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DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1 Aula 07 Direito das Obrigações �Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula →→→→ DIREITO DAS OBRIGAÇÕES. Obrigações. Características. Obrigações de dar. Obrigações de fazer e de não fazer. Obrigações alternativas. Obrigações divisíveis e indivisíveis. Obrigações solidárias. Obrigações civis e naturais, obrigações de meio, de resultado e de garantia. Obrigações de execução instantânea, diferida e continuada. Obrigações puras e simples, condicionais, a termo e modais. Obrigações líquidas e ilíquidas. Obrigações principais e acessórias. Transmissão das obrigações. Adimplemento e extinção das obrigações. Inadimplemento das obrigações. Atos unilaterais. �Legislação a ser consultada →→→→ Código Civil: arts. 233 até 285 (modalidades); arts. 286 até 303 (transmissão); 304 até 388 (adimplemento e extinção); arts. 389 até 420 (inadimplemento); arts. 854 até 886 (atos unilaterais). Índice Conceito de obrigação .................................................................... 02 Elementos constitutivos ................................................................. 03 Fontes das obrigações .................................................................... 04 QUADRO GERAL DAS OBRIGAÇÕES ................................................. 05 Obrigação de dar........................................................................ 06 Coisa certa ............................................................................ 06 Coisa incerta ......................................................................... 09 Obrigação de fazer .................................................................... 11 Obrigação de não fazer ............................................................. 13 Obrigações solidárias ................................................................ 17 Outras modalidades de obrigações ............................................ 21 Cláusula penal ................................................................................ 28 Perdas e danos ............................................................................... 30 EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES ......................................................... 31 Pagamento Direto ...................................................................... 31 Mora ..................................................................................... 37 DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2 Juros ..................................................................................... 41 Enriquecimento sem causa ................................................... 42 Pagamento indevido ............................................................. 43 Formas especiais de pagamento ................................................ 44 Pagamento em consignação .................................................. 44 Pagamento com sub-rogação ................................................. 45 Imputação do pagamento ...................................................... 46 Pagamento indireto .................................................................. 47 Dação em pagamento ............................................................ 47 Novação ................................................................................. 48 Compensação ......................................................................... 50 Confusão ................................................................................ 51 Outras formas de pagamento .................................................... 52 Remissão de dívidas .............................................................. 52 Execução forçada ................................................................... 52 Transmissão das obrigações. Cessão .............................................. 53 Cessão de crédito ..................................................................... 53 Cessão de débito (assunção de dívida) ..................................... 55 Cessão de contrato ................................................................... 56 Declaração unilateral de vontade ................................................... 56 RESUMO ESQUEMÁTICO DA AULA ................................................... 57 Bibliografia Básica .......................................................................... 62 EXERCÍCIOS COMENTADOS ............................................................ 63 Meus amigos e alunos Hoje vamos analisar o Direito das Obrigações. Observem que há uma lógica em nosso estudo, seguindo a ordem do Código Civil. Vejamos: quem pode assumir uma obrigação? –As pessoas! (tema que foi visto em aula específica). Depois: o que pode ser objeto de uma obrigação? –Os bens! (que também já vimos em aula anterior). Finalmente: como as pessoas podem se relacionar para criar as obrigações? –Para responder a isso devemos saber o que foi visto na aula sobre fatos, atos e negócios jurídicos. Hoje, seguindo uma coerência lógica, veremos as obrigações propriamente ditas. Comecemos, então... CONCEITO DE OBRIGAÇÃO Em nosso dia-a-dia assumimos diversas “obrigações”. Com a nossa família ou com vizinhos, com a religião que adotamos, com nosso País, etc. Mas a obrigação que nos interessa é a “obrigação civil”, ou seja, ligada ao Direito. Todo direito traz a ideia de obrigação. Isto porque não existe direito sem obrigação e nem obrigação sem o correspondente direito. Nosso Direito não define obrigação. A doutrina costuma conceituá-la, de uma forma completa e técnica dizendo que: DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 3 “Obrigação é uma relação jurídica transitória, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento (cumprimento) através de seu patrimônio”... ufa! Em um conceito mais resumido podemos dizer que obrigação é um vinculo jurídico entre o credor e o devedor! Ou seja, confere-se ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação de caráter patrimonial, sendo que no caso de descumprimento poderá o credor satisfazer-se no patrimônio do devedor (art. 391, CC). Bem... com base nestes conceitos, veremos agora cada um dos elementos de uma obrigação. CARACTERÍSTICAS • Patrimonialidade: por envolver patrimônio (dinheiro, bens). • Transitoriedade: a obrigação nasce com o objetivo de, em algum momento, extinguir-se. • Pessoalidade: trata-se de uma relação jurídica entre pessoas (credor e devedor). • Prestacionalidade: o objeto é sempre uma atividade; como veremos a prestação pode ser de dar, fazer ou não fazer. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS A) ELEMENTO PESSOAL OU SUBJETIVO. São os sujeitos (ou as partes) da obrigação: • Sujeito Ativo: é o credor, o beneficiário da obrigação; é a pessoa a quem a prestação (positiva ou negativa) é devida, tendo o direito de exigir o seu cumprimento. Pode ser qualquer pessoa, seja ela natural ou jurídica, capaz ou incapaz, pois basta ser “pessoa” para ser sujeito de direitos e deveres na ordem civil (art. 1°, CC). • Sujeito Passivo: é o devedor; aquele que deve cumprir a obrigação, deefetuar a prestação, sob pena de responder com seu patrimônio. Observações 01) Admite-se, num primeiro momento, que os sujeitos não sejam exatamente individualizados. Porém no curso da relação jurídica os sujeitos devem ser determinados. Se isso não ocorrer a obrigação pode ser extinta. 02) Em cada um dos polos (ativo ou passivo) pode haver mais de um credor ou devedor (pessoas naturais e/ou jurídicas): “A” e “B” são credores e “C” e “D” são devedores. E, como veremos, estas posições nem sempre são estáticas. Ex.: digamos que “A” pratique um ato ilícito contra “B”. “A” é o devedor; ”B” é o credor. Aqui se sabe exatamente quem é o credor e quem é o devedor. Mas em uma compra e venda... quem é quem? Aqui temos uma relação complexa; ambos são credores e devedores simultaneamente: o comprador é credor da coisa, mas é devedor do dinheiro; já o vendedor é credor do dinheiro, mas devedor da coisa... DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 4 B) ELEMENTO MATERIAL OU OBJETIVO. É o objeto de uma obrigação. Para a maioria da doutrina, o objeto da obrigação é a prestação imediata, que é sempre uma conduta humana. Esta pode ser positiva (ação: obrigação de dar ou fazer) ou negativa (omissão: obrigação de não fazer). Veremos esta classificação logo adiante de forma detalhada. Já o objeto mediato é o bem ou a coisa, propriamente dita. Exemplo: “A” deve entregar um quadro a “B”. O objeto imediato é a obrigação de dar. Já o quadro é o bem sobre o qual recai o direito, sendo considerado como o objeto mediato. O objeto (prestação), para ser válido, deve ser lícito, possível (física e juridicamente), determinado ou determinável (não pode haver indeterminação no objeto imediato) e economicamente apreciável (patrimonialidade). É admissível a obrigação que tenha por objeto um bem não econômico, desde que seja digno de tutela o interesse das partes. C) ELEMENTO IMATERIAL (ABSTRATO) ou VÍNCULO JURÍDCIO. É o vínculo que liga os sujeitos ao objeto da obrigação (vínculo obrigacional); é o elo que sujeita o devedor a determinada prestação (positiva ou negativa) em favor do