Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS COMO AGENTE DE LEITURA Rosângela Janea Rauen Licenciada em Letras Português/Inglês- UTP Grupo Saberes de Contadores de História/PUC/PR O papel do narrador, da antigüidade aos nossos dias Histórias de vida Quantas histórias Cabem numa vida? (AuricéiaDumke) A experiência que passa de pessoa para pessoa foi a fonte que alimentou, desde sempre, todos os narradores, que retiravam das suas vivências ou da experiência relatada pelos outros, o que contar. O camponês sedentário, fixo em sua terra, mantinha vivo o saber do passado; o marinheiro comerciante trazia o saber das terras distantes, e as coisas narradas iam sendo incorporadas à experiência dos ouvintes Naqueles tempos, o narrador era figura de destaque na comunidade, não por sua importância política ou econômica, mas pelo fato de conhecer e contar fatos, histórias, mitos, mantendo viva a memória dos povos na arte de narrar. As pessoas viviam num mundo em que havia espaço para o lazer, o ócio e fiavam e teciam enquanto ouviam as narrativas. Estas, tinham às vezes uma dimensão utilitária, oferecendo uma sugestão prática, um ensinamento moral através de um provérbio, um conselho. Os narradores eram pessoas que sabiam dar conselhos, retirando-os com sabedoria da observação da experiência vivida. Hoje, não se admite perder tempo porque “tempo é dinheiro”. Por outro lado, a superficialidade das relações sociais fizeram com que as experiências deixassem de ser compartilhadas. A rapidez com que informações são transmitidas nos permite conhecê-las ao mesmo tempo em que os fatos estão acontecendo, não importa a que distância. A memória tem a ajuda dos livros e dos bancos de dados do computador. E a arte de narrar foi definhando. Mas ao invés de desaparecer completamente, no final do século XX ela se revigorou. O contador ressurgiu e se multiplicou nas salas de aula e de leitura, nos teatros, no ambiente familiar, conquistando os mais diferentes adeptos: músicos, atores, mímicos, poetas, escritores, recreadores, bibliotecários, professores, mães, avós e até curiosos! No entanto, contar histórias nestes tempos cibernéticos não é fácil: é preciso, antes de tudo, disputar espaço com a televisão, o computador, a internet, o video-game. Além do mais, é difícil encontrar ouvintes num mundo que considera o ato de ouvir uma perda de tempo. Walter Benjamin em O narrador diz que a arte de contar histórias se perdeu porque as pessoas perderam o dom de ouvir. O contador moderno tem papel importante no resgate desse dom e para isso, ele terá de ser um pouco mago, um tanto bruxo, ou mesmo fada. Cativando o ouvinte com a magia da palavra pronunciada, enfeitiçando com a modulação da voz, encantando pelas imagens sugeridas pelo texto. Por isso a importância da narrativa que acontece com o foco no texto e não no narrador. Se o foco está no narrador, com capa de mago, chapéu de bruxa, roupas de princesa ou fada, ele, o contador, é o espetáculo. E a importância do texto se dilui, fica em segundo plano. Quando o contador se coloca como veículo do texto e faz uso somente da voz para dar-lhe vida, o ouvinte tem a possibilidade de, através de suas próprias imagens mentais, atuar como co-criador, segundo a estética da recepção, preenchendo as lacunas do texto através de configurações, representações, que lhe são próprias, implicando-se no texto e, dessa forma, participando do ato de leitura, pois ouvir contos é uma forma de ler. O professor: contador e agente de leitura Para pensar em formar leitores, é preciso, antes de tudo, analisar alguns aspectos da formação do leitor, tomando por base algumas teorias a respeito de leitura. Ler é uma atividade complexa, plural, multidirecionada e necessita do engajamento de muitos fatores – memória, atenção, percepção e conhecimentos lingüísticos, que precisam ser ativados quando se quer fazer sentido do texto.