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Regulamentação e atuação do governo e do congresso nacional sobre os alimentos transgênicos no Brasil


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“Regulamentação e atuação do Governo e do Congresso Nacional sobre 
os alimentos transgênicos no Brasil: uma questão de (in)segurança 
alimentar” 
 
 
por 
 
 
Maria Clara Coelho Camara 
 
 
Tese apresentada com vistas à obtenção do título de Doutor em Ciências 
na área de Saúde Pública. 
 
 
 
 
 
Orientadora principal: Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Rodrigues Guilam 
Segundo orientador:Prof. Dr. Rubens Onofre Nodari 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro, março de 2012. 
 
 
 
 
 
 
Esta tese, intitulada 
 
 
“Regulamentação e atuação do Governo e do Congresso Nacional sobre 
os alimentos transgênicos no Brasil: uma questão de (in)segurança 
alimentar” 
 
 
apresentada por 
 
 
Maria Clara Coelho Camara 
 
 
 
foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros: 
 
 
Prof.ª Dr.ª Lia Giraldo da Silva Augusto 
Prof.ª Dr.ª Silvana Rubano Barretto Turci 
Prof.ª Dr.ª Ana Maria Cheble Bahia Braga 
Prof.ª Dr.ª Denise Cavalcante de Barros 
Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Rodrigues Guilam – Orientadora principal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tese defendida e aprovada em 08 de março de 2012. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Catalogação na fonte 
 Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica 
 Biblioteca de Saúde Pública 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
C172 Camara, Maria Clara Coelho 
Regulamentação e atuação do Governo e do Congresso 
Nacional sobre os alimentos transgênicos no Brasil: uma questão 
de (in)segurança alimentar. / Maria Clara Coelho Camara. -- 2011. 
x,100 f. : tab. 
 
Orientador: Guilam, Maria Cristina Rodrigues 
Nodari, Rubens Onofre 
Tese (Doutorado) – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio 
Arouca, Rio de Janeiro, 2011. 
 
1. Alimentos Geneticamente Modificados. 2. Organismos 
Geneticamente Modificados. 3. Rotulagem de Alimentos. 
4. legislação. 5. Brasil. I. Título. 
CDD – 22.ed. – 660.650981 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Essa tese é dedicada a Carmem 
Luiza Cabral Marinho. Mais do que 
uma professora, Carmem foi uma 
verdadeira amiga e conselheira, que 
me ensinou a superar os desafios 
inerentes à vida de um pesquisador. 
Essa tese foi idealizada junto com 
ela e foi finalizada em homenagem 
a ela. 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Esta tese concretizou-se, em grande parte, pelo apoio dos professores Maria 
Cristina Rodrigues Guilam e Rubens Onofre Nodari, que me acolheram num momento 
muito difícil e foram fundamentais para a conclusão deste estudo. Obrigada! 
À minha mãe Janete, que me ensinou a lutar sempre pelo que sonho e jamais 
desistir diante de um obstáculo. Sem você nada disso seria possível. 
Aos meus irmãos Ana e Fábio, com quem dividi, muitas vezes, meus momentos de 
fragilidade, minha gratidão. 
Aos professores Silvio Valle e Carlos Gadelha meu agradecimento pelas 
importantes contribuições, no momento da qualificação, para o desenvolvimento deste 
trabalho. 
Ao assessor legislativo José Cordeiro de Araújo pelos sábios esclarecimentos sobre 
o processo legislativo e pelas contribuições ao texto. 
A todos os meus amigos pela solidariedade, apoio e carinho durante todo o 
desenvolvimento deste estudo, principalmente as minhas amigas Patrícia A. das Graças 
e Luciana Portela. 
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao 
incentivo financeiro do PROEX pelo auxílio financeiro que contribuiu para a 
viabilização desta pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO GERAL 
 
O cultivo e a comercialização de alimentos geneticamente modificados sãoquestões 
centrais no cenário alimentar atual e a utilização dessa biotecnologia tem gerado muita 
controvérsia. Tal controvérsia se justifica, principalmente, pelos interesses econômicos 
e políticos que permeiam sua aplicação. O objetivo desse estudo é identificar e analisar 
como o tema é tratado no campo da Saúde Pública, no Congresso Nacional e pela 
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Espera-se que o presente 
estudo possa contribuir para o entendimento de como o Governo Federal e a sociedade 
científica, em especial o campo da Saúde Pública, abordam as incertezas diante dos 
organismos geneticamente modificado. A principal conclusão desse estudo refere-se à 
insegurança alimentar dos alimentos geneticamente modificados. A polêmica que existe 
no Congresso Nacional expressa a incerteza presente na comunidade científica e a 
divergência entre interesses conflitantes de grupos distintos. As normas em vigor 
atualmente no País sobre OGMs, que muitas vezes não são cumpridas em sua integra, 
colocam o Brasil numa posição intermediária entre a regulamentação restrita da UE e 
altamente flexível dos EUA. Na CTNBio também pode-se verificar a incerteza diante da 
tecnologia, através das audiências públicas analisadas. 
 
Palavras-chave: Transgênico; Organismo Geneticamente Modificado; Rotulagem; 
Legislação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GENERAL ABSTRACT 
 
The cultivation and sale of genetically modified food is a central issue in the current 
scenario and the use of food biotechnology has generated much controversy. Such 
controversy is justified mainly by economic and political interests that permeate their 
application. The objective of this study is to identify and analyze how the subject is 
treated in the field of Public Health, the National Congress and the National Technical 
Commission on Biosafety (CTNBio). It is hoped that this study will contribute to the 
understanding of how the federal government and scientific society, especially the field 
of public health, address the uncertainty about genetically modified organisms. The 
main conclusions of this study involves a scientific production in the field of Public 
Health, who spoke on the food insecurity of genetically modified foods. The 
controversy that exists in the Congress expresses the uncertainty present in the 
scientific community and the gap between conflicting interests of different groups. The 
standards currently in force in the country on GMOs, which are often not fulfilled in its 
entirety, place Brazil in an intermediate position between the EU regulations restricted 
and highly flexible U.S.. In CTNBio can also verify the uncertainty over technology 
through public hearings analyzed. 
 
 Keywords: Transgenic, Genetically Modified Organism; Labeling; Legislation 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 Páginas 
Resumo Geral IV 
General Abstract V 
Lista de Tabelas VIII 
Lista de siglas e abreviaturas IX 
Apresentação 12 
CAPÍTULO 1 – Transgênicos: Avaliação da possível (in) Segurança 
Alimentar através da produção científica 
14 
� Resumo/ Abstract 15 
� Introdução 16 
� Caminho Metodológico 17 
� Análise dos Resultados 18 
� Insegurança Alimentar dos Transgênicos 21 
� Considerações e Recomendações Finais 28 
� Referências Bibliográficas 29 
CAPÍTULO 2 - Congresso Nacional Brasileiro e Alimentos 
Transgênicos no período de 2003 a 2008: uma questão de Saúde Pública 
36 
� Resumo/ Abstract 37 
� Introdução 38 
� Transgênicos no Congresso Nacional 39 
� Nova Lei de Biossegurança 40 
� Medidas Provisórias sobre Transgênicos 45 
� Considerações Finais 49 
� Referências Bibliográficas 52 
CAPÍTULO 3 - Regulamentação sobre bio(in)segurança no Brasil: a 
questão dos alimentos transgênicos 
55 
� Resumo/ Abstract 56 
� Considerações Iniciais 57 
� Caminho Metodológico58 
� Características do Poder Político Brasileiro 60 
� Bio(in)segurança no Brasil 62 
� Plantio, Fiscalização e Comercialização de OGM 63 
� Rotulagem de Alimentos Transgênicos 67 
� Considerações Finais 71 
� Referências Bibliográficas 72 
CAPITULO 4 - Análise Crítica da atuação da CTNBio através dos 
textos das Audiências Públicas para liberação comercial de Organismos 
Geneticamente modificados 
80 
� Resumo/ Abstract 81 
� Introdução 82 
� Caminho Metodológico 84 
� Resultados e Discussão 84 
� 1ª Audiência Pública – Milho Liberty Link da Bayer S.A – 
20/03/2007 
89 
� 2ª Audiência Pública – Algodão Liberty Link da Bayer S.A, 
Round up Ready e Bollgard da Monsanto do Brasil e Widestrike 
da Dow AgroSciences Industrial – 17/08/2007 
92 
� 3ª Audiência Pública – Arroz Liberty Link da Bayer S.A – 
18/03/2009 
93 
� Conclusão 95 
� Referências Bibliográficas 96 
Recomendações Finais 99 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS E TABELAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Página 
Capítulo 1 
Quadro 1: Argumentos favoráveis e contrários aos transgênicos 17 
Quadro 2: Artigos e teses/dissertações sobre segurança alimentar de 
alimentos GM 
19 
Capítulo 3 
Quadro 1: Normas sobre Transgênicos no Brasil do período de 1995 à 
2009 
59 
Tabela 1: Produção legislativa sobre transgênicos no período de 1995 à 
2009 
62 
Capítulo 4 
Quadro 1: Lista de palestrantes da audiência pública do milho Libert 
Link da Bayer S.A segundo instituição representativa e principal 
argumento do discurso 
85 
Quadro 2: Lista de palestrantes da audiência pública dos algodões 
Libert Link da Bayer S.A., Roundup Ready e Bollgard da Monsanto do 
Brasil e Widestrike da Dow AgroSciences Industrial segundo instituição 
representativa e principal argumento do discurso 
87 
Quadro 3: Lista de palestrantes da audiência pública do arroz Libert 
Link da Bayer S.A. segundo posicionamento do discurso e instituição 
representativa 
88 
Quadro 4: Principais argumentos utilizados pelos 
palestrantes/manifestantes nas audiências públicas 
89 
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 
 