credor. A doutrina afirma que sobre o tema o Brasil adotou a teoria dualista ou binária, segundo a qual esse vínculo tem duas relações: a) dever do sujeito passivo de satisfazer a prestação em face do devedor; b) autorização dada pela lei ao credor que tenha sofrido o inadimplemento de constranger o patrimônio do devedor. Portanto, confere-se ao credor o direito de exigir o cumprimento da obrigação e ao devedor o dever de cumpri-la. Abrange o dever da pessoa obrigada (debitum) e sua responsabilidade em caso de não cumprimento (obligatio). Ex.: um acidente de trânsito gera um ato ilícito; um acordo de vontades produz o contrato. FONTES DAS OBRIGAÇÕES Como surgem as relações concretas entre os particulares? Onde nascem as obrigações? Costuma-se dizer que a lei é a fonte primária ou imediata de qualquer obrigação (“Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer senão em virtude de lei”). Já as fontes mediatas seriam: • Negócio Jurídico Bilateral: duas pessoas criam obrigações entre si. Ex.: os contratos de uma forma geral (compra e venda; locação, etc.). É a principal e maior fonte de obrigação. • Negócio Jurídico Unilateral: nestes casos só há uma vontade, ou seja, apenas uma pessoa se obriga (declaração unilateral de vontade). Ex.: promessa de recompensa (perdeu-se cachorrinho... recompensa-se bem). Com isso eu me obrigo perante quem cumpre a tarefa. • Atos Ilícitos: quem comete um ato ilícito (art. 186, CC) fica obrigado a reparar eventuais prejuízos (art. 927, CC) dele decorrentes. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 5 CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS OBRIGAÇÕES I. QUANTO À NATUREZA DO OBJETO A) Positivas 1. Obrigação de Dar a) coisa certa b) coisa incerta 2. Obrigação de Fazer a) fungível b) infungível B) Negativas 1. Obrigação de Não Fazer II. QUANTO A SEUS ELEMENTOS A) Simples: um sujeito ativo, um sujeito passivo e um objeto. B) Compostas: pluralidade de objetos ou de sujeitos. 1. Pluralidade de Objetos a) cumulativa b) alternativa 2. Pluralidade de Sujeitos (Solidariedade) a) ativa b) passiva III. QUANTO AOS ELEMENTOS ACIDENTAIS • puras e simples • condicionais • a termo • modais IV. OUTRAS MODALIDADES • líquidas ou ilíquidas • divisíveis ou indivisíveis • de resultado, ou de meio, ou de garantia • instantâneas, fracionadas, diferidas ou de trato sucessivo • principais ou acessórias • propter rem • naturais DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 6 I. OBRIGAÇÃO POSITIVA DE DAR Obrigação de dar (arts. 233/246, CC) é aquela em que o devedor se compromete a entregar alguma coisa (certa ou incerta). No direito das obrigações “dar” pode significar entregar a propriedade (em uma compra e venda) ou simplesmente entregar a posse (em uma locação). A obrigação de dar confere ao credor somente o direito pessoal e não o direito real. Isto é, o contrato cria apenas a obrigação, mas não opera a transferência da propriedade. Esta somente se concretiza com a tradição (entrega) para os bens móveis ou pelo registro para os bens imóveis. A obrigação de dar pode ser dividida em: a) específica: obrigação de dar coisa certa (ex.: uma joia, um carro, um livro, etc.); b) genérica: obrigação de dar coisa incerta (ex.: a obrigação de dar um boi, dentre uma boiada). Vejamos. A) OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA (arts. 233/242, CC) O devedor se obriga a entregar uma coisa certa e determinada, perfeitamente individualizada, que possa ser diferenciada de outras da mesma espécie (ex.: a vaca Mimosa ou a camisa do Pelé), podendo ser móvel ou imóvel. ����Regras básicas ���� 01) Se a coisa a ser entregue tiver acessórios, a obrigação principal abrange também esses acessórios, ainda que não mencionados, salvo se o contrário resultar do título (ou seja, as partes estipularam outra coisa) ou das circunstância do caso (art. 233, CC). Ex.: vendo a chácara “Alegria”, mas estabeleço que posso retirar todos os bens móveis da chácara; vendo meu carro, mas estabeleço que posso retirar o “som” nele instalado. Lembrando que em relação à pertenças essa regra não se aplica 02) O credor não é obrigado a receber outra coisa, ainda que mais valiosa (art. 313, CC). Abrange a obrigação de transferir a propriedade (ex.: compra e venda), ou a de entregar a posse (ex.: locador ou comodante que deve entregar a coisa). 03) O devedor deve conservar adequadamente a coisa que irá entregar ao credor, bem como defendê-la contra terceiros, como se fosse sua. A obrigação é cumprida com a tradição (entrega da coisa). Até a tradição a coisa ainda pertence ao devedor. A coisa pode se perder ou deteriorar. Vejamos as consequências. Perecimento e Deterioração Perda (destruição total ou perecimento) é a extinção, o desaparecimento completo da coisa para fins jurídicos (incêndio, furto, morte do animal, etc.). Deterioração (destruição parcial) é aquela em que a coisa sofre danos, avarias, sem desaparecer. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 7 1) Consequências jurídicas da perda da coisa (destruição total). a) Sem culpa do devedor (caso fortuito ou força maior). Se a perda ocorreu antes da tradição (ou pendente condiçãosuspensiva) sem que tenha havido culpa, resolve-se (extingue-se) a obrigação para ambas as partes, que voltam à situação primitiva. Se o vendedor já recebeu o preço da coisa que pereceu, deve devolvê-lo com correção monetária. Neste caso o prejuízo é só do vendedor (proprietário da coisa). Se a perda ocorreu após a tradição o negócio está mantido. Com a entrega da coisa sem vícios, o vendedor fica livre dos riscos. Neste caso o prejuízo é do só do comprador. b) Com culpa do devedor. Neste caso o devedor responderá pelo valor da coisa (o equivalente em dinheiro) mais perdas e danos. 2) Consequências jurídicas da deterioração da coisa (destruição parcial). Consequências Jurídicas antes da tradição (arts. 235/236, CC): a) Sem culpa do devedor. Não há perdas e danos. Credor tem duas opções: resolve a obrigação, com restituição do preço mais correção monetária ou pode receber a coisa no estado que estiver, com um abatimento proporcional no preço que se perdeu. b) Com culpa do devedor. Credor pode optar: extingue-se a obrigação pagando o devedor o equivalente em dinheiro mais perdas e danos ou recebe a coisa no estado em que se encontra, recebendo uma indenização pelos prejuízos causados. Antes da Tradição Sem culpa do devedor Com culpa do devedor Perda (extinção total) da coisa (art. 234, CC). Extingue a obrigação. Devolução da quantia paga. Indenização (valor da coisa) mais perdas e danos. Deterioração (extinção parcial) da coisa (arts. 235/236, CC). Extingue a obrigação ou abatimento propor- cional do preço. Indenização (valor da coisa) mais perdas e danos ou aceita a coisa mais perdas e danos. ����Atenção: só haverá perdas e danos se houver culpa do devedor ���� A obrigação de dar a coisa certa se equipara à obrigação de restituir (ou de devolver). A obrigação de restituir se difere da obrigação de dar, pois nesta a coisa pertence ao devedor até a tradição (entrega), enquanto na obrigação de restituir a coisa pertence ao credor, apenas sua posse é que foi transferida ao devedor. Ex.: quando se aluga um carro, a locadora continua sendo proprietária dele; é apenas a posse que se transfere ao cliente. Então na locação o cliente/devedor tem a obrigação de restituir o bem ao locador após o prazo acertado, pois a propriedade já era do credor antes do surgimento da obrigação. Locação e empréstimo (comodato e mútuo) são exemplos de DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 8 obrigação de restituir, ficando a coisa em poder do devedor, mas mantendo o credor direito de propriedade sobre ela. ����Importante ���� Tanto na obrigação de dar coisa certa, como na de restituir (locação, comodato e mútuo), aplica-se a regra res perit domino. Esta é uma expressão muito conhecida e usada no mundo jurídico e significa: a coisa perece para o dono. Vejamos as situações abaixo. Percebam que embora elas sejam diferentes, em ambas é o proprietário (independentemente do fato de ser credor ou devedor) quem sofrerá o prejuízo. 01) Como vimos mais acima, se a obrigação for de DAR coisa certa e a coisa se perder antes da tradição, ainda que não haja culpa de sua parte, é o devedor (que ainda é o proprietário) quem arcará com o prejuízo. 