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Artigo A Culpabilidade ...

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A CULPABILIDADE COMO ELEMENTAR DO CRIME OU PRESSUPOSTO PARA A APLICAÇÃO DA PENA
Maria Luzinete Correia
Fabrício Fernandes Andrade
RESUMO
Uma vez que o trabalho de legislar sobre o Direito Penal está adstrito a criação das leis, não há no nosso Código Penal uma conceituação do que seria o crime, labuta esta que coube aos doutrinadores penais, árduos estudiosos das nossas legislações. Consequentemente, posicionamentos e correntes por este ou aquele estudo são formados, e não diferente ocorre com a Teoria do Crime, da qual surgiram as concepções bipartite, tripartite e quadripartite. A teoria quadripartite em muitas obras não chega nem a ser mencionada, já que rebatida pela maioria dos estudiosos, restando o debate acerca da bipartição ou tripartição do crime. O ponto de divergência entre estas teorias é a incidência ou não da culpabilidade como elementar do crime. Para os bipartites, a culpabilidade é pressuposto para aplicação da pena, enquanto os tripartites a defendem como elementar do crime. Demonstrada a problemática deste trabalho, fica evidenciado que irá tratar das teorias do crime com destaque no estudo da culpabilidade, já que é ela responsável pelo embate.
Palavras-chave: Crime. Bipartite. Culpabilidade. Elementar do Crime. Pressuposto de Pena.
ABSTRACT
Since the work to legislate on criminal law is assigned the creation of laws, there is in our Criminal Code of a conceptualization that would be the crime, this toil that fell to the criminal law professors, scholars strenuous of our laws. Consequently, current positions and for this or that study are formed, and is no different with the Theory of Crime, which came the conceptions bipartite, tripartite and quadripartite. Quadripartite theory in many works, not even being mentioned, as hit by most scholars, leaving the debate about the tripartite splitting or crime. The point of divergence between these theories is the incidence or not guilty of the crime as elementary. For bipartite, the guilt is a prerequisite for imposing the death penalty, while the tripartite defend it as the base crime. Demonstrated the problems of this work, it is clear that will address the theories of crime with emphasis on the study of guilt, since it is responsible for the crash.
Key-words: Crime. Bipartite. Culpability. Elements of the crime. Assumption Pena.
INTRODUÇÃO
A história do crime é intrínseca aos primórdios da vivência humana, pois não há pessoa que, ao menos em sua consciência, nunca tenha tido um pensamento que fosse contrário ao ordenamento jurídico ou ao bom convívio social, e consequentemente, tenha se punido mentalmente e repudiado a idéia de causar um mal injusto a outrem.
O estudo do crime sob aspecto analítico coube aos doutrinadores penais, já que nossa legislação penal atual não traz uma conceituação do que seria o crime, mas tão somente uma indicação das espécies penais, contravenção e crime, dispostas na exposição de motivos do código penal.
Diante dos estudos acerca do tema, houve a propagação de algumas teorias em nosso meio jurídico, a saber, as teorias bipartite, tripartite e quadripartite, sendo que a doutrina majoritária aponta para os seguidores da teoria tripartite, seguida pelos defensores da bipartite que vêm ganhando repercussão e discussão acerca do tema, enquanto que a quadripartite é repelida justificadamente por praticamente todos estudiosos.
O ponto de divergência entre as correntes é a incidência da culpabilidade como elementar do crime ou pressuposto para aplicação de pena, sendo que este último entendimento, embasador da corrente bipartite, vem angariando mais adeptos atualmente e ganhando destaque entre os estudiosos do tema, inclusive com o surgimento de novas concepções para justificar a teoria à qual os doutrinadores se posicionam.
Além do estudo das teorias do crime, a culpabilidade também ganhará certo enfoque, já que a mesma é o elemento que se inclui (requisito do crime) ou extrai (pressuposto de pena) para determinar o seguidor desta ou daquela teoria.
O objetivo do presente artigo é estudar o crime a partir do seu conceito analítico e verificar qual o posicionamento mais condizente com o atual estágio social, pois assim como a sociedade, o direito é dinâmico e evolui com o passar dos tempos. 
 A finalidade é expor e analisar as justificativas de cada teoria, bem como dissertar sobre a culpabilidade de forma mais profunda, buscando identificar os pontos convergentes e divergentes acerca do tema, para ao final apresentar uma conclusão que esteja em maior consonância com o atual estágio do nosso Direito Penal.