Sigla Significado 
AP Audiência Pública 
Bt Bacillus Thuringiensis 
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
CD Câmara dos Deputados 
CDB Convenção sobre Diversidade Biológica 
CF Constituição Federal 
CN Congresso Nacional 
CNBS Conselho Nacional de Biossegurança 
CODEX Codex Alimentarius Commission 
CTNBio Comissão Técnica Nacional de Biossegurança 
DEM Partido Democrático 
DNA Ácido desoxirribonucleico 
EIA Estudo de Impacto Ambiental 
EPA Environmental Protection Agency 
ES Equivalência Substancial 
EUA Estados Unidos da América 
FAO Food and Agriculture Organization 
FDA Food and Drug Adminstration 
FHC Fernando Henrique Cardoso 
GM Geneticamente Modificado 
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis 
IN Instrução Normativa 
LEXML Rede de informações Legislativa e Jurídica 
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 
MMA Ministério do Meio Ambiente 
MP Medida Provisória 
MS Ministério da Saúde 
OGM Organismo Geneticamente Modificado 
OMC Organização Mundial do Comércio 
OMS Organização Mundial da Saúde 
PDT Partido Democrático Trabalhista 
PE Poder Executivo 
PFL Partido da Frente Liberal 
PL Projeto de Lei 
PL Poder Legislativo 
PLC Projeto de Lei da Câmara 
PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro 
PNB Política Nacional de Biossegurança 
PP Princípio da Precaução 
PP Partido Progressista Nacional 
PPS Partido Popular Socialista 
PSDB Partido da Social Democracia Brasileira 
PT Partido dos Trabalhadores 
PV Partido Verde 
RIMA Relatório de Impacto no Meio Ambiente 
SCIELO Scientific Eletronic Library Online 
SEAP Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca 
SF Senado Federal 
SICON Sistema de Informação do Congresso Nacional 
Soja RR Soja Roundup Ready 
UE União Européia 
USDA United States Department of Agriculture 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 A cada dia é possível verificar o grande avanço das tecnologias em vários 
setores da sociedade, inclusive na área da saúde e do meio ambiente. As biotecnologias 
crescem numa velocidade surpreendente, o que pode ser visto nas pesquisas com 
células-tronco, clonagem e plantas transgênicas (organismos alterados geneticamente 
com a inserção de fragmentos de DNA). 
 Os organismos transgênicos são frutos da tecnologia do DNA recombinante, 
criada em 1973, que permite a transferência de material genético intra e inter espécies, 
ou seja, são Organismos Geneticamente Modificados (OGM). Essa tecnologia tem por 
objetivo incorporar novas características em organismos hospedeiros, como tornar a 
planta mais resistente a agrotóxicos e/ou produzir toxinas capazes de matar as ervas 
daninhas ou seres vivos que se alimentam da planta Embora OGM e “transgênico” não 
tenham1, conceitualmente, o mesmo significado, ambos são obtidos pela mesma 
tecnologia do DNA recombinante. Além disso, do ponto de vista legislativo, é 
irrelevante se o fragmento de DNA inserido é proveniente de uma ou mais espécies 
diferentes do organismo alvo ou não. A maioria da bibliografia disponibilizada na área 
utiliza esses dois termos como sinônimos; para fins deste estudo, transgênicos e OGMs 
também serão utilizados como sinônimos. 
 O cultivo e a comercialização de plantas geneticamente modificados que 
produzem alimentos são questões centrais no cenário alimentar atual e a utilização dessa 
biotecnologia tem gerado muita controvérsia. Tal controvérsia se justifica, 
principalmente, pelos interesses econômicos e políticos que permeiam sua aplicação. 
Além disso, ressalta-se que esse tema é de grande importância para a saúde da 
sociedade e do meio ambiente, uma vez que as consequências de sua utilização ainda 
não são claramente conhecidas. 
 O objetivo desse estudo é identificar e analisar como o tema é tratado pelos 
pesquisadores do campo da Saúde Pública, no Congresso Nacional e pela Comissão 
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Espera-se que o presente estudo possa 
contribuir para o entendimento de como o Governo Federal e a sociedade científica, em 
especial o campo da Saúde Pública, abordam as incertezas diante dos Organismos 
Geneticamente Modificado. 
 
1
 Guerrante RDS, Antunes AM de S, Pereira Jr N. Transgênicos: a difícil relação entre ciência, a 
sociedade e o mercado. In: Valle S, Telles JL (org.) Bioética e Biorrisco: abordagem transdiciplinar. Rio 
de Janeiro: Interciência, 2003. 
 Para a realização deste estudo pensou-se, em quatro etapas. A primeira 
(Capítulo 1) consistiu-se em revisão bibliográfica sobre transgênicos, em portais de 
Saúde Pública, com o objetivo principal de verificar como os alimentos transgênicos 
vem sendo tratados nesse campo de conhecimento no Brasil. Esta análise permitiu 
identificar, através da produção científica, a insegurança alimentar dos alimentos 
geneticamente modificados. 
Após tal análise, a pesquisa voltou-se para o Congresso Nacional, com o intuito 
de entender como este legisla sobre o assunto. Inicialmente (Capítulo 2) foram reunidos 
e analisados os discursos de parlamentares sobre alimentos transgênicos no período de 
cinco anos – janeiro de 2003 a dezembro de 2008. 
Posteriormente (Capítulo 3), foi analisada toda a legislação produzida sobre o 
tema num período de 1995 a 2009. Realizou-se uma busca de leis, decretos, portarias e 
medidas provisórias sobre transgênicos propostos pela Câmara dos Deputados, pelo 
Senado Federal e pelo Poder Executivo. 
Depois de compreender a postura do campo da Saúde Pública(através da 
produção científica) e do Governo Federal (através da produção legislativa), buscou-se 
compreender como a CTNBio, principal instância responsável pela liberação para 
produção e consumo de OGMs no Brasil, aborda o tema. 
O capítulo 4 desta tese trabalhou com os textos das três audiências públicas 
sobre milho, arroz e algodão transgênico. Como as audiências foram coordenadas pela 
CTNBio, foi admitida a pressuposição de que sua transcrição representaria 
instrumento fundamental para compreender a relação desta Comissão com os OGMs. 
Ressalta-se que no ano de 2011 ocorreu uma nova audiência pública sobre o feijão 
geneticamente modificado, no entanto, a transcrição dessa audiência não ocorreu em 
tempo hábil para sua inclusão nesta tese de doutorado. 
Com o término da 4ª etapa , foi possível traçar um paralelo entre os resultados e, 
assim, verificar a posição da comunidade científica da área da Saúde Pública, 
Congresso Nacional e da CTNBio com relação aos transgênicos. Dessa forma, espera-
se que a partir desse estudo seja possível a construção de um panorama sobre a 
abordagem dos alimentos geneticamente modificados no campo científico e político 
brasileiro. Almeja-se que tal panorama contribua com a comunidade científica e, 
conseqüentemente, com a sociedade, no entendimento da atuação do Governo Federal 
sobre este assunto e na publicação de informações sobre o tema. 
 
CAPÍTULO 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Transgênicos: Avaliação da possível (in) Segurança Alimentar através da produção 
científica2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2
 Artigo publicado na Revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, volume 16, número 3, jul-set de 
2009. 
 