(KLEIMAN,1989:13). Muitos teóricos têm se dedicado ao estudo e pesquisa do assunto e algumas dessas propostas foram selecionadas, com o objetivo de oferecer ao professor oportunidade de perceber essa complexidade do processo de leitura. Iniciando pela estética da recepção, que tem como foco o encontro entre o leitor e a obra literária e as diferentes maneiras como ele interpreta essa obra, JOUVE (2002:17), fundamentando-se em Thérien, descreve a leitura como um processo com cinco dimensões: a neurofisiológica, a cognitiva, a afetiva, a argumentativa e a simbólica. a) Não trataremos do processo neurofisiológico, pois se efetiva através do funcionamento do aparelho visual e, no caso de narrativas orais, os olhos funcionam como importante elemento de ligação entre ouvinte e narrador, mas não são a porta de entrada do texto para o cérebro. b) É um processo cognitivo que pressupõe uma certa competência por parte do leitor para, num esforço de abstração, dar significados aos signos. Para isso ele precisa dispor de um saber mínimo que possa ativar para realizar o exercício da compreensão e progredir na leitura, porém, é possível ao leitor voraz “perder” algo do discurso para progredir na trama sem que isso prejudique seu entendimento do texto. c) A leitura suscita emoções, sendo, portanto, um processo afetivo. A ligação entre afetividade e identificação é muito estreita: o leitor se identifica com alguma personagem, as situações narradas ecoam no seu íntimo provocando-lhe o riso, a admiração, a simpatia, a revolta, a piedade, num envolvimento que o leva , por momentos, a participar do jogo textual. d) É um processo argumentativo: todo tipo de texto interpela o leitor , conversa com ele, questiona-o e é por ele questionado. Fruto da vontade criadora do autor, o texto é repassado por suas idéias, crenças, posturas diante da vida e da sociedade. O uso da linguagem é uma forma de influência sobre o outro . Na linguagem verbal escrita, os textos de tese procuram convencer o leitor através de processos argumentativos. É sempre possível ao leitor analisar os elementos textuais, aceitando ou não a argumentação ali desenvolvida. e) A reação do leitor ante a argumentação proposta, aceitando-a ou recusando- a, ao longo do desenrolar da história, ante o jogo entre os pontos de vista, leva-o a construir um sentido que passa imediatamente a fazer parte de seu universo cultural, levando-o a (re)formular conceitos, posturas, transformando sua mentalidade , possibilitando-lhe agir de forma a influenciar o grupo social em que está inserido. Dessa forma, agindo nos modelos do imaginário coletivo, a leitura é um processo simbólico. WOLFGANG ISER (apud ZILBERMAN:2001) postula que ler é pensar os pensamentos de outros. É uma forma de ingressar em outros modos de reflexão, de ação, de ser, que não os seus próprios. É envolver-se por momentos na insegurança do novo e talvez, desconhecido. Para ele, esse ato de ocupar-se com o pensamento de outros é importante se, além da compreensão, ajudar a formular alguma coisa no leitor, levando-o a refletir sobre si mesmo e a descobrir um mundo até então inacessível para ele. Um mundo novo que, ao integrar-se ao mundo do leitor – regidopor regras, estreito, insatisfatório, não preenchendo muitas vezes as suas necessidades existenciais, o enriquece com experiências inéditas, não numa forma de escape ao seu mundo, mas indicando-lhe que pode ser diferente e, muitas vezes, melhor. Segundo ZILBERMAN(2001:54), Jauss confere à leitura natureza emancipatória: A experiência da leitura pode liberá-lo [ o leitor] de adaptações, prejuízos e apertos de sua vida pratica, obrigando-o a uma nova o percepção das coisas. Para Jauss, é a leitura literária que realiza de forma mais completa esse processo liberador, sendo essa a função social da literatura. ZILBERMAN(IdIb,54) acrescenta: [...]o único temor que a leitura pode inspirar é o de que seus usuários sejam levados a alterar sua visão de mundo, sonhem com as possibilidades de transformar a sociedade e não se conformem ao já existente. Essa visão da leitura como um ato reflexivo também está presente na obra de FOUCAMBERT (1994). Segundo ele, ler é questionar o mundo e ser por ele questionado; é questionar-se a si mesmo. Ler significa também construir uma resposta que integra parte das novas informações ao que já se é; significa, também, ter condições de questionar o texto escrito e de construir um juízo sobre ele. Para KLEIMAN (1989), ler é um processo interativo, no sentido de que os diversos conhecimentos do leitor interagem a todo momento com os oferecidos pelo texto, para construir a compreensão. Quando o leitor se apropria do texto através do ato da leitura ele o faz valendo-se de sua bagagem social, histórica, cultural e de seus conhecimentos lingüísticos, que são ativados na sua memória profunda para a construção do sentido e interpretação do texto. Enfocar a leitura como processo de interação entre autor/leitor ou leitor/texto é reconhecê-la como veículo importante que permite o estabelecimento de relações interpessoais muito ricas, possibilitando o crescimento do leitor, enquanto sujeito-leitor e como elemento de transformação do