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Direito Ambiental 1º semestre

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RESUMO DIREITO AMBIENTAL – 1º semestre
HISTÓRICO DO MEIO AMBIENTE NO BRASIL:
 	A proteção jurídica do meio ambiente no Brasil pode ser dividida em 3 períodos:
→ Primeiro período: Começa com o descobrimento (1500) e vai até a vinda da Família Real Portuguesa (1808). Nesse período, havia algumas normas isoladas de proteção aos recursos naturais que se escasseavam, como, por exemplo, o pau-brasil, o ouro, etc. Tivemos, então, as seguintes principais normas:
Regimento do Pau-Brasil de 1605, que protegia o pau-brasil como propriedade real, impondo penas severas a quem cortasse árvores dessa natureza sem licença;
Alvará de 1675, que proibia as sesmarias nas terras litorâneas, onde havia madeiras;
Carta Régia de 1797. Que protegia as florestas, matas, arvoredos localizado nas proximidades dos rios, nascentes e encostas, declaradas propriedades da Coroa;
Regimento de Cortes de Madeiras de 1799, que estabelecia regras para a derrubada de árvores. 
 
→ Segundo período: Inicia-se com a vinda da Família Real (1808) e vai até a criação da Lei da Politica Nacional do Meio Ambiente (1981). Esse período caracteriza-se pela exploração desregrada do meio ambiente, cujas questões eram solucionadas pelo Código Civil. Havia preocupações pontuais, objetivando a conservação do meio ambiente e não a sua preservação. Tivemos as principais normas:
Lei nº 601/1850, conhecida por Lei de Terras do Brasil, que disciplinavam ocupação do solo e estabelecia sanções para atividades predatórias;
Decreto nº 8.843/11, que criou a primeira reserva florestal do Brasil, no Acre. 
Lei nº 3.071/16 (Código Civil), que estabelecia várias dispositivos de natureza ecológica, mas de cunho individualista;
Decreto nº 16.300/23, que dispunha sobre o Regulamento de Saúde Pública;
Decreto nº 24.114/34, que dispunha sobre o Regulamento de Defesa Sanitária Vegetal;
Decreto nº 24.643/34 (Código de águas), que também dispunha sobre a captação e o uso da água, ainda em vigor;
Decreto-lei nº 794/38, que dispõe sobre o Código de Pesca;
Decreto 1.985/40, que dispunha sobre o Código de Minas;
Decreto n° 2.848/40, que dispõe sobre o Código Penal;
Lei nº 4.504/64, que dispunha sobre o Estatuto da Terra;
Lei nº 4.771/65 (antigo Código Florestal), que estabelecia normas importantes para a proteção das florestas e outros recursos naturais;
Lei nº 5.197/67, que dispõe sobre o a Proteção à Fauna (antigo Código de Caça);
Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Politica Nacional do Meio Ambiente. 
→ Terceiro período: Começa com a criação da Lei da Politica Nacional do Meio Ambiente, dando-se ensejo à fase holística, que consistia em proteger de maneira integral o meio ambiente por meio de um sistema ecológico integrado. Nesse período, citamos somente algumas normas: 
Lei nº 7.345/1985 (Lei da Ação Civil Pública);
Constituição Federal de 1988;
Lei nº 8.171/91, que trata da politica agrícola;
Lei nº 9.605/98, que dispõe sobre sanções penais e administrativas para condutas e atividades lesivas ao meio ambiente;
Lei nº 9.985/2000 que dispõe sobre as Unidades de Conservação;
Lei nº 10.257/2001, que dispõe sobre o Estatuto da Cidade;
Lei nº 11.445/2007, que dispõe sobre a Politica Nacional de Saneamento Básico;
Lei nº 12.305/2010, que dispõe sobre a Politica Nacional dos Resíduos Sólidos – PNRS
Lei nº 12.651/2012, que dispõe sobre o novo Código Florestal. 
 	A história nos mostra que tanto em Portugal como no Brasil Colônia já havia a preocupação com o meio ambiente. Naquela época, procurava-se proteger as florestas em decorrência da derrubada de árvores de madeira de lei para a exportação a Portugal, onde escasseava esse tipo de recurso. Houve inúmeras invasões de franceses, holandeses e portugueses no Brasil Colônia, com o intuito apenas de extrair minérios e madeira, contrabandeando-os para Portugal e para outros países. Diante disso é que nossos primeiros colonizadores solveram adotar medidas protetivas às florestas e aos recursos minerais por meio da criação de normas criminais. 
→ Meio ambiente na atualidade: contexto mundial
 	Mais recentemente, os povos de todo o mundo tiveram os olhos voltados para o meio ambiente. Tanto é verdade que existem várias organizações não governamentais defendendo o meio em que vivemos contra atos lesivos praticados por quem quer que seja. Elas têm representantes praticamente em todos os países do globo e pretendem alertar o Poder Público, em especial, e a comunidade, de modo geral, quanto á necessidade de proteger o nosso sistema ecológico de agentes nocivos à saúde e à qualidade de vida desta e da futura geração; A par disso, e como não podia deixar de ser, nosso legislador passou a editar leis mais especificas, colocando instrumentos mais eficazes em defesa do meio ambiente. Nas décadas de 1980 e 1990, houve um desenvolvimento enorme em nosso país no que tange à proteção ao meio ambiente; vários livros e artigos doutrinários foram publicados; inúmeras leis foram criadas nesse período. Houve também uma repercussão benéfica com a divulgação pela mídia de algumas decisões judiciais favoráveis às ações civil públicas impetradas pelo Ministério Público. Foi com o advento da Lei nº 7.347/85 que a defesa d meio ambiente se fortaleceu. Essa lei criou a denominada ação civil pública, instrumento poderosíssimo colocado à disposição do cidadão, de modo geral, e, em particular, do Ministério Público. Em decorrência disso, diversas ações foram propostas em defesa do nosso ecossistema, nos mais longínquos rincões do Brasil. 
 	O Brasil está sempre na vanguarda das discussões ambientas. Há muitos juristas e ambientalistas preocupados com o meio ambiente. Essa questão não é uma preocupação apenas de um país, mas do mundo. Não há que falar em soberania nacional quando a questão em foco é a vida ou a saúde de um povo. 
 	Por essas e outras razões é que o meio ambiente deve ser a preocupação central do homem, pois toda a agressão a ele poderá trazer consequências irreversíveis às presentes e futuras gerações 
 → Agressões ao meio ambiente: 
 	O homem primitivo não agredia a natureza de maneira indiscriminada. Apenas procurava extrair do meio aquilo que era necessário ao seu sustento. Suas necessidades básicas eram poucas e em decorrência disso não se falava, até então, em agressão à natureza. 
 	Já na Idade Média e na Moderna, especialmente no período da Revolução Industrial, começaram efetivamente as agressões à natureza, cuja extensão, ainda hoje, em uma gradação quanto aos seus efeitos nocivos, é bastante variável, podendo atingir tão só o meio local, o regional ou até comprometer o equilíbrio biológico do próprio planeta. Estas agressões podem se constituir em simples emanações e fumaças das fábricas de produtos químicos, ou das nuvens de pó produzidas numa fábrica de cimento, em que Perus é um triste exemplo, ou, ainda da difusão de substâncias radioativas lançadas tanto no oceano como na atmosfera. 
 	Paulo José da Costa Jr. E Giorgio Gregori ensinam que, se encararmos a história de uma angulação cronológica, conforme o habitual esquema dos anais, que englobam os fatos uns após outros e os sistematizam com fidelidade como um grandioso romance seriado, concluiremos facilmente que o problema ecológico foi enfrentado e regulamentado, ao menos parcialmente, pelos legisladores dos Estados de civilização mais avançada, somente no curso de derradeiro pós-guerra. 
