possidendi, não tinha sustentação perante o direito romano 
24. A teoria de Ihering foi amplamente aceita, mas a influência de Savigny foi extremamente grande 
nas codificações que acompanharam o final do século XIX como demonstra Cornil. 25 
A teoria de Ihering ‘teria superado’ a teoria subjetiva de Savigny menos pela 
demonstração lógico-formal, mas através de uma constatação e construção teórica mais próximas da 
realidade. Priorizou a visão realista dos institutos, o que só é possível com a percepção dos fins para os 
quais os mesmos existem (método teleológico). Não há dúvida de que essa posição corresponde ao 
pensamento de Ihering em sua segunda fase, pois o mesmo viveu um período de transição do 
pensamento positivista do século XIX. Num primeiro momento, valorizou a jurisprudência dos 
conceitos e todo o seu formalismo racional, por influência de Puchta, posição que mais tarde 
abandonou ante a incapacidade ou impotência da jurisprudência dos conceitos se adaptar à evolução 
econômica, bem como em fornecer soluções aos problemas sociais. A jurisprudência dos conceitos 
revelava-se como um espelho dos arquétipos existentes nas fontes romanas, situação incompatível 
com o ambiente social da segunda metade do século XIX. A segunda fase de Ihering assenta-se em 
seu amadurecimento e na adoção de uma visão pragmática, a qual correspondeu ao elemento 
catalisador para o surgimento da jurisprudência dos interesses. 26 
A história demonstrou que os romanos sempre foram avessos a elaborações científicas, 
no sentido de formular abstrações, pois estavam mais preocupados em propiciar soluções práticas aos 
problemas do cotidiano. 
 
 
 
22 V. Cornil, Traité de la Possession dans le Droit Romain, Paris, 1905, pp. 34 e ss. – no original: “Tout rapport possessoire 
implique nécessairement la volonté. Sans volonté le rapport extérieur avec une chose, fût-il même un contact corporel 
immédiat, est un simple rapport de juxtaposition locale complètement indifférent en droit”. 
23 Diz Ihering: “Cuando las dos condiciones de la posesión, esto es, el corpus y el animus, concurren, se tiene siempre 
posesión, a menos que una disposición legal no prescriba excepcionalmente, que sólo hay simple tenencia” (grifos do autor). 
(Ihering, La voluntad en la Posesión, trad. Adolfo Posada do original Der Besitzwille, Madrid, 1910, t. II, p. 22). 
24 Como afirma Ihering “El animus domini señala el punto de partida de mis vacilaciones acerca de la exactidud de la teoria de 
Savigny. Leyendo las fuentes, me he encontrado con textos que no es posible armonizar con ellas, y de los cuales he hablado en 
el cap. XV. Tales textos produjeron en mi la convicción de que, para determinar ante las condiciones legales exteriores de la 
posesión, o del corpus, si hay posesión o tenencia, en materia de posesión derivada, lo decisivo, en mi concepto, aunque sea en 
contra del sentimento y de la intención de las partes, no es la diversidad de la voluntad de poseer, sino la naturaleza de la 
relación existente; la causa posessionis o el momento causal de la posesión, como yo lo llamo” (Ihering, La voluntad en la 
Posesión, trad. Adolfo Posada do original Der Besitzwille, cit., t. II, p. 8). 
25 Para uma simples visualização da influência do animus na definição da posse em algumas legislações, arroladas por Cornil: 
Código Civil da Saxônia de 1863, § 186: “Aquele que tem realmente uma coisa em seu poder e se há a vontade de exercer [o 
direito de] propriedade por si próprio, este é o seu possuidor” – (“Celui qui a une chose réellement en son pouvoir, en est 
détenteur, et s’il a la volonté d’exercer sur la chose la propriété pour lui-même, il en est possesseur”) ; Código do Cantão de 
Zurique (Suíça), art. 64: “a aquisição da posse é subordinada, em princípio, a duas condições: 1. …; A vontadede exercer esse 
poder material sobre a coisa” (“L’acquisition de la possession est subordonnée, en principe, à deux conditions: 1..., 2ª La 
volonté d’exercer ce pouvoir matériel sur la chose”); Código espanhol de 1889, art. 430: “A posse civil é esta mesma detenção, 
ou este mesmo gozo, unido à intenção de considerar a coisa ou o direito, como propriedade” - (“La possession civile est cette 
même détention, ou cette même jouissance, unie à l’intention de considérer la chose, ou le droit, comme la propriété”); Código 
Civil Japonês de 1896, art. 180: “A posse se adquire pela detenção de uma coisa com a intenção de a exercer no seu próprio 
interesse”- (“La possession s’acquiert par la détention de la chose avec l’intention de l’exerer dans son propre intérêt”).V. Cornil, 
Traité de la Possession dans de Droit Romain, Paris, 1905, p. 544 ss. 
26 Para maiores esclarecimentos, vide Karl Larenz, Metodologia da Ciência do Direito, Lisboa, 1997, Fundação Calouste 
Gulbenkian. trad. orig. Methodenlehre der Rechtswissenschaft [6ª edição, 1991], p. 55 ss. 
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TEXTO 02 
 
Da função social da propriedade imóvel. 
Estudos do princípio constitucional e de sua regulamentação pelo novo Código Civil 
brasileiro 
 
Autor: Juliano Taveira Bernardes 
Juiz federal em Goiás, professor na Universidade Federal de Goiás, mestre em Direito e 
Estado pela Universidade de Brasília(UnB), ex-membro da magistratura e do Ministério 
Público do Estado de Goiás,membro do IBDC (Instituto Brasileiro de Direito Constitucional) 
 
 
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4573>. Acesso em: 12 jun. 2006. 
 
