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Fundamentos do Direito Ambiental

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Universidade Federal de JUiz de Fora
Centro de Educação a Distância - CEAD
Campus Universitário - Martelos
Cep.: 36036-900 - Juiz de Fora/MG - Brasil
Tel: (32) 2102-3487 / 3488 / 3489
Reitor:
Prof. Henrique Duque de Miranda Chaves Filho
Diretor:
Prof. Flávio Iassuo Takakura
Coordenação-Geral:
Prof. José Antonio Aravena Reyes 
setor de ProdUção
de Material didático
Chefia do Setor:
Núbia Schaper Santos
Supervisão de Produção:
Mayanna Martins Santos
Designer Instrucional:
Márcio Emilio dos Santos
Revisão Textual:
Paula Martins
Ilustração:
Rogério Terra Júnior
Produção Gráfica:
Carolina Pires Araújo
Raquel von Randow Portes
Rômulo Oliveira de Farias
Produção Audiovisual
Rodrigo Gotti Lobão
Web Designer:
Lívia Gouvêa
Mídia Designer:
Liliane da Rocha Faria
 Gestão do Meio aMbiente
edUcação, direito
e análise aMbiental
Coordenador Geral
Prof. Dr. Vicente Paulo dos Santos Pinto
Coordenador - Análise Ambiental
Prof. Dr. Cézar Barra Rocha
Coordenador - Direito Ambiental
Prof. Dr. Frederico Augusto D’Ávila Riani
Professor
Prof. Ms. Leonardo Alejandro Gomide Alcântara
Sumário
APrESENTAÇÃo Do CurSo ............................................................. 11
1. NoÇÕES BáSiCAS DE DirEiTo ..................................................... 15
2. HiSTÓriA Do DirEiTo AmBiENTAL No BrASiL E ASCENSÃo 
HiSTÓriCA DoS DirEiToS FuNDAmENTAiS .................................... 25
2.1. CRISE ECOLÓGICA .......................................................................... 25
2.2. O MEIO AMBIENTE NO ÂMBITO DO DIREITO ..............................26
2.3. HISTÓRIA DO DIREITO AMBIENTAL NO BRASIL .........................28
2.4. EvOLuçãO HISTÓRICA DOS DIREITOS FuNDAMENTAIS .........34
3. o mEio AmBiENTE Como oBJETo Do DirEiTo ........................... 39
3.1. DIREITO AMBIENTAL ......................................................................39
4. oS PriNCÍPioS GErAiS Do DirEiTo AmBiENTAL ........................ 49
4.1. PARTE I ............................................................................................49
4.2. PARTE II ...........................................................................................62
5. FuNDAmENToS CoNSTiTuCioNAiS DA ProTEÇÃo AmBiENTAL 87
5.1. O MEIO AMBIENTE NA CONSTITuIçãO FEDERAL DE 1988 ........88
6. A GESTÃo AmBiENTAL E SEuS iNSTrumENToS ........................101
6.1. GESTãO AMBIENTAL NO BRASIL................................................ 101
6.2. METAS E OBJETIvOS DA POLÍTICA NACIONALDE MEIO 
AMBIENTE ............................................................................................ 108
rEFErÊNCiAS...................................................................................113
10 │
│ 11 
APrESENTAÇÃo Do CurSo
Leonardo Alejandro Gomide Alcântara
Prezado(a) aluno(a),
A disciplina “Fundamentos de Direito Ambiental” apresenta-se 
substancialmente importante para aqueles que pretendem exercer o 
difícil e nobre ofício da gestão ambiental. O conjunto de diretrizes e de 
atividades administrativas e operacionais que visam gerir a qualidade do 
ambiente deve ter como base e norte os preceitos legais e normativos 
ao longo das últimas décadas construídos no Estado Brasileiro e que 
passaram a permear amplamente o que se compreende como “questão 
ambiental”. Não apenas os que seguirão a parte específica de “Direito 
Ambiental” no presente curso de especialização, mas todos os demais 
alunos das distintas áreas que o compõem devem se debruçar sobre 
este estudo e buscar uma compreensão, tanto quanto possível, ampla 
e profunda, pois só a partir de um entendimento mínimo das diretrizes 
e parâmetros legais da tutela jurídico-ambiental poder-se-á atenuar o 
imenso descompasso existente entre os ideais preconizados pelo Direito 
Ambiental e a prática cotidiana da gestão ambiental na realidade social.
A presente disciplina de maneira alguma capacitará o aluno a atuar 
como operador do Direito Ambiental no âmbito das profissões jurídicas. 
Não é essa a intenção, mas oferecer um arcabouço teórico necessário 
e contextualizado para aqueles que lidam ou vão lidar com gestão do 
ambiente, em sentido amplo, na interpretação e compreensão dos 
dispositivos legais e normativos que regem as práticas sociais de uso, 
ocupação e apropriação dos elementos naturais. Conforme mencionado, 
atualmente o Direito Ambiental está capilarizado nas práticas sociais que 
lidam direta e indiretamente com o ambiente e seus atributos, ou seja, ele 
está amplamente disseminado nas múltiplas atividades que constituem 
a complexa sociedade contemporânea nas suas inter-relações com 
sua base material. Por sua vez, a prática da gestão ambiental não deve 
limitar-se ao entendimento da legislação ambiental desconectado das 
razões que elevam a qualidade ambiental a um direito fundamental no 
ordenamento jurídico e dos princípios sob a luz dos quais essa legislação 
deve ser interpretada e aplicada. É nesse sentido que a presente disciplina 
pretende caminhar: proporcionando subsídios para o entendimento do 
Leonardo Alejandro 
Gomide Alcântara
Professor do curso de 
Direito da Faculdade 
Metodista Granbery e do 
curso de Especialização 
de Análises Ambientais da 
UFJF. Graduado em Direito 
pela UFJF e Mestre em 
Direito e Sociologia pelo 
PPGSD/UFF
12 │
“direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”, contextualizado 
em sua construção histórica e ideológica e, auxiliar na interpretação do 
amplo conteúdo legislativo e normativo que tutela o meio ambiente.
Por ser uma disciplina introdutória não tem a pretensão de perpassar esse 
vasto conteúdo legislativo que regula as atividades humanas que afetam ou 
podem afetar a sanidade do ambiente. Diante da multiplicidade de diplomas 
legais, decretos, resoluções e deliberações normativas, tornar-se-ia inviável 
caminhar nessa direção. Isso será realizado nas disciplinas específicas do 
curso cabendo a esta disciplina contribuir com o manuseio e a compreensão 
da ampla legislação ambiental.Para tanto, a disciplina está subdividida em 
seis capítulos, a serem trabalhados semanalmente, compreendendo:
CAPÍTuLo 1   Noções Básicas de Direito
Neste tema, buscar-se-á elucidar algumas noções básicas e conceituais 
sobre o Direito. De maneira breve e incipiente pretende-se discutir: a 
universalidade do fenômeno jurídico e sua delimitação enquanto objeto 
do conhecimento, a conformação das normas no ordenamento jurídico 
e os conceitos fundamentais introdutórios do estudo do direito. Tal 
abordagem visa auxiliar aqueles que não possuem formação jurídica 
no entendimento básico sobre direito e sobre a operacionalidade das 
normas em um Estado Democrático de Direito.
CAPÍTuLo 2   História  do  Direito  Ambiental  no  Brasil  e 
Ascensão Histórica dos Direitos Fundamentais
Este tema, subdividido em dois momentos, tratará do escorço histórico 
da tutela jurídico-ambiental no Estado brasileiro, apresentando os 
seus marcos paradigmáticos através das principais legislações e sua 
consolidação no ordenamento jurídico pátrio atual. Num segundo 
momento será apresentada a evolução dos direitos fundamentais nas 
sociedades ocidentais, compreendendo três gerações, em que o direito 
ao meio ambiente se enquadra na terceira. Essa abordagem propicia uma 
visão panorâmica sobre a história dos direitos e, sobretudo, o caminhar 
histórico do direito ambiental.
CAPÍTuLo 3   O Meio Ambiente como Objeto do Direito
Aprofundando um pouco mais na técnica jurídica de defesa do meio 
ambiente, o presente tema esboça um conceito para Direito Ambiental, 
sua posição enciclopédica, nomenclatura, objeto imediato e objeto 
│ 13 
mediato da tutela jurídico-ambiental; a caracterização do direito ao 
meio ambiente ecologicamente equilibrado, a natureza jurídica dos bens 
ambientais, entre outros aspectos conceituais básicos.
CAPÍTuLo 4   Princípios Gerais do Direito Ambiental
Neste tópico serão tratados cerca de quatorze dos mais relevantesprincípios basilares do Direito Ambiental, que são o norte e o alicerce 
para a criação, interpretação e aplicação da legislação ambiental. uma 
compreensão cuidadosa dos princípios permite um entendimento 
mais contextualizado da legislação ambiental, além de orientar uma 
interpretação mais condizente com os fins da mesma. Nesse sentido, para 
uma operacionalização coerente da legislação ambiental é indispensável 
o conhecimento dos princípios sobre os quais esta se sustenta. Para este 
item, excetuando-se dos demais, serão dispensadas duas semanas de 
atividades.
CAPÍTuLo 5   Fundamentos  Constitucionais  da  Proteção 
Ambiental
O meio Ambiente atinge o topo do ordenamento jurídico pátrio como 
um direito fundamental da pessoa humana. O presente tema abordará 
brevemente o conteúdo normativo constitucional do meio ambiente na 
Constituição Federal de 1988, ressaltando o ápice da malha regulatória 
difusa na constituição, o artigo 225, núcleo principal da proteção do meio 
ambiente.
Capítulo 6    A Gestão Ambiental e seus Instrumentos:
Finalizando a trajetória do presente curso, apresentaremos a forma 
como se organiza e se articula a administração ambiental no Brasil, 
através do SISNAMA; e também como se estrutura a Política Nacional 
do Meio Ambiente, as suas metas, princípios e objetivos, bem como os 
instrumentos previstos para sua implementação.
Bom curso!
