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Direito Penal III Resumo

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Direito Penal III – 4º período
Posted on Agosto 5, 2015 by Lúcio de Souza Cruz Neto 
INÍCIO RESUMO
RESUMO – DIREITO PENAL III 
Segundo o conceito tripartido, crime é fato típico, ilícito e culpável. 
Ser típico significa que precisa de haver conduta, resultado, nexo causal e adequação típica. Para o fato ser típico os quatro devem estar presentes. (se algum dos 4 não estiver presente o fato é atípico, e não se trata de crime). 
Ser ilícito significa que não pode estar presente nenhuma das quatro seguintes situações: estado de necessidade, legítima defesa, exercício regular de direito, estrito cumprimento do dever legal. Inexistente qualquer dessas circunstâncias temos um fato ilícito. (se algum dos 4 estiver presente o fato passar a ser lícito, e não se trata de crime) 
Ser culpável significa que precisa de haver imputabilidade, exigibilidade de conduta conforme o Direito, potencial conhecimento da ilicitude. (se algum dos 3 não estiver presente o fato passa a ser não culpável, e não se trata de crime). 
Análise do fato típico:
Conduta: quem pratica crime pratica uma conduta criminosa (ex: matar, roubar, estuprar). A conduta criminosa se dá tanto por ação como por omissão. Crimes praticados mediante ação são crimes comissivos. Crimes praticados mediante omissão são crimes omissivos. 
* Crime omissivo próprio: o tipo penal começa com a expressão deixar de. Ex: deixar de prestar socorro. 
* Crime omissivo impróprio: neles, ao ficar parado você será será acusado de um crime comissivo, pois estava na posição de garante ou garantidor. Há pessoas que tem DEVER LEGAL de proteger bens jurídicos, e, se essas pessoas, não protegem e alguma coisa acontece com aquele bem jurídico essa pessoa será responsabilizada como se ela própria tivesse feito aquilo. Ex: policial em relação ao cidadão; médico em relação ao paciente; pai em relação ao filho. Nestes crimes, é preciso ter possibilidade física de agir e a pessoa de quem o sujeito é garante ser vítima do crime.
  Resultado: Só há fato típico se além da conduta tem resultado.  (dar o tiro é a CONDUTA. a morte é o RESULTADO). Há três situações em que mesmo sem resultado é crime: tentativa; crimes formais(tendo ou não tendo resultado o crime está consumado na própria conduta. Ex: extorsão mediante sequestro, mesmo se não pagar(resultado) há crime) e de mera conduta(não tem resultado. Ex: violação de domicílio, porte ilegal de arma).
Nexo causal: ligação entre o que e o que? Ligação entre a conduta e o resultado.  Não basta o tiro e a morte, mas é preciso que a morte tenha sido decorrente do tiro. Aqui deve-se fazer uma análise do que é ou não desdobramento natural da conduta: Ex professor me dá tiro no ombro —> se morro por causa de acidente do SAMU, ele responde por tentativa de homicídio, porque isso não é desdobramento natural ; se morro por causa de infecção hospitalar ele responde por homicídio, porque aí é considerado desdobramento natural
Adequação típica/tipificação: é preciso que esse caso de conduta, resultado e nexo causal se adeque, se encaixe em algum tipo penal. Isso se encaixa no homicídio. Art 121. (Ex: matar barata – tem conduta, resultado e nexo causal, mas não tem adequação típica) 
Análise da ilicitude: 
Ilicitude: não circunstâncias (art 23). No próprio artigo 23 há um complicador: o excesso punível. Se o agente exceder em sua conduta, ele responderá pelo crime do mesmo jeito. 
Causas excludentes da ilicitude
Estado de necessidade
Legítima defesa
Estrito cumprimento do dever legal
Exercício regular do direito
parágrafo único – responde pelo EXCESSO doloso/culposo. Não pode haver EXCESSO. 
Art 24 – Estado de necessidade (qualquer fenômeno da natureza, ataque de animal). Assim, o estado de necessidade ocorre em situações críticas em que o agente provoca ato típico para proteger bem jurídico que julga mais valioso. Logo, fere um bem jurídico para proteger outro.
”preciso fazer’’ => sacrifício de um bem jurídico para salvar outro 
Ex. furto famérico => furta para matar a fome. 
Exigências: perigo atual (tem de existir/estar acontecendo); não provocar por sua vontade, nem podia evitar, sacrifício não razoável exigir-se(escolha do bem jurídico a ser salvo —> de mesma importância ou sacríficio do bem menos importante). Além disso, no referido caso o bem jurídico só podia ser salvo daquela maneira, ou seja, não era possível que o agente o salvasse de outra forma. Ainda, o bem jurídico em questão deve ser equiparado: o bem avaliado como mais valioso deve ser protegido.
Art 25. Legítima defesa —> reage-se contra uma agressão humana. O próprio termo agressão é típico para humanos. Animais, afinal ‘atacam’.  Também pode haver legítima defesa de terceiros. 
A legítima defesa deve ser usada para anular o ato do agressor, caso contrário será enquadrado como excesso, quando será punido.
Para configurar legítima defesa deve-se ter alguns requisitos: 
Agressão injusta —> não pode ter dado causa à agressão.
Agressão atual ou iminente —> em curso ou muito próxima de acontecer.
O art 25 é muito difícil de ser plenamente alcançado.
Uso dos meios necessários => evitar o EXCESSO
Iminente: proximidade de vir a acontecer.
Tiro nas costas —> há legítima defesa? Somente de terceiro. Se matar a pessoa pelas costas e alegar legítima defesa de si, não será aceito! Será excesso, pois não há perigo atual ou iminente. 
Estrito cumprimento do dever legal: dever imposto por lei. O sujeito cumpre ordens legais que obrigam-no. 
Exercício regular do Direito —> Se alguém age no gozo do seu direito, não pratica ilicitude. ex. Direito de esportista do UFC (lutadores lutando no ringue); furar a orelha da filha.
Análise da culpabilidade: refere-se ao agente, que responde pelo fato.
—> imputabilidade: critério biopsicológico 
Art 27 – bio => + 18 anos 
O menor de 18 anos será sujeito às normas aplicáveis à sua realidade —> ECA.
Art 26 – psicológico => higidez mental 
Os retardados devem enquadrar-se em um desses moldes. 
Exigir ação conforme o direito
Art 22 => coação moral irresistível —> obrigar mediante ameaça 
                obediência hierárquica. 
Ainda, o agente, ao tempo do crime, deve ser OBRIGADO a exibir conduta conforme o direito. O artigo 22 exclui a culpabilidade uma vez que impõem circunstâncias em que não é exigível do agente conduta conforme o direito —> coação moral irresistível e obediência hierárquica não manifestamente ilegal. 
Por fim, para que haja crime deve haver pelo agente potencial conhecimento da ilicitude. Ou seja, era possível que o agente tivesse a chance de obter conhecimento sobre tal ilicitude. Hoje em dia, como todo conhecimento legal se encontra na Internet, este requisito não absolve ninguém.
Tipo Penal: é o modelo de conduta descrito pelo Estado como crime.
Modelo de conduta é o que o sujeito faz. Tipo penal não se restringe a ‘’matar alguém’’. 
Preceito primário: matar alguém
Preceito secundário: pena – 6 a 20 anos de reclusão 
Não se fala em tipo penal se não se falar, também, em tipicidade. A tipicidade, por sua vez, é a adequação do fato material ao tipo penal. Tipicidade é se encaixar, se adequar ao tipo penal. Tanto é verdade que o raciocínio que se faz para ver se o fato material se amolda ao não em algum tipo penal é chamado juízo de tipicidade. 
Elementos do Tipo Penal: separam-se os elementos do tipo penal em dois grupos de espécie. Os elementos específicos e os elementos estruturais. 
Elementos específicos:
Núcleo(s): é(são) o(s) verbo(s) que descreve(m) a conduta proibida por lei. Todo tipo penal tem o núcleo. (MATAR 121) Núcleos de crimes omissivos: DEIXAR DE… . Há possibilidade de haver mais de um núcleo (INDUZIR, INSTIGAR, PRESTAR AUXÍLIO 122);
Sujeito ativo: sujeito ativo de um crime é o autor do delito. Via de regra somente o ser humano pode ser autor de um crime. Exceção: pessoa jurídica em crimes ambientais (há divergência doutrinária). 
Sujeito passivo: quem suporta, quem sofre. Há sujeito pacífico formal(Estado) e material (vítima ou ofendido). O Estado é atingido poisé quem fez a norma. FÉ: Formal-Estado. É possível de haver CONFUSÃO entre o sujeito passivo formal e material: crimes em que a vítima é o próprio Estado. Ex: peculato. 
Objeto material: é a pessoa ou coisa contra a qual recai a conduta criminosa. Para se definir objeto material do crime deve-se parar para pensar o que o sujeito ativo visava. Ele visava o objeto? Visava uma pessoa? Há crimes em que se visa uma pessoa e há crimes que visa um objeto. Ex: professor comete crime de homicídio contra Marcos (objeto material: Marcos) ; Ex: furtei um celular (objeto material: celular); Ex2: ROUBEI um celular (objeto material: celular, porque era o celular que eu VISAVA) Pode haver confusão entre o objeto material do crime e o sujeito passivo material? Sim; ex —> homicídio. 
Elementos estruturais: 
Objetivos: são aqueles percebidos em uma simples apreensão sensorial. Basta ler ou escutar que você sabe o que é.
Ex: 121 matar alguém. Matar é núcleo. Ao se ler este núcleo não se precisa recorrer ao dicionário para saber seu significado, bastando um contato sensorial. 
