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1 DIREITO CIVIL III - CONTRATOS PROF. DANIEL PAIVA UNIDADE IX – CONTRATOS EM ESPÉCIE: EMPRÉSTIMO Empréstimo é o contrato pelo qual uma das partes entrega um bem à outra, para ser restituído em espécie ou gênero. Existem duas espécies de empréstimo: comodato e mútuo. Mútuo é o empréstimo de consumo (ex: alimentos, dinheiro, etc) enquanto o comodato é o empréstimo de uso (ex: casa, carro, livro, roupa, etc). 1. COMODATO: O vocábulo comodato tem sua origem na locução latina commodum datum, sendo o contrato assim denominado porque a coisa era dada para o cômodo e proveito daquela que a recebia. Nas disposições do Código Civil: comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do objeto. Ver: art. 579 CC/2002 Assim, o comodato é o empréstimo de coisa não fungível1, eminentemente gratuito, no qual o comodatário recebe a coisa emprestada para uso, devendo devolver a mesma coisa, findo o negócio, ao comodante. 1.1. CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO: Na sua caracterização jurídica, diz-se que o comodato é um contrato: Real – Este contrato só se aperfeiçoa com a entrega da coisa de uma parte à outra; Unilateral – Apenas o comodatário assume obrigação em face do comodante: guardar e conservar a coisa, devendo restituí-la ao final. Gratuito – Trata-se de contrato benéfico, pois apenas o comodatário experimenta benefício: usar coisa alheia; Fiduciário – Contrato realizado em confiança ao comodatário. Personalíssimo – De natureza individual, é pactuado em atenção à pessoa do comodatário. Temporário – É essencialmente temporário, não se transmitindo aos herdeiros do comodatário. Existindo o dever de restituir ao final do prazo estipulado ou, não havendo prazo, quando solicitado pelo comodante. Não solene - A lei não exige para a celebração do contrato de comodato forma especial, podendo sua existência ser comprovada de qualquer forma, até mesmo por testemunhas. 1 Bens fungíveis – São aqueles que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Exemplo: dinheiro; Bens infungíveis – Por sua vez, são aqueles de natureza insubstituível. Exemplo: obra de arte 2 1.2. ELEMENTOS DO CONTRATO: Os elementos essenciais do contrato de comodato são: Gratuidade – A gratuidade decorre da própria natureza do comodato, pois, se fosse oneroso, se confundiria com a locação. Não desnatura a gratuidade o fato de o comodatário de um apartamento responsabilizar-se pelo pagamento das despesas condominiais e dos impostos Infungibilidade do objeto – O comodato é o empréstimo de uso, devendo, pois, ser restituída a própria coisa emprestada. Sendo assim, o comodato terá como objeto bem infungível. Tradição do objeto – A necessidade da tradição para o aperfeiçoamento do comodato torna-o um contrato real. Somente com a entrega do bem, e não antes, se aperfeiçoa o contrato. 1.3. OBRIGAÇÕES DOS CONTRATANTES: As principais obrigações do Comodatário são: • Conservar a coisa emprestada; • Usar a coisa de forma adequada; • Restituir a coisa emprestada no momento devido. Ver: art. 582 CC/2002 Já para o Comodante, a rigor, não existem obrigações, pois o comodato, segundo a dicção legal, se perfaz com a tradição do objeto. Efetuada esta, restam obrigações somente para o comodatário. 1.4. PRAZO DO CONTRATO: O comodato é um contrato essencialmente temporário, depreendendo-se que o mais comum seja a fixação do prazo pelas próprias partes. Não obstante, permite a lei que o contrato não tenha prazo determinado, caso em que se presumirá o tempo necessário para o uso concedido. Ver: art. 581 CC/2002 Sendo o contrato de prazo indeterminado, o comodante, querendo a restituição do bem, deve comunicar ao comodatário acerca da devolução, o que pode ser feito por meio de notificação judicial ou extrajudicial. Já se o contrato de comodato for pactuado a prazo determinado, dispensa-se a constituição do devedor comodatário em mora, e, consequentemente, a sua notificação. 