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Abandono Afetivo Inverso

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL 
 
ALIDIANI GARCIA VIANA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
O DESAMOR E O DIREITO À INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL 
FRENTE À HIPÓTESE DO ABANDONO AFETIVO DOS FILHOS PARA 
COM OS PAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CANOAS 
2017 
ALIDIANI GARCIA VIANA DA SILVA 
 
 
 
O DESAMOR E O DIREITO À INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL 
FRENTE À HIPÓTESE DO ABANDONO AFETIVO DOS FILHOS PARA 
COM OS PAIS 
 
 
 
 
Projeto de Trabalho de Conclusão de 
Curso apresentado no Curso de 
Direito – Campus Canoas da 
Universidade Luterana do Brasil, 
como requisito parcial à obtenção do 
grau de Bacharel em Direito. 
 
 
 
 
 
Orientadora: Professora Giulia Jaeger Englert 
 
 
 
 
 
CANOAS 
2017
PARECER DE ADMISSIBILIDADE 
 
 
Declaro que a acadêmica ALIDIANI GARCIA VIANA DA SILVA desenvolveu o 
trabalho de conclusão de curso intitulado O DESAMOR E O DIREITO À 
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL FRENTE À HIPÓTESE DO ABANDONO 
AFETIVO DOS FILHOS PARA COM OS PAIS, por mim orientada, estando à mesma 
em condições de ser avaliada pela Banca Examinadora. 
 
 
 
 
 
 
 
Canoas, de 2017. 
 
 
 
 
Professora Giulia Jaeger Englert 
Professor Orientador 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, com meu carinho. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Primeiramente a Deus, que me trouxe a paz e a calma para realizar minhas 
atividades de forma coerente. 
Aos meus amados pais Claudiani Garcia Viana e Alexandre Braga, que no 
percorrer dos meus estudos sempre me auxiliaram com palavras de carinho e 
motivação. Com isso, venho expressar todo amor e alegria que tenho em ser filha de 
vocês. 
Aos meus irmãos Gabriel e Estevão, que vibraram comigo a cada conquista, 
bem como me apoiaram em todos os altos e baixos da vida. 
A minha avó querida Maria do Carmo, que sempre me trouxe palavras de 
esperança com muita atenção e carinho. 
A Daiana Isawa, que dividiu comigo boa parte de minhas aflições e 
conquistas. 
A minha orientadora Giulia Jaeger Englert pelo seu comprometimento, 
profissionalismo, zelo e dedicação com seus alunos. Agradeço-a de forma particular 
por me nortear e amparar na realização deste estudo. 
Agradeço também aos amigos e colegas que sempre me incentivaram e, 
muitas vezes, me auxiliaram quanto às minhas dúvidas, em especial à Bianca 
Pozzebon, que me acompanhou, me aconselhou e alegrou meus dias enquanto eu 
elaborava meu trabalho, bem como à Thelma Ache, que não hesitou em me fornecer 
auxílio. 
Aos professores que me passaram seus conhecimentos a fim de ampliar 
meu aprendizado, especialmente as professoras Alessandra Mizzuta e Maria de 
Fátima Dias Àvila pelo carinho e dedicação. 
A todos os chefes e colegas de estágio que tive durante minha graduação: 
estes foram fundamentais para minha evolução como pessoa e profissional. 
Agradeço de forma particular as colegas Jeniffer Cunha e Dáphini Sampaio, que 
faziam meus dias na Promotoria de Justiça de Charqueadas ainda mais felizes. 
Igualmente, sou grata à Ana Pereira, que, além de chefe, foi minha conselheira e 
ouvinte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A velhice faz-nos mais rugas no espírito do que na cara. 
Michel de Montaigne 
RESUMO 
 
 
O presente estudo analisou a possibilidade de responsabilizar civilmente por 
danos morais o filho (a) que abandona seu (s) pai (s) na velhice. Como estratégia, 
adotou-se uma pesquisa de caráter dedutivo e monográfico. Nas circunstâncias de 
um filho abandonar afetivamente seu (s) pai (s) na fase mais vulnerável de sua (s) 
vida (s), isto poderá acarretar inúmeros fatores prejudiciais a estes, tendo em vista a 
interferência no seu bem-estar psicológico e físico, já que o idoso vem a ter com o 
desprezo do ente mais próximo, sofrimento, dor e angústia. Tal descuido e desprezo 
do filho (a) viola o Direito Brasileiro, em especial o artigo 229 da Constituição 
Federal, calcado no princípio da dignidade da pessoa humana, da solidariedade 
familiar e da afetividade, uma vez que a responsabilidade de pais e filhos é 
recíproca. Embora não haja decisões unânimes acerca do tema de abandono 
afetivo, acredita-se que com o crescimento da população idosa, bem como com o 
projeto de lei que poderá vir a ser aprovado pelo Plenário, será pacificada tal 
situação, bem como esclarecer quaisquer dúvidas que os juízes apresentam acerca 
do tema. Entretanto, a preocupação perdura: se hoje, com menor número de idosos, 
há tamanha negligência familiar, futuramente, se o número destes triplicar, a prática 
tenderá a aumentar. Prática essa que, ao que se concluiu, caracteriza ato ilícito, 
tendo em vista o preenchimento dos pressupostos da responsabilidade civil, sendo 
estes a conduta humana, neste caso, em especial, a omissão, negligência, o nexo 
causal que liga a pessoa causadora ao dano e a culpa. 
 
Palavras-chave: Abandono afetivo inverso. Responsabilidade civil. 
Negligência contra idoso. Dano moral. Projeto de lei n. 4.562/2016. 
ABSTRACT 
 
 
The present study analyzed the possibility of the child who leaves his or her 
father (s) at old age to be civilly liable for moral damages, using the deductive 
monographic method. In these circumstances, if a child abandons emotionally his / 
her parent (s) in the most vulnerable phase of his / her life, it can lead to a number of 
damaging factors to his or her parents, taking into account the interference in their 
psychological and physical well-being. Elderly people come to deal with contempt 
from their nearest relatives, suffering pain and anguish. Such neglect and contempt 
of the child violates the Brazilian Law, especially the Article 229 of the Federal 
Constitution, based on the principle of the dignity of the human person, family 
solidarity and affection, since the responsibility of parents and children should be 
reciprocal. Although there are no unanimous decisions on the subject of affective 
abandonment, it is believed that with the growth of the elderly population, as well as 
with a Bill that might be approved by the Plenary, this situation will be pacified. Also, 
any doubts that judges may present on the matter will be clarified. However, the 
concern remains: if today, when the number of the elderly is fewer, there is high 
family neglect, in the future, in case predictions are accurate and this triple number, 
this practice will tend to increase. The paper at issue found such practice to 
correspond to an unlawful act if one considers meetings of requirements of Civil 
Liability, such as human conduct – in this case, omission, negligence, the causal 
nexus that links the causative person to harm and guilt. 
 
Keywords: Reverse affective abandonment. Civil Liability. Neglect against 
the elderly. Moral damage. Bill n. 4.562 / 2016. 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 09 
1 O ABANDONO AFETIVO DE IDOSOS .......................................................... 11 
1.1 CONCEITO DE IDOSO ................................................................................ 14 
1.2 O CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO IDOSA .............................................. 15 
1.3 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E A RELAÇÃO FAMILIAR ............ 16 
1.4 A CUSTÓDIA AO IDOSO NA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL .... 20 
2 O DESAMOR E A ADMISSÃO DA REPARAÇÃO CIVIL FRENTE À 
HIPÓTESE DO ABANDONO AFETIVO DOS FILHOS PARA COM OS 
PAIS................................................................................................................24 
2.1 TEORIA DO DESAMOR ............................................................................... 25 
2.2 A RESPONSABILIDADE DOS FILHOS NO QUE TANGE AOS PAIS ......... 27 
2.3 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL .............................................. 30 
2.4 A RESPONSABILIDADE CIVIL E SEUS PRESSUPOSTOS ....................... 31 
2.5 A ESSÊNCIA DO DANO MORAL E O DIREITO .......................................... 38 
2.6 A NEGLIGLÊNCIA FAMILIAR E O ABANDONO CONTRA A PESSOA 
IDOSA ............................................................................................................ 
42 
2.7 A APLICAÇÃO DA RESOLUÇÃO CIVIL NA HIPÓTESE DE ABANDONO .. 45 
2.8 O PROJETO DE LEI N. 4.562/2016 ............................................................. 48 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 51 
REFERÊNCIAS .................................................................................................. 53 
ANEXO A ............................................................................................................ 59 
ANEXO B ............................................................................................................ 60 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Uma das realidades do país é o abandono de idosos. Infelizmente, muitos 
destes são deixados por seus filhos em asilos ou clínicas geriátricas e com este 
mesmo descaso, são esquecidos. A Constituição Federal garante a dignidade da 
pessoa humana, legitimando a tutela aos idosos. 
O desamparo afetivo pode gerar uma profunda infelicidade no idoso, bem 
como doenças que são agravadas devido ao abalo emocional. Suponha-se que o 
idoso passe a residir em um asilo. Diante deste quadro, ele tem de readequar 
totalmente sua vida, tendo em vista que passará a conviver com outras pessoas e 
seu ciclo de convivência não mais será entre parentes próximos, mas, sim, entre 
pessoas desconhecidas. O indivíduo em questão passa a adquirir outros costumes e 
a começar, então, uma nova fase de vida. 
Similarmente, o presente estudo traça uma comparação do idoso com o 
infante. Embora estejam em fases distintas da vida, ambos necessitam de cuidados 
especiais: os infantes, por serem dependentes de seus pais e também por estarem 
em processo de desenvolvimento; os idosos, pelo desgaste do avanço da idade, 
onde o corpo, e a mente, em geral, começam a apresentar sinais de fraqueza e 
probabilidade maior de surgimento de doenças e debilitações físicas, bem como 
psicológicas, tendo em vista que abalo moral causa dor, isolamento e sofrimento. 
Este triângulo “dor, isolamento e sofrimento” acarreta consequências que poderão 
gerar depressão devido à omissão de cuidados dos filhos. 
Embora haja o Estatuto do Idoso, bem como artigos da Constituição Federal 
e demais legislações infraconstitucionais voltadas à proteção do idoso, é necessária 
uma lei explícita para amparar pessoas que necessitam de cuidados devido a suas 
limitações físicas e psicológicas. Idosos, como se pode verificar, enquadram-se 
precisamente nesta categoria. 
Em tais circunstâncias, o tema central deste trabalho é o abandono afetivo 
inverso: quando filhos abandonam afetivamente seus pais na velhice. Com isso, esta 
pesquisa tem como objetivo principal analisar o ordenamento jurídico com a 
finalidade de caracterizar o abandono afetivo como forma ilícita, passando a 
averiguar também os pressupostos da responsabilidade civil e a caracterização do 
dano moral. O problema abrangente deste estudo é a possibilidade de punir 
 