Ex2: 155 subtrair COISA alheia móvel. Coisa não precisa de ter vida. Vaca é coisa 
b)  Normativo: são aqueles cujo significado está na própria norma, na lei. São aqueles para cuja compreensão deve-se realizar uma atividade VALORATIVA Ao ler, fica-se na dúvida. Ex: peculato (Apropiar-se o funcionário público de bens). Funcionário público: elemento normativo(art 327). Outro exemplo de elemento normativo: art 133,  – artigo 3º Código Civil. O tipo penal normativo exige um juízo do valor, como por exemplo ‘’futil’’, decoro, alheio, documento, vulnerável. 
c) Subjetivos: a expressão subjetivo no Direito refere-se ao sujeito. Quando se fala em elemento subjetivo se refere ao sujeito, mas, mais do que isso, refere-se à intenção do sujeito ativo. Há dois elementos subjetivos: dolo e culpa. Quando for culpa vai estar explícito; quando for dolo estará implícito. Isso é o que dispõe artigo 18, pu do CP => Alguém só pode ser punido por culpa NOS CASOS EXPRESSOS EM LEI.  Deve haver explicitamente ou pelo menos algo coisa que denota culpa. 
Receptação caput (dolo) parágrafo 3º (culpa) => ‘’deve presumir-se’’. Quando nada fala, presume-se a necessidade de DOLO. 
Ninguém pode ser condenado por furto culposo: o 155 do começo ao final não há referência a praticar o fato por imprudência. Só se pode se condenado por furto se o pegar por querer. 
Há um caso específico de crime doloso que terá algo escrito, o Direito Penal chama isso de especial fim de agir ou dolo específico. Esse será EXPLÍCITO também. Existem alguns tipos penais que o legislador não se contenta simplesmente do sujeito querer fazer aquilo. Para configurar crime é preciso ter querido fazer aquilo para atingir aquela outra coisa qualquer. Tem expressões iniciadas com as palavras: para o fim de, com o intuito de, para tal coisa. Não basta querer e deve querer e mais algo.Ex: 159: Ex2: 134
PARTE ESPECIAL
Crimes contra a pessoa 
1.1) Crimes contra a vida 
Crimes contra a vida possuem uma característica peculiar, sendo julgados, quando dolosos, pelo Tribunal do Júri. Dos 4 crimes contra a vida, apenas o homicídio possui forma culposa, sendo o único que não vai a Júri. 
1.1.1) Homicídio – art 121
Homicídio é a injusta eliminação da vida de uma pessoa provocada por outrem. Fala-se que é a eliminação da vida é porque o tipo penal é matar alguém, tirar a vida. É injusta pois há como tirar a vida de alguém de forma justa: ex —> legítima defesa. Diz-se provocada por outrem porque é outra pessoa, não podendo, assim, um animal praticar homicídio. 
Assassinato não é adequado para se referir a homicídio, pois, embora não seja equivocado, é demasiadamente coloquial. 
Bem jurídico protegido: a vida. Para ver o bem jurídico tutelado basta ver o capítulo. 
Sujeito ativo: qualquer um. (Homicídio é, portanto, crime comum e não próprio). 
Sujeito passivo material: qualquer pessoa física com vida extra-uterina.
Conduta: em regra, trata-se de crime comissivo. Excepcionalmente é omissivo, desde que esteja na posição de garante.
Elemento subjetivo: dolo ou culpa, pois é possível homicídio doloso e culposo. Quis o resultado (dolo direto); assumiu o risco(eventual). Dizer que assume o risco que isso aconteça é que o sujeito foi EXTREMAMENTE imprudente. Ex: roleta russa, todo mundo que participou da brincadeira vai a júri por homicídio, porque ao toparem brincar assumiram o risco.
culpa consciente: sei que pode acontecer mas confio que não pode acontecer.
Consumação ou momento consumativo: aqui tenta-se ver quando que muda de tentativa de para homicídio consumado. No caso, o crime de homicídio se consuma com a morte da vítima. Mas quando a vítima morre? Até antes de 97 precisava de 3 coisas pararem: sistema circulatório, respiratório e nervoso central. (coração/pulmão/cérebro). Antes para o sujeito responder por homicídio consumado era necessária a certidão de óbito. A lei 9434 de 1997 é uma lei que trata de biomedicina e a intenção dessa lei foi regulamentar transplante de órgãos. O fato é que, se se considerava que tá morto quando parou os 3 sistemas, quando o médico tirar os órgãos ele estaria cometendo homicídio. Esta lei, para proteger o médico, estabeleceu que homicídio só acontece com a morte cerebral. 
A família tem que tomar duas decisões: se o filho vive(homicídio tentado pelo assassino) ou morre(homicídio consumado).
Nesses casos de morte cerebral, então, se tirou o órgão e o sujeito foi enterrado, é consumado. Se deixou ligado, é homicídio tentado.
Tentativa: alguns crimes ou consumam ou não consumam. O homicídio é um crime que, obviamente, permite tentativa. A tentativa é incompatível com o crime culposo. 
tentativa branca: efetivamente não se produz nenhuma lesão na vítima
tentativa vermelha: lesiona a vítima. 
Ação penal: o processo que o sujeito responde pode ser pública (MP oferece denúncia) ou privada(própria vítima contrata advogado e oferece queixa-crime). Pública pode ser incondicionada(não depende da vontade de ninguém) ou condicionada(depende da vontade da vítima ou requisição do Ministro da Justiça). 
Tal crime é de que ação penal? Tem que olhar na própria lei. Ex: art 147. Ameaça é crime de ação penal pública condicionada com representação da vítima: o MP faz tudo, mas depende da vontade da vítima. Se for privada deve estar expresso. 
O monte de crime que não tá expresso são crimes incondicionados. 
Espécies de homicídio: 
simples: ‘’caput”  6 a 20 anos reclusão
privilegiado: parágrafo 1º  – 1/6 a 1/3
qualificado: parágrafo 2º  12 a 30
qualificado privilegiado: união dos dois anteriores. 
culposo: parágrafo 3º
No parágrafo 1º há situações que tornam o homicídio menos grave, de tal modo que o autor do delito terá uma redução de pena de 1/6 a 1/3, é o chamado homicídio privilegiado. 
O crime qualificado é mais grave, e várias circunstâncias do parágrafo 2º tornam o crime qualificado.
O crime qualificado privilegiado: ex —> matar estuprador da minha filha botando fogo. Privilegiado puro pega 6 a 20 e reduz de 1/6 a 1/3. No privilegiado qualificado pega de 12 a 30 e reduz de 1/6 a 1/3.
Análise do homicídio privilegiado: privilégio significa uma forma menos grave do crime. No homicídio a redução de pena é de 1/6 a 1/3. Bittencourt frisa que, assim, trata-se de causa de diminuição de pena ou minorante, não interferindo na estrutura da descrição típica. Por essa razão, continua ele, as privilegiadoras não se comunicam na hipótese de concurso de pessoas, nos termos do artigo 30 do Código Penal. 
Os motivos constituem a fonte propulsora da vontade criminosa, de tal modo que não há crime gratuito ou sem motivo para Bittencourt, bem como é a relevância social ou moral da motivação determinada pela escala de valores em que se estrutura a sociedade. 
Relevante valor social: isso seria algum motivo importante/relevante que interessa a toda uma coletividade.   Ex: mata por amor à pátria. 
Relevante valor moral: diz respeito a algo relevante/importante que interessa interessaàquele indivíduo. Ex: mata o estuprador da filha. Ex2: eutanásia, que é diferente de auxílio à suicídio, hipótese na qual se viabilizaria que o doente em estado terminal, ele mesmo, puxasse o fio da máquina que o deixa vivo.
A relevância do valor, social ou moral, é avaliada de acordo com a sensibilidade média da sociedade e não apenas segundo a sensibilidade maior ou menor do sujeito ativo. 
Motivos de relevante valor social ou moral também são elencadas como atenuantes, de tal modo que, se forem adotadas como tal, não podem ser também privilegiadoras, para evitar o bis in iden. 
Sob domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima: VIOLENTA emoção por INJUSTA provocação da vítima LOGO EM SEGUIDA. Emoção é uma viva excitação do sentimento que produz momentânea e violenta perturbação da personalidade do indivíduo, afetando o equilíbrio psíquico. Não é qualquer emoção que pode assumir a condição de privilegiadora, no homicídio, mas somente a emoção intensa, violenta, absorvente, que praticamente domina o próprio autocontrole do agente, como nos ensina Bittencourt. Convém destacar que o criminoso emocional não perde a consciência. 
É fundamental, aqui, que a provocação tenha partido da própria vítima e seja injusta, ou seja, não justificada ou não autorizada por lei. A injustiça da provocação deve ser de tal ordem que justifique – de acordo com o consenso geral – a repulsa do agente, sua indignação que não se confunde com legítima defesa, numa hipótese, por exemplo, de agressão e não provocação. 
Por fim, é necessário que entre a causa da emoção (injusta provocação) e esta praticamente inexista intervalo. (Ex do namorado que ficou furioso quando uns marombas idiotas flertaram  super desrespeitosamente com sua mulher no bar e ele nada podia fazer, e então foi em casa, pegou a arma do pai – coisa de 20 minutos – e matou um deles. Não foi minorado, aliás foi qualificado). 
Nos termos da Súmula 162, a redução de pena oriunda do privilégio não é uma faculdade do juiz, mas uma obrigação, devendo se impor com efeito caso reconhecida pelo Conselho da Sentença, ante a soberania do Júri. Trata-se, pois, de um direito público subjetivo do condenado. Assim, a discricionariedade do juiz limita-se ao quantum da redução, ao qual a expressão pode se refere. (1/6 a 1/3).
Privilegiadoras e qualificadoras objetivas podem coexistir pacificamente, como manifestou-se o STF. Contudo,as privilegiadoras são incompatíveis com as qualificadoras subjetivas.Afinal, jamais alguém, por motivo de relevante valor moral ou social, sou sob domínio de forte ou violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, possa matar alguém por motívo fútil ou torpe. O raciocínio não fecha. 
Análise do Homicídio qualificado – parágrafo 2º: : nos crimes qualificados, se cria um verdadeiro novo limite de pena, uma nova elementar, motivo pelo qual se diferenciar das atenuantes(aplicáveis a todo e qualquer crime), e das majorantes(em que apenas se preveem o aumento da pena-base ou da própria qualificadora). Importante saber esta distinção. O homicídio qualificado é definido como crime hediondo, nos termos da lei 8027/90. 