1.5. EXTINÇÃO DO COMODATO: Extingue-se o contrato de comodato válido por diversas formas: • Pelo advento do prazo convencionado ou do tempo necessário para o uso da coisa; • Pela resolução (em caso de infração contratual); • Pela resilição unilateral e bilateral; • Por sentença, a pedido do comodante; • Pela morte do comodatário; • Pelo perecimento do objeto do contrato. 3 2. MÚTUO: Nos termos do Código Civil: “mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis e o mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. Isto é, Mútuo é a cessão gratuita de coisa fungível para ser consumida e restituída em certo prazo pela sua equivalência (ex: alimentos, bebidas, ração, dinheiro, etc). É empréstimo de consumo, por isso jamais pode ter por objeto um imóvel. Ver: art. 586 CC/2002 A característica principal do mútuo é, com efeito, a transferência da propriedade da coisa emprestada, como decorrência natural da impossibilidade de ser restituída na sua individualidade. Ver: art. 587 CC/2002 As características deste tipo de contrato de empréstimo são as mesmas do comodato, com uma ressalva: o mútuo de dinheiro em geral é oneroso, já que o mutuário deve pagar juros ao mutuante, é o chamado mútuo feneratício. 2.1. MÚTUO ONEROSO (FENERATÍCIO): O caso mais usual de mútuo é o empréstimo de dinheiro. No mútuo oneroso ou feneratício, o mutuário deve devolver ao mutuante valor equivalente ao recebido, acrescido de juros, que é a remuneração pelo uso do capital. Ver: art. 591 CC/2002 Os juros, de um modo geral, são definidos como o rendimento do capital, os frutos produzidos pelo dinheiro, da mesma forma que o aluguel é o rendimento produzido pela coisa cedida em locação. É bem acessório e depende do principal. Os juros são classificados em juros remuneratórios (os frutos de um capital emprestado, resultantes da utilização permitida desse capital) e juros moratórios (a compensação, a indenização por descumprimento de uma obrigação pecuniária. Aplicam-se quando o devedor deixar de cumprir sua obrigação no tempo acordado como credor). O art. 591 do Código Civil remete ao art. 406 da mesma lei para fixar teto para a taxa de juros: “Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação de lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional”. Em consonância com o acatado, sejam juros remuneratórios ou juros moratórios, no Código Civil de 2002 deixa de existir uma taxa fixa de juros legais, que passa a ser equivalente à taxa variável, estipulada para pagamento de juros decorrentes de impostos devidos à Fazenda Nacional. Portanto, é forçoso concluir que a taxa de juros legais do art. 406, do novo Código Civil, é a taxa de 1% do art. 161, § 1°, do Código Tributário Nacional. 4 2.2. GARANTIA DE RESTITUIÇÃO AO MUTUANTE: Como forma de resguardar os direitos do mutuante, prevê o Código Civil a possibilidade de exigir do mutuário garantia, se antes do vencimento da dívida, este último sofrer notória mudança em sua situação econômica. A garantia possível de ser exigida poderá ser real (penhor, hipoteca, anticrese) ou fidejussória (fiança). Ver: art. 590 CC/2002 2.3. PRAZO DO CONTRATO: O mútuo é, por excelência, um contrato com prazo determinado, quer seja por estipulação das próprias partes envolvidas, quer seja por disposição legal supletiva. Ver: art. 592 CC/2002 2.4. EXTINÇÃO:Extingue-se o contrato de mútuo válido por diversas formas: • Pelo advento do prazo convencionado e cumprimento das obrigações; • Pela resolução (em caso de infração contratual); • Pela resilição unilateral e bilateral; 3. DIFERENÇAS ENTRE COMODATO E MÚTUO: Importante ressaltar algumas diferenças existentes entre estas 2 espécies de contrato de empréstimo: • O comodato tem por objeto coisas infungíveis e o mútuo tem por objeto coisas fungíveis; • O comodato é empréstimo de uso e o mútuo empréstimo de consumo; • No comodato, a restituição será a da própria coisa emprestada, ao passo que no mútuo a restituição será de uma coisa equivalente; • O comodato implica no recebimento do bem para uso, exercendo o comodatário somente a posse direta. Já o mútuo acarreta a transferência do domínio. 