 	Nesse período, a conscientização da necessidade de proteção ao meio ambiente disseminou-se pelo mundo todo por intermédio de varias entidades não governamentais. As pessoas acordaram e passaram a levantar a bandeira protetiva ao meio ambiente, pois é a dele que o homem tira o sustento para sua sobrevivência. Apesar das dificuldades na solução dos problemas ambientais mundiais, devemos resolver os nossos por meio de medidas adequadas, realizando campanhas de conscientização de que o planeta Terra é nossa casa, por isso devemos protegê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 
 → Consumo X População: Pegada EcológicaO conceito “pegada ecológica” foi criado na década de 1990 por William Rees e Mathis Wackernagel, como medida de consumo de recursos naturais pelo homem em relação á capacidade da Terra para repô-los. Se a capacidade de consumo continuar nesse mesmo ritmo, a pegada ecológica (metodologia utilizada para medir as quantidades de terra e água – em termos de hectares globais) subirá, tornando inviável a sobrevivência do homem no planeta. Se a escalada continuar no mesmo patamar atual, em 2030, com uma população planetária estimada em 8,3 bilhões de pessoas, serão necessárias duas Terras para satisfazê-la.
 	O Relatório Planeta Vivo 2012 demonstrou que a pegada ecológica do Brasil é maior que a média mundial e maior que a de todos os países do grupo BRICS. A pegada da humanidade hoje excedeu em 50% a capacidade de regeneração do planeta. Para sustentar o padrão de consumo atual, seria necessário 1,5 planeta. 
→ Linha do tempo internacional:
Século XVIII: Revolução Industrial → Consumo de recurso naturais e devolução de poluentes no ambiental surgimento das metrópoles. 
 	Houve uma mudança na humanidade, decorrente da queima de carvão vegetal que fez com que a escala de produção maquinaria aumentasse substancialmente. O aumento da emissão de poluentes passou a exigir a necessidade de uma legislação ambiental (antes desse marco histórico o conflito ambiental era irrisório). 
 	Para a produção, a indústria absorvia uma grande demanda de recursos naturais, tais como carvão, minério e água, utilizados como matéria prima, no entanto, concomitantemente utilizavam-se dos recursos ambientais, discorriam resíduos indesejáveis em grande escala. 
 	Ademais, ainda passam a se consolidar os grandes centros urbanos como metrópoles, e as pessoas começam a procurar emprego nas grandes fábricas, o que altera o estilo de produção até então de subsistência. Transforma-se a produção artesanal/ manufaturada em produção industrial comercializada. 
Século XX: Progresso cientifico. 
 	Ocorreu um avanço químico muito forte, por exemplo, o desenvolvimento da penicilina. No entanto, os avanços químicos também passaram a ocorrer para outros fins, por exemplo nas lavouras, de modo que as plantações passaram a ser pulverizadas com “defensivos agrícolas”, ou seja, com agrotóxicos e pesticidas. 
1962 – Livro: “Primavera Silenciosa” – Denúncia ao pesticida DDT.
 	DDT é proibido. Foi desenvolvido por ocasião da segunda guerra, e foi largamente utilizado nas plantações e começou a causar inúmeros danos devastadores. O livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson (1962), que denuncia os malefícios do DDT. O pesticida em questão eliminou as pragas e também os animais que eram típicos daquele ambiente, como pássaros, abelhas, entre outros, e ainda atestou que as pessoas expostas ao contato assíduo com o agrotóxico, como trabalhadores, desenvolveram inúmeras modalidades de câncer. 
 
1968 – Clube Roma – “Limites do crescimento”.
 	Encontro de cientistas do mundo todo, concentrados em Roma, onde cada um apresentou suas pesquisas voltadas para alertar a sociedade dos danos decorrentes dos avanços e males ambientais. 
1972 – Conferência de Estolcomo – “Declaração internacional do principio do direito ambiental – ONU” → 113 países / 26 princípios (Necessidade de rever o modelo de desenvolvimento econômico). 
 	Foi o primeiro encontro organizado pela ONU, na Suécia, onde foi redigida uma declaração internacional de direito ambiental, atestando-o como direito fundamental de 3ª geração. É o inicio do auge da mobilização em relação a proteção ambiental.
1987 – Relatório Brundland → Nosso futuro comum. 
 	O relatório de Brundland sai das normas programáticas e inicia um plano de metas por assunto. É um instrumento preparatório para o próximo encontro da ONU, que por sua vez será no Rio de Janeiro. 
1992 – Conferência do Rio de Janeiro – 2ª Declaração internacional – conceito de desenvolvimento sustentável por José Eli da Veiga. 
 	Trata-se de uma conferência ocorrida no Rio de Janeiro, onde surgiu um forte protagonismo das OSIP´s e ONG´s. Acentuou-se o principio do desenvolvimento sustentável e foi assinada a Agenda 21. 
 	A Agenda 21 é conceituada com base em um “tripé”: Segundo José Eli da Veiga, uma economia ativa deve baseada no respeito ao do meio ambiente e que seja socialmente justa.
2002 – Rio + 10 → Lei nº 9.605/98 (Joanesburgo). 
 	Rio+10 ou Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (em inglês, Earth Summit 2002) foi um fórum de discussão das Nações Unidas realizado entre os dias 26 de agosto e 4 de setembro de 2002, em Johanesburgo, África do Sul. Teve como objetivo principal discutir soluções já propostas na Agenda 21 primordial (Rio 92), para que pudesse ser aplicada de forma coerente não só pelo governo, mas também pelos cidadãos, realizando uma agenda 21 local, e implementando o que fora discutido em 1992.
→ Linha do tempo nacional:
1981 – Politica nacional do Meio Ambiente
 	O Brasil passa a ter um sistema próprio, uma estrutura de gerenciamento e responsabilidade objetiva pelo dano (politica do nascimento do meio ambiente) – nem em situações de caso fortuito ou força maior. 
Lei da Ação Civil Pública (7.347/85).
 	Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, além de outras providências.
1990 – CPDC
 	Código de Proteção e Defesa do Consumidor: Apresenta a proteção dos interesses difusos e da coletividade, haja vista que, muitas vezes quem deveria arcar com o dano seria o próprio Estado, que é quem deveria assegurar o bem do meio ambiente. 
1992 – Conferência do Rio de Janeiro – Assinatura das Convenções (Mudanças climáticas / diversidade biológica).
 	Trata-se de uma conferência ocorrida no Rio de Janeiro, onde surgiu um forte protagonismo das OSIP´s e ONG´s. Acentuou-se o principio do desenvolvimento sustentável e foi assinada a Agenda 21.
1998 – Lei de Crimes Ambientais
 	Foi pioneira a demandar a responsabilidade penal de Pessoas Jurídicas no Brasil. 
PRINCIPIOS DO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO
 	Os princípios são extraídos do ordenamento jurídico. A doutrina, contudo, arrola uma multiplicidade de concepções de princípios. Para alguns, eles têm força normativa; para outros, são meras regras de pensamento. 
 	Em síntese, princípios são normas que exigem a realização de algo, da melhor forma possível, de acordo com as possibilidades fáticas e jurídicas. 
Podem ser expressos na norma.
Podem ser implícitos.
→ I. Principio do direito ambiental como direito fundamental:
 	Esse direito fundamental foi reconhecido pela Conferência das Nações sobre o Ambiente Humano de 1972, reafirmado pela Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 e pela Carta da Terra de 1997, conquistando posteriormente espaço nas Constituições mais modernas.
 	O direito ambiental é um direito fundamental de 3ª geração (direito de solidariedade). Coloca-se como um exercício ambiental, como a própria vida, haja vista que, é uma consequência do próprio direito á vida, sua qualidade e equilíbrio, já que o ser humano faz parte dos ecossistemas. 
 	Desse princípio basilar da nossa Carta Magna decorrem todos os outros, pois quando se fala em direito à vida, não se fala só em não ficar doente ou viver, mas em ter qualidade de vida, viver com qualidade. Por isso, há que se falar em direito à qualidade de vida, direito a uma vida digna, com um meio ambiente ecologicamente equilibrado, levando-se em conta todos os elementos da natureza, como: água, ar, solo, dentre outros.
 	
→ II. Principio da solidariedade intergeracional: benefícios as presentes e futuras gerações: 
 	Consiste na solidariedade entre as gerações futuras e presentes no sentido de preservar o meio ambiente, atuando de forma sustentável a fim de que as próximas gerações possam continuar usufruindo de nossos recursos naturais. A solidariedade intergeracionalé também denominada de diacrônica, que significa através do tempo, que se refere às gerações do futuro, à sucessão no tempo.
