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Direito Romano - Modulo 1 - Unifor

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Prévia do material em texto

Módulo 1
Introdução, Conceitos Básicos 
e Preceitos; Divisão e Fontes 
do Direito Romano
Direito Direito 
rOMANo
Sumário
Módulo 1
Para retornar 
a este Sumário, 
clique sobre este 
símbolo quando no 
canto superior de 
algumas páginas
Apresentação da Disciplina 4
1. Importância, Evolução Histórica e Conceitos Básicos 6
1.1 Conceito de Direito Romano 6
1.4 Divisão dos Períodos da 
Evolução Institucional do 
Direito Romano 8
1.5 Conceitos Básicos e Preceitos 
do Direito Romano 12
2. Fontes e Divisão do Direito Romano 18
2.1 Fontes do Direito Romano 
(Divisão das Fontes) 18
2.2 Divisão do Direito 
Romano 24
Referências 29 Questões 30 Créditos 32 Anotações 33
1.2 Finalidades do Estudo do 
Direito Romano 6
1.3 Fases da Evolução do 
Direito Romano 7
Módulo 1
Introdução, 
Conceitos Básicos e 
Preceitos; Divisão e 
Fontes do Direito 
Romano
4
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Olá!Seja bem-vindo ao estudo do Direito Romano a distância. 
O conteúdo desta disciplina foi organizado em módulos para 
facilitar o seu processo de aprendizagem e, se você preferir, 
poderá baixar este material em formato PDF, disponível na 
página inicial da web aula. É importante também estar 
atento às dicas e complementos que são sugeridos no decorrer da disciplina 
e ver as web aulas, onde você encontrará também mais um recurso de 
aprendizagem: os podcasts, programas de rádio disponibilizados a cada 
módulo para esclarecer alguns pontos do estudo. 
Aproveite e bom trabalho!
Qual o signifi cado de se estudar o Direito Romano nos dias de hoje, se temos um doutrina jurídica 
construída e adequada à sociedade contemporânea? Qual a justifi cativa prática desse estudo para os 
acadêmicos e profi ssionais do Direito da atualidade? No momento de selecionar as disciplinas optativas 
do curso de Direito, talvez essas questões se apresentem à mente do estudante, ao programar a sua 
matrícula semestral. É isso que iremos tentar esclarecer nesse primeiro tópico do nosso estudo.
Em verdade, o Direito Romano deixou de ter validade formal a partir da queda do Império Romano 
do Oriente, em 1453, portanto, no início da Era Moderna. Apesar disto, há motivos de sobra para que o 
seu estudo continue no meio acadêmico, por razões históricas e teóricas.
As razões históricas estão relacionadas às fontes originárias dos Direitos 
contemporâneos, não apenas do Brasil, mas de todo o mundo ocidental. 
Estudar o Direito Romano equivale a fazer um passeio pelas raízes 
dos conceitos e práticas jurídicas que utilizamos hoje, acompanhando 
a sua evolução ao longo da história. Trata-se de uma metodologia 
indireta para estudarmos a história do nosso Direito, os modos do seu 
desenvolvimento e os passos na construção das matrizes conceituais que 
hoje prevalecem nas diversas áreas da atividade jurídica.
Com efeito, após a queda do Império Romano, mesmo não estando mais submetidos ao seu domínio, 
os povos europeus, então dominados pelos bárbaros, continuaram a adotar as mesmas regras romanas, pelo 
simples fato de que eles não possuíam conteúdos jurídicos sufi cientes e capazes de substituírem os conceitos 
e práticas romanas. Esse fato é constatado através das Leis Romanas Bárbaras, que eram adotadas na Europa 
viaconversando
MÓDULO 1
5
desde a Idade Média nos territórios antes ocupados pelo Império. No fi nal dessa era e durante a Idade Moderna, 
foi utilizado de forma maciça nos territórios europeus e do Oriente Próximo o Código de Justiniano (Corpus 
Juris Civilis), através dos ensinamentos dos Glosadores e Comentadores de Bolonha. Estes ensinamentos 
formaram uma base jurídica comum europeia, que foi aproveitada na compilação das legislações das nações 
modernas, sendo um exemplo disso as conhecidas Ordenações Portuguesas.
A propósito das razões teóricas, ao conhecermos a forma como os institutos 
jurídicos foram surgindo ao longo da evolução da sociedade romana, 
sempre no intuito de atender às necessidades dos cidadãos, passamos a 
compreender melhor o significado desses mesmos institutos para a sociedade 
contemporânea. Sobretudo no âmbito do direito privado, os conceitos e as 
técnicas desenvolvidas pelos romanos são ainda hegemonicamente adotadas, 
muitas vezes com diminutas alterações. Ao lermos os nossos Códigos Civil e 
Processual Civil, deparamo-nos a todo momento com formulações próprias 
do Direito Romano. Sem deixar de mencionar também o vocabulário 
jurídico latino, largamente adotado na literatura e no dia a dia de muitos 
profissionais, seja porque essas expressões clássicas carregam um conteúdo de 
significado mais denso do que os seus equivalentes traduzidos, seja como uma 
forma de demonstrar erudição por parte de quem as usa.