 
1 - INTRODUÇÃO 
 
Surgida no ordenamento jurídico pátrio após a edição do Código Civil de 1916, a função social da 
propriedade recebeu importantes contribuições da Constituição de 1988. Mas, nem bem analisadas as 
implicações da atual Constituição em relação à antiga legislação civil, veio a lume o novo Código Civil 
(Lei 10.406, de 10/01/2002), que promoveu significativas mudanças acerca da matéria. Logo, é 
oportuno estudar as inovações obtidas e os problemas que surgirão com a recente concretização do 
instituto por meio do novo Código Civil. 
 
Nesse esforço, o estudo começará pela conceituação da função social da propriedade, passando por 
breve histórico. Após, pretender-se-á demonstrar o porquê e as conseqüências advindas do 
enquadramento do instituto na acepção de princípio constitucional. Em seguida, partindo da 
interpretação da Constituição de 1988, o tema proposto será explorado em visão sistemática 
abrangente, não olvidando a legislação que, paralelamente ao Código Civil, promove a regulamentação 
da função social da propriedade. Somente então, no último item do trabalho, é que serão analisados 
artigos específicos que tocam a questão, no novo Código Civil, buscando interligá-los às normas 
preexistentes, especialmente ao recente Estatuto da Cidade (Lei 10.257, de 11/07/2001). 
 
Destarte, a preocupação maior do subscritor será uma exegese que não se limite só à legislação civil 
recém-editada, mas a ela se chegue após estudar todo o sistema normativo em que se insere o 
princípio da função social e as regras que lhe dão corpo. Intenta-se, dessa forma, superar a pouca 
literatura e nenhuma jurisprudência acerca da Lei 10.406/2002. 
 
Por fim, quanto ao corte temático, o trabalho concentrar-se-á na função social da propriedade imóvel, 
a despeito de o princípio incidir também em face de outros tipos de propriedade. 
 
2 – DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE 
 
Antes de iniciar a exposição sobre o que vem a ser a chamada função social da propriedade, não se 
pode olvidar que o princípio da função social tem como pressuposto necessário a propriedade. (1) Daí, 
é de bom alvitre cuidar simultaneamente, ainda que em breves linhas, do liame umbilical existente 
entre função social e direito de propriedade. 
 
Nesse prumo, o Código de Napoleão qualificou o direito de propriedade, na esfera privada, como o 
"direito de gozar e dispor das coisas da maneira mais absoluta, desde que delas não se faça uso 
proibido pelas leis e regulamentos" (art. 436). 
 
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De sua vez, a aplicação do princípio da função social da propriedade descaracteriza o acerto dessa 
velha concepção civilista, imantando o direito de propriedade com um dever de agir, e não apenas uma 
obrigação de não fazer (função social ativa). (2) Assim, a propriedade, modernamente, converteu-se 
em poder-dever voltado à destinação do bem a objetivos que transcendem o simples interesse do 
proprietário. 
 
Porém, não se confunde a função social com as limitações da propriedade contidas no direito civil, (3) 
tampouco com as limitações administrativas. (4) Mesmo sendo inválido afirmar que se resumem a 
prestações de não fazer, as limitações constituem condição de exercício do direito. Já a função social 
está ligada aos deveres inerentes ao exercício da propriedade, convertendo-se em "elemento da 
estrutura e do regime jurídico da propriedade". (5) Como afirma ARAÚJO SÁ, as limitações 
administrativas têm fundamento não na função social da propriedade mas no poder de polícia, e são 
externas ao direito de propriedade, interferindo tão-somente no exercício do direito, enquanto a função 
social interfere no conceito e na estrutura do direito de propriedade. (6) 
 
Mesmo a desapropriação, instituto bastante associado à função social, com ela não se pode baralhar, 
ainda que o descumprimento desta possa implicar a decretação de desapropriação. O que sucede é 
simples relação de causa e efeito. 
 
Como dizem GUSTAVO TEPEDINO e ANDERSON SCHREIBER, a funcionalização da propriedade introduz 
critério de valoração de sua própria titularidade, que passa a exigir atuações positivas de seu titular, a 
fim de adequar-se à tarefa que dele se espera na sociedade. (7) 
 
Aproveitando-se da definição do jus-agrarista argentino ANTONINO C. VIVANCO, citado por TORMINN 
BORGES, o princípio da função social consiste na obrigação condicionante do exercício da propriedade 
a interesses que transcendem a vontade do proprietário, de modo a satisfazer indiretamente as 
necessidades dos demais membros da comunidade. (8) 
 
Enfim, com arrimo em PIETRO PERLINGERI, pode-se dizer que a função social converteu-se em título 
justificativo, verdadeira causa de atribuição dos poderes do titular da propriedade. (9) 
 
3 – BREVE HISTÓRICO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE 
 
É a partir das obras de direito agrário que melhor se remonta o retrospecto da função social da 
propriedade. Nessa linha, percebe-se que a evolução do instituto andou de mãos dadas com o 
desenvolvimento do direito de propriedade. 
 
Com base na obra do ilustre professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás 
BENEDITO FERREIRA MARQUES, (10) as origens do princípio da função social estão em lições de 
ARISTÓTELES, o primeiro a entender que aos bens se deveria dar uma destinação social. 
 
Depois de ARISTÓTELES, a idéia só foi impulsionada por TOMÁS DE AQUINO. O conceito tomista de 
propriedade possuía três planos distintos na ordem de valores. (11) No primeiro deles, o homem teria 
um direito natural ao apossamento de bens materiais, dada sua natureza de animal racional, como 
forma de mantersua própria sobrevivência. No segundo, considerou-se que o homem não poderia 
refletir apenas acerca de sua sobrevivência imediata, como ocorre com os animais irracionais, porque 
deveria pensar também no amanhã, pois, para que fosse verdadeiramente livre, precisaria estar ao 
abrigo das surpresas econômicas. Num terceiro plano, permitir-se-ia o condicionamento da 
propriedade em razão do momento histórico de cada povo, desde que não se chegasse a negá-lo. Ou 
seja, embora a propriedade consistiria num direito natural, o proprietário não poderia abstrair-se do 
dever do zelar pelo "bem comum". (12) 
 
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Em seguida, operaram-se várias fases da evolução do conceito de direito de propriedade, até que o 
Código de Napoleão o fixasse com características quase absolutas, conforme dispunha o já transcrito 
art. 436. E foi com base nessa clássica definição francesa que os códigos civis que se sucederam 
buscaram inspiração, inclusive o brasileiro. 
 