14 │
│ 15 
1. NoÇÕES BáSiCAS DE DirEiTo
 “O direito é um dos fenômenos mais notáveis da vida humana. 
Compreendê-lo é compreender uma parte de nós mesmos. É 
saber em parte por que obedecemos, por que mandamos, por que 
nos indignamos, por que aspiramos mudar em nome de ideais, 
por que em nome de ideais conservamos as coisas como estão. 
Ser livre é estar no direito e, no entanto, o direito também nos 
oprime e tira-nos a liberdade. Por isso compreender o direito não 
é um empreendimento que se reduz facilmente a conceituações 
lógicas e racionalmente sistematizadas. O encontro com o direito 
é diversificado, às vezes conflitivo e incoerente, às vezes linear 
e conseqüente. Estudar o direito é, assim, uma atividade difícil, 
que exige não só acuidade, inteligência, preparo, mas também 
encantamento, intuição, espontaneidade. Para compreende-lo, é 
preciso, pois, saber e amar. Só o homem que sabe pode ter-lhe o 
domínio. Mas só quem o ama é capaz de dominá-lo, rendendo-se a 
ele” (FERRAZ JR., 2008).
Ao iniciarmos o estudo do direito nos deparamos com um problema: 
o conceito de direito. Muitos estudiosos e filósofos já se debruçaram 
sobre a questão, formularam teorias e apontaram caminhos diversos. 
Não há um conceito capaz de explicitar todas as possíveis dimensões e 
significados que abrangem o termo direito e o fenômeno jurídico. Também 
seria arriscado estipular uma data histórica para o aparecimento desse 
fenômeno tão ligado à vida social e dela indissociável. Os estudiosos nos 
revelam que valorar/normatizar as condutas dos indivíduos na sociedade, 
estipular “certos” e “errados”, “pode” e “não pode”, estabelecendo uma 
determinada ordem para a manutenção do equilíbrio/estabilidade da 
sociedade e dando-lhe direção, é parte constitutiva da vida social humana.
Prescrever condutas, vinculando e estabelecendo obrigações de forma 
objetiva, criando os laços de solidariedade, respeito e hierarquização 
entre os membros da sociedade compreende o fenômeno moral dos seres 
humanos. Mas da mesma forma compreende, também, o fenômeno 
jurídico. Assume-se, atualmente, diante do gradativo aumento de 
complexidade das sociedades humanas, que esses fenômenos tão 
intimamente conectados se reproduzem por diferentes linguagens na 
realidade social, distinguindo-se. Como essa é uma discussão profunda, 
esquivo-me de navegar por esse oceano, bastando-nos aqui entender 
como o direito é compreendido no âmbito das profissões jurídicas:
16 │
 o direito como um instrumento de poder, um fenômeno decisório;
 a ciência jurídica como uma tecnologia, um conhecimento aplicado.
A tradição que perdura no ensino jurídico é a do positivismo jurídico. 
Este vai entender o direito como normas postas, não advindas 
metafisicamente da absorção de um direito pré-existente na natureza ou 
na vontade divina (como no direito natural), mas a partir da vontade de 
uma comunidade politicamente organizada, designada como “Estado”. 
um Estado se constitui por três elementos fundamentais: o território 
(espaço geográfico), a associação de pessoas (povo e população) e o 
governo soberano (poder e atoridade decisória dentro do território).
O Estado, como organização política, é regido por uma ordem coercitiva, 
que o estabelece e regula o uso da força que, por sua vez, é por ele 
monopolizada (o Estado detém o monopólio da “ordem coercitiva”). Essa 
ordem coercitiva é o direito. Este é criado e anulado por atos de seres 
humanos, resultando daí sua positividade. Por essa perspectiva o direito 
pode ser pensado partindo de sua própria referência (auto-referenciado), 
ou seja, para pensar o direito não é necessário submeter a reflexão à 
política, à moral, à economia, à psicologia, à antropologia ou à religião, 
a instância de reflexão do direito parte do próprio direito, criando uma 
“ciência pura do direito”. Apesar de desconectar o direito da realidade 
social e tratá-lo sob um matiz essencialmente tecnicista e acrítico, uma 
vez que trabalha num plano hermético em que outros conhecimentos 
científicos e os valores sociais lhes são alheios, essa é a forma como o 
direito é mais amplamente trabalhado, ensinado e reproduzido na 
sociedade atual.
Dentro dessa perspectiva nos é possível estabelecer uma conceituação 
básica para o direito como: Conjunto de regras obrigatórias (normas 
jurídicas) que disciplinam a convivência social humana. A ênfase é dada 
para o sistema de regras e, nesse sentido, estudar o direito significa 
estudar as regras jurídicas que vigoram em dada sociedade estatal. 
Obviamente essa é uma perspectiva convencionada (traduz as regras e 
valores de um dado grupo ou estandarte profissional em determinado 
tempo) que vem sofrendo fortes críticas por reduzir o direito às normas 
existentes empiricamente, passíveis de múltiplas interpretações, mas 
apartada da ideia de justiça, transcendental e atrelada aos valores 
sociais (morais).
│ 17 
Hoje, dada a insuficiência desse modelo, gradativamente busca-se 
entender o direito no seu contexto social aproximando-o da realidade 
e dos anseios sociais de justiça. Dentro desse viés o direito não estaria 
restrito apenas às normas jurídicas e instrumentos de decidibilidade de 
conflitos sociais, mas também aos ideais de justiça, de reforma social, de 
direitos não positivados, não estatais etc.
De forma simplificada poderíamos pensar o direito sob três perspectivas:
a. Conjunto de normas:  as regras existentes e garantidas pelo 
poder de coerção do Estado, hierarquicamente estabelecidas, 
que visam promover a estabilidade do sistema social, 
preservando a paz e o convívio em sociedade.
b. Faculdade:  o que é atribuído a cada um, ou seja, o que 
pertence ou pode pertencer a um indivíduo da sociedade ou a 
uma coletividade, ou o que lhes é devido, ou ainda o que lhes 
incumbe ou lhes é dever. P. ex., “Todos têm direito ao meio 
ambiente ecologicamente equilibrado”, se alguém causa um 
desequilíbrio no meio ambiente (a contaminação de um rio por 
exemplo), estaria interferindo no que se compreende como 
direito (faculdade) de todos, ultrapassando o seu “direito” e 
atingindo o dos outros, ensejando uma devida reparação do 
dano causado (descontaminação e indenização).
c. Forma  de  controle  social:  o direito traduz uma forma de 
estabilizar o comportamento dos membros da sociedade 
visando preservar seus bens e valores morais mais caros, 
mediante coação. P. ex. se alguém infringe uma lei (atinge um 
bem juridicamente tutelado) o Estado pode lhe imputar uma 
sanção (mediante o devido processo legal).
Oestudo do direito, dentro do paradigma dominante, guarda algumas 
peculiaridades que merecem ser ressaltadas. A Ciência Jurídica não 
apenas informa, descrevendo seu objeto, mas também conforma o 
fenômeno que estuda, isto é, diferente de uma ciência como a física, 
p. ex., que busca descrever o fenômeno estudado se aproximando o 
máximo possível do que ele é (o ser), a ciência jurídica busca conformar 
18 │
Significa que uma conduta transgressora da norma pode sofrer 
coerção, ou seja, uso da força ou repressão. Conforme visto, 
essa força (coerção) é monopolizada pelo Estado, existindo 
potencialmente, mas podendo concretizar-se a partir de alguma 
sanção (punição), aplicada ao transgressor do preceito normativo 
através da reação punitiva do Estado.
o seu objeto de acordo com o que ele deveria ser (o dever-ser). Ou seja, 
a ciência jurídica se preocupa em orientar a ação e possibilitar decisões, 
tem uma função diretiva explícita. Por isso, dentro dessa perspectiva, a 
ciência jurídica é percebida como uma ciência dogmática, e o conjunto 
sistemático do conhecimento do direito produzido pelos juristas não 
é designado como “teorias”, mas “doutrinas” (o que deve ser seguido 
assumindo-se como verdade para orientar a ação e a decisão).
A dogmática jurídica rege-se pelo princípio da proibição da negação, 
parte da inegabilidade de seus pontos de partida. Isso significa que ao 
estudar uma norma vigente e válida no ordenamento, o direito a toma 
como correta e estuda como esta deve ser aplicada, interpretada ou 
suportada na realidade social, se a mesma não confronta com outras 
normas ou se está de acordo com as hierarquicamente superiores etc. 
Mas não se preocupa com o que há por trás dessa norma, qual grupo de 
interesses ela representa, se ela atende aos anseios sociais, se ela deveria 
ou não compor o ordenamento etc. Ou seja, a dogmática jurídica procura 
compreender o direito e aplicá-lo dentro dos marcos da ordem vigente que 
são tomados como dado (não passível de questionamento), estudando 
o direito posto e dado previamente, como um conjunto compacto de 
normas, instituições e decisões que lhe compete interpretar, sistematizar 
e direcionar tendo em vista a solução de conflitos sociais.
Pode-se estabelecer três subdivisões:
i. Teoria da Norma (dogmática analítica)
ii. Hermenêutica Jurídica (dogmática da interpretação)
iii. Teoria da Argumentação Jurídica (dogmática da decisão).
 Conforme se pode perceber, o ponto de partida para o estudo do direito 
é a norma e, é esse ponto de partida que mais nos interessa agora. 
Portanto, devemos compreender as características fundamentais de 
CoerCibilidade 
1ª 
│ 19 
A norma jurídica é imperativa e não uma recomendação, impõe o 
cumprimento de um dever. Por sua vez é atribuitiva por possibilitar 
o direito de se exigir o cumprimento do dever imposto pela norma.
