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PATOLOGIA GERAL - DB-301, FOP/UNICAMP ÁREAS DE SEMIOLOGIA E PATOLOGIA 37 PROCESSOS PROLIFERATIVOS NÃO NEOPLÁSICOS: Hiperplasia Fibrosa A hiperplasia fibrosa (HF) é uma resposta proliferativa da mucosa bucal a trauma, com formação excessiva de epitélio e conjuntivo fibroso, que se projeta de forma pediculada ou séssil para a cavidade bucal. Ulcerações são comuns nas hiperplasias, visto que são causadas por traumas. São as lesões mais freqüentes da mucosa bucal, felizmente não evoluindo para neoplasias. Dependendo das características microscópicas pode ser classificada microscopicamente em inflamatória e/ou ulcerada. HF provocada por prótese: A causa mais comum de HF é o trauma por prótese, principalmente dentaduras mal adaptadas. Ocorre geralmente nos rebordos alveolares, tanto na maxila quanto na mandíbula, na forma de projeções ou pregas fibrosas lineares, formando às vezes várias camadas adjacentes. A sintomatologia depende da intensidade do trauma e presença de ulcerações. Microscopicamente correspondem a extensas áreas de mucosa formada de epitélio estratificado, com áreas de acantose, atrofia e ulceração. O conjuntivo é fibroso e na região subepitelial pode haver acúmulo de células inflamatórias, geralmente linfócitos e plasmócitos. O tratamento é a remoção cirúrgica, eliminando-se também o trauma com confecção ou não de nova prótese, para evitar-se recidivas. HF por câmara de sucção (Hiperplasia Papilar): Antigamente eram comum confeccionar uma câmara de sucção circular ou em forma de coração no centro da superfície da prótese superior em contato com o palato, para aumentar a fixação da dentadura. A câmara estimula a proliferação da mucosa para preencher o espaço entre o palato e a prótese, tendo portanto a forma e o volume da câmara. Geralmente não causa sintomatologia, não necessitando tratamento. Entretanto pode ser removida cirurgicamente ou com o preenchimento gradativo da câmara com pasta zinco-enólica, resina ou godiva de baixa fusão. HF focal ( pólipo fibro epitelial, HF não provocada por prótese): A HF focal é menos extensa e mais localizada, com cerca de 1-2 cm de diâmetro. É comum na mucosa jugal, língua e lábio inferior, podendo ser pediculada ou séssil. É causada por trauma, mas nem sempre a irritação é determinada, mas podendo ser devida a hábitos de sucção da mucosa ou presença de dentes fraturados. Alguns autores ainda usam o termo fibroma quando a lesão é nodular, entretanto verdadeiros fibromas são raros na mucosa bucal, ocorrendo mais freqüentemente na pele. Alguns tumores odontogênicos são chamados de fibromas (fibroma cementificante). Obs.: Hiperplasias gengivais inflamatórias, medicamentosas, hereditárias e tumorais serão estudadas na Disciplina de Patologia Periodontal. Granuloma Piogênico O granuloma piogênico é um tecido de granulação hiperplásico, correspondendo a reação excessiva a trauma ou irritação crônica. Pode ser encontrado em qualquer área da mucosa bucal passível de trauma, como língua, lábio inferior e mucosa jugal. A gengiva interdental vestibular é o local mais freqüente, devido a presença de placa e espaço que permite o crescimento do tecido de granulação. Não causa reabsorção óssea. O aspecto clínico típico é a formação de massa exofítica, nodular, mole, superfície irregular, avermelhada, que sangra facilmente, e geralmente ulcerada por trauma secundário. A superfície ulcerada é recoberta por membrana fibrino-purulenta. As lesões podem ser pediculadas ou sésseis, com 0,5-1cm de diâmetro. Podem ser encontradas em qualquer idade, em ambos os sexos, com PATOLOGIA GERAL - DB-301, FOP/UNICAMP ÁREAS DE SEMIOLOGIA E PATOLOGIA 38 ligeira predileção pelas mulheres. Durante a gravidez há aumento na incidência dos granulomas piogênicos, provavelmente devido a má higiene bucal e aos efeitos dos estrógenos. São chamados de granulomas gravídicos. Microscopicamente são formados por numerosos vasos de paredes delgadas, com variada quantidade de células inflamatórias, principalmente neutrófilos, e a densidade do estroma fibroso é maior nas áreas mais profundas. A superfície freqüentemente está ulcerada, e nestes casos a inflamação é mais intensa. O termo piogênico é usado provavelmente pela presença de neutrófilos, não havendo entretanto a formação de pus. Se não houver ulceração, a quantidade de células inflamatórias é pequena ou mesmo ausente, predominando vasos e fibras. O tratamento consiste na remoção cirúrgica, tomando-se o cuidado de eliminar o fator irritante, para evitar-se recidivas. O granuloma gravídico pode regredir após o parto, principalmente com boa higienização. Granuloma pós-extração: após a extração dental pode-se formar no alvéolo um granuloma piogênico, devido a presença de corpo estranho ou seqüestro ósseo. Granuloma de fístula: formação de tecido de granulação (granuloma piogênico) na saída de trajeto fistuloso. Lesões de Células Gigantes Caracteriza-se pela presença de grande quantidade de células gigantes, geralmente associadas a vasos sangüíneos. Na boca, exceto em raríssimas exceções é sempre de natureza benigna. Em ossos longos pode ser maligna, sendo chamado de Tumor de Células Gigantes. Corresponde provavelmente a processo reativo. Na boca é classificado em periférico e central. Lesão Periférica de Células Gigantes (LPCG): Clinicamente apresenta-se como nódulo séssil ou pediculado, avermelhado, às vezes com ulceração, com cerca de 1cm de diâmetro, exclusivamente