 	Assim, a Constituição consagra a ética integeracional, impedindo que a atual geração inviabilize a utilização do meio ambiente pelas gerações futuras: O relacionamento das gerações com o meio ambiente não poderá ser levado a efeito de forma separada, como se a presença humana no planeta não fosse uma cadeia de elos sucessivos.
→ III. Principio do desenvolvimento sustentável:
 	O termo desenvolvimento sustentável surgiu no final da década de 1970 e tomou relevo no Relatório de Brundtland – documento da ONU (Nosso futuro comum). A expressão foi definitivamente consagrada na ECO-92 e transformada em principio. 
 	Tal principio procura conciliar a proteção do meio ambiente com o desenvolvimento socioeconômico para melhoria da qualidade de vida do homem. É a utilização racional dos recursos naturais não renováveis, também conhecido como meio ambiente ecologicamente equilibrado ou eco-desenvolvimento. 
 	Representa o esforço constante me equilibrar e integrar os três pilares:
Bem-estar social
Prosperidade econômica
Proteção em beneficio das gerações atual e futuras. 
 	Sustentabilidade, em outras palavras, tem por finalidade buscar compatibilizar o atendimento das necessidades sociais e econômicas do ser humano com a necessidade de preservação do ambiente. Visa-se, com essa conciliação, assegurar a manutenção de todas as formas de vida na Terra, inclusive a humana, Busca-se, por meio desse principio, melhorar a qualidade de vida, respeitando a capacidade de suporte dos ecossistemas, e com isso, a diminuição da miséria, da exclusão social e econômica, do consumismo, do desperdício e da degradação ambiental. 
 	Críticos desse principio afirmam inexistir um índice preciso para medi-lo, a não ser por meio do Produto Interno Bruto (PIB), razão pela qual se procurou criar outro índice que pudesse melhor analisar o crescimento de um país sobre todos os aspectos. E, após muitos estudos, foi criado pela ONU o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que, apesar de ainda não ser perfeito, fica mais próximo da realidade, pois deve estar fundamentado em três pilares:
Longevidade da vida com saúde;
Acesso à educação e nível de escolaridade;
Renda mínima e vida digna.
 	Há quem entenda que a dicotomia desenvolvimento/preservação ambiental está superada. Precisa-se, segundo estes críticos, conciliar sustentabilidade com tecnologia, em beneficio do meio ambiente. Toda decisão, seja ela politica, econômica ou social, deverá ter um viés ambiental. 
→ IV. Principio da prevenção:
 	O principio da prevenção se dá em relação ao perigo concreto decorrente de riscos já conhecidos. Seu objetivo é o de impedir que ocorram danos ao meio ambiente, concretizando-se, portanto, pela adoção de cautelas, antes da efetiva execução de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras de recursos naturais.
 	Aplica-se o Princípio da Prevenção naquelas hipóteses onde os riscos são conhecidos e previsíveis, de modo a se exigir do responsável pela atividade impactante a adoção de providências visando, senão eliminar, minimizar os danos causados ao meio ambiente.
 	É o caso, por exemplo, de atividade industrial que gere gases que contribuem para o efeito estufa. Tratando-se de riscos previamente conhecidos, antecipa-se a Administração Pública ao dano ambiental e impõe ao responsável pela atividade a utilização de equipamentos ou tecnologias mais eficientes visando a eliminação ou diminuição do lançamento daqueles gases na atmosfera.
→ V. Principio da precaução:
 	O principio da precaução é dirigido ao perigo abstrato, o que significa a atitude ou cuidado que se deve ter para evitar danos ao meio ambiente ou a terceiros. Isto é, possui âmbito de aplicação diverso, embora o objetivo seja idêntico ao do Princípio da Prevenção, qual seja, antecipar-se à ocorrência das agressões ambientais.
 	O Princípio da Precaução encontra terreno fértil nas hipóteses em que os riscos são desconhecidos e imprevisíveis, impondo à Administração Pública um comportamento muito mais restritivo quanto às atribuições de fiscalização e de licenciamento das atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos naturais.
 	Tal principio coloca-se diante das incertezas cientificas que possuem potencial lesivo, por exemplo a questão dos alimentos transgênicos produzidos em alta escala e ao uso de agrotóxico nas lavouras, onde argumenta-se sobre a permissão de uso destes, haja vista que, não se sabe ao certo qual o potencial de dano e quais malefícios podem trazer a saúde humana e ambiental. Dessa forma, mesmo que se saiba quais são as dosagens utilizadas em ambas as situações, não há como se ter certeza das lesões acarretadas a longo prazo. 
 	Na prática processual, a argumentação da prevenção tem o condão de inverter o ônus da prova, ou seja, a partir do momento que apresenta-se laudos e estudos de um potencial dano ao meio ambiente, transfere-se o ônus da prova para aquele que possivelmente venha a causar aludido dano, tendo que demonstrar que na verdade os estudos estão equivocados. Na dúvida, se a parte que poderá causar lesão não provar o contrário, ou seja, que não é prejudicial, deve ser suspensa a atividade imediatamente. 
→ VI. Principio do poluidor-pagador:
	Os Estados devem desenvolver uma legislação nacional relativa à responsabilidade e indenização das vitimas de poluição e outros danos ambientais. Os Estados devem ainda cooperar de forma expedita e determinada para o desenvolvimento de norma de direito internacional ambiental relativa à responsabilidade e indenização por efeitos adversos de danos ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle. 
 	Tendo em vista que o poluidor deve, em principio, arcar com o custo decorrente da poluição, as autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando na devida conta o interesse publico, sem distorcer o comércios e os investimentos internacionais.
 	O poluidor deverá arcar com o prejuízo causado ao meio ambiente da forma mais ampla possível. Impera, e nosso sistema, a responsabilidade objetiva, ou seja, basta a comprovação do dano ao meio ambiente, a autoria e o nexo causal independentemente da existência da culpa. 
 	Pode parecer um paradoxo, mas o fato de o poluidor ser obrigado a reparar os danos causados não significa que ele poderá continuar a poluir. Ressalta-se que essa reparação deve ser integral, de modo que, não sendo possível a recomposição, o poluidor deverá ressarcir os danos em espécie cujo valor deverá ser depositado no fundo para o meio ambiente. 
 	Por fim, o poluidor pagador possui responsabilidade por danos ambientais e deve responder pelos riscos das atividades econômicas realizadas por este. Os custos sociais e ambientais do processo produtivo devem ser internalizados, ou seja, precisam ser a cargo do poluidor e jamais transferidos para o consumidor final. 
→ VII. Principio do usuário-pagador:
 	O Principio do Usuário-Pagador parte do pressuposto de que deve haver contrapartida remuneratória pela outorga do direito de uso de um recurso natural. Estabelece que os recursos naturais devem estar sujeitos à aplicação de instrumentos econômicos para que o seu uso e aproveitamento se processem em benefício da coletividade, definindo valor econômico ao bem natural. A apropriação desses recursos por parte de um ou diversos entes privados ou públicos deve favorecer a coletividade, nem que seja por uma compensação financeira.
 	O Princípio do Usuário-Poluidor não pode ser interpretado de forma a ensejar o entendimento de que todos os usuários, independente de uso ou não dos recursos hídricos, devam ser cobrados, vez que a cobrança tem por característica um “preço público” cobrado pelo uso de um “bem público”.
 	Assim, esse principio é atribuído a atividade econômicade quem utiliza um determinado recurso natural em grande escala, por exemplo, a água é um recurso natural de interesse difuso e em principio, seus usuários não arcam monetariamente por ela (arcam apenas com o saneamento e abastecimento da água, que é realizado por empresas como a Sabesp – pagam o tratamento da água e não por ela em si), porém o empresário que a usa em grande escala na lavoura ou em indústrias deve pagar pelo recurso usado. 