Apesar de figurar mais no plano teórico, o conteúdo da norma 
jurídica deve ter como finalidade estabelecer a justiça. O princípio 
básico e o problema central do direito é a justiça, onde podemos 
distinguir uma norma legítima de uma arbitrária. E a questão da 
justiça envolve distintas perspectivas e formulações como “dar a 
cada um o que é seu”, “agir entre o excesso e a falta”, “tratar 
igualmente os iguais e desigualmente os desiguais”, trabalhando 
sempre idéias como: igualdade, proporcionalidade, equidade, 
equilíbrio, solidariedade entre outras (o que pode ser percebido 
nos símbolos do direito como a balança, a estátua com olhos 
vendados etc.).
uma norma jurídica:
Outro ponto que merece destaque no estudo tradicional do direito são as 
suas fontes, onde podemos destacar cinco:
1ªa lei 
A lei é a principal fonte formal do direito, é uma norma (prescrição) ou 
conjunto de normas jurídicas revestida estruturalmente na forma de 
lei. Geralmente escrita, a lei é emanada do Poder Legislativo (através 
do processo legislativo) e inserida no ordenamento jurídico a partir de 
sua promulgação e publicação (lei sancionada). A lei distingue-se dos 
decretos, portarias, deliberações normativas e, além de seu processo 
oficial e solene, ela assume uma posição hierárquica diferenciada no 
ordenamento. Os decretos, as deliberações normativas, portarias e 
outros são atos do Poder Executivo e são hierarquicamente inferiores 
com relação às leis (que seriam supostamente expressão da vontade do 
povo reproduzida pelos seus representantes parlamentares). Decretos, 
instruções servem para regulamentar as leis, em geral muito amplas e 
SiStema imperativo 
e atributivo 
2ª 
3ª 
promoção da JuStiça
20 │
abstratas, incapazes de aplicação sem maiores detalhamentos técnicos. 
A regulamentação, uma espécie de “detalhamento”, aproxima mais a lei 
de caráter “geral e universal” da realidade. Então, as normas infra-legais, 
apesar de possuírem força de lei (são imperativas), não devem contrariar 
e nem ultrapassar o que diz a lei, não devem acrescentar conteúdos 
prescritivos que não se deduzem do desdobramento lógico de sua 
regulamentação/especificação.
Para o conjunto de leis vigentes num ordenamento designamos o 
termo “legislação”. A soma das legislações, códigos, consolidações, 
compilações, demais prescrições legais e infra-legais, formam o “sistema 
jurídico”, que, por sua vez, é designado como “ordenamento jurídico”.
O ordenamento jurídico é organizado por uma hierarquização de normas 
que estabelecem uma relação silogística entre si (coerencial ou lógica), uma 
vez que uma norma inferior deve estar conformada (não pode apresentar 
contradições) com a imediatamente superior e essa com a sua ascendente, 
assim por diante, até chegar ao topo do ordenamento, na norma mais alta 
desta escala hierárquica, onde (supostamente) todas as normas seriam 
derivadas. Essa ideia de uma norma pressuposta onde todas derivam é 
designada como “norma fundamental” no modelo do austríaco Hans Kelsen.
Esse modelo, que assume um aspecto de pirâmide de normas, é o que 
possibilita a interpretação do direito como originado do próprio direito 
(auto-referenciado), independente da moral, da política, economia etc. 
Esse modelo pode ser interpretado na nossa realidade substituindo a 
“norma fundamental” pela “Constituição Federal” como norma mais alta do 
ordenamento, onde todas as demais devem obediência e seriam derivadas.
Observe o esquema abaixo:
NORMAS SECUNDÁRIAS
(RELAÇÕES SILOGÍSTICAS COM A NORMA PRESSUPOSTA) 
DEMAIS NORMAS
(BASE DA PIRÂMIDE – NORMAS HIERARQUICAMENTE INFERIORES)
NORMA FUNDAMENTAL
Figura 1
Pirâmide - Modelo de 
Hans Kelsen.
│ 21 
De forma simplificada, poderíamos compreender nosso ordenamento 
jurídico pátrio a partir desse esquema. No topo da pirâmide encontrar-
se-ia a Constituição Federal, as imediatamente subsequentes poderiam 
ser as Leis Complementares, depois as Leis Ordinárias, decretos-lei etc. A 
partir desse esquema é possível entender a importância da constituição e 
do seu conhecimento para entender o direito.
Poderíamos entender a constituição como: “a lei fundamental de um 
país, que contém normas respeitantes à organização básica do Estado, ao 
reconhecimento e à garantia dos direitos fundamentais do ser humano 
e do cidadão, às formas, aos limites e às competências do exercício do 
poder público (legislar, julgar, governar)” (FERRAZ Jr., 2008).
No nosso país a constituição cria um Estado Democrático de Direito, isso 
significa dizer que o regime político sob o qual vivemos é democrático, o 
poder é emanado do povo que o exerce através de seus representantes 
ou diretamente. E, por sua vez, o Estado é de Direito pois tem seu poder 
autolimitado pela lei, que imperam tanto para os indivíduos quanto para 
o próprio Estado, que só pode agir de acordo com as leis.
2ªo CoStume 
Costume é a norma jurídica que não faz parte da legislação, pois é 
espontaneamente criado pela sociedade. Assume um caráter alternativo 
e suplementar, sendo aplicado quando a lei é omissa ou lacunosa (ondea 
lei falta ou na falta da lei). É também utilizado em casos expressamente 
previstos, autorizado pela própria lei, mas não pode ser aplicado se a 
contraria.
3ªa JuriSprudênCia 
São as decisões judiciais reiteradamente tomadas pelos juízes, sobre 
questões específicas. Esse conjunto de decisões (julgados), são soluções 
adotadas para determinados assuntos e litígios, ou seja, casos jurídicos 
semelhantes. Essas decisões tomadas por certos tribunais/fóruns/juízes, 
a jurisprudência, vão funcionar como marcos/posições/parâmetros do 
judiciário sobre determinados assuntos, sobre como uma lei deve ser 
22 │
interpretada, como um determinado caso deve ser resolvido etc. Essas 
posições tendem a ser repetidas pelos outros tribunais consagrando um 
entendimento sobre o direito e sobre as leis a partir da sua conexão com 
a realidade, no momento em que a lei é aplicada. No curso do tempo esse 
entendimento varia tornando o direito mais apto à dinâmica social, ou 
seja, às mudanças de valores, costumes, necessidades etc.
As decisões proferidas pelos tribunais superiores formam o que se 
denominam “Súmulas”. Hoje, no Brasil, adota-se a súmula vinculante, 
isto é, essas decisões tomadas pelos tribunais superiores sobre certos 
assuntos, devem ser seguidas pelos tribunais inferiores quando tratarem 
do mesmo assunto. Isso inviabiliza certos recursos e torna o processo 
mais célere e homogêneo.
4ªtratadoS e ConvençõeS internaCionaiS 
Os tratados são acordos bilaterais ou multilaterais entre estados 
soberanos, que versam sobre assuntos variados e que, quando aprovados 
no âmbito interno, adquirem status legal.
Os tratados possuem influência significativa na construção do Direito 
Ambiental no Brasil. Muito da legislação ambiental aqui existente teve 
como influência direta os grandes tratados e convenções sobre meio 
ambiente. Mas não apenas no Direito Ambiental como em vários outros 
ramos do direito os tratados foram, por assim dizer, uma forte fonte de 
inspiração.
5ªprinCípioS GeraiS do direito 
Princípios no direito podem ser compreendidos como orientações mais 
gerais e abstratas, mais carentes de interpretação e contextualização 
do que as normas ordinárias. Os princípios não possuem um conteúdo 
mandatário bem definido, podendo ser evocados para orientar posições 
jurídicas em diversas situações. Ou também, podemos compreendê-los 
como meta-norma, algo que está num plano de abstração mais elevado 
servindo como base para a interpretação e fundamentação das normas 
ou para a fundamentação do raciocínio jurídico na aplicação das normas, 
│ 23 
visando à justiça. São as proposições básicas e fundamentais que vão 
condicionar todas as proposições subsequentes, ou seja, algo de basilar, 
o alicerce, o ponto de partida para compreender e aplicar o direito de 
acordo com os anseios sociais de cada momento histórico.
 ConCluSão 
Conforme podemos perceber o Direito está amplamente presente nas 
nossas vidas, regendo a sociedade e os indivíduos em suas relações mais 
importantes. Diariamente estabelecemos relações jurídicas variadas, ora 
assumimos papel de credores, ora de devedores, ora adquirimos direitos, 
ora contraímos obrigações. Assinamos contratos, compramos objetos, 
prestamos serviços, mas também constituímos direitos que deles não 
necessariamente decorrem deveres, e isso pelo simples fato de sermos 
seres humanos.
Partindo de uma perspectiva crítica, é factível entender que o direito 
representa uma ideologia na sua prática social, por exemplo, os ideais do 
liberalismo político de um Estado capitalista. Numa vertente marxista essa 
ideologia nada mais seria do que a vontade dos dominantes, uma ideologia 
hegemônica. Se observássemos a realidade de nosso sistema prisional, p. 
ex., isso se quedaria patente. Conforme Charles Booth, todas as classes 
sociais cometem transgressões às leis com seus crimes próprios. Muitas 
vezes os crimes cometidos pelas classes mais altas são significativamente 
mais ofensivos e danosos à sociedade do que aqueles cometidos pelas 
classes mais baixas (por exemplo a corrupção praticada por empresários 
e políticos). Entretanto o que se observa superlotando os sistemas 
prisionais são os mais pobres e as minorias raciais e étnicas, enquanto os 
mais abastados são recorrentemente saudados pela impunidade. Ou seja, 
a lei é flexibilizada para uns e endurecida para outros.
Entretanto, apesar dessa gritante injustiça, entre muitas outras, o 
direito em muito vem contribuindo para reformar a realidade social: 
principalmente a partir do momento em que grupos desfavorecidos 
aprendem a “falar” essa linguagem e se empreendem na defesa de seus 
direitos. Daí a imensa importância de se conhecer o direito, conhecer 
como este opera e os meios educacionais que propiciam sua operação, 
pois o direito tradicionalmente foi afastado daqueles que lhes são 
24 │
mais afetos: o povo. Na realidade contemporânea, de uma sociedade 
complexa, multicultural e pluralista, uma multiplicidade de atores 
sociais ganham voz e inserem novas perspectivas ideológicas com novos 
valores na realidade social, obrigando o direito a conformar-se com 
novos anseios e a reformar seu tradicionalismo excludente, muitas vezes 
criando antagonismos dentro do próprio direito. Nesse sentido valores 
consagrados podem dar lugar a novos valores, mais condizentes com as 
construções éticas da sociedade, escancarando o fenômeno complexo 
e dinâmico que é o direito por meio do qual, muito mais do que as 
leis, demandas sociais (às vezes contrárias as próprias leis) podem ser 
concebidas como legítimo direito.