Motivação:
Medianta paga ou promessa de recompensa1 ou por motivo torpe: 1 trata-se de quando o sujeito ativo recebe do mandante(autor intelectual) vantagem econômica, geralmente antecipadamente(paga) e raramente como promessa, para tirar a vida de outra. Popularmente chama-se de pistolagem e tecnicamente de crime de mercenário. 2 Motivo torpe é aquele motivo REPUGNANTE ao olhar da sociedade. Aquele crime que ao se ler a notícia pensa-se: que nojo! Ex: matar pais por herança. 
Ps: os motivos que qualificam o crime de homicídio, na hipótese de concurso de pessoas, são incomunicáveis, pois a motivação é individual, e não constituem elementares típicas, segundo o melhor entendimento doutrinário. 
Motivo fútil:  é aquele insignificante e desproporcional. Fútil é quando você lê e pensa: só por isso?! A corrente majoritária entende que o princípio da legalidade impede de se enquadrar o motivo fútil à ausência de motivo.
Execução:
Emprego de veneno: apenas qualifica o crime se a vítima não perceber que não está sendo envenenada, para Bittencourt. Damásio de Jesus diz que veneno é toda substância biológica ou química que, introduza no organismo, pode produzir lesões ou causar a morte. O que caracteriza o veneno é a sua maneira de agir no organsimo. Sua administração forçada ou com o conhecimento da vítima NÃO QUALIFICA O CRIME. 
Fogo, explosivo: Essa modalidade de homicídio qualificado, até então incomum em nossa sociedade, proliferou perigosamente nas grandes cidades. Ex: índio patachó. Explosivo é qualquer objeto ou artefato capaz de provocar explosão ou qualquer capaz capaz de se transformar rapidamente em uma explosão(bomba caseira; coquetel molotov). Emprego de fogo exempifica-se com a utilização de produto inflamável seguido do ateamento de fogo, para Bittencourt. 
Asfixia: impedimento da função respiratória, com a consequente falta de oxigênio no sangue do indivíduo. Ex: enforcamento, afogamento, uso de gás asfixiante. O indivíduo que asfixiar a vítima sem dolo de homicídio não responde pela agravante da asfixia nem pela qualificadora, uma vez que esta se limita ao homicídio, para Bittencourt. 
Tortura: se dá quando se causa sofrimento intenso e longo à vítima, sendo, para Bittencourt, meio que causa prolongado e desnecessário padecimento. Se, ao torturar alguém, o sujeito agir com animus necandi (dolo de homicídio), deverá responder pelo crime de homicídio qualificado pela tortura(art 121, parágrafo 2º, inciso III, 5º figura). Crime de tortura qualificado pelo homicídio: dolo nunca foi matar, mas a morte acontece acidentalmente, de forma que se exagera tanto que a morte acontece acidentalmente. 
Meio insidioso: Bittencourt frisa ser esse o recurso dissimulado, que consiste na ocultação do verdadeiro propósito do agente, que surpreende a vítima.
Meio de que possa resultar perigo comum: Bittencourt frisa que é aquele que pode atingir um número indefinido de pessoas. Ou seja, quando o sujeito ativo, além de atingir a vítima visada, criar também situação concreta de perigo para um número indeterminado de pessoas: ex incidência, explosão, inundação, desabamento. 
Ou outro meio cruel: O legislador deixou essa cláusula genérica para se enquadrar outras situações. Isso chama-se interpretação analógica. É a interpretação de algo já escrito utilizando a analogia, que no Direito Penal só pode se for em benefício do réu. 
Meio cruel é a forma brutal de perpetrar o crime, que causa a vítima sofrimento desnecessário e revela sadismo. A crueldade realizada após a morte não qualifica o crime.
Modos qualificadores: de QUE JEITO se atacou a vítima.
À traição: ataque sorrateiro, inesperado. Ex: tiro pelas costas. Não se configura se a vítima pressente a intenção do agente ou se houver tempo para a vítima fugir. 
De embosca: tocaia, que se verifica quando agente se esconde para surpreender a vítima com ataque indefensável. É sempre um crime premeditado. 
Dissimulação: ocultação da intenção hostil para surpreender a vítima. O sujeito dissimula, mostra-se o que não é, faz-se passar por amigo, ilude a vítima, que não tem razões para desconfiar do ataque e é apanhada desatenta e indefesa. 
Recurso que dificulta ou impossibilita a defesa: interpretação analógica. Ex: surpresa. (matar a vítima dormindo pode ser surpresa se o sujeito ativo não esperava que ela estivesse dormindo) Ex em sala: 6 contra 1. 
Fins qualificadores
Assegurar a execução de outro crime: o que qualifica o homicídio não é a pratica de outro crime, mas o fim de assegurar esse outro crime. Cometi o homicídio porque pretendia furtar a loja, mas fui preso antes, por exemplo. É qualificado do mesmo jeito. 
Assegurar a ocultação ou impunidade de outro crime: a finalidade do sujeito ativo é destruir a prova de outro crime ou evitar-lhe as consequências jurídico-penais. Queima de arquivo, matar testemunha. 
Assegurar a vantagemde outro crime: Ex: Seu João não me dá mole e nunca conseguirei furtar. Mato Seu João para começar a praticar furto porque Dona Maria, sua mulher, é lerda.
Trata-se de conexão entre homicídio e outro crime que, se for efetivamente executado, determinará o cúmulo material(somatório) das penas. A qualificadora não desaparece mesmo se se extinguir a punibilidade pelo outro crime. 
Novidades do Código Penal:
Feminicídio: qualifica o homicídio praticado contra a mulher por razões da condição do sexo feminino. Outra condição que caracteriza o crime é menosprezo ou discriminação. parágrafo 7º: majorante em cima do qualificado. 
Policial: qualifica o homicídio praticada contra policial por ser policial, autoridade(juiz, promotor, delegado de polícia ou agente descrito nos artigos 142 ou 144). Ex: Ou porque tá em serviço ou porque sou bandido que já fui preso por ele. Protege não só o policial como sua família até 3º grau. 
Quando se pensa nas circunstâncias que levam ao privilégio, fala-se em circunstâncias subjetivas(‘’um bom motivo’’). Já as qualificadoras, que são situações que tornam o crime mais grave. Só os incisos III, IV, VI e VII são compatíveis com o privilégio. Só há homicídio privilegiada e qualificado ao mesmo tempo quando as circunstâncias da qualificadora são objetivas!
Hediondez: notar para fins de progressão de regime. 
Basta haver qualificadora que o crime será hediondo. (Sempre)
Privilegiado não é hediondo. (Nunca).
Corrente majoritária: se for qualificadora privilegiada prevalece o entendimento de que não é hediondo.
Homicídio simples. Via de regra não é hediondo, exceto quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio. Grupo de extermínio visa exterminar uma classe de gente. 
Homicídio culposo: no fundo, imprudência, imperícia e negligência, são diferenças mínimas de uma conduta igual que é omissa, descuidada, desprovida de cautela ou desatenta. 
Imprudência: caráter comissivo. Prática de conduta arriscada ou perigosa. Limite mínimo para imputação do resultado delitivo. 
Negligência: Indiferença do agente que, podendo adotar as cautelas necessárias, não o faz. É o desleixo. Não fazer o que deveria ser feito. A possibilidade do resultado fica fora do pensamento do autor do crime. 
Imperícia: falta de capacidade, despreparo ou insuficiência e conhecimento técnicos para o exercício de arte, profissão ou ofício. Não se confunde com erro profissional, que é um acidente inevitável. 
Culpa consciente: agente prevê o resultado mas confia convictamente que ele não ocorra.
Culpa inconsciente: ação sem previsão do resultado. Não há previsão por descuido, desatenção ou simples desinteresse.  Ausência absoluta de nexo psicológico entre o autor e o resultado de sua ação. 
Majorantes em homicídio culposo, previstas no parágrafo 4º: 
– se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício(não se confunde com imperícia, porque aqui o agente conhece a regra técnica, mas não a observa), ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima(morte instantânea da vítima ou imediato socorro prestdo por terceiro impedem a incidência dessa majorante, bem como a presença de risco pessoal. PS: aqui omissão de socorro não constitui crime autônomo.), não procura diminuir as consequências do seu ato(não deixa de ser forma de omissão de socorro), ou foge para evitar prisão em flagrante. 
Majorantes em homicídio doloso, previstas no parágrafo 4º:
se o crime é praticado contra menor de 14 anos ou maior de  60 anos.  (Na data da prática da ação delituosa em função da ação delituosa, ainda que outra seja a da produção do resultado. Além disso, o autor deve saber da condição de menor ou de idoso da vítima, caso contrário há erro de tipo inescusável).
Essas majorantes só não se aplicam no caso do feminicídio, que já tem sua majorante própria(princípio da especialidade).
Parágrafo 5º: perdão judicial. O juiz poderá deixar de aplicar a pena se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Não é excludente de tipicidade, ilicitude, culpabilidade. Condena-se o réu por homicídio culposo, mas deixa de aplicar a pena. Trata-se de uma causa negativa de punibilidade. É normal que quem cometa homicídio culposo sofra consequências de forma grave, então as consequências a que se referem esse parágrafo devem ser excepcionais, algo envolvendo fortes vínculos entre a vítima e o autor. Art 120: não será considerado para reincidência.
Parágrafo 6º: tropa de Elite. 
Questão importante: caso fique comprovado que o agente poderia evitar a morte da vítima, socorrendo-a, responderá ele por homicídio doloso diante do que dispõe o artigo 13, parágrafo 2º, c, pois, apesar de inicialmente ter agido com culpa, diante da possibilidade do resultado gravoso para vítima, deixando de socorrê-la, ele assumiu o risco de que ocorra a sua morte, sendo correta sua punição a título de dolo eventual.
Aqui, não é a evitabilidade do resultado(morte da vítima) que caracteriza o crime omissivo impróprio(implica dever de impedir um resultado concreto, assumindo a condição de garantidor de sua não ocorrência.), mas sim a presença de todos os seus pressupostos legais. 