RESUMO 
 
Este estudo teve por objetivo identificar, e analisar criticamente, a produção científica 
brasileira no campo da Saúde Pública sobre os organismos geneticamente modificados 
(OGMs) no que concerne à (in)segurança alimentar. Para tanto, realizou-se uma revisão 
bibliográfica nos portais do “Scientific Eletronic Library Online” (SCIELO.org) e da 
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Dos 716 
estudos encontrados, apenas 8 abordam a segurança alimentar dos transgênicos através, 
principalmente, da exposição a situações de riscos e incertezas para a saúde e para o 
meio ambiente oriundos desses produtos. A principal conclusão deste estudo refere-se 
ao fato de que todos os trabalhos analisados discursam sobre a insegurança alimentar 
dos alimentos geneticamente modificados. 
Palavra-chave: Transgênicos e Segurança Alimentar; Transgênicos e Saúde Pública; 
OGM e Segurança Alimentar 
 
ABSTRACT 
Based on a bibliographic review, the article identifies and offers a critical analysis of 
scientific production by the public health field in Brazil on genetically modified 
organisms and food (in)security. Of the 716 articles found on the portals of the 
Scientific Electronic Library Online (SciELO) and the Coordinating Agency for the 
Development of Higher Education (Capes), only 8 address the food security of 
transgenic products, primarily in terms of risk exposure and the uncertainties about how 
these products impact health and the environment. The main conclusion involves the 
fact that the eight analyzed articles do not speak to the question of the security but rather 
the insecurity of genetically modified foods. 
Keywords: genetically modified products; food safety; public health; genetically 
modified organisms. 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Os organismos transgênicos são aqueles cujo genoma foi modificado com o 
objetivo de atribuir-lhes nova característica, ou alterar alguma característica já existente 
através da inserção ou eliminação de um ou mais genes por técnicas de engenharia 
genética1. Entre as principais características almejadas, encontram-se: o aumento do 
rendimento com melhoria da produtividade e da resistência a pragas, a doenças e a 
condições ambientais adversas; a melhoria das características agronômicas, permitindo 
uma melhor adaptação às exigências de mecanização; o aperfeiçoamento da qualidade; 
a maior adaptabilidade a condições climáticas desfavoráveis, assim como a 
domesticação de novas espécies, conferindo-lhes utilidade e rentabilidade para o 
homem2. 
A liberação dos transgênicos no Brasil, particularmente daqueles com finalidade 
comercial, vêm provocando uma intensa polêmica quanto a possíveis perigos à saúde e 
ao meio ambiente. Essa polêmica, envolve diversos atores, como cientistas, 
agricultores, ambientalistas e representantes do Governo refere-se ao nível de incerteza 
atribuído a estes alimentos, frente à chamada “segurança alimentar”1. Este conceito 
surge na Europa do século XX fortemente relacionado à capacidade dos países em 
produzir sua própria alimentação no caso de eventos de guerra e catástrofes. Assim, seu 
percurso histórico inicia-se associado à noção de “soberania e segurança nacional” 
impulsionado pelas conseqüências da Primeira Guerra Mundial, que evidenciou o 
poder de dominação que o controle do fornecimento de alimentos poderia representar3. 
Há um intenso conflito entre defensores e críticos à tecnologia transgênica. 
Grande parte desta polêmica emerge da falta de informações completas e confiáveis 
sobresituações de riscos, benefícios e limitações desta aplicação. Os vários argumentos, 
utilizados por ambos os lados da controvérsia encontram-se no Quadro 14. 
 
 
 
 
 
 
 
Quadro 1: Argumentos favoráveis e contrários aos transgênicos 
Argumentos Favoráveis Argumentos Contrários 
 
Expansão do conhecimento científico 
Conhecimento incompleto, não inclui as 
possibilidades dos agrossistemas sustentáveis e os 
possíveis efeitos de seu uso no ambiente 
 
Grandes benefícios com o uso imediato dos 
transgênicos (sementes com qualidade nutritiva 
aumentada) 
Benefícios mediocres, limitado ao grupo de grande 
produtores, sem alcançar o pequeno produtor. Seu 
desenvolvimento reflete interesses do sistema de 
mercado global. 
 
Não há perigos para a saúde humana e ambiental 
que se originem do uso corrente dos transgênicos 
que não possam ser adequadamente administrados 
por regulamentações responsavelmente planejadas 
Os maiores perigos podem não ser riscos diretos 
para a saúde humana e o ambiente, mas aqueles 
ocasionados pelo contexto socioeconômico da 
pesquisa e do desenvolvimento de transgênicos e de 
seus mecanismos associados, tais como a 
estipulação de que as sementes transgênicas são 
objetos em relação aos quais os direitos de 
propriedade intelectual devem ser garantidos. 
Não existe formas alternativas de agricultura que 
poderiam ser desenvolvidas no lugar dos modos 
propostos de orientação transgênica, sem ocasionar 
riscos inaceitáveis (ex.: falta de alimento) 
Estão sendo desenvolvidos métodos agroecológicos 
que permitem alta produtividade em lavouras 
essenciais e ocasionam relativamente perigos 
menores; promovem agrossistemas sustentáveis; 
utilizam e protegem a biodiversidade e contribuem 
para a emancipação social das comunidades pobres 
Fonte:Camara, MCC; et al. Transgênicos: Avaliação da possível (in) Segurança 
Alimentar através da produção científica. Revista História, Ciências, Saúde – 
Manguinhos, 16(3), jul-set de 2009. 
 
Segundo Valle5 e Cavalli6, a intensa controvérsia que cerca o tema não 
possibilitou ainda uma definição quanto à segurança dos transgênicos para o consumo. 
A falta de conhecimento científico sobre os perigos é um fator associado a situação 
acima referida. Com base nisso, este estudo tem como proposta identificar, e analisar 
criticamente, a produção científica brasileira, no campo da Saúde Pública, sobre os 
organismosgeneticamente modificados (OGMs) no que concerne a identificação da 
possível (in)segurança alimentar. 
 
CAMINHO METODOLÓGICO 
Para realizar a análise proposta por este estudo, realizou-se uma revisão 
bibliográfica nos portais do “Scientific Eletronic Library Online” (SCIELO.org), 
responsável pela comunicação científica do Caribe e de países da América Latina, e da 
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), instituição 
responsável pela pós-graduação “stricto sensu” no Brasil. Tem-se como pressuposto 
que a seleção destes portais configura uma amostra representativa de como esse tema 
vem sendo tratado no campo da Saúde Pública no Brasil. Cabe destacar que, a escolha 
do portal SCIELO.org considerou a disponibilidade integral dos artigos, permitindo 
uma discussão mais detalhada do material. Considera-se ainda que, a análise de tais 
estudos justifica-se por sua legitimidade, à medida que os mesmos representam 
pesquisas, comprovam pressupostos e são, obrigatoriamente, submetidos à avaliação de 
especialistas. 
Os descritores utilizados para identificar os estudos foram “transgênico(s)”; 
“OGM(s)”; “transgênicos e segurança alimentar”; “OGMs e segurança alimentar”; 
“transgênicos e saúde pública”. Através destes descritores foi possível adquirir uma 
visão ampla sobre como os transgênicos vem sendo tratados no campo da Saúde 
Pública 
 
ANÁLISE DOS RESULTADOS 
Os descritores utilizados resultaram na localização de 716 estudos, sendo 80 
artigos e 636 teses ou dissertações. O período da pesquisa foi de 1987 a 2008, e a maior 
parte das publicações ocorreu a partir de 1998 (aproximadamente 95%). Enfatiza-se o 
ano de 2007 que abrangeu 13,2% das publicações (94 estudos). 
A literatura científica sobre transgênicos é muito ampla, trabalhando assuntos 
bastante diversos, como rotulagem, direito do consumidor, biossegurança, 
experimentos em laboratórios, produção, comercialização e liberação comercial, 
perigos e benefícios oriundos dessa tecnologia. 
Observa-se que, apesar do grande número de referências reunidas, apenas oito 
estudos trabalharam especificamente a (in)segurança alimentar dos alimentos 
geneticamente modificados. Um resumo destes estudos encontra-se no Quadro 2. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quadro 2: Artigos e Teses/Dissertações sobre Segurança Alimentar de Alimentos GM 
 