Esta breve exposição, que será retomada e ampliada no decorrer do nosso estudo, deve ser sufi ciente 
para convencer o estudante de que fez uma escolha acertada ao incluir a matéria de Direito Romano 
na sua preferência de matrícula. Quem estuda o Direito Romano assimila com mais propriedade os 
ensinamentos de todas as demais matérias jurídicas do curso.
Para que você compreenda melhor este estudo, conheça a seguir o objetivo que foi defi nido para 
este módulo:
Este conteúdo vai formular o conceito de Direito Romano e 
demonstrar as fases evolutivas do seu desenvolvimento. Além disso, 
você vai conhecer os conceitos básicos do Direito Romano. Também 
são objetivos deste módulo classificar os ramos deste Direito e 
identificar as fontes de sua construção.
PrOPOSITUMobjetivo
6
1. IMPORTÂNCIA, EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITOS BÁSICOS
1.1 CONCEITO DE DIREITO ROMANO
Há duas formas distintas de compreender o estudo do Direito Romano. A primeira trata-se de uma 
concepção ampla e a outra é uma visão restrita. Entenda:
Concepção restrita
É um conjunto de normas, procedimentos e costumes 
elaborados pelos romanos que foi aplicado em 
Roma e em quase toda a Europa antiga e 
no Oriente Próximo e Médio até a morte do 
imperador Justiniano (565 d.C.).
Concepção ampla
No sentido amplo, foi o Direito produzido 
em Roma durante as diversas fases de sua vida 
política, cuja aplicação atravessou a antiguidade 
e a Idade Média, atingindo os tempos modernos, até o século XVIII, com a duração de 26 séculos, desde a 
fundação de Roma (753 a.C.) até a promulgação do Código Civil Francês por Napoleão Bonaparte em 
1804. Ainda hoje serve como fonte de inspiração para os estudiosos do Direito em todo o mundo.
1.2 FINALIDADES DO ESTUDO DO DIREITO ROMANO
illustratiodica
Qual a serventia do estudo do Direito Romano? Os vieses histórico, 
científico e acadêmico explicam o porquê de aprofundar o 
conhecimento dessa disciplina. Acompanhe a seguir:
a) Finalidade histórica: Seguir o surgimento, o desenvolvimento e as transformações 
do Direito de Roma na sua evolução secular, como a mais bem sucedida tentativa da 
antiguidade nas formulações do Direito. Não se limita a uma simples recuperação 
histórica dos institutos de Direito elaborados pelos romanos, mas procura verifi car 
de que modo cada instituto surgiu e se transformou, bem como determinar a quais 
exigências práticas serviu e com base em quais necessidades se modifi cou.
MÓDULO 1
7
b) Finalidade científi ca: Aprofundar a refl exão sobre a mentalidade jurídica antiga, 
com o objetivo de enquadrar o Direito na concepção sociológica daquele tempo, 
estabelecendo os fatores preponderantes nas transformações jurídicas. Não tendo mais 
vigência como tal em lugar nenhum do mundo, deve-se demonstrar a sua importância 
na formação do Direito Contemporâneo, pela rigorosa lógica empregada sobretudo no 
Corpus Juris Civilis, com base no qual se formou a tradição jurídica da qual surgiram 
as modernas codifi cações.
c) Finalidade acadêmica: Resgatar o vocabulário latinojurídico usado pelos romanos, 
com o intuito de proporcionar melhor compreensão sobre os institutos jurídicos do 
Direito moderno, através da análise etimológica e da investigação sobre os princípios 
da hermenêutica jurídica criados pelos jurisprudentes romanos, conferindo maior 
erudição e beleza estilística aos futuros profi ssionais do Direito.
1.3 FASES DA EVOLUÇÃO DO DIREITO ROMANO
Duas fases evolutivas do Direito Romano são consideradas: a Fase de Produção (do século VIII 
a.C. até a época do Imperador Justiniano no século VI d.C.) e a Fase de Recepção, também conhecida 
como aculturação mundial (desde a criação da república de Roma até a promulgação do Código Civil 
Francês – Código Napoleônico).