1.1.2) Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (Art 122, CP): vai a júri porque é crime doloso contra a vida.
Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, não requerendo nenhuma condição particular, pois se trata de um crime comum.
Sujeito passivo: será a pessoa induzida, instigada ou auxiliada. É indispensável que esta pessoa possua capacidade de discernimento. Caso contrário, estaremos diante diante de um homicídio praticado por meio da autoria mediata. 
Conduta: eminentemente comissivo e  excepecionalmente omissivo para Bittencourt quando o sujeito ativo tem o dever jurídico de evitar o suicídio, como seria o caso, por exemplo, do carcereiro que deixa, propositadamente, o preso com a cinta, para facilitar-lhe o enforcamento.
Elemento subjetivo: dolo, sendo a vontade livre e consciente de provocar a morte da vítima por meio do suicídio ou, no mínimo, assunção do risco de lavá-la a esse desiderato(multidão gritando pula)
Consumação: morte ou lesão corporal grave. Bittencourt admite que este crime não admite a tentativa branca(sem a lesão grave), apenas a tentativa cruenta, com lesão grave, porque pune uma tentativa diferenciada ao estabelecer nova pena na hipótese de lesão corporal grave.
Ação penal: pública incondicionada. 
Deve-se entender que o que é punível aqui é a própria participação: quem realizar qualquer dos núcleos da elementar, em relação ao sujeito passivo, não será partícipe, mas autor do crime de concorrer para o suicídio alheio, visto que sua atividade não será acessória, mas principal, única e essencialmente típica.
Induzimento(fazer surgir uma ideia inexistente) e instigação(reforçar uma ideia já existente) são modalidades morais de participação. O auxílio(ajudar materialmente), por sua vez, é material.
Causa de aumento de pena: majorante. 
se o crime é praticado por motivo egoístico: egoísmo é o excessivo amor ao interesse próprio. Ex: conselho para irmã para ficar com a herança. 
vítima menor: aqui não se pode esquecer que o menor, para ser vítima de suicídio, precisa dispor de certa capacidade de discernimento. 
Greve de fome: médico está na posição de garantidor e responderá pela morte do grevista, na forma omissiva imprópria. O grevista em regra não tem a intenção de morrer. É vedado ministrar forçadamente alimentação ao grevista, desde que se encontre em pleno uso de suas faculdades mentais e não haja grave risco de vida. 
Testemunha de Jeová. 
Pacto de morte: 
A e B trancam-se em um quarta. A abre a torneira de gás, B sobreviva. Nesse caso, B responde por participação em suicídio.
O sobrevivente é quem abriu a torneira: nessa hipótese, responde por homicídio, uma vez que praticou o ato executório de matar. 
Os dois abrem a torneira de gás, não se produzindo qualquer lesão corporal em face da intervenção de terceiro:ambos respondem por tentativa de homicídio, uma vez que praticaram ato executório de matar: A em relação a B e B em relação a A.
Suponha-se que um terceiro abre a torneira de gás. Os dois se salvam, não recebendo lesão corporal de natureza grave. Responderiam os dois por participação em suicídio? E o terceiro? Na verdade, os dois não respondem por nada, pois a conduta que praticaram é atípica. O terceiro, que praticou ato executório de matar, responde por dupla tentativa de homicídio. 
Os dois sofrem lesão corporal de natureza grave, sendo que A abriu a torneira de gás e B, não. A responde por tentativa de homicídio e B responde por participação em suicídio. 
Roleta russa: a solução indica a responsabilidade do sobrevivente pela participação em suicídio, pois, com essa prática, no mínimo,instigou a vítima ao suicídio. Se, no entanto, algum deles for coagido a participar, sobrevivendo o coator, este responderá por homicídio doloso. 
1.1.3) Infanticídio (art 123 CP) 
Infanticídio é uma espécie de homicídio regrado a circunstâncias. Estado puerperal é um estado que a parturiente obrigatoriamente passa e, sob influência de descarga de hormônio, perde um pouco da capacidade de entender o que faz, ocasionando profundas alterações psíquicas e físicas, levando a mãe ao transtorno.
Sujeito ativo: somente a mãe pode ser sujeito ativo do crime de infanticídio e desde que se encontre sob a influência do estado puerperal. É, assim, crime próprio, que não pode ser praticado por qualquer um. Mas isso não impede que possam existir coautores e partícipes, desde que tenham, logicamente, atividade secundária, acessória. Se o terceiro for quem executa a ação de matar o nascente, responderá por homicídio, não havendo que se falar em violação da comunicabilidade da elementar típica, pois a ação principal não foi da mãe puérpera.
Sujeito passivo: durante(nascente – que está nascendo) ou após(recém nascido ou neonato) o parto. É o próprio filho.
Momento fronteiriço entre aborto e infanticídio: antes de iniciado o parto, a ocisão do feto é aborto; após aquele ter começado, o crime é infanticídio. 
Elemento temporal logo após(o parto). Logo após seriam 5 minutos, 30 minutos? Doutrinara e jurisprudência convencionaram que esse logo após não faz sentido, e que deve ser entendido por logo após enquanto durar o estado puerperal. Assim, a elementar logo após o parto só alcançará seu verdadeiro sentido se estiver subordinada à elementar anterior – sob influência do estado puerperal. 
Elemento subjetivo: dolo direto (mata o bebê com as próprias mãos).
dolo indireto: joga bebê no lixo. 
Momento consumativo: consuma-se com a morte da vítima, sendo um crime material. Se, por exemplo, o organismo feminino expulsa um feto que é inviável por sua imaturidade, o fato praticado pela gestante não é crime algum. 
PS: o crime de infanticídio admite tentativa e haverá crime impossível quando a mãe, supondo estar viva, pratica o fato com a criança já morta. 
Ação penal: pública incondicionada.
Mãe e terceiro praticam a conduta nuclear do tipo: matar o nascente ou recém nascido(pressupondo a presença dos elementos normativos específicos): está plenamente caracterizada coautoria, mas é fundamental analisar o elemento subjetivo que orientou a conduta do terceiro. Se apenas quis concorrer para o crime de feminicídio, aderindo à conduta da mãe, por este responde; se, contudo, houve desígnio autônomo, deve responder por homicídio, que foi o crime que efetivamente praticou. Já a parturiente, em razão do seu estado emocional profundamente perturbado pelos efeitos do puerpério, não pode ter sua situação agravada.
O terceiro mata o nascente com a participação meramente acessória da mãe: inquestionavelmente o fato principal praticado pelo terceiro é homicídio. Em regra os participantes de uma infração penal respondem pelo mesmo crime. Mas aqui há desvio subjetivo de conduta, devendo a partícipe(no caso, a mãe) responder pelo crime menos grave do qual quis participar, qual seja, o infanticídio. 
1.1.4) Aborto (arts 124 a 128, CP)
É a interrupção da gravidez com a morte ou destruição do produto da concepção. O aborto ocorre a partir da nidação(fixação do embrião na parede do útero materno) e vai até os momentos que antecedem o parto. 
Bem jurídico tutelado: vida do ser humano em formação
Sujeito ativo no autoaborto e no aborto consentido: própria mulher gestante. Crime de mão própria.
Sujeito ativo no aborto provocado por terceiro: qualquer um. Crime comum.
Sujeito passivo no autoaborto e no aborto consentido: produto da concepção. 
Sujeito passivo no aborto provocado por terceiro: produto da concepção e a gestante. 
O crime de aborto admite a figura da tentativa, pois é material. Bittencourt sustenta a não punibilidade da tentativa do autoaborto, porque o ordenamento jurídico brasileiro não pune autolesão.
Divisões mais importantes do aborto:
Natural/Espontâneo: próprio organismo da mulher expulsa o feto. 
Acidental/Culposo: fator externo causa aborto. Ex: tombo, queda, esbarrão, atropelamento, queda de cavalo. Não é punido pois o Código não pune aborto culposo. 
Criminoso(previsto no artigos 124 a 126)
Legal/permitido(art 128, CP)
d) Aborto legal/permitido(Art 128) 
Aborto necessário/terapêutico:  o aborto praticado por médico não é punido se não há outro meio de salvar a vida da gestante. Excepcionalmente não será punido ainda que praticado por qualquer um, mas por outra justificativa, estado de necessidade. (Ex: localidade rural). Bittencourt frisa que esse aborto exige dois simultâneos requisitos: perigo de vida da gestante e inexistência de outro meio para salvá-la, e diz que quando o perigo de vida for iminente, na falta de médico, oura pessoa poderá realizar a intervenção, fundamentada nos arts 23, I e 24. Diz ainda que, na hipótese de perigo de vida iminente, é dispensável a concordância da gestante ou de seu representante legal.
Aborto sentimental, humanitário ou ético: Aborto no caso de gravidez resultante de estupro. Bittencourt cita os seguintes requisitos para se autorizar o aborto humanitário: gravidez resultante de estupro; prévio consentimento da gestante, ou, se incapaz, de seu representante legal. Diz ainda que a prova tanto da ocorrência do estupro quanto do consentimento da gestante deve ser cabal. 
O STF criou terceira possibilidade de aborto legal, sendo o aborto anencefálico, sustentado por uma linha de argumentação que gira em torno do respeito à dignidade humana da gestante. Assim, se preferir, a gestante poderá aguardar o curso natural do ciclo biológico mas, em contrapartida, não será condenada a abrigar dentro de si um tormento que a aniquila, brutaliza, desumaniza e destroi emocional e psicologicamente, visto que, ao contrários daquelas que se preparam para dar à luz a vida, rigozijando-se com a beleza da natureza, esta gestante afoga-se na tristeza e no desgosto de ser condenada a continuar abrigando no seu venrte um ser inanimado e disforme de vida, aguardando o dia para, ao invés de brindar o nascimento do filho como todas as mães sonham, convidar os vizinhos para ajudá-la a enterrar um natimorto, que nunca teve chance alguma de nascer com vida. D
c) Criminoso(previsto no artigos 124 a 126)
A segunda figura do art 124 – consentir que lhe provoquem o aborto – encerra dois crimes: um para a gestante que consente (art 124), outro para o sujeito que provoca o aborto(art 126). Constitui, assim, uma das exceções à teoria monística da ação, adotada pelo Código Penal Brasileiro. 