 
 
10 
 
civilmente o filho (a) que abandona afetivamente os pais na velhice, não prestando a 
devida assistência moral ao seu genitor, isto é: afeto, carinho, zelo, cuidado, 
atenção, entre outros amparos que se traduzem na prestação de apoio ao idoso. 
A monografia é composta por dois capítulos. No primeiro, constam conceitos 
do tema tratado, como o abandono afetivo de idoso, o crescimento da população 
idosa, a custódia do idoso frente à legislação constitucional, as normas 
infraconstitucionais, a Constituição Federal e a relação familiar, além de alguns 
princípios que norteiam o Direito de Família. 
Em contrapartida, o segundo capítulo trata do conceito de responsabilidade 
civil e seus pressupostos, a teoria do desamor, a obrigação dos filhos para com os 
pais, bem como a possibilidade do dano por abandono afetivo inverso. Analisa-se de 
forma sintética a posição da jurisprudência acerca do abandono afetivo - tendo em 
vista a carência de decisões relativas ao abandono afetivo de idoso -, alguns casos 
de negligência e abandono que o idoso sofre no Brasil e, ainda, a análise do Projeto 
de Lei n. 4.562/2016. 
O método abordado é dedutivo e monográfico, ao passo que o 
desenvolvimento da temática é o de documentação indireta, realizado a partir de 
pesquisas bibliográficas. 
 
 
 
 
 
11 
 
1 O ABANDONO AFETIVO DE IDOSOS 
 
O abandono afetivo de idosos é assunto atual e de muita importância. 
Descende do princípio da dignidade da pessoa humana, que orienta e protege as 
pessoas, seja qual for sua diferenciação. Tal princípio está assegurado no artigo 1º, 
III da Constituição Federal de 19881. 
Sabe-se que seres humanos necessitam de atenção, principalmente quando 
corpos e emoções encontram-se fragilizados e vulneráveis. Em geral, estas 
condições citadas se apresentam com maior relevância em duas fases da vida. A 
primeira é na infância, fase de descobrimentos, aprendizagem, formação do cérebro 
e identidade, na qual somos dependentes de nossos genitores, necessitando de 
amparo para as necessidades mais básicas, tais como alimentação e higiene. 
Também nesta fase o cuidado e a proteção são indispensáveis, uma vez que 
durante a infância certos riscos ainda são desconhecidos ou mal dimensionados, 
podendo resultar em acidentes. Neste ciclo, situações e vivências negativas podem 
ter grande impacto na formação do indivíduo, podendo até gerar traumas. Por outro 
lado, todavia, amparo, afeto, cuidado e carinho podem contribuir para a formação 
saudável do sujeito. 
Na fase da velhice, ainda que os anos vividos tenham proporcionado 
inúmeras experiências e o idoso seja símbolo de sabedoria, também é com o avanço 
da idade que o corpo, em geral, começa a apresentar sinais de desgastes. A 
probabilidade do surgimento de doenças ou debilitações físicas aumenta, tornando o 
idoso dependente do cuidado e proteções de outras pessoas. Da mesma forma, por 
vezes, as faculdades mentais também podem ser afetadas com o avanço da idade, 
o que é capaz de interferir no discernimento dos indivíduos, colocando-os em 
situações de riscos, assim como ocorre com as crianças por falta de entendimento 
sobre situações de perigo. 
Neste contexto, fica evidente que tanto na infância quanto na velhice existe a 
necessidade de cuidados, amparo e zelo. Mesmo que o idoso não apresente 
 
1
 Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios 
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
(...) 
III - a dignidade da pessoa humana; 
(...) 
 
 
 
12 
 
nenhum problema de saúde e que consiga manter sua independência física e 
financeira, este apenas terá uma vida plena se puder compartilhá-la com seus entes 
queridos, recebendo e retribuindo afeto, amor, cuidado e carinho. Apenas os idosos 
que tiverem alguma experiência de “abandono afetivo” é que podem expor todo o 
sofrimento e angústia suportados com o descaso familiar, especialmente de seus 
filhos, os quedeveriam ter zelo e cuidado para com seus pais. 
Segundo Costa (2011), pode-se fazer uma breve comparação entre o infante 
e o idoso: por mais que estejam em fases distintas de vida, necessitam de tutela 
diferenciada dos demais. O Estatuto da Criança e Adolescente no seu artigo 982, 
bem como o Estatuto do Idoso em seu artigo 433, apontam casos que conduzem 
crianças e idosos a ocorrências de risco. 
A afetividade moveu-se de forma valorada na sociedade, onde filhos e pais 
têm o dever de assessorar uns aos outros. Neste passo, os artigos 2294 e 2305, 
ambos da Constituição Federal, explicam claramente a obrigação e a 
responsabilidade recíprocas, ao que deixa evidente que a família tem encargo maior 
de amparar seus membros. 
Embora o abandono afetivo de filhos para com os pais não tenha sido 
tratado explicitamente pelos legisladores, não havendo, assim, uma norma expressa 
que caracterize o abandono afetivo inverso como ato ilícito, há entendimento da 
parte de profissionais da área os quais acreditam que, por ser um valor jurídico, tal 
abandono poderá gerar indenização. Neste sentido, discorre a advogada Lannes: 
 
Desde que o afeto foi considerado um valor jurídico, o abandono afetivo 
pode gerar indenização, pois é considerado falta de proteção e cuidado. 
Portanto, se o cuidado e a proteção para com os pais idosos é um dever e 
 
2
 Art. 98, Lei 8.069/90. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre 
que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: 
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; 
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; 
III - em razão de sua conduta. 
3
 Art. 43, Lei 10.741/03. As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis sempre que os direitos 
reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: 
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; 
II - por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento; 
III - em razão de sua condição pessoal. 
4
 Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o 
dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. 
5
 Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, 
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-
lhes o direito à vida. 
 
 
 
13 
 
este dever não é observado, se está diante de um ato ilícito. (LANNES, 
2015, acesso em 20/04/2017) 
 
Se o enfoque deste trabalho fosse o bem material, seria compreensível um 
pai ou um filho não ter recurso financeiro, afinal, vive-se uma crise econômica no 
país. Contudo, o “bem” tratado neste estudo é o imaterial, voltado mais precisamente 
ao cuidado. Tal bem não necessita de assistência em matéria, mas sim de 
assistência afetiva. À vista disso, as pessoas devem receber e doar atenção, 
gerando assim o afeto e não a ausência deste. Conforme expõe Pereira (2010), não 
há explicação para um pai ausentar-se de amparar moralmente e afetivamente seu 
filho (a). Se este pai fosse carente financeiramente, seria compreensível, contudo, 
não há entendimento que esclareça tal omissão. 
Na mesma corrente, no Canal do Supremo Tribunal Federal - STF no 
YouTube, o Ministro Yuri Soares de Melo responde a dúvidas quanto ao tema do 
abandono afetivo. Comentando sobre o abandono de pais para com os filhos, bem 
como de filhos para com os pais, referindo ser um tema bem recente e diferenciado 
no Direito e tendo em vista que aborda aspectos sentimentais que geram uma 
trilogia de amor, carinho e atenção, relatou que o “abandono afetivo” veio à tona 
após decisão do Superior Tribunal de Justiça - STJ que deferiu a indenização ao 
filho que, embora recebesse alimentos de seu genitor, foi abandonado afetivamente. 
O Ministro narrou: 
 
