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Capítulo II. DA APELAÇÃO ROGERIO LICASTRO TORRES DE MELLO Doutor e Mestre em direito processual civil pela PUC-SP. Professor de direito processual civil e prática processual civil da FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado. Professor do curso de pós- graduação lato sensu em direito processual civil da COGEAE – PUC/SP. Professor de direito processual civil da Escola Superior de Advocacia da OAB/SP. Conselheiro de Prerrogativas da OAB/SP. Advogado. CPC/1973 CPC/2015 Art. 513. Da sentença caberá apelação (arts. 267 e 269). Art. 1.009. Da sentença cabe apelação. § 1.º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não ficam cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões. § 2.º Se as questões referidas no § 1.º forem suscitadas em contrarrazões, o recorrente será intimado para, em 15 (quinze) dias, manifestar-se a respeito delas. § 3.º O disposto no caput deste artigo aplica-se mesmo quando as questões mencionadas no art. 1.015 integrarem capítulo da sentença. 1. Conceito. A apelação é o recurso adequado à impugnação das sentenças, as quais, conforme dispõe o § 1.º do art. 203 do CPC/2015, consistem no “pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução”. Por intermédio do recurso de apelação, busca-se ou a reforma da sentença apelada quanto ao mérito da causa (error in judicando), ou sua anulação em virtude de vícios processuais (error in procedendo). 2. Ampliação de escopo da apelação em virtude da extinção da regra da recorribilidade em separado das decisões interlocutórias. O CPC/2015 contém relevante modificação relativamente ao sistema de recorribilidade das decisões interlocutórias, o que culmina por afetar a amplitude do recurso de apelação, alargando-a. Com efeito, ao contrário do que sucede no CPC/1973, as decisões interlocutórias não serão, em regra, passíveis de recurso de agravo (no CPC/2015, agravo de instrumento): serão objeto de impugnação ou no bojo da apelação, em capítulo preliminar próprio, ou nas contrarrazões. O CPC/2015, portanto, torna absolutamente excepcionais as hipóteses de interposição de recurso em separado (agravo de instrumento) em face de decisões interlocutórias, determinando que sua impugnação se dê, em regra, no recurso de apelação ou nas contrarrazões a este apresentadas, o que fica claro diante do texto do § 1.º do art. 1.009 em análise: “As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não ficam cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões”. Sendo suscitadas em contrarrazões, o recorrente será intimada para, em quinze dias, manifestar-se a respeito delas. As decisões interlocutórias que gerem prejuízo à parte, portanto, estarão preclusas apenas se não impugnadas na apelação ou nas contrarrazões a esta apresentadas, ressalvadas as hipóteses de cabimento do agravo de instrumento (CPC/2015, art. 1.015 e ss.). 3. Impugnação da decisão interlocutória nas contrarrazões. Questão interessante diz respeito à natureza jurídica das contrarrazões como o advento do § 1.º do art. 1.009 do CPC/2015. Tradicionalmente, as contrarrazões foram destinadas apenas à manifestação de resistência do recorrido relativamente à pretensão recursal veiculada na apelação. Eventual insurgência do apelado relativamente à sentença deveria ser veiculada em apelação própria deste, ou em apelação adesiva. No CPC/2015, contudo, com a modificação do sistema de impugnação das decisões interlocutórias (que passaram a não precluir no curso do processo, merecendo impugnação em razões de apelação ou em contrarrazões de apelação), as contrarrazões passaram a ter natureza jurídica híbrida, vale dizer, (i) tanto consistem em peça de resistência às razões de apelação, (ii) quanto podem consistir em peça recursal relativamente a decisões interlocutórias que o apelado resolva impugnar em sua resposta ao recurso. Pode haver nas contrarrazões, por assim dizer, uma defesa (relativamente à apelação da outra parte) e um possível ataque (relativamente às interlocutórias que o recorrido entenda por bem impugnar). Disto pensamos decorrer uma importante circunstância: se, por alguma razão, a apelação é inadmitida por intempestividade por exemplo, ou deixa de existir por qualquer outro motivo (desistência do recurso), não necessariamente as contrarrazões deixarão de ter utilidade e relevância: se nas contrarrazões houver o apelado suscitado impugnação relativamente a alguma decisão interlocutória, e se for pertinente sua apreciação pelo tribunal pois ainda não foi extinto o interesse recursal do apelado a respeito, pensamos que as contrarrazões que contenham impugnação de decisão interlocutória, mesmo que a apelação não mais exista, deverão ser apreciadas pelo tribunal, demonstrando-se que remanesce o interesse de agir, repita-se, do apelado a respeito. As contrarrazões nas quais se impugna decisão interlocutória funcionam, neste pormenor, com autêntico recurso, ex vi do § 1.