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TÉCNICA MIOFASCIAL Técnica de liberação miofascial e sua aplicação nas tensões musculares da região cervical Introdução A técnica de liberação miofascial é um dos métodos de tratamento dos tecidos moles mais antigos da história. Muitas das técnicas miofasciais se originaram da Osteopatia nos EUA (Rubik, 1992 apud Dixon, 2007). Marcel Bienfait (1999) apresentou estas técnicas através do livro Fáscias e Pompagens, e hoje estão incorporadas a fisioterapia tendo como principal indicação a manutenção das tensões miofasciais. Consiste em uma manobra de bombeamento, um puxar-relaxar sucessivos de um segmento corporal, capaz de atingir todas as estruturas fasciais nele contidas, até as mais profundas. O tratamento realiza-se em três tempos: tensionamento, manutenção da tensão e retorno à posição inicial. Tal seqüência possibilita relaxamento muscular, melhora da circulação e regeneração articular. Muitas dores cervicais têm como origem primária a tensão miofascial, que leva a restrição tecidual e conseqüente diminuição do arco de movimento de uma articulação. Na região cervical a tensão gerada por músculos vertebrais, pré-vertebrais e acessórios da respiração podem contribuir muito para o desequilíbrio postural e originar patologias musculares como os pontos gatilhos miofasciais (síndrome da dor miofascial) e articulares como os osteófitos cervicais, a artrose e a irritação nervosa por diminuição de espaço articular. Na última década as técnicas de liberação miofascial têm ganhado na fisioterapia um campo sem precedentes e são utilizadas isoladamente ou como coadjuvantes a técnicas como a Osteopatia e o RPG. A Fáscia A fáscia é um tecido conjuntivo de sustentação, invólucro de órgãos e músculos. Os invólucros musculares encontram-se internamente ligados, em continuidade, de maneira a formar um verdadeiro esqueleto fibroso apoiado sobre o esqueleto ósseo. Rodeia todos os órgãos em forma tridimensional e desta maneira permite manter-los em uma correta posição e funcionamento.[1] As fibras musculares, portanto, estão contidas nesse conjunto de tecidos, que acaba por formar uma peça única. A contração de um determinado músculo leva ao tensionamento do conjunto das fáscias. Ela é continua, e quando uma parte se movimenta, o corpo responde como um todo. Funcionalmente, o único tecido ao qual se pode atribuir tal, é o tecido conjuntivo. Do ponto de vista de sua estrutura molecular, a fáscia é composta principalmente de: · Elastina – proteína que permite obter suficiente elasticidade em lugares específicos como os tendões, a pele e as artérias. · Colágeno – proteína que assegura a fáscia força e proteção para estiramentos excessivos. O colágeno é uma proteína de curta duração, não estável, esta agrupada no interior do tecido em feixes “cimentados” por uma mucina hidrófila que tem a propriedade de fixar substancias extraídas no meio interno. Um fator importante para uma renovação é o tensionamento tecidual. Quando a tensão é contínua e prolongada, as moléculas de colágeno instalam-se em série. As fibras colagenosas e os feixes conjuntivos alongam-se. Quando a tensão é curta e repetida, as moléculas de colágeno instalam-se em paralelo. As fibras colagenosas e os feixes conjuntivos se multiplicam ocorrendo retração e densificação tecidual. As Pompages As pompages podem ter diferentes objetivos dependendo da forma de sua utilização. Com objetivo circulatório as pompages buscam liberar os bloqueios e as estases líquidas, são realizadas sobre todo o segmento, mobilizando a fáscia amplamente. Objetivando o relaxamento muscular, são realizadas seguindo o sentido das fibras musculares. Utilizada nas degenerações cartilaginosas, são realizadas no sentido da descompressão articular, para restabelecer o equilíbrio hídrico da cartilagem ou limitar o ressecamento. A técnica da pompage é realizada em três tempos: tensionamento, manutenção da tensão e tempo de retorno. No primeiro tempo, “tensionamento”, o alongamento da fáscia é lento e progressivo, até o limite da elasticidade fisiológica; Nas pompages com objetivo circulatório a “manutenção da tensão” deve ser realizada por alguns segundos até sentir