O abandono afetivo tem um aspecto jurisprudencial e doutrinário com 
diversas nuances de posicionamentos. Há fontes na doutrina que são a 
favor desta decisão e outras fontes que acham que isso não tem nada a ver, 
que esta decisão do STJ não é privilegiada, por que esta corrente que é 
desfavorável entende que um pai não é obrigado efetivamente de querer 
estar ao lado de seu filho, ele tem a liberdade de querer conviver com ele ou 
não, essa é uma linha contrária a esse posicionamento do STJ. (MELO, 
2016, acesso em 15/03/2017) 
 
 
Há divergentes opiniões acerca do assunto aqui tratado, uma vez que há 
impasse entre os julgadores, bem como entre doutrinadores. Enquanto uns 
entendem que há uma obrigação afetiva entre os membros familiares, outros 
entendem que nenhuma pessoa é obrigada a cuidar ou estar junto do outro. Assim, 
esta é uma concepção oposta quando comparada com a decisão do STJ a qual o 
ministro de Melo mencionou acima. Ainda, ao ser questionado sobre o abandono 
 
 
 
14 
 
inverso, quando o filho abandona os pais em uma fase debilitada, como na velhice, o 
mesmo relatou: 
 
A situação é absolutamente séria, a Constituição Federal Brasileira a partir 
do artigo 226, determina que cabe aos pais cuidar de seus filhos, e na 
segunda parte deste artigo, a constituição é bastante clara em dizer que, 
cabe aos filhos cuidar de seus pais, cuidarem de seus pais na velhice, na 
enfermidade,e em outros aspectos que por ventura vier a ser necessários 
aos pais. [...] Então, quero deixar claro que esta questão do abandono que 
analisamos, não é somente das crianças, temos o abandono das pessoas 
idosas também e cabe efetivamente aos filhos, suprirem essa necessidade 
dos pais, sendo a obrigação das duas pontas, tanto pai com filho quanto do 
filho com os pais [...]. (MELO, 2016, acesso em 15/03/2017) 
 
A verificação em questão estimula o pensamento sobre a imposição e os 
resultados. Questiona-se a possibilidade de uma pessoa, após anos de vivência, ser 
abandonada e exposta ao sofrimento. A vida, por ser o bem mais precioso do qual 
se dispõe, deve ser resguardada e não desprotegida. 
É indiscutível o fato de que todos os vínculos familiares estão sujeitos a 
conflitos. Contudo, as relações de afetividade e de intimidade, quando positivas, 
estimulam a proteção, contribuindo para a garantia de cidadania de seus membros. 
Além disso, estas propiciam uma interação saudável, tanto em ambiente familiar 
quanto social. 
A perspectiva deste estudo parte do conceito de idoso, bem como do 
abandono afetivo e da custódia para, posteriormente, tratar do desamor, da 
responsabilidade civil e da admissão da reparação desta frente à hipótese de 
abandono afetivo inverso. 
 
1.1 CONCEITO DE IDOSO 
 
O Estatuto do Idoso, Lei n. 10.741, de 01 de outubro de 2003, precisamente 
em seu artigo 1º6, define a pessoa idosa como “pessoa com idade igual ou superior 
a 60 anos”. É curioso perceber que a característica utilizada para definir “pessoa 
idosa” é tão somente a idade, e não a condição social, física ou mental. Por sua vez, 
a idade nada mais é do que o tempo de vida entre o nascimento e a atual vivência. 
 
6
 Art. 1º, Lei 10.741/03. É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados 
às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. 
 
 
 
15 
 
Segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS (OMS, 2015), a perda de 
habilidades agregadas ao envelhecimento não está pautada somente na idade. 
Desta forma, não há um perfil exato de idoso: cada caso é único, considerando que 
há pessoas idosas com a mesma idade, umas acamadas e outras ativas. 
Quanto à problemática, Dias (2016) afirma que o envelhecimento é um 
direito pessoal, isto é, personalíssimo e subjetivo. Do mesmo modo, afirmouque a 
palavra idoso soa de forma quase ofensiva na sociedade, havendo questionamentos 
sobre qual seria, afinal, a idade a partir da qual o ser humano se torna idoso. 
Destarte, o Estatuto do Idoso regula e assegura os direitos às pessoas com idade 
igual ou superior a 60 anos, contudo, em âmbito social, não existe um conjunto de 
atributos específicos que possam definir se uma pessoa é considerada idosa ou não. 
Deve-se ressaltar que cada ser humano é único, possuindo, assim, características 
singulares que variam conforme suas experiências de vida e condições genéticas. 
Desta forma, a título de exemplo, há indivíduos de 70 anos dispostos, enquanto há 
indivíduos de 70 anos acamados. 
 
1.2 O CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO IDOSA 
 
Considerando o acentuado processo de envelhecimento mundial, o assunto 
aqui discutido é de suma importância. Há previsão de aumento significativo na 
expectativa de vida para os próximos anos e gerações futuras. Tais mudanças 
trazem consigo uma reflexão sobre consequentes impactos sociais. Levando em 
consideração as projeções, ou seja, a reorganização social no que tange à 
distribuição de indivíduos por faixa etária, os órgãos públicos devem se preparar e 
planejar uma estrutura capaz de propiciar amparo a uma população que tende a 
viver por mais tempo na fase idosa e que eventualmente corresponderá a um 
percentual maior da população como um todo. 
Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE 
(IBGE, 2016, p. 6), a população idosa irá triplicar no Brasil entre os anos 2010 e 
2050 passando de 19,6 milhões (10% do total) em 2010, para 66,5 milhões de 
pessoas em 2050 (29,3%). Conforme Anexo A, gráfico elaborado pelo IBGE (2016, 
p. 64), o número de idosos será superior ao número de crianças e adolescentes no 
ano de 2050. Estima-se que a população seja composta por 29,36% de idosos com 
 
 
 
16 
 
60 anos ou mais, e por 14,07% de crianças e jovens, de 0 a 14 anos. Tal estimativa 
reforça a necessidade de pensar em políticas que forneçam e resguardem o bem-
estar da população idosa. 
Neste contexto, conforme mencionado anteriormente, sem dúvida, o 
aumento no número de idosos provocará mudanças profundas nas políticas públicas 
de saúde, assistência social, previdência, entre outras. Da mesma forma, o 
envelhecimento populacional implicará em maior atenção no tocante aos direitos dos 
idosos, dando ênfase no cumprimento das normas previstas no Estatuto do Idoso, 
nas leis infraconstitucionais e na Constituição Federal de 1988. 
 
1.3 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E A RELAÇÃO FAMILIAR 
 
A Constituição Federal de 1988 rompeu com o padrão patriarcal de família: 
aprovou novas manifestações familiares, cessou a discriminação de filhos quanto a 
sua origem, deu ênfase ao princípio da dignidade da pessoa humana, bem como 
equiparou os cônjuges. Do mesmo modo, conforme dito anteriormente, a 
Constituição Federal trata a questão dos idosos com clareza. O artigo 2297 da 
Constituição Federal determina o dever dos pais para com os filhos menores, bem 
como dos filhos maiores para com os pais. Esse artigo é complementado pelo 
seguinte, o artigo 2308, que trata do dever da família, da sociedade e do Estado de 
amparar as pessoas idosas, garantindo-lhes o bem-estar e uma vida digna (BRASIL, 
2015a). 
A Constituição Federal proporciona tutela às pessoas idosas, firmando como 
princípios fundamentais do direito a dignidade da pessoa humana. O princípio tem a 
finalidade de proteger os seres humanos, assegurando-lhes a dignidade de viver e o 
respeito mútuo, sem preconceito ou discriminação. Portanto, este é um referencial 
para a aplicação das normas jurídicas. 
De acordo com Gagliano e Pamplona Filho (2013), é complicado definir o 
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, mesmo que ousem dizer que é um valor 
 
7
 Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o 
dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. 
8
 Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, 
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-
lhes o direito à vida. 
 