│ 25 
2. HiSTÓriA Do DirEiTo AmBiENTAL 
No BrASiL E ASCENSÃo HiSTÓriCA 
DoS DirEiToS FuNDAmENTAiS
2.1. CriSE ECoLÓGiCA
Os problemas ambientais não são exatamente problemas recentes. 
Problemas de saneamento, esgotamento de recursos, doenças, 
poluição, extinção de espécies etc. acompanham a humanidade desde 
os tempos mais remotos. Mas a forma de perceber esses problemas, 
caracterizando-os como “ambientais”, pode-se afirmar, é algo novo. 
Seja como a construção social de um novo conceito, seja como uma 
nova forma de perceber problemas sociais advinda da soma de novos 
conhecimentos como os das ciências ecológicas, possibilitando um 
novo entendimento, uma nova percepção, as questões compreendidas 
como ambientais ganharam espaço significativo nas agendas e debates 
públicos. Empreitadas e reproduzidas sob múltiplos enfoques, essas 
questões vêm permeando os diversos campos das atividades humanas. 
Elas se capilarizam nos diversos sistemas sociais, atingindo as construções 
éticas, educacionais, políticas, jurídicas, econômicas, entre outras, 
proporcionando uma nova leitura para antigos e recentes problemas das 
sociedades, agora compreendidos como “ambientais”.
É factível afirmar que com a Revolução Industrial a forma de consumir 
os elementos naturais se intensificou drasticamente. O modelo de 
apropriação desses elementos passou a ser extremamente impactante, 
gradativamente crescente após o século XvIII. Com esse novo modelo, além 
dos seus muitos benefícios, foram percebidos significativos malefícios. 
A degradação trouxe inúmeras e sensíveis perturbações disseminadas 
por interações ecossistêmicas (poluição atmosférica, contaminação das 
águas, mortandade de animais, doenças, esgotamento dos solos etc.). 
Essas perturbações, quando percebidas pelas sociedades, geraram, além 
dos problemas imediatos, insegurança com relação à continuidade de seus 
meios de vida e a “denúncia” dos problemas vivenciados.
Quando aqueles que identificavam nos modos de desenvolvimento usuais 
e no modelo hegemônico problemas sérios para o futuro se organizaram, 
26 │
além dos diretamente afetados por problemas ambientais, uma série de 
construções discursivas em torno da questão começou a se proliferar, 
principalmente no final da década de 1950. Movimentos de cunho 
reivindicatórios, muitas vezesde caráter concomitantemente político e 
acadêmico, começaram a emergir, como a Ecologia Política, principalmente 
entre as décadas de 1960 e 1970. Tais movimentos, muitas vezes encampados 
por aqueles que se faziam ouvir (políticos, poderosos, instituições etc.), 
passaram a inserir a questão “ecológica” nas pautas e agendas políticas dos 
países, obrigando posicionamentos e ações acerca dessas questões.
Sustentados por argumentos e projeções científicas alarmantes 
sobre o futuro do planeta, os defensores de mudanças nas formas de 
lidar com a natureza, mudanças na forma de produção da sociedade, 
gradativamente foram ganhando mais voz e influência nos marcos 
políticos da sociedade. Em 1972, por proposição da Suécia, foi 
organizada a primeira grande conferência internacional para discutir 
os principais problemas ambientais do planeta. Esta ficou conhecida 
como Conferência das Nações unidas Sobre Meio Ambiente Humano. 
Ainda incipiente, a conferência focava especialmente a pressão do 
crescimento demográfico sobre os recursos naturais, principalmente 
nos países pobres. Apesar disso, a conferência foi o principal marco para 
o direito ambiental internacional e também para o Brasil.
Desde sua origem e principalmente nos dias atuais, a ideia de crise 
ambiental se reproduz por um matiz catastrofista, apocalíptico e 
essencialmente diversificado. Não há que se falar em uma ideia de 
crise ambiental única, consensual e que pressuponha uma adesão 
de toda a sociedade para uma nova consciência. Pelo contrário, são 
muitos os modelos discursivos sobre a questão, com muitas propostas 
diferenciadas para a “solução” do problema, às vezes contraditórias 
ou mesmo antagônicas. A questão ambiental, antes de tudo, é uma 
questão conflituosa.
2.2. o mEio AmBiENTE No ÂmBiTo Do DirEiTo
A partir do momento em que se compreende, dentro do avanço cultural 
da sociedade, o meio ambiente e seus atributos como essenciais para 
o desenvolvimento da vida e da sociedade, atribuindo-lhe um valor 
│ 27 
significativo, fundamental, indissociável do bem-estar social, o direito 
passa a exercer um importante papel na tutela desse valor tão caro à 
sociedade. O meio ambiente, visto como base material e simbólica das 
sociedades, pressupõe que: como base material é fonte dos elementos 
primários de subsistência da sociedade, de onde ela retira aquilo que lhe 
possibilita subsistir. P. ex.: água, solos, ar, recursos minerais, recursos 
vivos etc. Como base simbólica significa dizer que as construções 
valorativas e as atribuições de significados socialmente construídos 
são diretamente influenciados pelos elementos e condições do meio, 
seja ele natural, artificial ou cultural. Percebida essa real importância 
do meio ambiente para a sociedade, percebe-se também uma real 
necessidade de cuidados e de acesso equitativo desses elementos que 
compõem o mesmo, visto que dizem respeito a todos os membros da 
sociedade, ou melhor, podem afetar a todos, direta ou indiretamente, 
nas formas de seu uso, apropriação ou ocupação. É nesse sentido que o 
Direito Ambiental vai atuar: na proteção desse bem de valor inestimável 
para a sociedade e na regulamentação das formas de sua utilização, 
compreendendo que esse é um bem que diz respeito a todos os membros 
de uma comunidade.
Podemos apontar como principais questões enfrentadas pelo Direito 
Ambiental nos dias atuais:
i. Desproporcionalidade nas formas de uso e apropriação dos 
elementos naturais e ocupação dos territórios. Percebe-se uma 
real injustiça no que tange ao acesso aos recursos naturais e na 
distribuição dos benefícios e dos ônus da degradação ambiental;
ii. Práticas predatórias por parte de países, empresas e poderosos. 
O modelo de desenvolvimento vigente ainda prevalece com 
os valores do laissez faire e do laissez passer do liberalismo 
econômico clássico, não assimilando muito bem as limitações 
impostas pela escassez e finitude de recursos, necessidade de 
melhor distribuição e inviabilidade do desenvolvimento infinito 
pelo modelo hegemônico (insustentável);
iii. Comprometimento das condições de vida de grupos humanos. 
Muitos grupos humanos perderam seus meios de vida e 
sua relação com seu território devido a práticas predatórias 
28 │
desenvolvidas pelo modelo produtivo hegemônico. Podemos 
pensar um exemplo nesse sentido: se temos uma comunidade 
de pescadores ribeirinhos e uma empresa se instala à montante 
do rio lançando seus dejetos tóxicos diretamente sobre o rio, 
causando a morte dos seus peixes, o meio de vida daquela 
comunidade se perde, obrigando-a a novas adaptações. O 
exemplo não é algo raro de acontecer, apesar de muito ruim do 
ponto de vista ético. Mas não apenas isso, atualmente se assiste 
a verdadeiros “refugiados ambientais” devido ao aquecimento 
global, ao aumento do nível dos oceanos, às desertificações, 
aos conflitos ambientais etc.
Para enfrentar esses e outros problemas relacionados à degradação 
e utilização “irracional” do meio ambiente, o Direito Ambiental se 
desenvolve, principalmente após a Conferência sobre Meio Ambiente 
Humano das Nações unidas de 1972, com uma crescente normatização 
e regulamentação das práticas que afetam ou podem potencialmente 
afetar a qualidade do meio ambiente. Foram criados e implementados 
uma série de instrumentos jurídicos de defesa da qualidade ambiental, 
principalmente de comando (estabelecendo como as práticas 
potencialmente degradadoras podem ser realizadas) e controle 
(estabelecendo e fiscalizando parâmetros de controle e tolerância da 
poluição/degradação).
2.3. HiSTÓriA Do DirEiTo AmBiENTAL No BrASiL
Leis, decretos e outras normatizações tutelares dos recursos naturais 
não são recentes no direito brasileiro. A consideração do meio ambiente 
como bem específico a ser tutelado pelo direito é que se afirma 
como fenômeno recente. Desde o Brasil colônia podemos perceber 
normatizações portuguesas que vigoravam na até então colônia 
brasileira, coibindo corte de árvores frutíferas, modalidades de caça e 
até mesmo lançamento de materiais que pudessem matar os peixes em 
cursos d’água, antecipando uma ideia de poluição até então inexistente. 
As punições eram variadas, desde o açoite, ao exílio definitivo para o 
Brasil, até mesmo a pena capital em determinados casos. Há autores que 
afirmam que as “Ordenações do Reino” tiveram reflexos na preservação 
da Mata Atlântica, principalmente pela diversidade de suas árvores 
“Onde há fortes e 
fracos, a liberdade 
escraviza, a lei é que 
liberta”
Goffredo Telles Jr.
│ 29 
frutíferas, considerando, também, que a mesma vai sofrer uma redução 
mais drástica a partir da emancipação do país.
No Brasil pré-republicano também eram percebidos dispositivos legais 
variados que, de forma incipiente, tutelavam elementos do meio 
ambiente natural. Havia preocupações que já acompanhavam o Brasil 
colônia: como a redução drástica do pau-brasil, o corte de outras árvores 
para o contrabando de madeira, a preservação do solo etc. Ocorre que 
existia um grande descompasso entre os dizeres legais e a realidade 
das monoculturas, da extração de madeira, da depredação do solo 
pátrio e suas riquezas já denunciada por José Bonifácio de Andrade Silva 
(MILARÈ, 2008, p.742).
