Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade Federal de JUiz de Fora Centro de Educação a Distância - CEAD Campus Universitário - Martelos Cep.: 36036-900 - Juiz de Fora/MG - Brasil Tel: (32) 2102-3487 / 3488 / 3489 Reitor: Prof. Henrique Duque de Miranda Chaves Filho Diretor: Prof. Flávio Iassuo Takakura Coordenação-Geral: Prof. José Antonio Aravena Reyes setor de ProdUção de Material didático Chefia do Setor: Núbia Schaper Santos Supervisão de Produção: Mayanna Martins Santos Designer Instrucional: Márcio Emilio dos Santos Revisão Textual: Paula Martins Ilustração: Rogério Terra Júnior Produção Gráfica: Carolina Pires Araújo Raquel von Randow Portes Rômulo Oliveira de Farias Produção Audiovisual Rodrigo Gotti Lobão Web Designer: Lívia Gouvêa Mídia Designer: Liliane da Rocha Faria Gestão do Meio aMbiente edUcação, direito e análise aMbiental Coordenador Geral Prof. Dr. Vicente Paulo dos Santos Pinto Coordenador - Análise Ambiental Prof. Dr. Cézar Barra Rocha Coordenador - Direito Ambiental Prof. Dr. Frederico Augusto D’Ávila Riani Professor Prof. Ms. Leonardo Alejandro Gomide Alcântara Sumário APrESENTAÇÃo Do CurSo ............................................................. 11 1. NoÇÕES BáSiCAS DE DirEiTo ..................................................... 15 2. HiSTÓriA Do DirEiTo AmBiENTAL No BrASiL E ASCENSÃo HiSTÓriCA DoS DirEiToS FuNDAmENTAiS .................................... 25 2.1. CRISE ECOLÓGICA .......................................................................... 25 2.2. O MEIO AMBIENTE NO ÂMBITO DO DIREITO ..............................26 2.3. HISTÓRIA DO DIREITO AMBIENTAL NO BRASIL .........................28 2.4. EvOLuçãO HISTÓRICA DOS DIREITOS FuNDAMENTAIS .........34 3. o mEio AmBiENTE Como oBJETo Do DirEiTo ........................... 39 3.1. DIREITO AMBIENTAL ......................................................................39 4. oS PriNCÍPioS GErAiS Do DirEiTo AmBiENTAL ........................ 49 4.1. PARTE I ............................................................................................49 4.2. PARTE II ...........................................................................................62 5. FuNDAmENToS CoNSTiTuCioNAiS DA ProTEÇÃo AmBiENTAL 87 5.1. O MEIO AMBIENTE NA CONSTITuIçãO FEDERAL DE 1988 ........88 6. A GESTÃo AmBiENTAL E SEuS iNSTrumENToS ........................101 6.1. GESTãO AMBIENTAL NO BRASIL................................................ 101 6.2. METAS E OBJETIvOS DA POLÍTICA NACIONALDE MEIO AMBIENTE ............................................................................................ 108 rEFErÊNCiAS...................................................................................113 10 │ │ 11 APrESENTAÇÃo Do CurSo Leonardo Alejandro Gomide Alcântara Prezado(a) aluno(a), A disciplina “Fundamentos de Direito Ambiental” apresenta-se substancialmente importante para aqueles que pretendem exercer o difícil e nobre ofício da gestão ambiental. O conjunto de diretrizes e de atividades administrativas e operacionais que visam gerir a qualidade do ambiente deve ter como base e norte os preceitos legais e normativos ao longo das últimas décadas construídos no Estado Brasileiro e que passaram a permear amplamente o que se compreende como “questão ambiental”. Não apenas os que seguirão a parte específica de “Direito Ambiental” no presente curso de especialização, mas todos os demais alunos das distintas áreas que o compõem devem se debruçar sobre este estudo e buscar uma compreensão, tanto quanto possível, ampla e profunda, pois só a partir de um entendimento mínimo das diretrizes e parâmetros legais da tutela jurídico-ambiental poder-se-á atenuar o imenso descompasso existente entre os ideais preconizados pelo Direito Ambiental e a prática cotidiana da gestão ambiental na realidade social. A presente disciplina de maneira alguma capacitará o aluno a atuar como operador do Direito Ambiental no âmbito das profissões jurídicas. Não é essa a intenção, mas oferecer um arcabouço teórico necessário e contextualizado para aqueles que lidam ou vão lidar com gestão do ambiente, em sentido amplo, na interpretação e compreensão dos dispositivos legais e normativos que regem as práticas sociais de uso, ocupação e apropriação dos elementos naturais. Conforme mencionado, atualmente o Direito Ambiental está capilarizado nas práticas sociais que lidam direta e indiretamente com o ambiente e seus atributos, ou seja, ele está amplamente disseminado nas múltiplas atividades que constituem a complexa sociedade contemporânea nas suas inter-relações com sua base material. Por sua vez, a prática da gestão ambiental não deve limitar-se ao entendimento da legislação ambiental desconectado das razões que elevam a qualidade ambiental a um direito fundamental no ordenamento jurídico e dos princípios sob a luz dos quais essa legislação deve ser interpretada e aplicada. É nesse sentido que a presente disciplina pretende caminhar: proporcionando subsídios para o entendimento do Leonardo Alejandro Gomide Alcântara Professor do curso de Direito da Faculdade Metodista Granbery e do curso de Especialização de Análises Ambientais da UFJF. Graduado em Direito pela UFJF e Mestre em Direito e Sociologia pelo PPGSD/UFF 12 │ “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”, contextualizado em sua construção histórica e ideológica e, auxiliar na interpretação do amplo conteúdo legislativo e normativo que tutela o meio ambiente. Por ser uma disciplina introdutória não tem a pretensão de perpassar esse vasto conteúdo legislativo que regula as atividades humanas que afetam ou podem afetar a sanidade do ambiente. Diante da multiplicidade de diplomas legais, decretos, resoluções e deliberações normativas, tornar-se-ia inviável caminhar nessa direção. Isso será realizado nas disciplinas específicas do curso cabendo a esta disciplina contribuir com o manuseio e a compreensão da ampla legislação ambiental.Para tanto, a disciplina está subdividida em seis capítulos, a serem trabalhados semanalmente, compreendendo: CAPÍTuLo 1 Noções Básicas de Direito Neste tema, buscar-se-á elucidar algumas noções básicas e conceituais sobre o Direito. De maneira breve e incipiente pretende-se discutir: a universalidade do fenômeno jurídico e sua delimitação enquanto objeto do conhecimento, a conformação das normas no ordenamento jurídico e os conceitos fundamentais introdutórios do estudo do direito. Tal abordagem visa auxiliar aqueles que não possuem formação jurídica no entendimento básico sobre direito e sobre a operacionalidade das normas em um Estado Democrático de Direito. CAPÍTuLo 2 História do Direito Ambiental no Brasil e Ascensão Histórica dos Direitos Fundamentais Este tema, subdividido em dois momentos, tratará do escorço histórico da tutela jurídico-ambiental no Estado brasileiro, apresentando os seus marcos paradigmáticos através das principais legislações e sua consolidação no ordenamento jurídico pátrio atual. Num segundo momento será apresentada a evolução dos direitos fundamentais nas sociedades ocidentais, compreendendo três gerações, em que o direito ao meio ambiente se enquadra na terceira. Essa abordagem propicia uma visão panorâmica sobre a história dos direitos e, sobretudo, o caminhar histórico do direito ambiental. CAPÍTuLo 3 O Meio Ambiente como Objeto do Direito Aprofundando um pouco mais na técnica jurídica de defesa do meio ambiente, o presente tema esboça um conceito para Direito Ambiental, sua posição enciclopédica, nomenclatura, objeto imediato e objeto │ 13 mediato da tutela jurídico-ambiental; a caracterização do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, a natureza jurídica dos bens ambientais, entre outros aspectos conceituais básicos. CAPÍTuLo 4 Princípios Gerais do Direito Ambiental Neste tópico serão tratados cerca de quatorze dos mais relevantesprincípios basilares do Direito Ambiental, que são o norte e o alicerce para a criação, interpretação e aplicação da legislação ambiental. uma compreensão cuidadosa dos princípios permite um entendimento mais contextualizado da legislação ambiental, além de orientar uma interpretação mais condizente com os fins da mesma. Nesse sentido, para uma operacionalização coerente da legislação ambiental é indispensável o conhecimento dos princípios sobre os quais esta se sustenta. Para este item, excetuando-se dos demais, serão dispensadas duas semanas de atividades. CAPÍTuLo 5 Fundamentos Constitucionais da Proteção Ambiental O meio Ambiente atinge o topo do ordenamento jurídico pátrio como um direito fundamental da pessoa humana. O presente tema abordará brevemente o conteúdo normativo constitucional do meio ambiente na Constituição Federal de 1988, ressaltando o ápice da malha regulatória difusa na constituição, o artigo 225, núcleo principal da proteção do meio ambiente. Capítulo 6 A Gestão Ambiental e seus Instrumentos: Finalizando a trajetória do presente curso, apresentaremos a forma como se organiza e se articula a administração ambiental no Brasil, através do SISNAMA; e também como se estrutura a Política Nacional do Meio Ambiente, as suas metas, princípios e objetivos, bem como os instrumentos previstos para sua implementação. Bom curso! 