02) Se a obrigação for de RESTITUIR coisa certa e esta se perder antes da tradição, sem culpa do devedor, o credor (proprietário da coisa) sofrerá com a perda e a obrigação se extinguirá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda (art. 238, CC). Exemplo: eu empresto um bem a uma pessoa e ela é assaltada, perdendo este bem. Ela não será obrigada ressarcir o dano, pois não teve culpa no evento; neste caso eu (que sou o proprietário) ficarei com o prejuízo e a obrigação será extinta. É de se esclarecer que a doutrina e a jurisprudência vêm entendendo que o “assalto” (tecnicamente se trata de um roubo, ou seja, subtração de patrimônio alheio mediante violência ou grave ameaça) é hipótese de força maior. Reparem o disposto no art. 393, CC: “O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado”. No entanto, pode ter havido culpa do possuidor. Exemplo: tivemos um caso concreto em que uma empresa de “reportagem fotográfica” alugou de outra empresa, diversos equipamentos modernos e caros para realizar o evento. Durante o evento, os funcionários da primeira empresa deixaram os equipamentos sem vigilância e em local onde transitavam muitas pessoas, sendo que alguns equipamentos foram furtados. Ora, como nesse caso houve negligência (que é uma modalidade de culpa), não foi aplicada a regra res perit domino e o devedor foi obrigado a indenizar o proprietário pela perda, acrescida das perdas e danos. É o que estabelece o art. 239, CC. Cômodos ou melhorias na coisa (art. 237, CC): são as vantagens produzidas pela coisa. Até a tradição (entrega) a coisa pertence ao devedor, com todos os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá pedir aumento no preço. Ex.: uma pessoa vende a vaca Mimosa, que antes da entrega deu uma cria. Observem que o devedor se obrigou a entregar a vaca, não sendo obrigado a entregar o bezerro. Surgem então duas opções: a) devedor entrega o filhote, podendo exigir um aumento no preço; b) se o credor não aceitar a pagar o aumento resolve-se (extingue-se) a obrigação. Neste caso não podemos dizer que o bezerro é um acessório; ele não acompanha o principal. Quanto aos frutos: os percebidos (colhidos) até a tradição pertencem ao devedor; já os pendentes (ainda não colhidos) pertencem ao credor (são acessórios que acompanham o principal). DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 9 ����Vamos reforçar���� O acordo entre as partes cria a obrigação de entrega da coisa, mas não transfere a propriedade dessa coisa. Como vimos, se o bem for móvel a transferência se dará pela tradição (entrega) e se o bem for imóvel, a transferência se dará pelo registro na matrícula do título aquisitivo (registro de imóveis). B) OBRIGAÇÃO DE DAR COISA INCERTA (arts. 243/246, CC) Coisa incerta indica que a coisa não é única, singular e exclusiva (ao contrário da obrigação de dar coisa certa). O objeto não é individualizado, mas indicado apenas de forma genérica no início da obrigação. No entanto ele deve ser determinável pelo gênero e quantidade (art. 243, CC), faltando determinar a qualidade. Ex.: a obrigação de entregar dez bois é incerta. A princípio pode parecer que é uma obrigação de dar coisa certa... dez bois. No entanto eu tenho uma boiada de mil bois e devo entregar somente dez! Pergunto: quais os dez bois que devem ser entregues? Eles ainda não foram individualizados! Por isso chamamos de obrigação de dar a coisa incerta (ou genérica). Coisa incerta não quer dizer “qualquer coisa”. Mas sim coisa sujeita a determinação futura. Observem que já há determinação quanto ao gênero=bois e quanto à quantidade=dez. Falta individualizar quais os bois que serão entregues. A coisa está indeterminada, porém será suscetível de determinação futura. Por isso, o estado de indeterminação é transitório. Outro exemplo: entregar 50 sacas de café (deve-se separar o café, pesá-lo, ensacá-lo, contar as sacas, etc.). ����Pode haver a obrigação de dar “sacas de café”? Ou a obrigação de entregar 100 sacas? Não! Nestes casos está faltando a quantidade ou o gênero e a obrigação contendo tala imprecisão no objeto, não gerará obrigação alguma. A individualização se faz pela escolha da coisa devida, pela média qualidade. Chamamos de concentração o ato jurídico unilateral de escolha ou de seleção,que se exterioriza pela pesagem, medição, contagem, etc. A escolha cabe, em regra, ao devedor (art. 244, CC), salvo se for estabelecido de modo diverso no contrato. Neste caso, por exceção, a escolha caberá ao credor ou a uma terceira pessoa estranha ao negócio. Realizada a escolha acaba a incerteza. A obrigação genérica, inicialmente de dar a coisa incerta, se transforma em obrigação de dar a coisa certa (havendo a individualização da prestação), aplicando-se todas as regras que vimos mais acima (art. 245, CC). Segundo o art. 246, CC, antes da escolha não pode o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito (genus nunquam perit: o gênero nunca perece). Os riscos correm por conta do devedor. Exemplo: se “A” deve mil laranjas a “B”, ele não pode deixar de cumprir a obrigação alegando que as laranjas que colheu se estragaram, pois ‘mil laranjas... são mil laranjas’. Se a plantação de “A” se perder ele pode comprar as frutas em outra fazenda para cumprir a obrigação assumida. No entanto, após a escolha (e antes da entrega) caso as laranjas DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 10 se percam sem culpa do devedor (ex.: incêndio no armazém) a obrigação se extingue, voltando as partes ao estado anterior, devolvendo-se eventual preço pago, sem se exigir perdas e danos. Isso porque após a escolha a obrigação se torna “obrigação de dar coisa certa” e, como vimos, o art. 234, CC estabelece que se a coisa se perder antes da tradição sem culpa do devedor fica resolvida a obrigação para ambas as partes. ����Atenção!! ����Princípio da equivalência das prestações (ou critério da qualidade média). Estabelece a lei (art. 244, CC) que na falta de disposição contratual a escolha do devedor não pode recair sobre a coisa menos valiosa ou de pior qualidade. E nem será ele compelido a entregar a coisa mais valiosa ou melhor. A solução é que o objeto deve recair no gênero intermediário. Obrigação Pecuniária Obrigação pecuniária ou obrigação de solver dívida em dinheiro é uma espécie de obrigação de dar que abrange prestação em dinheiro, reparação de danos e pagamento de juros. Segundo o art. 315, CC, o pagamento em dinheiro será feito em moeda corrente. Deve ser realizado no lugar do cumprimento da obrigação e pelo seu valor nominal, ou seja, em Real (R$), que é nossa unidade monetária atual. Devemos lembrar que nesta obrigação o devedor sofrerá com as consequências da desvalorização da moeda. No entanto, pode-se incluir em algumas convenções, cláusula de atualização da prestação. O art. 316, CC permite que se convencione um aumento progressivo no caso de prestações sucessivas. Finalmente o art. 317, CC prevê que no caso de ocorrer algum motivo imprevisível e, em decorrência disso, sobrevier manifesta desproporção entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o Juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, o quanto possível, valor real da prestação. Trata-se da aplicação do Princípio da Função Social do Contrato. Outras formas de pagamento (ex.: cheque, cartão de crédito ou débito, etc.) são facultativas, podendo o comerciante (fornecedor) optar em não recebê-los. Alguns estabelecimentos colocam uma placa bem à mostra “não aceitamos cheques”. Isso é permitido? –Sim!! Trata-se de um risco que o comerciante está assumindo em não atrair clientes que iriam pagar com cheques. ����Importante���� São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira (chamamos isso de obrigação valutária – valutaria = valuta = divisa, moeda estrangeira), salvo os contratos e títulos referentes à importação e exportação. É o que diz o art. 318, CC. Assim, se cair alguma questão sobre a possibilidade de pagamento de dívidas em dólar ou em ouro, a resposta é que pelo Código Civil não pode, sob pena de nulidade absoluta (salvo alguns contratos especiais, como de importação/exportação, contratos estes que não estão previstos no Código Civil). DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11 II. OBRIGAÇÃO POSITIVA DE FAZER Obrigação de fazer (arts. 247/249, CC) consiste na prestação de uma atividade (prestação de um serviço ou execução de uma tarefa) positiva (material ou imaterial) e lícita do devedor. Ex.: trabalho manual, intelectual, científico ou artístico, etc. Pergunto agora: o que ocorre quando o devedor não faz o que deveria fazer? Resposta: a impossibilidade do devedor de cumprir a obrigação de fazer, bem como a recusa em executá-la, acarretam o inadimplemento contratual (não cumprimento do contrato). Sim... mas e se eu desejo que o ato ou serviço seja realizado? Posso obrigar o devedor a cumprir a tarefa? Sabemos que nas obrigações de dar é possível a atuação do Estado no sentido de se obter a execução específica da obrigação, por meio das ações judiciais. Mas... e nas obrigações de fazer? Nestas, geralmente ocorre o contrário, porquanto é difícil compelir compulsoriamente o devedor a realizar uma prestação que se obrigou, já que a nossa ordem jurídica repudia o emprego de força física para isso. Portanto, em primeiro lugar precisamos saber se o devedor agiu com culpa. Nos termos do art. 248, CC, se não houver culpa (força maior ou caso fortuito) resolve-se a obrigação sem indenização. Ex.: cantor que ficou afônico, mercadoria que deveria ser entregue não é mais achada no mercado, etc. Repõem-se as partes no estado anterior da obrigação. Por outro lado, se o próprio devedor criou a impossibilidade, ele responderá por perdas e danos. A recusa voluntária induz culpa do devedor. Mas e a obrigação em si? Ela será cumprida? Resposta: depende se esta obrigação de fazer é fungível ou infungível. Vejamos. Espécies: Obrigação de fazer fungível: fungível quer dizer que embora o devedor se obrigue, admite-se que a prestação seja realizada pelo devedor ou por uma terceira pessoa, sem prejuízo para o credor; não se exige uma capacidade especial para tanto. Ex.: obrigação de pintar um muro – em tese qualquer pessoa pode pintar um muro, por isso é uma obrigação fungível. Se houver recusa ou mora (que é o atraso, a demora) no cumprimento da obrigação, sem prejuízo da cabível ação de indenização por perdas e danos, o credor pode mandar executar o serviço à custa do devedor. O credor está interessado no resultado da atividade do devedor, não exigindo habilidades especiais deste para realizar o serviço. Trata-se da aplicação do art. 249, CC e dos arts. 633 e 634 do Código de Processo Civil. Obrigação de fazer infungível (personalíssima ou intuitu personae): a prestação só pode ser executada pelo próprio devedor ante a sua natureza (aptidões ou qualidades especiais do devedor) ou disposição contratual; não há a possibilidade de substituição da pessoa que irá cumprir a obrigação, pois esta, contratualmente falando, é insubstituível. Exemplo: contrato um artista famoso para pintar um quadro (ou para restaurar uma famosa obra de altíssimo valor artístico); ou uma banda famosa para dar um show; ou um cirurgião especialista para realizar uma operação, etc. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 12 A recusa ao cumprimento da obrigação resolve-se, tradicionalmente, em perdas e danos (art. 247, CC), pois não se pode constranger fisicamente o devedor a executá-la. No entanto, atualmente, admite-se a execução específica da obrigação. Isto é, pode ser imposta pelo Juiz (e somente pelo Juiz), uma multa periódica, chamada de astreinte(trata-se de mais uma expressão criada pela doutrina e que não está prevista no Código). Astreinte é uma expressão francesa. Deriva do latim astringere ou ad stringere, que significa compelir, sujeitar, obrigar. Trata-se de uma coerção em sentido econômico para que alguém cumpra determinada obrigação imposta em uma decisão judicial. Em outras palavras, trata-se da multa judicial, geralmente diária (também chamada de multa cominatória). Lembrando que este é um tema do Direito Processual Civil e não do Direito Civil, propriamente dito. Mas como já vi cair em concursos e sempre alguém me pergunta algo sobre ele, vamos falar um pouquinho dele. Podemos conceituá-lo como sendo uma penalidade imposta ao devedor, mediante ação judicial (daí ser processual civil), consistente em uma prestação periódica, que vai sendo acrescida enquanto a obrigação não é cumprida, ainda que não haja no contrato a cláusula penal (ou seja, a multa contratual). Está previsto no art. 461 e seu §4° do CPC (vejam também os arts. 287, 644 e 645 do CPC). Exemplo: “A” deseja que alguém faça um determinado serviço (pintar um quadro). “B”, apesar de aceitar a obrigação, não faz o que deveria fazer. “A” ingressa com uma ação judicial em face desta pessoa. O Juiz concede um prazo razoável para o devedor cumpra a obrigação. Não o fazendo deverá pagar multa diária até o seu cumprimento. Atualmente há a possibilidade do Juiz fixar astreinte na obrigação de fazer, não fazer e também na obrigação de dar coisa certa. Esta é uma conclusão retirada dos artigos 461-A e seu §3° e 621, parágrafo único, CPC em vigor. Tal regra, segundo a melhor doutrina, não vale para a obrigação de dar coisa incerta, para a obrigação de pagar quantia em dinheiro e para a obrigação de restituir dívida em dinheiro. Isso por falta de previsão legal. O inadimplemento de emitir declaração de vontade no caso de um compromisso de compra e venda dá ensejo à propositura de ação de adjudicação compulsória. A expressão adjudicação provém do vocábulo latino adjucare, que significa transferir algo do patrimônio do devedor para o do credor por meio de uma sentença. A decisão judicial supre a vontade da parte inadimplente, tendo o mesmo efeito da declaração omitida, satisfazendo- se, assim, a obrigação de fazer. Exemplo clássico: Comprei a casa de Alfredo. Assinamos um compromisso de compra e venda onde eu me comprometi a pagar a importância em 10 prestações. Cumpri minha parte no acordo. Agora precisamos ir ao Cartório de Notas para lavrar a escritura. Porém Alfredo sempre alega uma “desculpa” para não realizar tal ato... Um dia, perco a paciência com a situação e ingresso com uma ação de obrigação de fazer: exijo que Alfredo vá ao Tabelionato para lavrar a escritura e peço astreinte do caso de não cumprimento. No caso de Alfredo continuar se recusando o Juiz, além de condená-lo (inclusive com astreintes), ainda pode dar uma ordem ao cartório, suprindo a vontade de Alfredo e possibilitando a confecção do registro do imóvel para fins de transmissão da propriedade. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 13 Resumindo: inadimplemento da obrigação de fazer A) Sem culpa do devedor →→→→ extinção da obrigação sem qualquer indenização; volta-se tudo ao estado anterior (devolve-se a importância recebida). B) Com culpa do devedor: 1) Prestação fungível →→→→ credor manda a obrigação ser realizada por terceiro e executa o devedor inicial, ressarcindo-se pelas despesas no cumprimento da obrigação, mais perdas e danos. 2) Obrigação não fungível (ou infungível) a) Recusa induz culpa →→→→ Indenização por perdas e danos. b) Ação judicial requerendo o cumprimento da obrigação. Imposição de astreinte. Em algumas situações →→→→ adjudicação compulsória. Distinção: obrigação de dar X obrigação de fazer Enquanto na obrigação de dar o objeto da prestação é a entrega de uma coisa, na obrigação de fazer o objeto da prestação é um serviço (ex.: ministrar uma aula, fazer um show, construir um muro, etc.). Na obrigação de dar o devedor não precisa fazê-la previamente, enquanto na obrigação de fazer o devedor deve confeccionar a coisa para depois entregá-la. Além disso, na obrigação de dar, que requer a tradição, a prestação pode ser fornecida por terceiro, estranho aos interessados, enquanto na obrigação de fazer, em princípio, o credor pode exigir que a prestação seja realizada exclusivamente pelo devedor. Concluindo e perguntando: se eu quero comprar um quadro e encomendo a um artista, a obrigação será de fazer ou de dar? Resposta: depende... se o quadro já estiver pronto a obrigação será de dar; se o artista ainda for confeccionar o quadro a obrigação será de fazer. III. OBRIGAÇÃO NEGATIVA DE NÃO FAZER Obrigação de não fazer (arts. 250/251, CC) é aquela pela qual o devedor se compromete a não praticar certo ato que até poderia livremente praticar se não houvesse se obrigado. Seu conteúdo é uma omissão ou abstenção, um ato negativo. Ex.: proprietário se obriga a não construir um muro acima de certa altura para não obstruir a visão do vizinho; inquilino se obriga a não trazer animais domésticos para o cômodo alugado, um comerciante se obriga a não se estabelecer em determinado bairro para não fazer concorrência a outro estabelecimento, etc. Estas obrigações podem ser bem variadas, mas é evidente que as imorais e antissociais, ou as que sacrifiquem a liberdade das pessoas são proibidas. Além disso, pode haver um limite temporal para a obrigação, ou seja, a obrigação de não fazer pode ser temporária (ex.: contrato de exclusividade por um ano, cláusula que obriga o empregado demitido não trabalhe em empresa concorrente por dois anos, etc.). Se a pessoa praticar o ato que se obrigou a não praticar, ela se tornará inadimplente e o credor poderá exigir o desfazimento do que foi realizado. Entretanto há casos em que somente resta o caminho da indenização. Ex.: DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 14 pessoa se obriga a não revelar um segredo industrial. A obrigação de não fazer é sempre uma obrigação pessoal, devendo ser cumprida pelo próprio devedor (personalíssima e indivisível). Por isso se “A” se comprometer a não elevar o muro a certa altura e depois de algum tempo ele vender a propriedade, quem comprou não terá essa obrigação (a menos que se faça um novo contrato). Lembrando que o direito das obrigações vincula as pessoas entre si... A saída então é fazer uma servidão predial (direito das coisas). Neste caso todos os futuros proprietários estarão vinculados. Isto porque o direito das coisas vincula a pessoa à coisa (observem como o Direito das Coisas é “mais forte” que o Direito Obrigacional). E só para completar: e se a Prefeitura obrigar José a aumentar o muro por uma questão de urbanismo ou segurança? Neste caso o muro deve ser erguido e a outra parte nada poderá fazer (o Direito Público predomina sobre o Direito Privado; é o chamado “Fato do Príncipe”, em alusão aos monarcas que governavam os países na Europa medieval). ����Observação. Sempre que houver urgência na obrigação de fazer (art. 249, parágrafo único, CC) ou na de não fazer (art. 251, parágrafo único, CC) credor pode mandar fazer ou desfazer independentemente de autorização judicial e sem prejuízo de posterior ressarcimento. Resumindo: descumprimento da obrigação de não fazer 1) Sem culpa (impossibilidade da abstenção do fato sem culpa do devedor: alteração de uma lei) → exoneração do devedor. 