5 QUESTÕES PARA REVISÃO DA UNIDADE 01. (Exame de Ordem - OAB/MG 2008.3) João da Silva cedeu em comodato, sem fixação de prazo, a José Mário um bem especificado no instrumento de contrato. Levando-se em conta essas informações, assinale a alternativa INCORRETA: a) O comodato se perfez com a tradição do bem; b) Presumir-se-á o prazo de vigência do contrato o necessário para o uso do bem; c) Caso José Mário não dê a destinação a que competia ao bem cedido, após constituído em mora, pagará até a sua restituição valor a título de aluguel; d) Poderá José Mário deixar de restituir o bem até que João da Silva lhe indenize pelas despesas realizadas com o uso da coisa emprestada; 02. (Exame de Ordem Unificado – FGV 2015) Joana deu seu carro a Lúcia, em comodato, pelo prazo de 5 dias, findo o qual Lúcia não devolveu o veículo. Dois dias depois, forte tempestade danificou a lanterna e o parachoque dianteiro do carro de Joana. Inconformada com o ocorrido, Joana exigiu que Lúcia a indenizasse pelos danos causados ao veículo. Diante do fato, assinale a afirmativa correta: a) Lúcia incorreu em inadimplemento absoluto, pois não cumpriu sua prestação no termo ajustado, o que inutilizou a prestação para Joana; b) Lúcia não está em mora, pois Joana não a interpelou, judicial ou extrajudicialmente; c) Lúcia deve indenizar Joana pelos danos causados ao veículo, salvo se provar que os mesmos ocorreriam ainda que tivesse adimplido sua prestação no termo ajustado; d) Lúcia não responde pelos danos causados ao veículo, pois foram decorrentes de força maior. 03. (TJ/PR - PUC 2014) O mútuo e o comodato são modalidades de empréstimo. Acerca deste último contrato, assinale a alternativa CORRETA. a) O comodato é contrato bilateral gratuito por meio do qual o comodante entrega bem fungível para uso do comodatário, que se obriga a devolvê-lo; b) O comodato admite a aposição de encargo; c) Somente bens imóveis podem ser objeto de comodato, assumindo o comodatário a sua posse direta e o comodante a posse indireta; d) Sendo gratuito o comodato, o pagamento por parte do comodatário de taxas, impostos, despesas de condomínio etc., desnatura o contrato, incumbindo ao comodante ressarcir tais despesas ao comodatário. 04. (Exame de Ordem Unificado – FGV 2014) Pedro, menor impúbere, e sem o consentimento de seu representante legal, celebrou contrato de mútuo com Marcos, tendo este lhe entregue a quantia de R$400,00, a fim de que pudesse comprar uma bicicleta. A respeito desse caso, assinale a afirmativa incorreta. a) O mútuo poderá ser reavido somente se o representante legal de Pedro ratificar o contrato. b) Se o contrato tivesse por fim suprir despesas com a própria manutenção, o mútuo poderia ser reavido, ainda que ausente ao ato o representante legal de Pedro. c) Se Pedro tiver bens obtidos com o seu trabalho, o mútuo poderá ser reavido, ainda que contraído sem o consentimento do seu representante legal. d) O mútuo também poderia ser reavido caso Pedro tivesse obtido o empréstimo maliciosamente. 05. (Juiz Estadual TJ/GO – FCC 2012) Os contratos de mútuo e comodato têm em comum as seguintes características: a) constituem-se desde o consentimento das partes e se extinguem com o pedido de devolução do dono da coisa. b) uma vez realizada a entrega da coisa, transfere-se a propriedade ao devedor e obriga o dono a aguardar o fim do contrato para reavê-la. c) obriga o devedor ao pagamento de juros sempre que houver atraso na devolução da coisa. d) só se aperfeiçoam com a entrega da coisa e tornam o devedor obrigado a devolver o bem sob pena de pagamento de aluguel pelo atraso na devolução; e) São contratos considerados reais, intuitu personae e não solenes.
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