14 │ │ 15 1. NoÇÕES BáSiCAS DE DirEiTo “O direito é um dos fenômenos mais notáveis da vida humana. Compreendê-lo é compreender uma parte de nós mesmos. É saber em parte por que obedecemos, por que mandamos, por que nos indignamos, por que aspiramos mudar em nome de ideais, por que em nome de ideais conservamos as coisas como estão. Ser livre é estar no direito e, no entanto, o direito também nos oprime e tira-nos a liberdade. Por isso compreender o direito não é um empreendimento que se reduz facilmente a conceituações lógicas e racionalmente sistematizadas. O encontro com o direito é diversificado, às vezes conflitivo e incoerente, às vezes linear e conseqüente. Estudar o direito é, assim, uma atividade difícil, que exige não só acuidade, inteligência, preparo, mas também encantamento, intuição, espontaneidade. Para compreende-lo, é preciso, pois, saber e amar. Só o homem que sabe pode ter-lhe o domínio. Mas só quem o ama é capaz de dominá-lo, rendendo-se a ele” (FERRAZ JR., 2008). Ao iniciarmos o estudo do direito nos deparamos com um problema: o conceito de direito. Muitos estudiosos e filósofos já se debruçaram sobre a questão, formularam teorias e apontaram caminhos diversos. Não há um conceito capaz de explicitar todas as possíveis dimensões e significados que abrangem o termo direito e o fenômeno jurídico. Também seria arriscado estipular uma data histórica para o aparecimento desse fenômeno tão ligado à vida social e dela indissociável. Os estudiosos nos revelam que valorar/normatizar as condutas dos indivíduos na sociedade, estipular “certos” e “errados”, “pode” e “não pode”, estabelecendo uma determinada ordem para a manutenção do equilíbrio/estabilidade da sociedade e dando-lhe direção, é parte constitutiva da vida social humana. Prescrever condutas, vinculando e estabelecendo obrigações de forma objetiva, criando os laços de solidariedade, respeito e hierarquização entre os membros da sociedade compreende o fenômeno moral dos seres humanos. Mas da mesma forma compreende, também, o fenômeno jurídico. Assume-se, atualmente, diante do gradativo aumento de complexidade das sociedades humanas, que esses fenômenos tão intimamente conectados se reproduzem por diferentes linguagens na realidade social, distinguindo-se. Como essa é uma discussão profunda, esquivo-me de navegar por esse oceano, bastando-nos aqui entender como o direito é compreendido no âmbito das profissões jurídicas: 16 │ o direito como um instrumento de poder, um fenômeno decisório; a ciência jurídica como uma tecnologia, um conhecimento aplicado. A tradição que perdura no ensino jurídico é a do positivismo jurídico. Este vai entender o direito como normas postas, não advindas metafisicamente da absorção de um direito pré-existente na natureza ou na vontade divina (como no direito natural), mas a partir da vontade de uma comunidade politicamente organizada, designada como “Estado”. um Estado se constitui por três elementos fundamentais: o território (espaço geográfico), a associação de pessoas (povo e população) e o governo soberano (poder e atoridade decisória dentro do território). O Estado, como organização política, é regido por uma ordem coercitiva, que o estabelece e regula o uso da força que, por sua vez, é por ele monopolizada (o Estado detém o monopólio da “ordem coercitiva”). Essa ordem coercitiva é o direito. Este é criado e anulado por atos de seres humanos, resultando daí sua positividade. Por essa perspectiva o direito pode ser pensado partindo de sua própria referência (auto-referenciado), ou seja, para pensar o direito não é necessário submeter a reflexão à política, à moral, à economia, à psicologia, à antropologia ou à religião, a instância de reflexão do direito parte do próprio direito, criando uma “ciência pura do direito”. Apesar de desconectar o direito da realidade social e tratá-lo sob um matiz essencialmente tecnicista e acrítico, uma vez que trabalha num plano hermético em que outros conhecimentos científicos e os valores sociais lhes são alheios, essa é a forma como o direito é mais amplamente trabalhado, ensinado e reproduzido na sociedade atual. Dentro dessa perspectiva nos é possível estabelecer uma conceituação básica para o direito como: Conjunto de regras obrigatórias (normas jurídicas) que disciplinam a convivência social humana. A ênfase é dada para o sistema de regras e, nesse sentido, estudar o direito significa estudar as regras jurídicas que vigoram em dada sociedade estatal. Obviamente essa é uma perspectiva convencionada (traduz as regras e valores de um dado grupo ou estandarte profissional em determinado tempo) que vem sofrendo fortes críticas por reduzir o direito às normas existentes empiricamente, passíveis de múltiplas interpretações, mas apartada da ideia de justiça, transcendental e atrelada aos valores sociais (morais). │ 17 Hoje, dada a insuficiência desse modelo, gradativamente busca-se entender o direito no seu contexto social aproximando-o da realidade e dos anseios sociais de justiça. Dentro desse viés o direito não estaria restrito apenas às normas jurídicas e instrumentos de decidibilidade de conflitos sociais, mas também aos ideais de justiça, de reforma social, de direitos não positivados, não estatais etc. De forma simplificada poderíamos pensar o direito sob três perspectivas: a. Conjunto de normas: as regras existentes e garantidas pelo poder de coerção do Estado, hierarquicamente estabelecidas, que visam promover a estabilidade do sistema social, preservando a paz e o convívio em sociedade. b. Faculdade: o que é atribuído a cada um, ou seja, o que pertence ou pode pertencer a um indivíduo da sociedade ou a uma coletividade, ou o que lhes é devido, ou ainda o que lhes incumbe ou lhes é dever. P. ex., “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”, se alguém causa um desequilíbrio no meio ambiente (a contaminação de um rio por exemplo), estaria interferindo no que se compreende como direito (faculdade) de todos, ultrapassando o seu “direito” e atingindo o dos outros, ensejando uma devida reparação do dano causado (descontaminação e indenização). c. Forma de controle social: o direito traduz uma forma de estabilizar o comportamento dos membros da sociedade visando preservar seus bens e valores morais mais caros, mediante coação. P. ex. se alguém infringe uma lei (atinge um bem juridicamente tutelado) o Estado pode lhe imputar uma sanção (mediante o devido processo legal). Oestudo do direito, dentro do paradigma dominante, guarda algumas peculiaridades que merecem ser ressaltadas. A Ciência Jurídica não apenas informa, descrevendo seu objeto, mas também conforma o fenômeno que estuda, isto é, diferente de uma ciência como a física, p. ex., que busca descrever o fenômeno estudado se aproximando o máximo possível do que ele é (o ser), a ciência jurídica busca conformar 18 │ Significa que uma conduta transgressora da norma pode sofrer coerção, ou seja, uso da força ou repressão. Conforme visto, essa força (coerção) é monopolizada pelo Estado, existindo potencialmente, mas podendo concretizar-se a partir de alguma sanção (punição), aplicada ao transgressor do preceito normativo através da reação punitiva do Estado. o seu objeto de acordo com o que ele deveria ser (o dever-ser). Ou seja, a ciência jurídica se preocupa em orientar a ação e possibilitar decisões, tem uma função diretiva explícita. Por isso, dentro dessa perspectiva, a ciência jurídica é percebida como uma ciência dogmática, e o conjunto sistemático do conhecimento do direito produzido pelos juristas não é designado como “teorias”, mas “doutrinas” (o que deve ser seguido assumindo-se como verdade para orientar a ação e a decisão). A dogmática jurídica rege-se pelo princípio da proibição da negação, parte da inegabilidade de seus pontos de partida. Isso significa que ao estudar uma norma vigente e válida no ordenamento, o direito a toma como correta e estuda como esta deve ser aplicada, interpretada ou suportada na realidade social, se a mesma não confronta com outras normas ou se está de acordo com as hierarquicamente superiores etc. Mas não se preocupa com o que há por trás dessa norma, qual grupo de interesses ela representa, se ela atende aos anseios sociais, se ela deveria ou não compor o ordenamento etc. Ou seja, a dogmática jurídica procura compreender o direito e aplicá-lo dentro dos marcos da ordem vigente que são tomados como dado (não passível de questionamento), estudando o direito posto e dado previamente, como um conjunto compacto de normas, instituições e decisões que lhe compete interpretar, sistematizar e direcionar tendo em vista a solução de conflitos sociais. Pode-se estabelecer três subdivisões: i. Teoria da Norma (dogmática analítica) ii. Hermenêutica Jurídica (dogmática da interpretação) iii. Teoria da Argumentação Jurídica (dogmática da decisão). Conforme se pode perceber, o ponto de partida para o estudo do direito é a norma e, é esse ponto de partida que mais nos interessa agora. Portanto, devemos compreender as características fundamentais de CoerCibilidade 1ª │ 19 A norma jurídica é imperativa e não uma recomendação, impõe o cumprimento de um dever. Por sua vez é atribuitiva por possibilitar o direito de se exigir o cumprimento do dever imposto pela norma. Apesar de figurar mais no plano teórico, o conteúdo da norma jurídica deve ter como finalidade estabelecer a justiça. O princípio básico e o problema central do direito é a justiça, onde podemos distinguir uma norma legítima de uma arbitrária. E a questão da justiça envolve distintas perspectivas e formulações como “dar a cada um o que é seu”, “agir entre o excesso e a falta”, “tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais”, trabalhando sempre idéias como: igualdade, proporcionalidade, equidade, equilíbrio, solidariedade entre outras (o que pode ser percebido nos símbolos do direito