2) Com culpa (inexecução culposa do devedor) → a) se for impossível o desfazimento posterior do ato → reparação do prejuízo (perdas e danos);b) se for possível o desfazimento do ato → credor pode exigir o desfazimento do ato à custa do devedor, acrescentando-se eventuais perdas e danos ou simplesmente exigir as perdas e danos (não há mais interesse na obrigação de não fazer). OBRIGAÇÕES QUANTO A SEUS ELEMENTOS A) OBRIGAÇÕES SIMPLES (ou singulares). São as que se apresentam com um sujeito ativo, um sujeito passivo e um único objeto, destinando-se a produzir um único efeito. B) OBRIGAÇÕES COMPOSTAS (complexas ou plurais). São as que apresentam uma pluralidade de objetos (obrigações cumulativas ou alternativas) ou uma pluralidade de sujeitos (obrigações solidárias: ativa ou passiva). Vejamos cada uma delas. 1) OBRIGAÇÕES CUMULATIVAS (ou conjuntivas) São as compostas pela multiplicidade de prestações. O devedor deve entregar dois ou mais objetos, decorrentes da mesma causa ou do mesmo título (ex.: obrigação de dar um carro e um apartamento) devidamente especificado. O inadimplemento de uma das prestações envolve o descumprimento total da obrigação; o devedor só se desonera cumprindo todas as prestações integralmente. Dependendo de ajuste prévio entre as DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 15 partes, o pagamento pode ser simultâneo (tudo de uma vez) ou sucessivo. Mas o credor não é obrigado a receber, nem o devedor a pagar por partes, se assim não se ajustou. Recordando as aulas que tive de português: o “e”, neste caso, funciona como uma conjunção coordenativa sindética aditiva (lembram- se?). 2) OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS (ou disjuntivas – arts. 252/256, CC) Também são compostas pela multiplicidade de prestações heterogêneas, porém estas estão ligadas pela disjuntiva “ou”. Obrigação alternativa é a que compreende dois ou mais objetos e extingue-se com a prestação de apenas um, ou seja, existe obrigação alternativa quando se devem várias prestações, mas, por convenção das partes, somente uma delas será cumprida como pagamento. O devedor se desonera com o cumprimento de qualquer uma delas. Ex.: obrigo-me a entregar um touro ou dois cavalos; vendo a casa por cem mil ou troco por dois terrenos na praia. Essa alternativa pode estabelecer-se entre duas ou mais coisas, entre dois ou mais fatos, ou até entre uma coisa e um fato (ex.: a obrigação assumida pela seguradora de, em caso de sinistro, dar outro carro ao segurado ou mandar reparar o veículo danificado, como este preferir). Nas obrigações alternativas, a escolha, em regra, pertence ao devedor, se o contrário não for estipulado no contrato (pode ser do credor, de um terceiro ou até mesmo escolhido por sorteio). Comunicada a escolha, não se pode mais modificar o objeto. O direito de opção transmite-se aos herdeiros, quer pertença ao devedor, quer ao credor. Estabelece o art. 252, §1°, CC a indivisibilidade do pagamento, ou seja, “não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra”. Sua opção deve ser total em relação a uma ou em relação a outra. Mas há uma exceção (art. 252, §2°, CC): quando se tratar de prestações periódicas nas quais se admite a renovação da opção a cada período (ex.: entrega mensal alternativa de determinados alimentos ou de certa quantidade em dinheiro). Feita a escolha, dá-se a concentração, ficando determinado, de modo definitivo e sem possibilidade de retratação unilateral, o objeto da obrigação (exceto se o contrato contiver alguma cláusula de arrependimento). A partir daí o devedor somente se libera da obrigação prestando a coisa devida, pois o objeto, inicialmente plúrimo e indeterminado, se torna individualizado e certo, sendo que o credor não pode ser obrigado a receber coisa diversa (art. 313, CC). Com a escolha as prestações reduzem-se a uma só, e a obrigação se torna simples, onde só será devido o objeto escolhido, como se fosse ele o único, desde o nascimento da obrigação. Não se exige forma especial para a comunicação da escolha, bastando a declaração unilateral da vontade, sem necessidade de aceitação. Observação: segundo a doutrina majoritária, não se aplica o princípio do meio termo ou da qualidade média nas obrigações alternativas. Isso só tem aplicação na obrigação de dar coisa incerta. Se uma das prestações não puder ser objeto de obrigação, ou se tornar inexequível, subsistirá o débito quanto à outra. Ex.: devo entregar um touro ou quatro cavalos; o touro morreu sem culpa das partes; deve-se então cumprir a DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 16 obrigação que restou: a entrega dos cavalos. Se a impossibilidade for de todas as prestações (sem que haja culpa do devedor), resolve-se (extingue-se) a obrigação, sem que haja o dever de indenização. E se houver culpa do devedor? Neste caso, depende: Se a escolha cabia ao devedor, ficará ele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou (mais perdas e danos). Mas se a escolha pertencia ao credor, pode ele (credor) exigir o valor de qualquer das prestações (mais perdas e danos). Não confundir com a obrigação de dar coisa incerta (nesta também há escolha), pois na alternativa há pelo menos dois objetos. Resumindo a responsabilidade nas obrigações alternativas Perecimento de uma das obrigações 1) Escolha do devedor: havendo ou não culpa do devedor, subsiste o débito quanto à outra obrigação. 2) Escolha do credor: a) não havendo culpa do devedor, subsiste o débito quanto à outra obrigação; b) havendo culpa do devedor o credor pode optar pela prestação subsistente ou o valor da que pereceu mais perdas e danos. Perecimento das duas obrigações 1) Escolha do devedor: a) não havendo culpa do devedor, extingue-se a obrigação; b) havendo culpa do devedor, há indenização pelo valor da que se impossibilitou por último, mais perdas e danos. 2) Escolha do credor: a) não havendo culpa do devedor extingue-se a obrigação; b) havendo culpa do devedor há indenização pelo valor de qualquer uma das obrigações, mais perdas e danos. 3) OBRIGAÇÕES FACULTATIVAS: São variantes das obrigações alternativas, aceitas pela doutrina, mas não previstas em lei. A obrigação inicialmente é simples (há apenas uma prestação), mas há a possibilidade do devedor se exonerar da obrigação substituindo a prestação. Ex.: quem encontra coisa perdida deve restituí-la ao dono, sendo que este fica obrigado a recompensar quem a encontrou. No entanto o dono pode, ao invés de pagar a recompensa, simplesmente abandonar a coisa, e aí quem encontrou a coisa poderá ficar com ela. Pagar a recompensa é a prestação principal do devedor; o abandono da coisa é prestação facultativa do dono. O abandono não é obrigação, mas uma faculdade do dono. Outro exemplo: agência de viagens que oferece determinado brinde (ex.: uma camiseta), mas ela mesma se reserva no direito de substituí-lo por outro (ex.: um boné). Na obrigação facultativa (ao contrário da alternativa) o credor não tem opção; ele só pode exigir a prestação principal. É o devedor que pode optar pela prestação facultativa. Podemos concluir que a obrigação facultativa é: alternativa para o devedor e simples para o credor (pois este só pode exigir o objeto principal). Diferença entre a obrigação alternativa e facultativa: na alternativa temos uma pluralidade de objetos e a obrigação se extingue com o cumprimento de um deles (todos são devidos até o cumprimento de um deles); na facultativa há apenas um objeto e o devedor pode se exonerar da DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 17 obrigação cumprindo outra prestação.A doutrina acrescenta afirmando que na facultativa se o único objeto da obrigação perecer, sem culpa do devedor, resolve-se o vínculo obrigacional, ficando o devedor inteiramente desonerado, não podendo o credor exigir a prestação acessória. 4) OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS (arts. 264 a 285, CC) Ocorre quando, em decorrência da mesma relação jurídica, há pluralidade de credores ou devedores (ou de ambos), sendo que eles têm direitos e/ou obrigações pelo total da dívida. Havendo vários devedores cada um responde pela dívida inteira, como se fosse um único devedor. O credor pode escolher qualquer um e exigir a dívida toda. Mas se houver vários credores, qualquer um deles pode exigir a prestação integral, como se fosse único credor (art. 264, CC). Características: a) unidade de prestação: qualquer que seja o número de devedores e/ou credores o débito/crédito é sempre único; além disso, o contrato é um só para todos; b) pluralidade de sujeitos (ativos e/ou passivo); c) multiplicidade de vínculos; d) corresponsabilidade dos interessados. Obrigações in solidum A doutrina diferencia a obrigação solidária da obrigação in solidum. Nesta, embora haja uma pluralidade de devedores pela totalidade da dívida e os mesmos estejam vinculados pelo mesmo fato, não há solidariedade entre os devedores, pois os liames que os unem com o credor são independentes. Exemplo clássico: digamos que “A” causou um incêndio na fábrica “B”, sendo que esta fábrica possuía seguro contra incêndio. Observem que o fato é o mesmo (incêndio). Observem que dois são os devedores pelo valor da indenização: o causador do incêndio e a empresa seguradora. Assim, a vítima do incêndio pode pleitear a indenização de qualquer um deles e o pagamento efetuado por um libera o outro devedor. No entanto os liames destes devedores para com o credor são diferentes; não há uma causa comum na obrigação. A obrigação da seguradora é contratual (valor até o limite do contrato) e a do terceiro é extracontratual (valor total do prejuízo mais perdas e danos), decorrente