Para realizar essa pesquisa, foram feitos levantamentos e estudos das referências bibliográficas, já que a técnica legislativa se eximiu deste papel, cabendo então aos doutrinadores e estudiosos penais o estudo do conceito analítico de crime.
1 OS CONCEITOS DO CRIME E SUAS TEORIAS 
A conceituação do crime ocorre de diversas formas, pois pode ser visto pelos aspectos formal, material e analítico, sendo que esta última forma é que ganha destaque no estudo do crime.
Sob o aspecto analítico é que se formaram as correntes bipartite, tripartite e quadripartite, enquanto nos conceitos material e formal não há discussões entre os doutrinadores.
CONCEITOS MATERIAL, FORMAL E ANALÍTICO
Sob aspecto material, o crime é conceituado como a ação ou omissão que lesa ou põe em risco bens jurídicos. 
Conceituado pela óptica formal, crime é a escrita da lei trazida a nós pelos legisladores, ou seja, é a “letra da lei”. 
Pelo que se percebe, utilizando-se somente do conceito formal e material, não é possível uma análise mais intrínseca do crime, que possa mostrar os seus elementos constitutivos, papel este que cabe ser estudado por meio do aspecto analítico.
O estudo do conceito analítico do crime coube então aos pesquisadores do tema, pois não há na nossa legislação penal a definição do mesmo.
Ao construir seus conceitos, a dogmática penal, põe limites ao poder de punir do Estado e possibilita a aplicação segura e calculável das normas repressivas, cabendo aos estudiosos essa tarefa de indicar o caminho lógico a ser trilhado para afirmar ou descartar a incriminação nos casos concretos. 
Tendo em vista a omissão do Legislador, e com base no estudo analítico, surgiram então as teorias bipartite, tripartite e quadripartite, as quais conceituam o crime através da junção de elementos, sendo eles a tipicidade, a antijuridicidade, a culpabilidade e a punibilidade, sendo que esta última já é descartada quase que majoritariamente pelos estudiosos penais, enquanto as demais discutem a culpabilidade como parte integrante ou não do crime.
 TEORIA QUADRIPARTITE
Pouco difundida pelos estudiosos penais, a teoria quadripartite defende que o crime é composto por quatro elementos, sendo eles: tipicidade, antijuridicidade, culpabilidade e punibilidade.
Percebe-se então que a punibilidade é o elemento que justifica os posicionamentos a favor desta teoria, Greco (2008, p. 142) citando exemplos expõe “alguns autores, a exemplo de Mezger e, entre nós, Basileu Garcia, sustentam que a punibilidade também integrava tal conceito, sendo o crime, pois, uma ação típica, ilícita, culpável e punível.”
Da mesma forma que a justifica, a punibilidade é o requisito responsável pelo pouco prestígio da teoria quadripartite em nosso país, pois a maioria dos doutrinadores converge em pensar que a punibilidade é um pressuposto ligado diretamente ao cumprimento da pena, ou seja, posterior ao cometimento do crime, e lógica e consequentemente, não elementar deste. 
Após breves apontamentos sobre a teoria quadripartite, mostra-se descabido tal posicionamento dentre o nosso meio jurídico, tanto pelo pouco prestígio desta corrente quanto pelos argumentos contrários que a mesma recebe. Se nossa Lei de Execuções Penais fosse devidamente empregada, cumpriria a cabo o que os autores entendem pertencer ao campo da punibilidade, qual seja um processo de cumprimento de pena mais integrado ao meio social e quepossibilitasse ao condenado um retorno à sociedade de forma digna. 
1.3 TEORIA TRIPARTITE
Retire-se a punibilidade como elemento da teoria quadripartite e teremos, então, o conceito tripartite, elencando o crime como um fato típico, antijurídico e culpável. O precursor da teoria tripartida do delito foi Beling, conforme se depreende das palavras de Bitencourt (1997, p. 26):
A tipicidade foi o último predicado que se somou na construção da forma tripartida do conceito de delito, permitindo a Beling, seu autor, formular a seguinte definição: “Delito é a ação típica, antijurídica, culpável, submetida a uma cominação penal adequada e ajustada às condições de dita penalidade”.
De concepção mais clássica, a teoria tripartite é a que abarca uma maior quantidade de doutrinadores penais atualmente, a qual cita como elementos do crime a tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade.