Título 
 
Autores 
Tipo de 
Publicação 
 
Objetivo 
Segurança alimentar de 
milho geneticamente 
modificado contendo o 
gene CryAb de Bacillus 
thuringiensis 
Venzke; J.G. Dissertação Avaliar a toxicidade subcrônica do 
milho Bt em camundongos da linhagem 
BALB/c. 
Organismos modificados 
genéticamente: una nueva 
amenaza para la seguridad 
alimentaria 
Spendeler; L Artigo Analisar todos os aspectos referentes a 
segurança alimentar relacionados com o 
introdução dos OGM na agricultura e na 
alimentação. 
Pensando sobre el riesgo 
alimentario y su 
aceptabilidad: el caso de 
los alimentos transgénicos 
Arnaiz; M. G. Artigo Analisar a percepção social da segurança 
alimentar e, em particular, as 
representações sociais do perigo oriundo 
dos organismos geneticamente 
modificados. 
Plantas transgênicas e seus 
produtos: impactos, riscos 
e segurança alimentar 
(Biossegurança de plantas 
transgênicas) 
Nodari; R. O. e 
Guerra; M. P. 
Artigo Analisar os perigos oriundos dos 
transgênicos, destacando a aplicação do 
conceito de equivalência substancial 
como critério de avaliação de segurança 
alimentar dos OGMs. 
Segurança alimentar: a 
abordagem dos alimentos 
transgênicos 
Cavalli; S. B. Artigo Discutir a relação entre a segurança 
alimentar e os alimentos geneticamente 
modificados. 
Transgênicos sem 
maniqueísmo 
Valle; S. Artigo Analisa as incertezas e riscos da 
tecnologia principalmente com relação à 
posição ambígua das multinacionais. 
A voz dos cientistas 
críticos 
Lewgoy; F. Artigo Discutir as controvérsias sobre os 
transgênicos, enfatizando os perigos, as 
incertezas e exemplos de falhas desta 
tecnologia. 
Investigating the 
environmental risks of 
transgenics crops 
Lacey; H. Artigo Discutir os tipos de investigação 
científica necessários para um exame 
adequado da não existência de riscos e 
da não existência de alternativas 
melhores aos transgênicos. 
Fonte: Camara, MCC; et al. Transgênicos: Avaliação da possível (in) Segurança 
Alimentar através da produção científica. Revista História, Ciências, Saúde – 
Manguinhos, 16(3), jul-set de 2009. 
 
Estudo semelhante ao desenvolvido aqui foi realizado por Domingo7 que fez 
uma revisão da literatura no portal Medline. Foram identificadas mais de 5 mil 
referências sobre transgênicos, entretanto especificamente sobre avaliação de risco, seu 
objetivo, só foi possível identificar 29 achados. O autor conclui que a tecnologia 
transgênica é nova e que os cientistas ainda não têm um conhecimento completo sobre 
ela. Com isso, afirma ainda que, são necessários mais estudos científicos e 
investigações para garantir que a ingestão de alimentos geneticamente modificados não 
apresenta riscos para a saúde da população e para o meio ambiente7. 
 A análise da produção científica relativa à (in)segurança alimentar dos 
transgênicos revela dois critérios centrais e antagônicos que norteiam os argumentos 
favoráveis e contrários à liberação e comercialização dos alimentos geneticamente 
modificados. O primeiro refere-se ao critério da Equivalência Substancial (ES). De 
acordo com esse critério, se o organismo geneticamente modificado é similar a sua 
contraparte convencional, é considerado substancialmente equivalente e, portanto, não 
existiria nenhuma razão para considerá-lo perigoso. Tal conceito vem sendo utilizado 
por autoridades regulatórias globais8. Na prática, os países que utilizam a ES são 
Estados Unidos, Canadá e Argentina. Destaca-se, entretanto, que na União Européia a 
Equivalência Substancial é um dos componentes da análise de risco, tomando como 
ponto de partida a Diretiva 2001/18/CE9, embora o referido critério tenha sempre 
recebido críticas de parte da comunidade científica10. 
O segundo critério refere-se ao Princípio da Precaução (PP) que surgiu como 
uma ferramenta a ser utilizada quando não for possível efetuar a avaliação científica do 
risco, servindo para impedir ações que possam causar danos ambientais11. Adotado pela 
Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), o PP essencialmente orienta “que 
quando existe ameaça de sensível redução ou perda de diversidade biológica, a falta de 
plena certeza científica não deve ser usada como razão para postergar medidas para 
evitar ou minimizar essa ameaça”. Assim, a adoção do Princípio da Precaução, se 
constitui em alternativa concreta a ser adotada diante de incertezas científicas. 
Para alguns autores, a “precaução” se adequa perfeitamente aos organismos 
geneticamente modificados e, portanto, deveria ter sido empregada desde seus 
primórdios. Segundo Marinho1, esse principio teria beneficiado inclusive o 
desenvolvimento da tecnologia, já que provavelmente sofreria menor questionamento e 
rejeição, em especial pela sociedade civil organizada. Não é possível – ainda - avaliar 
os impactos mensuráveis dos transgênicos na saúde humana em termos de indicadores 
como mortalidade infantil ou expectativa de vida12. É indispensável considerar o nível 
de incerteza no que diz respeito às implicações dessa tecnologia. Para tanto, utilizar o 
Princípio da Precaução é adequado, e recomendado, uma vez que, segundo Caruzo13, as 
incertezas cientificas, mais do que as certezas cientificas, estão associadas aos 
contextos de risco. Em síntese, a Equivalência Substancial (ES) se contrapõe ao 
Princípio da Precaução (PP) na discussão sobre os alimentos transgênicos, pois 
enquanto a primeira evita a identificaçãode perigos e não leva em conta as incertezas 
científicas, o segundo preconiza essencialmente o contrário. 
A complexidade dos alimentos produzidos pela engenharia genética requer, no 
entanto, uma abordagem holística na sua avaliação14, já que os testes usuais de 
toxicidade careceriam de um rigor particular8. Demonstrar que um alimento 
geneticamente modificado é quimicamente similar a sua contraparte natural não 
constitui uma prova suficiente de que aquele seja seguro para o consumo humano10. 
Esse conceito, de ES, denominado pelos autores como pseudo-científico, teria sido 
adotado com objetivos políticos e comerciais condizentes com os interesses das 
empresas produtoras dos OGMs, desejosas de tranqüilizar os consumidores. 
A adoção do critério da ES pressupõe também ignorar os mecanismos de 
segregação e de preservação da identidade, uma vez que considera tanto os alimentos 
naturais quanto os GM iguais. No ano 2000, a descoberta de um produto contaminado 
com uma variedade de milho Bt da Aventis nos EUA - que não havia sido aprovada 
para consumo humano - colocou a indústria biotecnológica na defensiva15. Os 
consumidores perceberam que estavam expostos a um perigo fora de seu controle e 
evidenciou-se a importância de estabelecer mecanismos de segregação entre colheitas 
geneticamente modificadas (GM) e não-GM, através, principalmente, da rotulagem dos 
alimentos. 
No Brasil, em meio a tal cenário de incertezas, cabe à Comissão Técnica 
Nacional de Biossegurança (CTNBio), avaliar, caso a caso, os possíveis riscos 
oferecidos pelos diferentes transgênicos cuja liberação, experimental ou comercial, 
vem sendo requerida. A Comissão teve sua competência e composição estabelecida 
pelo Decreto n.º 1.752/9516, que regulamentou a Lei n.º 8.97417, de 1995, instrumento 
contestado pela justiça, o que obrigou o poder executivo a baixar a Medida Provisória 
nº. 2.191-19/200118. Embora a partir de março de 2005 a Biossegurança esteja sob a 
égide de uma nova legislação (Lei nº. 11.10519), a Instrução Normativa nº. 2020, de 
11.12.2001, que dispõe sobre as normas para avaliação da segurança alimentar de 
plantas geneticamente modificadas ou de suas partes, foi elaborada sob a Lei anterior 
(Lei nº 8.974, de 05 de janeiro de 1995) já revogada mas constitui-se, portanto, em 
instrumento privilegiado para estudos que avaliem se os alimentos transgênicos são 
seguros ou não para o consumo. 
 
- Insegurança Alimentar dos Transgênicos 
A análise da segurança alimentar dos alimentos transgênicos é feita, nos 8 
estudos que a abordam este tema, através, principalmente, da exposição a perigos e 
incertezas para a saúde e para o meio ambiente oriundos desses produtos. Destaca-se 
que, o termo Segurança Alimentar e Nutricional é definido, desde 2004, com a 
realização da 2ª Conferência Nacional de Segurança alimentar e Nutricional como “a 
realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de 
qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades 
essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem 
a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente 
sustentáveis”21. 
Trata-se de um conceito abrangente que, no Brasil, engloba os termos “food 
safety” (alimento seguro) e “food security” (segurança alimentar). 
O Ministério da Saúde e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 
são os principais órgãos responsáveis pelo controle da qualidade de toda a cadeia 
alimentar. Cabe destacar, no entanto, que a política de fiscalização desempenhada por 
tais ministérios é precária e convive, ainda, com a fome e com a miséria de grande 
parte da população. 
A CODEX Alimentarius Comission22, em 2003, adotou princípios para análise 
dos riscos oriundos da aplicação da técnica de transgenia. Além disso, descreve, 
também, uma metodologia para conduzir as avaliações da segurança alimentar destes 
alimentos22. Os aspectos de avaliação requerem a investigação de: 
a) efeitos diretos para a saúde (toxicidade); 
b) tendência a provocar reações alérgicas (alergenicidade); 
c) componentes específicos que promovem propriedades nutricionais ou tóxicas; 
d) estabilidade do gene inserido; 
e) efeitos nutricionais associados com a modificação genética específica e 
f) qualquer efeito não intencional que pode resultar da inserção genética. 
 