 # Fase da Produção: Inicia-se com a fundação da cidade (753 a.C.) até a morte de 
Justiniano (565 d.C.). Segundo o Riccobono (1975), poderia ser dito que Roma 
criou duas vezes o seu Direito: a primeira vez era um Direito brutal, rudimentar e 
rigoroso que possuía características primitivas, com elementos nitidamente bárbaros, 
cujo ponto culminante foi a Lei das XII Tábuas, elaborada em princípios do século 
V a.C.; a segunda vez quando o reelaborou depois das Guerras Púnicas, a partir do 
século VI a.C., levando aquele Direito tosco e primitivo a ser lentamente aperfeiçoado 
e enriquecido, de acordo com a expansão política de Roma e o desenvolvimento do 
comércio no vasto território do seu império.
 # Fase da Recepção: Ocorre com o incremento da vida social e espiritual da era 
da República Romana (510 a.C.), em cuja época o Direito passou por grandes 
transformações, tendo sido grandemente infl uenciado pelo contato com a cultura 
e a civilização gregas. Por exigência da grande expansão territorial, este novo 
ordenamento jurídico se difundia não só a todos os habitantes do mundo romano, 
mas repercutia também fora dele, ganhando características de universalidade, 
fundando-se agora sobre o bonum et aequum (o bem e a equidade) e não mais 
direito romano
8
sobre o rigoroso formalismo dos Quirites, denominação equivalente a cidadão 
romano. Depois do imperador Constantino, quando foi decretada a liberdade 
religiosa (313 d.C.), passou a receber forte infl uência da ética cristã, instalando-
se progressivamente em outras regiões da Europa e da Ásia, mantendo-se mesmo 
após a derrota fi nal do Império Romano, prevalecendo através das lições dos 
Glosadores medievais até a época da Revolução Francesa.
1.4 DIVISÃO DOS PERÍODOS DA EVOLUÇÃO INSTITUCIONAL 
DO DIREITO ROMANO
É importante notar que toda a vida romana e notadamente o seu 
Direito foram diretamente marcados pelo sentimento religioso do 
seu povo. Por conta disso, a religião foi a base da constituição da 
sua sociedade e o fundamento do seu ordenamento jurídico. Não se 
tratava de uma religião como as que conhecemos modernamente, 
e sim de uma religião ainda animista, fundada na crença de que 
existiam muitos deuses que governavam as vidas das pessoas e 
deviam ser homenageados com sacrifícios de animais.
NOTIO PERMAGNAimportante
MÓDULO 1
9
Confi ra a seguir os períodos da evolução institucional do Direito Romano:
a) Período Arcaico (Monarquia ou Realeza)
Neste período ainda não havia um Direito propriamente dito em Roma, mas as regras jurídicas 
eram misturadas com as regras religiosas, pois o rei era, além de chefe político, também o sumo 
sacerdote, personagem que fazia a ligação entre o sagrado e o profano, presidindo o culto. Os reis 
criaram as primeiras leis não escritas, normas que misturavam comandos jurídicos e religiosos 1.
Auxiliando e controlando o rei, havia os sacerdotes, formando uma espécie de conselho ou 
ministério, grupo poderoso e privilegiado que tinha grande infl uência nas decisões reais, demonstrando 
a íntima relação existente entre o direito (jus) e a religião (fas) nos primeiros tempos de Roma.
Nesse contexto de leis orais, os sacerdotes eram também responsáveis 
pela custódia das normas, cabendo-lhes ainda interpretá-las, sendo 
eles os primeiros intérpretes do Direito Romano.
b) Período da República
Com a extinção da realeza, foi instituída a república, que marcou também o início das leis 
escritas. O Direito Romano escrito surgiu em consequência de um levante político por parte dos 
plebeus (habitantes de Roma que não tinham a cidadania romana). Estes reclamavam que, embora 
sendo a população mais numerosa, não participavam da sua votação. Além disso, as leis não atendiam 
os seus interesses, pois não sendo escritas, mas transmitidas só oralmente, a sua aplicação era facilmente 
distorcida pelos intérpretes, no interesse da classe dominante, fi cando eles plebeus sempre prejudicados. 
Prevalecendo-se do fato de serem a maioria populacional e cansados 
da exploração dos patrícios, os plebeus retiraram-se da cidade, indo 
concentrar-se no monte Aventino (471 a.C.)2. A sua ausência 
repercutia negativamente na vida dos patrícios, pois faltavam operários, artesãos, 
trabalhadores do comércio e da agricultura, o que causou transtornos à elite romana. 
Foram então enviados mensageiros para negociarem com os plebeus o seu retorno à 
cidade, aos que eles impuseram algumas exigências.