meio social em que vive. Para que o ato de ler possa levar o leitor a questionar, refletir, construir juízos de valor sobre o texto, sobre si mesmo ou a sociedade, e a agir como agente transformador é preciso que os agentes de leitura (família, escola, sociedade, governo ) tenham consciência da importância desse processo, entregue, via de regra, à responsabilidade exclusiva da escola e ali tratado como objeto de trabalho enfadonho. É preciso que esses mesmos agentes, se tornem geradores e irradiadores de mudanças importantes que transformem a leitura em uma atividade agradável, interessante, enriquecedora e, principalmente, companheira constante no cotidiano do aluno. Quanto ao professor que tem como objetivo de seu trabalho ser agente de leitura, é preciso, antes de mais nada, que ele próprio seja leitor, pois aquele que lê faz comentários, fala com emoção e entusiasmo sobre suas leituras. É interessante que o professor que deseja ser um agente eficaz de leitura comece a ler, pela paixão de ler e não apenas pela necessidade profissional. Que invista continuamente na sua formação de leitor, lendo os mais diferentes escritos que a sociedade produz, refletindo sobre eles e analisando-os. É preciso investigar-se interiormente, procurando descobrir por que prefere mais um tipo de leitura a outro. Essa investigação da própria história de leitura pode levá-lo a perceber que nem tudo o que gosta de ler será interessante para seus alunos; a saber reconhecer as características de um bom texto e as impressões e sensações que determinados textos despertam nele. Existe uma relação direta e intrínseca entre o professor leitor e o professor agente de leitura. Para contar histórias com vistas a formar leitores é necessário que o texto narrado faça eco no íntimo do ouvinte, despertando nele o interesse em ouvir atentamente para reproduzi-lo depois. Mostrar o livro aos ouvintes depois da narração dá a pista onde encontrar o texto para uma nova fruição. Contar uma história não é a mesma coisa que ler uma história. À medida em que se lê o texto pode-se ir mostrando as figuras e os ouvintes interferem com comentários.. Ouvir contos é uma forma de ler. O primeiro contato das crianças com a leitura acontece desse modo, com os adultos lendo para elas. Por isso, nas séries iniciais é importante a contação baseada no texto, sem marcas de oralidade e sem interrupções por parte dos ouvintes. É uma forma de alfabetizar pela audição: as estruturas da norma padrão da língua vão se fixando, para que mais tarde os pequenos ouvintes possam lançar mão delas, com familiaridade. Enquanto ouvem, eles criam suas próprias imagens, participam, sonham. É um processo muito mais complexo do que simplesmente olhar para a tela de um computador ou de uma televisão que mostram as cenas prontas, que alguém escolheu para exibir, segundo sua visão pessoal do assunto. A qualidade, tanto literária quanto por parte do contador Contar histórias exige qualidade por parte de quem conta e na escolha do que se conta. É preciso técnica e experiência. E é preciso ensaiar muito e fazer com que voz e corpo contem juntos. Não se pode abrir mão da qualidade literária nos textos por isso, pesquisa e conhecimento de literatura fazem a diferença. É preciso investir numa formação contínua, procurando conhecer o que é produzido na área da literatura infanto-juvenil, ser capaz de refletir e analisar essas produções, não se deixando envolver pelas ofertas de catálogos de editoras, que muitas vezes “douram a pílula” para vender. Não é preciso ficar só com a dita “literatura infantil”, para as crianças. Elas podem muito bem apreciar outros contos. E também se pode contar, para adultos, contos que são feitos para crianças, desde que atendam à qualidade literária mencionada anteriormente. Para falar de qualidade literária é preciso falar de autor e leitor, e lembrar que o valor de uma obra está diretamente ligado ao fato de que, independente do momento ou circunstância de sua produção, novos leitores possam deixar-se envolver por ela e apreciá- la, reproduzi-la, superá-la, rebatê-la. É sob a ação do leitor que a obra literária deixa de ser um simples objeto para ser um objeto estético, que pode ser entendido, interpretado, contemplado. O texto literário tem formas de dizer e escrever que surpreendem e renovam o leitor. Que o levam a refletir, a (re)elaborar seus conceitos. A questionar a si próprio, ao seu entorno, a própria obra que lê. O mundo da literatura é o mundo do possível e por mais simbólico que seja, o mundo