A grande problemática da teoria tripartite para os que a rechaçam é a manutenção da culpabilidade como sua elementar, o que teria ocorrido devido ao criador do finalismo ter entendido que a ela é intrínseca ao crime: “Welzel deixou claro que, para ele, o crime só estará completo com a presença da culpabilidade”.
Os defensores da teoria triparatite têm como premissas básicas o fato dela ser mais difundida pelos doutrinadores e consequentemente ser majoritária, bem como aduzir que a culpabilidade é elementar do crime ante o agente que o pratica ser passível de entender, subjetivamente, que está praticando o crime e poderá então cumprir a pena que venha a ser cominada a ele. 
1.4 TEORIA BIPARTITE
Em que pese alguns estudiosos atribuírem ao ilustre penalista Damásio a difusão da teoria bipartite no Brasil, o mesmo não faz jus a tal mérito, pois o primeiro a defender seus fundamentos a favor do crime como fato típico e antijurídico foi o professor René Ariel Dotti. 
Pelo sistema penal brasileiro, o cidadão que transgride as normas penais pátrias pratica um fato delituoso, crime ou contravenção, ao qual após ser devidamente comprovada a sua prática delituosa é aplicada como forma de repreensão uma sanção, ou pena, portanto, a pena é consequência do delito praticado. 
Não se pode afirmar que a teoria bipartite seja pacífica em nosso meio, mas com certeza já é comum e defendida principalmente pelos novos escritores que se aventuram na interpretação das leis penais.
Em que pese os doutrinadores penais da corrente bipartite terem formulado três fundamentações para justificar sua posição, o melhor entendimento e também mais citado pelos partidários desta corrente, até mesmo por ser o mais científico, é o que se embasa na própria evolução da culpabilidade e na teoria finalista da ação. Primeiro porque na medida em que foram retirados dolo e culpa da culpabilidade e levados para a conduta, a mesma ficou desprovida da subjetividade do crime e composta tão somente por elementos normativos, e em segundo plano, a teoria finalista da ação de Welzel, demonstrou que toda ação sempre visa um fim específico, e que dolo e culpa realmente pertencem à conduta, deixando a culpabilidade, com seus elementos puramente normativos, para ser analisada somente após o cometimento do crime.
CULPABILIDADE
A culpabilidade como princípio do Direito Penal leva à concepção que o autor de um crime não poderá ser responsabilizado pelo mesmo se não houver agido com dolo ou ao menos culposamente. 
Nas palavras do professor Gomes (2004, p. 345), o mesmo nos traz o conceito da culpabilidade da seguinte forma: “é juízo de reprovação que recai sobre o agente do injusto punível que podia concretamente agir de modo diverso, conforme o Direito, e não agiu”.
Ao homem que vive em sociedade é atribuído uma conduta eivada de razão visando um convívio social pacífico, enquanto aos animais é atribuído apenas um instinto de sobrevivência. 
HISTÓRICO DA CULPABILIDADE E SUAS TEORIAS
No atual estágio da culpabilidade como juízo de reprovação à conduta do agente, a mesma é constituída de três elementos básicos: a imputabilidade, o potencial conhecimento da ilicitude do fato e a exigibilidade de conduta diversa. 
Mas antes de chegar ao entendimento acima exposto, dito normativo puro, a culpabilidade passou por um período psicológico, um normativo-psicológico e o atual, dito normativo puro, em que não há subjetividade no estudo da culpabilidade. 
2.1.1 Teoria Psicológica
A Teoria Psicológica, surgida na transição do século XIX para o XX, e formulada pelos estudiosos Von Liszt e Beling, concebia que a culpabilidade seria a ligação psicológica do autor do crime com o fato praticado, ligação esta que poderia se dar por culpa ou dolo, demonstrando assim que continha unicamente elementos subjetivos.
Esta estrutura, que definia a ação como “movimento corporal voluntário que provoque modificação no mundo exterior”, considerava a culpabilidade como simples liame psicológico existente entre o autor e o fato por ele praticado (RODRIGUES, 2009, p. 25).
Além do dolo ou culpa como elementos objetivos, a imputabilidade também era requisito no estudo da culpabilidade, incluindo-se como caráter subjetivo.
Em resumo, culpabilidade, para essa primeira fase do causalismo, confundia-se com o dolo ou a culpa. 