Porém, segundo MARQUES, "foi com Duguit, escorado no pensamento positivista de Comte, que o 
direito de propriedade se despiu do caráter subjetivista que o impregnava, para ceder espaço à idéia 
de que a propriedade era, em si, uma função social." (13) Assim, afirma MARQUES, o grande impulso 
às idéias de subordinação da propriedade a uma finalidade social teve início com a célebre palestra 
proferida por DUGUIT em Buenos Aires no ano de 1911. 
 
Também GUSTAVO TEPEDINO e ANDERSON SCHREIBER creditam a DUGUIT a difusão do termo função 
social da propriedade, o qual teria sido primeiramente estampado na obra Les transformations du droit 
prive depuis le Code Napoléon. (14) Os mesmos autores lembram, mais, da contribuição da doutrina 
italiana. Citando SALVATORE PUGLIATTI e STEFANO RODOTÀ, prosseguem TEPEDINO e SCHREIBER, 
foi na Itália que se soube dar à função social seu melhor sentido, "não como uma categoria oposta ao 
direito subjetivo, mas como um elemento capaz de alterar-lhe a estrutura, inserindo-se em seu profilo 
interno e atuando como critério de valoração do exercício do direito, o qual deverá ser direcionado 
para um massimo sociale." (15) 
 
Dignas de registro, ainda, são as influências das teorias marxistas a apregoar a coletivização da 
propriedade individual. Tampouco se esqueça a importância da Igreja Católica, especialmente as 
encíclicas papais de 1891 (Rerum Novarum, de Leão XIII), de 1931 (Quadragesimo Anno, de Pio XI) e 
de 1962 (Mater et Magistra, de João XXIII). 
 
No Brasil, com apoio em LIMA STEFANINI e FERNANDO PEREIRA SODERO, anota MARQUES que, desde 
a concessão das chamadas sesmarias, já havia preocupação com o cumprimento da função social, pois 
os sesmeiros deveriam cultivar a terra e daí tirar-lhe aproveitamento econômico. Afirma ainda, 
embasado em estudo de ROSALINA RODRIGUES PEREIRA, que também as Ordenações Manoelinas e 
Filipinas já se ocupavam de questões ligadas ao uso do solo e a técnicas agrícolas. 
 
Após a independência, a Constituição de 1824 não se dedicou especificamente ao tema, afirmando o 
direito de propriedade "em toda sua plenitude", ressalvada uma "única" exceção: o uso público 
indenizado do bem, quando legalmente necessário (art. 179, XXII). 
 
Sob o governo republicano da Constituição de 1891, pouco se evoluiu, salvo na parte em que prevista 
a desapropriação por necessidade ou utilidade pública. Outrossim, muito influenciado pelo Código de 
Napoleão, o Código Civil de 1916 não incrementou a função social da propriedade, limitando-se a 
regular genericamente os casos de necessidade e de utilidade pública, para fins de desapropriação 
(art. 590 e §§1º e 2º), e de requisição de bens por autoridade pública (art. 591 e par. único). 
 
A seguir, a função social só ganhou algum espaço na Constituição de 1934, cujo artigo 113, n. 17, 
estabelecia que o direito de propriedade não poderia ser exercido contra o interesse social ou coletivo, 
na forma da lei. 
 
Nenhum desenvolvimento se fez sentir na Constituição de 1937, mas a Constituição de 1946 
condicionou o uso da propriedade ao "bem-estar social" (art. 147), dando então margem a 
regulamentação por meio da Lei 4.132, de 10/09/62, que até hoje cuida dos casos de desapropriação 
por interesse social. Não bastasse, nos trabalhos legislativos que culminaram com a aprovação da 
desapropriação por interesse social na CF/46, a proposta de emenda apresentada pelo Senador 
FERREIRA DE SOUZA já abordava expressamente a questão da função social, como informa MARIA 
SYLVIA ZANELLA DI PIETRO. (16) 
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Então, editado o Estatuto da Terra (Lei 4.504, de 30/11/64), seu artigo 2º expressamente tratou da 
função social do imóvel rural. (17) Daí por diante, a expressão "função social" foi incorporada nas 
Constituições posteriores, (18) até se chegar à atual Constituição de 1988. Nesta, a inspiração mais 
próxima, segundo MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, deve-se à doutrina social da Igreja Católica, 
especialmente às Encíclicas Mater et Magistra, do Papa João XXIII, e Populorum Progressio, do Papa 
João Paulo II, "nas quais se associou a propriedade a uma função social, ou seja, à função de servir 
como instrumento para a criação de bens necessários à subsistência de toda a humanidade." (19) 
 
4 - DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE COMO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL 
 
Não faz parte deste estudo a conceituação do que vem a ser "norma jurídica", tampouco a questão da 
estrutura lógica das chamadas "proposições jurídicas". (20) Porém, sem menosprezar as polêmicas 
doutrinárias acerca do tema, num primeiro esforço de categorização, já se afirma que tanto as regras 
como os princípios serão neste estudo enquadrados na definição lato sensu de normas jurídicas. (21) 
Dessa forma, a classificação das normas jurídicas em sentido estrito, de modo a nestas incluir somente 
as regras e não os princípios, será de todo irrelevante, salvo naquilo que de alguma forma possa 
exprimir censurável tendência de negar aos princípios conteúdo normativo. (22) 
 
De sua vez, entendem-se por regras as disposições (interpretadas) que estabelecem mandatos, 
proibições ou permissões de atuação em situações concretas previstas nelas mesmas. (23) No conceito 
de CANOTILHO, regras "são normas que, verificados determinados pressupostos, exigem, proíbem ou 
permitem algo em termos definitivos, sem qualquer exceção." (24) 
 