Cavalli6 ressalta um outro aspecto do risco referente a aplicação da engenharia 
genética: a utilização do argumento da solução do problema da fome no mundo. Tal 
afirmação levou as indústrias de biotecnologias a realizarem uma “nova revolução 
verde”, objetivando, com isso, o aumento da produção de alimentos para acabar com o 
problema da fome. Entretanto, alguns autores ressaltam que a aumento da produção de 
alimentos não possibilitará a segurança alimentar e nutricional, uma vez que o 
problema não decorre da produção de alimentos, mas sim da distribuição destes para a 
população. 
Além disso, a monopolização das sementes transgênicas pode proporcionar a 
diminuição da disponibilidade de alimentos, como destaca Spendeler23, que analisa a 
segurança alimentar dos alimentos transgênicos discutindo as incertezas, os perigos e a 
monopolização desses alimentos. Segundo a autora, todas as sementes transgênicas 
pertencem a um pequeno número de multinacionais. Com isso o mercado mundial de 
sementes está monopolizado e os agricultores cada vez mais dependentes destas 
empresas. A autora afirma que “la seguridad alimentaria em términos de 
disponibilidad de alimentos está em juego” (p. 279). Apresenta, ainda, as incertezas da 
engenharia genética como a alta probabilidade de surgimento de efeitos imprevistos e 
indesejáveis. 
Spendeler23 conclui seu estudo ressaltando as incertezas, a pequena quantidade 
de estudos sobre o assunto e a tendência de industrialização que tais cultivos 
proporcionam, não considerando as necessidades das comunidades locais e a 
biodiversidade agrícola. Tais aspectos constituem-se em fatores importantes para 
atestar a insegurança alimentar destes produtos. 
É importante analisar a percepção que a população tem em relação aos OGM. 
Segundo Arnaiz24, que analisou algumas pesquisas de opinião sobre transgênicos, com 
o avanço do consumo desses alimentos, há também um aumento da percepção negativa 
que os indivíduos têm sobre novas aplicações tecnológicas na alimentação. Afirma, 
ainda, que “sabemos muito pouco acerca do que comemos”. Para ela, a incerteza que a 
população tem sobre os OGMs é fundada no comportamento das instituições 
responsáveis pela avaliação dos perigos destes alimentos. 
Sobre as instituições, Lacey4 verifica que as políticas públicas que apóiam o 
cultivo de transgênicos, consideram que não há alternativas melhores e que não há 
perigos na aplicação da transgenia. Destaca-se que esta intenção política desconsidera 
principalmente as práticas agroecológicas e o princípio da precaução, além de expor à 
população a riscos ainda não mensuráveis. 
As incertezas sobre os transgênicos também estão presentes nas empresas 
detentoras desta tecnologia, uma vez que apresentam argumentos contraditórios de 
acordo com seus interesses. Ao mesmo tempo que argumentam sobre a segurança 
alimentar de seus produtos através do conceito de Equivalência Substancial (Alimentos 
GM igual aos alimentos naturais), também consideram seus produtos diferentes quando 
o assunto é propriedade intelectual5. 
No cenário atual de incertezas sobre os possíveis efeitos dos alimentos 
transgênicos, a rotulagem é um mecanismo que possibilita ao consumidor decidir se 
aceita, ou não, alimentos cujas propriedades não são ainda suficientemente conhecidas 
pela ciência. Além disso, é direito do consumidor ser informado, de maneira adequada, 
sobre a qualidade, quantidade e composição dos alimentos que pretende adquirir.A 
rotulagem permite, ainda, rastrear a origem de um alimento, diante da ocorrência de 
eventuais problemas. Cabe destacar que, a questão da rotulagem precisa ser 
compreendida no âmbito da segurança alimentar. Sem rotulagem é impossível fazer 
biovigilância. 
O estudo de Cavalli6 apresenta, também, a controvérsia sobre a Biotecnologia e 
a Biossegurança, em que a primeira é compreendida como um campo que colocará o 
Brasil em condições de competir com as demais nações desenvolvidas, e a 
Biossegurança, encarada como o freio para a produção de diversos transgênicos sem 
uma análise profunda e de longo prazo de seus possíveis perigos para a saúde e para o 
meio ambiente. Nodari e Guerra25 corroboram com a autora, além de destacar a 
importância da rotulagem como um instrumento fundamental para a escolha dos 
indivíduos quanto ao consumo desses alimentos. 
Outros aspectos também contemplados pelo campo da segurança alimentar são 
o impacto na exportação de alimentos e mesmo no turismo para os países produtores, 
principalmente numa economia globalizada. Eventos recentes como o conhecido "mal 
da vaca-louca", na Inglaterra, e o acidente da dioxina, na cadeia de alimentação 
humana, na Bélgica, podem abalar fortemente a credibilidade dos consumidores26. 
Tais eventos repercutiram na credibilidade dos produtos oriundos da engenharia 
genética e, provavelmente, contribuíram para que o avanço da biotecnologia agrícola 
tenha sido mais lento do que foi anunciado no começo dos anos 8012. Em grande 
medida e a despeito das prováveis dificuldades da técnica em si, a reação dos 
consumidores representou e representa um entrave considerável. 
Outras preocupações relacionadas com os OGMs são o receio de uma possível 
resistência bacteriana aos antibióticos empregados na modificação genética e o 
aumento das alergias alimentares às novas proteínas25. Utilizam-se, para tanto genes 
marcadores de resistência a antibióticos com a função de selecionar e confirmar se a 
alteração genética foi de fato realizada da maneira planejada. No entanto, discute-se 
que tais genes podem continuar a serem expressos nos tecidos da planta e ao serem 
ingeridos através dos alimentos, poderiam reduzir a eficácia do antibiótico comumente 
administrado no combate de doenças. Argumenta-se também que esses genes de 
resistência poderiam ser transferidos a patógenos humanos ou animais, tornando nulo o 
efeito da aplicação de certos antibióticos. A crescente resistência de organismos aos 
antibióticos vem sendo avaliada como um grave problema para a Saúde Pública27. O 
FDA não deixa de reconhecer tal possibilidade, quando, em relatório emitido por grupo 
consultivo reunido com o objetivo de avaliar a questão, recomenda como regra adotar 
cuidados com o uso dos antibióticos28. 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e Associações Médicas Americanas, 
além de vários outros grupos, expressam preocupação de que se “os genes resistentes a 
antibióticos” usados em alimentos GM se transferissem para bactérias, poderiam 
resultar no aparecimento de superdoenças. Tal fato motivou a Associação Médica 
Britânica a declarar uma moratória para alimentos GM29. 
Com relação às situações de risco para o meio ambiente, destaca-se a 
transferência vertical (acasalamento sexual entre indivíduos da mesma espécie) e a 
transferência horizontal (DNA transferido de uma espécie para outra, aparentada ou 
não). Ressalte-se que, no Brasil, região de grande variedade genética de sementes 
crioulas (não transgênicas), esse tipo de risco configura-se em grande desafio25. 
Lewgoy30 analisou os riscos ambientais dos alimentos transgênicos e apontou a 
possibilidade de cruzamentos genéticos não esperados. O autor destaca também falhas 
nos testes de toxicidade apresentados por uma empresa produtora de transgênicos à 
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e a não avaliação adequada 
dos riscos de toxicidade e alergias de seu produto para obtenção da liberação 
comercial. 
Com relação à liberação comercial, Marinho e Minayo-Gomez31 analisaram o 
tratamento dado pela CTNBio a solicitações de liberações ambientais de transgênicos. 
Os autores concluíram que, apesar do arcabouço legal existente, as instâncias 
governamentais não conseguiram assegurar o cumprimento da Biossegurança, 
“adotando uma postura negligente no estabelecimento das exigências técnicas legais” 
(p. 101). 
No portal da CAPES, observou-se apenas uma dissertação que aborda a (in) 
segurança alimentar dos transgênicos. Elaborada, no formato de três artigos, o primeiro 
é uma revisão bibliográfica sobre a Instrução Normativa nº 20 de 2001, que avalia 
aspectos positivos e negativos da equivalência substancial. Aponta-se a necessidade de 
estudos que aprofundem a avaliação dessa Instrução, priorizando a análise de 
toxicidade e alergenicidade. Cabe destacar que, a Instrução Normativa nº 20, elaborada 
pela CTNBio, dispõe sobre as normas para avaliação da segurança alimentar de plantas 
geneticamente modificadas ou de suas partes, propondo um conjunto de normas que 
“se aplicam à produção, importação e comercialização de plantas geneticamente 
modificadas e de suas partes destinadas à alimentação humana ou animal, assim como, 
no caso de importação, aos derivados de plantas geneticamente modificadas ou de suas 
partes”. Nesse sentido, propõe-se um conjunto de questões a serem respondidas pelos 
requerentes32. 
A alergenicidade constitui um perigo importante a ser avaliado, considerando-se 
que os alergênicos alimentares são proteínas que podem ser oriundas de genes 
endógenos ou exógenos. Nesse sentido, Food and Agriculture Organization (FAO), 
com o objetivo de avaliar o potencial de alergenicidade de proteínas transgênicas, 
estabeleceu um conjunto de procedimentos como comparar, inicialmente, a estrutura da 
nova proteína com estruturas de alergênicos já conhecidos, alinhando as seqüências de 
aminoácidos em bases de dados. A seguir, caso a fonte do gene seja confirmada como 
alergênica, deve ser realizado um teste com soro de pacientes alérgicos a essa fonte. A 
dissertação em questão alerta para a necessidade de atenção particular ao possível 
potencial alergênico do milho Bt32. 
Na avaliação por esse critério, o óleo de milho transgênico, por exemplo, não 
necessitaria ser rotulado como geneticamente modificado, porque seu processo de 
produção seria capaz de separar todos os constituintes tóxicos do milho e a composição 
final seria idêntica àquela obtida do milho não-alterado geneticamente. Argumentos 
similares têm sido usados para fundamentar a desregulamentação do óleo de soja 
geneticamente modificado. 
Segundo Fagan33, existem dois problemas com essa argumentação. Em primeiro 
lugar, o óleo de milho não é quimicamente puro, contendo proteínas suficientes do 
milho para provocar reações alérgicas nos indivíduos sensíveis. Em segundo lugar, na 
avaliação do óleo de milho geneticamente modificado pelo estratégia da Equivalência 
Substancial, somente os principais constituintes são examinados, enquanto os demais, 
ignorados nessa avaliação, podem ter papel importante no valor nutricional ou na 
própria segurança desse produto. Como exemplo, as manipulações genéticas podem 
inesperadamente, através de determinados mecanismos, alterar o metabolismo do óleo, 
gerando um derivado tóxico de ácido graxo. Conclui, portanto, que o critério de 
Equivalência Substancial é superficial e não pode ser utilizado como argumento para 
justificar a não realização de testes e/ou rotulagem. 
O segundo artigo da referida dissertação aborda a relação dose-resposta de 
camundongos alimentados com diferentes concentrações de milho Bt e com a proteína 
Cry1Ab por 90 dias. Foram preparados quatro tipos de dietas: a controle (sem milho 
Bt), a com Cry1Ab, e as que foram acrescidas de 10% e 30% de milho Bt. Concluiu-se 
que, os camundongos que consumiram milho transgênicotiveram ganho de peso e 
menor comportamento animal (erguer, brincar e festejar). Ressalte-se que a alteração 
genética no milho Bt é a inserção de um gene oriundo da bactéria do solo Bacillus 
thuringiensis. As toxinas desse bacilo são eficazes (mortais) contra diversas variedades 
de insetos que atacam determinadas plantações, como o milho e o algodão. Com a 
transgênese, o gene recebido pela planta codifica uma das toxinas Bt e impede que a 
planta seja danificada pelos insetos, enquanto não houver insetos resistentes a referida 
toxina. Ou seja, a própria planta exerce função inseticida matando os insetos que se 
alimentam dela1. 
A avaliação da segurança alimentar do milho Bt foi concluída no terceiro artigo, 
onde, com base no experimento mencionado anteriormente, a autora observou que os 
camundongos alimentados com tal alimento, acrescido da proteína Cry1Ab, 
apresentaram degeneração, necrose e aumento do volume do fígado. 
Em 1999, estudo elaborado por Losey, Rayor e Carter34 comprovou resultados 
semelhantes causando, à época, grande impacto junto a comunidade científica. O estudo 
comparou o desenvolvimento de larvas alimentadas com folhas onde o pólen do Bt 
havia sido anteriormente aspergido, com outras alimentadas com folhas sem o pólen do 
milho Bt. Concluiu-se que as larvas do primeiro grupo, alimentadas com as folhas cujo 
pólen do Bt foi aspergido, quando comparadas com as do segundo, comeram menos, 
cresceram mais lentamente e apresentaram maior taxa de mortalidade. 
Outro estudo de grande importância, cujos resultados foram publicados em 
reconhecida revista científica (The Lancet) e que provocou intensa polêmica, foi 
realizado pelo cientista Arpad Pusztai35, no Rowett Institute da Escócia, utilizando 
ratos alimentados com batatas transgênicas. Concluiu que esses animais apresentavam 
alterações no sistema imunológico, assim como no desenvolvimento de órgãos vitais. O 
autor destacou que as alterações poderiam ser causadas pela expressão do gene 
utilizado para a modificação das batatas, como também devido à presença no vetor de 
um ou mais genes usado(s) na transferência do gene ou, ainda, a distúrbios no 
funcionamento dos próprios genes da batata, em conseqüência da incorporação 
aleatória do vetor no genoma da batata. Tais conclusões foram questionadas pela The 
Royal Society, baseada em estudos semelhantes que não chegaram aos mesmos 
resultados, sugerindo que o cientista referido (Arpad Pusztai) precisaria refinar seu 
projeto experimental e realizar estudos adicionais, definindo claramente as hipóteses 
focalizadas nos efeitos específicos relatados. A despeito da necessidade de mais 
estudos na linha de investigação desenvolvida por esse cientista (Arpad Pusztai), cabe 
ressaltar o fato dessa pesquisa ter sido realizada sem financiamento de empresas, o que 
não ocorre em grande parte dos trabalhos sobre o assunto36. 
 A principal conclusão dessa dissertação foi a insegurança alimentar do milho 
transgêncico Cry 1Ab. 
 As demais teses e dissertações encontradas no portal abordam questões como a 
legalização dos OGMs37, 38, rotulagem39, 40, repercussões econômicas, institucionais e 
políticas41-45, resistências genéticas46 e Biossegurança47. 
Após a publicação do artigo referente ao conteúdo deste capitulo, muitos artigos 
científicos conduzidos por cientistas independentes que comprovaram situações de 
risco ou de danos tanto para humanos quanto para os componentes da biodiversidade. 
Dentre eles cabe destacar os seguintes. Em 2011, 17 anos depois da liberação da soja 
RR e 16 anos depois do milho transgênico em vários países, foi demonstrado pela 
primeira vez no Canadá a circulação de componentes de plantas transgênicas como as 
toxinas Cry1Ab e herbicidas a elas associados no sangue de mulheres não grávidas, 
grávidas e de seus fetos48. Esta de fato é uma situação de risco, cujas consequências são 
absolutamente desconhecidas. No mesmo ano, a toxina Cry1Ab presente em variedades 
de milho transgênico causou a morte das células a partir de 100 ppm49. Para Cry1Ac, 
sob tais condições, nenhum efeito foi detectado. Os mesmos autores verificaram que o 
Roundup testado isoladamente nas doses de 1-20 000 ppm é necrótico e apoptótico a 
partir de 50 ppm, muito abaixo diluições agrícolas. 
 
CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS 
A principal conclusão deste artigo refere-se à pequena produção científica sobre 
a questão da segurança alimentar dos OGMs no campo da Saúde Pública, quando 
comparado aos demais estudos sobre os transgênicos. O pequeno número de estudos 
encontrados sobre o assunto evidencia que a polêmica sobre a adoção/incorporação 
desses alimentos justifica-se, entre outros elementos mencionados anteriormente, pela 
incerteza de seus efeitos sobre a saúde e para o meio ambiente, como também pela 
insuficiência de dados experimentais. 
Outra conclusão refere-se ao fato de que todos os estudos discursaram sobre a 
insegurança alimentar dos alimentos geneticamente modificados. Esse fato permite 
apontar uma questão muito importante: quais os estudos, que embasaram a CTNBio 
para permitir as liberações comerciais de transgênicos, se nesta pequena amostra todos 
afirmam que tais alimentos não são seguros? 
Além disso, recomenda-se a avaliação da eficácia da IN nº 20, proposta pela 
CTNBio, principal instrumento para analisar a segurança alimentar dos transgênicos, 
mesmo que este principal instrumento para analisar a segurança alimentar dos 
transgênicos no Brasil tenha sido revogado. Em seu lugar, surge a Resolução 
Normativa nº 5 de 12 de março de 2008, que dispõe sobre normas para liberação 
comercial de OGMs e derivados, onde a análise de questões relativas a qualidade 
nutricional (modificação e/ou inserção de novos carboidratos ou gorduras), a 
alergenicidade e aos efeitos adversos à saúde oriundos dos transgênicos ficam em 
segundo plano. 
Contudo, constata-se a aprovação de três tipos de milho transgênicos, o milho 
Liberty Link (evento LL25), o milho Guardian (evento MON810) e o milho Bt11 
(evento Bt11), sem a existência de estudos de segurança alimentar e de riscos ao meio 
ambiente nos ecossistemas brasileiros, contrariando as normas mais elementares de 
biossegurança, razão pela qual IBAMA e ANVISA recorreram contra a decisão da 
CTNBio junto ao Conselho Nacional de Biossegurança. 
 