Os doutrinadores notaram que na teoria psicológica poderia haver crime sem que o agente o quisesse, ou mesmo uma culpabilidade a quem não poderia responder pelo crime, o que não pode ser aplicado à culpa inconsciente, pois nesta modalidade não há vinculo psicológico entre o agente e o fato, já na conduta de um doente mental, existe vínculo psicológico, pois ele atual com vontade daquele resultado. 
2.1.2 Teoria Normativo-psicológica
Tendo em vista as diversas críticas apontadas na teoria psicológica, surge em 1907, como ponto inovador desta nova teoria o acréscimo da elementar da reprovabilidade da conduta trazido por Frank, deixando a culpabilidade de ser um mero liame subjetivo entre autor e fato, passando a integrá-la a exigibilidade de conduta diversa, elemento este que acrescentou as primeiras características normativas à culpabilidade.
Segundo Bitencourt (1999, p. 333) “Por esta teoria, para haver dolo, como elemento de culpabilidade, fazia-se necessário que o agente quisesse praticar um fato típico e ilícito, com a consciência da antijuridicidade desse fato.”, ou seja, o autor do crime deveria saber que estava praticando um ato contrário à lei, consciente da ilicitude do fato.
Acrescentou na culpabilidade, além do dolo e da culpa, a exigibilidade de conduta diversa.
2.1.3 Teoria Normativa pura
O idealizador da teoria Normativa Pura foi Hans Welzel, que a formulou juntamente com a sua teoria finalista da ação, e como não poderia deixar de ser, apresentou uma nova concepção sobre a culpabilidade, indo diretamente contra a teoria psicológico-normativa e construindo uma nova estrutura do crime através de uma reorganização dos seus elementos, pois retirou dolo e culpa da culpabilidade.
Percebe-se que o grande ponto de destaque e inovação revolucionária desta teoria foi a alocação do dolo ou culpa na conduta, pois estariam diretamente ligados a ela, e não à culpabilidade.
Duas novas teorias surgiram, sendo elas a teoria complexa da culpabilidade e a teoria da responsabilidade normativa. A primeira afirmava que o dolo ou culpa deveriam ser estudados, independentemente, dentro do fato típico e da culpabilidade, e a segunda levaria a culpabilidade para o campo da “responsabilidade penal”. 
	Em que pese algumas críticas e tentativas de pacificação de novas teorias, a culpabilidade normativo-pura em conjunto com a teoria finalista da ação são as que ficaram estabelecidas dentre os doutrinadores nacionais, como vemos na transcrição a seguir com o posicionamento do professor Teotônio (2002, p. 74) “dessa forma, a doutrina brasileira encara a culpabilidade, com a adoção do finalismo, extraindo dela todos os elementos subjetivos que a integravam, tornando-a puramente normativa”.
Posto e explicitado a evolução das teorias da culpabilidade, econcluído que o posicionamento nacional é pela teoria normativo-pura, seguir-se-á com o estudo das elementares da culpabilidade.
2.2 ELEMENTOS DA CULPABILIDADE
	
	Das palavras de Teotônio (2002, p. 79) depreende-se que no atual estágio da culpabilidade, a mesma é formada ou está estruturada em três elementos de ordem puramente normativa, que são: imputabilidade, possibilidade de conhecer a ilicitude do ato praticado e exigibilidade de comportamento conforme a lei.
2.2.1 Imputabilidade
Assim como nosso Código Penal não conceitua o crime, também não o faz com a imputabilidade, pois apenas a cita nos artigos 26, caput, 27 e 28, §1º (BRASIL, 1984) os casos relacionados à imputabilidade. 
Nas palavras de Teotônio (2002, p. 80) “A Lei Penal brasileira não apresenta definição de imputabilidade, que se extrai, a contrario sensu, das normas sob a rubrica “Da Imputabilidade Penal”, no Título III, do Código Penal” (grifo do autor). A seguir, os artigos enumerados:
Art. 26: É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Art. 27: os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.
Art. 28: não excluem a imputabilidade penal:
§1º a pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
	Para ser considerado imputável quanto à prática de um crime, o sujeito ativo deve ter a consciência de que está praticando um fato reprovável e também precisa ter a livre vontade, ou seja, deve querer o resultado advindo de sua conduta, possuindo então condições pessoais para que possa responder pelo crime cometido.
	
2.2.2 Potencial consciência da ilicitude do fato
A imputabilidade conduz o agente à possibilidade de ser punido por ter praticado o ato conscientemente e ter querido o seu resultado, mas isto não basta para ser culpável, deverá também ter conhecimento, ou ao menos poder reconhecer, que o fato praticado por ele é ilícito.