Já a conceituação de princípios é mais difícil. Para este estudo, devem ser entendidos como normas 
que proporcionam critérios para tomadas de posições ante situações concretas indeterminadas. (25) 
Na festejada definição de CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO: 
 
Princípio (...) é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, 
disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de 
critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade 
do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. (26) 
 
Tratando já daqueles estampados em textos constitucionais, "os princípios são núcleos de condensação 
nos quais confluem bens e valores constitucionais" (CANTILHO e VITAL MOREIRA); (27) "são 
ordenações que se irradiam e imantam os sistemas de normas" (AFONSO DA SILVA).(28) Assim, a 
normatização e a constitucionalização conferiu aos princípios constitucionais o status hierárquico de 
"normas-chaves" do sistema jurídico (BONAVIDES). (29) 
 
Dito isso, para se saber se a função social, como concebida na CF/88, é princípio ou regra, cabe expor 
alguns critérios para diferenciá-los. Nessa tarefa, a despeito dos clássicos e extratificados critérios de 
distinção apontados por CANOTILHO, (30) é de bom alvitre enunciá-los de forma menos resumida, 
com apoio, principalmente, na obra já mencionada de EROS ROBERTO GRAU. (31) 
 
Assim, tem-se que as regras jurídicas são aplicáveis por completo, ou não se aplicam de modo 
absoluto. Na dicção de DWORKIN, aplicam-se à maneira de um tudo ou nada (an all or nothing), (32) 
não comportando exceções. (33) Presentes os pressupostos fáticos a que se refira, a regra (válida) há 
de ser aplicada. (34) 
 
Já os princípios sequer exigem a indicação das condições necessárias à sua incidência, pois não 
configuram uma decisão concreta a ser necessariamente tomada. Em vez disso, os princípios se 
qualificam como mandamentos de otimização, (35) acenando uma vontade normativa inclinada a certa 
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direção. No dizer de ALEXY, os princípios ordenam algo que deve ser realizado na maior medida 
possível, tendo em conta as possibilidades jurídicas e fáticas. (36) Daí, os princípios não contêm 
mandamentos definitivos, mas somente prima facie. (37) 
 
Dessa maneira, com apoio em BOULAGER, citado por EROS ROBERTO GRAU, pode-se afirmar que os 
princípios, ao contrário das regras, não admitem a própria enunciação das hipóteses nas quais não se 
aplicam, bem como carecem de conteúdo de determinação relativo aos princípios contrapostos e as 
possibilidade fáticas, (38) porquanto "são aptos a serem aplicados a uma série indefinida de 
situações". (39) 
 
Devido a esse alto grau de abstração, demandam os princípios constitucionais medidas 
concretizadoras, o que é feito por meio de outros princípios de maior densidade (40) (subprincípios), 
(41) ou mesmo por regras, até chegar-se, na ponta de final de sua incidência fática, na descoberta da 
"norma de decisão" do caso jurídico-constitucional. (42) Ademais, ainda quando se manifestam as 
condições nele previstas, um princípio não se aplica automaticamente. É que, em determinado caso, 
pode também incidir um princípio diverso, apontado em sentido diverso. Surge então outra diferença 
dos princípios frente às regras jurídicas: como somente uma regra pode incidir em face de uma 
idêntica situação, se duas ou mais regras estão em choque, (43) apenas uma – ou nenhuma – delas 
poderá ser considerada válida à regulação da situação concreta, surgindo daí um problema de 
antinomia jurídica a ser resolvido. (44) Contudo, mais de um princípio pode regular uma mesma 
situação, pois princípios diversos comportam juízo de ponderação relativa, cujo resultado poderá ser a 
prevalência de um em detrimento do outro. Consoante sintetizado por BONAVIDES, com base em 
ALEXY, resolve-se o conflito de regras na dimensão da "validade", enquanto o conflito de princípios é 
resolvido na dimensão do "valor". (45) 
 
Sem embargo, cabe ressaltar não haver antinomia entre princípios e regras. Se as regras servem para 
densificar princípios, o eventual conflito envolve, na verdade, o próprio princípio objeto de 
densificação. Logo, quando um princípio antagônico deva prevalecer, a regra contrastante é 
simplesmente afastada da regulação da situação concreta, acompanhando o próprio princípio 
desprezado. (46) 
 
Por fim, em vigor a Constituição de 1988, encaixa-se perfeitamente no conceito de princípio 
constitucional explícito a exigência de que a propriedade cumpra sua função social (inciso XXIII do art. 
5º). É que a observância da função social da propriedade não se aplica à maneira de um tudo ou nada, 
tampouco se pode, de antemão, indicar todas as condições necessárias à sua incidência. Em vez disso, 
a verificação do cumprimento da função social pode exigir juízos de ponderação em face de outros 
princípios, sendo necessária a "concretização" de seu alto grau de abstração. (47) Essa é a conclusão 
de JOSÉ AFONSO DA SILVA, para quem a norma-princípio contida nesse dispositivo é de aplicabilidade 
imediata. (48) 
 
5 – O PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 
 
Já foi dito que a Constituição de 1988 tratou da exigência de que a propriedade cumpra sua função 
social no inciso XXIII do art. 5º. Mas a Constituição também se referiu à função social na redação 
original do §1º do art. 156 (hoje alterado pela EC n. 29, de 13/09/2000), no inciso III do art. 170, no 
§2º do art. 182, no caput do art. 184, no par. único do art. 185 e no art. 186. Outrossim, o Poder 
Constituinte derivado se valeu da expressão em tela no inciso I do §1º do art. 173, na redação dada 
pela EC n. 19, de 04/06/98. (49) 
 
É bem verdade que EROS ROBERTO GRAU sustenta que a referência à função social contida no inciso 
XXIII do art. 5º não se justificaria. Defende o ilustre mestre, por essa norma estaria garantida a 
propriedade individual, cuja utilização, como instrumento voltado à subsistência individual e familiar, 
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estaria servindo a uma função individual ligada ao princípio da dignidade da pessoa humana, daí por 
que imune à questão da função social. (50) 
 