Art 124- autoaborto ou aborto consentido – Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento: Crime de mão própria. Este artigo tipifica duas condutas. Com a primeira, ela mesma provoca o abortamento(autoaborto); com a segunda, consente que terceiro lhe provoque(aborto consentido). 
Importante lembrar que qualquer crime de mão própria admite a participação como atividade acessória. Se o terceiro for além da mera atividade acessória, não responderá como coautor porque a natureza do crime NÃO permite, mas como autordo crime do art 126.
Art 125 aborto sofrido – Aborto provocado sem consentimento da gestante: é aquele aborto provocado contra a vontade dela. Este aborto recebe punição mais grave e pode assumir duas formas: sem consentimento real ou ausência de consentimento presumido (não maior de 14 anos, alienada ou débil mental). 
Art 126:  aborto consensual  – Aborto provocado com consentimento da gestante: provocar aborto com o consentimento da gestante. Aqui é do PONTO DE VISTA DE QUEM REALIZA O ABORTAMENTO.Esse terceiro que realiza a ação pode ser qualquer pessoa, não precisando nem ser médico, apesar de normalmente sê-lo, sendo crime comum. 1 a 4 anos.
Bittencourt frisa que consentir merece determinado grau de censura, ao passo que executar a conduta consentida, qual seja crime de aborto, recebe uma censurabilidade bem mais elevada, pois implica a comissão do aborto criminalizado. 
Se o consentimento é obtido mediante fraude ou grave ameaça ou violência, bem como foi emitido por inimputável, aplica-se a pena do art 125 ao terceiro que provocou abortamento, e não a pena do presente art. (P.u).
Forma qualificada
Aqui são majorantes, em realidade. 
Somente a lesão corporal de natureza grave ou a morte ‘’qualificam” o crime de aborto. As ditas ‘’qualificadoras” aplicam-se ao aborto praticado por terceiro (arts 125 e 126)e não ao aborto praticado pela própria gestante(art 124), pois não se pune a autolesão. 
Para que se configura o crime qualificado pelo resultado é indispensável que o evento morte ou lesão grave decorra, pelo menos, de culpa(art 19). Se, contudo, o dolo abranger os resultados lesão grave ou morte da gestante, excluirá a aplicação do art 127, que prevê uma espécie de preterdoloso (dolo em relação ao aborto e culpa em relação ao resultado agravador). Nessa hipótese, o agente responderá pelos dois crimes, em concurso formal(art 70) – aborto e homicídio doloso ou aborto e lesão corporal grave.
Ação penal: Pública incondicionada.
1.2) Das lesões corporais
1.2.1) Lesão corporal (Art 129, CP)
Bem jurídico tutelado: incolumidade da pessoa, ou seja, a integridade corporal e a saúde da pessoa humana. Isso engloba a integridade física(relaciona-se à alteração anatômica), saúde fisiológica(funcionamento do organismo) e saúde mental(tudo de ordem psíquica). 
Sujeito ativo da lesão corporal: qualquer pessoa—> crime comum.
Sujeito passivo: também pode ser qualquer pessoa humana viva, com exceção das figuras qualificadas, parágrafos 1º, IV e 2º, V. Nelas, apenas a mulher grávida figura nessa condição.
Consumação e tentativa: o crime se consuma com a lesão efetiva à integridade ou saúde de outrem e, sendo assim, trata-se de um crime material, pois se consuma com o resultado. Consuma-se, portanto, no exato momento em que se produz o dano resultante da conduta ativa ou omissiva. Consumada a lesão, a materialidade delitiva comprova-se com o obrigatório exame de corpo de delito. A tentativa é admissível com exceção das formas culposa e preterdolosa, cuja impossibilidade decorre de suas naturezas.
Elemento subjetivo: dolo direto, indireto, culpa e preterdolo. O dolo deve abranger o fim proposto, os meios escolhidos e, inclusive os efeitos colaterais necessários. O que distingue o crime de lesão corporal da tentativa de homicídio cruenta é exatamente o elemento subjetivo: neste há o dolo de matar; naquela, tão somente o de lesar o corpo ou a saúde. 
Preterdolo: ofensa à integridade física punida a título de dolo e o resultado quaificador, a título de culpa. 
Dolo da lesão corporal é animus laedendi.
Autolesão: a autolesão não tipifica o crime de lesão corporal. Contudo, se um inimputável por determinação de outrem praticar em si mesmo uma lesão, quem o conduziu à autolesão responderá pelo crime na condição de autor mediato. Algo semelhante ocorre quando alguém, agredido por outrem, para defender-se, acaba ferindo-se. A causa do ferimento foi a ação do agressor; logo, deverá responder pelo resultado lesivo.
Espécies de lesão corporal: 
simples/de natureza leve (‘’caput”) – 3 meses a 1 ano de detenção. 
A definição de lesão corporal leve é formulada por exclusão, ou seja, configura-se quando não ocorre nenhum dos resultados previstos nos parágrafos 1º, 2º e 3º do art 129. Essa lesão é sempre dolosa. Essa lesão é privilegiada.
Além disso, a lesão penal de natureza leve, é condicionada à representação da vítima. Assim, até o recebimento da denúncia a vítima pode, a qualquer momento, retratar. OBS: não se aplica à Lei Maria da Penha (agressões domésticas contra a mulher, para as quais valem a regra geral da AP pública incondicionada).
b) grave (parágrafo 1º)  – 1ano a 5 anos: se resulta
I incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias: a incapacidade referida aqui relaciona-se ao aspecto funcional e não puramente econômico.  Crianças, menores, bebês também podem ser sujeitos passivos dessa espécie, assim. Contudo, a simples vergonha de aparecer em público não caracteriza a qualificadora ora examinada. Para comprovar a materialidade delitiva deste crim e deve-se realizar um segundo exame de corpo de delito, o exame de corpo de delito complementar. Só se o perito fizer esse exame complementar, dizendo que, passado um mês, por exemplo, a vítima continua com o braço quebrado, reconhece-se a qualificação. Esse exame de corpo de delito precisa de ser feito no 31º dia.
II perigo de vida: perigo de morte, que deve ser pericialmente comprovado. O resultado morte deve ser provável e não meramente possível.
III: debilidade permanente de membro ou função: debilidade é a redução da capacidade funcional da vítima. Permanente é a debilidade de duração imprevisível, não sendo necessário ser definitiva. Membros são partes do corpo que se prendem ao corpo, podendo ser inferiores ou superiores(braços, mãos, pernas e pés). Sentido é a faculdade de percepção, de constatação e, por extensão, de comunicação: visão, audição, olfato. 
Membro x sentido: membro basta debilitar um para qualificar, sentido precisa debilitar os dois( dois ouvidos, narinas, olhos)…
IV: aceleração do parto: em razão da lesão corporal direcionada a uma gestante o parto acelerou. Aceleração de parto é a antecipação do nascimento do feto com vida. Aqui é necessário que o agente tenha conhecimento da gravidez da vítima, como bem lembra Bittencourt. Isso é crime preterdoloso: só houve dolo de bater na mulher grávida e, sem querer, acelerei o parto. Além disso, se esse parto acelerado ocasionar algum problema para criança, há outra lesão corporal, dessa vez em relação ao bebê. 
c)  gravíssima (nome convencionado) (parágrafo 2º)  – 2 anos a 8anos: em razão das semelhanças que estas apresentam com aquelas tratadas nas graves, faz-se importante fazer uma análise comparativa. Nas lesões gravíssimas, os efeitos da lesão, de regra, são irreparáveis, justificando, por isso, sua maior penalidade. 
I: incapacidade permanente para o trabalho não se confunde com incapacidade para as ocupações habituais. Aqui, a incapacidade é permanente e para o trabalho em geral, e não somente para a atividade específica que a vítima estava exercendo. Desse modo, se ficar incapacitada para esta atividade específica, mas puder exercer outra atividade labora, não se configura a incapacidade. Vale lembrar que aqui a incapacidade não é temporária, como na grave, mas definitiva(não precisando de ser perpétua): deve ser de duração incalculada.
II: efermidade incurável: efermidade incurável é a doença cuja curabilidade não é conseguida no atual estágio da Medicina. Deve-se distinguir efermidade incurável de debilidade permanente: esta é o estado consecutivo a uma lesão traumática, que limita duradouramente o uso, a extensão e energia de uma função, sem comprometer o estado geral do organismo; aquela, ao contrário, progressivamente agrava o teor de um organismo
Clube dos carimbadores(soropositivos que deliberadamente passam o vírus a outrem) jurisprudência tem sido rigorosa nesse sentido e condenado os autores por tentativa de homicídio, e não por lesão corporalgravíssima.
III: perda ou inutilização de membro, sentido ou função: há perda quando cessa o sentido ou função, ou quando o membro ou órgão é extraído ou amputado. Debilidade permanente e perda devem ser distinguidos: perda de um olho(debilidade) não se confunde com a perda de visão(perda de sentido). ‘’Se o ofendido, em consequência da lesão corporal, sofre paralisia de um braço, trata-se de inutilização de um membro. Se, em face da lesão corporal, perde a mão, cuida-se também da inutilização de membro. Vendo, entretanto, a perder um dedo da mão, hipótese de debilidade permanente. Se perde todo o braço constitui perda de membro.
IV: deformidade permanente: A deformidade, para caracterizar essa qualificadora, precisa representar lesão estética de certa monta, capaz de produzir desgosto, desconforto a quem vê e vexame ou humilhação ao portador. Não se limita ao rosto da vítima, podendo ser em qualquer outra parte do corpo onde o defeito seja, para Bittencourt, visível. Além disso, a deformidade não perde o caráter de permanente quando pode ser dissimulada por meios artificiais, como cirurgia plástica. A decisão judicial precisa optar reconhecendo expressamente se houve debilidade(§1º) ou deformidade(§2º) permanente. 