º do art. 1009 ora analisado, e neste aspecto não guardam dependência com o recurso principal, como se recurso adesivo fosse. Imagine-se, por exemplo, a seguinte hipótese: a sentença é de parcial procedência da ação, sendo autor e réu sucumbentes em parte; no curso do processo, em decisão interlocutória, foi afastada preliminar de ilegitimidade ativa suscitada pelo réu; apenas o autor apela da sentença, o réu apresenta contrarrazões e nestas suscita a impugnação à decisão interlocutória que rejeitou sua preliminar de ilegitimidade ativa. Nestas condições, ainda que por alguma razão o apelante desista de seu recurso, ou este seja inadmitido, parece-nos evidente que remanesce o interesse recursal do apelado relativamente à impugnação que veiculou em suas contrarrazões acerca da rejeição da preliminar de ilegitimidade ativa, pois este capítulo de suas contrarrazões, muito distintamente de mera resistência, perfaz impugnação recursal de decisão interlocutória que lhe pode gerar, se acolhida tal impugnação, situação jurídica melhor, mais vantajosa, consistente em decisão que não o condene e que decida pela ilegitimidade ativa. Por fim, dada a natureza híbrida das contrarrazões em que se veicula impugnação de decisão interlocutória, parece-nos que, em prestígio ao contraditório e à ampla defesa, deverá ser instado o apelante a responder o capítulo das contrarrazões em que se suscitou impugnação de decisão interlocutória que, se acolhida, lhe pode gerar prejuízo. 4. Ainda sobre a impugnação de decisões interlocutórias em contrarrazões e seu caráter de não dependência relativamente ao recurso do apelante. Poder- se-ia dizer que a impugnação de interlocutórias em contrarrazões guarda relação de dependência com o a apelação pois estaríamos diante de um recurso (a impugnação da interlocutória nas contrarrazões) subordinado ao recurso principal (a apelação), como fosse a primeira uma espécie de recurso adesivo. Pensamos que a ideia, venia concessa, não procede, e o dizemos com fulcro em regra básica de interpretação: o recurso adesivo subordinado ao principal perfaz exceção, pois a regra vigente é a da manifestação recursal livre, independente, conforme expressa dicção do art. 997, caput, do CPC de 2015; no CPC/2015, se a parte quiser lançar mão de recurso subordinado (adesivo), deverá fazê-loexpressamente, interpondo o recurso adesivo previsto nos §§ do art. 997 e sujeitando-se às condições ali estabelecidas. Esta é a exceção (recurso adesivo), e como tal deve ser interpretada restritivamente. Optando por impugnar a decisão interlocutória em contrarrazões, que recurso adesivo não é, não há que se cogitar de subordinação recursal entre contrarrazões nas quais se impugna interlocutória e a apelação. Mutatis mutandis, e guardadas as devidas proporções, a impugnação de interlocutória em contrarrazões está para a apelação como a contestação com pedido contraposto está para a petição inicial: a desistência da ação pelo autor não impede a apreciação do pedido contraposto formulado pelo réu (TJRS, ApCiv 70014407225, 12.ª Segunda Câmara Cível, rel. Cláudio Baldino Maciel, J. 06.04.2006) bem como a desistência da apelação não impede a apreciação da impugnação de interlocutória formulada pelo apelado em contrarrazões. CPC/1973 CPC/2015 Art. 514. A apelação, interposta por petição dirigida ao juiz, conterá: I – os nomes e a qualificação das partes; II – os fundamentos de fato e de direito; III – o pedido de nova decisão. Parágrafo único. Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá: I – os nomes e a qualificação das partes; II – a exposição do fato e do direito; III – as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade; IV – o pedido de nova decisão. § 1.º O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de quinze dias. § 2.º Se o apelado interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para apresentar contrarrazões. § 3.º Após as formalidades previstas nos §§ 1.º e 2.º, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade. 1. Competência para interposição. O art. 1010 do CPC/2015 cuida, por assim dizer, da estrutura da petição por intermédio da qual será aviado o recurso de apelação. Nesse passo, a primeira informação que nos traz o dispositivo legal em apreço é no sentido de que a apelação será “dirigida ao juízo de primeiro grau”, expressão tecnicamente melhor que aquela constante no art. 514 do CPC/1973 (“dirigida ao juiz”). De fato, o recurso de apelação compõe-se de dois tipos de manifestação, quais sejam, a petição de interposição, dirigida ao juízo de primeiro grau (que é o competente para o recebimento da apelação), e as razões recursais, anexadas à predita petição de interposição, razões estas que serão avaliadas pelo órgão ad quem, dado ser deste (o tribunal) a competência para o julgamento do recurso de apelação. 