Porém, não só com base na premissa de que na Constituição não há palavras inúteis, pode-se 
perfeitamente sustentar que toda e qualquer propriedade privada, material ou imaterial, individual ou 
coletiva, urbana ou rural, móvel ou imóvel, deve atender à função social. (51) De efeito, o princípio 
atua de forma diferente em relação a cada tipo de propriedade, conforme a destinação reservada aos 
respectivos bens. (52) Via de regra, é a lei que dispõe sobre como a função social estará sendo 
cumprida, caso a caso. (53) Nesse pensar, o que pode ocorrer é que a destinação individual do bem 
satisfaça à função que socialmente dele se espera. (54) Ou seja, cumprindo com sua função individual, 
o exercício do direito de propriedade poderá estar também obedecendo à função social, mas isso não 
significa que a propriedade destinada à subsistência individual esteja de antemão imune à função 
social. Tanto não está que o próprio EROS ROBERTO GRAU tratou de estabelecer exceção a esse 
raciocínio, dizendo que a propriedade individual pode exceder sua função meramente individual quando 
"detida para fins de especulação ou acumulada sem destinação ao uso a que se volta." (55) 
 
É evidente, contudo, que na Constituição não houve maior preocupação com a concretização das 
normas que dispõem acerca do princípio da função social da propriedade, salvo em relação aos imóveis 
rurais e, com menor intensidade, em face dos imóveis urbanos. Em razão disso, há quem sustente que 
as medidas voltadas contra o descumprimento da função social "só podem ter por objeto terras 
particulares, sejam urbanas ou rurais." (56) Porém, consoante exposto, cada tipo de propriedade 
sujeita-se a determinados modos de cumprimento da função social. De fato, a razão do tratamento 
mais exaustivo do tema da função social em relação aos imóveis rurais está no maior esforço de 
regulamentação dos parlamentares ruralistas. Mas isso,nem de longe, pode excluir a incidência do 
princípio a respeito dos demais tipos de propriedade. (57) Confirma-se esse raciocínio quando se sabe 
que o conceito de propriedade é mais amplo que o de domínio, pois abrange também os bens 
imateriais. 
 
Enfim, não se pautando o exercício da propriedade dentro dos pressupostos da função social, sujeita-
se o proprietário à expropriação de seu direito, seja qual for a modalidade de propriedade. E contra 
isso não se pode alegar que a Constituição só se referiu ao descumprimento da função social, como 
causa deflagradora de desapropriação, naquela movida por interesse social para fins de reforma 
agrária (art. 184). Com efeito, essa assertiva apenas enuncia que o cumprimento da função social 
integra o conceito de interesse social para fins de desapropriação. Não se pode negar, porém, que o 
atual diploma legal que regula a desapropriação por interesse social (Lei 4.132, de 10/09/62) não 
contemplou expressamente a hipótese de inobservância da função social. Isso se explica, como visto, 
porque a expressão "função social" só veio a ser cunhada posteriormente, pelo Estatuto da Terra. Mas 
a própria enunciação dos casos considerados de interesse social faz crer a presença "latente" do 
princípio da função social em muitos dos incisos do art. 2º da Lei 4.132/62. Logo, à luz do art. 184 da 
CF, evidencia-se que o legislador poderá encaixar, na regulamentação dos casos de desapropriação 
para fins de interesse social, regras atinentes à expropriação decorrente do eventual desatendimento 
do princípio constitucional da função social da propriedade, seja esta de que tipo for. E nisso reside a 
razão da relativização da garantia à propriedade no inciso XXIII do art. 5º, em regra que se repete no 
inciso III do art. 170 e no §2º do art. 182 da CF/88. 
 
Todavia, mesmo que facultado à lei incluir hipóteses de descumprimento da função social aos casos de 
desapropriação por interesse social, salvo as exceções expressamente previstas na Constituição, o 
pagamento deverá ser feito prévia e integralmente em dinheiro (inciso XXIV do art. 5º). 
 
Dessarte, os conceitos civilísticos de propriedade, com a normatização constitucional do princípio da 
função social, sofreram profundas transformações. Ao tratamento civil do direito de propriedade hoje 
em vigor aplicam-se direcionamentos de direito público voltados à caracterização da função social, 
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motivo pelo qual, empolgado com a CF/88, JOSÉ AFONSO DA SILVA afirmou que "o Código Civil não 
disciplina a propriedade, mas tão-somente as relações civis a ela referentes". (58) 
 
Porém, ao contrário do que pretendem alguns, a propriedade não se confunde com sua função social, 
como bem analisou o ilustre professor BENEDITO FERREIRA MARQUES. Ainda que a função social faça 
parte da estrutura do direito de propriedade, servindo como título jurídico de atribuição plena das 
faculdades que lhe são inerentes, não se pode sustentar que sua eventual inobservância subtraia todos 
os direitos do proprietário inadimplente. Isso seria chancelar exagero que daria margem até para 
justificar a expropriação sem o pagamento de indenização. É que a Constituição não baniu o direito de 
propriedade; apenas impôs a seu exercício o dever de cumprimento da função social. (59) 
 
Vale dizer: ainda que caiba à lei regular como a função social estará sendo cumprida, a não-satisfação 
da princípio só haverá de acarretar as conseqüências estabelecidas na própria Constituição. 
 