como a balança, a estátua com olhos vendados etc.). uma norma jurídica: Outro ponto que merece destaque no estudo tradicional do direito são as suas fontes, onde podemos destacar cinco: 1ªa lei A lei é a principal fonte formal do direito, é uma norma (prescrição) ou conjunto de normas jurídicas revestida estruturalmente na forma de lei. Geralmente escrita, a lei é emanada do Poder Legislativo (através do processo legislativo) e inserida no ordenamento jurídico a partir de sua promulgação e publicação (lei sancionada). A lei distingue-se dos decretos, portarias, deliberações normativas e, além de seu processo oficial e solene, ela assume uma posição hierárquica diferenciada no ordenamento. Os decretos, as deliberações normativas, portarias e outros são atos do Poder Executivo e são hierarquicamente inferiores com relação às leis (que seriam supostamente expressão da vontade do povo reproduzida pelos seus representantes parlamentares). Decretos, instruções servem para regulamentar as leis, em geral muito amplas e SiStema imperativo e atributivo 2ª 3ª promoção da JuStiça 20 │ abstratas, incapazes de aplicação sem maiores detalhamentos técnicos. A regulamentação, uma espécie de “detalhamento”, aproxima mais a lei de caráter “geral e universal” da realidade. Então, as normas infra-legais, apesar de possuírem força de lei (são imperativas), não devem contrariar e nem ultrapassar o que diz a lei, não devem acrescentar conteúdos prescritivos que não se deduzem do desdobramento lógico de sua regulamentação/especificação. Para o conjunto de leis vigentes num ordenamento designamos o termo “legislação”. A soma das legislações, códigos, consolidações, compilações, demais prescrições legais e infra-legais, formam o “sistema jurídico”, que, por sua vez, é designado como “ordenamento jurídico”. O ordenamento jurídico é organizado por uma hierarquização de normas que estabelecem uma relação silogística entre si (coerencial ou lógica), uma vez que uma norma inferior deve estar conformada (não pode apresentar contradições) com a imediatamente superior e essa com a sua ascendente, assim por diante, até chegar ao topo do ordenamento, na norma mais alta desta escala hierárquica, onde (supostamente) todas as normas seriam derivadas. Essa ideia de uma norma pressuposta onde todas derivam é designada como “norma fundamental” no modelo do austríaco Hans Kelsen. Esse modelo, que assume um aspecto de pirâmide de normas, é o que possibilita a interpretação do direito como originado do próprio direito (auto-referenciado), independente da moral, da política, economia etc. Esse modelo pode ser interpretado na nossa realidade substituindo a “norma fundamental” pela “Constituição Federal” como norma mais alta do ordenamento, onde todas as demais devem obediência e seriam derivadas. Observe o esquema abaixo: NORMAS SECUNDÁRIAS (RELAÇÕES SILOGÍSTICAS COM A NORMA PRESSUPOSTA) DEMAIS NORMAS (BASE DA PIRÂMIDE – NORMAS HIERARQUICAMENTE INFERIORES) NORMA FUNDAMENTAL Figura 1 Pirâmide - Modelo de Hans Kelsen. │ 21 De forma simplificada, poderíamos compreender nosso ordenamento jurídico pátrio a partir desse esquema. No topo da pirâmide encontrar- se-ia a Constituição Federal, as imediatamente subsequentes poderiam ser as Leis Complementares, depois as Leis Ordinárias, decretos-lei etc. A partir desse esquema é possível entender a importância da constituição e do seu conhecimento para entender o direito. Poderíamos entender a constituição como: “a lei fundamental de um país, que contém normas respeitantes à organização básica do Estado, ao reconhecimento e à garantia dos direitos fundamentais do ser humano e do cidadão, às formas, aos limites e às competências do exercício do poder público (legislar, julgar, governar)” (FERRAZ Jr., 2008). No nosso país a constituição cria um Estado Democrático de Direito, isso significa dizer que o regime político sob o qual vivemos é democrático, o poder é emanado do povo que o exerce através de seus representantes ou diretamente. E, por sua vez, o Estado é de Direito pois tem seu poder autolimitado pela lei, que imperam tanto para os indivíduos quanto para o próprio Estado, que só pode agir de acordo com as leis. 2ªo CoStume Costume é a norma jurídica que não faz parte da legislação, pois é espontaneamente criado pela sociedade. Assume um caráter alternativo e suplementar, sendo aplicado quando a lei é omissa ou lacunosa (ondea lei falta ou na falta da lei). É também utilizado em casos expressamente previstos, autorizado pela própria lei, mas não pode ser aplicado se a contraria. 3ªa JuriSprudênCia São as decisões judiciais reiteradamente tomadas pelos juízes, sobre questões específicas. Esse conjunto de decisões (julgados), são soluções adotadas para determinados assuntos e litígios, ou seja, casos jurídicos semelhantes. Essas decisões tomadas por certos tribunais/fóruns/juízes, a jurisprudência, vão funcionar como marcos/posições/parâmetros do judiciário sobre determinados assuntos, sobre como uma lei deve ser 22 │ interpretada, como um determinado caso deve ser resolvido etc. Essas posições tendem a ser repetidas pelos outros tribunais consagrando um entendimento sobre o direito e sobre as leis a partir da sua conexão com a realidade, no momento em que a lei é aplicada. No curso do tempo esse entendimento varia tornando o direito mais apto à dinâmica social, ou seja, às mudanças de valores, costumes, necessidades etc. As decisões proferidas pelos tribunais superiores formam o que se denominam “Súmulas”. Hoje, no Brasil, adota-se a súmula vinculante, isto é, essas decisões tomadas pelos tribunais superiores sobre certos assuntos, devem ser seguidas pelos tribunais inferiores quando tratarem do mesmo assunto. Isso inviabiliza certos recursos e torna o processo mais célere e homogêneo. 4ªtratadoS e ConvençõeS internaCionaiS Os tratados são acordos bilaterais ou multilaterais entre estados soberanos, que versam sobre assuntos variados e que, quando aprovados no âmbito interno, adquirem status legal. Os tratados possuem influência significativa na construção do Direito Ambiental no Brasil. Muito da legislação ambiental aqui existente teve como influência direta os grandes tratados e convenções sobre meio ambiente. Mas não apenas no Direito Ambiental como em vários outros ramos do direito os tratados foram, por assim dizer, uma forte fonte de inspiração. 5ªprinCípioS GeraiS do direito Princípios no direito podem ser compreendidos como orientações mais gerais e abstratas, mais carentes de interpretação e contextualização do que as normas ordinárias. Os princípios não possuem um conteúdo mandatário bem definido, podendo ser evocados para orientar posições jurídicas em diversas situações. Ou também, podemos compreendê-los como meta-norma, algo que está num plano de abstração mais elevado servindo como base para a interpretação e fundamentação das normas ou para a fundamentação do raciocínio jurídico na aplicação das normas, │ 23 visando à justiça. São as proposições básicas e fundamentais que vão condicionar todas as proposições subsequentes, ou seja, algo de basilar, o alicerce, o ponto de partida para compreender e aplicar o direito de acordo com os anseios sociais de cada momento histórico. ConCluSão Conforme podemos perceber o Direito está amplamente presente nas nossas vidas, regendo a sociedade e os indivíduos em suas relações mais importantes. Diariamente estabelecemos relações jurídicas variadas, ora assumimos papel de credores, ora de devedores, ora adquirimos direitos, ora contraímos obrigações. Assinamos contratos, compramos objetos, prestamos serviços, mas também constituímos direitos que deles não necessariamente decorrem deveres, e isso pelo simples fato de sermos seres humanos. Partindo de uma perspectiva crítica, é factível entender que o direito representa uma ideologia na sua prática social, por exemplo, os ideais do liberalismo político de um Estado capitalista. Numa vertente marxista essa ideologia nada mais seria do que a vontade dos dominantes, uma ideologia hegemônica. Se observássemos a realidade de nosso sistema prisional, p. ex., isso se quedaria patente. Conforme Charles Booth, todas as classes sociais cometem transgressões às leis com seus crimes próprios. Muitas vezes os crimes cometidos pelas classes mais altas são significativamente mais ofensivos e danosos à sociedade do que aqueles cometidos pelas classes mais baixas (por exemplo a corrupção praticada por empresários e políticos). Entretanto o que se observa superlotando os sistemas prisionais são os mais pobres e as minorias raciais e étnicas, enquanto os mais abastados são recorrentemente saudados pela impunidade. Ou seja, a lei é flexibilizada para uns e endurecida para outros. Entretanto, apesar dessa gritante injustiça, entre muitas outras, o direito em muito vem contribuindo para reformar a realidade social: principalmente a partir do momento em que grupos desfavorecidos aprendem a “falar” essa linguagem e se empreendem na defesa de seus direitos. Daí a imensa importância de se conhecer o direito, conhecer como este opera e os meios educacionais que propiciam sua operação, pois o direito tradicionalmente foi afastado daqueles que lhes são 24 │ mais afetos: o povo. Na realidade contemporânea, de uma sociedade complexa, multicultural e pluralista, uma multiplicidade de atores sociais ganham voz e inserem novas perspectivas ideológicas com novos valores na realidade social, obrigando o direito a conformar-se com novos anseios e a reformar seu tradicionalismo excludente, muitas vezes criando