→ VIII. Principio do protetor-recebedor:
 	O principio do protetor-recebedor está previsto na Lei da Politica Nacional dos Resíduos Sólidos PNRS. É a obrigação que tem aquele que receber verbas do poder Público de proteger ou de não degradar o meio ambiente. É a compensação que o proprietário recebe para proteger determinado recurso natural, de modo que, compete ao Poder Público estabelecer planos com a finalidade de garantir verbas ao proprietário de determinado bem para que ele proteja ou não degrade áreas especialmente protegidas. 
 	Dessa forma, se um individuo faz algo de especial pelo meio ambiente, recebe um valor monetário em troca do encargo prestado, ou pode ter um beneficio através da isenção no pagamento de impostos, entre outras possibilidades. É o inicio de um direito ambiental que se comunica com a atividade econômica. 
→ IX. Principio socioambiental de propriedade - função social:
 	Com a evolução dos tempos, a propriedade passou a exercer função social e não mais individual, incidindo uma série de regras legais e administrativas na propriedade privada urbana e rural com o objetivo de disciplinar o convívio harmonioso dos seus habitantes. Mas para que a propriedade possa exercer plenamente sua função social é indispensável que o seu proprietário observe a legislação municipal, estadual e federal, por exemplo, a lei de Parcelamento do Solo, o Código Civil, o Código de Edificações, as regras do zoneamento residencial e ambiental e do licenciamento etc. E, dependendo da situação, será necessária a realização do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA/RIMA) o Estudo Prévio do Impacto de Vizinhança (EPIV). A inobservância dessa legislação poderá acarretar a desapropriação, a usucapião urbana, rural ou coletiva, o aumento gradativo do IPTU, etc. 
 	Foi nesse contexto que o legislador constituinte inseriu o principio da função social da propriedade no corpo da Constituição Federal brasileira, em dois dispositivos estratégicos:
O primeiro no capítulo dos direitos e deveres individuais e coletivos (artigo 5º, XXIII).
O segundo no capitulo dos princípios gerais da atividade econômica (artigo 170, III).
→ X. Principio da participação:
 	O principio da participação está fundamentado essencialmente no principio décimo da Declaração do Rio/92:
 	A melhor maneira de tratar questões ambientais é assegurar a participação no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada individuo deve ter acesso adequado a informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar em processos de tomadas de decisões. Os estados devem facilitar e estimular a conscientização e a participação pública, colocando a informação à disposição de todos. Deve ser propiciado acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que diz respeito à compensação e reparação de danos.
 	Este principio está fundamentado em dois pontos importantes:
Informação;
Conscientização/educação Ambiental.
Se o cidadão não tiver consciência ambiental, a informação não lhe servirá para nada. 
 	Assegura ao cidadão a possibilidade de participar das politicas publicas ambientas. Essa participação poderá dar-se em três esferas:
Legislativa: O cidadão poderá diretamente exercer a soberania popular por meio do plebiscito, referendo e iniciativa popular. 
Administrativa: O cidadão pode utilizar-se do direito de informação, do direito de petição e do estudo prévio de impacto ambiental. 
Processual: O cidadão poderá utilizar-se da ação civil público, da ação popular, do mandado de segurança coletivo, do mandado de injunção, da ação civil de responsabilidade por improbidade administrativa e da ação direta de inconstitucionalidade. 
→ XI. Principio do não retrocesso ou da proibição do retrocesso da legislação ambiental:
 	Este principio impede que novas leis ou atos venham a desconstituir conquistas ambientais. Após atingir certo status ambiental, o principio veda que se retorne a estágios anteriores, prejudicando e alterando a proteção dos recursos naturais, por exemplo. 
 	Tal principio não admite qualquer excludente, já que a higidez ambiental é importante à sobrevivência de todas as formas de vida. Abrir exceção é permitir a degradação e a destruição do ambiente e das conquistas que levaram décadas para serem alcançadas. 
 	O não retrocesso não se aplica somente no que tange às conquistas ambientais, mas também às sociais, econômicas, culturais, etc. Seria possível admitir a pena de morte ou a pena degradante, atualmente: Não, seria o mesmo que retroceder no tempo. Em relação ao meio ambiente funciona da mesma forma, e o Ministério Público é seu principal guardião. 
COMPETÊNCIA NO DIREITO AMBIENTAL
Obrigatoriedade de intervenção estatal
Poder público tripartido: Sistema de freios e contrapesos - Montesquieu (Executivo/Legislativo/Judiciário).
Brasil: Pais continental com grande diversidade regional.
Descentralização do poder – Regime federativo do Brasil.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos.
 	Competência é a faculdade jurídica atribuída a uma entidade ou a um órgão ou agente do Poder Público para emitir decisões. Competências são as diversas modalidades de poder de que se servem os órgãos ou entidades estatais para realizarem suas funções. Há duas espécies de competência na Constituição Federal:
Legislativa (formal): A competência formal tem conotação verticalizada ou piramidal, consubstanciada no principio da predominância do interesse (interesse geral, regional e local).
Administrativa (material): A competência material tem feição horizontalizada, também chamada paralela, pois, na maioria dos casos, a atuação de um ente não exclui a de outro, ou seja, soma-se (cooperação). 
 	Normas de competência são as que atribuem aos entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) matérias gerais e especificas para melhor administrar suas unidades federativas e proporcionar bem-estar à população. Essa repartição de competência decorre do sistema federativo. 
 	No Brasil, o sistema federativo prevê três níveis de repartição de competência para o exercício e o desenvolvimento de suas atividades normativas. A doutrina dividiu essa repartição em enumeração taxativa das competências da União, competência residual ou remanescente dos Estados e do Distrito Federal e competência dos Municípios no que se refere ao seu interesse local, além de subdividir em competência material (exclusiva ou comum) e competência legislativa (exclusiva, privativa, concorrente e suplementar). 
 	Atribuiu-se à União, de forma expressa, competência privativa e concorrente para legislar sobre as matérias previstas dos artigos 22 e 24 da CF. Aos Estados e Distrito Federal foram atribuídos poderes residuais ou remanescentes, podendo exclusivamente legislar sobre matérias que não forem de competência privativa ou exclusiva federal e estadual, nos termos do artigo 30 da CF.
→ Competência material exclusiva:
 	A competência material exclusiva não confere poder para legislar sobre matéria por ela abrangidas, mas somente o poder de execução (executiva ou administrativa) em observância à disciplina na competência legislativa. Tal fato pode ser identificado pelos verbos utilizados em todo o rol o artigo 21 da CF (prover, editar, autorizar,promover, administrar, organizar, etc). 
Art. 21. Compete à União:
I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;
II - declarar a guerra e celebrar a paz;
III - assegurar a defesa nacional;
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente;
V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal;
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;
VII - emitir moeda;
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada;
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social;
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; 
 
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95:)
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
 
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95:)
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos; 
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 69, de 2012) (Produção de efeito)
 
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão;
XVII - conceder anistia;
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações;
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; (Regulamento)
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação;
 
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006).
 
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006).
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006).
 
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa.
 	Assim, a União poderá elaborar e executar planos de ordenação do território e de desenvolvimento socioeconômico, instituir o sistema nacional de recursos hídricos e as diretrizes de desenvolvimento urbano, incluindo habitação, saneamento básico e transportes urbanos, explorar os serviços e instalações nucrelares de qualquer natureza e estabelecer áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem. 
 	Essa competência permite á União desempenhar certas atividades de cunho politico, administrativo, econômico ou social, que, por sua natureza, inserem-se na órbita do Poder Executivo, pressupondo o seu exercício a tomada de decisões governamentais e a utilização da máquina administrativa. 
→ Competência legislativa exclusiva:
 	A União possui competência privativa para legislar sobre as águas, energia, jazidas, minas e outros recursos minerais, populações indígenas e atividades nucleares de qualquer natureza. Essa competência pode ser transferida aos Estados por lei complementar. 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio;
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.
Obs.: Desfazendo a rigidez inerente á competência privativa, a Constituição Federal prevê no parágrafo único do artigo 22, após a enumeração das matérias inclusivas na privatividade legislativa da federação, que lei complementar poderá autorizar os Estados a legislarem sobre questões especificas relacionadas na competência privativa. Essa forma de delegação legislativa da União aos Estados, no nível dos ordenamentos constitutivos da República Federal, exige lei complementar, portanto, a aprovação da maioria absoluta das duas Casas do Congresso nacional, e não se reveste de generalidade, requerendo, ao contrário, a particularização de questões especificas, subtraídas ao elenco das matérias incluídas na privatividade da União. 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.