E tais conseqüências podem ser: (a) o parcelamento ou edificação compulsórios dos imóveis urbanos 
(inciso I do §4º do art. 182 (60)); (b) o aumento progressivo da carga tributária incidente sobre os 
imóveis urbanos (§1º do art. 156, na redação que lhe deu a EC n. 29/2000, c/c inciso II do §4º do art. 
182 (61)) e rurais (art. 153, §4º); (c) a desapropriação-sanção de imóveis urbanos, com pagamento 
integral mediante títulos da dívida pública (inciso III do §4º do art. 182 (62)); (d) a desapropriação-
sanção de imóveis rurais, com o pagamento em dinheiro das benfeitorias úteis e necessárias (§1º do 
art. 184) e o restante em títulos da dívida agrária (art. 184, caput); (e) a desapropriação-sanção, sem 
indenização, no caso das glebas onde forem encontradas culturas ilegais de plantas psicotrópicas (art. 
243 (63)), e; (f) a desapropriação comum, prévia e integralmente indenizada em dinheiro, por motivo 
de interesse social, nas situações a serem estabelecidas por lei ordinária (inciso XXIV do art. 5º). 
 
Fora dessas hipóteses, porém, remanesce a garantia da propriedade, inclusive a de reivindicá-la das 
mãos de terceiros que injustamente a detenham. 
 
Por derradeiro, consoante afirma JOSÉ AFONSO DA SILVA, "é certo que o princípio da função social 
não autoriza a suprimir, por via legislativa, a instituição da propriedade." (64) Essa assertiva serve 
para delimitar o núcleo essencial do direito fundamental de propriedade, daí por que, ao disciplinar os 
requisitos de cumprimento da função social, não poderá o legislador desviar-se de sua finalidade 
normativa, erigindo deveres desarrazoados ou que tornem impraticável o exercício do direito de 
propriedade. (65) Incidiria aí o princípio da proporcionalidade, em repressão ao excesso do poder de 
legislar, pois a função social deve se resumir a algo atingível, até porque, especialmente em se 
tratando de imóveis rurais, a exigência de padrões de produtividade demasiado altos pode acarretar o 
esgotamento dos recursos naturais da terra, o que também iria de encontro à função social. 
 
6 – DO PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL INSERIDO NA ORDEM ECONÔMICA 
 
Analisando o texto das Constituições anteriores que expressamente consignaram a função social da 
propriedade, percebe-se, em todas elas, que a inclusão do princípio se deu no capítulo destinado à 
ordem econômica (cf. art. 157, III, da CF/67 e art. 160, III, da CF/69). De outro turno, ainda que a 
Carta de 1988 tenha feito o mesmo, inovou o Constituinte consagrando o princípio, em relativização ao 
próprio direito individual de propriedade, no capítulo destinado aos direitos fundamentais (inciso XXIII 
do artigo 5º). Ademais, a propriedade privada foi incluída em inciso autônomo, entre os princípios da 
ordem econômica (inciso II do art. 170), antes mesmo da enunciação do princípio da função social da 
propriedade (inciso III do mesmo artigo). 
 
Por conseguinte, pela nova Constituição, a função social não interessa apenas à ordem econômica, 
mas serve de princípio norteador também do direito individual de propriedade. Outrossim, inserido no 
capítulo da ordem econômica, o conceito de propriedade privada foi ainda mais "relativizado", (66) em 
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comparação com aquele das Cartas anteriores, pois passou a se submeter ao juízo de ponderação 
decorrente da aplicação de todos os outros princípios integrantes da ordem econômica. 
 
 
7 – PECULIARIDADES DO PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE RURAL 
 
Em relação aos imóveis rurais, aplica-se tudo o que se disse acerca da função social, especialmente em 
relação à transformação do regime privatístico de propriedade. Contudo, há certas peculiaridades 
anotadas especialmente por jus-agraristas. 
 
Primeiramente, cabe dizer que a expressão "funçãosocial da propriedade rural" é muito criticada pelos 
estudiosos do direito agrário. Defendem eles que a expressão utilizada pelo Constituinte não satisfaz 
plenamente as preocupações com a total dimensão do problema agrário, o qual não se resume só à 
questão da propriedade, pois engloba também a função social da posse e dos contratos agrários. Daí, 
sustenta-se a predileção pela expressão genérica "função social da terra" (67) ou "função social do 
imóvel rural", (68) de que seriam espécies a "função social da posse agrária" e a "função social dos 
contratos agrários". 
 
Porém, dadas as finalidades deste estudo, que exorbitam o campo da função social do imóvel rural, 
com a vênia dos jus-agraristas, tem-se por escusável a utilização da consagrada expressão "função 
social da propriedade". 
 
Na esteira da repercussão do princípio da função social em face do novo regime da posse agrária, 
ensina outro ilustre professor GETÚLIO TARGINO LIMA, da Faculdade de Direito da Universidade 
Federal de Goiás, em obra já mencionada, a posse de imóvel rural não mais pode ser encarada como 
simples exercício de um dos poderes inerentes ao domínio, mas sim como um comportamento em 
relação à coisa que tenha por pressuposto o cumprimento da função social. 
 
Essa nova concepção de posse agrária vem contaminando a jurisprudência dos tribunais estaduais, não 
sendo raro encontrar assentado em acórdãos que "não se concebe mais a posse como mera emanação 
do domínio. O poder fático sobre a coisa (posse), a partir do regramento constitucional, se caracteriza 
pelo uso econômico do bem". (69) 
 
Ressalte-se, porém, não serve esse raciocínio de incentivo a invasões de terra praticadas a pretexto de 
fazer cumprir a função social. Conforme jurisprudência do TJRS, citando acórdão do TAMG, não 
constitui "o principio constitucional da função social da propriedade justificativa de invasão, a permitir 
a realização de justiça pelas próprias mãos." (70) 
 
Assentado tudo isso, já se pode dizer alguma coisa sobre as regras que dão densidade ao princípio da 
função social do imóvel rural. Essas considerações, contudo, serão feitas de maneira perfunctória, dado 
o recorte temático do trabalho. 
 
Pois bem. Como antes mencionado, não houve maior preocupação da Constituição com a concretização 
das normas que dispõem acerca do princípio da função social da propriedade, salvo em relação aos 
imóveis rurais e, com menor intensidade, em face dos imóveis urbanos. 
 