V: aborto: trata-se de crime preterdoloso, ou seja, há dolo em relação à lesão corporal e culpa em relação ao aborto; este é provocado involuntariamente: o agente não o quer nem assume o risco de provocá-lo. É necessário que o agente tenha conhecimento da gravidez, sem contudo, querer o aborto. Se a ação do agente visar o aborto, o crime será o do art. 125. O desconhecimento, porém, afasta a qualificadora, constituindo erro de tipo. 
d)  seguida de morte (parágrafo 3º) – 4 anos a 12 anos:
Também é conhecido como homicídio preterdoloso: dolo nas lesões, culpa na morte. Se o resultado morte for imprevisível ou decorrente de caso fortuito, o sujeito responderá somente pelas lesões corporais. Se houver dolo eventual quanto ao resultado mais grave, o crime será de homicídio.
Se o resultado não foi objeto do querer do agente, mas situa-se na esfera da previsibilidade, o crime é preterdoloso. 
Apesar de o evento morte integrar esta figura típica, a competência é do juiz singular. Note-se que este tipo penal não se encontra no capítulo ‘’dos crimes contra a vida’’, que são da competência do Tribunal do Juri, mas está localizado no capítulo das lesões corporais.
LESÕES MAJORADAS
§4º: se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
(Ver em homicídio). 
§5º: o juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa:
I – lesões não forem graves: a lesão tem que ser leve(única que é detenção) E
II – tem que estar relevante valor moral, relevante valor social com injusta provocação da vítima OU as lesões forem recíprocas(bati e apanhei). Eventualmente pode acontecer de o juiz dar isso para os dois. Ex: os dois deram socos leves entre si. Ou não. Ex2: um deu soco leve mas recebeu socão de modo que o que deu socão acabou caindo em grave ou gravíssima ou seguida de morte.
§6º: Culposa
A lesão corporal será culposa desde que presentes os seguintes requisitos: comportamento humano voluntário; descumprimento do dever do cuidado objetivo; previsibilidade da conduta objetiva do resultado; lesão corporal involuntária.
Importante notar que tanto lesão corporal leve quanto lesão corporal grave ou gravíssima, na modalidade culposa, possuem a mesma tipificação e recebem a mesma sanção. Ex: sujeito limpando a arma e esquece-se de tirar a munição, e o tiro apenas lesiona o sujeito. 
§7º: Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do art 121. A diferença é que no homicídio aumenta de 1/3 até a metade. Aqui é só 1/3.
§8º: aplica-se à lesão culposa o disposto no §5º art 121. Perdão judicial vale aqui também, qual seja a hipótese em que o agente é punido diretamente pelo próprio fato que praticou. Exige-se ainda, entre este a vítima, vínculo afetivo de significativa importância. 
§9º: se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem convive ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade.
Normalmente praticado contra mulheres e crianças, neste caso será pública incondicionada. Nesta infração penal sui generis dois fatores aleatórios são os verdadeiros definidores senão da gravidade da conduta incriminada, pelo menos da sanção cominada, quais sejam: de um lado os sujeitos passivos da conduta e incriminada e, doutro, o vínculo decorrente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade.
O bem jurídico protegido por essa figura típica não se limita à integridade corporal e à saúde da pessoa humana(incolumidade e normalidade fisiológica e psíquica), mas abrange também, fundamentalmente, a harmonia, a solidariedade, o respeito e a dignidade que orientam e fundamentam a célula familiar. 
Aqui só entra a lesão corporal leve. Não pode ser vias de fato, que caracterizam-se pela práticas de atos agressivos dos quais não resultem danos corporais. 
A lesão pode ser praticada em qualquer local e não apenas nos limits territoriais da ‘’morada da família’’: comprovando-se essa relação com o sujeito passivo, eventual crime de lesão corporal leve encontrará adequadação no §9º. 
Para se comprovar a relação, deve-se ter em mente se o agente se valeu ou não da vantagem doméstica, de coabitação ou de hospitalidade em relação à vítima. Aqui se enquadra, por exemplo, agressões praticadas pela babá contra a criança. Relações domésticas não se confundem com empregatícias, mas é importante analisar o caso concreto.
§10º: nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no §9º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3. 
§11º: na hipótese do §9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência: este artigo acrescenta uma majorante específica quando a violência doméstica tiver como destinatário pessoa deficiente.
Ex da mulher que perdeu a perna e o marido corta a outra porque estava com ciúmes dela com o fisioterapeuta. Se for grave, gravíssima ou seguida de morte EM DEFICIENTE NO CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA obrigatoriamente vai passar pelo 1/3 do 10 e pelo 1/3 do 11.
§12 policial ou parente de policial: 1/3 a 2/3 a mais de pena. Aqui não é qualificadora, mas majorante. Aqui pode ser lesão corporal qualificada privilegiada majorada. (Bateu no policial por relevante valor moral(ele o havia humilhado e humilha a coletividade) e resulta enfermidade incurável. 
Pena e ação penal
Lesão corporal leve e lesão corporal culposa: ação penal pública condicionada, subordinando, assim, o exercício da pretensão punitiva do Estado à representação do ofendido. 
Para as demais espécies, a ação penal permanece pública incondicionada. 
13) Crimes contra a honra (Arts 138 a 145 CP) 
Todo sujeito possui honra. Magalhães Noronha define honra como sendo o complexo ou conjunto de predicados ou condições da pessoa que lhe conferem consideração social e estima própria. Há dois tipos de  honra.
Honra objetiva é a reputação do indivíduo, ou seja, o conceito que os demais membros da sociedade têm a respeito desse indivíduo, seja relativamente a seus atributos morais, éticos, culturais, físicos, intelectuais ou profissionais. 
Honra subjetiva, por sua vez, é valor imateral, insustícel de apreciação, valoração ou mensuração de qualquer natureza, inerente à própria dignidade da personalidade humana. É o que o próprio sujeito pensa de si. 
Deve-se analisar, assim, se o sujeito está falando DE alguém(honra objetiva) ou PARA alguém(honra subjetiva)?
Quando se atinge a honra subjetiva da pessoa, o crime é obrigatoriamente o de injúria, nos termos do art 140. 
Quando, contudo, fala-separa terceiro, atingindo a honra objetiva, ou se pratica calúnia ou se pratica difamação, nos termos do art 138 ou 139. Veremos suas peculiaridades.
1.3.1) Calúnia (art 138, CP)
Imputar a alguém, falsamente, fato definido como crime. Fato definido como crime não pode ser algo genérico e abstrato, devendo ser expresso e definido, não podendo, também, ser algo verdadeiro nem contravenção penal. Não amolda-se a esse tipo penal imputações genéricas do tipo ‘’fulano é estelionatário’’, portanto. Além disso, se o sujeito acredita que o que ele diz é verdade ele não comete calúnia. Isso não exclui, contudo, a indenização no âmbito civil. 
Sujeitos ativo e passivo: 
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa física, desde que seja imputável, sem necessidade de reunir qualquer outra condição. Os inimputáveis, seja qual for a causa, não podem ser sujeito ativo do crime de calúnia, embora tecnicamente possam, sustenta Bittencourt, ser sujeito passivo dos crimes contra a honra, dependendo, logicamente, da capacidade de entender o significado ultrajante da imputação. Por serem inimputáveis, não são culpáveis, e sem culpabilidade não há crime: a despeito disso, podem eles serem caluniados, pois fato definido como crime é diferente de prática de crime. Isso significa, Bittencourt continua, condutas que encontram receptividade em alguma moldura proibitiva da lei penal. Desse modo, embora os inimputáveis não possam de fato praticar crimes, podem ser sujeitos passivos do crime de calúnia, pois, apesar de inimputáveis, além do dito, não podem ser privados da proteção jurídica e deixados à mercê da agravação de qualquer um. 
Há uma corrente minoritária, mais ligada ao princípio da legalidade, que sustentam que de forma nenhuma poderiam os inimputáveis serem sujeito passivo do crime de calúnia. Soa irrazoável. 
Os mortos também podem ser caluniados, mas seus parentes serão os sujeitos passivos. Como a morte extingue a personalidade, a ofensa punível não atinge a pessoa do morto, mas a sua memória. O que fundamenta a incriminação é o interesse dos parentes em preservar o bom nome do finado.
A doutrina historicamente tem-se posicionado contra a possibilidade de a pessoa jurídica ser sujeito passivo do crime de calúnia. Contudo, para aqueles que admitem que a CF/88 teria conferido capacidade penal ativa à pessoa jurídica nos crimes contra ordem econômica e o sistema financeiro, economia popular e o meio ambiente, passou-se a sustentar, mais enfaticamente, a possibilidade de a pessoa jurídica figurar como sujeito passivo do crime de calúnia. Bittencourt, assim, admite, em tese, a possibilidade de a pessoa jurídica figurar como sujeito passivo de crime contra a ordem econômica e financeira, contra o meio ambiente e contra a economia popular.
Tipo objetivo: adequação típica.
A calúnia é, em outros termos, uma espécie de ‘’difamação agravada’’ por imputar, falsamente, ao ofendido não apenas um fato desonroso, mas um fato definido como crime. 
São previstas duas figuras típicas:
Imputar, falsamente, fato definido como crime
– a imputação deve referir-se a fato determinado, sendo insuficiente, por exemplo, afirmar que a vítima furtou, como já visto anteriormente neste fichamento. É indispensável individualizar as circunstâncias identificadoras do fato, embora não sejam necessários detalhes minuciosos que, muitas vezes, somente a própria investigação pode conseguir. Há também a possibilidade de, dissimuladamente, caluniar alguém, ex: ‘’eu nunca andei desfalcando os cofres públicos’’, referindo-se a um agente fiscal. 
Há calúnia reflexa quando imputa-se, falsamente, a alguma autoridade ter aceitado suborno(corrupção passiva). Ora, o terceiro que teria oferecido a propina também é, reflexamente, vítima de calúnia(corrupção ativa).
para que se configure a calúnia é indispensável que a imputação seja falsa, isto é, não corresponda à verdade. O fato, além de falso, deve ser definido como crime.
