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Direito do Consumidor - Garantia de produtos usados- Veículos usados

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FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ
CURSO DE DIREITO
JORGE RIBEIRO DOS SANTOS LUÍS
A RESPONSABILIDADE CIVIL NA REVENDA DE VEÍCULOS USADOS À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
VILA VELHA – ESPÍRITO SANTO
2017.2
FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ
CURSO DE DIREITO
JORGE RIBEIRO DOS SANTOS LUÍS
A RESPONSABILIDADE CIVIL NA REVENDA DE VEÍCULOS USADOS À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Artigo Científico Jurídico apresentado a Faculdade Estácio de Sá, do Curso de Graduação em Direito como requisito parcial para a aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, Responsabilidade Civil, Direito do Consumidor. Orientadora Prof°. Dra. Fabrícia Cristina Estrella F. Pereira
VILA VELHA – ESPÍRITO SANTO
2017.2
A RESPONSABILIDADE CIVIL NA REVENDA DE VEÍCULOS USADOS À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Jorge Ribeiro dos Santos Luís1
RESUMO
O presente trabalho de conclusão do curso de Direito tem o objetivo de apontar uma das inúmeras lacunas deixadas no ordenamento jurídico brasileiro e que levam ao desconforto e a insegurança jurídica milhões de pessoas num universo que movimenta bilhões de reais anualmente. O objetivo específico demonstrará como as normas são omissas no que concerne ao Direito de defesa do consumidor, e do fornecedor, em relação ao comércio de veículos e outros bens usados no cenário nacional tais como, equipamentos industriais e maquinários em geral, freqüentemente comercializados mais de uma vez. Sendo assim, esta pesquisa indicará a necessidade de uma pontual adequação da legislação de forma a atender os anseios da população consumerista, que, na prática, é quase toda a população economicamente ativa. O objetivo final deste é que se defina, e delimite-se, a responsabilidade e o direito das partes envolvidas no comércio de bens usados, em especial veículos automotores, que não deve ser simplesmente igualada ao comércio de bens comuns, novos. Desta forma, com regras claras e definidas, não só as partes terão segurança jurídica como também o próprio magistrado que poderá dirimir eventuais lides de forma mais técnica e justa. 
Palavras chave: Bens usados. Comércio. Consumidor. Fornecedor. Garantia. Responsabilidade. Segurança jurídica. Veículos. 
	
¹ Acadêmico do 10º Período do Curso de Direito da Faculdade Estácio de Vila Velha – ES.
ABSTRACT
The present final paper for the law school aims to point out one of the many gaps left in the Brazilian legal system and that lead to discomfort and legal insecurity millions of people in a universe that moves billions of reais annually. The specific objective will demonstrate how the standards ignore in what concerns the consumer and supplier's Right of defense, in relation to the trade of vehicles and other goods used in the national scenario. Therefore, this article will point out the need for a punctual adaptation of the legislation in order to meet the aspirations of the consumer population, which, in practice, is almost the entire economically active population. The final objective of this paper is to define and delineate the responsibility and right of the parties involved in the trade of second-hand goods, especially motor vehicles, which should not, for obvious reasons, simply be equated with the trade of new goods. In this way, with clear and defined rules, not only the parties will have legal certainty, but also the magistrate himself, who can resolve any litigation in a more technical and fair way.
Keywords: Consumer. Legal certainty. Provider. Responsibility. Used goods. Trade. Warranty.
SUMÁRIO
1. Introdução. 2. A Responsabilidade Civil e sua Evolução ao Direito do Consumidor. 2.1 A Origem do Atual Código de Defesa do Consumidor – CDC. 2.2 A Responsabilidade do Fornecedor. 2.3 Da Responsabilidade pelo Produto e Serviço. 2.4 Vício, Defeito (fato) ou Desgaste Natural. 3 Garantia de Produtos Adquiridos Usados. 3.1 A Definição de Garantia. 3.2 Da Depreciação. 3.3 Da Mínima Garantia. 4 Conclusão
1- INTRODUÇÃO
	O objeto de estudo deste artigo científico constitui-se da análise dos direitos e deveres das partes em relação à garantia técnica de bens usados na relação de consumo.
	Já o objetivo especifico trata dos limites da cobertura da garantia técnica no comércio de veículos semi-novos. Tal temática é bastante interessante por diversos motivos. Podemos citar, entre eles, o fato do CDC não diferenciar a responsabilidade do fornecedor, e os direitos do consumidor, em relação à garantia técnica na venda de bens usados em face aos novos. Imperioso ainda apontar como, na prática, a grande maioria dos vícios alegados na verdade não passam de desgaste natural, pelo tempo ou pelo uso. 
	A importância desse comércio, que movimenta em torno de R$ 266 bilhões de reais por ano, e que, no entanto é quase sempre esquecido pelo legislador, merece especial atenção. Há que se tratar tal tema uma vez que o fato de ser “sui generis”, e não estar tipificado especificamente em nenhum código, leva a relevante insegurança jurídica para ambas as partes da relação e até mesmo para o magistrado.
	Dessa forma é interessante citar que o texto da lei é omisso ao especificar qual a extensão da cobertura da garantia técnica para bens usados, praticamente desconsiderando o desgaste natural, a vida útil, e a amplitude da cobertura da garantia. Não há proteção adequada ao consumidor no que diz respeito a essas variáveis e muito menos segurança jurídica ao fornecedor uma vez que, na ampla maioria das vezes, o consumidor tem a expectativa de que ao adquirir um veiculo usado, muitas vezes com mais de uma dezena de anos de uso e centenas de milhares de Km rodados terá a garantia total do bem, idêntica a de produto novo.
	O presente estudo é baseado na análise da doutrina sobre o código civil, em especial sobre o código de defesa do consumidor, análises de mercado, e demandas jurídicas
	Ante todo o exposto, parece necessária uma ampla discussão a respeito do tema, levando em conta a presença constante da situação citada na economia, a relevante quantidade de consumidores, os valores bilionários envolvidos e, para o tema deste trabalho, a segurança jurídica.
2- A RESPONSABILIDADE CIVIL E SUA EVOLUÇÃO AO DIREITO DO CONSUMIDOR
	O termo responsabilidade civil no Brasil é oriundo do Direito Português, mais precisamente com o advento das Ordenações Filipinas (século XVI), que por sua vez teve origem no código Manuelino. Já naquela altura notou-se a necessidade da criação de regras e posturas dedicadas ao comércio haja vista a importância de Portugal no universo mercantil, seguramente possuindo lugar de destaque analogamente comparável ao que ocupam nos dias de hoje Estados Unidos da América ou China.
	Confirma-se esse momento na história analisando a exposição de motivos da Lei de 5 de junho de 1595, (Almeida, 1870)
D. Philippe, per graça de Deos, Rey de Portugal e dos Algarves, d'aquém e d'além mar, em África Senhor de Guiné, e da Conquista, Navegação e Commercio de Etiopia, Arábia, Pérsia e da Índia. A todos nossos subditos e vasallos destes nossos Reinos e Senhorios de Portugal, saúde... (p.37).
