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Conflito de Competência em Ação de União Estável

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E M E N T A
 
Órgão : 2ª CÂMARA CÍVEL
Classe : CONFLITO DE COMPETÊNCIA
N. Processo : 20140020175530CCP
(0017682-11.2014.8.07.0000)
Suscitante(s) : JUÍZO DA 2ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA
DO DISTRITO FEDERAL
Suscitado(s) : JUÍZO DA 2ª VARA DE FAMÍLIA E DE
ÓRFÃOS E SUCESSÕES DE TAGUATINGA -
DF
Relator : Desembargador MARIO-ZAM BELMIRO
Acórdão N. : 829562
D I R E I T O P R O C E S S U A L C I V I L . C O N F L I T O D E
COMPETÊNCIA. AÇÃO DE DECLARAÇÃO DE UNIÃO
E S T Á V E L . C O M P R O V A Ç Ã O D E D E P E N D Ê N C I A
ECONÔMICA. INCLUSÃO EM PLANO DE SAÚDE. VARA DE
FAMÍLIA. COMPETÊNCIA ABSOLUTA.
1. Em se tratando de matéria referente a união estável, a
competência é da Vara de Família, a teor do disposto no art. 9º
da Lei nº 9.278/2006 e art. 27, I, "e" da Lei nº 11.697/2008.
2. Considerando que a ação tem por escopo a declaração de
união estável, e não, de reconhecimento do vínculo de
dependência econômica, a matéria é de competência absoluta
das Varas de Família, independentemente da finalidade para
que será utilizada.
3. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo
suscitado.
Poder Judiciário da União
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios
Fls. _____
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GABINETE DO DESEMBARGADOR MARIO-ZAM BELMIRO 1
 
A C Ó R D Ã O
Acordam os Senhores Desembargadores da 2ª CÂMARA CÍVEL
do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, MARIO-ZAM BELMIRO -
Relator, LEILA ARLANCH - 1º Vogal, ROMULO DE ARAUJO MENDES - 2º Vogal,
HECTOR VALVERDE - 3º Vogal, JAIR SOARES - 4º Vogal, VERA ANDRIGHI - 5º
Vogal, SÉRGIO ROCHA - 6º Vogal, ARNOLDO CAMANHO - 7º Vogal, sob a
presidência do Senhor Desembargador J.J. COSTA CARVALHO, em proferir a
seguinte decisão: CONFLITO CONHECIDO. JULGOU-SE PROCEDENTE.
DECLAROU-SE COMPETENTE O DOUTO JUÍZO SUSCITADO. UNÂNIME, de
acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasilia(DF), 20 de Outubro de 2014.
Documento Assinado Eletronicamente
MARIO-ZAM BELMIRO
Relator
Fls. _____
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O Juízo suscitante alega que o Juízo suscitado declinou da
competência para uma das Varas de Fazenda Pública do DF sob o fundamento de
que "a competência se define pela natureza jurídica da entidade perante a qual se
pretende comprovar os fatos ou a relação jurídica".
Esclarece que os autores já declararam, por meio de escritura
pública, sua convivência sob o regime de união estável, ingressando em Juízo com
vistas ao reconhecimento judicial dessa união, por ser uma exigência da Polícia
Militar do Distrito Federal para inclusão da segunda autora como dependente junto
ao plano de saúde.
Assim, entende que o caso dos autos não se refere à declaração do
vínculo de dependência econômica, mas sim de existência de união estável, matéria
de competência específica atribuída às Varas de Família, nos termos do art. 9º da
Lei nº 9.278/2006 e do art. 27, I "e" da Lei nº 11.697/2008.
Mediante a decisão de fl. 38 designei o douto Juízo suscitante para a
apreciação de eventuais medidas urgentes.
O douto Juízo suscitado prestou as informações (fl. 42).
Manifestação da douta Procuradoria de Justiça pela declaração de
competência do Juízo suscitado (fls. 109/114).
É o relatório.
R E L A T Ó R I O
Cuida-se de conflito de competência negativo estabelecido entre o
Juízo da 2ª Vara de Fazenda Pública do Distrito Federal, suscitante, e suscitado o
Juízo da 2ª Vara de Família e de Órfãos e Sucessões de Taguatinga-DF.
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Afirma o Juízo suscitante que o caso dos autos não se refere à
declaração do vínculo de dependência econômica, mas sim de existência de união
estável, matéria de competência específica atribuída às Varas de Família, nos
termos do art. 9º da Lei nº 9.278/2006 e do art. 27, I "e" da Lei nº 11.697/2008.
Por sua vez, o Juízo suscitado declinou da competência para uma
das Varas de Fazenda Pública do DF sob o fundamento de que "a competência se
define pela natureza jurídica da entidade perante a qual se pretende comprovar os
fatos ou a relação jurídica".
As regras processuais de competência, é consabido, são
estabelecidas segundo determinados critérios, os quais ensejam a competência
absoluta ou a relativa.
A esse respeito, confira-se a doutrina de Luiz Rodrigues Wambier:
 