Conforme relata Cícero, as primeiras leis romanas tinham um conteúdo marcadamente religioso. Sua 
formulação era desse tipo: “que ninguém se aproxime dos deuses senão com mãos puras; que se cuide dos 
templos dos pais e da morada dos lares domésticos, que os sacerdotes somente empreguem nos repastos as 
iguarias prescritas; que se preste aos manes o culto que lhes é devido.” (Cícero, De Legibus, 2, 19)
1
Em 494 a.C., os plebeus já haviam se retirado da cidade, em protesto contra os privilégios dos patrícios, 
indo para o monte Sagrado. Nas negociações para o retorno, conseguiram a criação dos tribunos da plebe.2
illustratiodica
CURIOsitascuriosidade
direito romano
10
Numa espécie de greve anterior, os plebeus haviam conseguido a criação do Tribuno da Plebe, 
que era o representante dos plebeus no Senado, com poder de veto das leis. Nesta segunda vez, exigiram 
que as leis passassem a ser escritas e que tivessem maior participação nas decisões políticas. Foi-
lhes assegurado então o direito de votação das leis num grande conselho, chamado de concilia plebis 
(plebiscito), que tinha o mesmo poder dos Comícios (assembleia dos patrícios ou cidadãos romanos).
Foi então escolhida uma comissão de dez representantes (decemviros), sendo cinco patrícios 
e cinco plebeus, sob a chefi a de Ápio Cláudio, o qual teria viajado à Grécia a fi m de conhecer a 
democracia grega e as leis de Sólon, o grande legislador de Atenas. Inspiraram-se ainda no Código 
de Hamurábi, uma legislação muito conhecida no mundo grego e que existia desde mil anos antes 
na Babilônia. Provavelmente, também se inspiraram no Direito Hebraico, constante na Torá dos 
judeus, conhecida através do Decálogo de Moisés. Assim, foi redigida a Lei das XII Tábuas, 
primeira lei escrita, entre os anos 451 e 449 a.C.
Na verdade, houve duas comissões. A primeira redigiu dez leis e a 
segunda mais duas. A partir de então, embora ainda existissem 
muitos costumes transmitidos somente por via oral, as leis passaram 
a ser escritas e públicas. As tábuas da lei ficavam expostas no fórum 
romano no centro da cidade, acessíveis a todo o povo. Não podem ser 
consideradas ‘leis’ no sentido moderno do termo. Trata-se, na verdade, da colocação 
por escrito de costumes tradicionais, de leis régias antigas e do aproveitamento de 
algumas normas gregas, em linguagem compreensível por todos.
O conteúdo das XII tábuas era mais evoluído na parte que hoje chamamos Direito 
Privado, mas instituiu também o processo penal e dispôs sobre penas a serem 
aplicadas nos casos concretos. As XII tábuas são consideradas o grande ícone do 
Direito Romano, de modo que toda a tradição jurídica romanagira em torno delas.
Não se sabe com precisão em que material foram gravadas nem o seu texto exato. Consta que 
foram escritas inicialmente em tábuas de carvalho e depois gravadas em placas de bronze. As tábuas de 
madeira teriam sido destruídas num incêndio ocorrido durante a invasão dos gauleses, no início do século 
IV a.C., e o texto foi recuperado pelo que os intérpretes sabiam de cor, de modo que algumas tábuas 
fi caram incompletas. Eram normas ainda muito rígidas, que na época da república, com a expansão do 
império, foram ganhando características mais brandas e universais. 
NOTIO PERMAGNAimportante
MÓDULO 1
11
Outros textos jurídicos dessa época são os editos dos Magistrados, que tinham força de lei, 
embora não fossem votados nas comitia nem aprovados no Senado, os senatusconsultos e as respostas 
dos jurisconsultos (responsa prudentium), constituindo estas o direito pretoriano (ius honorarium), que 
é considerado a evolução do jus civile. Havia ainda os plebiscitos, resultados das decisões das concilia 
plebis sobre uma proposta formulada por um tribuno plebeu, os quais passaram a ter o status de leis 
válidas para todos.
Senatusconsultos eram deter-
minações oriundas do Senado, 
com força de lei.
Responsa prudentium eram con-
sultas escritas dadas pelos juris-
prudentes, a pedido dos cidadãos, 
sobre diversos temas na área do 
Direito, de acordo com as situações 
concretas em análise.
Constituições imperiais eram 
ordens gerais baixadas direta-
mente pelos imperadores e não tem 
nenhuma relação com o conceito 
moderno de constituição.
O códice de Justiniano teve a re-
dação fi nal publicada em 529. Com-
punha-se de Codex, Institutiones e 
Digesto e tomou o lugar dos três 
códices precedentes (Gregoriano, 
Hemogeniano e Teodosiano).
O códice de Teodósio era organi-
zado em 16 livros, surgiu em 15 
de fevereiro de 438, passando a 
vigorar a partir do início do ano 
seguinte em todo o território im-
perial. Vigeu por um século e mes-
mo depois suas normas infl uenci-
aram a formação legislativa em 
diversas outras partes do mundo. 
Trazia as constituições imperiais 
a partir de Constantino.