As excludentes de culpabilidade com base no desconhecimento da ilicitude do fato estão previstas legalmente no artigo 21 do Código Penal (BRASIL, 1984), sob o título “Erro sobre a ilicitude do fato” que diz: " Art. 21. O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a iliticitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.”
	A potencial consciência sobre a ilicitude do fato é o segundo requisito necessário para a constatação da culpabilidade do agente, devendo ser analisado se o agente, nas circunstâncias em que se encontravam quando do cometimento do crime, tinha a possibilidade de conhecer a ilicitude da conduta por ele praticada.
2.2.3 Exigibilidade de conduta diversa
Em nosso Código Penal (BRASIL, 1984) são previstas duas causas de exclusão da elementar exigibilidade de conduta diversa, citadas nas duas partes do artigo 22, a seguir transcrito: “Art. 22. Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.”
	O dispositivo acima permite ao agente alegar dois casos de exclusão da culpabilidade, primeiro por ter cometido o crime sob coação irresistível ou em obediência hierárquica.
	A coação irresistível poderá ocorrer sob duas formas, a moral e a física, na primeira, o agente cometerá o crime sob uma grave ameaça, enquanto na segunda, ocorrerá uma força física que o impelirá no cometimento do ilícito. 
	A segunda parte do artigo 22 traz a possibilidade do sujeito ativo alegar exclusão de sua culpabilidade por ter agido em obediência a ordem hierárquica de superior, mas não é qualquer tipo de ordem que poderá ser arguida, mas sim a que não tenha cunho de ser manifestamente ilegal. 
	O grande marco da evolução da culpabilidade foi a transferência dos seus elementos anímicos, dolo ou culpa, para a tipicidade da conduta, sob alegação de que toda ação visa um fim, mesmo que não esperado no caso da ação por culpa. Tal posicionamento implicou em novas concepções para o estudo da teoria do crime, pois a culpabilidade, enquanto contava com dolo ou culpa, era um requisito para a existência do crime na chamada teoria tripartite, que como já visto, conta com três elementares dentre as quais a culpabilidade. Surgiu então no estudo do crime a teoria bipartite, a qual alega ser a culpabilidade requisito para aplicação de pena e não elementar do crime como defendido pelos tripartites.
3 CULPABILIDADE COMO ELEMENTAR DO CRIME OU PRESSUPOSTO PARA APLICAÇÃO DA PENA
Até o presente momento foi estudado sobre as teorias bipartite, tripartite e quadripartite, e em específico a culpabilidade, posto que ela é o ponto de divergência entre as teorias do crime.
Pretende-se agora, delimitar o porquê da teoria bipartite ter a culpabilidade como pressuposto para aplicação da pena, enquanto a tripartite a coloca como requisito para a existência do crime.
Demonstrada a problemática da questação, passemos às justificativas de cada corrente.
3.1 ELEMENTAR DO CRIME
Aqueles que admitem a culpabilidade como requisito do delito, lecionam que a mesma incide sobre o fato, já para os que admitem que a culpabilidade é exterior ao crime, ensinam que ela incide sobre o autor do fato. Defensor da teoria tripartite temos o posicionamento Teotônio (2002, p. 98) ao dizer que “O juízo de reprovabilidade tem como destinatário o sujeito, mas constrói-se a partir do fato concreto em que ele agiu”.
	Os tripartites defendem que não há como separar os elementos do crime, pois são todos interligados e tidos como pressupostos para que a pena possa ser aplicada. Posto isso, a culpabilidade é vista diante do fato em sim e não do autor, o que não ocorre para os que defendem a culpabilidade como pressuposto da pena, conforme será explanado no capítulo a seguir.
3.2 PRESSUPOSTO DA PENA
	Como já foi devidamente explanado, para os doutrinadores que defendem o crime pela teoria bipartite, a culpabilidade não é elementar deste e passa a ser alocada como mero pressuposto para aplicação da pena. O ilustre Mirabete (2006, p. 85) expõe o seguinte pensamento: 
A culpabilidade, tida como componente do crime pelos doutrinadores causalistas, é conceituada pela teoria finalista da ação como a reprovação da ordem jurídica em face de estar ligado o homem a um fato típico e antijurídico. É, em ultima análise, a contradição entre a vontade do agente e a vontade da norma. Assim conceituada, a culpabilidade não é característica, aspecto ou elemento do crime, e sim mera condição para se impor a pena pela reprovabilidade da conduta.