é ainda indispensável o propósito de caluniar. (Especial fim de agir). À evidência, quando se tratar de simples equívocos técnicos-jurídicos, como empregar roubo por furto, por si só não caracterizará a calúnia.
2) Propalação da calúnia 
propalar ou divulgar consistem em levar ao conhecimento de outrem, por qualquer meio, a calúnia que, de alguma forma, tomou conhecimento. É suficiente que se comunique a outrem, mesmo em caráter confidencial. Transmitida a uma só pessoa que seja, a falsa imputação torna-se acessível ao conhecimento de muitas, e basta isso para que se reconheça enquadrado-se aqui. Com essa conduta, assim, embora não tivesse criado o fato desonroso, amplia a sua potencialidade lesiva. Cabe ressaltar que outras estratégias semelhantes como, por exemplo, indicar a fonte da calúnia, reportar-se a inderteminações, tais como ‘’ouvi dizer’’, ”comenta por aí’’’ou mesmo pedir segredo não têm o condão de afastar o crime.
Tipo subjetivo: adequação típica
O elemento subjetivo geral do crime de calúnia é o dolo de dano, qual seja a vontade consciente de caluniar a vítima, sendo indispensável que o sujeito ativa tenha consciência de que a imputação é falsa, isto é, que o imputado é inocente da acusação que lhe faz. Na figura do caput, o dolo pode ser direto ou eventual; na do §1º, somente o direto. 
Não há animus caluniandi na conduta de quem se limita a analisar e argumentar dados, fatos, elementos, sempre de forma impessoal, sem personalizar a interpretação. Na verdade, postura comportamental como essa caracteriza tão somente o animus defendendi, em que não há visível intenção de ofender ou, igualmente, o animus narrandi, quando se tratar de funcionário público, no exercício de sua função, quando, por exemplo, tem o dever legal e a atribuição funcional de apurar toda e qualquer denúncia de irregularidade ocorrida na sua seara de administração. Por essa mesma razão é que não comete crime de calúnia funcionário público que tem o dever de prestar informações.
Além do dolo, assim, é indispensável o animus caluniandi, elemento subjetivo especial do tipo. A calúnia exige, afinal, o especial fim de caluniar, a intenção de ofender, a vontade de denegrir, o desejo de ofender a honra do ofendido, que, se não existir, não tipificará o crime.
Também não configuram crime de calúnia, sem prejuízo do que pode ser feito em âmbito cível: 
Animus jocandi (intenção jocosa, caçoar). 
Animus consulendi (intenção de aconselhar, advertir): desde, contudo, que tenha dever jurídico ou moral de fazê-lo.
Animus corrigendi (intenção de corrigir), desde que haja relação de autoridade, guarda ou dependência, exercida em limites toleráveis.
Animus defendendi (intenção de defender) : advogado 
Consumação e tentativa
Consuma-se o crime de calúnia quando o conhecimento da imputação falsa chega a uma terceira pessoa, ou seja, quando se cria a condição necessária para lesar a reputação da vítima. Nesse sentido, deve haver publicidade, caso contrário não existirá ofensa à honra objetiva, à reputação do indivíduo. Não é necessário que o terceiro ACREDITE na calúnia. O crime é formal. Há prazo decadencial de 6 meses para poder ofertar a queixa-crime. 
Diz lei especial que crimes contra honra praticados mediante imprensa são 3 meses(prazo decadencial), e não 6.
Como regra o crime de calúnia não admite tentativa, embora, em tese, ela seja possível, dependendo do meio utilizado, através do escrito, por exemplo. Se, porém, for a fala, não há espaço para fracionamento.
Classificação doutrinária
Crime formal: consuma-se independentemente de o sujeito ativo conseguir obter o resultado pretendido, que é o dano à reputação do ofendido.
Crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa.
Instantâneo: consuma-se no momento em que a ofensa é proferida ou divulgada.
De conteúdo variado: mesmo que o agente impute falsamente a prática de mais de um crime a outrem, não pratica dois crimes, mas apenas um, a calúnia. 
Comissivo: não se dá de forma omissiva
Exceção da verdade 
Exceção da verdade significa a possibilidade que tem o sujeito ativo de poder provara veracidade do fato imputado. É da essência da calúnia a falsidade da acusação, quer em relação à existência do fato, quer em relação a sua autoria. Provada, assim, pelo agente, que a imputação que houvera feito é verdadeira, não se há sequer que falar em calúnia.
Contudo, convém ter presente que a excepetio veritatis não exclui a tipicidade nem a ilicitude nem a culpabilidade. E não as exclui por uma razão simples: porque elas jamais chegaram a existir e somente pode-se excluir algo que, na visão de Bittencour, tenha existido.
Na difamação não é admissível a exceção da verdade, somente quando o fato for imputado a funcionário público e relacionar-se ao exercício da função. Difamação cometida pela imprensa, porém, tem ampliada a possibilidade de exceção da verdade. Na injúria, como não há imputação de fato, mas a opinião que agente emite sobre o ofendido, a exceção da verdade nunca é permitida.
A calúnia admite exceção da verdade, salvo em 3 hipóteses.
nos crimes de ação privada, quando o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível
Seria paradoxal que, deixando ao exclusivo arbítrio do ofendido a decisão de enfrentar o strespitus judicii, propondo ou não a ação penal, fosse permitido que terceiro, alheio à vontade daquele, viesse proclamar publicamente a existência do fato e ainda autorizá-lo a provar judicialmente. Neste caso, essa exceção somente desaparecerá se o imputado(sujeito passivo da imputação) sofrer por tal fato condenação irrecorrível. 
  nos fatos imputados contra o presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro
a importância e a dignidade da função de chefe da Nação assegura-lhe uma espécie sui generis de imunidade, garantindo que somente poderá ser acusado de ações criminosas pelas autoridades que tenham atribuições para tanto e perante a autoridade competente. A imputação, assim, de fato criminoso, mesmo verdadeiro, vilipendiaria a autoridade que desempenha e exporia ao ridículo o presidente da República, além de levá-lo a um vexame incompatível com a grandeza de seu cargo. Na verdade, o chefe de Estado ou o chefe de governo de um país personifica o Estado que representa, e as boas relações internacionais não admitem que qualquer cidadão possa, impunemente, atacar a honra de um chefe de governo estrangeiro, mesmo que os fatos sejam verdadeiros, coisa que deve ser resolvida nos altos escalões diplomáticos.
se o ofendido foi absolvido do crime imputado por sentença irrecorrível 
a sentença penal abslutória transitada em julgado em nenhuma hipótese pode ser revista, ainda que surjam novas e contundentes provas da culpa do absolvido, não pode admitir que qualquer do povo ou qualquer autoridade pública ou privada possa fazer prova res judicata. Enfim, se a Justiça decidiu, irrecorrivelmente, pela improcedência da acusação, não pode quem quer que seja pretender demonstrar a veracidade do fato. É irrelevante, nessa hipótese, que se trate de crime de ação penal pública ou privada. 
Calúnia e imputação verdadeira de fato definido como crime: ausência elementar ”falsamente”
Segundo orientação maciça da doutrina brasileira, não sendo admitida exceção da verdade, no caso previsto no inciso II do §3º do art 138, a falsidade da imputação é presumida e, nesses casos, mesmo sendo verdadeira a imputação, segundo sustenta-se, configurar o crime de calúnia.
Pode o acusado isentar-se da responsabilidade, como já visto, através da arguição de exceção da verdade, demonstrante que o fato imputado por ele ao sujeito passivo é verdadeiro. Persiste o crime, entretanto, ainda que verdadeiros os fatos imputados, se não for possível opor-se exceção da verdade, nos termos do artigo 138, §3º. 
A inadmissibilidade da exceção da verdade deve ser examinada sob dois ângulos: de um lado, sob o aspecto formal, puramente instrumental, qual seja, a impossibilidade de o autor ‘’fazer prova da verdade’’, ou seja, de comprovar que a sua afirmação é verdadeira, e não falsa; e, de outro, sob o aspecto material, não se pode perder e vista que a conduta do imputante, para constituir crime de calúnia, tem que se adequar ao prescrito no art 138 do CP, independentemente dos meios de prova ou defesa que lhe sejam legal e moralmente permitidos. Resumindo: a exceção da verdade é apenas um meio de prova ou uma forma procedimental para produzir prova, cuja supressão não tem o condão de alterar a tipicidade do crime de calúnia. 
Na verdade, assim, a proibição da utilização desse institui representa, por razões de política-criminal, somente uma limitação aos meios de prova permitidos no crimes de calúnia e de difamação quando o sujeito passivo for o presidente da República ou chefe de governo estrangeiro, permanecendo, contudo, a necessidade de o MP demonstrar, em processo criminal próprio, que o sujeito ativo praticou um fato ‘’típico, antijurídico e culpável’’, isto é, que imputou, FALSAMENTE, um fato definido como crime: a elementar FALSAMENTE continua, assim, a integrar a descrição típica. Apenas o sujeito ativo não dispõe do procedimento especial para demonstrar que sua acusação não é falsa. 
SE, PORTANTO, A IMPUTAÇÃO NÃO É FALSA, NÃO É CALÚNIA, E SE NÃO É CALÚNIA, O AUTOR NÃO INFRINGIU A PROIBIÇÃO CONTINUDA NO TIPO PENAL => Sustenta Bittencourt. Continua ele: admitir como caluniosa a imputação, a quem quer que seja, da autoria de fato verdadeiro definido como crime afronta a razoabilidade e ignora o princípio da reserva legal. A lei não diz, em lugar algum, por exemplo, que calúnia é imputar ao presidente da República fato verdadeiro definido como crime. Diz, apenas, que quem o fiz não poderá dispor do instituto da exceção da verdade. Só isso! Terá de defender-se normalmente, como nos crimes comuns.