 
 
17 
 
fundamental da existência. Segundo as perspectivas afetivas, patrimônios são 
imprescindíveis frente ao rastreio da felicidade. Deste modo, não há limitações para 
o conceito de dignidade da pessoa humana. O Princípio da Dignidade da Pessoa 
Humana figura a base do Direito de Família, uma vez que protege o 
desenvolvimento de cada membro, sendo o afeto de suma relevância para a 
realização da dignidade humana, visto que proporciona à pessoa a estruturação de 
sua vida, em especial no ambiente familiar. 
Complementando, o artigo 5º9 caput, da Constituição Federal, trata dos 
direitos fundamentais, assegurando a cada indivíduo o direito de viver uma vida 
honrada, sem disparidade entre pessoas, equiparando a todos, reservando o direito 
à autonomia, à identidade, à proteção, entre outros direitos essenciais para uma 
vivencia íntegra (BRASIL, 2015a). A Constituição Federal abrange a tutela de toda 
espécie da entidade familiar, preservando os direitos de cada ente da família, tanto 
de forma individual quanto de forma coletiva. Os sistemas de proteção dilatam-se 
tanto com estatutos e leis específicas, quanto na própria jurisdição, garantindo a 
permanência dos direitos de cada ser. 
Nesta idealização, o Código Civil, bem como os sistemas de leis específicas, 
foi desenvolvido para resguardar os direitos de cada ente da família, como exemplo, 
o Estatuto do Idoso, que firma a tutela da pessoa idosa. Dias (2016) clareia a ideia 
de microssistemas quando refere que estes não tratam somente de regulamentos 
práticos por serem normas fixas de aplicação imediata. Como exemplo, mencionou o 
Estatuto do Idoso, que emprega uma série de benefícios e direitos às pessoas com 
mais de 60 anos. 
Salienta-se que estamos vivendo em uma sociedade onde as pessoas têm 
interesses e valores diferentes umas das outras. Com isso, os microssistemas são 
formados de princípios mistos, ao que se tenciona atender a vontade e a 
necessidade de todos. A Constituição Federal de 1988 traz princípios onde imperam 
os direitos de família. Além do princípio da dignidade da pessoa humana - base de 
todos os direitos -, há também o da afetividade, o da solidariedade familiar, entre 
outros que norteiam a sociedade. 
 
9
 Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade (...). 
 
 
 
18 
 
Segundo Sarmento (2003), os princípios constitucionais simbolizam os 
conjuntos de métodos jurídicos, deixando que o intérprete se identifique conforme 
sua conduta perante os valores amparados. Desta forma, os princípios são 
procedimentos jurídicos que auxiliam as pessoas no cotidiano. Esses podem ter 
aplicação individual, ou seja, podem utilizar mais de um princípio do que de outro, 
dependendo da situação em análise, bem como da moral de cada figurante. 
Dias (2016) trata de forma individual cada princípio. Em especial, elenca, 
dentre outros, o da dignidade da pessoa humana, o da solidariedade familiar, bem 
como o da afetividade. Para a autora, o princípio da dignidade da pessoa humana é 
o mais importante: é o maior principio fundador do Estado Democrático de Direito. 
Gama complementa o entendimento da autora, onde vincula a dignidade da pessoa 
humanacom a família, vide: 
 
A dignidade da pessoa humana encontra na família o solo apropriado para 
florescer. A ordem constitucional dá-lhe especial proteção 
independentemente de sua origem. A multiplicação das entidades familiares 
preserva e desenvolve as qualidades mais relevantes entre os familiares- o 
afeto, a solidariedade, a união, o respeito, a confiança, o amor, o projeto de 
vida comum-, permitindo o pleno desenvolvimento pessoal e social de cada 
partícipe com base em ideais pluralistas, solidaristas, democráticos e 
humanistas. (GAMA, 2013, p. 105) 
 
Assim, é na família que a dignidade da pessoa humana alcança amparo 
para se desenvolver. Independentemente de sua procedência, a constituição lhe 
ampara. A expansão do grupo familiar assegura e amplia as particularidades 
importantes, como afeto, assistência, harmonia, e demais valores que 
complementam o ser humano. Dias aborda a solidariedade familiar da seguinte 
forma: 
 
Solidariedade é o que cada um deve ao outro. Esse princípio, que tem 
origem nos vínculos afetivos, dispõe de acentuado conteúdo ético, pois 
contém em suas entranhas o próprio significado da expressão 
solidariedade, que compreende a fraternidade e a reciprocidade. A pessoa 
só existe enquanto coexiste. O princípio da solidariedade tem assento 
constitucional, tanto que seu preâmbulo assegura uma sociedade fraterna. 
(DIAS, 2016, p. 51) 
 
A solidariedade, então, está interligada com o convívio familiar, sendo esta 
um compromisso de pessoas para com pessoas onde as relevâncias maiores são o 
amparo, o cuidado e a atenção. Com isso, o princípio da solidariedade integra os 
 
 
 
19 
 
vínculos afetivos de forma a proporcionar estabilidade emocional à família, neste 
caso, em especial aos idosos que necessitam de assistência assim como as 
crianças, estando ambos em estágios vulneráveis de vida. 
De acordo com Gagliano e Pamplona Filho (2013), o princípio da afetividade 
norteia todo o Direito de Família e não há como definir o amor. No entanto, a 
afetividade e o amor são “forças elementares” que regem a vida das pessoas. 
Igualmente ao princípio da solidariedade familiar, entende-se que além de traduzir a 
afetividade que une os familiares, esses princípios executam a responsabilidade 
entre os entes da família. Ademais, os autores referem o princípio da dignidade da 
pessoa humana como o princípio norteador do ordenamento jurídico, de difícil 
definição por ser um valor fundamental da existência humana que visa à busca da 
felicidade de forma a ser indispensável à realização pessoal de cada ser. 
A proteção do indivíduo é o seu principal propósito, pois tem a finalidade de 
garantir o respeito recíproco, saindo da esfera individual e atingindo a esfera social. 
Com isso, o indivíduo passa a ser menos egoísta. Nesta perspectiva, Santana 
estabelece que: 
 
[...] a família é a base de formação do ser humano, tanto do ser em 
desenvolvimento como do adulto, uma vez que esta é responsável por 
promover a educação, saúde, proteção e lazer dos filhos influenciando 
dessa maneira o comportamento destes na sociedade. O papel que a 
família desempenha para o desenvolvimento de cada indivíduo é de suma 
importância. Pois é nesse vínculo familiar que são transmitidos os valores 
morais e sociais que servirão de alicerce no processo de socialização da 
criança e do adolescente, assim como as tradições e os costumes trazidos 
de gerações. (SANTANA, 2015, p. 7) 
 
A família então é o alicerce de cada ser, tendo em vista que os valores 
morais estão vinculados à ela. Vanessa do Carmo Diniz (2010) entende que a 
família está profundamente conectada com o princípio da afetividade, tendo em vista 
que o direito de família é o mais humanitário de todos e trata das questões 
individuais de cada ente (JAIME, 2014). 
O afeto não se confunde com o amor: este está relacionado com a ligação 
de pessoa para com pessoa, com a essência do cuidado, do amparo e da falta 
deste, a qual traz consequências negativas como dor e sofrimento psicológico. 
Portanto, a família vem a ser o alicerce da sociedade, sendo a responsável pelo 
desenvolvimento e proteção de cada ente, embora de forma individual, uma vez que 
 
 
 
20 
 
está interligada com os princípios destacados. Desta forma, o idoso é totalmente 
prejudicado no que diz respeito a não prestação de afeto familiar, pois passa a 
envelhecer e adoecer de maneira mais célere, considerando que este vai 
paulatinamente perdendo seu objetivo e está sujeito a sofrer de depressão diante de 
tal situação. Segundo Sarlet, a dignidade da pessoa humana traz continência para 
tutelar a vida: 
 
[...] qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o 
faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da 
comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres 
fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de 
cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições 
existenciais mínimas para uma vida saudável, 153 além de propiciar e 
promover sua participação ativa e coresponsável nos destinos da própria 
existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos, 
mediante o devido respeito aos demais seres que integram a rede da vida. 
(SARLET, 2011, p. 73) 
 
Por conseguinte, embora existam diferentes opiniões a respeito da 
dignidade, esta é um valor moral associado ao conhecimento de si e dos demais 
cidadãos. Sendo assim, entende-se que o direito de envelhecer dignamente é 
caracterizado por todos nós, seres humanos, de modo que o artigo 1º, III da 
Constituição Federal10 prescreve o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana como 
intermediário dos demais, fazendo com que o respeito ao direito da personalidade 
sejam de fato assegurados. 
 
1.4 A CUSTÓDIA AO IDOSO NA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL 
 
Com a finalidade de orientar os seres humanos, as legislações 
infraconstitucionais concebem dispositivos para promover sua independência, 
inserção e parcela efetiva na sociedade. Especialmente as legislações que tratam 
dos Direitos dos Idosos determinam que a família, a sociedade e o Estado têm o 
 
10
 Art. 1º, CF. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e 
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como 
fundamentos: 
(...) 
III - a dignidade da pessoa humana; 
(...) 
 