→ Competência material comum:
 	A competência material ou executiva atribuída aos entes da Federação possibilita-lhes o desempenho de diversas tarefas e serviços na esfera politica, administrativa, econômica e social. 
 	Em matéria ambiental, foi atribuída à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios (competência comum) a responsabilidade de proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; impedir a destruição desses bens; promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas, preservar as florestas, a flora e a fauna, registrar, acompanhar e fiscalizar a concessão de direitos de pesquisa e exploração de recursoshídricos e minerais em seus territórios. Não se trata de competência administrativa ou de implementação entre os entes da Federação para atuar em cooperação reciproca comum. 
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; 
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; 
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
 	A CF, além das competência materiais exclusivas, enumera no artigo 23 as matérias de competência executiva atribuídas à União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Trata-se de competência material comum repartida entre os entes da Federação para o cumprimento das tarefas em forma de cooperação. Essa competência não envolve o poder de legislar, devendo, no entanto, observar as leis já editadas para a implementação das politicas públicas ambientais. 
Obs.: É importante ressaltar que a cooperação entre os entes federados está prevista no parágrafo único do artigo 23 e será disciplinada por leis complementares. Tais leis têm por finalidade estabelecer o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. 
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
→ Competência legislativa concorrente:
 	Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal (competência concorrente) legislar sobre: direito urbanístico, floresta, caça, pesca, fauna, conservação, defesa do meio ambiente e dos recursos naturais, proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico e responsabilidade por dano ao meio ambiente. 
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;
IV - custas dos serviços forenses;
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
 	Excluindo-se a competência legislativa exclusiva da União, a maior parte das matérias é de competência concorrente, impondo-se à União a responsabilidade de disciplinar normais gerais, e aos estados e Distrito Federal a edição de normas especificas. Essa distribuição de competência traz em seu bojo o sentido de cooperação entre os entes federados na esfera administrativa e legislativa. 
 	A proteção do meio ambiente não deve ficar sob responsabilidade de um único ente da Federação, mas deve ser partilhada entre todas as entidades desta e a comunidade, em observância ao principio maior previsto no artigo 225 da CF.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; (Regulamento)
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; (Regulamento) (Regulamento)
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; (Regulamento)
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; (Regulamento)
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; (Regulamento)
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (Regulamento)
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. 
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. 
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
 	A competência concorrente permite que dois ou mais entes da Federação possam legislar sobre a mesma matéria. Essa competência pode ser dividida em competência concorrente cumulativa e não cumulativa. 
Competência concorrente cumulativa: Permite à União, aos Estados e aos Distrito Federal legislar sobre matéria a eles atribuídas sem limites prévios. 
Competência concorrente não cumulativa: Não permite aos entes federados legislar plenamente, devendo respeitar a competência vertical dos entes de hierarquia superior. 
 	Nossa Constituição Federal adotou a competência concorrente não cumulativa no sentido de atribuir à União a responsabilidade de legislar sobre normas de caráter geral, e aos Estados e Distrito Federal, sobre normas especificas. 
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.
 	No Brasil, as normas gerais estabelecidas pela União são, em regra, extremamente detalhistas, restando aos Estados e ao Distrito Federal pouco ou nenhum espaço para legislar. A competência concorrente dos Estados e do Distrito Federal é suplementar e tem por escopo detalhar os princípios formulados pela norma federal, respeitando-se as peculiaridades de cada unidade da Federação. Os Estados e o Distrito Federal só poderão legislar plenamente em caso de ausência da norma federal. 
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerãoa competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
Obs.: 
 	Em havendo conflito entre as normas estaduais e as federais concorrentes, a doutrina tem sustentado a prevalência das normas de maior hierarquia, desde que tais normas sejam efetivamente de caráter geral. Mas é importante ressaltar que não pode haver invasão de competência entre os entes federados, não podendo a União estabelecer normas especificas nem os estados e o Distrito Federal criar normas gerais. 
 	Em tese, a invasão da competência poderá ser objeto de declaração de inconstitucionalidade. Essa declaração poderá ser resolvida pelo controle de constitucionalidade difuso ou concentrado. 
 	Não podemos olvidar que a União deverá editar normas de caráter geral, que têm por escopo estabelecer principio de natureza fundamental a ser aplicada em todo o território nacional, não podendo especificar situações reservadas ao Estados. As particularidades devem ficar ao encargo dos Estados, que deverão detalhar a legislação de acordo com suas peculiaridades. 
→ Por exemplo, é concorrente a competência para legislar sobre florestas. O Código Florestal é considerado uma norma geral em face da vigência da Constituição Federal de 1988. Isso porque, cabendo ás duas pessoas politicas legislar sobre a matéria, os dispositivos do novo Código Florestal passaram a ser tidos como princípios gerais obrigatórios, podendo os Estados legislar sobre florestas mas sem infringir as regras genéricas. 
→ Competência legislativa dos municípios: 
 	O Município passou a ter autonomia tal qual os Estados e, como ente da Federação, é detentor de competências exclusivas e organização politica própria. 
 	A Constituição Federal atribuiu competência comum material ao Município para proteger o meio ambiente, ou seja, não se trata de matéria legislativa. 
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público;
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;
IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico;
X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
Obs.: A CF não atribuiu aos Municípios competência legislativa concorrente nas matérias contidas no artigo 24. A principio, os Municípios não poderiam editar leis sobre essas matérias. 
 	Assim, a Constituição Federal atribuiu aos Municípios a competência para legislar sobre assuntos de interesse local; suplementar a legislação federal e estadual no que couber; promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observadas a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.
 	Em continuidade, nada obsta que os Municípios possam legislar sobre as matérias arroladas no artigo 24 da CF, desde que esteja presente o seu interesse peculiar ou local. Essa permissão está prevista no artigo 30, I e II da CF, podendo suplementar, no que couber, as legislações federal e estadual dentro do seu próprio interesse.
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
 	Os Municípios não podem legislar plenamente fundados em seu interesse local, desrespeitando as normas federais e estaduais. Se isso fosse possível, perderia o sentido a competência arrolada no artigo 24 da CF, mesmo que as matérias sejam de interesse local. Assim, a interpretação mais consentânea seria o detalhamento das normais gerais estabelecidas pela União, Estados e Distrito Federal. 
 	A competência municipal é sempre concorrente com a da União e a dos Estados-membros, podendo legislar sobre todos os aspectos do meio ambiente, de acordo com sua autonomia municipal, prevalecendo sua legislação sobre qualquer outra, desde que inferida do seu predominante interesse; não prevalecerá em relação ás outras legislações, nas hipóteses e que estas forem diretamente inferidas de suas competências privativas, subsistindo a do Município, entretanto, embora observando as mesmas. 
 	Não há dúvidas de que a competências dos Municípios, em matéria ambiental, faz-se necessária, especialmente por se tratar de seu peculiar interesse, não podendo ficar à mercê das normas estaduais e federais. 
 	O Município não pode legislar plenamente, respaldado na sua autonomia constitucional, alegando tratar-se de assunto pertinente a seu interesse local. Caso fosse possível, a repartição de competência perderia o sentido, o que seria um contrassenso. Não foi isso que pretendeu o legislador constituinte. 
Em suma:
Art. 21 CF → Administrativa/material + Exclusiva + União + Indelegável
Art. 22 CF → Legislativa + Privativa + União + Delegável por LC.
Art. 23 CF → Administrativa/material + Comum + União / Estado / DF / Munícipio.
Art. 24 CF → Legislativa + Concorrente + União / Estado / DF
Art. 25 CF → Estados
Art. 30 CF → Municípios
Art. 32 CF → DF.
→ Caso da proibição da queima da palha da cana-de-açúcar:
 	Um caso que bem representa a controvérsia em relação a competência, se refere à possibilidade dos Municípios criarem leis que proíbam a queima da palha da cana-de-açúcar, especialmente por ser considerada uma atividade nociva ao meio ambiente e à saúde da população local.