Crime de calúnia e exercício da advocacia: incompatibilidade 
Faz parte da sua atividade profissional, integra o exercício pleno da ampla defesa esgrimir, negar, defender, argumentar, apresentar fatos e provas, excepcionar e, na ação do advogado, em regra, falta-lhe o animus caluniandi, pois o objeivo é defender os direitos de seu constituinte, e não acusar quem quer que seja. Eventuais excessos de linguagem que, porventura, cometa o advogado, na paixão do debate, não constituem crime de calúnia, portanto, devendo ser relevados, pois são, quase sempre, recursos de defesa, cuja dificuldade da causa justifica ou elide. 
Pena e ação penal
A sanção penal é cumulativa de seis meses a dois anos de detenção E multa, para a modalidade simples. Há previsão de duas majorantes em um terço (art 141, I, II e III) ou duplicada (art 145, parágrafo único). 
A ação penal, como regra geral (aqui há inversão da regra geral), é de exclusiva iniciativa privada(art 145). Será, porém, pública condicionada quando: praticada contra o presidente da República ou chefe de Estado estrangeiro(a requisição do Ministro da Justiça); contra funcionário público em razão de suas funções(a representação do ofendido).
1.3.2) Difamação 
Bem jurídico tutelado 
O bem jurídico protegido é a honra objetiva, a reputação do indivíduo, a sua boa fama, o conceito que a sociedade lhe atribui.
Sujeitos ativo e passivo 
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, sem qualquer condição especial. Por ora, pessoa jurídica não está legitimada a praticar esse tipo de crime. 
Igualmente, qualquer pessoa pode ser sujeito passivo. Os inimputáveis também podem ser sujeitos passivo do crime de difamação, isto é, podem ser difamados, desde que tenham capacidade suficiente para entender que estão sendo ofendidos em sua honra pessoal. Essa capacidade não se confunde com a civil nem com a penal. Há, contudo, divergência doutrinário-jurisprudencial sobre se a pessoa jurídica pode ser sujeito passivo da difamação. Modernamente vai-se, contudo, ampliando a corrente que admite a possibilidade de pessoa jurídica ser também sujeito passivo de crimes contra a honra. Pessoas júridica, afinal, tanto de direito público como de direito privado podem ser sujeitos passivo de crime de difamação: ninguém ignora os danos e abalos de créditos que as pessoas jurídicaspodem sofrer se forem vítimas de imputações levianas de fatos desabonadores do conceito e da dignidade que desfrutam no mercado. Ex: Reclame aqui: estou colocando mensagem no reclame aqui para queimar o filme da empresa. Se há dolo animus diffamandi, se há dolo de difamar, pratica-se sim crime de difamação. Se, contudo, o sujeito realmente recebeu geladeira estragada exerce seu direito de consumidor que é fazer uma reclamação
Não há previsão legal de crime de difamação contra a memória dos mortos, e se houvesse não seriam eles os sujeitos passivos, mas seus parentes, que se sentiriam ultrajados com tal desrespeito. Importante frisar que a ausência de previsão legal não pode ser suprida por analogia ou interpretação analógica.
Por fim, os desonrados, infames e depravados também podem ser sujeitos passivos do crime, pois a honra é um atributo inerente à pessoa humana. 
Tipo objetivo: adequação típica
Difamação é a imputação a alguém de fato ofensivo à sua reputação. Imputar tem o sentido de atribuir, acusar de. O fato, ao contrário da calúnia, não precisa ser falso nem definido como crime.  Para fins desse tipo penal, reputação é a estima moral, intelectual ou profissional de que alguém goza no meio em que vive; é um conceito social.
A imputação, portanto, mesmo verdadeira, de fato ofensivo à reputação, configura o crime ora analisado. Constitui exceção a essa definição a imputação de fato ofensivo verdadeiro a funcionário público em razão de suas funções, pois, por razões políticas, não constitui crime, já que o Estado-Administrador tem interesse em apurar a autenticidade da imputação que, inclusive, pode constituir falta administrativa, muito embora não caracterize crime. 
É indispensável, contudo, que a imputação chegue ao conhecimento de outra pessoa que não o ofendido, pois é a reputação de que o imputado goza na comunidade que deve ser lesada.
Para que ocorra a difamação é necessário que o fato seja determinado e que essa determinação seja objetiva, pois a imputação vaga, imprecisa ou indefinida não a caracteriza, podendo, eventualmente, adequar-se ao crime de injúria. Dizer, assim, por exemplo, que alguém ‘’anda cometendo infrações penais não é atribuir-lhe fatos’’. Difamação é a imputação de fato determinado, individualizado, identificado, e não de defeitos ou de qualidades negativas. Alem disso, para que se possa admitir como configurada a difamação, bem como penalmente considerada, é necessário que se explique o prejuízo moral que dela redundou.
MUITO IMPORTANTE: quem propala ou divulga fato desonro imputado a alguém, querendo ou não, difama-o, pratica NOVA DIFAMAÇÃO, como bem nos lembra Bittencourt. Por isso, continua ele, pune-se a ação de propalar mesmo quando se desconhece quem é o autor da difamação original. E não se diga que esse entendimento fere o princípio da reserva legal, pois propalar é igualmente difamar e, até mesmo, com mais eficiência, mais intensidade e maior dimensão.
Tipo subjetivo: adequação típica
O elemento subjetivo é o dolo de dano, que se constitui da vontade consciente de difamar o ofendido imputando-lhe a prática do fato desonroso, sendo irrelevante tratar-se de fato falso ou verdadeiro, e igualmente indiferente que o sujeito ativo tenha consciência dessa circunstância. O dolo pode ser, assim, direto ou eventual. Não há animus diffamandi na conduta daquele que se limita a analisar e argumentar sobre dados, fatos, elementos, circunstâncias de formas impessoal, sem personalizar a interpretação.
A difamação também exige o especial fim de difamar, a intenção de ofender, a vontade denegrir, o desejo de atingir a honra do ofendido. A ausência disso IMPEDE a tipificação do crime.
Excluem a responsabilidade penal do agente
Animus jocandi (intenção jocosa, de caçoar)
Animus consulendi (intenção de aconselhar, advertir), desde que tenha dever jurídico ou moral de fazê-lo
Animus corrigendi (intenção de corrigir) desde que haja relação de autoridade, guarda ou dependência, exercida em limites toleráveis.
Animus defendendi, (intenção de defender), esta em relação à injúria e à difamação expessamente excluído pelo art 142, I do CP e pelo Estatuto da ORDEM.
Não cabe à vitima o ônus de provar que o fato desonroso tenha sido imputado intencionalmente, mas quem o imputou deve demonstrar a ausência do animus diffamandi se for o caso. 
Consumação e tentativa 
Consuma-se o crime de difamação quando o conhecimento da imputação chega a uma terceira pessoa, momento a partir do qual começa-se a contar o prazo decadencial deste crime, que é de 6 meses. Ao contrário da injúria, a difamação não se consuma quando apenas a vítima tem ciência da imputação ofensiva. 
Diz lei especial que crimes contra honra praticados mediante imprensa são 3 meses(prazo decadencial), e não 6.
Normalmente, o crime de difamação não admite tentativa, embora isto seja possível dependendo do meio utilizado, caso este seja escrito. Se, porém, o meio utilizado for a fala, entre a emissão da voz e a percepção pelo interlocutor não haverá espaço para fracionamento.
Classificação doutrinária 
Crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
Crime formal, pois apesar de descrever ação e resultado não exige que este se verifique para o crime se consumar: isto é, consuma-se independentemente de o sujeito conseguir ou não o dano à reputação alheia. 
Crime instantâneo: consuma-se no momento em que a ofensa é proferida ou divulgada. 
Comissivo: não acontece senão por ação.
Doloso: não há previsão em modalidade culposa.
Figuras majoradas 
Se o fato é cometido contra o presidente da República ou chefe de governo estrangeiro; contra funcionário público, em razão de suas funções; na presença de três ou mais pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da ofensa, ou ainda, quando é praticado mediante paga ou promessa de recompensa. 
Exceção da verdade 
A imputação de qualquer fato que atinja a honra de alguém tipificará o crime de difamação, e o agente NÃO tem direito de demonstrar que o fato é verdadeiro, pois o Estado não confere a ninguém o direito de arvorar-se em censor da honra alheia. Em outras palavras, o Estado não tem interesse em saber o que as pessoas andam dizendo ou divulgando. 
A difamação, assim, não admite exceção da verdade, salvo quando o fator ofensivo é imputado a funcionário público e relacionado ao exercício de suas funções, pois aqui o Estado tem interesse em sabe que seus funcionários exercem suas funções com dignidade e decoro. Se a imputação versar sobre fatos relativos à vida privada do funcionário a exceção da verdade não será admitida. 
PS: pela leitura do código, conclui-se o seguinte: se o ofendido deixar o cargo após a consumação do fato imputado, o sujeito ativo mantém o direito à exceção da verdade; se, no entanto, quando proferida a ofensa relativa à função pública, o ofendido não se encontrava mais no cargo, a exceção da verdade não será admitida, ante, aqui, a ausência da qualidade de funcionário público, ELEMENTAR TÍPICA QUE DEVE ESTAR PRESENTE NO MOMENTO DA IMPUTAÇÃO.
Exceção da notoriedade 
Sustentam alguns doutrinadores que, se o fato ofensivo à honra é notório, não pode o pretenso ofendido pretender defender o que ele já perdeu, e cuja perda caiu no domínio público, ingressando no rol dos fatos notórios. Bittencourt discorda, contudo, desse entendimento, alegando o seguinte:
quando o CP proíbe exceção da verdade para o crime de difamação, está englobando a exceção da notoriedade
a notoriedade é inócua, pois é irrelevante que o fato difamatório imputado seja falso ou verdadeiro.
ninguém tem o direito de vilipendiar ninguém. 
Continua ele dizendo que a simples referência à exceção da notoriedade pelo Código de Processo Penal não tem o condão de criá-la, pois a orientação adotada pelo nosso sistema repressivo diz que compete ao direito adjetivo(processual) apenas disciplinar o uso dos institutos existentes, e no caso só existe a exceção da verdade, e, para a difamação, o Código Penal a proíbe, salvo a hipótese de funcionário público.
Ninguém

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