 
 
21 
 
compromisso de garantir às pessoas idosas seus direitos, preservando sua 
dignidade, seu bem-estar e sua vida. 
Com isso, além das normas Constitucionais previstas na Constituição 
Federal de 1988, encontram-se as normas legais e administrativas que estão 
dispostas abaixo desta, garantindo e assegurando também a proteção e os direitos 
das pessoas - em especial, dos idosos. As normas que garantem proteção ao idoso 
estão elencadas na Lei Orgânica de Assistência Social (Lei n. 8.742/93), na Política 
Nacional do Idoso (Lei n. 8.842/94), no Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741/03) e no 
Código Civil de 2002. 
A Lei Orgânica de Assistência Social (Lei n.º 8.742/93) está resguardada 
pelo artigo 203 da Constituição Federal11 e visa a prestação de serviços sociais a 
quem não possua meios de sustento. Em particular, aos idosos com 65 anos ou 
mais, o artigo 20 garante um salário mínimo de benefício mensal ao idoso que 
comprove não possuir meios de sustento seu e/ou de sua família, igualmente 
resguardando o direito do idoso que esteja em condição de acolhimento em 
instituições para que este usufrua do benefício (Lei n. 8.742/93, art. 2012, §5º13). 
Do mesmo modo, a Lei n. 8.842/94, da Política Nacional do Idoso, assegurao direito de sua autonomia, participação e integração na sociedade, precisamente no 
artigo 3º, I e III14. Com base neste artigo, resta claro que, em primeiro lugar, a família 
deverá assegurar, garantir e defender a dignidade do idoso, em segundo, a 
sociedade e, por fim, mas não menos importante, o Estado. Ainda, conforme artigo 
4º, III e VIII15, desta mesma lei, o atendimento ao idoso em asilos é priorizado, assim 
 
11
 Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de 
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: 
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; 
12
 Art. 20, Lei 8.742/93. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo 
mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem 
não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. 
13
 § 5º. A condição de acolhimento em instituições de longa permanência não prejudica o direito do 
idoso ou da pessoa com deficiência ao benefício de prestação continuada 
14
 Art. 3°, Lei 8.842/94. A política nacional do idoso reger-se-á pelos seguintes princípios: 
I - a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da 
cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o 
direito à vida; 
(...) 
III - o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza; 
(...) 
15
 Art. 4º, Lei 8.842/94. Constituem diretrizes da política nacional do idoso: 
(...) 
 
 
 
22 
 
como em órgãos públicos ou privados quando a família não tiver condições ou 
quando o mesmo estiver desabrigado. O objetivo da Política Nacional do Idoso é 
proteger os direitos das pessoas idosas, criando e estabelecendo situações para 
desenvolver sua independência na participação efetiva da sociedade. 
O Estatuto do Idoso abrange um considerável referencial no que tange às 
pessoas idosas. Os direitos previstos neste garantem o bem-estar, a isonomia, a 
dignidade, a proteção, a alimentação, a saúde, a convivência familiar, a sua inclusão 
na sociedade externa, o esporte, o trabalho, a liberdade, bem como os demais 
direitos que fazem com que se mantenha com o devido respeito na comunidade. 
Salienta-se que, dentre outros artigos, o 3º16 do respectivo estatuto, refere-
se à obrigação da família, da sociedade e do poder público de assegurar a 
efetivação dos direitos supracitados. Sabe-se que em inúmeras situações o idoso 
sofre preconceito e desprezo, especialmente quando deixa de ser percebido ou 
quando não participa mais das decisões familiares. Contudo, à pessoa idosa é 
garantida a liberdade de se manifestar, votar, desfrutar de atividades físicas, além da 
preservação de seus objetivos pessoais. 
O artigo 1017 do Estatuto do Idoso, mais precisamente em seu parágrafo 2º, 
garante o respeito, a liberdade e a dignidade. De igual sorte, o artigo 4318 do 
Estatuto do Idoso protege os direitos das pessoas idosas quando estes forem 
ameaçados ou violados. Em especial, cabe citar o inciso II que prevê a omissão ou o 
 
III - priorização do atendimento ao idoso através de suas próprias famílias, em detrimento do 
atendimento asilar, à exceção dos idosos que não possuam condições que garantam sua própria 
sobrevivência; 
(...) 
VIII - priorização do atendimento ao idoso em órgãos públicos e privados prestadores de serviços, 
quando desabrigados e sem família. 
16
 Art. 3º, Lei 10.741/03. É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público 
assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à 
educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao 
respeito e à convivência familiar e comunitária. 
17
 Art. 10, Lei 10.741/03. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a 
liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, 
individuais e sociais, 
(...) 
§ 2º O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, 
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, idéias e crenças, 
dos espaços e dos objetos pessoais. garantidos na Constituição e nas leis. 
18
 Art. 43. As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos 
nesta Lei forem ameaçados ou violados: 
(...) 
II – por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento; 
(...) 
 
 
 
23 
 
abuso da família. Ainda, neste Estatuto, mais precisamente em seu artigo 9819, está 
previsto de forma concreta que abandonar o idoso é, de fato, crime. Portanto, para 
um envelhecimento com qualidade, o idoso deve receber cuidados relativos à sua 
saúde física e também psíquica, não sendo aceita qualquer violação aos direitos da 
pessoa idosa. 
Embora algumas pessoas não cooperem com a tutela do idoso, como em 
casos de abandono ou negligência, o legislador vem cumprindo com sua obrigação 
ao implantar leis que visem ao bem-estar e à proteção direta ou indireta da pessoa 
idosa. Atentando para esses direitos e garantias, o próximo capítulo tem como 
objetivo principal analisar a possibilidade de responsabilizar os filhos civilmente pelo 
abandono afetivo de seus pais na velhice, conforme a essência dos artigos 18620 e 
92721 do Código Civil Brasileiro (BRASIL, 2015b). 
 
 
19
 Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou 
congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado: 
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa. 
20
 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e 
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
21
 Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a 
repará-lo. 
 
 
 
24 
 
2 O DESAMOR E A ADMISSÃO DA REPARAÇÃO CIVIL FRENTE À HIPÓTESE 
DO ABANDONO AFETIVO DOS FILHOS PARA COM OS PAIS 
 
Para as pessoas que amam, não há distinção de raça, essência ou origem. 
O amor é uma das características fundamentais para a felicidade das pessoas e está 
previsto no ordenamento jurídico, tal como o direito à vida, pois quem vive sem amor 
vive de forma triste e prejudicial ao bem estar de si e dos que as rodeiam. Contudo, 
quem tem amor, vive cada dia mais alegre e motivado, tratando as demais pessoas 
com respeito, com carinho e com cuidado. 
Segundo Frosi (2015), quando se fala em afeto, fala-se em amor. Todas as 
pessoas precisam de afeto, pois este traz sentido à vida de cada um. Sabe-se que a 
falta de amor acarreta danos e consequências ao ser humano e, embora o 
ordenamento jurídico não possa fazer com que se ame, este poderá estimular a 
concretização do cuidado através da responsabilidade civil. Desta forma, 
questionam-se as consequências do desamor ou da falta de amor. Se o amor ajuda 
os seres humanos a viver de forma mais feliz e mais digna, o desamor fere a 
dignidade, tornando as pessoas infelizes e desprezadas. Vê-se: 
 
Teoria do Desamor criada pela Dr.ª Giselda Maria Fernandes Moraes 
Hironaka, a qual está cada vez mais presente, consubstanciando-se em 
mecanismo de indenização pelo pai ou mãe que, mesmo tendo cumprido a 
obrigação de ajudar financeiramente o filho, não o fez emocionalmente. [...] 
sendo assim, acaba se esquecendo do planodo afeto, da convivência e 
ferindo assim, o super princípio da Dignidade da Pessoa Humana. (COSTA, 
Lesimônia Soares, 08/12/2015, acesso em 20/04/2017) 
 
Portanto, embora o excerto acima se refira ao pai ou à mãe que abandonam 
afetivamente o filho (a), tais afirmações também podem atuar de forma a garantir a 
responsabilização de filhos que abandonam de forma afetiva os pais que, por mais 
que provenham alimentos ou ajuda financeira, tratam seus pais com desamparo, 
descuido e desamor. A base legal que responsabiliza a obrigação recíproca está 
situada no artigo 22922 da Constituição Federal. 
Segundo Azevedo (2004), é merecedor de reparação o pai ou o filho tratado 
com descaso, pois se está diante de um afronto moral grave, devendo o judiciário 
 
22
 Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm 
o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. 
 
 
 
25 
 
intervir a fim de preservar a dignidade do ser humano, bem como de responsabilizar 
o agente causador do dano pelo dever de cuidar. Desta maneira, não se está frente 
a uma obrigação de amar, mas, sim, à obrigação de cuidar no intuito de evitar 
trauma e indiferença afetiva. 
A afetividade é um dever jurídico, sendo este imposto por lei. Neste estudo, 
pode-se constatar que a afetividade é um dever o qual se impõe aos pais em relação 
aos filhos, bem como aos filhos em relação aos pais. Sobretudo, impera o dever de 
cuidado. Segundo Carvalhos, “o princípio da afetividade não se encontra expresso, 
mas está implícito no texto constitucional como elemento agregador e inspirador da 
família, conferindo comunhão de vidas e estabilidades nas relações afetivas” (2017, 
p. 89). 
O bem-querer, o cuidado e o sentimento como condições psíquicas são 
fatores que não podem ser controlados pelo direito, mas pelos regulamentos morais. 
O princípio da afetividade pode ser um condutor que se aplica com a finalidade de 
reestruturar, reerguer a proteger juridicamente as famílias. 
Na perspectiva de Dias (2016), os idosos, inúmeras vezes, são considerados 
estorvos, tendo em vista que estes necessitam de mais cuidados. Assim, filhos, 
netos e demais parentes passam a não visitá-los. Está-se, portanto, diante de um 
abandono afetivo. As consequências da falta de cuidado e do desamor dos 
descendentes para com os ascendentes são melancólicas no momento em que os 
idosos sofrem com a falta de convivência e cuidado. 
Sabe-se que a falta do amparo afetivo moral causa danos ao idoso: danos à 
personalidade, danos à dignidade e danos à honra. Quando um filho omite cuidados 
para com os pais, principalmente na fase adulto-idosa, quando se encontram mais 
vulneráveis, isto pode gerar dor, sofrimento e angústia, ao que estes sentimentos 
contribuem para a morte, uma vez que a saúde psicológica é a base da sanidade. 
 