antagonismos dentro do próprio direito. Nesse sentido valores consagrados podem dar lugar a novos valores, mais condizentes com as construções éticas da sociedade, escancarando o fenômeno complexo e dinâmico que é o direito por meio do qual, muito mais do que as leis, demandas sociais (às vezes contrárias as próprias leis) podem ser concebidas como legítimo direito. │ 25 2. HiSTÓriA Do DirEiTo AmBiENTAL No BrASiL E ASCENSÃo HiSTÓriCA DoS DirEiToS FuNDAmENTAiS 2.1. CriSE ECoLÓGiCA Os problemas ambientais não são exatamente problemas recentes. Problemas de saneamento, esgotamento de recursos, doenças, poluição, extinção de espécies etc. acompanham a humanidade desde os tempos mais remotos. Mas a forma de perceber esses problemas, caracterizando-os como “ambientais”, pode-se afirmar, é algo novo. Seja como a construção social de um novo conceito, seja como uma nova forma de perceber problemas sociais advinda da soma de novos conhecimentos como os das ciências ecológicas, possibilitando um novo entendimento, uma nova percepção, as questões compreendidas como ambientais ganharam espaço significativo nas agendas e debates públicos. Empreitadas e reproduzidas sob múltiplos enfoques, essas questões vêm permeando os diversos campos das atividades humanas. Elas se capilarizam nos diversos sistemas sociais, atingindo as construções éticas, educacionais, políticas, jurídicas, econômicas, entre outras, proporcionando uma nova leitura para antigos e recentes problemas das sociedades, agora compreendidos como “ambientais”. É factível afirmar que com a Revolução Industrial a forma de consumir os elementos naturais se intensificou drasticamente. O modelo de apropriação desses elementos passou a ser extremamente impactante, gradativamente crescente após o século XvIII. Com esse novo modelo, além dos seus muitos benefícios, foram percebidos significativos malefícios. A degradação trouxe inúmeras e sensíveis perturbações disseminadas por interações ecossistêmicas (poluição atmosférica, contaminação das águas, mortandade de animais, doenças, esgotamento dos solos etc.). Essas perturbações, quando percebidas pelas sociedades, geraram, além dos problemas imediatos, insegurança com relação à continuidade de seus meios de vida e a “denúncia” dos problemas vivenciados. Quando aqueles que identificavam nos modos de desenvolvimento usuais e no modelo hegemônico problemas sérios para o futuro se organizaram, 26 │ além dos diretamente afetados por problemas ambientais, uma série de construções discursivas em torno da questão começou a se proliferar, principalmente no final da década de 1950. Movimentos de cunho reivindicatórios, muitas vezesde caráter concomitantemente político e acadêmico, começaram a emergir, como a Ecologia Política, principalmente entre as décadas de 1960 e 1970. Tais movimentos, muitas vezes encampados por aqueles que se faziam ouvir (políticos, poderosos, instituições etc.), passaram a inserir a questão “ecológica” nas pautas e agendas políticas dos países, obrigando posicionamentos e ações acerca dessas questões. Sustentados por argumentos e projeções científicas alarmantes sobre o futuro do planeta, os defensores de mudanças nas formas de lidar com a natureza, mudanças na forma de produção da sociedade, gradativamente foram ganhando mais voz e influência nos marcos políticos da sociedade. Em 1972, por proposição da Suécia, foi organizada a primeira grande conferência internacional para discutir os principais problemas ambientais do planeta. Esta ficou conhecida como Conferência das Nações unidas Sobre Meio Ambiente Humano. Ainda incipiente, a conferência focava especialmente a pressão do crescimento demográfico sobre os recursos naturais, principalmente nos países pobres. Apesar disso, a conferência foi o principal marco para o direito ambiental internacional e também para o Brasil. Desde sua origem e principalmente nos dias atuais, a ideia de crise ambiental se reproduz por um matiz catastrofista, apocalíptico e essencialmente diversificado. Não há que se falar em uma ideia de crise ambiental única, consensual e que pressuponha uma adesão de toda a sociedade para uma nova consciência. Pelo contrário, são muitos os modelos discursivos sobre a questão, com muitas propostas diferenciadas para a “solução” do problema, às vezes contraditórias ou mesmo antagônicas. A questão ambiental, antes de tudo, é uma questão conflituosa. 2.2. o mEio AmBiENTE No ÂmBiTo Do DirEiTo A partir do momento em que se compreende, dentro do avanço cultural da sociedade, o meio ambiente e seus atributos como essenciais para o desenvolvimento da vida e da sociedade, atribuindo-lhe um valor │ 27 significativo, fundamental, indissociável do bem-estar social, o direito passa a exercer um importante papel na tutela desse valor tão caro à sociedade. O meio ambiente, visto como base material e simbólica das sociedades, pressupõe que: como base material é fonte dos elementos primários de subsistência da sociedade, de onde ela retira aquilo que lhe possibilita subsistir. P. ex.: água, solos, ar, recursos minerais, recursos vivos etc. Como base simbólica significa dizer que as construções valorativas e as atribuições de significados socialmente construídos são diretamente influenciados pelos elementos e condições do meio, seja ele natural, artificial ou cultural. Percebida essa real importância do meio ambiente para a sociedade, percebe-se também uma real necessidade de cuidados e de acesso equitativo desses elementos que compõem o mesmo, visto que dizem respeito a todos os membros da sociedade, ou melhor, podem afetar a todos, direta ou indiretamente, nas formas de seu uso, apropriação ou ocupação. É nesse sentido que o Direito Ambiental vai atuar: na proteção desse bem de valor inestimável para a sociedade e na regulamentação das formas de sua utilização, compreendendo que esse é um bem que diz respeito a todos os membros de uma comunidade. Podemos apontar como principais questões enfrentadas pelo Direito Ambiental nos dias atuais: i. Desproporcionalidade nas formas de uso e apropriação dos elementos naturais e ocupação dos territórios. Percebe-se uma real injustiça no que tange ao acesso aos recursos naturais e na distribuição dos benefícios e dos ônus da degradação ambiental; ii. Práticas predatórias por parte de países, empresas e poderosos. O modelo de desenvolvimento vigente ainda prevalece com os valores do laissez faire e do laissez passer do liberalismo econômico clássico, não assimilando muito bem as limitações impostas pela escassez e finitude de recursos, necessidade de melhor distribuição e inviabilidade do desenvolvimento infinito pelo modelo hegemônico (insustentável); iii. Comprometimento das condições de vida de grupos humanos. Muitos grupos humanos perderam seus meios de vida e sua relação com seu território devido a práticas predatórias 28 │ desenvolvidas pelo modelo produtivo hegemônico. Podemos pensar um exemplo nesse sentido: se temos uma comunidade de pescadores ribeirinhos e uma empresa se instala à montante do rio lançando seus dejetos tóxicos diretamente sobre o rio, causando a morte dos seus peixes, o meio de vida daquela comunidade se perde, obrigando-a a novas adaptações. O exemplo não é algo raro de acontecer, apesar de muito ruim do ponto de vista ético. Mas não apenas isso, atualmente se assiste a verdadeiros “refugiados ambientais” devido ao aquecimento global, ao aumento do nível dos oceanos, às desertificações, aos conflitos ambientais etc. Para enfrentar esses e outros problemas relacionados à degradação e utilização “irracional” do meio ambiente, o Direito Ambiental se desenvolve, principalmente após a Conferência sobre Meio Ambiente Humano das Nações unidas de 1972, com uma crescente normatização e regulamentação das práticas que afetam ou podem potencialmente afetar a qualidade do meio ambiente. Foram criados e implementados uma série de instrumentos jurídicos de defesa da qualidade ambiental, principalmente de comando (estabelecendo como as práticas potencialmente degradadoras podem ser realizadas) e controle (estabelecendo e fiscalizando parâmetros de controle e tolerância da poluição/degradação). 2.3. HiSTÓriA Do DirEiTo AmBiENTAL No BrASiL Leis, decretos e outras normatizações tutelares dos recursos naturais não são recentes no direito brasileiro. A consideração do meio ambiente como bem específico a ser tutelado pelo direito é que se afirma como fenômeno recente. Desde o Brasil colônia podemos perceber normatizações portuguesas que vigoravam na até então colônia brasileira, coibindo corte de árvores frutíferas, modalidades de caça e até mesmo lançamento de materiais que pudessem matar os peixes em cursos d’água, antecipando uma ideia de poluição até então inexistente. As punições eram variadas, desde o açoite, ao exílio definitivo para o Brasil, até mesmo a pena capital em determinados casos. Há autores que afirmam que as “Ordenações do Reino” tiveram reflexos na preservação da Mata Atlântica, principalmente pela diversidade de suas árvores “Onde há fortes e fracos, a liberdade escraviza, a lei é que liberta” Goffredo Telles Jr. │ 29 frutíferas, considerando, também, que a mesma vai sofrer uma redução mais drástica a partir da emancipação do país. No Brasil pré-republicano também eram percebidos dispositivos legais variados que, de forma incipiente, tutelavam elementos do meio ambiente natural. Havia preocupações que já acompanhavam o Brasil colônia: como a redução drástica do pau-brasil, o corte de outras árvores para o contrabando de madeira, a preservação do solo etc. Ocorre que existia um grande descompasso entre os dizeres legais e a realidade das monoculturas, da extração de madeira, da depredação do solo pátrio e suas riquezas já denunciada por José Bonifácio de Andrade Silva (MILARÈ, 2008, p.742). É plausível dizer que o brasileiro nunca despendeu grande atenção para sua terra e historicamente não cultivou um interesse nacional e um amor pelo seu solo. Se observarmos a forma como se desenvolveram os grandes ciclos agrícolas no país, perceberemos verdadeiras “odes ao desperdício”. Tanto para a cana quanto para o café (em distintas épocas) grandes extensões de terra eram plantadas, depois de ser devastada a cobertura florestal deixando um solo superficialmente fértil, que era utilizado até o esgotamento. Depois, novas áreas eram devastadas e plantadas, utilizadas até o esgotamento e assim por diante, deixando para trás um “mar” de terras com pouca ou nenhumaprodutividade e selando o destino de uma das áreas com maior biodiversidade do mundo, a Mata Atlântica. E o mais interessante, a riqueza percebida com tanta destruição nunca foi partilhada pelo povo brasileiro, mas concentrada pelas elites que, muitas vezes, a remetia para o exterior. O que vem ocorrendo com a soja na Amazônia não é muito diferente do que ocorreu com a cana e com o café em outros tempos, ou seja, novas fronteiras agrícolas são abertas, deixando solo degradado para trás, como se houvesse sempre novas áreas para serem devastadas, sem a preocupação com a recuperação do solo já exaurido, rotatividade de culturas etc. Mais uma vez a história se repete demonstrando a relação do brasileiro com seu solo e com suas riquezas naturais. Conforme salienta Edis Milaré (2008, p.744), “nossa história, infelizmente, é de uma depredação ambiental impune”. São exemplos de legislações que vigoravam no Brasil colônia e pré- republicano: 30 │ 1. Ordenações afOnsinas corte de árvore frutífera como injúria ao rei; 2. Ordenações Manuelinas Coibia a caça de certos animais com instrumentos capazes de lhes infringir dor e sofrimento e mantém tipificado corte de árvore frutífera (degredo); 3. Ordenações filipinas Proibia poluição de águas (lançar materiais que matassem peixes), mantinha tipificada corte de árvore frutífera e punia com degredo definitivo quem matasse animais “por malícia”. 1. regiMentOs dO pau-brasil e cOrte de árvOres frutíferas; 2. códigO criMinal de 1830 Novas penalizações como corte ilegal de madeira, uso inadequado do solo etc.; 3. lei 601, de 18 de seteMbrO de 1850 Uso do solo. ordenaçõeS do reino braSil pré-republiCano No Brasil republicano, podemos destacar como legislação que tangenciava a proteção dos elementos naturais o Código Civil de 1916, principalmente no que tange a composição de conflitos de vizinhança. Posteriormente, nas décadas subsequentes, começam a proliferar normatizações tutelares de elementos naturais e segmentos afins ao que hoje designamos como temática ambiental, como saúde, saneamento, poluição, mineração, caça etc. Alguns destes diplomas, principalmente na década de sessenta, foram marcos significativos na racionalização do uso dos elementos naturais, alguns, ressalvada as modificações posteriores, vigem até hoje, como o Código Florestal. Com a emergência dos movimentos ecológicos, com o avanço da industrialização predatória e com a percepção da degradação ambiental em escala planetária, no final da década de sessenta, por proposição da Suécia à ONu, é organizada uma conferência internacional para │ 31 discutir os principais problemas ambientais. No ano de 1972, em junho, ocorre na cidade de Estocolmo a “Conferência das Nações unidas Sobre Meio Ambiente Humano”, com participação de 250 organizações não governamentais e 113 países. Com a conferência foi criado o PNuMA (Programa das Nações unidas para o Meio Ambiente) e promulgada uma declaração (Declaração de Estocolmo) com 26 princípios destinados ao direcionamento, comportamento e responsabilidades dos Estados em relação às questões ambientais. O nacionalismo e a intransigência em priorizar o crescimento econômico dos países em desenvolvimento ocasionaram no apontamento do Brasil como liderança negativa dos países subdesenvolvidos. O Ministro Costa Cavalcanti em seu relatório traduz quais deveriam ser as prioridades na visão oficial do governo brasileiro, dizendo que deveria haver uma posição de equilíbrio em que não se ignorasse os problemas ambientais, nem que lhes fosse dada atenção excessiva, defendendo as prioridades de industrialização, crescimento, exploração dos recursos naturais, com a tradicional política econômica de que “primeiro é necessário fazer crescer o bolo para depois reparti-lo”. Acusava ainda que as situações que podiam ser consideradas problemas ambientais típicos estavam quase exclusivamente nos países desenvolvidos e associados a determinadas condições de industrialização. Nesse sentido era proposto também pela nação brasileira que a Conferência deveria ser essencialmente conceitual, sem possibilidade de endossos formais às convenções, o que de fato não ocorreu, visto a edição da Declaração de Estocolmo de 1972 (RIBEIRO, 2006). Apesar de “não ver com bons olhos” os princípios propostos em Estocolmo, o Brasil, em resposta às críticas internacionais, edita o Decreto 73.030 de 1973, criando a Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA, no âmbito do Ministério do Interior, com o objetivo de gerir os recursos naturais do país de forma racional e controlar a poluição. Ainda na década de setenta, outras normatizações foram editadas como parcelamento do solo urbano, controle de poluição, criação de áreas especiais e turísticas etc. Entretanto, o meio ambiente ainda era tratado de forma diluída, casual e esparsa, somente para atender as necessidades de exploração pelo homem ou, mediante ação do indivíduo ou empresa imediatamente atingido, controlar poluição ou degradação. Não havia ainda uma conceituação legal de meio ambiente, existiam legislações que tratavam de florestas, águas, minerais, caça, pesca, solos, poluição, 32 │ saúde entre outros, mas sem estabelecer uma relação direta entre estes componentes do que hoje se entende por “meio ambiente”, não havia uma sistematização, uma visão holística, apenas fragmentada. São exemplos de legislações que vigoraram nestes períodos: códigO civil de 1916 Composição dos conflitos de vizinhança. legislaçãO tutelar dO MeiO aMbiente 1. Dec. 16.300 de 1923 – Regulamento do Departamento de Saúde Pública; 2. Dec. 24.643 de 1934 – Código de Águas; 3. Dec.-lei 794 de 1938 – Código de Pesca; 4. Lei 4.504 de 1964 – Estatuto da Terra; 5. Lei 4.771 de 1965 – Código Florestal; 6. Lei 5.197 de 1967 – Código de Caça; 7. Dec.-lei 303 de 1967 – Conselho Nacional de Controle da Poluição Ambiental. 1. criaçãO da seMa Secretaria Especial do Meio Ambiente (Dec. 73.030 de 1973); 2. lei 6.151 de 1974 Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento; 3. dec.-lei 1.413 de 1975 Controle da poluição industrial; 4. lei 6.453 de 1977 Responsabilidade por danos nucleares; 5. lei 6.766 de 1979 Parcelamento do solo urbano; 6. leis ainda esparsas, o meio ambiente é tratado de forma diluída e casual, somente para atender a exploração pelo homem. leGiSlação anteS da ConferênCia de eStoColmo leGiSlação póS ConferênCia de eStoColmo │ 33 Na década de oitenta é que houve uma verdadeira mudança de paradigma, por assim dizer, quando o meio ambiente passou a ser tratado dentro do que se compreende atualmente. Precisamente, a partir da promulgação da Política Nacional de Meio Ambiente, Lei 6.938, de 31 de Agosto de 1981 (PNMA). Posteriormente a PNMA, uma série de diplomas legais são promulgados ratificando a mudança de tratamento com relação ao meio ambiente que passa a ser um bem específico de tutela jurídica. A proteção do ambiente deixa de ser depositada na ação do indivíduo que se sentisse incomodado com atitudes lesivas e passa a ser responsabilidade do Estado garantir a sanidade do meio e controlar práticas poluidoras/degradadoras. Proliferam diplomas legais voltados para a proteção do patrimônio ambiental partindo de uma visão mais global e sistêmica, o Meio Ambiente passa a ser visto como um todo, como uma teia complexa de inter-relações e interações. Dentre outras inovações merece destaque a percepção de Meio Ambiente como bem de uso comum do povo e a consolidação da ideia de direitos difusos e do Meio Ambiente como Direito Fundamental, o que será tratado no próximo item. Quatro marCoS da mudança paradiGmátiCa pOlítica naciOnal dO MeiO aMbiente a. Conceito de meio ambiente como objeto específico de proteção, b. institui o Sistema Nacional de Meio Ambiente c. designa responsabilidade objetiva para o degradador. Link: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/L6938.HTM açãO civilpública a. Cria um instrumento processual específico para a defesa do meio ambiente b. consagra os direitos difusos e coletivos c. as associações civis ganham legitimidade para provocar a atividade jurisdicional. Link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7347orig.htm lei 6938 de 1981 1 lei 7.347 de 1985 2 34 │ a. Designa para a matéria um capítulo próprio b. possui um texto avançado c. consagra o meio ambiente como direito fundamental, essencial para a sadia qualidade de vida. Link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constitui%C3%A7ao.htm criMes aMbientais a. Dispõe sobre sanções penais e administrativas para as condutas lesivas ao meio ambiente b. sistematiza e tipifica os crimes ecológicos c. inclui a pessoa