	Fica clara a presença e a importância do reino Português no comercio mundial e, logicamente, a preocupação em positivar as relações do comércio local e do comércio exterior. Muitas das disposições previstas nas Ordenações Filipinas chegaram a vigorar até a criação do Código Civil de 1916. A partir a metade do século XX algumas leis começaram a tratar especificamente dos aspectos das relações entre consumidores e fornecedores.
	Em meados do século XX assistimos a edição das primeiras leis específicas de proteção ao consumidor, no caso a Lei 1.521 de 1955, que recebeu o “nome” de Lei das Contravenções da Economia Popular, e posteriormente a Lei Delegada (4/1962). Dessa forma, já começam a aparecer alguns diplomas legais visando a proteção do consumidor, até então manifestamente hipossuficiente.
2.1- A ORIGEM DO ATUAL CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR- CDC
	Como exposto anteriormente, a preocupação com o regramento das relações de consumo, ainda que de forma simplista, já remonta ao século XVI sendo criada a primeira lei específica no Brasil apenas em 1955, lei 1.521. A partir da promulgação da atual Constituição de 1988, já apelidada de Constituição cidadã, o fornecedor e o consumidor passaram a ter uma tutela diferenciada, garantindo-se a esse último uma maior proteção aos seus direitos na relação de consumo. A Carta Magna, no seu inciso XXXII do artigo 5º e inciso V do artigo 170, fez necessária a criação de um novo código para as relações de consumo que reunisse, na medida do possível, a maioria das leis esparsas trazendo assim segurança jurídica para as partes envolvidas. Dessa forma foi sancionada, pelo então presidente Fernando Collor de Mello em 11 de Setembro de 1990, o Código de Defesa do Consumidor.
	A nova lei entrou em vigor em março de 1991 tendo como conteúdo princípios e normas de ordem pública e interesse social (CAVALIERI FILHO, 2007, p. 449). No momento em que o homem buscou resguardar seus direitos, a responsabilidade teve seus domínios delimitados na mesma proporção. Essa situação pode ser vislumbrada no referido código, onde há preocupação do legislador em proteger o consumidor e repará-lo, quando for prejudicado pelo fornecedor de produtos ou serviços. O eventual dano causado ao consumidor deverá ser sanado a partir do instante em que ficou configurada a existência do fato, sendo primordial a identificação e, por conseguinte, a responsabilização do fornecedor, fabricante ou importador de produtos da relação de consumo que podem, inclusive, vir a responder solidariamente. Assim, atribuiu-se a esta responsabilidade um conceito de dever jurídico, sucessivo, encargo ou contraprestação. Destarte, na lição de Sérgio Cavalieri Filho (2007, p. 1-2) responsabilidade é vista como “[...] a conduta externa de uma pessoa imposta pelo Direito Positivo por exigência da convivência social.” Não se trata de simples conselho, advertência ou recomendação, mas de uma ordem ou comando dirigido à inteligência e à vontade dos indivíduos, de sorte que impor deveres jurídicos importa criar obrigações. Corroborando nesse entendimento, Pedro F. Silva-Ruiz (2011) posiciona-se: “Responsabilidade [...] é toda a obrigação de satisfazer qualquer perda ou dano causado a terceiros [...]” (apud Revista do Direito do Consumidor, 2011, p.83). A Responsabilidade implica ainda a submissão à reação jurídica contra o dano.
	 A finalidade dessa reação equivale à repressão do dano, através da lei, transferindo o peso do dano ao sujeito distinto do prejudicado. O século XX trouxe consigo importantes modificações, pois a culpa deveria ser provada pelo consumidor, sendo somente subjetivista. No entanto, verifica-se no Código de Defesa do Consumidor a responsabilidade objetiva, instituindo deveres ao fornecedor pelos produtos fornecidos no mercado de consumo, deixando de ser a responsabilidade objetiva uma exceção, mas algo mais recorrente em relação à subjetiva. À luz do argumento mencionado, o instituto da responsabilidade tem o intuito reprimir o ato ilícito, penalizando a conduta daqueles que o contrariam.
2.2 -	A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR
	Primeiramente devemos conceituar adequadamente a figura do consumidor, sendo esse, em consonância com o previsto no artigo 2.º do Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078/90, in verbis: “[...] toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.”
	Da mesma forma devemos conceituar também o fornecedor, conforme disposto no artigo 3.º do Código de Defesa do Consumidor, in verbis:
Art. 3.º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. (BRASIL, 1990)
	Conceituados os sujeitos da relação contratual, passamos a discorrer sobre a responsabilidade do fornecedor, sendo aquela em que a parte arca, como principal responsável pelo ônus causado ao consumidor, independentemente de culpa ou de sua posição na seqüência do fornecimento do produto. Em tese o consumidor poderia escolher livremente contra quem irá demandar, pois se trata de uma responsabilidade objetiva e qualquer um dos fornecedores da relação de consumo irá responder. No entanto esse pensamento vai de encontro ao previsto claramente no Art.13 do mesmo CDC, como veremos adiante. Dessa forma, fica claro que o fornecedor direto, ou seja, o último na cadeia de fornecimento, geralmente o comerciante varejista, é o responsável mediato e só deveria ser responsabilizado caso não fosse possível identificar quem produziu ou importou o produto, ou o serviço, em questão. Salvo exceções, que veremos também a seguir, notadamente no que diz respeito à fraude ou a má conservação de produto perecível, quem deverá ser responsabilizado é o produtor, ou importador do objeto e não o comerciante, uma vez que este não interferiu no processo de fabricação da coisa não devendo assim sustentar tal obrigação. Justificadamente o legislador transfere a responsabilidade ao comerciante apenas conforme previsto no art. 18 §5°do CDC.
[...] § 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor.
§ 6° São impróprios ao uso e consumo:
I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; (BRASIL, 1990)
	Sendo assim, é cristalino o entendimento de que da mesma forma que o comerciante, fornecedor final, não pode ser responsabilizado pela qualidade do produto que não produziu, cabendo esta obrigação ao fabricante ou importador, também estes não poderão ser responsáveis pela não observância, pelo comerciante, fornecedor final, dos cuidados para conservação dos produtos até a sua comercialização, de perecíveis, por exemplo, bem como por fraudes no peso/quantidade, falsificações e etc. cabendo essa responsabilidade ao fornecedor final.
	Ainda que o art. 18 alegue que, todos os componentes da cadeia de fornecimento possam ser responsabilizados solidariamente, não nos parece esse o posicionamento mais adequado devendo caber essa aplicação somente quando o produtor ou importador do produto não puder ser adequadamente identificado, como descrito precisamente no art 13. I do CDC, que observaremos a seguir, já que, ocorrendo tal fato, o consumidor não poderá jamais ficar desamparado. O fornecedor imediato poderá até argüir em sua defesa alegando que não tem nenhuma responsabilidade com o produto e quem deve responder é o fabricante ou importador, todavia, a inteligência do Código prevê que o consumidor, a sua escolha, poderá cobrar do fornecedor imediato ou de qualquer outro que tenha participado no fornecimento do produto, no entanto na prática, o judiciário tem entendido que o fornecedor final só é responsável se não puder identificar o fabricante ou importador do produto e, dessa forma, repassado à responsabilidade a estes
	Como o previsto no art. 12 do CDC: 
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I- sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.