Quem se julgava prejudicado em algum direito, dava início a um litígio dirigindo ao imperador um libellus ou 
uma supplicatio ou preces expondo-lhe o assunto. O imperador dava uma resposta escrita – rescriptum – que 
às vezes tinha um efeito imediatamente decisório (decretum). Outras vezes vinculava o juiz, sempre que não 
estivesse em contradição com os fatos ou com o direito vigente.
3
Estas codifi cações eram muito importantes para o trabalho dos juízes que, na maioria das vezes, não tinham 
formação jurídica, uma vez que a magistratura era um cargo político. Daí a importância da atividade dos 
jurisconsultos nesse período.
4
Outros Códices particulares são Fragmenta Vaticana, Collatio legum mosaicarum et romanorum, Consultatio 
veteris cuiusdam jurisconsulti.5
c) Período do Império
A primeira fase do Império Romano tem o nome de Principado. 
O imperador dividia o poder com o senado e a produção do Direito 
seguia o mesmo esquema da fase republicana. A partir do ano 285 
d.C., inicia segunda fase do império, chamada de Dominado, cuja 
fonte primordial e única do direito é representada pelas constituições 
imperiais e pelos rescritos3 imperiais, ordens singulares destinadas 
à solução de casos concretos, que se tornavam paradigmas de caráter 
geral. Com isso, o prestígio da jurisprudência entrou em declínio.
Para maior conhecimento dos jurisconsultos e mais 
efi ciente aplicação pelos magistrados, essas normas passaram 
a ser reunidas em códices4, codifi cações jurídicas que foram 
realizadas inicialmente por particulares e depois por ordem dos 
imperadores. A primeira codifi cação é conhecida como Código 
Gregoriano, no século III d.C., elaborado pelo jurisconsulto 
Gregório. Depois deste, veio o código Hermogeniano, compilado 
pelo jurisconsulto do mesmo nome. Desses códices, chegaram 
até nós apenas fragmentos5.
Vieram a seguir os códices mais importantes, expedidos pelos imperadores: o Código de Teodósio 
e o Código de Justiniano, sendo este último o mais importante de todo o Direito Romano. Com o 
Código de Justiniano encerrou-se a produção histórica do Direito Romano.
direito romano
12
1.5 CONCEITOS BÁSICOS E PRECEITOS DO DIREITO ROMANO
a) Conceitos
Para melhor entendimento do Direito Romano é necessário 
conhecer os seus conceitos básicos. Jus, Fas, Justiça, Equidade 
e Jurisprudência são alguns deles, confira a seguir:
 # JUS
Palavra de origem incerta, atribuída provavelmente à raiz no sânscrito iaus, registrada no 
livro dos Vedas com o sentido de felicidade. Inicialmente, visto que em Roma não havia distinção 
entre a norma religiosa e a norma civil, porque o rei era chefe civil e religioso, a palavra jus 
era usada em ambos os sentidos (religioso e civil). Depois, a palavra jus se profanizou, ou seja, 
deixou de referir-se aos preceitos religiosos, passando a ser 
usada apenas no sentido civil. Foi então a palavra fas (direito 
divino) adotada para as normas com o sentido próprio da 
religião. De todo modo, as palavras jurar (jurare) e juramento 
(jurejurandum) ainda estão ligadas à primeira fase, em que jus 
também significava um preceito religioso.
Os romanos reconheciam, desde o início, duas acepções do jus profanizado: a norma de 
agir (norma agendi – obrigatoriedade) e a faculdade de agir (facultas agendi – possibilidade, 
permissão), a qual deu origem à dupla divisão do Direito Objetivo e Direito Subjetivo, conforme 
será explicitado adiante.
O dicionário latino registra fas no 
sentido de permissão divina, ordem 
divina, direito divino em primeira 
acepção. Num segundo sentido, 
signifi ca “o que é lícito”, “o que é 
permitido”, opondo-se a NEFAS (“o 
que não é permitido”). Cf. Agerson 
Tabosa, FAS é o direito falado, 
revelado pela divindade.
MÓDULO 1
13
 ø jus civile (Direito Civil)6
 ø jus gentium (Direito das gentes ou 
Direito internacional) 
 ø jus honorarium (Direito dos pretores)
 ø jus publicum (Direito público)
 ø jus privatum (Direito privado)
 ø jus utendi et fruendi (Direito de 
usar e fruir)
 ø jus donandi (Direito de doar)
 ø jus suffragii (Direito de votar)
 ø jus postulandi (Direito de pedir)
Podemos citar alguns exemplos do 
conceito de jus como norma agendi:
Já alguns exemplos de jus como 
facultas agendi são: 
 # FAS
Palavra derivada do verbo latino fari (falar) e representa o direito divino falado, transmitido 
aos homens pelos representantes dos deuses. Era muito comum nas culturas antigas a existência 
de entidades, nas quais se acreditava que transmitiam às pessoas a vontade dos deuses. Eram os 
oráculos, as profetisas, as sibilas, as ninfas dos povos babilônicos, egípcios, gregos e também os 
áugures dos romanos.