jurídica como sujeito ativo do crime ambiental. Link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9605.htm ConStituição federal de 1988 lei 9.605 de 1998 3 4 2.4. EvoLuÇÃo HiSTÓriCA DoS DirEiToS FuNDAmENTAiS Conceituar “Direitos Fundamentais” é uma tarefa realmente complexa, são muitas as fundamentações teóricas e correntes filosóficas que buscam afirmar o que seriam esses direitos e de como eles operam na realidade. Dada essa dificuldade, não pretendo apresentar um conceito que encerre a questão ou se aprofunde muito nas vertentes que dela decorrem, mas que apenas situe, historicamente, uma compreensão básica sobre direitos humanos fundamentais. um ponto que devemos levar em consideração quando falamos de direitos fundamentais é que esses estão ligados àquilo que se compreende como substancial e inerente ao desenvolvimento humano em sentido amplo; ou, numa designação ainda mais complexa e dúbia, à dignidade da pessoa humana. De cunho individualista (ou subjetivista) esses direitos, numa primeira reflexão, remetem ao fenômeno do constitucionalismo moderno (coetâneo ao próprio conceito de constituição) e ao liberalismo político, primando valores como liberdade, segurança, propriedade privada, controle do arbítrio do governo e fixando uma autonomia pessoal contra as expansões do poder. │ 35 Em muitas perspectivas esses direitos são interpretados como algo absoluto, universal e atemporal, algo pronto e acabado, imutável e aplicável em qualquer circunstância. Obviamente a própria realidade cuida de prostrar qualquer pretensão absoluta e universal, visto que a mesma muda sempre com o tempo e o que é certo e definitivo hoje pode não atender as expectativas do amanhã. Isso nos leva a considerar os direitos fundamentais dentro de um contexto histórico, com certa mutabilidade conforme as exigências específicas de cada momento. São as circunstâncias sociais e culturais que definem o caráter de fundamental para um direito, muitas vezes somando-se ao que já foi concebido como direito fundamental em outros tempos, outras vezes obrigando a conformação da percepção tradicional à nova realidade (o que nunca é pacífico). Nesse sentido, um direito fundamental deve ser pensado mais como uma conquista (muitas vezes árdua) e não como uma concessão, uma liberalidade do poder (salvo para manter a estabilidade do sistema), ou ainda uma percepção advinda da razão iluminada, uma descoberta revelada. Uma definição conceitual bastante para nós nesse momento pode ser apresentada por José Afonso da Silva, para quem os direitos fundamentais são aqueles que […] no nível do direito positivo, aquelas prerrogativas e instituições que o ordenamento jurídico concretiza em garantia de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas. No qualificativo fundamentais acha-se a indicação de que se trata de situações jurídicas sem as quais a pessoa humana não se realiza, não convive e, às vezes, nem mesmo sobrevive” (1982, p. 144). Dada a importância substancial destes direitos, os mesmos devem ser concebidos como invioláveis, indisponíveis, inalienáveis… uma forma elucidativa de se trabalhar a evolução dos direitos fundamentais é situá-los em gerações. Elejo três gerações para compreendermos como o direito ao meio ambiente se insere no rol dos direitos fundamentais, explicando de forma muito breve e incipiente a trajetória de cada geração, através de tópicos que expõem as principais características de cada uma. 36 │ • São assim denominados por serem os primeiros direitos positivados. • São diretamente ligados a percepção histórica do movimento do constitucionalismo. • São referentes às garantias individuais contra a força e o poder do Estado. • Surgem no contexto histórico da emergência do liberalismo político e econômico, da ascensão da burguesia e da queda dos Estados Absolutistas. principais eleMentOs dOs direitOs de priMeira geraçãO • A ideia de igualdade, liberdade e propriedade privada (direitos civis e políticos); • A ideia que o Estado tem personalidade jurídica sendo um sujeito de direito e de obrigações; • O Bill of Rigths em 1776 e a Declaração dos Direitos do Homem em 1789 (Liberdade, igualdade, fraternidade). • Conhecidos como os direitos sociais, surgem da insuficiência do Estado Liberal em suprir os seus antagonismos estruturais. • Realidade de extrema exploração do trabalhador assalariado, de desigualdades econômicas e sociais profundas e da insuficiência do mercado em se auto-regulamentar. • O Estado necessita intervir na sociedade e na economia, promovendo uma liberdade mais real e igual para todos, através de uma diversidade de seguros sociais. eleMentOs fundaMentais aOs direitOs de segunda geraçãO • A ideia de justiça social, bem-estar social, de igualdade e liberdade de fato (direitos sociais). • Direitos e garantias trabalhistas como a greve, salário mínimo, descanso remunerado e os sindicatos, bem como direitos à saúde, educação e previdência social. • O avanço do comunismo, as Grandes Guerras e o Estado Providência. oS direitoS de primeira Geração oS direitoS de SeGunda Geração │ 37 • Direitos coletivos e difusos são aqueles que se dirigem a proteger não apenas o homem isoladamente, mas as coletividades, os grupos humanos e a sociedade como um todo. • Dão-se num contexto de crise ambiental planetária, na incerteza e no medo de uma guerra nuclear e nas ameaças às culturas e povos. • Esses direitos se fundam na solidariedade entre os povos, num redimensionamento da cidadania e da democracia onde novos atores ganham voz, ampliando-se o quadro dos direitos políticos. eleMentOs fundaMentais aOs direitOs de terceira geraçãO • A ideia de participação cidadã e democracias mais diretas e participativas. • A proteção do gênero humano, das minorias étnicas e sociais e das tradições culturais (direitos transindividuais e metaindividuais). • A fraternidade e a solidariedade entre os povos e nações e a crítica à sociedade de consumo. oS direitoS de terCeira Geração Alguns teóricos verbalizam que os direitos dos povos (que compreendem os direitos de terceira geração) não poderiam ser de forma alguma confundidos com direitos fundamentais, visto que muitas vezes assistimos a regimes políticos evocarem suas tradições culturais para suprimirem os direitos fundamentais de primeira geração (liberdades individuais e políticas). Apesar de ser este um posicionamento factível, não devemos assumir uma postura de que o modelo ocidental calcado no liberalismo político é a verdade absoluta do mundo, perfeito, e que deve ser implantado em todas as situações da vida e para todas as tradições culturais impositivamente (da forma como é pregado geralmente). Mesmo porque, assiste-se na tradição cultural do ocidente uma extrema desigualdade e subjugação de uns grupos sociais sobre outros, mesmo onde já estão cristalizados direitos individuais e sociais as ideias de democracia e igualdade ainda são utopias (não desejada de forma plena) e longe de serem alcançadas. Conforme visto, o que vai caracterizar o teor de “fundamental” de um direito são as circunstâncias culturais e sociais que se perfazem em dadomomento histórico. Fundamentar-se em preceitos atemporais, absolutos e universais, fulcrados e dogmatizados no tradicionalismo e ortodoxia das práticas sociais, controladas e apoderadas por determinados segmentos 38 │ da sociedade, significa impedir ou rejeitar mudanças não apenas bem vindas na realidade social, mas, sobretudo, necessárias. Nesse sentido, entendo que os direitos de terceira geração (apesar de suas pretensões utópicas) correspondem às aspirações do momento histórico presente, e que não são, de maneira nenhuma, formas de suprimir os direitos individuais, mas de dar a eles o devido equilíbrio e interpretação com relação às demandas sociais mais urgentes, complementando-os, ainda que gerando certos antagonismos. Nossa constituição Federal de 1988 compreende, muito bem, as três gerações de direitos (individuais, sociais e coletivos), por meio das quais devemos sempre buscar uma interpretação equilibrada e contextualizada com a realidade social desses direitos. Hodiernamente, podemos dizer que o direito ao meio ambiente, concebido como direito de terceira geração, está concretizado no nosso ordenamento. Conforme expõe Cristiane Derani (2008, p.49) o direito ao meio ambiente enquanto direito fundamental é “resultado de fatores sociais que permitiram ou até mesmo impuseram a sua cristalização sob forma jurídica, explicitando a sua relevância para o desenvolvimento das relações sociais”. Essa cristalização pode-se aferir também das palavras do Ministro Celso de Melo (DJ 17/11/95, 39206): O direito à integridade do meio ambiente – típico direito de terceira geração – constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do processo de afirmação dos direitos humanos, a expressão significativa de um poder atribuído, não ao indivíduo identificado em sua singularidade, mas num sentido verdadeiramente mais abrangente, à própria coletividade social. Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) – que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) – que se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam os poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade. a QueStão do direito ao meio ambiente eColoGiCamente eQuilibrado. direito de terCeira Geração. prinCípio da Solidariedade. │ 39 3. o mEio AmBiENTE Como oBJETo Do DirEiTo 3.1. DirEiTo AmBiENTAL Considerações Gerais O Direito Ambiental apresenta-se como ciência jurídica que estuda as questões relativas às atividades sociais que têm implicações nas condições do meio ambiente natural, cultural ou artificial. Podemos dizer que o principal objetivo do direito ambiental é a preservação das condições ambientais associadas à melhoria da qualidade de vida da população. Ou seja, proteger e defender a qualidade, salubridade e equilíbrio do meio ambiente e do que o compõe tendo em vista a manutenção das condições de vida das populações e da própria vida do planeta. Nesse sentido, podemos dizer que o objeto imediato da tutela jurídica do ambiente é a manutenção da qualidade dos elementos que o compõem, mas que o objeto mediato é a qualidade de vida dos seres humanos, pois tutela-se o primeiro em nome do segundo. Conforme visto no capítulo 1, o Direito deve ser concebido como uma coisa única – o ordenamento jurídico é compreendido como um todo. Mas, para fins didáticos e científicos é necessário que se estabeleçam “subdivisões” e “ramos específicos” no direito, permitindo uma compreensão das especificidades e diversidades de situações e relações sociais regulamentadas no âmbito jurídico. Por isso estudamos e subdividimos o Direito em ramos como o Direito Civil, o Direito Penal, o Direito Administrativo, o Processual, o Constitucional, o Tributário etc. Por suas especificidades o Direito Ambiental se apresenta como um ramo do Direito que goza de autonomia didático-científica e um conteúdo peculiar no ordenamento jurídico brasileiro. Nesse sentido, o Direito Ambiental não estaria compreendido dentro de outros ramos do direito como o Direito Administrativo, o Civil, o Penal etc., mas constituindo um ramo de estudo próprio, “autônomo” no sentido didático-científico. Uma conceituação suficiente para o Direito Ambiental pode ser dada como: “O complexo de princípios e normas coercitivas reguladoras 40 │ das atividades humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente em sua dimensão global, visando à sua sustentabilidade para as presentes e futuras gerações” (Michel Despax apud Édis Milaré, 2008). A nomenclatura da disciplina encontra certas variações, como nos exemplos abaixo: direitO ecOlógicO denominação muito restritiva uma vez que exclui valores culturais e artificiais que também integram o ambiente juridicamente tutelado, visto que a ecologia é a ciência que estuda a relação e interações entre os seres vivos e o meio em que vivem. Nesse sentido a disciplina estaria restrita à proteção do ambiente natural. direitO de prOteçãO da natureza padece da mesma restrição mencionada acima. direitO dO MeiO aMbiente Questiona-se muito a redundância do termo “meio ambiente”, pois “meio” e “ambiente” significam a mesma coisa, apesar de largamente utilizado no Brasil. direitO aMbiental Questiona-se que o termo ambiental deriva de uma adaptação da palavra de origem inglesa “environmental”. Essa é a nomenclatura mais amplamente utilizada e consolidada. direitO dO aMbiente Utilizada por alguns autores que a apontam como a mais exata e precisa juridicamente. nomenClatura Outra característica interessante de se destacar com relação ao Direito Ambiental é que este se apresenta essencialmente multidisciplinar, diferente da tradição jurídica que encerra o conhecimento do direito no próprio direito. Ou seja, o Direito Ambiental estabelece um diálogo estreito com várias outras áreas do saber, tanto com ciências jurídicas quanto não jurídicas. Podemos destacar que dentro do Direito algumas │ 41 disciplinas estão intimamente ligadas ao Direito Ambiental, lhe fornecendo instrumentos, subsídio teórico e técnico como o Direito Administrativo e o Direito Constitucional, ou ainda o Direito Penal, o Processual, o Civil, o Tributário e o Internacional. Com outros campos do saber podemos dizer que o Direito Ambiental congrega conhecimentos das ciências ecológicas e outros ramos da Biologia, com a Física, com a Química, com a Antropologia, com a estatística etc. vale lembrar que essa percepção plural e complexa do saber é bastante característica das questões ambientais. Por sua vez, o patrimônio ambiental, objeto da tutela do direito ambiental, compreende mais do que a definição de ambiente estabelecido pelo artigo terceiro da Lei 6938/81, a Política Nacional de Meio Ambiente. Isto porque conforme a lei, meio ambiente é: “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Apesar de abrangente e inovador, visto que pela primeira vez no ordenamento é explicitado um conceito para meio ambiente, essa concepção remete muito mais ao ambiente natural, aos bens naturais (água, ar, solo, flora, fauna etc.), não evidenciando outros elementos que também compreendem o patrimônio ambiental tutelado pelo direito ambiental, como os bens artísticos, arquitetônicos, urbanísticos entre outros.Observada essa consideração, devemos conceber o patrimônio ambiental de forma mais abrangente e não apenas o meio ambiente natural, conceituado pela PNMA. Nesse sentido integram também o patrimônio ambiental: o meio ambiente cultural, composto pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico e turístico; O meio ambiente artificial, constituído pelo espaço urbano, composto por suas edificações e equipamentos públicos como ruas, praças etc. Quanto a sua classificação no ordenamento e a sua natureza jurídica, as categorias tradicionais de bens públicos e privados não se apresentam mais adequadas e suficientes para definir os bens ambientais. Na divisão jurídica clássica, bens privados são aqueles 42 │ cuja posse e domínio pertencem aos entes privados como cidadãos, empresas etc.; e bens públicos como “todos aqueles que, de qualquer natureza e a qualquer título, pertençam as pessoas jurídicas de direito público, sejam elas federativas, como a união, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios, sejam da administração descentralizada, como as autarquias, nestas incluindo as fundações de direito público e as associações públicas” (CARvALHO FILHO, 2007, p. 964). Conforme se percebe pela breve conceituação, os bens ambientais não se integram em qualquer dessas categorias tradicionais. Também não são mais percebidos, como na tradição do direito civil como “res nulius”, ou seja, coisa de ninguém. Os bens ambientais passam a integrar outra categoria que designamos como “bens de interesse público” ou “bens de uso comum”, podendo estes se inserir tanto nos bens pertencentes a entidades públicas como nos bens dos sujeitos privados. Entretanto, estes bens passam a estar subordinados a uma disciplina particular que visa à consecução de um fim público, um fim de interesse comum. Conforme salienta José Afonso da Silva (2007), a Constituição, no artigo 225, declara que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. veja-se que o objeto do direito de todos não é o meio ambiente em si, não é qualquer meio ambiente. O que é objeto do direito é o ambiente qualificado. O direito que todos temos é a qualidade satisfatória, o equilíbrio ecológico do meio ambiente. Essa qualidade é que se converteu num bem jurídico. A isso é o que a Constituição define como bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. Teremos que fazer especificações, mas, de um modo geral, pode-se dizer que tudo isso significa que esses atributos do meio ambiente não podem ser de apropriação privada, mesmo quando seus elementos constitutivos pertençam a particulares. Significa que o proprietário, seja pessoa pública ou particular, não pode dispor da qualidade do meio ambiente a seu bel prazer, porque ela não integra a sua disponibilidade. veremos, no entanto, que há elementos físicos do meio ambiente que também não são suscetíveis de apropriação privada, como o ar, a água, que são, já por si, bens de uso comum do povo. Por isso, como a qualidade ambiental, não são bens públicos nem particulares. São bens de interesse público, dotados de um regime jurídico especial, enquanto essenciais à sadia qualidade de vida e vinculados assim, a um fim de interesse coletivo. │ 43 vamos estabelecer um exemplo: suponhamos um proprietário de uma área que possui uma mata (flora), com animais silvestres (fauna), com cursos d’água, entre outros atributos. Apesar de ser o proprietário da área que possui tudo isso, o suposto sujeito não pode utilizar-se desses atributos de sua propriedade como ele quiser, pois os mesmos são de “interesse comum” e não propriamente dele (não são disponíveis). Para utilizá-los será necessário demonstrar que a sua utilização não comprometerá a qualidade desses elementos naturais, daí a necessidade de autorização, licença ou outorga do órgão público competente. Caso ele se utilize desses bens sem a devida anuência do poder público (incumbido de zelar pela proteção do patrimônio ambiental), ele poderá incorrer em infrações administrativas e criminais, bem como na responsabilização de reparar qualquer dano e indenizar qualquer prejuízo que venha a causar. Isso significa dizer que no direito ambiental há uma tríplice responsabilização: penal, civil e administrativa. Essa utilização descompassada dos parâmetros legais de tutela ambiental configura o uso nocivo da propriedade, ou seja, não cumpre a função socioambiental da propriedade, visto que sua utilização ultrapassa seu direito e fere o que se compreende como direito da coletividade. Dessa colocação extraímos que o meio ambiente é um direito coletivo em sentido amplo. Os direitos coletivos se subdividem em difusos, coletivos e individuais homogêneos. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado configura propriamente um direito difuso, ou seja, um direito transindividual (ultrapassa o indivíduo) de natureza indivisível onde são titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstância de fato. Dirigem-se a toda a coletividade. O sujeito do direito é a própria coletividade, visto que esse direito espraia-se pelo grupo social sendo afeto a todos direta e indiretamente. Entretanto, há mais uma peculiaridade no direito ao meio ambiente que é significativamente inovadora: a atribuição de valor e consideração a seres inexistentes. Ou seja, são considerados “sujeitos” do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado os que ainda estão por vir, as próximas gerações. Esse pensamento se baseia na idéia de que se comprometermos o ambiente hoje, esgotando ou inviabilizando seus recursos, em nome de um modelo de desenvolvimento, poderemos estar impossibilitando que as próximas gerações se desenvolvam também, ou, 44 │ nas perspectivas e previsões mais pessimistas, que as próximas gerações sobrevivam. Isso requer que pensemos a preservação do ambiente não apenas para o presente, mas também para o futuro. Outro ponto que também merece destaque é a breve consideração e valorização de seres não humanos, dada pela legislação e pela prática do Direito Ambiental. Apesar de ainda não ser uma realidade (por exemplo, atribuir direito aos animais), são propostas que vêm substituir o paradigma ético antropocêntrico, por modelos mais avançados de ética de matiz ecocêntrico e/ou biocêntrico, que buscam transformar os aspectos relacionais e de postura do homem com relação à vida. Falamos de uma tríplice responsabilização no Direito Ambiental – civil, penal e administrativa – que merece um pouco mais de atenção conceitual. Primeiramente devemos assumir que o Direito Ambiental possui um caráter muito mais “preventivo” do que “reparatório” ou “repressivo”. um dano ambiental pode ter conseqüências tais que sua reparação pode ser impossível ou muito onerosa (inviável) e demorada, perdurando suas conseqüências de forma que a ação reparatória não vai conseguir sanar os problemas causados. Por outro lado, repreender o autor de um grave dano, multando, interditando sua atividade, ou prendendo o mesmo, pode apaziguar os anseios sociais de justiça e, quem sabe, até modificar a postura do sujeito, mas efetivamente não resolve o problema também. Nesse sentido a melhor saída é atuar de forma preventiva, buscar sempre controlar e conhecer as atividades e submetê-las a padrões sociais seguros, pois, diante de certos danos, os instrumentos do Direito Ambiental reparatórios e repressivos se mostram ineficazes, frágeis e sem efeitos satisfatórios, apesar da imensa importância desses instrumentos. Falar em responsabilidade, de maneira geral, significa dizer sobre a obrigação de alguém com relação a alguma coisa. No Direito, responsabilidade exprime a obrigação de responder por algum dever jurídico em que se coloca a pessoa física ou jurídica, “seja em virtude de contrato, seja em face de fato ou omissão que lhe sejam imputáveis”, para satisfazer uma prestaçãoconvencionada/devida ou para suportar as sanções legalmente previstas. Para o nosso estudo é necessário compreender as três formas de responsabilidade por danos ambientais e como elas operam: │ 45 1 reSponSabilidade adminiStrativa é a que resulta quando se infringe norma da administração (que pode ser estabelecida através de lei, regulamentos, resoluções, deliberações normativas ou até mesmo por força contratual). A responsabilidade administrativa impõe um ônus ao infrator para com o órgão público. É independente das responsabilidades civis e penais, sendo pessoal/ subjetiva (geralmente aferida mediante comprovação de dolo ou culpa), mas a sanção nem sempre é de execução personalíssima (restrita ao infrator/contratante), caso em que pode transmitir-se aos sucessores do contratado, quer sejam pessoas físicas ou jurídicas, como ocorre com as multas e encargos tributários. O artigo 70 da Lei de Crimes Ambientais (Lei 9605/98) nos será bastante elucidativo: Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. § 1º São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha. § 2º Qualquer pessoa, constatando infração ambiental, poderá dirigir representação às autoridades relacionadas no parágrafo anterior, para efeito do exercício do seu poder de polícia. § 3º A autoridade ambiental que tiver conhecimento de infração ambiental é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante processo administrativo próprio, sob pena de co-responsabilidade. § 4º As infrações ambientais são apuradas em processo administrativo próprio, assegurado o direito de ampla defesa e o contraditório, observadas as disposições desta Lei. 46 │ 2 reSponSabilidade Civil Conforme o código civil, quem lesar, por ação ou omissão direito de outrem, fica obrigado a reparar o dano. Responsabilidade civil é a que se apura para exigir a reparação civil, uma forma de sanção, geralmente com repercussões patrimoniais, imposta ao agente ou responsável pelo ato ilícito, obrigando a reparação do dano. No Direito Ambiental brasileiro, adotou-se a responsabilidade civil objetiva, isto é, independente da inobservância dos deveres objetivos de cuidado – imperícia, negligência ou imprudência – que configuram a culpa, ou de agir com má-fé, intencionalmente (que configura o dolo), no caso de um dano ambiental o autor fica obrigado à reparação e indenização das vítimas. Isto quer dizer que, basta que tenha ocorrido o dano ambiental e que haja um nexo causal entre a ação/omissão do autor/da atividade exercida, para que ele adquira o dever/obrigação de reparação desse dano. Isto se dá devido ao fato de que quem deve arcar com o risco da atividade é quem se beneficia dela. A Política Nacional do Meio Ambiente deixa isto bastante claro no seu artigo 14, § 1º: Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: § 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. 3 reSponSabilidade penal É a obrigação que alguém tem de arcar com as conseqüências jurídicas do crime. É o dever que tem a pessoa de prestar contas de seu ato. Ele depende da imputabilidade do indivíduo, pois não pode sofrer as conseqüências │ 47 do fato criminoso (ser responsabilizado) senão o que tem a consciência de sua antijuridicidade e quer executá-lo (ser imputável).” Conforme percebe-se a responsabilidade penal é personalíssima e aferida mediante dolo ou culpa. A tutela penal do ambiente é imprescindível devido ao fato de este representar um direito fundamental de suma importância para a subsistência da sociedade. Nesse sentido, uma série de condutas lesivas ao meio ambiente foram tipificadas como crimes ambientais, conforme disposto na Lei 9605/98, Lei de Crimes Ambientais: Art. 2º - Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la. Abaixo segue uma breve síntese para facilitar o entendimento: • José Afonso da Silva: O patrimônio ambiental não pode ser catalogado como integrante de qualquer das categorias tradicionais de bens, públicos ou privados; • Bens de interesse público: o que se tutela não é o meio ambiente em si, mas o meio ecologicamente equilibrado; • A qualidade do meio ambiente não é disponível (não pode ser de apropriação privada); • Alguns elementos per se são de uso comum do povo; • Trata-se de interesse difuso: espraia-se por toda a coletividade. ProiBiDo oBriGATÓrio natureza JurídiCa leGiSlação ambiental• Poluir; • Degradar. • Obter licença, autorização ou outorga; • Atender as condicionantes das licenças ambientais. 48 │ 1. prOcessOs adMinistrativOs: Multa; Suspensão das atividades. 2. açãO civil pública/açãO pOpular: Multa; Reparação do dano; Indenização. 3. prOcessO Judicial pOr criMe aMbiental: Pena pecuniária; Restrição de direitos ou liberdade. ConSeQuênCiaS do deSCumprimento │ 49 4. oS PriNCÍPioS GErAiS Do DirEiTo AmBiENTAL O presente tema merece especial destaque por sua importância, pois possibilita uma compreensão panorâmica do Direito Ambiental dentro de seus fundamentos basilares. Desenvolvidos ao longo de mais de três décadas, os princípios do Direito Ambiental foram se consolidando principalmente a partir dos tratados internacionais e hoje traduzem o espírito do Direito Ambiental, não apenas no Brasil, mas em muitos outros países. Por serem muitos os princípios e, não raras as vezes, abordados de forma distinta pelos diversos autores, escolho aqui, aqueles que entendo como mais importantes, explanando de forma breve, mas suficiente, suas principais características. Conforme tratado no capítulo 1, princípios são orientações gerais e abstratas que fundamentam o Direito. São o norte e o alicerce das normas vigentes no ordenamento, são os pontos de partida que devem orientar e direcionar desde a hermenêutica – a interpretação adequada das normas jurídicas – até mesmo a criação das normatizações e implementação das mesmas pelos órgãos competentes sejam eles do executivo ou do judiciário. Devido a amplitude e a importância do conteúdo desse tema, o presente está subdividido em duas partes. Pretendo ao longo da explanação trabalhar alguns conceitos e normatizações do Direito Ambiental de caráter mais fundamental que propiciarão um entendimento geral da disciplina. 4.1. PArTE i 1 prinCípio do direito à Sadia Qualidade de vida Estar vivo é condição básica para a fruição de qualquer direito, por isso a vida compreende o direito individual mais importante e entendido como algo que não deve ser violado sob nenhum pretexto ou circunstância. Ocorre que a percepção sobre o direito a vida vem sendo concebida um 50 │ pouco além da vida em si. Não basta apenas estar vivo, deve-se viver
Compartilhar