de ato ilícito (art. 186 e 927, CC). Portanto, não há solidariedade entre os devedores. Espécies de obrigações solidárias: • Solidariedade Ativa: pluralidade de credores. Ex.: na conta bancária “e/ou” qualquer correntista é credor solidário dos valores depositados e pode exigir do banco a entrega de todo o numerário. Outro exemplo: mandato outorgado a vários advogados, sendo que qualquer um deles poderá exigir os honorários integralmente do cliente. Observem também o art. 2° da lei de locações (Lei n° 8.245/91): havendo mais de um locador ou mais de um locatário entende-se que são solidários se o contrário não se estipulou. • Solidariedade Passiva: pluralidade de devedores. Ex.: o credor pode demandar tanto o devedor principal, como o seu avalista, pois ambos são devedores solidários. Exemplo de solidariedade passiva decorrente de lei: DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 18 art. 585, CC: “Se duas ou mais pessoas forem simultaneamente comodatárias de uma coisa, ficarão solidariamente responsáveis para com o comodante”. • Solidariedade Mista (ou recíproca): neste caso há uma pluralidade de devedores e de credores na mesma obrigação. ����Regra básica: “A solidariedade não se presume, resultando da lei ou da vontade das partes” (art. 265, CC). SOLIDARIEDADE ATIVA • É aquela em que qualquer um dos credores pode exigir a prestação por inteiro (art. 267, CC). É o que chamamos de “direito individual de persecução”. Ou seja, o devedor não pode pretender pagar a dívida ao credor demandante de forma parcial (apenas a sua quota-parte), sob a alegação de que deveria ratear a quantia entre os demais credores. Ele deve pagar tudo a quem lhe exigir a prestação, não porque o objeto é indivisível, mas porque assim foi pactuado. • Cada um dos credores poderá promover medidas assecuratórias do direito do crédito e constituir o devedor em mora, sem o concurso dos demais credores. • Qualquer um dos credores poderá ingressar em juízo visando à satisfação patrimonial; mas só poderá executar a sentença o próprio credor- autor, e não outro estranho à lide inicial. Ex.: “A” é devedor de “B”, “C” e “D”. Somente este último ingressa com ação contra “A” e ganha. Consequentemente, somente “D” poderá executar a sentença que lhe foi favorável. • Se um dos credores se tornar incapaz, este fato não influenciará a solidariedade pactuada. • Enquanto não for demandado por algum dos credores, o devedor pode escolher um dos credores e pagar a dívida a qualquer um deles (art. 268, CC). O pagamento total do débito a um dos credores extingue inteiramente a dívida (art. 269, CC). O mesmo ocorre no caso de novação, compensação e remissão. Ex.: “A”, deve a “B”, “C” e “D” (credores solidários). Se “D” acionar “A”, este deverá pagar tudo ao primeiro, que receberá o valor em nome de todos os credores. Caso ninguém acione “A”, ele pode escolher qualquer um dos credores e efetuar o pagamento integral ao mesmo, extinguindo a obrigação. • A conversão da prestação em perdas e danos não extingue a solidariedade; ela continua existindo para todos os efeitos (art. 271, CC). Os juros de mora revertem em proveito de todos os credores. • Perdão: o credor que tiver remitido (perdoado) a dívida ou recebido o pagamento responde aos outros pela parte que lhes caiba (art. 272, CC). Ex.: se “B” perdoou “A” por toda a dívida, este estará desobrigado do pagamento. No entanto “B” responderá perante “C” e “D” a quota-parte DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 19 destes. Se o perdão foi somente da quota-parte de “B”, “A” continua devedor dos demais pelo restante do crédito. • O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais. No entanto o julgamento favorável aproveita a todos, exceto se baseado em exceção pessoal ao credor que o obteve (art. 274, CC). Isto quer dizer que se uma ação entre um dos credores solidários e o devedor for julgado procedente, esta decisão é extensível aos demais credores (isto porque satisfaz o interesse dos demais credores solidários, sem causar prejuízo injustificado ao devedor, pois ele teve oportunidade de se defender no primeiro processo); no entanto se este credor perdeu a demanda esta decisão não é extensiva aos demais credores solidários (evitando-se, assim, que estes sejam afetados pela inépcia ou pouca diligência do credor acionante na condução do processo ou mesmo evitando-se um possível conluio do credor perdedor da ação e o devedor). • Não importará renuncia à solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores (art. 275, parágrafo único, CC). Extinção da solidariedade ativa • Se os credores desistirem da solidariedade, pactuando que o pagamento da dívida será pro rata (ou seja, por rateio), cada credor será responsável apenas por sua quota. • Se um dos credores falecer seu crédito passará a seus herdeiros sem a solidariedade, salvo se a prestação for indivisível. “A”, “B” e “C” são credores solidários. “C” faleceu deixando três herdeiros. Cada um desses herdeiros só terá direito de receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível (como no caso da entrega de um cavalo). SOLIDARIEDADE PASSIVA • É aquela em que se obrigam todos os devedores ao pagamento total da dívida. Isso reforça o vínculo e facilita o cumprimento da obrigação, pois o credor pode escolher qualquer devedor para cumprir a prestação. Ele pode exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmenteo valor da dívida comum; se o pagamento for parcial, mantém- se a solidariedade passiva quanto ao remanescente (art. 275, CC). • Propondo a ação contra apenas um dos devedores, o credor não fica inibido de acionar também os outros. Ou seja, não há a presunção de que renunciou em relação aos demais devedores (art. 275, parágrafo único, CC). • Morrendo um dos devedores solidários, a dívida se transmite aos seus herdeiros, mas cada herdeiro só responde por sua quota da dívida, salvo se indivisível a obrigação. Neste caso, todos os herdeiros reunidos são considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores (art. 276, CC). Ex.: “A” é credor de $600 de “B”, “C” e “D”, que são devedores solidários. “D” faleceu deixando dois filhos (“E” e “F”). A solidariedade não se rompe totalmente; ela continua em relação a “B” e “C” DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 20 pelo valor total da dívida. Mas... e os filhos de “D”? Continuam devedores solidários? Resposta: como neste caso o objeto da prestação é divisível (dinheiro), extingue-se a solidariedade e cada devedor-herdeiro responderá somente com a sua parte (como a quota de “D” era de $200, “E” e “F” ficarão obrigados apenas por $100 cada um). No entanto, se o objeto, ao invés de dinheiro, for um bem indivisível (ex.: um touro reprodutor, uma casa) a solidariedade permanece. Não pela solidariedade propriamente dita, mas pela indivisibilidade da coisa. No entanto a responsabilidade dos herdeiros reunidos não poderá ser superior às forças do acervo hereditário. • O pagamento parcial feito por um devedor só aproveita aos demais devedores pelo valor pago ou relevado (art. 275, CC). Ou seja, os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto. • O perdão concedido a um dos coobrigados extingue a dívida na parte a ele correspondente (art. 277, CC). • Nenhuma cláusula estipulada entre um devedor e o credor pode agravar a situação dos demais devedores, sem o consentimento deles (art. 278, CC). Ex.: “A” é credor de “B”, “C” e “D”. “B” renegocia a dívida com “A”. Se esta renegociação for realizada sem a anuência dos demais devedores e os prejudicar, não valerá para eles. • Impossibilitando-se a prestação: a) sem culpa dos devedores →→→→ extingue a obrigação; b) por culpa de um devedor →→→→ a solidariedade continua para todos; todos os devedores continuam com a obrigação e responderão pelo equivalente em dinheiro; mas só o devedor culpado responderá pelas perdas e danos (art. 279, CC). • Todos os devedores respondem pelos juros de mora, ainda que a ação tenha sido proposta contra um, mas o culpado responde aos outros pelo acréscimo (art. 280, CC). • O devedor demandado pode opor as exceções (formas de defesa) pessoais e as comuns a todos; porém não pode opor as pessoais de outro devedor (art. 281, CC). Ex.: “A” e “B” devem para “C”. No entanto “C” também deve para “B”. Por este dispositivo, somente “B” pode alegar a compensação, pois esta é considerada como uma "exceção pessoal". Continuando: “B” não pode alegar a eventual compensação entre “A” (o outro devedor) e “C”, pois esta é uma exceção pessoal de “A” e não de outro devedor. • Se o credor renunciar à solidariedade em favor de um ou de alguns devedores, só poderá acionar os demais abatendo o valor do débito a parte ou àqueles correspondentes, entretanto, se um dos coobrigados for insolvente, o rateio da obrigação atingirá também o exonerado da solidariedade (art. 282, parágrafo único, CC). Ex.: “A” é credor de “W”, “X”, “Y”, “Z”, no valor de 200 (50 cada devedor) sendo que ele renuncia à solidariedade em relação a “W”. Neste caso “A” somente pode demandar “X”, “Y” e “Z” solidariamente por 150. “A” continua credor de “W” no valor de 50. Mas sem a solidariedade. Observem que houve renúncia DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 21 somente em relação à solidariedade. E não renúncia (ou perdão) da divida. • O devedor que paga toda a dívida tem o direito de regresso, isto é, pode exigir a quota dos demais devedores, rateando-se entre todos o quinhão do insolvente, se houver; presumem-se iguais as partes de cada devedor; essa presunção admite prova em contrário (juris tantum - art. 283, CC). • Se a dívida interessa apenas a um dos devedores, responde este perante o qual a paga. Ex.: avalista que paga uma nota promissória; como garantidor da obrigação, ele deve ser reembolsado pelo total pago; neste caso não se fala em quotas (art. 285, CC). Extinção da solidariedade passiva • Morrendo um dos codevedores, desaparece a solidariedade em relação a seus herdeiros, embora continue a existir quanto aos demais coobrigados. • Renúncia total do credor. Observações 01) A obrigação de pagar alimentos geralmente é conjunta, mas existe previsão de solidariedade passiva no estatuto do idoso, ou seja, o idoso poderá escolher o parente que lhe pagará os alimentos. 