É plausível dizer que o brasileiro nunca despendeu grande atenção para 
sua terra e historicamente não cultivou um interesse nacional e um 
amor pelo seu solo. Se observarmos a forma como se desenvolveram 
os grandes ciclos agrícolas no país, perceberemos verdadeiras “odes ao 
desperdício”. Tanto para a cana quanto para o café (em distintas épocas) 
grandes extensões de terra eram plantadas, depois de ser devastada 
a cobertura florestal deixando um solo superficialmente fértil, que era 
utilizado até o esgotamento. Depois, novas áreas eram devastadas e 
plantadas, utilizadas até o esgotamento e assim por diante, deixando 
para trás um “mar” de terras com pouca ou nenhumaprodutividade 
e selando o destino de uma das áreas com maior biodiversidade do 
mundo, a Mata Atlântica. E o mais interessante, a riqueza percebida 
com tanta destruição nunca foi partilhada pelo povo brasileiro, mas 
concentrada pelas elites que, muitas vezes, a remetia para o exterior. 
O que vem ocorrendo com a soja na Amazônia não é muito diferente 
do que ocorreu com a cana e com o café em outros tempos, ou seja, 
novas fronteiras agrícolas são abertas, deixando solo degradado para 
trás, como se houvesse sempre novas áreas para serem devastadas, sem 
a preocupação com a recuperação do solo já exaurido, rotatividade de 
culturas etc. Mais uma vez a história se repete demonstrando a relação 
do brasileiro com seu solo e com suas riquezas naturais. Conforme 
salienta Edis Milaré (2008, p.744), “nossa história, infelizmente, é de 
uma depredação ambiental impune”.
São exemplos de legislações que vigoravam no Brasil colônia e pré-
republicano:
30 │
1. Ordenações afOnsinas
corte de árvore frutífera como injúria ao rei;
2. Ordenações Manuelinas
Coibia a caça de certos animais com instrumentos capazes de 
lhes infringir dor e sofrimento e mantém tipificado corte de árvore 
frutífera (degredo);
3. Ordenações filipinas
Proibia poluição de águas (lançar materiais que matassem 
peixes), mantinha tipificada corte de árvore frutífera e punia com 
degredo definitivo quem matasse animais “por malícia”.
1. regiMentOs dO pau-brasil e cOrte de árvOres frutíferas;
2. códigO criMinal de 1830
Novas penalizações como corte ilegal de madeira, uso inadequado 
do solo etc.;
3. lei 601, de 18 de seteMbrO de 1850
Uso do solo.
ordenaçõeS 
do reino
braSil
pré-republiCano
No Brasil republicano, podemos destacar como legislação que 
tangenciava a proteção dos elementos naturais o Código Civil de 1916, 
principalmente no que tange a composição de conflitos de vizinhança. 
Posteriormente, nas décadas subsequentes, começam a proliferar 
normatizações tutelares de elementos naturais e segmentos afins ao que 
hoje designamos como temática ambiental, como saúde, saneamento, 
poluição, mineração, caça etc. Alguns destes diplomas, principalmente 
na década de sessenta, foram marcos significativos na racionalização 
do uso dos elementos naturais, alguns, ressalvada as modificações 
posteriores, vigem até hoje, como o Código Florestal.
Com a emergência dos movimentos ecológicos, com o avanço da 
industrialização predatória e com a percepção da degradação ambiental 
em escala planetária, no final da década de sessenta, por proposição 
da Suécia à ONu, é organizada uma conferência internacional para 
│ 31 
discutir os principais problemas ambientais. No ano de 1972, em junho, 
ocorre na cidade de Estocolmo a “Conferência das Nações unidas Sobre 
Meio Ambiente Humano”, com participação de 250 organizações não 
governamentais e 113 países. Com a conferência foi criado o PNuMA 
(Programa das Nações unidas para o Meio Ambiente) e promulgada uma 
declaração (Declaração de Estocolmo) com 26 princípios destinados ao 
direcionamento, comportamento e responsabilidades dos Estados em 
relação às questões ambientais.
O nacionalismo e a intransigência em priorizar o crescimento econômico 
dos países em desenvolvimento ocasionaram no apontamento do Brasil 
como liderança negativa dos países subdesenvolvidos. O Ministro Costa 
Cavalcanti em seu relatório traduz quais deveriam ser as prioridades 
na visão oficial do governo brasileiro, dizendo que deveria haver uma 
posição de equilíbrio em que não se ignorasse os problemas ambientais, 
nem que lhes fosse dada atenção excessiva, defendendo as prioridades 
de industrialização, crescimento, exploração dos recursos naturais, com a 
tradicional política econômica de que “primeiro é necessário fazer crescer o 
bolo para depois reparti-lo”. Acusava ainda que as situações que podiam ser 
consideradas problemas ambientais típicos estavam quase exclusivamente 
nos países desenvolvidos e associados a determinadas condições de 
industrialização. Nesse sentido era proposto também pela nação brasileira 
que a Conferência deveria ser essencialmente conceitual, sem possibilidade 
de endossos formais às convenções, o que de fato não ocorreu, visto a 
edição da Declaração de Estocolmo de 1972 (RIBEIRO, 2006).
Apesar de “não ver com bons olhos” os princípios propostos em 
Estocolmo, o Brasil, em resposta às críticas internacionais, edita o 
Decreto 73.030 de 1973, criando a Secretaria Especial do Meio Ambiente 
– SEMA, no âmbito do Ministério do Interior, com o objetivo de gerir 
os recursos naturais do país de forma racional e controlar a poluição. 
Ainda na década de setenta, outras normatizações foram editadas como 
parcelamento do solo urbano, controle de poluição, criação de áreas 
especiais e turísticas etc. Entretanto, o meio ambiente ainda era tratado 
de forma diluída, casual e esparsa, somente para atender as necessidades 
de exploração pelo homem ou, mediante ação do indivíduo ou empresa 
imediatamente atingido, controlar poluição ou degradação. Não havia 
ainda uma conceituação legal de meio ambiente, existiam legislações 
que tratavam de florestas, águas, minerais, caça, pesca, solos, poluição, 
32 │
saúde entre outros, mas sem estabelecer uma relação direta entre estes 
componentes do que hoje se entende por “meio ambiente”, não havia 
uma sistematização, uma visão holística, apenas fragmentada.
São exemplos de legislações que vigoraram nestes períodos:
códigO civil de 1916
Composição dos conflitos de vizinhança.
legislaçãO tutelar dO MeiO aMbiente
1. Dec. 16.300 de 1923 – Regulamento do Departamento de 
Saúde Pública;
2. Dec. 24.643 de 1934 – Código de Águas;
3. Dec.-lei 794 de 1938 – Código de Pesca;
4. Lei 4.504 de 1964 – Estatuto da Terra;
5. Lei 4.771 de 1965 – Código Florestal;
6. Lei 5.197 de 1967 – Código de Caça;
7. Dec.-lei 303 de 1967 – Conselho Nacional de Controle da 
Poluição Ambiental.
1. criaçãO da seMa
Secretaria Especial do Meio Ambiente (Dec. 73.030 de 1973);
2. lei 6.151 de 1974
Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento;
3. dec.-lei 1.413 de 1975
Controle da poluição industrial;
4. lei 6.453 de 1977
Responsabilidade por danos nucleares;
5. lei 6.766 de 1979
Parcelamento do solo urbano;
6. leis ainda esparsas,
o meio ambiente é tratado de forma diluída e casual, somente 
para atender a exploração pelo homem.
leGiSlação anteS 
da ConferênCia de 
eStoColmo
leGiSlação póS 
ConferênCia de 
eStoColmo
│ 33 
Na década de oitenta é que houve uma verdadeira mudança de 
paradigma, por assim dizer, quando o meio ambiente passou a ser 
tratado dentro do que se compreende atualmente. Precisamente, a 
partir da promulgação da Política Nacional de Meio Ambiente, Lei 6.938, 
de 31 de Agosto de 1981 (PNMA). Posteriormente a PNMA, uma série de 
diplomas legais são promulgados ratificando a mudança de tratamento 
com relação ao meio ambiente que passa a ser um bem específico de 
tutela jurídica. A proteção do ambiente deixa de ser depositada na ação 
do indivíduo que se sentisse incomodado com atitudes lesivas e passa a 
ser responsabilidade do Estado garantir a sanidade do meio e controlar 
práticas poluidoras/degradadoras. Proliferam diplomas legais voltados 
para a proteção do patrimônio ambiental partindo de uma visão mais 
global e sistêmica, o Meio Ambiente passa a ser visto como um todo, 
como uma teia complexa de inter-relações e interações. Dentre outras 
inovações merece destaque a percepção de Meio Ambiente como bem 
de uso comum do povo e a consolidação da ideia de direitos difusos e 
do Meio Ambiente como Direito Fundamental, o que será tratado no 
próximo item.
 Quatro marCoS da mudança paradiGmátiCa 
pOlítica naciOnal dO MeiO aMbiente
a. Conceito de meio ambiente como objeto específico de proteção,
b. institui o Sistema Nacional de Meio Ambiente
c. designa responsabilidade objetiva para o degradador.
Link: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/L6938.HTM
açãO civilpública
a. Cria um instrumento processual específico para a defesa do 
meio ambiente
b. consagra os direitos difusos e coletivos
c. as associações civis ganham legitimidade para provocar a 
atividade jurisdicional.
Link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7347orig.htm
lei 6938 de 1981
1 
lei 7.347 de 1985
2 
34 │
a. Designa para a matéria um capítulo próprio
b. possui um texto avançado
c. consagra o meio ambiente como direito fundamental, essencial 
para a sadia qualidade de vida.
Link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constitui%C3%A7ao.htm
criMes aMbientais
a. Dispõe sobre sanções penais e administrativas para as 
condutas lesivas ao meio ambiente
b. sistematiza e tipifica os crimes ecológicos
c. inclui a pessoa jurídica como sujeito ativo do crime ambiental.