2. Nome e qualificação das partes. Na petição de interposição deverão constar os nomes e a qualificação das partes. Sobre esse último requisito (“qualificação das partes”), pensamos ser, em regra, absolutamente dispensável, dado que a qualificação das partes já haverá sido exposta em petição inicial ou em contestação. Apenas haverá a necessidade de qualificação integral da parte recorrente quando se tratar de apelação interposta por terceiro interessado, dado ser esta sua primeira intervenção no feito. 3. Razões recursais. Anexadas à petição de interposição, deverão ser articuladas as razões recursais, nas quais a parte recorrente suscitará as questões fáticas e jurídicas componentes de sua irresignação relativamente à sentença. Quanto à composição da fundamentação do recurso (se serão fáticas e jurídicas as razões recursais, ou se exclusivamente jurídicas), há que se considerar o motivo da interposição do recurso, se proveniente de error in procedendo (erro de caráter processual incorrido pelo órgão judicante, caso em que as razões recursais terão cunho fundamentalmente de direito) ou se procedente de error in judicando (erro de juízo, vale dizer, de subsunção da norma ao fato, hipótese em que os motivos recursais poderão ter fundamentação fático-jurídica). 4. Pedido de reforma, de decretação de nulidade ou de nova decisão. O CPC/2015 contém, nesta disposição, redação mais correta que aquela existente no art. 514 do CPC/1973. Com efeito, a redação dos incs. III e IV do art. 1.010 abrange todas as hipóteses decisórias que podem ser geradas quando do julgamento da apelação: ipso facto, a apelação que pode ocasionar a reforma da decisão recorrida, seu decreto de nulidade ou a nulidade do próprio processamento da ação, além de nova decisão. De fato, do julgamento do apelo pode surgir simples decretação de nulidade da decisão recorrida (por motivação de caráter processual, por exemplo, tal qual se daria em caso de acolhimento, pelo tribunal, de alegação de cerceamento de defesa) ou de reforma (exclui-se a sentença apelada do mundo jurídico e se dá o rejulgamento do mérito da causa pelo tribunal). 5. Extinção do duplo juízo de admissibilidade da apelação. O CPC/2015 inova ao extinguir o duplo juízo de admissibilidade a que se submete o recurso de apelação no regime do CPC/1973. Com efeito, em face do que literalmente dispõe o § 3.º do art. 1.010 sob análise, a apelação será remetida ao Tribunal independentemente de juízo de admissibilidade realizado pelo órgão de primeiro grau, ao qual incumbirá, apenas, o recebimento da apelação, a intimação da parte recorrida para apresentação de contrarrazões e a remessa dos autos ao órgão recursal. CPC/1973 CPC/2015 Sem correspondência Art. 1.011. Recebido o recurso de apelação no tribunal e distribuído imediatamente, o relator: I – decidi-lo-á monocraticamente apenas nas hipóteses do art. 932, incisos III a V; II – se não for o caso de decisão monocrática, elaborará seu voto para julgamento do recurso pelo órgão colegiado. 1. Julgamento monocrático e julgamento colegiado. Dispõe o art. 1.011 do CPC/2015 que, uma vez distribuído o recurso de apelação no tribunal (e deverá sê-lo imediatamente, vale dizer, tão logo cheguem os autos ao tribunal), o relator, a quem incumbe a condução do processamento recursal, poderá adotar duas posturas: a decisão monocrática, sem julgamento do recurso pelo órgão colegiado, ou, se a hipótese não for de julgamento monocrático, a elaboração do voto para julgamento pelo órgão colegiado. Em virtude da própria essência dos julgamentos em regime colegiado, em que o reexame da matéria sub judice por órgão composto por ao menos três magistrados funciona como natural fomentador de qualidade da atividade jurisdicional, é evidente que o julgamento monocrático do recurso de apelação, e de resto dos demais recursos, deve ser excepcional, o que, aliás, afigura-se claro em face da própria existência do “apenas” no inc. I do art. 1.011 do CPC/2015 (“apenas nas hipóteses do art. 932, incs. III a V”). 2. Hipóteses de julgamento monocrático. O art. 1011, inc. II, do CPC/2015 permite a ocorrência de julgamento monocrático da apelação em três hipóteses, quais sejam, aquelas previstas no art. 932, incs. III a V, do CPC/2015. No inc. III do art. 932 do CPC/2015, tem-se a permissão do julgamento monocrático em três situações distintas: (i) inadmissibilidade do recurso, (ii) negação de provimento do recurso em caso de contrariedade do pleito recursal a jurisprudência sumulada ou uniformizada, (iii) ou provimento de recurso em caso de desconformidade da decisão relativamente a jurisprudência sumulada ou uniformizada. 