representado na literatura nasce da experiência da realidade histórica e social do autor. E a obra literária é um objeto social muito específico, pois cria um espaço de interação entre esses dois sujeitos: o autor e o leitor. É nessa interação que o texto remete cada um à sua história íntima, despertando no adulto lembranças adormecidas da infância, colocando a criança/adolescente em contato com emoções e conflitos que experimenta, através dos problemas enfrentados(ou não), solucionados(ou não) pelas personagens de cada história. Os contos de fadas, por exemplo, permitem à criança inferir que as dificuldades fazem parte da existência humana, os problemas(graves ou não), vão aparecer; mas se a pessoa não se intimida e se defronta de modo firme com as adversidades, sairá vitoriosa. Elas precisam receber, de forma simbólica, sugestões de como lidar com essas questões e crescer para a maturidade. Segundo Picard (JOUVE:2002), essa é uma das funções da literatura: permitir que o leitor reformule suas relações psíquicas e sociais através de uma série de jogos de identificação e das suas imagens mentais. Outra dessas funções, é pedagógica,permitindo ao leitor experimentar de modo imaginário uma situação que ele poderia viver na realidade e, supostamente confrontado, deveria escolher o caminho a seguir. Por último, a literatura expande os limites do leitor, ao mergulhá-lo numa cultura, ao abrir-lhe as portas da compreensão do mundo. É importante evitar o óbvio, os textos que apresentam visões estereotipadas das pessoas ou da sociedade. O leque de ofertas é amplo: contos, fábulas, lendas, mitos, novelas, romances, sagas, parábolas, apólogos, “causos”. Por isso é preciso uma boa pesquisa: é preciso ler, ler muito, até que apareçam histórias que lhe digam algo de forma especial, que o emocionem. Emoção não é só o que provoca lágrimas: é riso, medo, admiração, encantamento, reflexão. Quanto ao contador de histórias, cumpre lembrar que ele é um agente de sua língua, devendo por isso, usar de correção e clareza, eliminando as marcas de oralidade, e procurando manter sempre a literariedade do texto, mesmo numa fala cotidiana. Se o texto apresenta regionalismos na fala dos personagens, é preciso mantê-los. Mas nunca na fala do contador. A preparação prévia e solitária do texto é imprescindível, pois a palavra, por sua própria força, necessita de gestos e expressões que surjam espontaneamente, como parte integrante do texto e não como recursos estanques. A maturidade como leitor crítico é indispensável. É isso que lhe permite trabalhar com as informações presentes no texto para verificar a verossimilhança; atingir uma visão de mundo diversa de seu universo cultural, desenvolvendo seu potencial crítico, abrindo-lhe espaço para pensar, duvidar, questionar, se perguntar. Para querer saber mais e melhor e também, para descobrir que é possível mudar de opinião. Mas tudo isso deve ser feito como parte da rotina da vida. Dessa forma, ele poderá formar seus critérios, sua própria opinião sobre autores, gêneros ou assuntos. Podendo amá-los ou detestá-los e despertará para a busca de novos temas, novos autores, outros gêneros. Mais uma vez: essa condição de leitor crítico só se consegue conhecendo os escritos que nos cercam, a diversidade de textos nas muitas linguagens, para poder discernir o que é interessante e adequado para cada momento. Se o professor-contador conhece suas crianças, o momento que estão vivendo, os referenciais de que necessitam, poderá aproveitar melhor o texto narrado. A contação: um momento celebrativo Para seduzir o aluno, captando sua atenção, o professor precisa contar a história de forma diferente da que é visto na sala de aula, diariamente. Não é preciso usar chapéus, mantos, fantasias. A postura, a voz e a expressão do corpo é que têm que ser distintas das de todos os dias. Modular a voz para tornar a narração mais atraente, fazendo as vozes dos personagens, sem encená-los como faz um ator. Preparar muito bem o texto, mantendo as características que o autor quis dar a ele, identificar as partes que o formam (introdução, desenvolvimento, clímax, desfecho) e colocar a voz e o gesto respeitando o ritmo e as pausas, que a cada momento permitirão uma melhor fruição. É preciso criar um clima de envolvimento, de encantamento. As pausas são importantes para que o ouvinte possa criar, em seu imaginário as figuras e cenários que o texto suscita Não repetir mecanicamente o texto. É importante lê-lo muitas vezes para reconhecer seus detalhes essenciais, e mais