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Congresso Nacional Brasileiro e Alimentos Transgênicos no período de 2003 a 
2008: uma questão de Saúde Pública 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este estudo teve o objetivo de identificar, em dois momentos políticos distintos como a 
polêmica dos transgênicos eclodiu no Congresso Nacional. Para tanto, recorreu-se aos 
discursos dos senadores e deputados no período de janeiro de 2003 à dezembro de 2008, 
disponíveis nos sites do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. Observa-se que 
questões como a ausência de bases científicas para tomada de decisões, as competências 
da CTNBio, os interesses econômicos na adoção dos transgênicos e a junção dos 
debates sobre células-tronco e OGM numa mesma lei, são temas recorrentes nos 
discursos. Conclui-se que tal tema gera, entre os parlamentares, polêmica semelhante 
àquela identificada na população em geral, incluindo a comunidade científica, o que 
contribui para a permanência de um alto grau de incerteza quanto a utilização dos 
OGMs. 
Palavras-chaves: Organismo Geneticamente Modificado, Câmara dos Deputados, 
Senado Federal, Transgênicos 
 
ABSTRACT 
 
This study aims to identified, in two different political moments (the new biosafety law 
and the issue of provisional measures), how the controversy on GM foods took place in 
National Congress. With this objective, we studied the speeches of senators and 
deputies from 2003 to 2008, available on the websites of Senate and House of 
Representatives. We observed that issues such as lack of scientific basis for decision-
making, duties of CTNBio, economic interests in the adoption of transgenics and the 
unification of the debate on stem cells and GM in the same law, are recurring themes in 
the speeches. The main conclusion was that the transgenics generates, among 
parliamentarians, controversy similar to that seen in the general population, including 
the scientific community, which contributes to the persistence of a high degree of 
uncertainty about the use of GMOs. 
Keywords: Transgenic, House of Representatives, Senate, GMO 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 O consumo e cultivo de alimentos geneticamente modificados (transgênicos) 
colocam em pauta questões relativas às consequências desta utilização para a saúde da 
população, para a subsistência da agricultura e para a biodiversidade do meio ambiente. 
Além disso, o grande espectro de opiniões e estudos de interesses diversos, e muitas 
vezes conflitantes, intensificam a controvérsia em torno da produção, comercialização e 
consumo destes alimentos1. Destaca-se, no entanto, que faz parte da construção 
científica a presença de incertezas e diversidades de opiniões. Essas não são questões 
negativas. As incertezas são inerentes aos fenômenos ou as teorias. Mas é exatamente 
nesta característica que viceja o avanço da ciência quando tenta diminuir tais incertezas. 
Na discussão dos alimentos provenientes de organismos transgênicos, a ressalva a essa 
variedade científica consiste nos interesses que conduzem certas pesquisas. No entanto, 
negar a existência de incertezas e não procurar diminui-las indica um estado de 
obscurantismo cientifico. 
 Entre os argumentos que sustentam a defesa da tecnologia dos transgênicos 
encontram-se a necessidade de aumentar a produção de alimentos a baixo custo e a 
redução do uso de agrotóxicos2. Outros argumentos incluem a possibilidade de produzir 
alimentos nutracêuticos ou mesmo medicamentos em plantas transgênicas. Já entre os 
argumentos contrários, tem-se justamente o oposto: a inexistência da necessidade de 
aumento da produção de alimentos (e sim sua melhor distribuição), além das situações 
de riscos ao meio ambiente pelo aumento do uso de agrotóxicos e a contaminação das 
plantações silvestres pelos genes transgênicos1,3. Com isso, configura-se uma polêmica 
multifacetária, que se expressa não só na comunidade científica, mas a população como 
um todo, e que envolve, ainda, aspectos econômicos, sociais, ambientais e, 
especialmente, políticos. 
 A atuação do Governo Federal Brasileiro tem sido fortemente questionada por 
diversos setores da sociedade, pela comunidade científica, Organizações Não 
Governamentais, instituições públicas e privadas. No Brasil, o Congresso Nacional 
(CN) é a instituição responsável por exercer o poder legislativo na esfera federal e tem 
como principal atividade legislar e fiscalizar os demais Poderes: Executivo e Judiciário4. 
Instituído desde a Constituição de 1891, o CN é composto por duas Casas: a Câmara 
dos Deputados (CD), representação imediata da população e o Senado Federal (SF), 
casa que representa os Estados e o Distrito Federal5,6. 
Tendo em vista as responsabilidades do CN para com a sociedade, o objetivo 
deste artigo é analisar, os principais temas discutidos com relação aos alimentos 
geneticamente modificados. Parte-se do pressuposto de que os discursos dos 
parlamentares refletem as diferentes posições presentes na sociedade e na comunidade 
científica em relação aos transgênicos. 
Para realização deste estudo foram reunidos e analisados os discursos proferidos 
por senadores e deputados sobre os alimentos transgênicos, no período de janeiro de 
2003 a dezembro de 2008. Os discursos estão disponíveis, para acesso público, nos 
respectivos sites das Casas (www.camara.gov.br e www.senado.gov.br), através de 
transcrições integrais e as palavras-chave utilizadas para a captação deste material 
foram transgênico(s) e Organismos Geneticamente Modificados (OGM). Este intervalo 
de tempo foi considerado representativo, uma vez que engloba momentos importantes e 
composições políticas diferentes (processo de discussão da lei de biossegurança e os 
dois mandados do presidente Luis Inácio Lula da Silva). 
 Para a análise dos discursos utilizou-se a técnica de Análise de Conteúdo, 
modalidade análise temática7. O conteúdo dos discursos reunidos foi exaustivamente 
analisado, o que permitiu a identificação das diversas abordagens do tema transgênico 
em dois momentos políticos específicos: a construção da nova lei de biossegurança e a 
edição de importantes medidas provisórias sobre o assunto. 
 
TRANSGÊNICOS NO CONGRESSO NACIONAL 
 Os descritores utilizados permitiram a localização de 929 discursos, sendo 819 
proferidos por deputados e 110 por senadores. Dos 929 discursos inicialmente 
identificados, 42 (4,5%) não abordam o tema transgênicos, apesar de terem surgido com 
o uso dos descritores supracitados e, conseqüentemente, foram excluídos do estudo. 
A maioria dos discursos foi proferida nos anos de 2003, 2004 e 2005, 
representando 22,7%, 34,7% e 26,5%, respectivamente, evidenciando uma discussão 
menos intensa nos anos de 2006, 2007 e 2008, o que não representa, no entanto, uma 
redução na polêmica entre os brasileiros. Destaca-se que o ano de 2003 foi marcado 
pela votação de importantes medidas provisórias e pelo inicio da discussão da nova lei 
de biossegurança, cujo debate persistiu pelos anos de 2004 e 2005. 
 Constatou-se maior freqüência de discursos por parte de políticos do Partido dos 
Trabalhadores (PT- 23,8%), seguido do Partido do Movimento Democrático Brasileiro 
(PMDB-13,3%) e do Partido da Frente Liberal (atual Partido Democrático - DEM) 
(PFL-12%). 
Cabe ressaltar, ainda, que o estado do Rio Grande do Sul foi o mais representado 
nos debates sobre OGM (20,9%), seguido pelos estados de São Paulo (11,9%) e do 
Paraná (9,5%). A Região Sul do país sempre foi palco de discussões intensas sobre os 
transgênicos, em decorrência de dois acontecimentos marcantes: a declaração do estado 
do Paraná de ser um “estado livre dos transgênicos” e o Rio Grande do Sul ser o local 
onde houve a primeira plantação ilegal de sementes geneticamente modificada8.Sobre o posicionamento dos políticos a respeito dos OGM, 40,2% dos discursos 
não explicitaram claramente uma posição, 35,5% foram favoráveis a essa tecnologia e 
23,5% contrários. Menos de 1% dos discursos apresentaram uma posição ambígua 
diante do assunto. 
 Para melhor compreensão, os discursos foram agrupados segundo dois 
momentos políticos distintos (a elaboração da nova lei de biossegurança e a edição de 
Medidas Provisórias sobre Transgênicos), buscando, com isso, apresentar e discutir 
como a polêmica foi abordada pelos parlamentares nesses momentos. Cabe relatar que 
os dois períodos políticos foram escolhidos uma vez que representam os principais 
acontecimentos, no que se refere aos transgênicos, no período de 2003 à 2008. 
 