 	O debate principal se dá justamente na divergência acerca da (in)constitucionalidade de tais leis ambientais, as quais são atacadas por supostamente ferirem a divisão constitucional das competências legislativas.
 	Nos vários casos julgados, os argumentos de ambos os lados são muito consistentes. Como primeiro exemplo, na ADI n.163.415-0/4-00 referente à lei proibitiva do Município de Cedral, o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo entendeu, por maioria, que tal legislação municipal estaria usurpando a competência da União/Estados, de modo que seria formalmente inconstitucional.
 	No entanto, tal entendimento não restou pacificado. Muito pelo contrário, o julgamento acabou com 13 (treze) Desembargadores aliados a tese vencedora e 11 (onze) Desembargadores vencidos.
 	No voto vencedor do Desembargador Luis Elias Tamabra, restou consignado que:
“Não só a União como o Estado de São Paulo, no exercício da competência que lhes foi exclusivamente reservada pelo inciso VI do artigo 24 da Constituição Federal, editaram normas disciplinando minuciosamente o emprego do fogo em práticas agropastoris, mediante queima controlada e sua eliminação de forma gradativa, comométodo despalhador e facilitador do corte de cana-de-açúcar em áreas passíveis de mecanização da colheita”.
 	Nesse raciocínio, o papel do Município seria de tão somente suplementar a legislação federal e estadual no que couber, de maneira restrita, de complementação, mas não de modo contrário ao já estabelecido. Assim, foi dado prevalência ao argumento de que apenas a União e o Estado têm competência para legislar sobre meio ambiente, na medida em que o Município não poderia ir de encontro à Lei Estadual 11.241/02, que permite o uso do fogo na colheita.
 	Ao final, lembra o voto vencedor do Desembargador Eros Piceli que, no campo do meio ambiente, não se pode confundir interesse peculiar do Município com a tentativa de legislar em sentido contrário ao Estado, ainda mais porque “bem ou mal, existe lei estadual, ue dispõe sobre a matéria de queima da palha da cana-de-açúcar, de modo que os municípios não podem estabelecer lei em sentido contrário.”
 	Nos demais votos no mesmo sentido, sempre é lembrado que tanto a separação dos Poderes como a repartição de competências são fundamentais no regime federativo. Dessa forma, entendem que por a matéria da queimada estar disciplinada em Leis Estadual, não competiria ao Município dispor de forma diversa. A vedação municipal não poderia afrontar, assim, a permissão estabelecida pelo Estado, ente federal competente para legislar sobre o assunto.
 	Nesse sentido foi complementado pelo Desembargador Walter de Almeida Guilherme, ao buscar evitar a disparidade de legislação:
“Um município permite as queimadas nas áreas rurais para a colheita da cana-de-açúcar e o outro não. A necessidade de uniformização das práticas dos municípios referentes ao tema é que ditou que a competência para legislar fosse de caráter mais abrangente. Se, para a defesa do meio ambiente, é necessário proibir as queimadas, a União e os Estados podem emitir leis nesse sentido”.
 	É demonstrado no Acórdão que o Município não pode, a pretexto de exercer a sua competência supletiva ou complementar, legislar sobre Direito Ambiental com inobservância dos princípios gerais e das diretrizes fixadas pela União Federal e pelo Estado-membro. Portanto, seria possível o entendimento de que a atribuição de competência legislativa da União não exclui a do Município, embora este não possa contrariá-la.
 	Além disso, consignou o voto vencedor que se deve dar destaque para o fato de que a questão não seria de hierarquia, mas sim de competência, de modo que se a União extrapolar as normas gerais e ingressar na regulamentação específica da matéria, a lei federal não prevalecerá. A busca da proteção ambiental sempre deveria ser realizada com a observância dos ditames da Constituição Federal.
 	Posteriormente, o Desembargador Walter de Almeida Guilherme reforça seu voto com a citação de Pontes de Miranda: 
“Onde a legislação estadual contradiz as normas gerais editadas pela legislatura central, se anterior, está revogada; se posterior, peca pela inconstitucionalidade”. Referido Desembargador busca salientar os benefícios da queima da cana, a qual seria solicitada pelos próprios trabalhadores rurais, pois a queima afastaria cobras e escorpiões, além de facilitar o corte da cana-de-açúcar. Ao final lança um argumento puramente econômico, segundo o qual os dirigentes das empresas saberiam o que fazer para alcançar o lucro: “Se houvesse possibilidade de se proceder de forma diversa e ainda obter lucro, os empresários do setor por certo já teriam agido dessa forma, pois a busca do lucro passa pela competência e pela boa administração do negócio”.
 	Nesta linha também foi o entendimento do Desembargador Torres de Carvalho, ao relatar o Agravo n° 436.156.5/4-00 da Comarca de Limeira, segundo o qual a lei proibitiva da queima da palha da cana implicaria em vultosos investimentos por parte das empresas do setor, inclusive alterando as relações dos trabalhadores locais.
 	O Desembargador também afirma que não há “conclusão confiável quanto aos reais efeitos deletérios da queimada ao meio ambiente e à saúde humana”. Ainda sopesa que haveria grande prejuízo econômico e social com a proibição, pois aumentaria muito o desemprego do trabalhador rural, bem como não haveria tecnologia disponível para a prática sem a queima.
 	Tais argumentos foram repetidos para repelir leis que proibiam a queima da palha em vários Municípios paulistas, o que fez o Judiciário afastar a vigência das leis municipais de Cedral, Mogi Mirim, Ribeirão Preto, Americana, São José do Rio Pardo entre outras.
 	De outro lado, os 11 Desembargadores que se declaram vencidos na referida ADI nº 163.415-0/4-00 do Município de Cedral, discordaram dos argumentos expostos pelos votos vencedores, de modo que votaram pela constitucionalidade da lei que proibiu a queima da palha da cana-de-açúcar no Município.
 	O Desembargador Ivan Sartori, hoje Presidente do Tribunal de Justiça, buscou defender que a generalidade do tema nas normas estaduais autorizariam a lei municipal que proíbe a queima da palha da cana, sendo estas constitucionais:
“É que, além de dispor sobre a competência dos Municípios para legislar acerca de assuntos de interesse local, a Constituição Federal previu a possibilidade de aquelas Autonomias suplementarem a legislação federal e estadual, no que couber (art. 30, incisos I e II), a par de lhes atribuir competência concorrente para a proteção do meio ambiente e combate da poluição em qualquer de suas formas (art. 23, VI)”.
 	Na Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 125.060-0/5-00, referente à lei proibitiva de Ribeirão Preto, houve declaração de voto vencido do Desembargador e Professor Gilberto Passos de Freitas, no qual restou demonstrado que há ampla doutrina defendendo a constitucionalidade das leis municipais em favor do meio ambiente. Isso porque o poder-dever de todo o Poder Público defender e preservar o meio ambiente (artigo 225 da Constituição Federal), assim como a competência material dos Municípios para proteger o meio ambiente (artigo 23 da CF), legitimariam este ente federativo na produção de leis que almejassem esta finalidade.
 	Além disso, segundo mencionado Desembargador:
“considerando-se que os Municípios detêm melhores condições para detectar as agressões ao meio ambiente e adotar com mais eficácia as medidas protetivas cabíveis, de inteira aplicação o princípio da subsidiariedade”. Assim, conclui que é de interesse local do Município a questão relativa à queima da cana, razão pela qual afastou a inconstitucionalidade formal da lei municipal proibitiva”.
 	Da análise geral de outros votos divergentes em Ações Diretas de Inconstitucionalidades contra leis semelhantes, pode-se perceber alguns argumentos sempre presentes. Lembra-se que diante das consequências nefastas do procedimento da queima, o Município estaria autorizado a legislar com amparo do artigo 30, inciso I e II, da Constituição Federal, em defesa do interesse local, do território e dos cidadãos.
Com relação ao interesse local do Município para legislar, é argumentado que estaria presente na medida em que a queimada colocaria em risco não só a saúde, mas também a segurança de todos os munícipes.