Enfocando os imóveis urbanos, o tratamento um pouco mais específico que a Constituição lhes 
reservou não impediu fosse o tema tratado com alto grau de abstração. Dispõe o art. 182, §2º, da 
CF/88, que a "propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências 
fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor." (CF, art. 182, §2º). Desse modo, 
restou ao legislador municipal ampla margem de poder para dizer como será cumprida a função social. 
A lei do plano diretor tratará do assunto. Mas a Constituição também cuida da edição de leis municipais 
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específicas (no §4º do mesmo artigo) que poderão regulamentar exigências menos genéricas - se 
comparadas às previsões do plano diretor - , nos termos definidos na recente Lei 10.257, de 
11/07/2001, (71) sob pena de serem aplicadas as sanções previstas nos incisos I a IV do mesmo 
parágrafo 4º do art. 182 da CF/88. 
 
No tocante aos imóveis rurais, entretanto, a Constituição foi menos generosa para com o legislador. De 
início, percebe-se que só a União Federal possui competência material para promover a desapropriação 
por descumprimento da função social do imóvel rural (caput do art. 184), bem como para legislar 
sobre os requisitos a serem atendidos (caput do art. 186). E dessas restrições, com base na teoria dos 
poderes implícitos, (72) pode-se extrair outra: só a União detém atribuição para fiscalizar e controlar a 
observância da função social do imóvel rural. 
 
Conforme consta do artigo 2º da Lei 8.629, de 25/02/93, a atribuição para ingressar no imóvel rural, 
em nome da União, para fins de levantamento de dados, é realizada por intermédio de "órgão federal 
competente" (§2º do art. 2º), (73) tarefa essa que vem sendo observada por uma autarquia federal, 
no caso, o INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Nada indica, porém, essa 
competência de controle tenha sido dada com exclusividade à União, motivo pelo qual se afigura válida 
a possibilidade de delegação a Estados-membros, Distrito Federal ou a municípios. (74) 
 
Volvendo à Constituição, percebe-se que o art. 185 estabelece zona de imunidade à desapropriação 
por interesse social para fins de reforma agrária, mesmo que a função social não esteja sendo 
observada, em relação: (a) à pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu 
proprietário não possua outra; e (b) à propriedade produtiva. 
 
Nesse prumo, a conceituação de pequena e média propriedade rural só veio a ser estabelecida com o 
art. 4º da Lei 8.629/93, pelo qual ficou assentado que pequena propriedade é aquela com área 
compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais (75) e média propriedade é o imóvel rural 
(76) de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais. 
 
Critica-se a dimensão dessa imunidade expropriatória em relação à grande propriedade produtiva, 
dizendo que a produtividade é apenas um dos elementos da função social, motivo pelo qual não basta 
ser produtivo o imóvel rural para que seja considerado cumpridor do princípio. (77) Contudo, defende 
CELSO RIBEIRO BASTOS a opção da Constituição, afirmando que parcelar "a propriedade produtiva é 
prenúncio quase certo de diminuição da produção com conseqüente degradação dos níveis sociais já 
atingidos." (78) Desse modo, mesmo que sem o aplauso de toda doutrina pátria, o fato é que essa 
imunidade expropriatória da terra produtiva foi expressamente consagrada pela Constituição, que 
previu ainda a edição de lei que garanta tratamento especial ao imóvel rural produtivo, fixando normas 
para o cumprimento dos requisitos da função social (par. único do art. 185). 
 
Neste ponto, cabem breves digressões em torno dos pressupostos a serem observados no atendimento 
da função social do imóvel rural. A começar das regras enumeradas pelo art. 186 da Constituição, o 
imóvel rústico deverá simultaneamente satisfazer os seguintes requisitos: (a) aproveitamento racional 
e adequado; (b) utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio 
ambiente; (c) observância das disposições que regulam as relações de trabalho; (d) exploração que 
favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. 
 
De conseguinte, fala-se que o preenchimento da função social do imóvel rural exige a presença 
simultânea de requisitos espalhados em três óticas: (79) (a) econômica, ligada à "produtividade" do 
imóvel rural, ou seja, seu aproveitamento racional e adequado; (b) social, abraçando as disposições 
que regulam as relações de trabalho e as que contemplam o bem-estar dos que exploram a terra 
(incluídos aí não só os proprietários e trabalhadores, mas os que detém a posse direta do imóvel); (c) 
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ecológica, relacionada com a preservação do meio ambiente,concebido como direito fundamental de 
terceira geração, garantido-o à presente e futuras gerações. (80) 
 
Por óbvio, a Constituição, no caput do art. 186, previu que esses requisitos fossem fixados por lei, de 
modo a atender às peculiaridades da região onde se situa cada imóvel rural. E essa tarefa foi confiada 
à Lei 8.629/93. 
 
Em linhas gerais, o esquema legislativo de fixação dos critérios de cumprimento da função social do 
imóvel rural, conforme estabelecidos pela Lei 8.629/93, atualmente alterada pela MP 1.577, de 
11/06/97, e reedições (atualmente, MP 2.183-56, de 24/08/2001), pode assim ser resumido. 
 
O reconhecimento da produtividade da gleba exige sejam atingidos, cumulativamente, nos termos do 
art. 6º da Lei 8.629/93: (a) um percentual mínimo de 80% do grau de utilização da terra (GUT), e; (b) 
um percentual igual ou superior a 100% do grau de eficiência da exploração econômica (GEE). 
 
O cálculo do índice do GUT considera a área efetivamente utilizada do imóvel, em cotejo com a área 
potencialmente utilizável, excluídas, desse último conceito, por força do art. 10 da Lei 8.629/93, as 
áreas ocupadas por construções e instalações, excetuadas aquelas destinadas a fins produtivos, como 
estufas, viveiros, sementeiros, tanques de reprodução e criação de peixes e outros semelhantes; as 
áreas comprovadamente imprestáveis para qualquer tipo de exploração agrícola, pecuária, florestal ou 
extrativa vegetal; as áreas sob efetiva exploração mineral; as áreas de efetiva preservação 
permanente e demais áreas protegidas por legislação relativa à conservação dos recursos naturais e à 
preservação do meio ambiente. 
 