	Em breve síntese ficou demonstrado que para os bipartites, também defensores da teoria finalista da ação, a culpabilidade não integra o crime, pois ela está ligada ao autor devido ao juízo de reprovabilidade social, funcionando perante o Direito Penal, especificamente na teoria do crime, como pressuposto para aplicação da pena.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
	Alegam diversos escritores que a primeira demonstração humana de Direitos foi na seara Penal, e ainda assim a vida em sociedade está longe de chegar em seu ideal de paz e igualdade no convívio social.
Foi demonstrado no transcorrer deste trabalho que a tarefa de conceituar o crime pode assumir três conotações, sendo elas a material, formal e analítica, mas a de maior importância é a análise analítica do que é o crime, já que define seus elementos constitutivos.
	Tal estudo coube aos doutrinadores penais, os quais acabaram por criar três correntes que podem conceituar o crime como bipartite, tripartite e quadripartite, sendo esta última corrente descartada pela maioriados estudiosos devido as novas concepções penais e por pouco influenciar os doutrinadores da atualidade.
	Os objetivos traçados foram o estudo das teorias bipartite e tripartite, sendo que o ponto de controvérsia entre elas é a alocação da culpabilidade como elementar do crime ou pressuposto para aplicação da pena, e como consequência prática, a culpabilidade também ganhou destaque.
	Os defensores da tripartição do crime, os quais colocam a culpabilidade como elementar do mesmo, fazem parte da corrente majoritária e mais antiga, tendo como principal expoente o jurista alemão e criador da teoria finalista da ação, Hans Welzel, o qual asseverou em seus estudos que a culpabilidade é inegavelmente requisito do crime, sendo que este posicionamento continua sendo adotado pelos seguidores de Welzel.
	Já os estudiosos que optam por embasar o crime pela teoria bipartite, trazem como principal fundamento a própria evolução da culpabilidade, a qual durante a transição de suas teorias acabou por deslocar a incidência do dolo ou culpa para a ação típica, estudo este que anteriormente era feito no interior da própria culpabilidade, e é justamente por este “esvaziamento” da parte subjetiva da culpabilidade que os doutrinadores bipartites afirmam seu posicionamento em estar caracterizado o crime presentes apenas a ocorrência de um fato típico e antijurídico.
	Como não poderia deixar de acontecer, os tripartites colocam a culpabilidade como elemento do crime, enquanto os bipartites a atribuem o papel de pressuposto para aplicação da pena.
	Demonstrado os pontos de justificação de cada corrente, creio que de caráter mais científico e paltado no dinamismo do Direito são as afirmações da corrente bipartite, pois inegável que com a evolução da culpabilidade a mesma perdeu a característica que a fazia integrar o estudo do crime, que era o estudo do dolo e culpa. Ademais, não é porque deixou de ser estudada pela teoria do crime que deixou de ser importante, pois é ela de grande relevância no estágio seguinte caracterizado pela teoria da pena, em que a culpabilidade do agente deve ser devidamente comprovada para que se possa aplicar-lhe a pena necessária. 
	Como demonstrado por meio do estudo da teoria da culpabilidade, os institutos do Direito Penal são dinâmicos e se desenvolvem à medida que novas concepções são criadas e se adéquam melhor à atualidade, e é devido a este caráter do Direito que a teoria bipartite do crime vem se tornando cada vez mais comum dentre os doutrinadores e acabará por ser majoritária em nosso meio.
	
REFERÊNCIAS
BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de Direito Penal : Parte Geral. 5. ed. São Paulo: RT, 1999
 . Teoria Geral do Delito. São Paulo: Editora revista dos tribunais. 1997.
BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal.
GOMES, Luiz Flávio Gomes. Direito Penal : Parte Geral, introdução. 2. ed. São Paulo: RT, 2004.
______. Direito Penal : parte geral, teoria constitucionalista do delito. São Paulo: RT, 2004.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal : Parte Geral. 10. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal : Parte Geral. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
RODRIGUES, Cristiano. Teorias da Culpabilidade e Teoria do Erro. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
TEOTÔNIO, Luis Augusto Freire. Culpabilidade : Concepções e Modernas Tendências Internacionais e Nacionais. São Paulo: Minelli, 2002.

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