COMMENTARIus
Os direitos de todos os povos antigos, e assim também dos romanos, 
surgiram por influência direta da religião. O Direito não nasceu 
da noção de justiça, mas das normas da religião, o Direito nada 
mais era do que uma das faces da religião. No ambiente religioso 
é que se formaram as primeiras leis, as quais depois foram assumidas posteriormente 
como normas civis. Dizia-se que ninguém podia ser um bom pontífice sem conhecer o 
direito, nem ser bom jurista sem conhecer a religião.
comentário
Mesmo após a profanização do jus, a infl uência de fas continuou forte sobre o direito público, por 
causa dos antigos costumes. A associação da fi gura do rei, e depois do imperador, a um deus, a designação 
de “divino” para o imperador, a inviolabilidade dos magistrados, ainda hoje mantida, provêm dessa ideia 
de sacralidade, transmitida por fas. Mesmo no tempo da república romana, quando os cônsules eram 
autoridades civis, sem poder religioso, havia uma certamística religiosa em torno do cargo. No dizer 
de Ulpiano, “Publicum jus in sacris, in sacerdotibus, in magistratibus consistit.” (Digesto, 1,1,1,2,), ou 
seja, o direito público consiste nas coisas sagradas, nos sacerdotes e nos magistrados.7
É importante lembrar que o conceito de jus civile (Direito Civil) em Roma abrangia tanto o que hoje nós 
entendemos como Direito Civil e Direito Penal, porque continha normas sobre ambos os tipos.6
A palavra “sagrado” deriva do vocábulo latino sacer, que signifi ca “intocável”. Tanto os sacerdotes como os 
magistrados são intocáveis, em respeito à sua autoridade e ao poder de origem divina que eles possuem.7
EXEMPLUMexemplo
direito romano
14
A interpretação do Direito antigo competia àqueles que detinham o poder religioso (reis e 
sacerdotes) e eram os seus vereditos que orientavam a aplicação da justiça. No período antigo, havia o 
Colégio dos Áugures, ao qual pertenciam os arúspices, espécie de feiticeiros que procuravam descobrir 
a vontade dos deuses examinando as entranhas dos animais, principalmente o fígado, bem como os 
sinais celestes (nuvens, relâmpagos) e o voo e o pio das aves. 8
Vestígios desse conceito de sacralidade da autoridade estatal conservaram-se na Idade Média 
através da teoria do direito divino dos reis e da supremacia do poder papal sobre todos os demais poderes, 
porque este era considerado o representante direto da divindade. Este entendimento só foi suplantado a 
partir da Revolução Francesa, com o surgimento dos estados modernos e das teorias constitucionalistas.
 # JUSTIÇA
É o procedimento de acordo com os princípios fundamentais do jus, os quais são: viver honestamente, 
não prejudicar o outro, dar a cada um o que é seu.9 Entre os gregos, a justiça era uma das virtudes 
básicas do homem, juntamente com a sabedoria, a fortaleza e a temperança. (PLATÃO, A República).10
 No dizer de Ulpiano11, “justiça é a vontade fi rme e constante de atribuir a cada um o seu direito”. 
Segundo Cícero12, “justiça é o estado de espírito mantido pela comum utilidade de atribuir a cada um a 
sua dignidade”. Situa-se no campo das ações voluntárias, que devem ser praticadas com perseverança, 
fi rmeza e consciência. Na prática, o que se atribui a cada um como fruto da justiça é o direito.
Os nossos profetas sertanejos, adivinhos da chuva, são remanescentes dessa milenar tradição de tentar prever 
o futuro interpretando os sinais dos animais e da natureza cósmica.8
Digesto 1,1,10 – Iuris praecepta sunt haec: honeste vivere, alterum non laedere; suum cuique tribuere.9
Platão, A República, IV, 6, 10.10
Iustitia est constans et perpetua voluntas ius suum cuique tribuendi. (ULPIANO/Digesto 1.1.10)11
Iustitia praecipit parcere omnibus, consulere generi hominum, suum cuique tribuere. [CÍCERO, De Republica 3.24]12
Conforme já explicado acima, o conceito de jus não deriva do conceito de 
justiça, ao contrário, justiça é que significa proceder conforme o jus.
illustratiodica
MÓDULO 1
15
 # EQUIDADE
Deriva do latim aequus que signifi ca, literalmente, plano, liso, sem altos nem baixos, que não se 
inclina para nenhum lado, igual. Aequitas (equidade) é a substância do Direito e a sua meta. Signifi ca 
que, no Direito, deve-se aplicar igual tratamento para igual causa.