3. Julgamento monocrático em virtude de inadmissibilidade do recurso. Dispensa-se a remessa do recurso para julgamento pelo órgão colegiado em caso de (i) inadmissibilidade do recurso (ausência de requisitos de admissibilidade, tais quais tempestividade, recolhimento de custas, carência de condições da ação emgrau recursal, etc.), (ii) em caso estar o recurso prejudicado (por prejudicialidade deve-se entender a perda do objeto recursal, vale dizer, a ausência de interesse de agir verificada posteriormente à interposição do recurso, como sucede em situações de composição entre as partes, de desistência, dentre outras), (iii) ou em situação de ausência, no recurso, de impugnação específica dos fundamentos da decisão recorrida (o recurso contém impugnação genérica, ou mera reprodução dos termos da petição inicial ou da contestação, sem que se desenvolva a específica impugnação dos pontos da sentença que geraram a sucumbência do apelante em primeiro grau de jurisdição), a teor do disposto no art. 932, III, do CPC/2015. 4. Negação monocrática de provimento em caso de jurisprudência sumulada ou uniformizada. A segunda hipótese de julgamento monocrático da apelação consiste na negação monocrática de provimento ao recurso, e diz respeito às situações em que o pedido recursal contrarie (i) entendimento sumulado do STF, do STJ ou do próprio tribunal, (ii) entendimento firmado pelo STF e pelo STJ em acórdão proveniente de julgamento de recursos repetitivos, ou (iii) entendimento firmado em sede de incidente de resolução de demandas repetitivas ou assunção de competência (CPC/2015, art. 932, IV). Nestas hipóteses, em face da clara orientação do CPC/2015 de observação, pelos órgãos do Poder Judiciário, das orientações jurisprudências gerais firmadas em súmulas, em julgamento de recursos repetitivos ou em uniformização jurisprudencial, faz-se despicienda a apreciação do recurso pelo órgão colegiado, atribuindo-se ao relator o poder de julgá-lo monocraticamente. Observamos, de nossa parte, que o julgamento monocrático dos recursos perfaz medida excepcional, que deve aplicar-se apenas e exclusivamente em face da exata presença das situações arroladas no art. 932 do CPC/2015, não comportando este, como exceção que é, interpretação ampliativa. 5. Provimento monocrático do recurso de apelação. A terceira hipótese de julgamento monocrático da apelação diz respeito às situações em que a decisão recorrida contrarie (i) entendimento sumulado do STF, do STJ ou do próprio tribunal, (ii) entendimento firmado pelo STF e pelo STJ em acórdão proveniente de julgamento de recursos repetitivos, ou (iii) entendimento firmado em sede de incidente de resolução de demandas repetitivas ou assunção de competência (CPC/2015, art. 932, inc. V). É de se observar. É de se remarcar que, ao inclinar- se pelo provimento monocrático do recurso de apelação, deverá o relator apurar se houve a concessão ao recorrido de oportunidade para apresentação de contrarrazões, dado que o provimento recursal, porquanto representativo de sucumbência do recorrido, deverá ser sempre precedido de respeito à garantia do contraditório. Repetimos aqui as observações que acima fizemos acerca da excepcionalidade da aplicação do julgamento recursal monocrático. CPC/1973 CPC/2015 Art. 520. A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que: I – homologar a divisão ou a demarcação; Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo. § 1.º Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que: II – condenar à prestação de alimentos; III – (Revogado pela Lei 11.232/2005) IV – decidir o processo cautelar; V – rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes; VI – julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem. VII – confirmar a antecipação dos efeitos da tutela. I – homologa divisão ou demarcação de terras; II – condena a pagar alimentos; III – extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; IV – julga procedente o pedido de instituição de arbitragem; V – confirma, concede ou revoga tutela provisória; VI – decreta a interdição. § 2.º Nos casos do § 1.º, o apelado poderá promover o pedido de cumprimento provisório depois de publicada a sentença. § 3.º O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1.º poderá ser formulado por requerimento dirigido ao: I – tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la; II – relator, se já distribuída a apelação. § 4.º Nas hipóteses do § 1.º, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso, ou, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou difícil reparação. 