2.1 TEORIA DO DESAMOR 
 
Popularmente, a Teoria do Desamor é conhecida como responsabilidade 
civil por abandono afetivo. Tal teoria trata de um dispositivo que defende a 
possibilidade de reparação civil pelos pais, que, embora tenham cumprido a 
obrigação financeira, abandonam o filho afetivamente. Assim, ainda que este estudo 
 
 
 
26 
 
seja sobre o abandono afetivo de filhos para com os pais, a teoria do desamor está 
de acordo com a realidade aqui trazida, considerando que o artigo 229 da 
Constituição Federal23 ergue a obrigação recíproca de filhos e pais. 
Para Lobo, o abandono afetivo é o “inadimplemento dos deveres jurídicos de 
paternidade. Seu campo não é exclusivamente o da moral, pois o direito o atraiu 
para si, conferindo-lhe consequências jurídicas que não podem ser 
desconsideradas” (2011, p. 313). Desta forma, segundo o autor, o descumprimento 
por abandono afetivo relaciona-se ao ser humano como um todo, não somente na 
esfera moral, mas também imoral. 
O dever de indenizar sucede a partir de uma perspectiva civil constitucional, 
onde seu componente principal está relacionado à atuação da entidade familiar, de 
forma a proteger integralmente os membros da família. O abandono afetivo é um 
tema muito questionado no Direito de Família. Para Tartuce (2014), o amparo da 
responsabilização por abandono afetivo encontra-se na dignidade da pessoa 
humana e, sendo o abandono afetivo um dever violado, pode-se gerar indenização, 
conforme artigo 186 do Código Civil.24 Salienta-se que há entendimentos contrários, 
que interpretam não haver como impor a alguém fornecer afeto e amor. Portanto, 
embora na visão do autor o abandono afetivo possa vir a gerar indenização por ser 
uma condição caracterizada por ato ilícito, julgadores interpretam que uma pessoa 
não pode ser obrigada a dar amor e afeto a outrem. 
A questão do abandono afetivo é bastante frágil, considerando que se trata 
de sentimentos da pessoa humana com ligações e efeitos jurídicos. Neste sentido, 
sustenta Hironaka: 
 
O assunto refere-se exatamente a esta difícil e delicada questão: podem um 
pai ou uma mãe ser responsabilizados civilmente- e por isso, condenados a 
indenização pelo abandono afetivo perpetrado contra filho? A procura pelo 
fundamento da resposta a essa pergunta levaria à seguinte indagação: a 
denominada responsabilidade paterno-filial resume-se ao dever de sustento, 
ao provimento material do necessário ou do imprescindível para manter a 
prole, ou vai além dessa singela fronteira, por situar-se no campo do dever 
de convívio, a significar uma participação mais integral na vida e na criação 
dos filhos, de forma a contribuir em sua formação e subsistência 
emocionais. (HIRONAKA, 2005, p.4) 
 
 
23
 Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm 
o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. 
24
 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e 
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
 
 
 
27 
 
Transferindo esta colocação da autora para o cotidiano, suponha-se que 
após anos vivendo de forma ativa, você, aos 70 anos de idade, já com limitações 
físicas, seja abandonado (a) afetivamente por seu filho (a). Suponha-se também que 
estes lhe forneçam alimentos, contudo, não lhe visitam, não lhe cuidam, não lhe 
ligam, enfim, não se importam com o seu dia, sua noite, sua higiene. Suponha-se 
ainda que não haja, por parte dos filhos, um “eu te amo”, uma “boa noite”, um “como 
você está?”, e, depois de tanto tempo fornecendo cuidado e afeto ao seu filho (a), 
você se depare com total descaso. 
Desta feita, estando a Teoria do Desamor relacionada aos direitos da 
personalidade, faz-se importante abordar o entendimento de Diniz (2014), o qual 
ensina que tal direito refere-se ao fato de cada ser humano defender o que lhe é 
próprio, como a liberdade, a identidade, a vida, a privacidade, a honra e a 
integridade psíquica. 
Quanto aos direitos da personalidade em consonância com a Teoria do 
Desamor, destacam-se neste estudo o direito à vida e à integridade psíquica. De 
modo geral, os idosos se sentem mais sozinhos e necessitam de mais proteção 
quando comparados com adultos ativos. Assim, a relação afetiva entre pais e filhos 
tem de estar relacionada com a conscientização, tendo em vista que o dever de pai 
e de filho poderá, através de seus atos, gerar grave indenização futura. 
 
2.2 A RESPONSABILIDADE DOS FILHOS NO QUE TANGE AOS PAIS 
 
Após a análise do conceito de abandono afetivo relacionado às pessoas 
idosas, bem como aos direitos ao envelhecimento digno, é necessário assinalarespecificamente os dispositivos que fundamentam o dever de cuidado e afeto dos 
filhos para com os pais idosos. 
Quando um pai ou um filho optam por utilizar o poder familiar de forma 
danosa (poder voltado à relação de pais e filhos), imperiosa se faz a 
responsabilização destes. Ora, se os filhos não conseguem conviver ou, mais do que 
isso, cuidar de seus pais, cabe à justiça determinar esta responsabilização, 
considerando o total abalo psíquico que poderá ocorrer, bem como o dano à 
dignidade humana dos pais na velhice, já que seus corpos e mentes passam a 
sofrer algumas variações, principalmente, variações emotivas. 
 
 
 
28 
 
Conforme já exposto, a Constituição Federal, lei fundamental e suprema do 
Brasil, estabeleceu no seu artigo 22925 o dever recíproco de filhos e pais. Em 
especial, está o de ajudá-los e ampará-los. Em consonância ao referido amparo 
legal, Vilas Boas (2005) aduz que é vexaminoso ficar registrado na Constituição 
Federal o dever de filho para com os pais, sendo esta obrigação de caráter afetivo e 
moral, desnecessária caso todos tivessem a dignidade de cumprir com essa 
obrigação. Desta forma, trata-se aqui de caráter imaterial e de âmbito afetivo, que 
vai além de uma obrigação alimentar ou pensionista: abrange a relação essencial do 
ente familiar, especialmente entre pais e filhos, onde não haveria necessidade de 
estar explícito na lei maior tal cumprimento, tivessem todos plena consciência do seu 
dever. 
No momento em que a sociedade estipula medidas protetivas para 
determinadas pessoas que necessitam de cuidados maiores, tais como crianças e 
idosos, ocorre a prática do princípio da igualdade a fim de uniformizar as relações da 
sociedade. Sendo assim, a solidariedade está totalmente interligada aos vínculos 
afetivos, onde o cuidado deveria se sobressair. É relevante afirmar que filhos têm o 
dever de prestar assistência afetiva aos pais, neste caso, o mais forte protege o mais 
fraco ou o mais vulnerável. 
Em entrevista ao programa televisivo Fantástico, da Rede Globo, no 
episódio “O conciliador”, a advogada Antonieta Nogueira (2012), especialista em 
direito dos idosos, garante que o Estatuto do Idoso confirma as atribuições de filhos 
para com os pais que já estão previstas na Constituição Federal. Sobre a questão do 
abandono, a advogada menciona: 
 
A pessoa não necessariamente precisa abandonar o idoso. O abandono 
pode ser caracterizado pelo simples fato de se chegar ao imóvel, constatar 
que o idoso não está sendo medicado adequadamente ou se ele não está 
tendo a higiene adequada. Isso já é uma questão de abandono. 
(NOGUEIRA, 11/12/2012, em entrevista ao programa Fantástico) 
 
Portanto, segundo a advogada especialista em direito do idoso, o abandono 
não está somente relacionado ao amor, mas ao cuidado, uma vez que o abalo moral 
poderá vir tanto da falta de amor quanto da falta de cuidado, pois ambos estão 
associados ao afeto. Moraes (2005) complementa, ao dizer que os pais são 
 
25
 Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm 
o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. 
 