No Direito Romano, podemos encontrar três diferentes acepções de equidade: como igualdade, 
como proporcionalidade e como caridade, denotando uma evolução do conceito ao longo da história 
do Direito Romano. Foi no tempo do imperador Adriano que o jurista Celso13 elaborou a defi nição de 
Direito que se tornaria clássica: “o Direito é a arte do bem e da equidade”.
Está relacionada à sua eti-
mologia: a justiça baseada 
na igualdade rigorosa (Lei de 
Taleão). A retribuição ou a 
vingança será na mesma me-
dida da dádiva ou da ofensa 
recebidas
Está relacionada com a in-
fluência do epicurismo grego 
(epikéia = suspensão do julga-
mento), indicando parcimônia, 
moderação, ponderação nas 
decisões. Foi com este sentido que 
a palavra teve maior uso no 
Direito Romano Clássico
Está relacionada com a 
influência do cristianismo na 
fase final do império romano. 
Passou a significar bondade, 
benevolência, benignidade
IGUALDADE CARIDADE
EQUIDADE
PROPORCIONALIDADE
A equidade como proporcionalidade será sempre a melhor 
solução jurídica para cada caso concreto. Aristóteles14 
considerava o equitativo melhor que o justo, chamando a 
atenção para o fato de que a justiça não quer dizer a aplicação 
literal da lei (dura lex, sed lex). A justiça diferenciada
...
“Jus est ars boni et aequi” – Digesto, 1, 1, 113
“Ainda que pareça estranho, o equitativo é justo mais superior ao justo no sentido de que o homem justo 
só precisa respeitar as leis ao passo que o equitativo é capaz de ser justo até agindo contrariamente às leis 
estabelecidas, pois não ignora que, em algumas circunstancias, elas podem falhar.” (ARISTÓTELES, Ética 
a Nicômaco V, 10, 96)
14
NOTIO PERMAGNAimportante
direito romano
16
...
é a melhor, é a justiça perfeita. É função da equidade corrigir o direito ou a 
justiça legal, não significando isso que deve opor-se a ela. Essa foi a função 
precípua do jus honorarium, pelo qual o magistrado aplicava a lei ao caso 
concreto, atualizando o Direito Civil e buscando a melhor solução. Santo 
Tomás de Aquino, na Idade Média, repetia uma famosa frase de Cícero15: 
“summum ius, summa iniuria” (supremo direito, suprema injustiça).
Neste sentido, as atividades práticas dos jurisconsultos e dos magistrados tiveram importância 
destacada. Ao interpretar e aplicar as leis, verifi cando sua harmonização com o objetivo do Direito, 
adaptavam a norma com maior precisão à situação de cada um, praticando a justiça baseada na equidade, 
suprindo as lacunas e tornando vivo o Direito.
 # JURISPRUDÊNCIA
Etimologicamente, é a ciência do Direito. Ciência e arte. É o resultado 
da atividade do jurisconsulto, a qual é responder às questões concretas 
trazidas pelos cidadãos. No Direito Romano antigo, essa atividade era 
realizada pelos sacerdotes e áugures, pois tratava-se antes de revelar a 
vontade dos deuses (fas) do que de explicar o Direito (jus). Ou seja, era a 
jurisprudência sacerdotal.
A partir do séc. IV a.C., os romanos de grande saber jurídico passaram a aconselhar os magistrados, 
os cidadãos e depois até os próprios imperadores a respeito das coisas do Direito, surgindo a jurisprudência 
laica, em contraposição à jurisprudência dos sacerdotes. Passaram a ser chamados de “prudentes”, criando 
a fi gura do jurisprudente. De início, era uma atividade livre e gratuita na era republicana, mas algum tempo 
depois, os imperadores passaram a limitar o exercício da jurisprudência, autorizando apenas algumas 
pessoas a interpretar as leis em seu nome. Foi o início da jurisprudência ofi cial. 
A jurisprudência laica sofreu forte infl uência da fi losofi a grega. Inúmeros jurisconsultos deixaram 
suas valiosas contribuições, todos conhecedores dos fi lósofos gregos Platão e Aristóteles. Gozavam de 
grande prestígio social e político. Por causa disso, formaram-se escolas de jurisconsultos, destinadas 
ao preparo dos futuros jurisprudentes, sendo mais conhecida a escola de Gaio, que se imortalizou com 
a compilação das Institutas, inseridas depois no Código de Justiniano. A escola jurídica de Gaio foi o 
primeiro “curso de Direito” conhecido no mundo.