1. Efeito suspensivo automático da apelação. O Projeto de Novo CPC em sua versão proveniente do Senado Federal (Projeto 166/2010) apresentava sensibilíssima e positiva modificação relativamente aos efeitos em que recebido o recurso de apelação: este seria recebido, em regra, apenas no efeito devolutivo (e não mais no efeito suspensivo, em regra), o que significaria que toda a sentença seria, ab initio, passível de requerimento de cumprimento provisório desde sua publicação em primeiro grau, de modo que pudesse produzir efeitos práticos independentemente do recurso de apelação interposto pela parte prejudicada, e a suspensão dos efeitos da sentença poderia ocorrer apenas mediante pedido expresso da parte, demonstrando-se a existência de risco de dano irreparável (o efeito suspensivo da apelação seria, assim, excepcional). E esta proposição legislativa (apelação recebível apenas no efeito devolutivo, em regra) nos parecia de todo correta: perfaria uma tomada de posição em prestígio do juízo de primeiro grau, prestigiaria o fato de existir, após a sentença, conjunto de elementos de convicção que no mais das vezes conduzem à percepção de que o direito de uma das partes em desfavor da outra já é evidente, permitindo e autorizando sua imediata fruição (mediante cumprimento provisório) e deslocaria para o sucumbente-apelante o ônus de postular a suspensão dos efeitos da sentença. Tal proposta (apelação recebível apenas no efeito devolutivo) representaria, se aprovada fosse, radical mudança no tempo do processo: em vez de ser obrigado a aguardar o geralmente largo tempo exigido para que se dê o trânsito em julgado autorizador da execução, o litigante poderia promover o cumprimento provisório da sentença tão logo esta fosse publicada, deslocando-se para o apelante a incumbência de postular a atribuição de efeito suspensivo ao seu recurso para impedi-lo. No texto substitutivo do Projeto de Novo CPC da Câmara dos Deputados, contudo, restaurou-se o efeito suspensivo automático da apelação, persistindo a impossibilidade de as sentenças serem, em regra, objeto de pedido de cumprimento provisório, permanecendo tudo como já ocorria quando vigente o CPC/1973, perdendo-se, em nosso sentir, oportunidade histórica de aprimoramento procedimental da apelação. 2. Hipóteses em que a apelação será recebida apenas no efeito devolutivo. Tal qual ocorrente no CPC/1973, o CPC/2015 prevê, nos incisos de seu art. 1.012, as hipóteses em que a apelação será recebida exclusivamente no efeito devolutivo (e poderá ser objeto de requerimento de cumprimento provisório), com alguns aprimoramentos redacionais que, contudo, em sua essência não representam sensíveis modificações relativamente ao texto dos incs. I a VII do art. 520 do CPC/1973. As alterações merecedoras de destaque são as seguintes: retirou-se do rol de sentenças passíveis de apelação recebível apenas no efeito devolutivo aquelasque decidirem o processo cautelar (inc. IV do art. 520 do CPC/1973), por não mais existirem as ações cautelares específicas como previstas no CPC/1973, e incluiu-se no rol do art. 1.012 do CPC/2015 a sentença que decreta a interdição como objeto de apelação recebível apenas no efeito devolutivo em regra. 3. Momento de requerimento do cumprimento provisório da sentença. Nas hipóteses em que passível de apelação recebível apenas no efeito devolutivo, as sentenças, consoante o disposto no § 2.º do art. 1.012 CPC/2015, poderão ser objeto de requerimento de cumprimento de sentença após sua publicação. 4. Pedido de concessão de efeito suspensivo às apelações recebíveis, em regra, apenas no efeito devolutivo. Os §§ 3.º e 4.º do art. 1012 do CPC/2015 cuidam do pedido de atribuição de efeito suspensivo à apelação recebível apenas no efeito devolutivo (incs. I a VI do § 1.º do art. 1.012 sob análise). A competência para a apreciação deste pedido será do relator do recurso, observando-se o estágio em que se encontre o processo: (i) se o pedido de atribuição de efeito suspensivo à apelação ocorrer entre a interposição da apelação e sua distribuição, deverá ser dirigido ao Tribunal em petição autônoma contendo o arrazoado necessário (petição de atribuição de efeito suspensivo à apelação), que será apreciada tão logo designado o relator (a rigor, dar-se-á a distribuição deste pleito de efeito suspensivo, tornando prevento para o julgamento da apelação o relator que for designado para sua apreciação); (ii) se o pedido de atribuição de efeito suspensivo à apelação ocorrer quando já distribuída a apelação, deverá ser dirigido ao relator desta. 5. Requisitos para a concessão de efeito suspensivo à apelação recebível apenas no efeito devolutivo, em regra. A literalidade do § 4.º do art. 1012 do CPC/2015 estabelece duas condições a serem observadas para que se atribua efeito suspensivo à apelação que não o tem: (i) a demonstração de probabilidade de provimento do recurso ou, (ii) sendo relevante a fundamentação, o risco de dano irreparável ou de difícil reparação. São, portanto, duas condições distintas, o que se denota em face da presença da partícula ou entre ambas no texto do § 4.