1 - Nova Lei de Biossegurança 
 A tramitação e a promulgação da nova lei de biossegurança (Lei nº 11.105, de 24 
de março de 2005) desencadeou intensas discussões sobre os OGMs no Congresso 
Nacional. Antes de discutir o conteúdo da nova lei, que regulamenta o cultivo e 
consumo dos OGM no Brasil, assim como normatiza o uso de células-tronco, faz-se 
necessário explicar o processo de sua tramitação. Seu Projeto de Lei de Biossegurança 
(PL nº 2.401) foi apresentado pelo Poder Executivo em outubro de 2003, necessitando 
de apreciação do Legislativo, conforme determina a Constituição Federal de 1988. 
Inicialmente o Projeto foi para apreciação da Câmara dos Deputados, onde foi escolhido 
um relator para o Projeto, cujo parecer foi votado em Plenário. Após ser aprovado na 
Câmara, o Projeto seguiu para o Senado Federal, onde outro relator foi nomeado. Esse 
relator decidiu apresentar substitutivo ao texto original, o que determinou o retorno do 
Projeto à Câmara para uma segunda votação. Após essa segunda votação, o texto foi 
encaminhado ao Presidente que sancionou a Lei. 
O início da tramitação na Câmara dos Deputados teve como relator o Deputado 
Aldo Rebelo (PCdoB/SP). Seu parecer desencadeou intensa discussão, uma vez que 
introduziu a temática das pesquisas com células-tronco embrionárias e determinou as 
competências da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) sobre a 
utilização do OGM. Cabe ressaltar que, o Deputado Aldo Rebelo também foi relator, 
em 2011, do Projeto de Lei (PL) nº. 1876/1999 que altera substancialmente o Código 
Florestal em vigor. 
Criada em 1995, a CTNBio é integrante do Ministério da Ciência e Tecnologia 
sendo uma instância colegiada multidisciplinar de caráter consultivo e deliberativo. Sua 
principal função é “prestar apoio técnico e de assessoramento ao Governo Federal na 
formulação da Política Nacional de Biossegurança de OGM e seus derivados, bem 
como no estabelecimento de normas técnicas de segurança e de pareceres técnicos 
referentes à autorização para atividade que envolvam pesquisas e uso comercial de 
OGM e seus derivados”9. 
O parecer que efetivamente foi votado no plenário da CD foi o do Deputado 
Renildo Calheiros, pois o 1º relator, por motivos políticos, afastou-se da Casa. O 
parecer do deputado Calheiros retirou do relatório do deputado Rabelo as pesquisas com 
células-tronco embrionárias; restringiu as autorizações da CTNBio a pesquisas com 
OGMs; determinou que o Conselho Nacional de Biossegurança seria a última instância 
no que tange as liberações comerciais de OGMs e o IBAMA avaliaria a necessidade de 
licenciamento ambiental e do Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Enfatiza-s e que, 
o PL nº 2.401 apresentado pelo Poder Executivo na Câmara dos Deputados abordava 
somente a normatização dos transgênicos. A introdução da discussão sobre o uso das 
células-tronco foi uma alteração feita pelo 1º relator do projeto na Câmara. 
Apesar da proibição de pesquisas com células-tronco, introduzida pelo parecer 
do Deputado Calheiros, pode-se observar que as discussões sobre essas pesquisas 
permaneceram e predominaram, o que manteve “disfarçado” o real objetivo da Lei que 
era a regulamentação dos organismos transgênicos no país9,10. 
Segundo Taglialegna et al10 o parecer do Deputado Renildo Calheiros foi 
favorável à posição dos ambientalistas e contrários aos interesses da bancada ruralista, 
pois reduz os poderes inicias propostos para a CTNBio e proibiu o uso com células-
tronco. 
A divergência de posições sobre transgênicos e células-tronco na Câmara dos 
Deputados pode ser exemplificada pelos trechos dos discursos apresentados abaixo. Os 
deputados que defendem a utilização dos transgênicos utilizam argumentos baseados em 
falta de conhecimentos científicos, defesa de interesses nacionais e avanços 
econômicos: “De modo simples, poderíamos resumir esta polêmica assim: 
pesquisadores defendem os transgênicos, ambientalistas defendem produtos orgânicos. 
A diferença é que, para entender a tese dos defensores dos transgênicos, é preciso um 
pouco de conhecimento de biologia. Para assumir a postura dos que são do contra, 
basta ter medo, basta ter introjetado que natural é melhor.” (DEPUTADO DARCÍSIO 
PERONDI – PMDB/RS, 27/02/2003). “A incompreensão dos ambientalistas é 
infundada, porque o projeto de biossegurança não rasga os dispositivos constitucionais 
nem o arcabouço que define e defende o meio ambiente. Muito pelo contrário. Ele o 
protege e o preserva.” (DEPUTADO FRANCISCO TURRA - PP/RS, 05/10/2004). 
“(...) os ambientalistas, os quais - repito - não se baseiam em teorias românticas, mas 
científicas.” (DEPUTADO DELEY –PV/RJ, 07/07/2004).“Não é que os ruralistas — e 
me incluo nesse grupo — sejam maldosos ou queiram decretar o fim dos tempos e, a 
partir do plantio de soja transgênica, de mamão transgênico, batatinha transgênica, 
amendoim transgênico, estejam realmente promovendo o apocalipse no mundo ou no 
Brasil. Não é isso. Queremos realmente que haja o aproveitamento econômico.” 
(DEPUTADO CONFÚCIO MOURA - PMDB/RO, 25/09/2003). 
Já os deputados que condenam a liberação dos transgênicos o fazem através de 
argumentos como a falta de estudos de longo prazo, as incertezas da utilização desses 
produtos e, principalmente, os interesses econômicos que permeiam tal discussão, 
conforme pode-se observar no discurso a seguir: “Não podemos, porém, aceitar que por 
trás desse belo discurso estejam pesquisadores ligados às grandes multinacionais ou 
mesmo a ruralistas que querem liberar de qualquer forma os transgênicos no País.” 
(DEPUTADO DR. ROSINHA – PT/PR, 29/01/2004). 
No Senado Federal, o Projeto (agora designado Projeto de Lei da Câmara (PLC) 
nº 9 de 2004) passou por três comissões, que o analisaram conjuntamente e designaram 
o Senador Ney Suassuna (PMDB/PB) como relator. 
No início da tramitação no Senado, a Comissão de Educação apresentou um 
requerimento para que o Projeto passasse também por ela, sendo o Senador Osmar Dias 
(PDT/PR) o relator. O parecer do Senador Osmar Dias autorizava as pesquisas com 
células-tronco embrionárias e concedeu maiores poderes à CTNBio. Segundo esse 
relatório, a CTNBio passaria a ter competência para decidir sobre liberações comerciais 
de OGMs. Em caso de divergência com outras instituições, o Conselho Nacional de 
Biossegurança (CNBS) seria convocado. 
O parecer do senador Ney Suassuna, relator das três comissões iniciais, 
apresentava algumas diferenças comparativamente ao parecer do senador Osmar Dias. 
Destaca-se que a definição dos poderes da CTNBio no processo de liberação do uso de 
OGM foi o ponto de intensas discussões no Congresso Nacional: “Vejam a subversão 
de hierarquia nesse projeto do Senado. O "Conselhão" de 11 Ministros de Estado se 
submete à CTNBio, órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. E essa 
inversão de valores está presente em dois outros momentos, que queremos corrigir nos 
destaques. O primeiro diz que a decisão da CTNBio vincula todos os órgãos do 
Governo, e o segundo, que a CTNBio delibera, em última e definitiva instância, sobre a 
necessidade do licenciamento