02) Se um devedor solidário for demandado sozinho em um processo de conhecimento, não poderá se eximir de pagar a dívida que está sendo cobrada. No entanto ele poderá trazer os demais devedores a este processo, utilizando- se do instituto conhecido como “chamamento ao processo”. Trata-se de um incidente processual pelo qual o devedor demandado chama, para integrar o mesmo processo, os demais coobrigados pela dívida, de modo a fazê-los também responsáveis pelo resultado do feito. É uma forma de intervenção de terceiros em um processo a fim de que a sentença disponha sobre a responsabilidade de todos os envolvidos. Assim, o devedor já obtém sentença que pode ser executada contra os demais codevedores. Esse instituto (chamamento ao processo) é matéria de Direito Processual Civil (art. 77, CPC). OUTRAS IMPORTANTES MODALIDADES DE OBRIGAÇÃO A) Obrigações quanto ao Conteúdo (de resultado, meio ou garantia). 1) Obrigações de Resultado (ou de fim): quando só se consideram cumpridas com a obtenção de um resultado preestabelecido, geralmente oferecido pelo próprio devedor. Ex.: contrato de transporte (levar o passageiro a seu destino são e salvo); a doutrina costuma também citar o exemplo do médico especialista em “cirurgia plástica-estética”. Na obrigação de resultado o devedor responde independentemente de culpa (há, portanto, responsabilidade objetiva). Ou seja, o credor deve apenas provar que o resultado não foi atingido. Porém, é possível a demonstração de que o resultado não foi alcançado por fator alheio à atuação do devedor (ex.: caso fortuito, força maior, culpa exclusiva do credor, etc.), o que excluiria sua responsabilidade. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 22 2) Obrigações de Meio (ou de diligência): quando o devedor só é obrigado a empenhar-se para conseguir o resultado, mesmo que este não seja alcançado. Ex.: o advogado em relação ao cliente; ele não se obriga a vencer a causa, mas trabalhar com empenho para ganhá-la. Se o resultado visado não for alcançado só poderá ser considerado o inadimplemento do devedor se se provar a sua falta de diligência. Assim, a culpa não pode ser presumida; o credor deve prová-la (responsabilidade subjetiva). O mesmo ocorre com um médico para salvar a vida de um paciente. Observação: Segundo jurisprudência do STJ e da doutrina deve-se distinguir a cirurgia plástica em: a) puramente estética (resultado); b) estética reparadora (meio). Na cirurgia plástica puramente estética a sua finalidade é a de promover o embelezamento da pessoa, não tendo qualquerligação com o funcionamento de determinado órgão ou parte do corpo humano (obrigação de resultado). Já na cirurgia plástica estética reparadora (de reconstrução estética, restauração e complementar, destinando-se a sanar defeito congênito) a finalidade principal é com relação à funcionalidade de determinado órgão ou parte do corpo (obrigação de meio), assumindo o fator beleza um caráter secundário. Exemplo: o implante de prótese “seio de silicone”, não havendo qualquer anomalia na mama é hipótese de cirurgia plástica puramente estética; já a implantação de seios de silicone em decorrência de mastectomia (remoção completa da mama para tratamento de câncer) é hipótese de cirurgia estética reparadora (obrigação de meio). 3) Obrigações de Garantia: são as que visam eliminar um risco que pesa sobre o credor ou as suas consequências; seu objetivo é a estipulação de uma garantia pessoal em um contrato, propiciando maior segurança ao credor. Ex.: fiança no contrato de locação; contrato de seguro, etc. B) Obrigações quanto à Divisibilidade 1) Obrigações Divisíveis (art. 257, CC): são as que comportam fracionamento, quer quanto à prestação, quer quanto ao próprio objeto sem prejuízo de sua substância ou de seu valor.  obrigação pode ser cumprida parcialmente sem prejuízo de sua substância e de seu valor. Ex.: devo R$ 12.000, sendo que a dívida pode ser parcelada em 12 parcelas de R$1.000,00. Havendo pluralidade de credores ou devedores será feito um rateio (ou concurso) entre eles (“as partes se satisfazem pelo concurso”). A obrigação presume-se dividida em tantas partes iguais e distintas, quantos forem os credores ou devedores. Ex.: devo R$ 12.000,00 a “A”, “B” e “C”. Sendo a obrigação divisível presume-se que estou devendo R$ 4.000,00 a cada um dos credores. 2) Obrigações Indivisíveis (art. 258 CC): são aquelas cuja a prestação só pode ser cumprida por inteiro (prestação é única), não admitindo sua cisão em várias prestações; ainda que o objeto seja divisível (ex.: dinheiro) não pode o credor ser obrigado a receber em partes, se assim não se ajustou. Espécies: a) convencional (ex.: pactuado pelas partes: pagamento à vista); b) natureza da obrigação (ex.: entregar um cavalo, um touro); c) legal (ex.: dívidas de alimentos). DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 23 Regras aplicáveis às obrigações indivisíveis: • Havendo dois ou mais devedores cada um será obrigado pela dívida toda. O devedor que paga a dívida inteira sub-roga-se no direito do credor, havendo ação de regresso em relação aos demais coobrigados (art. 259, CC). • Havendo pluralidade de credores, o devedor (ou devedores) somente se desobrigará pagando a todos conjuntamente ou a um dos credores, dando este caução (garantia) de ratificação dos outros credores (art. 260, CC). • Caso somente um dos credores receba toda a dívida, os demais poderão exigir deste a parte que lhes cabia em dinheiro (art. 261, CC). • No caso de remissão (perdão) por parte de um dos credores, a obrigação não ficará extinta em relação aos demais, que poderão exigir as suas quotas, descontada a parte remitida (art. 262, CC). Ex.: se Antônio deve um cavalo no valor de noventa mil a Bernardo, Carlos e Deodoro e este último perdoa a dívida, Antônio continuará obrigado a entregar o cavalo a Bernardo e Carlos. No entanto estes devem reembolsar Antônio na parte em Deodoro perdoou (trinta mil). • Se o objeto vier a perecer por culpa do devedor, a obrigação passa a ser de perdas e danos. Neste caso o objeto perde a indivisibilidade e passa a ser divisível, pois o objeto primitivo (indivisível) será substituído pelo equivalente em dinheiro, mais perdas e danos (que é divisível). Se houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais; se a culpa for só de um, somente este responderá pelas perdas e danos (art. 263, CC). • As obrigações de dar e fazer podem ser divisíveis ou indivisíveis. Já as de não fazer somente podem ser indivisíveis. Exemplo Clássico. Imaginem que “A” e “B” se obrigam a entregar a “C” um touro reprodutor, premiado em exposições. Esta é uma obrigação divisível ou indivisível? É indivisível, claro! Pois um touro reprodutor não pode ser dividido, dada a sua natureza. E a obrigação de entregar o touro é solidária? Como vimos anteriormente a solidariedade não se presume! Ela deve estar expressa na lei ou no contrato (vontade das partes). Como a pergunta nada menciona sobre a solidariedade, devemos entender que a obrigação é apenas indivisível (e não solidária). Desta forma, se o examinador deseja perguntar algo sobre a solidariedade, deve deixar isto bem claro na questão. E se o touro morrer antes da entrega, por culpa do devedor? Como vimos, a obrigação de entregar o touro que morreu será substituída pela indenização (dinheiro, que é divisível) e por tal motivo a obrigação passará a ser divisível. Solidariedade X Indivisibilidade a) A solidariedade está baseada em relação jurídica subjetiva (diz respeito aos sujeitos da relação obrigacional) resultante da lei ou da vontade das partes, trazendo maior garantia ao credor Já a indivisibilidade está baseada em relação jurídica objetiva (diz respeito ao objeto da relação jurídica), em razão da natureza indivisível da prestação. DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 24 b) Se ocorrer a conversão em dinheiro na obrigação indivisível, esta deixa de existir (a obrigação se torna divisível). Se ocorrer a conversão na solidariedade, esta continua a existir. Comparem seguintes artigos do Código: a) art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos; b) art. 271. Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade. Ex.: eu deveria entregar um touro a dois credores, mas o mesmo morreu. Se a obrigação for apenas indivisível transformo o valor do touro em dinheiro e divido pelos dois credores: agora ficarei devendo metade do valor do touro para cada um dos credores. No entanto se foi pactuada a solidariedade, mesmo havendo a conversão em dinheiro, a solidariedade permanece: continuo devendo o valor integral do touro a ambos os credores. Isso porque como dissemos anteriormente, a solidariedade recai sobre as pessoas e não sobre o objeto. c) No caso da indivisibilidade as perdas e danos só podem ser exigidas do culpado pelo perecimento do objeto (arts. 263, §2°, CC). Já na solidariedade a prestação e as perdas e danos podem ser exigidas de qualquer um dos codevedores, mas quem pagou tem ação de regresso contra os demais, acrescido, contra o culpado das perdas e danos (arts. 271 e 279, CC). d) A solidariedade cessa com a morte, não se transmitindo aos sucessores; já a obrigação indivisível se transmite aos sucessores tal como pactuada (ou seja, a obrigação, mesmo com a morte de um dos contratantes, não se desnatura; continua sendo indivisível). OUTRAS CLASSIFICAÇÕES A) QUANTO AOS ELEMENTOS ACIDENTAIS 1) Obrigações Puras e Simples: são as que não estão sujeitas a nenhum elemento acidental, como a condição, o termo ou o encargo. O credor pode exigir o cumprimento da prestação de imediato. 2) Obrigações Condicionais: são as que contêm cláusula que subordina seu efeito a evento futuro e incerto (ex.: eu lhe darei um carro se você entrar em uma universidade pública). Podem ser suspensivas (há uma expectativa de direito) ou resolutivas (perdem a eficácia quando implementada a condição). 3) Obrigações a Termo (obrigações à prazo): são aquelas que contêm cláusula que subordina seu efeito a evento futuro e certo (ex.:eu lhe darei um carro no fim deste ano). Se o devedor cumprir a obrigação de forma antecipada não terá direito de pedir a prestação de volta. O termo não suspende a aquisição do direito, apenas adia seu exercício. 4) Obrigações Modais: são as oneradas de um encargo, um ônus à pessoa contemplada pela relação jurídica (ex.: dou-lhe dois terrenos, mas em um deles deve ser construída uma escola). DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 25 B) QUANTO À AUTONOMIA DE EXISTÊNCIA (INDEPENDÊNCIA) 1) Obrigações Principais: são as que independem de qualquer outra para ter validade (ex.: compra e venda, locação, etc.); são dotadas de vida própria e autônoma. 2) Obrigações Acessórias: são as que têm sua existência subordinada a outra relação jurídica (ex.: a fiança é uma obrigação acessória em relação ao contrato de locação; da mesma forma a multa contratual é acessória em relação a uma obrigação qualquer, etc.). A extinção, ineficácia, nulidade ou prescrição da obrigação principal reflete-se na acessória. Lembre-se da regra segundo a qual o acessório segue a sorte do principal (princípio da gravitação jurídica). O inverso, porém, não é verdadeiro, pois se houver algum vício na obrigação acessória, em nada afetará a principal. C) QUANTO À LIQUIDEZ 1) Obrigações Líquidas: são aquelas certas quanto à existência e determinadas quanto ao objeto. Ex.: entregar uma casa; entregar R$1.000,00, etc. Nelas se acham especificadas, de modo expresso, a quantidade, a qualidade e a natureza do objeto devido. O inadimplemento de obrigação positiva e líquida constitui o devedor em mora de pleno direito se não for cumprida no prazo (falaremos da mora ainda nesta aula). 2) Obrigações Ilíquidas: são aquelas incertas quanto à sua quantidade; dependem de uma apuração prévia, posto que o montante da prestação ainda é indeterminado. O exemplo clássico deste tipo de obrigação é a sentença penal condenatória com trânsito em julgado (ou seja, a que não cabe mais nenhum recurso). Um Juiz criminal condenou uma pessoa pelo crime, digamos, de lesão corporal. A vítima deste crime, com base na sentença criminal que lhe foi favorável, já pode ingressar com uma ação cível de reparação de dano. Ocorre que ainda não existe um valor exato a ser cobrado. Assim, quando o montante da prestação for incerto ou indeterminado, não podendo ser expressa por um algarismo ou uma cifra, a obrigação é chamada de ilíquida. Para que a obrigação ilíquida seja cobrada, é necessário que antes seja tornada líquida (certa e determinada). Sem a liquidação o credor não terá como executar seu crédito. Para transformar uma obrigação ilíquida em líquida, mister se faz que haja uma apuração antecipada. Esta apuração realiza-se através de liquidação de sentença que fixa o respectivo valor, em moeda corrente, a ser pago ao credor. A liquidação das obrigações pode ser realizada por convenção das partes, por disposição legal ou de forma judicial (que é a mais comum na prática). D) QUANTO AO MOMENTO PARA O CUMPRIMENTO 1) Obrigações Instantâneas: são aquelas em que a contraprestação do devedor é simultânea à prestação do credor; elas são cumpridas de imediato. Ex.: compra e venda à vista. O comprador paga e o vendedor entrega a coisa de imediato. 2) Obrigações Fracionadas: quando o objeto do pagamento é fracionado em prestações. A obrigação de pagar o preço é uma só, mas a DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 26 execução de cada uma delas é feita ao longo do tempo (ex.: compro um terreno por 10 mil, pagando mil por mês, durante dez meses). 3) Obrigações Diferidas: quando a execução é realizada em um único ato, porém em momento posterior ao surgimento da obrigação (ex.: compra e venda com pagamento à vista, mas a entrega da coisa se dará em 30 dias). 4) Obrigações de Trato Sucessivo (periódicas ou de execução continuada): quando o cumprimento se dá por meio de subvenções periódicas (se protrai no tempo), resolvendo-se em intervalos de tempo (regulares ou não). Ex.: obrigação do inquilino em pagar aluguel; a do condômino em pagar as despesas condominiais. Quando uma parcela é paga a obrigação está quitada. Mas neste instante inicia-se a formação de outra prestação que deverá ser paga no fim do próximo período. OBSERVAÇÃO. Além de todas estas espécies de obrigações, a doutrina ainda acrescenta outras: Obrigações propter rem (em razão da coisa) ou ob rem (diante da coisa): são obrigações híbridas, ou seja, parte direito real, parte direito pessoal (alguns autores as chamam de reipersecutórias ou ambulatórias). Elas recaem sobre uma pessoa (daí ser um direito pessoal), mas por força de um direito real (como por exemplo, a propriedade). O devedor não se obriga por sua vontade, mas sim por ser proprietário do bem. Por isso dizemos que a obrigação segue a coisa (chamamos isso de direito de sequela). Os exemplos mais comuns em concurso são os das taxas de condomínio e do pagamento do IPTU. Dessa forma, quem adquire uma casa será responsável pelo IPTU, ainda que a dívida seja anterior à compra. Daí a importância do comprador em exigir do vendedor certidão atualizada negativa de ônus na Prefeitura e, se for um apartamento, também uma declaração do síndico do prédio que está em dia com as “taxas condominiais”. Se uma pessoa comprar um imóvel com o IPTU atrasado e algum tempo depois a Prefeitura acionar essa pessoa cobrando esse imposto, de nada adiantará a pessoa alegar que as dívidas são anteriores. Como se trata de uma obrigação propter rem, o atual proprietário irá responder por essa dívida perante a Prefeitura. A obrigação, nesses casos, acompanha a coisa, vinculando o atual dono, seja ele quem for. No entanto, é certo que neste caso caberá ação regressiva do adquirente contra o antigo proprietário. Outros exemplos: obrigação de um proprietário de não prejudicar a segurança, sossego e saúde dos vizinhos; a do condômino de contribuir para a conservação da coisa comum ou de não alterar a fachada externa do edifício; adquirente de imóvel hipotecado de pagar o débito que o onera, a obrigação de se pagar as despesas para construção de muros, cercas e tapumes divisórios (art. 1.297, §1°, CC), etc. Obrigações Naturais (também chamadas de imperfeitas ou incompletas): tanto a obrigação civil como a obrigação natural tratam de uma relação de débito e crédito, que vincula objeto e sujeitos determinados. Ocorre que a obrigação natural distingue-se da obrigação civil porque ela não é dotada de exigibilidade jurídica, uma vez que o DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 27 credor não possui instrumento judicial para exigir a prestação do devedor. Trata-se de uma obrigação incompleta: há credor, devedor e objeto (a dívida existe), mas falta ao credor a garantia jurídica por meio da qual o devedor seria obrigado a pagar. O devedor só paga se quiser, pois não há um direito de ação protegendo o credor. Os exemplos clássicos são as dívidas prescritas e as dívidas resultantes de jogo e apostas (arts. 814 e 815, CC). “A” e “B” fazem apostas em jogo de cartas. “A” ganhou. “B” perdeu e não quer pagar a dívida. “A” não tem como obrigar “B” a pagar consensualmente... muito menos usando as vias judiciais. É interessante acrescentar que, embora juridicamente inexigíveis as obrigações naturais podem gerar alguns efeitos, pois se o devedor pagar voluntariamente a dívida (seja ela prescrita, de jogo, etc.), o pagamento é considerado válido e irretratável, sendo que
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