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www.cers.com.br CARREIRA JURÍDICA Direito Civil Cristiano Chaves 1 DIREITOS DA PERSONALIDADE – Parte II Prof. Cristiano Chaves de Farias Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia Professor de Direito Civil do CERS 1. Características dos direitos da personalidade. Indisponibilidade relativa (intransmissibilidade e irrenunciabilidade). Art. 11, Código Civil: “Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária”. Enunciado 4, Jornada de Direito Civil: “o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral.” Os limites aos atos de disposição voluntária de direitos da personalidade: i) a questão do caráter permanente; ii) a impossibilidade de cessão genérica de direitos da personalidade; iii) a impossibilidade de violar a dignidade do titular. Enunciado 139, Jornada de Direito Civil: “Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes”. Outras características dos direitos da personalidade: i) absolutos (oponíveis erga omnes), ii) extrapatrimoniais, iii) impenhoráveis, iv) inatos, e v) imprescritíveis (a imprescritibilidade da indenização por tortura. Art. 14 da Lei n.9.140/95 e STJ, REsp.816.209/RJ). Aplicação prática: • (MP/MA/04) Assinale a alternativa incorreta: (...) b) com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são transmissíveis e irrenunciáveis, podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. * (MP/DFT/03) Assinale a alternativa correta: e) é imprescritível a pretensão de indenização decorrente de violação aos direitos da personalidade. 2. Proteção jurídica. Art. 12, CC: “Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.” A ruptura do esquema jurídico lesão – sanção (perdas e danos como consequência única). A tutela preventiva e a tutela reparatória. Possibilidade de autotutela. Possibilidade de tutela jurídica penal e administrativa. 2.1. A tutela preventiva por meio de tutela específica. A despatrimonialização da reparação civil por lesão à personalidade (caráter subsidiário do dano moral). As múltiplas formas de tutela específica (inibitória, remoção do ilícito, subrogatória...) e o rol exemplificativo. Enunciado 140, Jornada de Direito Civil: “A primeira parte do art. 12 do Código Civil refere- se às técnicas de tutela específica, aplicáveis de ofício, enunciadas no art. 461 do Código de Processo Civil, devendo ser interpretada com resultado extensivo”. Possibilidade de decretação, alteração, ampliação e redução ex officio. O caso do Pânico na TV. A permissão para o uso de mandado de distanciamento (restrição de direitos) (Lei nº11.340/06 – Lei Maria da Penha, art. 22). Aplicabilidade da Lei Maria da Penha em qualquer relação afetiva, como namoro (STJ, CC 103.813/MG). Fixação genérica, em metros, consideradas as circunstâncias, sem necessidade de especificar o lugar a ser evitado (STJ, RHC 23.654/AP). A discussão quanto ao cabimento de prisão civil como meio de tutela específica. 2.2. A tutela reparatória por meio de indenização por dano moral. Correlação e caracterização do dano moral como violação aos direitos da personalidade. A autonomia do dano à personalidade. Prova in re ipsa (STJ, REsp.506.437/SP). www.cers.com.br CARREIRA JURÍDICA Direito Civil Cristiano Chaves 2 Cumulabilidade do dano moral com dano patrimonial. STJ 37: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato”. Cumulabilidade de dano moral com dano moral. STJ 387: “É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral”. Impossibilidade de condenação em danos morais de ofício e a legitimidade residual do Ministério Público para as ações civis ex delicto (teoria da inconstitucionalidade progressiva – CPP 68 e STF, RE 135.328/SP). Fixação do quantum indenizatório e caráter não punitivo do dano moral. A possibilidade de dano moral contratual (STJ, REsp.202.564). A possibilidade de recurso especial para revisão do quantum indenizatório, excepcionando a Súmula 7, STJ (STJ, REsp.816.577, rel. Min. Denise Arruda). Aplicação prática: * (24o Concurso MP/DFT) Uma grande empresa de planos de saúde veiculou publicidade institucional em diversos jornais e revistas, na qual constava uma fotografia de Marcelo, médico famoso no área de neurocirurgia. No texto da mensagem publicitária, após diversas referência elogiosas à atuação do médico, ressaltou-se que ele era um dos profissionais conveniados aos planos de saúde da empresa. Marcelo não autorizou o uso da fotografia. É cabível, na hipótese, alguma espécie de indenização a Marcelo? Em caso positivo, indique o direito violado e os pressupostos para caracterizar o dever de indenizar? O dano moral difuso ou coletivo (Lei nº7.347/85, art. 1o e CDC, art. 6o, VI). 3. Direito da personalidade à integridade física: direito ao corpo vivo. Art. 13, CC: “Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.” Tutela jurídica do corpo vivo, independentemente de sequelas permanentes (STJ, REsp.575.576/PR). Cumulabilidade do dano moral com o dano estético (STJ 387). Possibilidade de atos de disposição: a) que não gerem diminuição permanente da integridade física (tatuagens/piercing’s); b) que gerem diminuição permanente, quando houver exigência médica (cirurgia de transgenitalização – CFM, Res. 1.957/10 e STJ, SE 1058 – Itália e STJ, REsp.1.008.398/SP). Os wannabes. As partes separadas do corpo humano (STF, Rcl 2040/DF – caso Glória Trevis). 4. Direito da personalidade ao corpo morto(direito ao cadáver). Art. 14, CC: “É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.” O ato de disposição do corpo, no todo ou em parte, para fins altruísticos ou científicos, para depois da morte. Revogabilidade do ato a qualquer tempo. A questão da disposição do corpo para depois da morte e o testamento vital (living will). Resolução CFM 1.995/10. O ato de disposição pelo titular e a exigência de anuência dos familiares, após o óbito (Lei n.9.434/97, 4º). A solução do Enunciado 277, Jornada de Direito Civil: “O art. 14 do Código Civil, ao afirmar a validade da disposição gratuita do próprio corpo, com objetivo científico ou altruístico, para depois da morte, determinou que a manifestação expressa do doador de órgãos em vida prevalece sobre a vontade dos familiares, portanto, a aplicação do art. 4º da Lei n. 9.434/97 ficou restrita à hipótese de silêncio do potencial doador.” 5. Direito da personalidade ao livre consentimento informado (autonomia do paciente) Art. 15, CC: “Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.” A questão da internação compulsória. A possibilidade de responsabilidade civil por violação do dever de informação. O Testemunha de Jeová. www.cers.com.br CARREIRA JURÍDICA Direito CivilCristiano Chaves 3 • Aplicação prática: (MP/CE/01) O respeito às crenças religiosas é exigência tanto legal, quanto social. Assim, lembrando que, aos que professam a fé das Testemunhas de Jeová, receber sangue, próprio ou de terceiros, fere preceito religioso e implica desonra, na medida em que viola mandamento divino, é legítima a decisão dos pais ao impedirem terapêuticas em que transfundir seja imperativo? A declaração de que preferem a morte a essas terapêuticas é válida? Justifique. 6. Direito ao nome civil. Noções gerais. O nome civil como um direito da personalidade. A recusa em registrar o nome e as possibilidades decorrentes. O procedimento administrativo de dúvida (LRP, 198 e 203). O prazo decadencial de 1 ano para a mudança imotivada do nome civil (LRP 57): somente para mudança imotivada. Elementos componentes (CC 16): o prenome, o sobrenome e o agnome. O pseudônimo (heterônimo) e a sua proteção. Art. 19, CC: “O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome”. Distinção entre pseudônimo e hipocorístico. A possibilidade de mudança (a inalterabilidade relativa, Lei nº6.015/73, art. 58). Depois do prazo, admite-se mudança em casos justificados, previstos em lei (STJ, REsp.538.187/RJ). Acréscimo de sobrenome de padrasto (Lei nº11.924/09 – Lei Clodovil) e mudança em virtude de danos psicológicos (STJ, REsp.66.643). 