 
 
29 
 
responsabilizados através de lei quando se ausentam de cuidados para com seus 
filhos, tendo em vista que a integridade psíquica do infante é violada de forma moral, 
negligenciando valores protegidos constitucionalmente, conforme o princípio da 
solidariedade familiar. 
Assim, embora estejam se referindo ao cuidado de pais com os filhos, 
conforme mencionado no capítulo anterior, a Constituição Federal é clara quando 
cita o dever recíproco de pais para com os filhos, bem como dos filhos para com os 
pais. Desta maneira, pode-se concluir que a integridade psíquica-moral do idoso é 
violada no momento em que este é abandonado afetivamente. 
Todavia, no Brasil não há lei específica que garanta que os filhos cuidem de 
seus pais neste sentido. Já na China, entrou em vigor em 1º de julho de 2013 uma 
lei que obriga os filhos a visitarem seus pais e, embora as alegações de filhos sejam 
de falta de tempo por conta do trabalho, a lei prescreve que as empresas deverão 
dar folga aos filhos com este objetivo. Esta providência foi tomada devido ao número 
de idosos abandonados por seus filhos na China. O Congresso Nacional da China 
apenas institucionalizou o ajuizamento de ações por abandono (FONTDEGLÒRIA, 
2013). 
Segundo o professor de Direito da Universidade de Shandong, Xiao Jinming 
(2013), esta lei dá ênfase ao suporte emocional das pessoas idosas que são 
abandonadas. Portanto, conforme se constata, o dever de afeto e cuidado dos filhos 
para com os pais é indissociável das relações familiares. Com isso, a ausência ou 
inexistência da afetividade na relação de pai e filho ou filho e pai configura abalo 
emocional, sendo, então, segundo os doutrinadores mencionados acima, indiscutível 
a devida reparação civil. 
Há, ainda, o artigo 23026 da Constituição Federal, que destaca a obrigação 
da família no tocante ao já exposto, sendo importante frisar que a entidade familiar é 
a primeira a ser citada quanto ao dever de cuidado com a pessoa idosa. Ademais, 
quanto às Leis Infraconstitucionais, o artigo 3°27, parágrafo único e V, bem como o 
 
26
 Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, 
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-
lhes o direito à vida. 
27
 Art. 3., Lei 10.741/2003. É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público 
assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à 
educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao 
respeito e à convivência familiar e comunitária. 
(...) 
 
 
 
30 
 
artigo 4°28 e 10°29, parágrafo primeiro, ambos do Estatuto do Idoso, citam a 
importância e a obrigação familiar para com a pessoa idosa, além do direito à 
liberdade e à proteção contra as negligências. 
Neste passo, resta claro que o descaso de filho para com os pais idosos 
caracteriza-se por descumprimento de todos os princípios trazidos até o presente 
momento, em especial o da dignidade da pessoa humana e o da afetividade, bem 
como dispositivos constitucionais e infraconstitucionais. Por fim, estuda-se a 
responsabilidade civil e seus pressupostos, assim como as características do dano 
moral: esferas mais relevantes deste estudo. 
 
2.3 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
Entende-se por responsabilidade civil, de forma explicativa e simples, uma 
contraprestação: uma ideia de obrigação e dever. Contudo, aprofundando-se mais e 
trazendo a palavra responsabilidade ao âmbito jurídico, Cavalieri (2015) alega que 
esta é uma conduta humana voluntária. Seu descumprimento viola um dever 
jurídico, gerando uma obrigação indenizatória. Portanto, tratando-se de um ato 
humano que provoca um dano a outrem, está-se diante de uma responsabilidade 
civil. 
Venosa (2017) corrobora com a colocação de Cavalieri, referindo-se à 
responsabilidade civil como toda atividade que acarreta prejuízo a alguém, em face 
de restaurar um equilíbrio patrimonial ou moral violado. Desta maneira, subsiste a 
obrigação de reparar danos causados a pessoas ou patrimônios, podendo ser 
individuais ou coletivos. 
Segundo Braga Netto (2008), a responsabilidade civil está associada a uma 
tutela após o dano, isto é, somente após o dano há responsabilidade civil, pois esta 
se associa a restauração. Desta forma, só há reparação se houver um dano. Logo, aV – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, 
exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência; 
(...) 
28
 Art. 4., Lei 10.741/2003. Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, 
violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será 
punido na forma da lei. 
29
 Art. 10, Lei 10.741/2003. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a 
liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, 
individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis. 
 
 
 
31 
 
responsabilidade civil está associada a um sinistro provocado por um agente. Para 
Carvalho Neto (2011), a responsabilidade está vinculada à obrigação que, quando 
descumprida, deve ser seguida de reparação. À vista disso, quando descumprida 
uma obrigação ou um compromisso, o agente passa a ser responsabilizado por tal 
ato. 
Igualmente, para Garcez (2000), a palavra “responsabilidade” deriva da ideia 
de responder pelos atos. Deste modo, percebe-se então que os autores seguem 
uma linha semelhante de raciocínio quanto ao conceito de responsabilidade civil, 
pois havendo uma conduta humana comissiva ou omissiva que viole um dever 
jurídico, deverá haver medidas de reparação. 
 
2.4 A RESPONSABILIDADE CIVIL E SEUS PRESSUPOSTOS 
 
A responsabilidade civil fundamenta-se na ideia de que nenhuma pessoa 
poderá lesar a outra. A responsabilidade civil divide-se em presunções. Quanto ao 
elemento culpa, desmembra-se em responsabilidade civil objetiva e 
responsabilidade civil subjetiva. Entretanto, quanto à natureza da norma infringida, é 
possível ser contratual ou extracontratual. 
Cavalieri (2015) explica a distinção entre a responsabilidade civil contratual e 
responsabilidade civil extracontratual. Na contratual, há uma obrigação antecedente 
originária de um contrato. Em caso de inobediência ou descumprimento, constitui o 
dever de indenizar. Todavia, a responsabilidade extracontratual sucede da violação 
do dever jurídico determinado por lei, que não está estabelecido dentro de um 
contrato, estando, portanto, fora dos negócios jurídicos. Para Schimitt (2010), se a 
responsabilidade é contratual ou extracontratual depende da existência ou não de 
uma relação jurídica onde se estabelece um compromisso entre ambas as partes. À 
vista disso, o que distingue a responsabilidade contratual da extracontratual é a 
presença ou não de um contrato, de um vínculo jurídico. A responsabilidade 
extracontratual é inerente a um dever legal. 
Venosa (2017) relaciona a diferença de responsabilidade civil contratual ou 
extracontratual ao ato danoso, averiguando se ocorreu em razão de uma obrigação 
preexistente, contrato ou negócio jurídico unilateral, ou não. Entretanto, o ponto de 
partida será o dever violado, independentemente de ser dentro ou fora de um 
 
 
 
32 
 
contrato. Assim, Venosa, considera irrelevante diferenciar a responsabilidade civil 
contratual da extracontratual, tendo em vista que ambas iniciam-se após a violação 
do dever jurídico. 
Quanto à classificação doutrinária pautada no elemento culpa, Braga Netto 
(2008) afirma que para existir a responsabilidade subjetiva, terá de se verificar 
quatro elementos fundamentais: o primeiro é ação ou omissão; o segundo é o dano; 
o terceiro é o nexo causal; e o quarto elemento é a culpa. Destarte, o agente que 
age ou omite a ação culposamente causa danos a outrem e terá de indenizar a 
vítima se houver nexo causal entre o dano do agente causador e a conduta, ora 
culposa. 
Cavalieri (2015), a partir da análise do artigo 186 do Código Civil30, conclui 
que os elementos subjetivos da responsabilidade civil, tal como dolo ou culpa, dano 
ou causalidade, são seus pressupostos. Ainda, menciona que tais elementos estão 
diante de uma conduta culposa do agente. Em contrapartida, Gonçalves (2017) 
sustenta que as responsabilidades civil objetiva e civil subjetiva estão diretamente 
relacionadas à culpa, tendo em vista que na subjetiva a culpa do agente é 
pressuposto essencial da obrigação de reparar o dano. Segundo esta 
argumentação, a responsabilidade subjetiva do causador do dano se configura 
somente se ele agiu com dolo ou culpa; já na objetiva, dispensa-se totalmente a 
prova de culpa, pois se baseia em uma relação de causalidade entre o dano e a 
ação, podendo ser justificada com a teoria do risco, segundo a qual todo indivíduo 
que exerce atividade cria riscos para terceiros. 
A responsabilidade civil objetiva não requer a presença da “culpa” para sua 
configuração, basta ação ou omissão, nexo de causalidade e dano. Deste modo, 
pode-se relacionar a responsabilidade objetiva com a teoria do risco, já que o agente 
assume uma postura de risco, pois está frente à possibilidade de causar algum 
dano. A teoria do risco, abarcando a culpa presumida, está prevista nos artigos 
92731, parágrafo único, e 93132, ambos do Código Civil. 
 