º do art. 1.012 em análise: (i) demonstração de probabilidade de provimento do recurso, vale dizer, há aqui uma espécie de tutela de evidência para fins de atribuição de efeito suspensivo à apelação, sem cogitar-se de demonstração de periculum in mora: demonstrando a parte que seu recurso reúne elevada probabilidade de provimento (porque a decisão apelada hostiliza jurisprudência sumulada ou firmada em julgamento de recurso repetitivo, por exemplo, além de outras hipóteses previstas no art. 932, V, do CPC/2015), sendo evidente que existirá o êxito recursal, poderá o recorrente pretender a suspensão da eficácia da sentença; (ii) sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou difícil reparação: nesta segunda hipótese de suspensão dos efeitos da sentença mediante excepcional atribuição de efeito suspensivo à apelação, estamos diante de pretensão cuja natureza é de típica tutela de urgência, pois se exige, para a suspensão da eficácia da sentença, a demonstração conjunta da relevância da fundamentação (vale dizer, avalia-se o quão relevante é a pretensão recursal, algo assemelhado à aparência do bom direito), e o risco de que, se for passível de cumprimento desde sua publicação, a sentença poderá gerar dano irreparável, grave, ou de difícil reparação. CPC/1973 CPC/2015 Art. 515. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. § 1.º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. § 1.º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões a sentença não as tenha julgado por inteiro. § 2.º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais. § 3.º Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento. § 4.º Constatando a ocorrência de nulidade sanável, o tribunal poderá determinar a realização ou renovação do ato processual, intimadas as partes; cumprida a diligência, sempre que possível prosseguirá o julgamento da apelação. suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado. § 2.º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais. § 3.º Se a causa estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito quando: I – reformar sentença fundada no art. 485; II – decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; III – constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; IV – decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação. § 4.º Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau. § 5.º O capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela provisória é impugnável na apelação. 1. O efeito devolutivo do recurso de apelação. O efeito devolutivo é típico de todo e qualquer recurso e consiste na extensão da impugnação veiculada pela parte na peça recursal, vale dizer, é o conteúdo do recurso (a impugnação manifestada pela parte relativamente à decisão recorrida) que definirá, em regra, a atividade que será desenvolvida no juízo recursal a ser exercido pelo tribunal. Como diz o brocardo latino, devolve-se à apreciação da Justiça, para revisão, o que estiver impugnado no recurso (tantum devolutum quantum appellatum), em clara manifestação do princípio dispositivo em esfera recursal, na medida em que está o órgão jurisdicional autorizado a prestar jurisdição de revisão apenas no âmbito da impugnação manifestada pelo recorrente, em regra. O efeito devolutivo apresenta-se como verdadeiro balizamento da atuação do juízo recursal, dele decorrendo a definição dos assuntos passíveis de julgamento pelo tribunal. 2. Extensão do efeito devolutivo: A ideia de devolutividade como decorrente apenas do conteúdo recursal não esgota, porém, toda a amplitude do efeito devolutivo, dado que a lei prevê o conhecimento de matérias outras pelo órgão recursal, a despeito de sua constância, ou não, nas razões recursais ou mesmo na própria decisão recorrida. Esta é a inteligência dos §§ 1.º e 2.º e 3.º do art. 1.013 do CPC/2015. O § 1.º do art. 1.013 do CPC/2015 determina que, independentemente de constarem do recurso ou a da própria decisão recorrida, poderão ser utilizados como razão de decidir pelo órgão de 2.º grau temas outros que tenham sido objeto de controvérsia no primeiro grau e que não tenham sido solucionados na sentença. 3. Dimensão horizontal e dimensão vertical do efeito devolutivo. Há, por assim dizer, duas dimensões a serem analisadas em termos de efeito devolutivo dos recursos: uma dimensão horizontal, consistente na amplitude da impugnação que se faz no recurso de apelação (o que se pede, vale dizer, a reforma, a anulação, etc.),e uma dimensão vertical (sob qual fundamento se pede). Esta seria a conformação padrão do efeito devolutivo, como manifestação do princípio dispositivo: o pedido recursal (reforma, anulação de um ou de mais de um capítulo da sentença) e a sua respectiva fundamentação como “medidas” da atividade judicante a ser desenvolvida pelo tribunal (Rogerio Licastro Torres de Mello. Atuação de ofício em grau recursal. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 198 e ss.). Em termos de dimensão horizontal (para Barbosa Moreira, extensão), contendo a sentença diversos capítulos (apreciação de matérias preliminares, de matérias componentes do mérito da causa, condenação em honorários), será devolvida à apreciação do tribunal os capítulos objeto de expressa impugnação recursal, e os capítulos da sentença não impugnados não poderão ser apreciados; em termos de dimensão vertical do efeito devolutivo (para Barbosa Moreira, profundidade), para a apreciação dos capítulos impugnados no recurso, não estará ao tribunal adstrito apenas aos fundamentos constantes do recurso, podendo valer-se de outros fundamentos debatidos no processo, ainda que não reiterados no recurso, e podendo apreciar outras questões controvertidas entre as partes, mesmo que não julgadas em sentença, desde que, contudo, tenham a ver com o capítulo impugnado. Esta a intelecção dos §§ 1.