 	Além do interesse local devidamente comprovado, argumentam que a suplementação da legislação federal e estadual (artigo 30, inciso II da Constituição) poderia antecipar o fim da queima previsto na Lei e no Decreto Estadual. Se no plano regional a eliminação será gradativa, nada impediria que um Município antecipasse a proibição da queima da palha de cana-de-açúcar na defesa dos interesses locais.
 	Normalmente também é rebatida a tese de que a queimada seria feita em prol dos trabalhadores, especialmente pelas péssimas condições de trabalho em que eles se encontram. Na verdade, para se buscar uma atividade que seja socialmente justa, o empresário deveria buscar a qualificar a da mão-de-obra lá utilizada e a melhoria das condições de trabalho.
 	Dessa forma, a queima da palha da cana é vista como uma prática que atende somenteaos interesses dos plantadores, pois ela facilitaria e baratearia o corte manual, aumentando a produtividade, diminuindo os custos e melhorando o transporte da cana.
 	Referida facilitação compensaria, sob a ótica econômica dos empresários, todo o gás carbônico, ozônio, gás de nitrogênio, enxofre e a fuligem. Se não bastasse, os prejuízos ao solo e a microbiota também são lembrados, haja vista que é aumentada a erosão e lixiviação no local das queimadas.
 	Já na Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 994.09.001612-2121, sobre lei semelhante na comarca de Uchoa, também houve a declaração expressa de inúmeros votos divergentes que merecem ser brevemente analisados.
 	A linha de argumentação utilizada pelo Desembargador Souza Lima nesta ADI foi a da compatibilização das leis municipais com a Constituição Estadual de São Paulo, especialmente com seu artigo 191:
“O Estado e os Municípios providenciarão, com a participação da coletividade, a preservação, conservação, defesa, recuperação e melhoria do meio ambiente natural, artificial e do trabalho, atendidas as peculiaridades regionais e locais e em harmonia com o desenvolvimento social e econômico”.
 	Já o voto do Desembargador Barreto Fonseca assentou que a prática da queimada até dispensaria prova dos malefícios e inconvenientes trazidos ao bem-estar público, especialmente pensando na população que reside na periferia das cidades canavieiras. Assim, diante da força normativa do caput e §3º do artigo 225 da Constituição Federal, os órgãos integrantes do SISNAMA (no caso, a CETESB) jamais poderiam afrontá-lo e permitir as queimadas.
 	Asseverou, assim, que “não se pode negar que existe o meio ambiente para o homem, e não o homem para o meio ambiente, de sorte que esse deve ser sacrificado, quando preciso, em favor daquele. Todavia, possível o corte da cana sem que se queime a palha.”
 	Especificamente no voto divergente do Desembargador Renato Nalini nesta ADI de Uchoa, foram trazidas inúmeras considerações que não podem ser desconsideradas a respeito do tema. De maneira firme, o Desembargador criticou a posição vencedora no Tribunal: “Ouso divergir da Douta Maioria, que se apegou ao vetusto critério do princípio da Separação dos Poderes para prover a pretensão dos sindicatos autores.”
 	Explicando melhor seu ponto de vista, afirmou que as leis locais são fruto de grande descontentamento popular com os malefícios das queimadas, demonstrando que os Municípios que proíbem “sabem o que significa a reiteração da prática primitiva que é a queimada”.
 	Já quanto à possibilidade do Município ser mais restritivo, recordou o Desembargador que não haveria qualquer novidade nesta prática:
“o Direito Urbanístico sempre reconheceu a cada cidade - e isso mesmo sob a ótica da normatividade fundante anterior a 1988 - restringir a ocupação do solo dentro de seus lindes. Proibido seria atenuar as exigências da Lei 6766/79, a Lei Lehman, do parcelamento do solo. Nunca se questionou a licitude de a lei municipal fixar parâmetros mais severos do que a lei federal. Sempre em nome do peculiar interesse do Município.”
 	Nessa linha de raciocínio, asseverou que não haveria porque não seguir o mesmo entendimento para direitos tão semelhantes. Criticou, ainda, a proibição eufemística da lei estadual, a qual ao mesmo tempo veda a prática da queimada, mas também assegura uma leniência desproporcional com os danos causados à saúde e à qualidade de vida dos munícipes.
 	Somado a isso, o Desembargador Renato Nalini também consignou que a doutrina vem admitindo que o Município possua uma competência legislativa suplementar pelo interesse local. Diante de sua ótica mais abrangente, ainda lembrou que:
“a tutela ao ambiente encontra-se inevitavelmente inserida na competência constitucional atribuída aos municípios de promoção do adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, parcelamento e ocupação do solo urbano (art. 30, inciso VIII) bem como para a elaboração da Política de Desenvolvimento Urbano e do Plano Diretor (art. 182).”
 	Argumentou que em razão do meio ambiente inserir-se no espaço urbano, a Política de Desenvolvimento Urbano e o Plano Diretor deveriam abranger uma perspectiva ambiental. Se isso não bastasse, foi exposto que a população das cidades do interior paulista continua sofrendo – e muito – com os resultados da queima da cana. O alto índice de emissão de gás carbônico na atmosfera agrava não só os problemas climáticos, como também as doenças respiratórias da população local.
 	Assim, buscou demonstrar que a proibição da queima da palha de cana-de-açúcar feita por lei municipal mostra-se em completa harmonia com a Constituição Federal, uma vez que a saúde é direito de todos e dever do Estado (artigo 196). Somado a tal fato, asseverou que deveriam ser garantidas políticas sociais e econômicas que busquem a redução do risco de doenças respiratórias, haja vista a grande exposição ao ar poluído decorrente da queima com que a população é obrigada a conviver periodicamente.
 	O mencionado Desembargador Nalini ainda citou trechos de precedentes no mesmo sentido do próprio Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo:
“(...) entre o princípio federativo e o princípio da tutela ao meio ambiente, este se sobrepõe ao primeiro, mesmo porque, o direito fundamental ao meio ambiente saudável é o primeiro interesse intergeracional explicitado pelo constituinte. Na ponderação de valores principiológicos proposta por Canotilho, a dimensão deste se encontra a anos-luz em relevância, se cotejado com o formalismo das competências federativas”
 	Nesse sentido, afirmou que a legislação estadual específica é claramente genérica, de modo que somente seria aplicada quando ocorrer lacuna da legislação local. Para reforçar tal tese, recordou a lição do professor Toshio Mukai ao tratar da autonomia municipal e da legislação sobre o meio ambiente: "a competência do Município é sempre concorrente com a da União e a dos Estados-membros, podendo legislar sobre todos os aspectos do meio ambiente, de acordo com a autonomia local,
 	Passando para uma análise de caráter mais principiológico, referido Desembargador ressaltou a necessidade de observância dos valores constitucionais, assegurando uma efetividade ótima que muito depende dos tribunais para ser alcançada. Assim, a hermenêutica da norma somente seria adequada e justa se não se baseasse exclusivamente na literalidade das normas, mas sim na prevalência dos princípios. Assim, o magistrado deveria perceber o que a Constituição quis dizer quando converteu o meio ambiente em direito fundamental para as presentes e futuras gerações, e somente a partir desta vertente interpretativa poderia se solucionar uma ponderação de princípios.
 	Baseado nas teses de J.J. Gomes Canotilho e Ronald Dworkin, o Desembargador Nalini finaliza seu voto no sentido da transformação dos direitos fundamentais em valores fundamentais, bem como na democratização da Constituição quando o Judiciário recebe soberania para interpretá-la de maneira construtiva. Assim, conclui pela compatibilidade da lei proibitiva da queima da cana com a ordem constitucional, especialmente em razão da inequívoca intenção da Constituição em enfatizar a tutela ao meio ambiente.