De sua vez, o GEE é obtido por meio da aplicação de sistemática de cálculo que leva em consideração 
a destinação econômica da gleba em face de índices de rendimento considerados medianos, de acordo 
com a região onde se localiza o imóvel. Assim, determina o art. 6º, §2º, da Lei 8.629/93, que, para os 
produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos respectivos índices de 
rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião 
Homogênea (inciso I); para a exploração pecuária, divide-se o número total de Unidades Animais (UA) 
do rebanho, pelo índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada 
Microrregião Homogênea (inciso II). Então, a soma dos resultados obtidos na forma anterior é dividida 
pela área efetivamente utilizada e multiplicada por 100 (cem), determinando-se assim o grau de 
eficiência na exploração (GEE) do imóvel rural. Dessa forma, um imóvel com níveis de exploração 
econômica mais eficientes que aqueles relativos à média exigida pelos órgãos oficiais poderá obter um 
percentual superior a 100% de GEE. 
 
Nada obstante, não há registro de que o Poder Público venha respeitando a regra do art. 11 da Lei 
8.629/93, que mesmo antes da alteração determinada pela MP 1.577/97, já exigia que, na fixação dos 
parâmetros, índices e indicadores que informam o conceito de produtividade fosse ouvido também o 
Conselho Nacional de Política Agrícola. 
 
De outro turno, mostra-se razoável a Lei 8.629/93, ao não retirar a qualificação de propriedade 
produtiva do imóvel que, por razões de força maior, caso fortuito ou de renovação de pastagens 
tecnicamente conduzida, devidamente comprovados pelo órgão competente, deixar de apresentar, no 
ano respectivo, os graus de eficiência na exploração, exigidos para a espécie (art. 6º, §7º). Assim, os 
danos à produtividade decorrentes de esbulho da área podem ser considerados albergados por essa 
norma legal, como já reconheceu o STF. (81) 
 
Pela ótica social, considera a lei que a terra, mesmo produtiva, poderá estar desatendendo à função 
social se quem a explora o faz com desrespeito às leis trabalhistas, às disposições dos contratos 
agrários, bem como se não forem observadas as normas de segurança do trabalho ou provoca conflitos 
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e tensões sociais no imóvel (§§4º e 5º do art. 9º da Lei 8.629/93). Aqui, portanto, é importante 
identificar o agente provocador do conflito social, pois com ele a lei não se compadece. Daí por que se 
afiguram materialmente corretas as disposições contidas na atual MP 2.183-56/2001, que inseriram os 
§§6º a 8º na redação do art. 2º da Lei 8.629/93. (82) 
 
O último dos requisitos - mas nem por isso menos importante - a ser brevemente analisado diz 
respeito à utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente. 
 
De efeito, considera-se adequada a utilização dos recursos naturais disponíveis quando a exploração se 
faz respeitando a vocação natural da terra, de modo a manter o potencial produtivo da propriedade 
(§2º do art. 9º da Lei 8.629/93). E por preservação do meio ambiente deseja a lei a manutenção das 
características próprias do meio natural e da qualidade dos recursos ambientais, na medida adequada 
à manutenção do equilíbrio ecológico da propriedade e da saúde e qualidade de vida das comunidades 
vizinhas (§3º do art. 9º da Lei 8.629/93). (83) 
 
Neste ponto, percebe-se a necessidade de ponderar os aspectos relativos ao aproveitamento racional e 
adequado do imóvel rural (ótica econômica) em face daqueles referentes à adequada utilização dos 
recursos naturais e a preservação do meio ambiente (ótica ecológica). Assim, na fixação dos requisitos 
da função social do imóvel rural, a lei há de observar uma razoabilidade interna (84) que permita a 
eleição de critérios adequados tanto sob a ótica econômica quanto ecológica, daí o motivo de a 
Constituição mencionar, em ambos os casos, a questão da adequabilidade (cf. os incisos I e II do art. 
186). Dessarte, a fixação do GUT e o GEE não pode perder de rumo a vedação à exploração econômica 
depredatória. É preciso saber se os parâmetros de produtividade que vêm sendo fixados pelos órgãos 
do Executivo não estão trabalhando com padrões por demais genéricos, ou que não levem em 
consideração certas peculiaridades ligadas à localização dos imóveis rurais. 
 
Essa importante questão, aliás, sujeita-se ao controle judicial não só para verificar se o "núcleo 
essencial" do direito de propriedade está sendo preservado, diante de eventuais imposições 
concretamente inatingíveis, mas principalmente para que não se exijam graus de exploração 
econômica mais elevados que a própria capacidade de regeneração natural do imóvel rural. 
 
8 – DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE IMÓVEL E O NOVO CÓDIGO CIVIL 
 
Por tudo que foi dito, considerando que a lei há de ser interpretada sob a ótica constitucional da qual 
retira validade, é justificado fazer-se uma releitura das normas infraconstitucionais acerca da 
propriedade à luz do princípio da função social. E não há por que excluir desse tratamento 
hermenêutico sequer antigos institutos de direito privado, cujas origens remontam o tempo do direito 
romano. Aqueles recepcionados pela Constituição passam a valer ungidos pela função social que 
condiciona o exercício da titularidade da propriedade. Nas palavras de ARAÚJO SÁ: 
A função social, portanto, na concepção dos estudiosos mais acatados, incide no conteúdo do direito de 
propriedade, impondo-lhe novo conceito. A constituição posiciona a propriedade privada como princípio 
da ordem econômica, submetendo-a aos ditames da justiça social. É dizer que se legitima a 
propriedade enquanto cumpre sua função social. É importante destacar que a disciplina constitucional 
deve orientar a compreensão das normas de direito privado sobre o direito de propriedade, e não o 
contrário, como costuma ocorrer

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