º e 2.º do art. 1013 em análise. 4. Opiniões doutrinárias. Araken de Assis conceitua o efeito devolutivo da seguinte forma: “A essência do efeito devolutivo, relativamente aos meios previstos no art. 496, localiza-se na remessa ao conhecimento do mesmo ou de outro órgão judiciário da matéria julgada e impugnada e, sob algumas condições, passível de ser julgada no órgão a quo. As questões subordinadas à iniciativa das partes observam, assim, o tradicional aforismo tantum devolutum quantum appellatum. Embora o brocardo aluda à apelação, a diretriz se aplica a quaisquer recursos” (Araken de Assis. Manual dos recursos. São Paulo: Ed. RT, 2007. p. 221). Para Barbosa Moreira, uma das maiores autoridades em termos de doutrina sobre recursos cíveis, o efeito devolutivo parte da circunstância de que “a interposição do recurso transfere ao órgão ad quem o conhecimento da matéria impugnada. Podem variar, de recurso para recurso, a extensão e a profundidade do efeito devolutivo (…)” (José Carlos Barbosa Moreira. O novo processo civil brasileiro. 25. ed. Rio de Janeiro: Forense, p. 123). O professor João Batista Lopes leciona que, “quanto ao efeito devolutivo, que, em regra, só se devolve (ou melhor, só se transfere) ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada pelo apelante (tantum devolutum quantum appellatum)” (João Batista Lopes. Curso de direito processual civil, v. II. São Paulo: Atlas, 2006, p. 179). 5. Efeito translativo. O recurso de apelação conta, também, com o efeito translativo, consistente no traslado, de uma instância a outra, independentemente de suscitação nas razões recursais, das matérias de ordem pública, por serem estas apreciáveis ex officio e, portanto, impassíveis de preclusão pro judicato, como os são as condições da ação, os pressupostos processuais de existência e de validade, dentre outros temas (Nelson Nery Junior. Teoria Geral dos Recursos. 6. ed. São Paulo: Ed. RT, 2004, p. 482 usque 488). A simples existência do recurso de apelação permite ao órgão jurisdicional de segundo grau a apreciação a apreciação de temas de ordem pública, independentemente de estes serem abordados expressamente no recurso (Rogerio Licastro Torres de Mello. Atuação de ofício em grau recursal, Ed. Saraiva, São Paulo, 2010, p. 196 e ss.). 6. Julgamento do mérito pelo tribunal, sem remessa ao juízo de primeiro grau para tanto. O § 3.º do art. 1.013 do CPC/2015, estendendo e minudenciando a regra e o espírito do § 3.º do art. 515 do CPC/1973, estabelece a possibilidade de o tribunal apreciar o mérito da causa ainda que este não tenha apreciado pelo juízo de primeiro grau. A ratio essendi do dispositivo legal em apreço é evitar que exista delonga na tramitação processual, como ocorreria caso o tribunal se limitasse a afastar a sentença extintiva sem resolução de mérito para, mediante remessa do processo ao primeiro grau, possa este pronunciar-se sobre o meritum causae. O que se pretende é que, estando a causa apta a tanto, o tribunal, ao reformar sentença de natureza processual (que tenha, por exemplo, dado pela ausência de condição da ação), aprecie desde logo o mérito. O mesmo deverá ocorrer e, caso de reforma de sentença infra, extra ou ultra petita: o tribunal deverá, verificando-se alguma das hipóteses dos incs. II e III do § 3.º do art. 1.013, corrigir o vício processual verificado em primeiro grau (sentença incongruente com o pedido ou com a causa de pedir, ou sentença que deixou de apreciar algum dos pedidos da parte) e desde logo proferir decisão de resolução do mérito da causa. Em ocorrendo vício de falta de fundamentação (inc. IV do § 3.º do art. 1.013) ou reforma de sentença monocrática que tenha reconhecido a prescrição ou decadência (§ 4.º do art. 1.013), igualmente deverá o tribunal resolver o mérito da causa, examinando as demais pretensões das partes, “sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau”. 7. “Se a causa estiver em condições de imediato julgamento”. A locução constante do § 3.