30
 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e 
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
31
 Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos 
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, 
por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
 
 
 
33 
 
Vê-se no decorrer deste estudo cada um dos pressupostos da 
responsabilidade civil, onde a classificação adotada foi a tradicional por ser tratada 
pela maioria dos autores. Nas palavras de Queiroga, “a ação é ato positivo a 
omissão é um ato negativo, ou a ausência do ato” e “a ação ou a omissão só podem 
constituir ilícito civil quando infringirem um dever legal, contratual ou social” (2003, 
p.15-16). Portanto, a responsabilidade civil provém da violação de uma norma 
jurídica preexistente: o agente, ao se omitir ou agir de forma a ocasionar danos a 
outrem, independentemente de romper uma norma ou um contrato, terá de indenizar 
a vítima. 
Gonçalves (2017) leciona que quando a ação ou omissão pactuar, ou se a 
matéria danosa estiver prevista no ordenamento jurídico, haverá a possibilidade de 
reparação civil, considerando igualmente que a lei cita que qualquer pessoa que, por 
ação ou omissão, causar dano a terceiros, fica obrigado a repará-lo, independendo 
do fato deste ato ser próprio ou de terceiros. Desta forma, por mais que haja ou não 
um contrato preexistente entre as partes (agente causador do dano e vítima), o não 
cumprimento de uma norma prevista no ordenamento jurídico causará dano a 
outrem, devendo ser reparado. 
A lição de Cavalieri (2015) mostra que a ação é um movimento comissivo, 
um comportamento positivo, podendo ser exemplificado através da destruição de 
algo. A omissão, por sua vez, tem caráter inativo e inerte sobre alguma conduta, 
sendo a ação de “não fazer”. 
Dando continuidade à questão, Schmitt (2010) esclarece que apenas a 
conduta humana é que pode ser submetida ao gozo da responsabilidade civil. Desta 
forma, incidirá ao homem comum o dever de indenizar. Portanto, haverá indenização 
se houver uma conduta do agente, voluntária, positiva ou negativa (ação ou 
omissão), que causar prejuízo material ou imaterial a um terceiro. 
Quanto ao elemento culpa, primeiramente, Pereira (1998) esclarece a teoria 
da responsabilidade subjetiva no momento em que se refere à importância da noçãogeral de culpa, tendo em vista que esta é elemento peculiar em relação à teoria 
subjetiva. Cavalieri (2015) explica que o significado de culpa não é tão simples. Para 
o Direito, pode-se dizer que há três modalidades de culpa: a primeira é a 
 
32
 Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as 
empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em 
circulação. 
 
 
 
34 
 
culpabilidade, a segunda é a culpa em sentido amplo (lato sensu) e, por fim, a 
terceira é a culpa em stricto sensu (sentido restrito). A culpabilidade é agir de forma 
culpável, é ação de um agente que merece censura, reprovação; a culpa, em 
sentido amplo, é o elemento subjetivo de uma conduta, logo, relaciona-se à vontade 
do agente; a culpa em stricto sensu é uma inobservância do cuidado, falta de 
sensatez e técnica. 
Destarte, a culpabilidade está situada com o agente, de forma, a saber, se a 
pessoa podia e devia ter agido de maneira diferente da qual agiu. Entretanto, a culpa 
em sentido amplo ou lato sensu está relacionada com a vontade, que é o elemento 
subjetivo da conduta, podendo este ser relacionado ao dolo (onde a conduta já 
nasce ilícita) e a culpa (onde o agente não procede com a consciência da infração). 
Já a culpa em stricto sensu está ligada à falta de cautela, cuidado que o agente 
causador podia ter tido antes do ato, sendo esta sentido restrito. 
Para Venosa (2017), culpa é a inobediência de um dever que o agente 
deveria perceber e observar, sendo que a culpa civil em sentido amplo abrange, 
assim como o dolo, o ato intencional do agente, a negligência, imprudência ou 
imperícia, que é a culpa em stricto sensu. A diferença entre dolo e culpa não é 
importante para o direito civil, tendo em vista que a característica relevante para que 
haja uma responsabilização civil é a culpa em sentido amplo. Ainda, quanto à 
responsabilização em sede moral, o autor esclarece que a responsabilização não 
tem que ser somente por reparação quanto à matéria, mas, sim, de caráter moral, 
punitivo e pedagógico, preventivo e repressor, a fim de evitar repetição do ato 
futuramente. 
Acrescentando, Gonçalves (2017) leciona que para que haja obrigação de 
indenizar, não basta que o autor do fato danoso tenha antecedido ilicitamente, 
violando um direito subjetivo. É essencial que ele tenha agido com culpa, seja por 
ação ou omissão voluntaria, negligência ou imprudência, conforme expresso no 
artigo 186 do Código Civil.33 
Desta forma, no dolo o agente quer a ação e a consequência. Entretanto, na 
culpa, o agente quer somente a ação, de modo a atingir o resultado por acidente, 
através de uma conduta resultante da falta de cuidado ou atenção. Argumenta-se 
 
33
 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e 
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
 
 
 
35 
 
que a distinção entre dolo e culpa não é importante, uma vez que interessa tão 
somente se o agente cometeu danos a terceiros. 
Em continuidade, Gonçalves (2017) diferencia a culpa lato sensu da culpa 
stricto sensu. A primeira relaciona-se à atuação do agente que é voluntariamente 
alcançada (dolo). Entretanto, se o prejuízo da vitima decorre de comportamento 
negligente ou imprudente do agente causador do dano, diz-se que houve a culpa 
stricto sensu. Ainda, para o autor, segundo a teoria subjetiva, a vítima obtém a 
reparação do dano apenas se provar o dolo ou culpa do causador. 
Assim, a característica da culpa lato sensu é a violação do dever jurídico, em 
decorrência de intenção ou omissão de cautela, chegando ao resultado de dolo. 
Contudo, a culpa em stricto sensu caracteriza-se pela imperícia, negligência e 
imprudência. 
Desta forma, há duas classificações quanto ao elemento culpa, a primeira é 
a culpa em stricto sensu e a segunda, culpa lato sensu. Para Rui Stoco (2007) a 
primeira classificação de culpa é o comportamento incorreto de um agente que não 
tinha a intenção de violar ou lesionar direito de outrem, já a culpa lato sensu, o dolo, 
é a vontade do agente a um fim ilícito, sendo um comportamento consciente, 
precisamente voltado a uma intenção. Portanto, o que diferencia a culpa stricto 
sensu da culpa lato sensu é a intenção ou não de agir danosamente. Assim, quando 
tratar-se de sentido amplo, a culpa estará relacionada ao dolo, ao consenso. E, 
quando se tratar-se de stricto sensu, a culpa estará relacionada com o não 
consentimento do agente a lesionar o direito de outra pessoa. 
Os elementos da culpa stricto sensu, como já mencionado anteriormente, é 
caracterizado pela negligência, imprudência e imperícia. Rizzardo (2011) diferencia 
cada um destes elementos: a negligência equivale à ausência do cuidado que rege a 
conduta humana; a imprudência relaciona-se à precipitação de uma postura do 
agente através do desprezo nas cautelas necessárias em certo momento; a 
imperícia está associada à falta de habilidades em determinados momentos. Venosa 
(2017) complementa a ideia de culpa stricto sensu quando afirma que as políticas da 
negligência, imprudência e imperícia relacionam-se a uma conduta voluntária, mas 
com resultado involuntário. 
Desta forma, pode-se apontar exemplos práticos a fim de facilitar a 
visualização da diferença dos elementos da culpa em stricto sensu. No caso da 
 
 
 
36 
 
negligência, o médico que esquece uma ferramenta cirúrgica dentro do paciente age 
com negligência, por não ter tomado as devidas precauções, agindo com falta de 
atenção. Um agente que pilota uma motocicleta pelas vias públicas, conectado ao 
celular e com número excedente de pessoas na garupa, age perigosamente, 
violando regras ou leis, o que caracteriza uma imprudência. Um exemplo de 
imperícia é uma pessoa menor de idade que não possui Carteira Nacional de 
Habilitação e conduz veículo automotor. Neste caso, há falta de qualificação técnica 
e conhecimento do agente. 
Neste estudo, o elemento culpa é fator relevante e indispensável. Acredita-
se, após analise que vem sendo expressa nesta pesquisa, que a responsabilidade 
civil por abandono afetivo de idosos é subjetiva, tendo em vista que preenche todos 
os pressupostos - conduta humana voluntária, culpa, nexo causal e dano - podendo 
este comportamento advir de culpa lato sensu ou culpa stricto senso, insto é, 
intencional ou não. 
Tratando-se do Nexo Causal, Giselda Hironaka (2008) observa que toda 
conduta é ligada a algum ser humano. Consequentemente, para que haja 
responsabilidade civil é necessária uma conduta que produza danos e esteja 
relacionada a alguém. A autora ainda ressalta que o nexo de causalidade liga a 
conduta ao agente. 
Nesta senda, para descobrir quais condutas do agente deram causa ao 
resultado danoso, importante se faz analisar o nexo causal, objetivando afirmar que 
uma pessoa causou um dano a alguém ou a alguma coisa. É, portanto, obrigatório 
averiguar a ligação entre a conduta do agente e o fato gerado (dano). 
Almeida leciona que ao analisar se há ou não dever de indenizar, deve-se 
atentar ao nexo de causalidade de modo a buscar o vínculo entre o agente e a 
causa da situação que gerou prejuízo ao terceiro. Em continuidade, o autor expõe 
uma reflexão quanto ao nexo causal e o direito de família: 
 
Trazendo o problema do nexo causal à possibilidade de indenizações no 
campo do direito de família, procuramos responder as seguintes perguntas, 
especialmente quando da comprovação

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