7. Direito à imagem. Noções gerais sobre a imagem. A tridimensionalidade do direito à imagem: imagem-retrato, imagem-atributo e imagem-voz (CF 5o, V, X e XXVIII, a, e CC 20). Art. 20, CC: “Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.” A autonomia constitucional da proteção do direito à imagem e a relevante crítica ao CC 20. O caso Maitê Proença: “Fosse a autora uma mulher feia, gorda, cheia de estrias, de celulite, de culote e de pelancas, a publicação de sua fotografia desnuda – ou quase – em jornal de grande circulação, certamente lhe acarretaria um grande vexame, muita humilhação, constrangimento enorme, sofrimentos sem conta, a justificar – aí sim – o seu pedido de indenização de dano moral, a lhe servir de lenitivo para o mal sofrido. Tratando-se, porém, de uma das mulheres mais lindas do Brasil, nada justifica pedido dessa natureza, exatamente pela inexistência, aqui ,de dano moral a ser indenizado” (TJ/RJ Revista de Direito do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, n.41, p.184-7). Relativizações do direito à imagem: A função social da imagem: relativização dos valores previstos no CC 20 como justificadores da relativização da imagem (administração da Justiça, manutenção da ordem pública). Cessão expressa e tácita e o uso em local público. O uso de foto em contexto genérico (STJ, REsp.85.905). O top less na Praia de Camboriu (STJ, REsp.595.600/SC). O desvio de finalidade e o uso de imagem de artista conhecido com fins econômicos (STJ, REsp.74.473). Imagem de pessoas públicas (celebridades) A tutela jurídica da imagem de pessoa morta e a restrição à legitimidade dos lesados indiretos: CC 20 + 12 (Enunciado 5, Jornada de Direito Civil). A imagem como um direito de arena (imagem como direito autoral, art. 7o, Lei nº9.610/98). (STJ, REsp.46.420/RJ, rel. Ruy Rosado de Aguiar Jr.). Aplicação prática: * (24o MP/DFT) Uma grande empresa de planos de saúde veiculou publicidade institucional em diversos jornais e revistas, na qual constava uma fotografia de Marcelo, médico famoso no área de neurocirurgia. No texto da mensagem publicitária, após diversas referência elogiosas à atuação do médico, www.cers.com.br CARREIRA JURÍDICA Direito Civil Cristiano Chaves 4 ressaltou-se que ele era um dos profissionais conveniados aos planos de saúde da empresa. Marcelo não autorizou o uso da fotografia. É cabível, na hipótese, alguma espécie de indenização a Marcelo? Em caso positivo, indique o direito violado e os pressupostos para caracterizar o dever de indenizar? * (MPF/04) Assinale a alternativa correta: (...) c) o direito à própria imagem é inato e bem jurídico autônomo, não admitindo limitações em quaisquer hipóteses. 8. Direito à vida privada. Noções gerais sobre a vida privada. Privatus: o que pertence à pessoa, estando fora do alcance de terceiros e do Estado. Alcance da privacidade: estado de saúde, defeitos físicos, tratamentos médicos, intervenções cirúrgicas, opiniões pessoais, sexuais, filosóficas, religiosas, histórias sentimentais e afetivas etc. Estruturação: intimidade e segredo. Teoria dos círculos concêntricos. Exceções à proteção da vida privada: comportamentos públicos e consentimento tácito (ex: entrevistas espontâneas). Pessoas públicas e relativização, mas não perda. Impossibilidade de desvio de finalidade ou exploração comercial. Autonomia da proteção jurídica da privacidade. O caso de Garrincha (STJ, REsp.521.697/RJ). Desnecessidade de discussão acerca da veracidade, ou não, do fato (STJ, REsp.58.101/SP). A posição do TST com relação ao acesso do empregador aos email’s corporativos dos empregados. (TST, Ac. 7ªT., AIRR 1542/2005- 055-02-40.4, j. 9.6.08, rel. Min. Ives Gandra da Silva Martins Filho). Exemplo de aplicação da privacidade: CC 1.301 e 1.303.
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