Link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9605.htm
ConStituição 
federal de 1988
lei 9.605 de 1998
3
4
2.4. EvoLuÇÃo HiSTÓriCA DoS DirEiToS 
FuNDAmENTAiS
Conceituar “Direitos Fundamentais” é uma tarefa realmente complexa, 
são muitas as fundamentações teóricas e correntes filosóficas que 
buscam afirmar o que seriam esses direitos e de como eles operam na 
realidade. Dada essa dificuldade, não pretendo apresentar um conceito 
que encerre a questão ou se aprofunde muito nas vertentes que dela 
decorrem, mas que apenas situe, historicamente, uma compreensão 
básica sobre direitos humanos fundamentais.
um ponto que devemos levar em consideração quando falamos de direitos 
fundamentais é que esses estão ligados àquilo que se compreende como 
substancial e inerente ao desenvolvimento humano em sentido amplo; 
ou, numa designação ainda mais complexa e dúbia, à dignidade da 
pessoa humana. De cunho individualista (ou subjetivista) esses direitos, 
numa primeira reflexão, remetem ao fenômeno do constitucionalismo 
moderno (coetâneo ao próprio conceito de constituição) e ao liberalismo 
político, primando valores como liberdade, segurança, propriedade 
privada, controle do arbítrio do governo e fixando uma autonomia 
pessoal contra as expansões do poder.
│ 35 
Em muitas perspectivas esses direitos são interpretados como algo 
absoluto, universal e atemporal, algo pronto e acabado, imutável e 
aplicável em qualquer circunstância. Obviamente a própria realidade 
cuida de prostrar qualquer pretensão absoluta e universal, visto que 
a mesma muda sempre com o tempo e o que é certo e definitivo hoje 
pode não atender as expectativas do amanhã. Isso nos leva a considerar 
os direitos fundamentais dentro de um contexto histórico, com certa 
mutabilidade conforme as exigências específicas de cada momento.
São as circunstâncias sociais e culturais que definem o caráter de 
fundamental para um direito, muitas vezes somando-se ao que já foi 
concebido como direito fundamental em outros tempos, outras vezes 
obrigando a conformação da percepção tradicional à nova realidade (o 
que nunca é pacífico). Nesse sentido, um direito fundamental deve ser 
pensado mais como uma conquista (muitas vezes árdua) e não como uma 
concessão, uma liberalidade do poder (salvo para manter a estabilidade 
do sistema), ou ainda uma percepção advinda da razão iluminada, uma 
descoberta revelada.
 Uma definição conceitual bastante para nós nesse momento pode ser 
apresentada por José Afonso da Silva, para quem os direitos fundamentais 
são aqueles que
[…] no nível do direito positivo, aquelas prerrogativas e 
instituições que o ordenamento jurídico concretiza em 
garantia de uma convivência digna, livre e igual de todas as 
pessoas. No qualificativo fundamentais acha-se a indicação 
de que se trata de situações jurídicas sem as quais a pessoa 
humana não se realiza, não convive e, às vezes, nem mesmo 
sobrevive” (1982, p. 144).
Dada a importância substancial destes direitos, os mesmos devem ser 
concebidos como invioláveis, indisponíveis, inalienáveis…
uma forma elucidativa de se trabalhar a evolução dos direitos 
fundamentais é situá-los em gerações. Elejo três gerações para 
compreendermos como o direito ao meio ambiente se insere no rol dos 
direitos fundamentais, explicando de forma muito breve e incipiente a 
trajetória de cada geração, através de tópicos que expõem as principais 
características de cada uma.
36 │
•  São assim denominados por serem os primeiros direitos 
positivados.
•  São diretamente ligados a percepção histórica do movimento 
do constitucionalismo.
•  São referentes às garantias individuais contra a força e o poder 
do Estado.
•  Surgem no contexto histórico da emergência do liberalismo 
político e econômico, da ascensão da burguesia e da queda dos 
Estados Absolutistas.
principais eleMentOs dOs direitOs de priMeira geraçãO
•  A ideia de igualdade, liberdade e propriedade privada (direitos 
civis e políticos);
•  A ideia que o Estado tem personalidade jurídica sendo um 
sujeito de direito e de obrigações;
•  O Bill of Rigths em 1776 e a Declaração dos Direitos do Homem 
em 1789 (Liberdade, igualdade, fraternidade).
•  Conhecidos como os direitos sociais, surgem da insuficiência 
do Estado Liberal em suprir os seus antagonismos estruturais.
•  Realidade de extrema exploração do trabalhador assalariado, 
de desigualdades econômicas e sociais profundas e da insuficiência 
do mercado em se auto-regulamentar.
•  O Estado necessita intervir na sociedade e na economia, 
promovendo uma liberdade mais real e igual para todos, através 
de uma diversidade de seguros sociais.
eleMentOs fundaMentais aOs direitOs de segunda geraçãO
•  A ideia de justiça social, bem-estar social, de igualdade e 
liberdade de fato (direitos sociais).
•  Direitos e garantias trabalhistas como a greve, salário mínimo, 
descanso remunerado e os sindicatos, bem como direitos à saúde, 
educação e previdência social.
•  O avanço do comunismo, as Grandes Guerras e o Estado 
Providência.
oS direitoS de 
primeira Geração
oS direitoS de 
SeGunda Geração
│ 37 
•  Direitos coletivos e difusos são aqueles que se dirigem a proteger 
não apenas o homem isoladamente, mas as coletividades, os 
grupos humanos e a sociedade como um todo.
•  Dão-se num contexto de crise ambiental planetária, na incerteza 
e no medo de uma guerra nuclear e nas ameaças às culturas e 
povos.
•  Esses direitos se fundam na solidariedade entre os povos, num 
redimensionamento da cidadania e da democracia onde novos 
atores ganham voz, ampliando-se o quadro dos direitos políticos.
eleMentOs fundaMentais aOs direitOs de terceira geraçãO
•  A ideia de participação cidadã e democracias mais diretas e 
participativas.
•  A proteção do gênero humano, das minorias étnicas e sociais e 
das tradições culturais (direitos transindividuais e metaindividuais).
•  A fraternidade e a solidariedade entre os povos e nações e a 
crítica à sociedade de consumo.
oS direitoS de 
terCeira Geração
Alguns teóricos verbalizam que os direitos dos povos (que compreendem os 
direitos de terceira geração) não poderiam ser de forma alguma confundidos 
com direitos fundamentais, visto que muitas vezes assistimos a regimes 
políticos evocarem suas tradições culturais para suprimirem os direitos 
fundamentais de primeira geração (liberdades individuais e políticas). 
Apesar de ser este um posicionamento factível, não devemos assumir 
uma postura de que o modelo ocidental calcado no liberalismo político é a 
verdade absoluta do mundo, perfeito, e que deve ser implantado em todas 
as situações da vida e para todas as tradições culturais impositivamente 
(da forma como é pregado geralmente). Mesmo porque, assiste-se na 
tradição cultural do ocidente uma extrema desigualdade e subjugação de 
uns grupos sociais sobre outros, mesmo onde já estão cristalizados direitos 
individuais e sociais as ideias de democracia e igualdade ainda são utopias 
(não desejada de forma plena) e longe de serem alcançadas.
Conforme visto, o que vai caracterizar o teor de “fundamental” de um 
direito são as circunstâncias culturais e sociais que se perfazem em dadomomento histórico. Fundamentar-se em preceitos atemporais, absolutos 
e universais, fulcrados e dogmatizados no tradicionalismo e ortodoxia das 
práticas sociais, controladas e apoderadas por determinados segmentos 
38 │
da sociedade, significa impedir ou rejeitar mudanças não apenas bem 
vindas na realidade social, mas, sobretudo, necessárias. Nesse sentido, 
entendo que os direitos de terceira geração (apesar de suas pretensões 
utópicas) correspondem às aspirações do momento histórico presente, 
e que não são, de maneira nenhuma, formas de suprimir os direitos 
individuais, mas de dar a eles o devido equilíbrio e interpretação com 
relação às demandas sociais mais urgentes, complementando-os, ainda 
que gerando certos antagonismos.
Nossa constituição Federal de 1988 compreende, muito bem, as três 
gerações de direitos (individuais, sociais e coletivos), por meio das quais 
devemos sempre buscar uma interpretação equilibrada e contextualizada 
com a realidade social desses direitos. Hodiernamente, podemos dizer que 
o direito ao meio ambiente, concebido como direito de terceira geração, 
está concretizado no nosso ordenamento. Conforme expõe Cristiane Derani 
(2008, p.49) o direito ao meio ambiente enquanto direito fundamental é 
“resultado de fatores sociais que permitiram ou até mesmo impuseram a 
sua cristalização sob forma jurídica, explicitando a sua relevância para o 
desenvolvimento das relações sociais”. Essa cristalização pode-se aferir 
também das palavras do Ministro Celso de Melo (DJ 17/11/95, 39206):
O direito à integridade do meio ambiente – típico direito de 
terceira geração – constitui prerrogativa jurídica de titularidade 
coletiva, refletindo, dentro do processo de afirmação dos direitos 
humanos, a expressão significativa de um poder atribuído, não 
ao indivíduo identificado em sua singularidade, mas num sentido 
verdadeiramente mais abrangente, à própria coletividade social.
Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e 
políticos) – que compreendem as liberdades clássicas, negativas 
ou formais – realçam o princípio da liberdade e os direitos de 
segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) – que 
se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas – 
acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, 
que materializam os poderes de titularidade coletiva atribuídos 
genericamente a todas as formações sociais, consagram o 
princípio da solidariedade e constituem um momento importante 
no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos 
direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais 
indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade.
a QueStão 
do direito ao 
meio ambiente 
eColoGiCamente 
eQuilibrado. 
direito de 
terCeira Geração. 
prinCípio da 
Solidariedade. 