ainda, não se pode ter pressa: é preciso se apaixonar pela história e pela palavra pronunciada e contar pelo prazer de dizer. Valorizar o momento do conflito, e dar tempo para que cada ouvinte o vivencie e tome sua posição. O narrador tem que transmitir confiança, motivar a atenção e despertar a admiração. Quando se faz a “hora do conto”, as cantigas, parlendas, trava-línguas e adivinhas, que agradam tanto, podem ser inseridas entre uma narrativa e outra, para quebrar a linearidade e manter a platéia “aquecida”. As imagens sonoras enriquecem a imaginação e se o texto traz onomatopéias, o contador deve explorá-las como um trunfo a mais, que permite ao ouvinte atuar sobre o texto ouvido, criando mentalmente as imagens sugeridas pelo som. Importante: para ser um bom narrador, a grande dica é ler muito: livros, jornais, placas de rua, publicidade, os gestos, as pessoas, a vida e, sobretudo, narrativas. Ou melhor, é preciso conhecer os mais variados textos: da imprensa, da escola, documentários, obras de ficção. Após a narrativa: um olhar pedagógico Depois da narrativa, estimular o debate pensando na temática da história e na relação que ela possa ter com a realidade do aluno, relacionando o que se contou com outros textos que abordem o mesmo tema, que possuam o mesmo estilo, ou que estejam presentes nas intertextualidades do texto narrado. Trabalhar com a variedade de linguagens, o filme, o video-clipe, a pintura, a música, a escultura. Estimular rodas de contação, onde se “passa o chapéu” , dando oportunidades para que todos possam contar, especialmente por que têm uma razão para contar e para quem contar. E, dessa forma, despertando a vontade ler por prazer e paixão, na busca do que contar, para encantar suas platéias. É importante não explicar a história. Não fazer perguntas durante a narrativa. Se uma palavra for desconhecida, dar o sinônimo em seguida, sem interromper o fluxo da narração. Muitas vezes, pelo contexto, o ouvinte deduz o significado da palavra menos comum ao seu vocabulário. É bom mostrar o livro, depois de contar, para que a criança tenha vontade de folheá-lo (ou não). Conversar sobre o texto ouvido, para saber, se o ouvinte concordou ou não com o quem foi contado, se gostou ou não. Permitir-lhe que comente trechos que lhe pareceram mais ou menos interessantes. Dessa forma ele começará a desenvolver seus próprios critérios e sua opinião. A literatura deve deixar de ser pretexto para aulas de gramática e interpretação de texto, amarrada pelas fichas e roteiros de leitura fornecidos pelas editoras e assumir seu lugar de agente emancipador, liberador, que promove o acesso a novos níveis de consciência. Por que não usar a leitura-fruição simplesmente? Ou por que não explorar a ironia, a ambigüidade, o meio-tom de certos textos? Alguns contos têm final surpreendente, que provoca o riso. Por que não compará-los, depois da narrativa, com anedotas sobre o mesmo tema? Isso diverte o ouvinte enquanto o informa sobre as características de textos diferentes. Outras vezes, os alunos de séries iniciais poderão desenhar as imagens sugeridas pelo conto. Os alunos das séries mais avançadas poderão debater, se o texto o permite, as questões relacionais abordadas e produzir textos sobre elas. É interessante levar os alunos para visitar bibliotecas e livrarias, permitindo à criança manusear, folhear os livros e então, só então, escolher o que lhe interessa ler. É importante não apresentar o texto como sendo o melhor: nem tudo que interessa, que é bom para o contador/professor é interessante e bom do ponto de vista do ouvinte. Referências Bibliográficas ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil, Gostosuras e Bobice. Ed. Scipione, 2ª ed. São Paulo, 1991. BENJAMIN, Walter. O Narrador, In Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre litera- tura e história da cultura. Ed. Brasiliensa, 3ª ed. 1985. CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Lingüística, Ed. Scipione, S.Paulo, 1997. DUMKE, Auricéia, Unindo aos pedaços, Datacult Ed. Curitiba, PR, 1998. FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão, Artmed Ed., Porto Alegre, RS, 1989. JOUVE, Vincent. A Leitura, Ed. UNESP, S. Paulo, 2002. KLEIMAN, Angela. Leitura, ensino e pesquisa, Pontes Ed., São Paulo, 2 LAJOLO, Marisa. Literatura, Leitores e Leitura. Ed. Moderna, S. Paulo,2001. SISTO, Celso. Textos e Pretextos sobre a Arte de Contar Histórias. Ed. Argos, Chapecó, SC, 2001. ZILBERMANN, Regina. Fim do livro, fim dos leitores? Ed. Senac, São Paulo, 2001.
Compartilhar