§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. (BRASIL, 1990)
Interessante atentar para o fato do comerciante não ser citado no artigo 12 cabendo a ele exclusivamente o art. 13:
Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador;
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso. (BRASIL, 1990)
	Ainda sim, apesar da clareza dos fatos, muitos doutrinadores, entre eles Leonardo de Medeiros Garcia, Maria Helena Diniz, Paulo de Tarso Sanseverino, Silvio de Salvo Venosa, entre outros entendem que o comerciante tem responsabilidade solidária, talvez fruto da redação confusa do art. 18 ou da ausência do termo “exceto” no art. 13 
2.3- DA RESPONSABILIDADE PELO PRODUTO E SERVIÇO
	Quem está na relação de consumo deve responder na medida de sua responsabilidade. Dessa forma, caberá ao comerciante a responsabilidade de apontar claramente o fabricante, o produtor, o importador e etc., para que este seja responsabilizado. Não o fazendo satisfatoriamente aí sim, recaíra sobre ele todo o ônus. No entendimento de alguns doutrinadores, e consoante ao art.13, nas relações de consumo o comerciante não tem nenhum controle sobre a segurança e qualidade das mercadorias como ensina (CAVALIERI FILHO, 2007)
Recebe os produtos fechados, embalados, enlatados, como ocorre, por exemplo, nos super e hipermercados, nas grandes lojas de departamentos e drogarias, e assim os transfere aos consumidores. Em suma, o comerciante não tem o poder para alterar nem controlar técnicas de fabricação (p. 466)
	No entanto a jurisprudência tem aplicado de forma constante, em diversos julgados, o entendimento de que o comerciante é parte ilegítima consoante com o já citado no art. 13
JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. CONSUMIDOR. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA ACOLHIDA. DANOS À SAÚDE DO CONSUMIDOR. FATO DO PRODUTO (ARTS. 12 A 17 DO CDC). INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DO COMERCIANTE, UMA VEZ QUE EXISTE IDENTIFICAÇÃO CLARA E COMPLETA DO FABRICANTE E NÃO SE ALEGOU FALHA NO ACONDICIONAMENTO DO PRODUTO. RECURSO CONHECIDO. PRELIMINAR ACOLHIDA. PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA PARA EXTINGUIR O PROCESSO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO. 1. A pretensão do autor se resume à indenização por danos morais face à ofensa a sua saúde por consumir produto estragado. O fato do produto ou do serviço se configura toda vez que o defeito, além de atingir a incolumidade econômica do consumidor, atinge também a sua incolumidade física ou psíquica, caracterizando danos à saúde física ou psicológica do consumidor, ou seja, o fato do produto ou do serviço desencadeia um dano que extrapola a órbita do próprio produto ou serviço, no qual reclama a ocorrência de riscos a saúde ou segurança do consumidor ou de terceiros. 2. Responsabilidade por fato do produto e do serviço. A solidariedade se dá somente entre as pessoas expressamente elencadas no caput do art. 12 do CDC, o qual dispõe que: "O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações suficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos". Quanto ao comerciante, sua responsabilidade encontra-se condicionada à ocorrência das situações específicas do art. 13: "O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis". 3. Recurso conhecido. Preliminar acolhida. Provido. Sentença reformada para extinguir o processo sem julgamento de mérito, nos termos do art. 267, VI, do CPC. Sem custas e sem honorários advocatícios. (Acórdão n. 764307, Relator Des. FLÁVIO FERNANDO ALMEIDA DA FONSECA, 1ª Turma Recursal, Data de Julgamento: 18/2/2014, Publicado no DJe: 7/3/2014).
	Ainda sim, caso o comerciante venha a ser responsabilizado poderá se socorrer do art. 13 § único “aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso.”
	No entanto essa prática, prevista no art. 18, sujeita o comerciante ao pólo passivo da lide ainda que tenha prestado a correta informação sobre o fornecedor mediato, o que acarreta inúmeros transtornos tais como, constituição de advogado, com pagamento de honorários, presença em audiências e até mesmo repercussão de forma negativa de seu nome na sociedade sendo que, em grande parte dos casos, sua responsabilidade é logo afastada pelo magistrado. Ante o exposto, entende-se que a responsabilização do comerciante deveria ser a exceção, como preceitua especificamente o art. 13, e não a regra, como impõe genericamente o art. 18.
2.4- VÍCIO, DEFEITO (FATO) OU DESGASTE NATURAL
	Para se compreender definitivamente a responsabilidade, e conseqüentemente, o direito do consumidor em relação a garantia de qualidade do produto ou serviço, há que ilustrar claramente o que são vício, defeito (fato), desgaste e ainda mau-uso.
	Para Netto Lobo, “vicio, pois, é todo aquele que impede ou reduz a realização da função ou do fim a que se destinam o produto ou o serviço, afetando a utilidade que o consumidor dele espera.” (1996)
	No entendimento de Sergio Cavalieri Filho (CAVALIERI FILHO, Sergio):
Defeito é vício grave que compromete a segurança do produto e/ou do serviço e causa dano ao consumidor. Já, o vício em si, um defeito menos grave, circunscrito ao produto ou serviço que apenas causa o seu mau funcionamento” (P. 480).
	Ilustrando de forma ainda mais didática podemos usar o seguinte exemplo (RIZZATO, 2007):
[...] Dois consumidores adquirem dois liquidificadores em uma loja de departamentos e resolvem utilizar o produto para fazer um bolo. Quando o primeiro liga o aparelho, o motor estoura, fazendo com que a pá de liquidificação fure o copo e atinja a barriga do consumidor, que é hospitalizado. Na situação está presente o fato do produto ou defeito. A segunda consumidora liga o seu aparelho e os mesmos fatos acontecem. Porém, a pá do liquidificador fura o copo, mas não atinge o consumidor, estando evidenciado o vício do produto. Então, arremata o jurista: “No primeiro caso, ele sofreu acidente de consumo. É defeito. No segundo caso, ela nada sofreu. Apenas o liquidificador deixou de funcionar. É vício. (p. 168-169)
	Trazendo para o objetivo específico deste estudo notamos que diversos consumidores buscam atendimento em garantia junto aos fornecedores, geralmente os comerciantes, para reparação de eventos que não se enquadram como vícios ou muito menos defeitos e que são causados claramente pelo desgaste natural do uso. Não há se falar em vício ou defeito em um pneu que foi utilizado por cerca de 40.000 KM e encontra-se em estado imprestável. O produto cumpriu sua função e exauriu sua vida útil devendo ser substituído às custas do consumidor,ressaltando o que diz um dos principais brocados do Direito Civil “res perit dominu”, ou seja, o bem perece para o dono, cabendo a ele a responsabilidade pela manutenção do mesmo no que concerne ao desgaste pelo uso ou pelo tempo, além da óbvia manutenção preventiva e corretiva do produto. O mesmo exemplo serve para a maioria das reclamações dos consumidores de veículos adquiridos já usados tais como: Velas de ignição, cabos, baterias, pastilhas e lonas de freio, correias, amortecedores, borrachas, acabamentos e muitos outros itens são, notadamente, de consumo e tem seu exaurimento previsto pelo fabricante e sua garantia ressalvada no manual do proprietário até mesmo na compra do bem quando novo. No entanto, é imperioso ressaltar que existe uma expectativa mínima de durabilidade de qualquer produto, mesmo descartáveis. Não é razoável se esperar que um copo descartável, de plástico ou papel, dure por meses, mas, é óbvio que se, ao enchê-lo com água por uma ou duas vezes o mesmo se rompeu, está caracterizado o vício, uma vez que o este não cumpriu sua função satisfatoriamente.