na gengiva e rebordo alveolar de incisivos e pre-molares, ou seja áreas de dentes decíduos. Pode causar erosão da superfície óssea, em forma de “taça”. A presença na gengiva e rebordo alveolar, sugere a origem de osteoclastos do ligamento periodontal ou periósteo. Microscopicamente destacam-se as células multinucleadas, com 10-20 núcleos,. Há também grande número de vasos, muitos com células multinucleadas associadas ao endotélio. O estroma tem células fusiformes (fibroblastos?), fibrilas, áreas hemorrágicas recentes e antigas, com evidente presença de hemossiderina. Não há cápsula, e eventualmente encontram-se trabéculas ósseas. Se não houver ulceração, a lesão está separada do epitélio por zona normal. O tratamento é cirúrgico, podendo ocorrer recidiva. Deve-se sempre descartar a possibilidade de ser uma lesão central. Lesão Central de Células Gigantes (LCCG): Microscopicamente é semelhante a LPCG, apenas intra-óssea. Pode mostrar áreas de calcificação distrófica ou metaplásica. Ocorre nas áreas de suporte dos dentes, mais freqüentemente na mandíbula, em crianças e adultos jovens (10-25 anos), do sexo feminino. Geralmente é achado radiográfico casual, mas em casos de crescimento rápido provoca dor, parestesia, mobilidade dentária, assimetria facial e eventualmente exteriorização, como se fosse uma LPCG. Radiograficamente mostra áreas radiolúcidas, com limites mal definidos. É comum o deslocamento dos dentes envolvidos e reabsorção das raízes. Radiograficamente pode ser confundido com várias lesões. O tratamento é cirúrgico, por vigorosa curetagem. Recorrência é comum. É importante considerar a possibilidade de hiperparatireoidismo, principalmente em pacientes adultos. PATOLOGIA GERAL - DB-301, FOP/UNICAMP ÁREAS DE SEMIOLOGIA E PATOLOGIA 39 Mucocele Mucocele é uma denominação clínica dada a duas lesões com patogenia e características histológicas distintas que podem ocorrer em glândulas salivares menores: (1) fenômeno de extravasamento de muco e (2) cisto de retenção de muco. Fenômeno de extravasamento de muco: Etiologia: O fenômeno de extravasamento de muco é causado pela ruptura do ducto de glândula salivar menor, geralmente provocada por trauma mecânico, como mordidas e quedas. Com a ruptura do ducto, a secreção salivar passa a ser despejada diretamente no tecido conjuntivo,induzindo uma resposta inflamatória aguda e difusa com neutrófilos, linfócitos e, principalmente, macrófagos (mucífagos). Posteriormente o muco extravasado fica envolvido por tecido de granulação e cápsula fibrosa, conferindo-lhe as características de pseudocisto. Aspectos clínicos: O lábio inferior é o sítio mais freqüente de ocorrência do fenômeno de extravasamento de muco, seguido do ventre da língua, entretanto pode ser encontrado em qualquer outra região da cavidade bucal que contenha glândula salivar menor. As lesões são indolores, com superfície regular podendo apresentar coloração azulada se forem superficiais ou coloração normal se forem profundas. Provocam aumento de volume na mucosa de consistência flácida que pode atingir até vários centímetros de diâmetro. Acometem principalmente crianças e adolescentes. Aspectos microscópicos: Histologicamente nota-se um epitélio de revestimento delgado e o conjuntivo apresentando cavidade contendo material mucóide circundado por tecido fibroso comprimido e tecido de granulação. O processo inicialmente é mais difuso, com infiltrado inflamatório composto por neutrófilos, macrófagos, linfócitos e plasmócitos. Em processos mais crônicos, os macrófagos que recobrem a luz podem ser confundidos com células epiteliais. Tratamento: O tratamento é a remoção cirúrgica, incluindo a glândula salivar menor envolvida. Se no material removido não observar-se microscopicamente a glândula envolvida no processo, pode haver recidiva. Cisto de retenção de muco: Etiologia: Apesar de clinicamente também ser denominado mucocele, o cisto de retenção de muco é considerado um cisto por apresentar cavidade revestida por epitélio, diferente do fenômeno de extravasamento de muco. Ocorre em glândulas salivares menores, sendo provocado por obstrução do ducto impedindo a passagem do fluxo salivar. Aspectos clínicos: É bem menos comum que a mucocele do tipo extravasamento de muco. Acomete principalmente pessoas acima dos 50 anos. Raramente ocorre no lábio inferior, sendo mais comum em lábio superior, palato, bochecha e assoalho bucal. Apresenta-se como uma tumefação que varia de 3 a l0 mm, indolor, recoberta por mucosa de coloração normal e sem história de traumatismo prévio. Aspectos microscópicos: Histologicamente há uma cavidade contendo quantidade variada de material mucóide revestido por epitélio ductal que pode se apresentar como pseudoestratificado ou formado por camada dupla de células colunares ou cubóides. Não apresentam inflamação. Tampões de muco ou sialolitos podem ser encontrados no interior do sistema ductal. Tratamento: O tratamento consiste na remoção cirúrgica da cavidade cística e da glândula salivar menor. Rânula (“frog′s belly”) Etiologia: É uma denominação clínica usada para designar uma mucocele do tipo extravasamento de muco que ocorre exclusivamente em assoalho bucal. Está associada à ruptura de ductos, geralmente provocado por trauma, das glândulas sublinguais e, menos freqüentemente, submandibulares. Se for de glândula menor do assoalho, pode ser chamado de mucocele, por ser mais localizado e menor.
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