o tracionamento para o ponto inicial provocado pela elasticidade tecidual e o “tempo de retorno” deve ser o mais lento possível, resistindo ao tracionamento das fáscias. Nas pompages com objetivo de relaxamento muscular a “manutenção da tensão” possibilita o lento deslizamento dos miofilamentos de actina e de miosina, o “tempo de retorno” deve ser bastante lento para não provocar o reflexo contrátil muscular. Nas pompages articulares a “manutenção da tensão” é a manutenção da descompressão articular de quinze a vinte segundos e o “tempo de retorno” é acessório. Tensão muscular Temos duas musculaturas diferentes a fásica, que tem função dinâmica, e a tônica, que tem função estática. A patologia da musculatura fásica é a fraqueza, atrofia, paresia. Já a patologia da musculatura tônica é a retração e o encurtado. Quando um músculo encurtado é ativado, ocorre menos tensão porque os filamentos ficam sobrepostos com uma ativação incompleta das pontes transversais. Quando a ativação é em um músculo alongado, a tensão de fibras é maior porque as pontes transversas estão tracionando para fora. Os Principais Músculos Cervicais Tratados Grande parte das lesões cervicais é secundária e muitas se corrigem com simples pompages. Todos os problemas descendentes da cintura escapular originam-se da retração da musculatura tônica cervical. M. Semi-espinhais da cabeça - A retração desses dois músculos é responsável pela lordose occipitocervical e por sua compensação estática, a lordose dorsal superior. M. Escalenos - A tensão retrátil desse músculo é responsável pelas falsas cervicobraquialgias e vertigens nas rotações da cabeça, isso ocorre pela compressão da artéria subclávia e do plexo braquial. M. Trapézio superior e elevador da escápula - A retração desses dois músculos provoca a elevação da escápula, o trapézio sozinho faz a escápula bascular pra fora e o elevador faz bascular pra dentro. M. Esternocleido-occipito-mastóideo - A retração desse músculo pode gerar rotação para o mesmo lado e inclinação para o lado oposto ou simplesmente limitação do movimento oposto. Essa retração pode gerar uma má posição do occipital ou ser gerado por ela. Contra-Indicações · Feridas abertas; · Infecções; · Hematomas; · Deficiência circulatória aguda; · Tratamento anticoagulante; · Hipersensibilidade da pele; · Diabetes descontrolada; · Osteoporose; · Fraturas em fase inicial. Conclusão A técnica de pompage não é um método e só tem valor dentro de um tratamento pensado e executado por um fisioterapeuta. As pompages devem ser realizadas sempre a partir de uma avaliação funcional que aponte com exatidão as áreas que devem receber o tratamento. A reavaliação funcional será fundamental para se estabelecer a necessidade de continuação do tratamento proposto, interrupção por objetivos já alcançados ou a mudança da terapêutica proposta por resultados não alcançados. Em relação aos distúrbios miofasciais da região cervical, que antecedem muitas patologias de abordagem ortopédica clássica (artrose, cervicalgia, cervicobraquialgia, compressão articular,...), podemos afirmar que a prevenção das retrações miofasciais através de técnicas alongamento (manipulativas ou não) parece ser a melhor estratégia de intervenção terapêutica no campo da prevenção. A manutenção daflexibilidade e da boa sinergia muscular associado a uma boa postura corporal parece ser a fórmula para prevenirmos muitos problemas que apresentam suas raízes no sistema ósteo-mio-articular. Referências Bibliográficas DIXON, Marian Wolfe. Massagem miofascial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. ISBN:978-85-277-1342-9. BIENFAIT, Marcel. Fáscias e pompages: estudo e tratamento do esqueleto fibroso. São Paulo: Summus, 1999. ISBN:85-323-0671-3. BIENFAIT, Marcel. As bases da fisiologia da terapia manual. São Paulo: Summus, 2000. ISBN:85- 323-0747-7. PILAT, Andrzej. La relajación miofacial em las patologías de la columna cervical. Revista de Rehabilitación integral Kinesis. Costa Rica: n.3, enero, 2000. ISSN:1409-2875 HAMILL, Joseph; KNUTZEN, Kathleen M. Bases biomecânicas do movimento humano. São Paulo: Manole, 1999. ISBN:85-204-0779-X
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