	Nesse entendimento podemos concluir que, o fornecedor deverá entregar o veículo, ainda que desgastado, em condições razoáveis de uso e facultar ao consumidor uma minuciosa avaliação do bem, se possível com acompanhamento de profissional da área e de sua confiança, antes da concretização da operação, de modo a minimizar os riscos do negócio para o consumidor.
	Após o já exposto, sobre o desgaste natural do produto e que é causa de exclusão da garantia, podemos ainda citar o mau-uso, ou uso indevido pelo consumidor. Exemplificaremos da seguinte forma:
	 Um consumidor adquire um veículo esportivo, de baixa altura livre do solo, com suspensão de curso curto, adequado a uso em vias capeadas para alto desempenho e o utiliza freqüentemente em caminhos não pavimentados, em locais de difícil acesso dignos de uso apenas por Jipes. No caso de danos ao bem, notadamente causados por esse tipo de utilização, haverá o fornecedor de ficar totalmente isento de responsabilidade uma vez que, o consumidor utilizou de forma inadequada o produto. Nesse ponto podemos dividir a situação em duas. No primeiro caso vale ressaltar a palavra freqüentemente uma vez que, ainda que o veículo em questão não seja destinado a uso “off-road”, a sua utilização esporádica, e cuidadosa, nesse tipo de via não deverá trazer maiores problemas. No segundo exemplo citaremos um mau-uso tão absurdo que apenas uma utilização já inutiliza totalmente a garantia. É o caso do condutor que tenta atravessar, com um veículo não preparado para esse fim, um curso d’água de um metro e meio causando a entrada de líquido pelo sistema de admissão levando ao calço hidráulico de forma a avariar irremediavelmente o motor do veículo. Ante o exposto, guardadas as devidas características do produto, fica fácil perceber o conceito de mau-uso, onde o consumidor dá causa ao vício ou defeito de forma que não há que se responsabilizar o fornecedor. Imperativo citar ainda situações não tão extremas, mas freqüentes de mau-uso, como, por exemplo a inobservância das instruções contidas nos manuais de proprietário e até mesmo nas auto-escolas, onde se orientam manutenções básicas como troca e aferição do nível de óleo lubrificante, fluídos em geral, líquidos de arrefecimento, calibragem de pneus, intervalo para trocas de correias, velas e etc. Ainda devemos lembrar que todos os veículos possuem luzes de alerta para funções vitais do automóvel tais como, baixa pressão de óleo lubrificante, falha no sistema elétrico, superaquecimento, falha no sistema de injeção de combustível e algumas outras que, uma vez não observadas pelo condutor acarretaram inevitavelmente o agravamento do suposto vício. Trazendo para o caso concreto, o condutor, ao notar que a luz de advertência de óleo se acende, imobiliza imediatamente o veículo e busca manutenção. Nesse caso a verificação do nível de óleo, pressão da bomba e limpeza no circuito resolveria o problema. No entanto, caso ele continue a utilização, ignorando a advertência, causará o agravamento do dano levando ao custoso e demorado serviço de retifica do motor. Nesse caso é evidente que o fornecedor não pode ser responsabilizado pela inobservância do condutor nas normas de operação do veículo. 
3- GARANTIA DE PRODUTOS ADQUIRIDOS USADOS
	Após a definição das responsabilidades dos fornecedores, dos direitos do consumidor, da devida caracterização do que seria vício, defeito, mau-uso e desgaste, poderemos nos dedicar ao objetivo deste estudo que é a garantia de qualidade nos produtos adquiridos, usados, de fornecedores regulares, e que exercem tal função de maneira reiterada, visando lucro, portanto profissional. Tal situação é “sui generes” uma vez que na tradição comercial poucas vezes encontramos o comércio formal de bens de segunda-mão. Bens duráveis, já usados são, geralmente, de pouco valor, comercializados de forma informal e entre pessoas físicas, o que num primeiro momento, não necessitaria de uma legislação específica dada à informalidade e a óbvia redução no valor, dificilmente o consumidor iria discutir a qualidade ou durabilidade de tal produto.
	Ante o exposto anteriormente, encontraremos algumas poucas exceções e uma dessas é o comércio de automóveis usados.
	O comércio de automóveis usados há muito se libertou da informalidade e movimentou, segundo dados da FENABRAVE (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) e FENAUTO (Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores) cerca de 13.000.000 (Treze milhões) de veículos no ano de (2016). Utilizando uma média bastante conservadora de ticket médio de R$ 20.000,00 (Vinte mil reais) por unidade, chegaremos ao astronômico valor de R$ 266.000.000.000,00 (Duzentos e sessenta e seis bilhões de reais) no ano. Insta salientar que, no mesmo período, 2016, também segundo a FENABRAVE, o comércio de veículos novos foi de 2.140.332 de unidades, ou seja, a venda de veículos usados é cerca de 6 vezes maior do que a de veículos novos no mesmo período e no entanto esse meio comercial não dispõe de praticamente nenhuma legislação específica, ao contrário do comercio de veículos 0KM que possui toda assistência do legislativo e do executivo inclusive uma lei exclusiva, a lei 6.729/79, apelidada de “lei Ferrari”, que regulamenta a distribuição de veículos 0 km.
	Demonstrada a importância desse mercado, que movimenta bilhões de reais e emprega, direta e indiretamente, milhões de trabalhadores podemos nos ater ao principal objetivo deste trabalho.
	O CDC e demais leis esparsas delimitam as responsabilidades dos fornecedores e os direitos dos consumidores. No entanto, é facilmente perceptível que o legislador levou em conta apenas o comércio de bens novos não se notando nenhuma menção ao comércio de produtos já usados. Como demonstrado anteriormente, ainda que o comércio de automóveis semi-novos seja o melhor exemplo de formalização desse tipo de negócio, não é o único e não se entende como razoável, que a legislação não faça menção alguma a esse tipo de relação comercial.