Na necessidade de diferenciação entre a competência absoluta
e relativa, que decorre do tipo de critério de que se valeu o
legislador para criar aquela determinada regra de competência,
é que reside a importância do estudo desses critérios. Isto
porque, uma vez infringidas as regras de competência
absoluta, está-se diante de um vício insanável, consistente,
segundo alguns, numa nulidade absoluta, a respeito da qual
não se opera a preclusão, nem para as partes, nem para o juiz
devendo este, de ofício, decretar este vício. [in Curso Avançado
de Processo Civil. Ed. RT, vol. I, p. 95]
 
Segundo a norma inserta no art. 9º da Lei nº 9.278/2006, toda a
matéria relativa à união estável é de competência da Vara de Família. A referida
regra é reproduzida no art. 27, I, "e" da Lei de Organização Judiciária do Distrito
Federal, que determina a competência da Vara de Família para processar e julgar as
ações decorrentes do art. 226 da Constituição Federal.
V O T O S
O Senhor Desembargador MARIO-ZAM BELMIRO - Relator
A questão controvertida reside em apurar o Juízo competente para
processar e julgar o feito, consistente em ação declaratória de união estável.
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Trata-se de regra de competência absoluta, em razão da matéria,
insuscetível de modificação ou prorrogação.
De fato, a competência para processar e julgar as causas em que se
pretende declarar o vínculo de dependência econômica para fins de registro junto à
Polícia Militar é do Juízo Fazendário, uma vez que o Distrito Federal suportará os
ônus daí decorrentes.
Contudo, o caso dos autos não se refere à declaração do vínculo de
dependência econômica, mas sim à declaração de existência de união estável, não
sendo o Distrito Federal sequer parte integrante da lide. Desse modo, a declaração
de união estável, independentemente da finalidade para que será utilizada, é matéria
de competência absoluta das Varas de Família.
Assim, a despeito da pretensão das partes de obterem o
reconhecimento da união estável, a inclusão da segunda autora como beneficiária
do plano de saúde do primeiro não altera a competência do Juízo de Família.
A respeito do tema, confira-se o seguinte precedente jurisprudencial:
 