│ 39 
3. o mEio AmBiENTE Como oBJETo 
Do DirEiTo
3.1. DirEiTo AmBiENTAL
Considerações Gerais
O Direito Ambiental apresenta-se como ciência jurídica que estuda 
as questões relativas às atividades sociais que têm implicações nas 
condições do meio ambiente natural, cultural ou artificial. Podemos 
dizer que o principal objetivo do direito ambiental é a preservação 
das condições ambientais associadas à melhoria da qualidade de vida 
da população. Ou seja, proteger e defender a qualidade, salubridade 
e equilíbrio do meio ambiente e do que o compõe tendo em vista a 
manutenção das condições de vida das populações e da própria vida do 
planeta. Nesse sentido, podemos dizer que o objeto imediato da tutela 
jurídica do ambiente é a manutenção da qualidade dos elementos que 
o compõem, mas que o objeto mediato é a qualidade de vida dos seres 
humanos, pois tutela-se o primeiro em nome do segundo.
Conforme visto no capítulo 1, o Direito deve ser concebido como uma 
coisa única – o ordenamento jurídico é compreendido como um todo. 
Mas, para fins didáticos e científicos é necessário que se estabeleçam 
“subdivisões” e “ramos específicos” no direito, permitindo uma 
compreensão das especificidades e diversidades de situações e relações 
sociais regulamentadas no âmbito jurídico. Por isso estudamos e 
subdividimos o Direito em ramos como o Direito Civil, o Direito Penal, o 
Direito Administrativo, o Processual, o Constitucional, o Tributário etc.
Por suas especificidades o Direito Ambiental se apresenta como um ramo 
do Direito que goza de autonomia didático-científica e um conteúdo 
peculiar no ordenamento jurídico brasileiro. Nesse sentido, o Direito 
Ambiental não estaria compreendido dentro de outros ramos do direito 
como o Direito Administrativo, o Civil, o Penal etc., mas constituindo um 
ramo de estudo próprio, “autônomo” no sentido didático-científico.
Uma conceituação suficiente para o Direito Ambiental pode ser dada 
como: “O complexo de princípios e normas coercitivas reguladoras 
40 │
das atividades humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar 
a sanidade do ambiente em sua dimensão global, visando à sua 
sustentabilidade para as presentes e futuras gerações” (Michel Despax 
apud Édis Milaré, 2008).
A nomenclatura da disciplina encontra certas variações, como nos 
exemplos abaixo:
direitO ecOlógicO
denominação muito restritiva uma vez que exclui valores culturais 
e artificiais que também integram o ambiente juridicamente 
tutelado, visto que a ecologia é a ciência que estuda a relação 
e interações entre os seres vivos e o meio em que vivem. Nesse 
sentido a disciplina estaria restrita à proteção do ambiente natural.
direitO de prOteçãO da natureza
padece da mesma restrição mencionada acima.
direitO dO MeiO aMbiente
Questiona-se muito a redundância do termo “meio ambiente”, 
pois “meio” e “ambiente” significam a mesma coisa, apesar de 
largamente utilizado no Brasil.
direitO aMbiental
Questiona-se que o termo ambiental deriva de uma adaptação da 
palavra de origem inglesa “environmental”. Essa é a nomenclatura 
mais amplamente utilizada e consolidada.
direitO dO aMbiente
Utilizada por alguns autores que a apontam como a mais exata e 
precisa juridicamente. 
nomenClatura
Outra característica interessante de se destacar com relação ao Direito 
Ambiental é que este se apresenta essencialmente multidisciplinar, 
diferente da tradição jurídica que encerra o conhecimento do direito 
no próprio direito. Ou seja, o Direito Ambiental estabelece um diálogo 
estreito com várias outras áreas do saber, tanto com ciências jurídicas 
quanto não jurídicas. Podemos destacar que dentro do Direito algumas 
│ 41 
disciplinas estão intimamente ligadas ao Direito Ambiental, lhe 
fornecendo instrumentos, subsídio teórico e técnico como o Direito 
Administrativo e o Direito Constitucional, ou ainda o Direito Penal, o 
Processual, o Civil, o Tributário e o Internacional. Com outros campos do 
saber podemos dizer que o Direito Ambiental congrega conhecimentos 
das ciências ecológicas e outros ramos da Biologia, com a Física, com a 
Química, com a Antropologia, com a estatística etc. vale lembrar que 
essa percepção plural e complexa do saber é bastante característica das 
questões ambientais.
Por sua vez, o patrimônio ambiental, objeto da tutela do direito ambiental, 
compreende mais do que a definição de ambiente estabelecido pelo 
artigo terceiro da Lei 6938/81, a Política Nacional de Meio Ambiente. Isto 
porque conforme a lei, meio ambiente é: “o conjunto de condições, leis, 
influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, 
abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Apesar de abrangente e 
inovador, visto que pela primeira vez no ordenamento é explicitado um 
conceito para meio ambiente, essa concepção remete muito mais ao 
ambiente natural, aos bens naturais (água, ar, solo, flora, fauna etc.), 
não evidenciando outros elementos que também compreendem o 
patrimônio ambiental tutelado pelo direito ambiental, como os bens 
artísticos, arquitetônicos, urbanísticos entre outros.Observada essa consideração, devemos conceber o patrimônio 
ambiental de forma mais abrangente e não apenas o meio ambiente 
natural, conceituado pela PNMA. Nesse sentido integram também o 
patrimônio ambiental:
 o meio ambiente cultural, composto pelo patrimônio 
histórico, artístico, arqueológico, paisagístico e turístico;
  O meio ambiente artificial,  constituído pelo espaço urbano, 
composto por suas edificações e equipamentos públicos como 
ruas, praças etc.
Quanto a sua classificação no ordenamento e a sua natureza 
jurídica, as categorias tradicionais de bens públicos e privados não 
se apresentam mais adequadas e suficientes para definir os bens 
ambientais. Na divisão jurídica clássica, bens privados são aqueles 
42 │
cuja posse e domínio pertencem aos entes privados como cidadãos, 
empresas etc.; e bens públicos como “todos aqueles que, de qualquer 
natureza e a qualquer título, pertençam as pessoas jurídicas de direito 
público, sejam elas federativas, como a união, os Estados, o Distrito 
Federal, os Municípios, sejam da administração descentralizada, como 
as autarquias, nestas incluindo as fundações de direito público e as 
associações públicas” (CARvALHO FILHO, 2007, p. 964). Conforme se 
percebe pela breve conceituação, os bens ambientais não se integram 
em qualquer dessas categorias tradicionais. Também não são mais 
percebidos, como na tradição do direito civil como “res nulius”, ou 
seja, coisa de ninguém.
Os bens ambientais passam a integrar outra categoria que designamos 
como “bens de interesse público” ou “bens de uso comum”, podendo 
estes se inserir tanto nos bens pertencentes a entidades públicas como 
nos bens dos sujeitos privados. Entretanto, estes bens passam a estar 
subordinados a uma disciplina particular que visa à consecução de um 
fim público, um fim de interesse comum.
Conforme salienta José Afonso da Silva (2007),
a Constituição, no artigo 225, declara que todos têm direito 
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. veja-se que 
o objeto do direito de todos não é o meio ambiente em si, 
não é qualquer meio ambiente. O que é objeto do direito é o 
ambiente qualificado. O direito que todos temos é a qualidade 
satisfatória, o equilíbrio ecológico do meio ambiente. Essa 
qualidade é que se converteu num bem jurídico. A isso é o 
que a Constituição define como bem de uso comum do povo 
e essencial à sadia qualidade de vida. Teremos que fazer 
especificações, mas, de um modo geral, pode-se dizer que 
tudo isso significa que esses atributos do meio ambiente 
não podem ser de apropriação privada, mesmo quando seus 
elementos constitutivos pertençam a particulares. Significa 
que o proprietário, seja pessoa pública ou particular, não pode 
dispor da qualidade do meio ambiente a seu bel prazer, porque 
ela não integra a sua disponibilidade. veremos, no entanto, 
que há elementos físicos do meio ambiente que também não 
são suscetíveis de apropriação privada, como o ar, a água, que 
são, já por si, bens de uso comum do povo. Por isso, como a 
qualidade ambiental, não são bens públicos nem particulares. 
São bens de interesse público, dotados de um regime jurídico 
especial, enquanto essenciais à sadia qualidade de vida e 
vinculados assim, a um fim de interesse coletivo.
│ 43 
vamos estabelecer um exemplo: suponhamos um proprietário 
de uma área que possui uma mata (flora), com animais silvestres 
(fauna), com cursos d’água, entre outros atributos. Apesar de ser o 
proprietário da área que possui tudo isso, o suposto sujeito não pode 
utilizar-se desses atributos de sua propriedade como ele quiser, pois 
os mesmos são de “interesse comum” e não propriamente dele (não 
são disponíveis). Para utilizá-los será necessário demonstrar que a sua 
utilização não comprometerá a qualidade desses elementos naturais, 
daí a necessidade de autorização, licença ou outorga do órgão público 
competente. Caso ele se utilize desses bens sem a devida anuência 
do poder público (incumbido de zelar pela proteção do patrimônio 
ambiental), ele poderá incorrer em infrações administrativas e 
criminais, bem como na responsabilização de reparar qualquer dano 
e indenizar qualquer prejuízo que venha a causar. Isso significa dizer 
que no direito ambiental há uma tríplice responsabilização: penal, 
civil e administrativa. Essa utilização descompassada dos parâmetros 
legais de tutela ambiental configura o uso nocivo da propriedade, ou 
seja, não cumpre a função socioambiental da propriedade, visto que 
sua utilização ultrapassa seu direito e fere o que se compreende como 
direito da coletividade.
Dessa colocação extraímos que o meio ambiente é um direito coletivo em 
sentido amplo. Os direitos coletivos se subdividem em difusos, coletivos 
e individuais homogêneos. O direito ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado configura propriamente um direito difuso, ou seja, um 
direito transindividual (ultrapassa o indivíduo) de natureza indivisível 
onde são titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstância de 
fato. Dirigem-se a toda a coletividade. O sujeito do direito é a própria 
coletividade, visto que esse direito espraia-se pelo grupo social sendo 
afeto a todos direta e indiretamente.