	Não é minimamente razoável, ainda que as regras genéricas do CDC sejam aplicáveis a muitas situações, que se espere adequadas as mesmas normas para o comércio de veículos usados, alguns com dezenas de anos de uso, a de produtos novos, imaculados. Dessa forma, cria-se um limbo onde, se por um lado não é justo que o fornecedor se responsabilize pela garantia de um bem usado como se fosse novo, por outro lado também não seria justo que o consumidor adquira um bem durável, geralmente de alto valor, sem nenhuma garantia de durabilidade. Nesse sentido assistimos diversas decisões judiciais que entendem que o consumidor adquire o bem com ciência de que se trata de produto usado, desgastado pelo uso e pelo decorrer do tempo e ainda sim se socorrem do judiciário em busca do atendimento de seus anseios desconsiderando o abatimento no valor do veículo em face ao mesmo novo, 0 Km, que tem seu valor reduzido única eexclusivamente com o objetivo de compensar o consumidor pelo desgaste de seus componentes como demonstrado no julgado abaixo:
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONSUMIDOR. AÇÃO DE COBRANÇA. AQUISIÇÃO DE VEÍCULO USADO. DESGASTE DE PEÇAS. VÍCIO OCULTO NÃO CONFIGURADO. RISCO INERENTE AO NEGÓCIO. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO MANTIDA. - RESPONSABILIDADE CIVIL POR DEFEITO DO PRODUTO - VEÍCULO USADO - EXAME A PARTIR DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE - O fornecedor de produtos e serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados por defeitos relativos aos produtos e prestação de serviços que disponibiliza no mercado de consumo. Possibilidade de aplicação do conjunto de regras e princípios do CDC na venda de veículos usados. As circunstâncias do caso determinarão a análise do vício apresentado e sua relação com o estado de conservação do bem adquirido, além do desgaste natural das peças e componentes do automóvel. Aplicação do princípio da proporcionalidade para verificar se os vícios apresentados exorbitam da adequação do bem adquirido para os fins a que se destina, bem como a relação custo-benefício, típica da compra de automóveis usados, além das legítimas expectativas de confiança do consumidor. - SITUAÇÃO DO CASO CONCRETO - Na compra e venda de veículo usado, sobretudo com mais de doze anos de fabricação, o comprador deve ser diligente no sentido de averiguar o estado de conservação do veículo, inclusive podendo se valer dos serviços de um mecânico de sua confiança. Contudo, no caso dos autos, o autor olvidou-se de tal cautela, pelo que deve suportar os ônus decorrentes da aquisição de um veículo usado, cujo desgaste constitui elemento inerente ao risco do negócio, vantajoso sob o ponto de vista de quem paga um preço atraente. Precedentes do TJRS. APELO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70051112902, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Leonel Pires Ohlweiler, Julgado em 24/10/2012)
3.1- A DEFINIÇÃO DE GARANTIA
	Segundo o dicionário Léxico, garantia é o ato de assegurar a qualidade de algo. Trazendo à luz do Código de Defesa do Consumidor, garantia é a certeza que o consumidor tem que o produto ou bem adquirido cumprirá a sua função.
	Ainda que tais definições pareçam bastante claras e objetivas quando as levamos aos casos concretos, sobretudo a aplicação do CDC e em especial ao comércio de veículos usados, nos deparamos com inúmeras incertezas tanto na ótica do consumidor quanto a do fornecedor e até mesmo do magistrado.
	A garantia técnica deverá assegurar a qualidade do produto sanando eventuais vícios, quanto à fabricação, ou seu desgaste prematuro, além de eventuais falhas de projeto. Quando transportamos o caso para o comércio de bens usados não há que se falar, na ampla maioria dos fatos, em vícios de qualidade relativos a fabricação ou falha de projeto uma vez que, decorre da lógica, que um veículo com vários anos de utilização, se fosse possuidor de tais características, estas já haveriam aparecido há muito tempo.
	Recentemente, em especial no caso de automóveis, temos assistido diversas admissibilidades de culpa por parte das montadoras em reconhecer falhas de seus componentes que muitas vezes poderão ocasionar defeitos (acidentes de consumo), dessa forma não são raras as campanhas de Recall para a substituição de componentes com deficiências de projeto ou durabilidade. Insta citar ainda que nessas situações os fornecedores providenciam os reparos mesmo muito tempo após expirada a garantia, como aconteceu recentemente com a montadora Mitsubishi que divulgou Recall para veículos Eclipse com 17 anos de uso.
A Mitsubishi anunciou nesta segunda-feira (06/07/2015) um recall de 33 unidades do Eclipse GT no Brasil. Um problema no para-sol do passageiro afeta os veículos fabricados entre janeiro e março de 2000. (http://g1.globo.com/carros/noticia/2015/07/mitsubishi-chama-eclipse-para-recall-no-brasil.html acessado em 29/10/2017)
	Atualmente nos deparamos com o maior Recall da história, atuando sobre (SRS) Sistemas de Retenção Suplementar, conhecidos popularmente como Airbags onde a fornecedora Takata assumiu a não conformidade na produção de insufladores em milhões de veículos o que levou a morte cerca de 16 pessoas, até 2016, e ferimentos em diversas outras, conforme reportagem no Jornal Folha de São Paulo em 10/07/2017. Nesse caso estamos diante de uma situação “sui generis” onde o fornecedor do fornecedor é o responsável pelo vício e, conseqüentemente, defeito. Defeito porque originou ferimentos e mortes. Sendo assim a Takata solicitou que os seus consumidores imediatos (montadoras), convocassem os consumidores mediatos (usuário final) para que encaminhassem seus veículos à substituição gratuita do mesmo, de forma preventiva. Exemplo claro onde o consumidor final é atendido pelo fornecedor mediato, a produtora dos sistema de airbag, e não pelo fornecedor imediato, as montadoras e revendedoras (comerciantes). Obviamente que, para os casos onde ocorreram óbitos e ferimentos, as indenizações foram milionárias inclusive levando a empresa, a segunda maior do mundo no segmento, ao pedido de falência em 2017 segundo o Jornal Valor Econômico de 28/07/2017.
	O hoje consagrado Recall teve origem no Estados Unidos na década de 1960. O advogado americano Ralph Nader, que posteriormente se tornou o maior ícone americano em defesa dos direitos dos consumidores, publicou em 1965 o livro Unsafe at any speed, em tradução livre “Inseguro em qualquer velocidade”, até hoje, inexplicavelmente, dada a sua importância no quesito de segurança do consumidor, sem publicação no Brasil. Á época Nader descobriu um vício, que posteriormente se transformaria em defeito, que provocava uma abrupta perda de controle no veículo Chevrolet Corvair fabricado na década de 1960. O autor conseguiu comprovar a falha de projeto e ainda que, a montadora possuía conhecimento do fato, no entanto julgava economicamente mais viável pagar alguma eventual indenização às vítimas de acidentes, ou seus familiares, do que refazer o projeto do veículo. Esse fato foi um marco no direito do consumidor, pois, a partir do trabalho de Nader, a justiça americana impôs ao fabricante pesadas multas e a obrigação de chamar os veículos já vendidos, daí o termo Recall, para as modificações necessárias a sua perfeita utilização. 