 
P R O C E S S O C I V I L . C O N F L I T O N E G A T I V O D E
COMPETÊNCIA. PROCEDIMENTO DE JURISDIÇÃO
VOLUNTÁRIA . PEDIDO DE HOMOLOGAÇÃO DE
ESCRITURA PÚBLICA DE DECLARAÇÃO DE UNIÃO
ESTÁVEL. VARA DE FAMÍLIA E VARA DE FAZENDA
PÚBLICA. ART. 9º DA LEI 9.278/96. ART 27 DA LEI DE
ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO
SUSCITADO.
1. O conflito consiste em definir qual o juízo competente para
processar, em procedimento de jurisdição voluntária, pedido de
homologação de escritura de união estável, para fins de
inclusão da companheira como dependente no plano de saúde
da Polícia Militar do Distrito Federal.
2. A declaração de união estável, independentemente da
finalidade para que será utilizada, é matéria de competência
absoluta das Varas de Família, pois o artigo 9º, da Lei
9.278/96, "Toda matéria relativa à união estável é de
competência do juízo da Vara de Família, assegurado o
segredo de justiça".
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3. A inclusão da companheira em plano de saúde é apenas um
reflexo ou conseqüência jurídica do reconhecimento da união
estável, sendo certo que o que as partes pretendem fazer após
a declaração judicial não será objeto de discussão neste feito.
4. Precedente da Casa: "1)- A competência para processar e
julgar feitos relativos à declaração de união estável, qualquer
que seja seu objetivo, é das varas de família, nos termos do
artigo 9º da Lei 9278/96. 2)- Limitando-se as partes a pleitear o
reconhecimento da união estável, é indiferente ao juízo de
famí l i a qua i s as conseqüênc ias adv indas des te
reconhecimento, que se limitará a decidir sobre a existência ou
não da união. 3)- Recurso conhecido e improvido".
(20120020068584AGI, Relator: Luciano Moreira Vasconcellos,
5ª Turma Cível, DJE: 08/06/2012).
5. Conflito conhecido para declarar competente para processar
e julgar o feito o juízo suscitado. (Acórdão n.789979,
20140020056919CCP, Relator: JOÃO EGMONT, 1ª Câmara
Cível, Data de Julgamento: 12/05/2014, Publicado no DJE:
20/05/2014. Pág.: 63)
 
 
Outro não foi o entendimento externado pela douta Procuradora de
Justiça, Dra. Tânia Maria Nava Marchewka, cujos fundamentos peço vênia para
adotar como razões de decidir (fls. 109/114):
 
Assiste razão ao juízo suscitante, porquanto a matéria da lide
não está abrangida nos limites de competência da Vara da
Fazenda Pública, mas trata-se de assunto contido no âmbito de
atuação do juízo suscitado, devendo o caso ser apreciado pela
Vara de Família.
O ponto controvertido refere-se às consequências que o
reconhecimento de união estável poderia gerar, produzindo
efeitos financeiros em relação ao Distrito Federal, o que no
entendimento do juízo suscitado ensejaria a competência de
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uma da Varas de Fazenda Pública.
Trata-se de questão meramente de direito, vez em que está
expressamente definido em lei que a competência para
apreciar matéria relativa à união estável é do juízo da Vara de
Família, conforme se extrai do artigo 9º, da Lei nº 9.278, que
regulamenta o § 3º do art. 226 da Constituição Federal. Veja-
se:
Art. 9º Toda a matéria relativa à união estável é de
competência do juízo da Vara de Família, assegurado o
segredo de justiça.
Também o art. 27, I, "e", da Lei de organização judiciária do
Distrito Federal determina a competência da vara de família
para processar e julgar questões atinentes à união estável:
(...)
Impende ressaltar, mais uma vez, que a competência fixada em
razão da matéria é absoluta, não podendo ser modificada ou
prorrogada...
Portanto, o retorno dos autos ao juízo de origem, 2ª Vara de
Família e de Órfãos e Sucessões de Taguatinga, é medida que
se impõe, em virtude de sua competência absoluta, definida por
lei, para processar e julgar a ação.
 
 
Por tais fundamentos, julgo procedente o conflito para declarar
competente o Juízo suscitado, seja, 2ª Vara de Família e de Órfãos e Sucessões de
Taguatinga-DF.
É o meu voto.
 
 
 
A Senhora Desembargadora LEILA ARLANCH - Vogal
De acordo
O Senhor Desembargador ROMULO DE ARAUJO MENDES - Vogal
De acordo
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O Senhor Desembargador HECTOR VALVERDE - Vogal
De acordo
O Senhor Desembargador JAIR SOARES - Vogal
De acordo
A Senhora Desembargadora VERA ANDRIGHI - Vogal
De acordo
O Senhor Desembargador SÉRGIO ROCHA - Vogal
De acordo
O Senhor Desembargador ARNOLDO CAMANHO - Vogal
De acordo
 D E C I S Ã O
Conflito conhecido. Julgou-se procedente. Declarou-se competente
o douto juízo suscitado. Unânime
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