º do art. 1013 em análise estabelece as condições em que o mérito da causa poderá ser julgado diretamente pelo tribunal, ainda que não tenha existido pronunciamento a respeito por parte do órgão jurisdicional de primeiro grau. Cogita-se, in casu, de estar a causa em condições de imediato julgamento, o que significa que (i) não se faz necessária a produção de provas adicionais em dilação probatória, sendo suficientes as provas já constantes dos autos (provas documentais, por exemplo), ou (ii) que seja a controvérsia exclusivamente de direito, dispensando instrução probatória. Se não estiverem presentes estas hipóteses, pensamos que a causa não estará em condições de imediato julgamento, fazendo-se de rigor a remessa ao juízo de primeiro grau para, adotadas as providências necessárias (fundamentalmente, a instrução processual), ali proferir-se sentença resolutiva do mérito (Rogerio Licastro Torres de Mello. Atuação de ofício em grau recursal. São Paulo: Saraiva, São Paulo, 2010, p. 205 e ss.). 8. Capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga tutela antecipada. apelação. Confirmando o quanto já consolidado em sede doutrinária e jurisprudencial, o § 5.º do art. 1.013 do CPC de 2015 estabelece que o capítulo da sentença em que confirmada, concedida ou revogada tutela antecipada será impugnável no bojo da apelação, e não em recurso próprio de agravo de instrumento. CPC/1973 CPC/2015 Art. 517. As questões de fato, não propostas no juízo inferior, poderão ser suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior. Art. 1.014. As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior. 1. Suscitação, na apelação, de questões de fato não propostas no juízo inferior. Como regramento geral do processo civil, o momento próprio para a arguição fática é o da fase postulatória ocorrida em primeiro grau, quando as partes detêm condições de articulação de fatos em petição inicial ou em contestação. Essa limitação procedimental à arguição de fatos (circunscrevendo- os à fase postulatória, em regra) revela o claro escopo de aderir estabilidade ao processamento da ação, na medida em que se torna possível fixar a controvérsia, valedizer, estabelecer com ares de definitividade o cenário fático- jurídico sobre o qual incidirá a atividade do juiz, e também o contraditório entre as partes. Ulteriormente à fase postulatória em primeiro grau de jurisdição, apenas é dado cogitar-se de alteração do cenário fático do feito nas hipóteses de (i) fatos ou direitos supervenientes que sejam modificativos, extintivos ou constitutivos do direito em debate, cuja cognição pelo órgão julgador poderá dar-se a requerimento da parte ou ex officio, ou (ii) fatos que, ainda que preexistentes ao início da demanda, não tenham sido a esta conduzidos por razões alheias à vontade da parte (força maior). 2. Fatos supervenientes e fatos inéditos. Os chamados “fatos supervenientes” compõem-se de situações que inexistiam ao tempo do início da ação (e que advieram no seu curso); já os chamados “fatos inéditos” são preexistentes à ação judicial, apenas não tendo sido a esta carreados por motivo de força maior. No que toca à primeira categoria (“fatos supervenientes”), trata- se de situações fático-jurídicas que devem ser levadas em consideração pelo juízo recursal como imperativo da correta prestação jurisdicional, a despeito de não constarem anteriormente do processo. O advento de fato ou de direito superveniente ao início do processamento da ação e que influa no desfecho desta terá de ser levado em conta pelo órgão jurisdicional. A superveniência, no caso, permite a alteração da causa de pedir remota, e é admitida precisamente por não significar atuação desleal de qualquer litigante. De fato, não nos parece adequado “cristalizar-se” a atividade jurisdicional, imunizando-a de qualquer modificação a partir da propositura da ação de modo a impedir que sejam levados em consideração, como razão de decidir, fatos ulteriores que possam interferir decisivamente no julgamento da demanda. Já por “fatos inéditos”, temos que são fatos não suscitados no trâmite processual por questões alheias à vontade do litigante (força maior), que não pode, por justa causa, manejar em seus arrazoados fatos antecedentes ao início da demanda (STJ, RMS 9069, rel. Min. Felix Fischer, DJ 16.03.1998). Estes fatos preexistentes são considerados fatos novos para o processo, mas não fatos supervenientes. São fatos inéditos para a causa, conquanto não sejam supervenientes a esta. A norma do art. 1.014 do CPC/2015 permite sejam tais fatos levados em consideração como razão de decidir desde que seja comprovada a força maior como fator de sua não apresentação anteriormente, e isso se justifica pela necessidade de coibição de litigância irresponsável, prevenindo-se situações de dolosa surpresa processual. 3. Instrução probatória. A arguição de fatos supervenientes ou inéditos poderá exigir alguma atividade probatória em grau recursal, de modo que tais fatos possam ser comprovados, como consta do art. 1.014 do CPC/2015 (“se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior”). Para que sejam tomados como causa decidendi, os fatos supervenientes ou inéditos têm, evidentemente, de ser submetidos ao contraditório (Rogerio Licastro Torres de Mello. Atuação de ofício em grau recursal. São Paulo: Saraiva, São Paulo, 2010, p. 275 e ss.).
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