 	Finalmente, lembrou que o povo, verdadeiro titular do poder constituinte, vem aplaudindo as leis proibitivas das queimadas, de forma que não mais se poderia deixar nossa democracia semi-direta atada ao simples direito de votar no dia das eleições. Assim, dever-se-ia levar em conta o interesse da população local no controle de constitucionalidade exercido pelo Judiciário, sopesando tal fator conjuntamente com o Estado Democrático de Direito, alcançando uma harmonia da norma. Ao revés, a “falta de sincronia apenas intensificaria a consistência da argumentação de que o Judiciário, por sofisticar-se e sufocar-se em erudição, distanciou-se do povo, precípuo destinatário de seu mister e finalidade última para a qual esse Poderdo Estado foi preordenado”.
 	Diante dos robustos argumentos ora analisados, em outras quatro ações um pouco mais antigas que envolviam exatamente o mesmo tema, o Órgão Especial tomou decisão diametralmente oposta aos casos de Cedral e Uchoa, haja vista que declarou constitucionais as leis de Paulínia, Limeira, São José do Rio Preto e Botucatu. Assim, divergindo de todos os primeiros argumentos citados, a posição que vinha prevalecendo até alguns anos atrás no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo era pela constitucionalidade das leis municipais proibitivas.
 	No entanto, como recentemente o posicionamento majoritário do referido Órgão Especial tem se mostrado contrário à constitucionalidade destas leis municipais, a busca pela cessação dos malefícios sobre a queima da palha da cana acabou chegando novamente ao Judiciário por meio de outras ações que não as de inconstitucionalidade. Em que pese não ser o objeto direto deste trabalho a análise das tentativas de proibições das queimadas, cumpre mencionar algumas iniciativas tomadas como reação às inconstitucionalidades decretadas pelo Tribunal de Justiça paulista.
 	A Justiça Federal de São Paulo, por exemplo, proibiu a queima da palha de cana-de-açúcar na safra de 2012/13 em pelo menos dez cidades do interior paulista, proibindo-se a Cetesb de conceder autorizações para esse fim às usinas de Franca, Cristais Paulista, Itirapuã, Jeriquara, Patrocínio Paulista, Restinga, Ribeirão Corrente, Rifaina, São José da Bela Vista e Pedregulho.
 	Também foi determinado pela Justiça Federal de São Paulo que as permissões para queimadas só poderão ser dadas mediante elaboração de estudos de impacto ambiental para as cidades de Piracicaba, Águas de São Pedro, Charqueada, Limeira, Santa Bárbara d’Oeste, entre outras cidades.
 	Já no Município de Jaú a proibição decorreu de uma Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público local. Apesar do Tribunal de Justiça local ter sido favorável aos argumentos da Municipalidade e do Estado de São Paulo, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu provimento ao Recurso Especial (REsp nº 1.285.463123) do Ministério Público de São Paulo para proibir a queima da palha para o preparo da colheita da cana-de-açúcar na região de Jaú.
 	Foi narrado pelo Ministério Público que, todos os anos, no período da safra da cana, mesmo acarretando graves danos ambientais o fogo seria largamente utilizado para a limpeza do solo e facilitação do preparo do plantio e colheita da cana. Assim, buscou o Parquet local a condenação do Estado, na obrigação de não fazer consistente na abstenção da concessão de novas autorizações de queimadas nos canaviais de Jaú, sob pena da cominação de astreinte.
 	O Tribunal de Justiça, primeiramente, considerou que o ordenamento jurídico admite a prática da queima da cana, sendo tolerada em todo o Estado de São Paulo. Além disso, negou provimento a ação em razão da suposta incerteza de que a queimada cause degradação ambiental e malefícios à saúde do homem, afrontando diretamente os ditames do princípio da precaução.
 	Diante disso, o Recurso Especial interposto pelo Ministério Público no Superior Tribunal de Justiça buscou demonstrar que a decisão do Tribunal bandeirante desconsiderou o previsto no artigo 225 da Constituição e toda a legislação ambiental infraconstitucional, especialmente sobre o mandamento de prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente.
 	Foi sustentada a ofensa à Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81), na medida em que define poluidor como toda pessoa responsável direta ou indiretamente por atividades causadoras de degradação ambiental.
 	Argumentou-se que a própria Lei Estadual nº 10.547/00 autorizadora da queimada é que seria inconstitucional ao autorizar o emprego de fogo nas atividades agropastoris, por afronta à higidez ambiental e aos ditames constitucionais e infraconstitucionais.
 	Dentre os malefícios da prática da queima da cana, a Ação Civil Pública deu especial atenção para a matança de animais, quebrando o ciclo animal, além dos danos ao meio ambiente, à saúde das pessoas, e toda a fauna e flora local, especialmente em razão da liberação de material particulado e de vários gases nocivos à saúde.
 	Diante disso, o Superior Tribunal de Justiça houve por bem se alinhar ao princípio da precaução, asseverando o Ministro Humberto Martins que a ausência de certeza científica não poderia ser argumento para postergar a adoção de medidas eficazes de proteção ambiental (in dubio pro ambiente).
 	O acórdão mencionou que a permissão para a queima da palha da cana somente poderia ser dada se em caráter específico, sempre precedida de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) num processo de licenciamento, com vistas a implementação de todas as medidas cabíveis para amenizar os dados e a recuperar o meio ambiente.
 	A propositura de referida Ação Civil Pública está em consonância com o entendimento dos órgãos superiores do Ministério Público do Estado de São Paulo, tanto é assim que foi editada a Súmula 22 do Conselho Superior neste sentido:
“Justifica-se a propositura de ação civil pública de ressarcimento de danos e para impedir a queima da cana-de-açúcar, para fins de colheita, diante da infração ambiental provocada, independentemente de situar-se a área atingida sob linhas de transmissão de energia elétrica, ou estar dentro do perímetro de 1 km da área urbana”
 	O fundamento expresso utilizado para embasar a súmula é ainda mais contundente: “Os mais atuais estudos ambientais têm demonstrado a gravidade dos danos causados pela queimada na colheita da cana-de-açúcar ou no preparo do solo para plantio. Assim, em sucessivos precedentes, o Conselho Superior tem determinado a propositura de ação civil pública em defesa do meio ambiente degradado”
 	Em suma, o atual quadro do Estado de São Paulo no plano legislativo é o de que a queima da palha da cana continua regulada pela Lei 11.241/02 e pelo Decreto 47.700, de março de 2003. De acordo com a legislação, o processo será substituído totalmente, de forma gradativa, em um prazo de 30 anos. Após essa data, será obrigatório o cultivo mecanizado de cana crua.
 	Por outro lado, recentemente houve alguns avanços nessa questão: o primeiro foi o Protocolo Agroambiental firmado em 2007, no qual os produtores de cana de São Paulo se comprometeram a antecipar a eliminação da queima da cana até 2014 nas áreas mecanizáveis e até 2017 nas áreas não-mecanizáveis. O segundo foi a edição da Resolução SMA 40, de 22 de maio de 2013, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, que proíbe a queima da palha de cana de 1º de junho até 30 de novembro, no período das 6h às 20h, assim como proíbe em qualquer horário a queima se a umidade do ar estiver inferior a 20%. Assim, busca-se a suspensão da queima quando as condições atmosféricas do local estiverem desfavoráveis, com vistas a melhor salvaguardar a qualidade de vida e a saúde da população local.
 	Finalmente, foi reconhecida repercussão geral pelo Supremo Tribunal Federal a respeito do tema da queima da palha da cana-de-açúcar na Ação Direta de Inconstitucionalidade referente à Lei de Paulínia. Sendo esta uma das ações em que o Tribunal de Justiça paulista decidiu pela constitucionalidade da lei municipal, tanto o Estado de São Paulo, como o Sindicato da Indústria do Álcool interpuseram Recurso Extraordinário no STF (RE n. 586.224).
 	Em 28 de fevereiro de 2013 foi realizada audiência pública sobre a questão, no qual inúmeras pessoas com notória representatividade e especialização técnica manifestaram-se sobre os benefícios e malefícios das queimadas. 
 	Em 05 de março de 2015 ficou decidido que:
- O Município é competente para legislar sobre meio ambiente com União e Estado, no limite de seu interesse local e desde que tal regramento seja e harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI c/c 30, I e II da CRFB):
“In casu, porquanto inegável conteúdo multidisciplinar da matéria de fundo, envolvendo questões sociais, econômicas e políticas,

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