	Após a difusão do Recall pelo mundo além da indústria automobilística outras empresas utilizam o recurso como forma preventiva de sanar eventuais vícios e defeitos. A lista ainda contém produtos eletrônicos, alimentos, cadeiras plásticas, bicicletas, caminhões, acessórios automotivos, equipamentos náuticos, peças mecânicas, aeronaves, produtos de limpeza e muitos outros. 
	Importante citar ainda o vício de alguns bens duráveis, que consiste em ter seu tempo de utilidade muito aquém do razoável. Por exemplo, uma TV que possua garantia de 1 (um) ano e deixe de funcionar após 2 anos. Logicamente não atendeu o tempo de vida útil esperado. Sendo assim, fará jus o consumidor a devida reparação pelo fornecedor uma vez que, claramente, o bem não atingiu a razoável expectativa de durabilidade conforme decisão jurisprudencial:
EMENTA: Quarta Turma - DIREITO DO CONSUMIDOR. VÍCIO OCULTO. DEFEITO MANIFESTADO APÓS O TÉRMINO DA GARANTIA CONTRATUAL. OBSERVÂNCIA DA VIDA ÚTIL DO PRODUTO.
O fornecedor responde por vício oculto de produto durável decorrente da própria fabricação e não do desgaste natural gerado pela fruição ordinária, desde que haja reclamação dentro do prazo decadencial de noventa dias após evidenciado o defeito, ainda que o vício se manifeste somente após o término do prazo de garantia contratual, devendo ser observado como limite temporal para o surgimento do defeito o critério de vida útil do bem. O fornecedor não é, ad aeternum, responsável pelos produtos colocados em circulação, mas sua responsabilidade não se limita, pura e simplesmente, ao prazo contratual de garantia, o qual é estipulado unilateralmente por ele próprio. Cumpre ressaltar que, mesmo nahipótese de existência de prazo legal de garantia, causaria estranheza afirmar que o fornecedor estaria sempre isento de responsabilidade em relação aos vícios que se tornaram evidentes depois desse interregno. Basta dizer, por exemplo, que, embora o construtor responda pela solidez e segurança da obra pelo prazo legal de cinco anos nos termos do art. 618 do CC, não seria admissível que o empreendimento pudesse desabar no sexto ano e por nada respondesse o construtor. Com mais razão, o mesmo raciocínio pode ser utilizado para a hipótese de garantia contratual. Deve ser considerada, para a aferição da responsabilidade do fornecedor, a natureza do vício que inquinou o produto, mesmo que tenha ele se manifestado somente ao término da garantia. Os prazos de garantia, sejam eles legais ou contratuais, visam a acautelar o adquirente de produtos contra defeitos relacionados ao desgaste natural da coisa, são um intervalo mínimo de tempo no qual não se espera que haja deterioração do objeto. Depois desse prazo, tolera-se que, em virtude do uso ordinário do produto, algum desgaste possa mesmo surgir. Coisa diversa é o vício intrínseco do produto, existente desde sempre, mas que somente vem a se manifestar depois de expirada a garantia. Nessa categoria de vício intrínseco, certamente se inserem os defeitos de fabricação relativos a projeto, cálculo estrutural, resistência de materiais, entre outros, os quais, em não raras vezes, somente se tornam conhecidos depois de algum tempo de uso, todavia não decorrem diretamente da fruição do bem, e sim de uma característica oculta que esteve latente até então. Cuidando-se de vício aparente, é certo que o consumidor deve exigir a reparação no prazo de noventa dias, em se tratando de produtos duráveis, iniciando a contagem a partir da entrega efetiva do bem e não fluindo o citado prazo durante a garantia contratual. Porém, em se tratando de vício oculto não decorrente do desgaste natural gerado pela fruição ordinária do produto, mas da própria fabricação, o prazo para reclamar a reparação se inicia no momento em que ficar evidenciado o defeito, mesmo depois de expirado o prazo contratual de garantia, devendo ter-se sempre em vista o critério da vida útil do bem, que se pretende "durável". A doutrina consumerista – sem desconsiderar a existência de entendimento contrário – tem entendido que o CDC, no § 3º do art. 26, no que concerne à disciplina do vício oculto, adotou o critério da vida útil do bem, e não o critério da garantia, podendo o fornecedor se responsabilizar pelo vício em um espaço largo de tempo, mesmo depois de expirada a garantia contratual. Assim, independentemente do prazo contratual de garantia, a venda de um bem tido por durável com vida útil inferior àquela que legitimamente se esperava, além de configurar um defeito de adequação (art. 18 do CDC), evidencia uma quebra da boa-fé objetiva, que deve nortear as relações contratuais, sejam elas de consumo, sejam elas regidas pelo direito comum. Constitui, em outras palavras, descumprimento do dever de informação e a não realização do próprio objeto do contrato, que era a compra de um bem cujo ciclo vital se esperava, de forma legítima e razoável, fosse mais longo. Os deveres anexos, como o de informação, revelam-se como uma das faces de atuação ou ‘operatividade’ do princípio da boa-fé objetiva, sendo quebrados com o perecimento ou a danificação de bem durável de forma prematura e causada por vício de fabricação. (Precedente citado: REsp 1.123.004-DF, DJe 9/12/2011. REsp 984.106-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/10/2012.)
	Nessa ótica chegamos a conclusão que, a maior parte dos vícios dos produtos usados decorre simplesmente da sua utilização, caracterizando o desgaste natural, ressalvadas logicamente as hipóteses de desgaste prematuro ou falhas de projeto já citadas. Dessa forma, a grande maioria das manutenções pleiteadas está até mesmo prevista nos manuais de proprietário e de reparação dos veículos e são de responsabilidade do adquirente. Então, o próprio consumidor deverá ter a consciência de que, após a aquisição do bem, este demandará manutenções preventivas e corretivas e que isso é inerente ao bem adquirido não sendo, conforme fartamente comprovado anteriormente, obrigação dos fornecedores mediatos e imediatos. 
3.2- DA DEPRECIAÇÃO
	Definindo-se depreciação pela NBR 14653-1 notamos que a mesma se divide em:
Decrepitude: Desgaste de suas partes constitutivas, em conseqüência de seu envelhecimento natural, em condições normais de utilização e manutenção.
Deterioração: Desgaste de seus componentes em razão de uso e manutenção inadequados.
Mutilação: Retirada de sistemas ou componentes existentes.
Obsoletismo: Superação tecnológica ou funcional.
	Diante do exposto, podemos facilitar o entendimento reduzindo a razão das demandas dos consumidores a Decrepitude.
	Ainda que o comércio de veículos usados tenha suas peculiaridades o fator predominante na formação do valor de mercado é a decrepitude, muitas vezes generalizada equivocadamente com o termo depreciação. Podemos então concluir que, o consumidor ao adquirir um veículo usado jamais pagaria o valor do mesmo novo, zero km, ou seu similar. Tal diferença, muito relevante por sinal, encontra-se justificada em primeiro lugar pela decrepitude e em segundo lugar pela obsolescência. Isto posto, a venda de um veículo usado tem valor significativamente menor pura e simplesmente por esses dois fatores logo não há o consumidor que pleitear que o bem não tenha desgaste haja vista que o desconto por essa fato já foi concedido. 