Entretanto, há mais uma peculiaridade no direito ao meio ambiente que 
é significativamente inovadora: a atribuição de valor e consideração 
a seres inexistentes. Ou seja, são considerados “sujeitos” do direito ao 
meio ambiente ecologicamente equilibrado os que ainda estão por vir, 
as próximas gerações. Esse pensamento se baseia na idéia de que se 
comprometermos o ambiente hoje, esgotando ou inviabilizando seus 
recursos, em nome de um modelo de desenvolvimento, poderemos estar 
impossibilitando que as próximas gerações se desenvolvam também, ou, 
44 │
nas perspectivas e previsões mais pessimistas, que as próximas gerações 
sobrevivam. Isso requer que pensemos a preservação do ambiente não 
apenas para o presente, mas também para o futuro.
Outro ponto que também merece destaque é a breve consideração e 
valorização de seres não humanos, dada pela legislação e pela prática 
do Direito Ambiental. Apesar de ainda não ser uma realidade (por 
exemplo, atribuir direito aos animais), são propostas que vêm substituir 
o paradigma ético antropocêntrico, por modelos mais avançados de 
ética de matiz ecocêntrico e/ou biocêntrico, que buscam transformar os 
aspectos relacionais e de postura do homem com relação à vida.
Falamos de uma tríplice responsabilização no Direito Ambiental – 
civil, penal e administrativa – que merece um pouco mais de atenção 
conceitual. Primeiramente devemos assumir que o Direito Ambiental 
possui um caráter muito mais “preventivo” do que “reparatório” ou 
“repressivo”. um dano ambiental pode ter conseqüências tais que sua 
reparação pode ser impossível ou muito onerosa (inviável) e demorada, 
perdurando suas conseqüências de forma que a ação reparatória não 
vai conseguir sanar os problemas causados. Por outro lado, repreender 
o autor de um grave dano, multando, interditando sua atividade, ou 
prendendo o mesmo, pode apaziguar os anseios sociais de justiça e, 
quem sabe, até modificar a postura do sujeito, mas efetivamente não 
resolve o problema também. Nesse sentido a melhor saída é atuar de 
forma preventiva, buscar sempre controlar e conhecer as atividades 
e submetê-las a padrões sociais seguros, pois, diante de certos danos, 
os instrumentos do Direito Ambiental reparatórios e repressivos se 
mostram ineficazes, frágeis e sem efeitos satisfatórios, apesar da imensa 
importância desses instrumentos.
Falar em responsabilidade, de maneira geral, significa dizer sobre 
a obrigação de alguém com relação a alguma coisa. No Direito, 
responsabilidade exprime a obrigação de responder por algum dever 
jurídico em que se coloca a pessoa física ou jurídica, “seja em virtude de 
contrato, seja em face de fato ou omissão que lhe sejam imputáveis”, 
para satisfazer uma prestaçãoconvencionada/devida ou para suportar 
as sanções legalmente previstas. Para o nosso estudo é necessário 
compreender as três formas de responsabilidade por danos ambientais 
e como elas operam:
│ 45 
1 reSponSabilidade adminiStrativa 
é a que resulta quando se infringe norma da administração (que pode 
ser estabelecida através de lei, regulamentos, resoluções, deliberações 
normativas ou até mesmo por força contratual). A responsabilidade 
administrativa impõe um ônus ao infrator para com o órgão público. 
É independente das responsabilidades civis e penais, sendo pessoal/
subjetiva (geralmente aferida mediante comprovação de dolo ou culpa), 
mas a sanção nem sempre é de execução personalíssima (restrita ao 
infrator/contratante), caso em que pode transmitir-se aos sucessores do 
contratado, quer sejam pessoas físicas ou jurídicas, como ocorre com as 
multas e encargos tributários.
O artigo 70 da Lei de Crimes Ambientais (Lei 9605/98) nos será bastante 
elucidativo:
Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental 
toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de 
uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio 
ambiente.
§ 1º São autoridades competentes para lavrar auto de 
infração ambiental e instaurar processo administrativo os 
funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema 
Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados para 
as atividades de fiscalização, bem como os agentes das 
Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha.
§ 2º Qualquer pessoa, constatando infração ambiental, 
poderá dirigir representação às autoridades relacionadas 
no parágrafo anterior, para efeito do exercício do seu 
poder de polícia.
§ 3º A autoridade ambiental que tiver conhecimento de 
infração ambiental é obrigada a promover a sua apuração 
imediata, mediante processo administrativo próprio, sob 
pena de co-responsabilidade.
§ 4º As infrações ambientais são apuradas em 
processo administrativo próprio, assegurado o direito 
de ampla defesa e o contraditório, observadas as 
disposições desta Lei.
46 │
2 reSponSabilidade Civil 
Conforme o código civil, quem lesar, por ação ou omissão direito de 
outrem, fica obrigado a reparar o dano. Responsabilidade civil é a que se 
apura para exigir a reparação civil, uma forma de sanção, geralmente com 
repercussões patrimoniais, imposta ao agente ou responsável pelo ato 
ilícito, obrigando a reparação do dano. No Direito Ambiental brasileiro, 
adotou-se a responsabilidade civil objetiva, isto é, independente da 
inobservância dos deveres objetivos de cuidado – imperícia, negligência 
ou imprudência – que configuram a culpa, ou de agir com má-fé, 
intencionalmente (que configura o dolo), no caso de um dano ambiental o 
autor fica obrigado à reparação e indenização das vítimas. Isto quer dizer 
que, basta que tenha ocorrido o dano ambiental e que haja um nexo causal 
entre a ação/omissão do autor/da atividade exercida, para que ele adquira 
o dever/obrigação de reparação desse dano. Isto se dá devido ao fato de 
que quem deve arcar com o risco da atividade é quem se beneficia dela.
A Política Nacional do Meio Ambiente deixa isto bastante claro no seu artigo 
14, § 1º:
Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela 
legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento 
das medidas necessárias à preservação ou correção dos 
inconvenientes e danos causados pela degradação da 
qualidade ambiental sujeitará os transgressores:
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas 
neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente 
da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos 
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua 
atividade. O Ministério Público da União e dos Estados 
terá legitimidade para propor ação de responsabilidade 
civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
3 reSponSabilidade penal 
É a obrigação que alguém tem de arcar com as conseqüências jurídicas do 
crime. É o dever que tem a pessoa de prestar contas de seu ato. Ele depende 
da imputabilidade do indivíduo, pois não pode sofrer as conseqüências 
│ 47 
do fato criminoso (ser responsabilizado) senão o que tem a consciência 
de sua antijuridicidade e quer executá-lo (ser imputável).” Conforme 
percebe-se a responsabilidade penal é personalíssima e aferida mediante 
dolo ou culpa. A tutela penal do ambiente é imprescindível devido ao fato 
de este representar um direito fundamental de suma importância para a 
subsistência da sociedade. Nesse sentido, uma série de condutas lesivas 
ao meio ambiente foram tipificadas como crimes ambientais, conforme 
disposto na Lei 9605/98, Lei de Crimes Ambientais:
Art. 2º - Quem, de qualquer forma, concorre para a prática 
dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes 
cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o 
diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão 
técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário 
de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de 
outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia 
agir para evitá-la.
Abaixo segue uma breve síntese para facilitar o entendimento:
•  José Afonso da Silva: O patrimônio ambiental não pode 
ser catalogado como integrante de qualquer das categorias 
tradicionais de bens, públicos ou privados;
•  Bens de interesse público: o que se tutela não é o meio ambiente 
em si, mas o meio ecologicamente equilibrado;
•  A qualidade do meio ambiente não é disponível (não pode ser 
de apropriação privada);
•  Alguns elementos per se são de uso comum do povo;
•  Trata-se de interesse difuso: espraia-se por toda a coletividade.
ProiBiDo oBriGATÓrio
natureza JurídiCa
leGiSlação 
ambiental•  Poluir;
•  Degradar.
•  Obter licença, autorização 
ou outorga;
•  Atender as condicionantes 
das licenças ambientais.
48 │
1. prOcessOs adMinistrativOs:
 Multa;
 Suspensão das atividades.
2. açãO civil pública/açãO pOpular:
 Multa;
 Reparação do dano;
 Indenização.
3. prOcessO Judicial pOr criMe aMbiental:
 Pena pecuniária;
 Restrição de direitos ou liberdade.
ConSeQuênCiaS do 
deSCumprimento
│ 49 
4. oS PriNCÍPioS GErAiS Do 
DirEiTo AmBiENTAL
O presente tema merece especial destaque por sua importância, pois 
possibilita uma compreensão panorâmica do Direito Ambiental dentro 
de seus fundamentos basilares. Desenvolvidos ao longo de mais de 
três décadas, os princípios do Direito Ambiental foram se consolidando 
principalmente a partir dos tratados internacionais e hoje traduzem 
o espírito do Direito Ambiental, não apenas no Brasil, mas em muitos 
outros países. Por serem muitos os princípios e, não raras as vezes, 
abordados de forma distinta pelos diversos autores, escolho aqui, aqueles 
que entendo como mais importantes, explanando de forma breve, mas 
suficiente, suas principais características.
Conforme tratado no capítulo 1, princípios são orientações gerais e abstratas 
que fundamentam o Direito. São o norte e o alicerce das normas vigentes 
no ordenamento, são os pontos de partida que devem orientar e direcionar 
desde a hermenêutica – a interpretação adequada das normas jurídicas – 
até mesmo a criação das normatizações e implementação das mesmas 
pelos órgãos competentes sejam eles do executivo ou do judiciário.
Devido a amplitude e a importância do conteúdo desse tema, o presente 
está subdividido em duas partes. Pretendo ao longo da explanação 
trabalhar alguns conceitos e normatizações do Direito Ambiental de 
caráter mais fundamental que propiciarão um entendimento geral da 
disciplina.
4.1. PArTE i
1 prinCípio do direito à Sadia 
Qualidade de vida 
Estar vivo é condição básica para a fruição de qualquer direito, por isso a 
vida compreende o direito individual mais importante e entendido como 
algo que não deve ser violado sob nenhum pretexto ou circunstância. 
Ocorre que a percepção sobre o direito a vida vem sendo concebida um 
50 │
pouco além da vida em si. Não basta apenas estar vivo, deve-se viver

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