	Existe um pequeno, mas fervilhante mercado de veículos diferenciados, onde um automóvel mesmo com vários anos de fabricação, porém baixíssimo uso, nesse caso verificado pela marcação do hodômetro (dispositivo que conta a utilização em quilômetros ou milhas) ou horimêtro (dispositivo que registra as horas de funcionamento de motores e máquinas, muito usado em tratores e motores estacionários), tem valores elevadíssimos. Ainda que a justificativa do alto valor seja a exclusividade do veículo essa se justifica justamente pelo pouquíssimo uso. Sendo assim, fica comprovado, mais uma vez, que o desgaste é o principal fator de depreciação do bem logo não há o consumidor que se sentir lesado quando o mesmo apresenta vícios por desgaste de uso natural uma vez que o valor despendido na aquisição já foi substancialmente abatido em face ao mesmo produto novo em virtude justamente do desgaste pelo uso e pelo tempo. 
	Podemos ainda fazer uma analogia com um terreno, como sempre exemplifica, de forma brilhante pela simplicidade, Rizatto Nunes. Após sua aquisição pelo consumidor, passado um período, dez anos, por exemplo, o imóvel possui o mesmo valor ou até uma sobrevalorização. Nesse caso não existiu desvalorização pura e simplesmente porque não existiu decrepitude, o terreno não se desgastou.
3.3- DA MÍNIMA GARANTIA
	Como fartamente comprovado, uma vez que o consumidor adquiriu o bem usado por um valor substancialmente reduzido em face principalmente de seu desgaste, não há que se falar em compensação por vício de desgaste natural de uso que já foi previamente abatido no valor do negócio. No entanto, uma vez que estamos tratando de uma importante atividade mercantil, de valores bilionários, não é plausível que se releve o consumidor ao abandono pelo fato do bem adquirido já apresentar desgaste. É necessário que se ofereça a mínima garantia ao consumidor e é nesse momento que chegamos ao limbo jurídico uma vez que o legislador não contemplou tal situação no CDC.	
	Atualmente o mercado convencionou, com a anuência de algumas autoridades fiscalizadoras, tais como, PROCON/ES, Delegacia do Consumidor – DECON/ES e o Ministério Público/ES, e com a liberdade permitida no decreto 2.181/97 que no seu art. 6 que cita:
Art. 6º As entidades e órgãos da Administração Pública destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor poderão celebrar compromissos de ajustamento de condutaàs exigências legais, nos termos do § 6º do art. 5º da Lei nº 7.347, de 1985, na órbita de suas respectivas competências.(BRASIL, 1985)
	Um termo de ajuste de conduta, celebrado em novembro de 2002 entre a Associação de Revendedores Independentes de Veículos Usados do Espírito Santo definiu que, a garantia do veículo usado fica a limitada a motor e câmbio em suas partes internas, nesse caso ainda que já tenham sofrido desgaste. No entanto alguns magistrados aplicam o previsto no CDC alegando que a garantia deverá cobrir o bem como um todo desprezando a omissão do Código a cerca do bem usado e o desgaste do produto além da óbvia redução no valor do bem que, como já vimos antes, visa compensar tal desgaste. 
	Ainda que, a grande maioria dos fornecedores, anexem a documentação do veículo o termo explicitando detalhadamente os termos de garantia, grande parte dos consumidores utilizando-se da inobservância deste documento, para não falar em má-fe, buscam, junto a justiça o atendimento de seus pleitos, na ampla maioria das vezes descabidos de razão, no entanto, a insegurança jurídica formada pela omissão da lei oferece ampla margem a esses tipos de ações judiciais que poderiam ser evitadas caso existisse uma legislação adequada. 
	Dessa forma, o entendimento é que, a omissão do CDC quanto ao comércio de bens usados carece de imediata atenção do legislador uma vez que a insegurança jurídica é clara para todas as partes.
	 Para o consumidor, que não tem conhecimento exato da extensão da garantia, para o fornecedor, pelo mesmo motivo, e por não conseguir calcular em seus custos operacionais a resolução de eventuais vícios e até mesmo para o magistrado, que fica sem uma base legal positivada para poder decidir da melhor forma possível as demandas.
	Recentemente foi apresentado o projeto de lei 5.943/16 que versa sobre a garantia mínima em termos cronológicos a ser oferecida ao consumidor:
Dispõe sobre a garantia legal dos veículos automotores de via terrestre produzidos, montados ou vendidos no País, e dá outras providências. 
Autora: Deputada Laura Carneiro 
Relator: Deputado César Halum 
I - RELATÓRIO 
O Projeto de Lei nº 5.943, de 2016, de autoria da Deputada Laura Carneiro, dispõe sobre a garantia legal dos veículos automotores de via terrestre produzidos, montados ou vendidos no País, estabelecendo prazos mínimos de garantia para a comercialização de veículos novos e usados. 
Para veículos novos, determina uma garantia mínima de 2 (dois) anos ou 30.000 (trinta mil) quilômetros. Para veículos usados até 5 (cinco) anos de uso, a garantia estabelecida é 6 (seis) meses ou 5.000 (cinco mil) quilômetros. Por fim, determina uma garantia de 3 (três) meses ou 3.000 (três mil) no caso de veículos com mais de cinco e menos de dez anos de fabricação. 
O projeto estabelece que a garantia abrange todas as peças e acessórios existentes ou incorporados ao veículo no momento da compra. Exclui da garantia os componentes e acessórios cuja substituição seja necessária em razão de desgaste natural ou de uso inadequado por parte do consumidor. 
2 O projeto foi distribuído às Comissões de Defesa do Consumidor; Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços e Constituição e Justiça e de Cidadania, estando sujeita à apreciação conclusiva pelas Comissões, e tramitando em regime ordinário.
 
Nesta Comissão de Defesa do Consumidor cabe-nos analisar a questão no que tange à defesa do consumidor e ao equilíbrio nas relações de consumo. 
II - VOTO DO RELATOR 
O projeto em análise tem relevância e atualidade, uma vez que os consumidores brasileiros que adquirem veículos novos ou usados não contam com uma legislação específica que garanta seus direitos. 
No momento, o consumidor brasileiro está à mercê da boa vontade dos fabricantes e importadores de veículos, cuja garantia é dada pelo tempo que desejam e com limites quanto a quais componentes fazem parte da garantia. 
A presente proposta regula a questão dos veículos novos e ainda inova ao estabelecer regras também para a revenda de veículos usados.
Devemos levar em conta, que o mercado de veículos usados é significativo e que o valor envolvido nas transações de veículos constitui sempre um montante considerável, merecendo o consumidor a atenção e proteção da lei.
 
Oferecemos uma emenda para corrigir um pequeno equívoco. Ao estabelecer a garantia para veículos usados, o projeto menciona duas categorias: a primeira, veículos entre 1 (um) e 5 (cinco) anos de uso; a segunda, entre 5 (cinco) e 10 (dez) anos. No caso, ficaram sem garantia os veículos usados e com menos de 1 ano de uso. Assim, a emenda proposta apenas indica veículos com menos de 5 anos na primeira categoria. 3 
Concluindo, acreditamos que a proposição em tela tem o poder de proteger o direito do consumidor a uma garantia justa, estabelecendo regras específicas para o direito de garantia na compra de veículos novos ou usados. 
Ante o exposto, votamos pela APROVAÇÃO do Projeto de Lei nº 5.943, de 2016, com a Emenda 01 anexa.
 
Sala da Comissão, em 5 de junho de 2017. 
Deputado CÉSAR HALUM 
Relator 4 
COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 
PROJETO DE LEI No 5.943, DE 2016 
Dispõe sobre a garantia legal dos veículos automotores de via terrestre produzidos, montados ou vendidos no País, e dá outras providências. 
EMENDA Nº 01 
Dê-se ao inciso I do art. 3o do projeto a seguinte redação: 
"Art. 3º ........................................................................ 
I – pelo período de 6 (seis) meses ou cinco mil quilômetros, o que ocorrer primeiro, no caso de veículos com até 5 (cinco) anos de fabricação; e 
.................................................................................." 
Sala da Comissão, em 20 de julho de 2017. 
Deputado CÉSAR HALUM 
Relator (INTERNET acessado em.06/09/2017)..
	No entanto, apesar de já ser um avanço, em momento algum o projeto da nova lei cita quais componentes possuem ou não essa garantia. Já é um começo mais muito ainda falta para trazer as partes envolvidas a segurança jurídica a que fazem jus.
4- CONCLUSÃO
	Após todo o exposto, concluímos que o presente trabalho alcança seu objetivo ao provocar a análise de uma das inúmeras lacunas presentes no ordenamento legal brasileiro, talvez mundial. 
	Os legisladores, ao elaborarem o código de defesa do consumidor, e até mesmo o código civil, ignoraram o gigantesco mercado de comércio de bens duráveis usados. O objeto específico foi o comércio regular de automóveis semi-novos, demonstrando ainda o valor bilionário envolvido nas operações, mas poderíamos ainda estender a discussão a embarcações, aeronaves, maquinários, imóveis e muitos outros bens duráveis, muitas vezes de alto valor, e que não são contemplados devidamente na legislação.
	Imperioso citar que, este estudo leva em consideração exclusivamente a relação de consumo, ou seja, o fornecedor formal, legalmente constituído possuidor de CNPJ ou mesmo o informal, mas que aufere lucro na operação, e o consumidor final, o que usufrui do bem. Para efeito de facilitar a compreensão não levamos em conta o comércio de bens usados por não-fornecedores, embora com advento da internet e sites de compra e venda, muitos deles gratuitos, que tem por foco justamente o comércio entre particulares, destinatários finais, também mereça uma abordagem jurídica.
	A legislação atual não regulamenta de forma eficaz a relação de consumo de produtos usados, adquiridos no mercado regular, levando a insegurança jurídica até mesmo ao magistrado uma vez que não dispõe de diploma legal sobre o assunto, sendo obrigado muitas vezes a se socorrer de leis não específicas, como a Constituição Federal, o Código Civil e adaptando alguns artigos do Código de Defesa do Consumidor ou ainda pior, sendo obrigado a descartar o direito à garantia do consumidor ou utilizar a mesma legislação prevista para bens novos o que poderá gerar prejuízos ao fornecedor e ao próprio consumidor.
	Ainda pouco explorado, mas claramente exposto nessetrabalho, está o conceito de desgaste natural pelo uso ou pelo decorrer do tempo. Parece óbvio que não se deve esperar de um bem usado a mesma qualidade e durabilidade de um bem novo logo, não se pode esperar também a mesma garantia.
	A legislação ainda é obscura no que toca a responsabilidade do comerciante, protegido pelo artigo 13 do Código de Defesa do Consumidor, mas que na prática é negligenciado pelo artigo 18 do mesmo código, onde se imputa ao fornecedor final uma responsabilidade que, salvo as raras exceções previstas no artigo 13, não é sua, como sempre disposto pelo brilhante Rizzato Nunes em suas obras.
	Dessa forma, entendemos que se levanta importante discussão no universo jurídico sobre tema que movimenta bilhões de reais anualmente e emprega direta e indiretamente milhões de trabalhadores. Concluindo, a busca pela segurança jurídica deve ser fator primordial no trabalho do legislador e ainda que este não consiga, num primeiro momento, operar todas as variáveis do cotidiano cabe a sociedade, em especial ao meio acadêmico, levantar sempre tais discussões para avaliação e possível elaboração de normas jurídicas adequadas às peculiaridades da vida dos cidadãos.
REFERÊNCIAS 
ARIVES. MANUAL DE GARANTIA LIMITADA DE VEÍCULO USADO. ES.2012
CAVALIERE FILHO, Sérgio. Programa de Direito do Consumidor. 4° ed. São Paulo. Saraiva. 2014 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição [da] República Federativa do Brasil. Disponível em: <www.planalto.gov.br> Acesso em: 29/10/2017.
BRASIL. Lei 8.078/90 Código de Defesa do Consumidor. Disponível em <www.planalto.gov.br> Acesso em: 29/10/2017.
FENABRAVE. ÍNDICES E NÚMEROS. Disponível em http://www3.fenabrave.org.br:8082/plus/modulos/listas/index.php?tac=indices-e-numeros&idtipo=2&id=674&layout=indices-e-numeros. Acessado em 21/09/2017
FENAUTO. http://www.fenauto.org.br/. Acessado em 21/09/2017
HELIO CARDOSO, Hélio da Fonseca. Veículos automotores – Identificação, Inspeção, Vistoria, Avaliação, Perícia e Recall. 1 ed. São Paulo. Livraria e Editora Universitária de Direito LEUD. 2012
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Responsabilidade por vício do produto ou do serviço. Brasília: Brasília Jurídica, 1996
NADER, Ralph. Unsafe at any speed. 1° ed. Chicago.IL. Grossman Publishers. 1965	
NUNES, Luiz Antonio Rizzato. Curso de Direito do Consumidor. 2° ed. São Paulo. Saraiva.2005
O Globo. Disponível em: <http://g1.globo.com/carros/noticia/2015/07/mitsubishi-chama-eclipse-para-recall-no-brasil.html> acessado em 29/10/2017)
Revista de Direito do Consumidor. Disponível em: < http://www.mpam.mp.br/attachments/article/2922/Revista_de_Direito_do_Consumidor.pdf> acessado em 08/11/2017
Tribunal de Justiça do DF,(Acórdão n. 764307, Relator Des. FLÁVIO FERNANDO ALMEIDA DA FONSECA, 1ª Turma Recursal, Data de Julgamento: 18/2/2014, Publicado no DJe: 7/3/2014).
Tribunal de Justiça do RS, (Apelação Cível Nº 70051112902, Nona Câmara Cível, Relator: Leonel Pires Ohlweiler, Julgado em 24/10/2012)
Tribunal de Justiça de SC, Precedente citado: REsp 1.123.004-DF, DJe 9/12/2011. REsp 984.106-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/10/2012.

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