NOTIO PERMAGNAimportante
Summum jus, summa injuria. [CÍCERO, De Offi ciis 1.10.33]15
MÓDULO 1
17
A jurisprudência era exercida por cidadãos veteranos, que já haviam 
exercido a magistratura e utilizavam a sua experiência e saber 
realizando um serviço humanitário. Em geral, provinham das famílias 
mais tradicionais de Roma, eram pessoas ricas e não precisavam de 
pagamento. Todavia, pelo grandeprestígio que desfrutavam perante 
a sociedade e as autoridades, isso incentivava também os jovens a buscá-la, levando-os, 
muitas vezes, ao exercício de cargos públicos no futuro. Foi essa atividade que evoluiu 
historicamente para o exercício da advocacia.
A partir do imperador Adriano (117 d.C.), as respostas dos jurisconsultos passaram a ter a 
mesma hierarquia das normas jurídicas, ou seja, foram equiparadas às leis, tornando-se até para 
os juízes de uso obrigatório. Alguns anos mais tarde, o imperador Teodósio (420 d.C.), tendo em 
vista a grande quantidade e também a divergência de entendimento entre as várias respostas dos 
jurisconsultos, baixou uma lei elegendo um grupo de apenas cinco deles, como sendo os ofi ciais: 
Gaio, Modestino, Papiniano, Paulo e Ulpiano. Foi a denominada Lei das Citações. Como nesta 
ocasião, todos estes já haviam falecido, a sua escolha fi cou sendo conhecida como ‘Tribunal 
dos Mortos. Justiniano, ao organizar o seu código, mandou compilar o que de melhor havia na 
produção dos jurisconsultos, selecionando 39 dentre eles.
Para os romanos, portanto, a jurisprudência ou a responsa prudentium 
era o que hoje chamamos de doutrina, envolvendo assim, ao mesmo 
tempo, conceitos de filosofia e de direito. Os prudentes foram os verdadeiros 
criadores do Direito Romano.
b) Preceitos
Os preceitos básicos do Direito Romano são os três já enunciados acima (vide nota de rodapé nº 
9), seguindo a formulação de Ulpiano: viver honestamente, não prejudicar o outro, dar a cada um o 
que é seu. Eles nos levam à refl exão sobre a distinção entre a Moral e o Direito, conceitos que estavam 
totalmente associados no Direito Romano antigo, não havendo como distingui-los completamente.
 # O primeiro preceito – viver honestamente – é, ao mesmo tempo, um preceito da Moral 
e do Direito, certamente mais da Moral do que do Direito. Passa para a esfera do Direito 
a medida que, pela sua importância, não pode fi car apenas como uma recomendação, 
devendo haver normas jurídicas tornando-o obrigatório. De qualquer modo, a honestidade 
está muito mais afeita à consciência da pessoa do que às suas ações.
 # O segundo preceito – não prejudicar o outro – é também um preceito da Moral e 
do Direito, fi cando sob a égide do Direito quando se tratar de prejuízos de ordem 
patrimonial ou pessoal. Quando não existe materialidade no prejuízo, cinge-se apenas 
COMMENTARIuscomentário
attendeatenção
direito romano
18
ao âmbito da moralidade. Atualmente, desenvolvem-se teorias jurídicas tendentes 
a especifi car e quantifi car os chamados “danos morais”, que têm alta relevância no 
Direito Contemporâneo.
 # O terceiro preceito – dar a cada um o que é seu – é o único especifi camente jurídico, 
confunde-se com a própria ideia da justiça. Na verdade, os romanos nunca se preocuparam 
com essa distinção entre a Moral e o Direito. Para os juristas romanos, imbuídos da 
fi losofi a grega, o Direito se encontrava incluído na dimensão da moralidade, ou seja, a 
norma jurídica era uma particularização da norma moral genérica, isto é, fazia parte dos 
bons costumes.
2. FONTES E DIVISÃO DO DIREITO ROMANO
2.1 FONTES DO DIREITO ROMANO (DIVISÃO DAS FONTES)
Os estudiosos do Direito Romano distinguem as fontes em dois 
tipos, conforme suas naturezas: são as fontes de produção, aqueles 
órgãos que têm o poder de criar as normas (ex: costumes, comícios, 
plebiscitos, pretores, imperadores), e as fontes de revelação ou de 
conhecimento, aqueles órgãos encarregados de explicar ou atualizar 
as normas (ex: tábuas e códices).
2.1.1 FONTES DE PRODUÇÃO
As fontes de produção variam de época para época, conforme a evolução e o aperfeiçoamento dos institutos 
do Direito Romano. No seu desenvolvimento entre a época do Direito não escrito para a época do Direito 
escrito, várias fontes devem ser consideradas, destacando-se aquelas que predominaram em cada situação.
fontes de
senatusconsulto
lei
plebiscito
resposta dos
prudentes constituições
imperiais
Edito dos
magistrados
PRODUCAO:
costumes
a) Costumes (mores) – é a fonte primordial e única no período arcaico do Direito Romano. No 
conceito de costume incluem-se o mos (plural mores, costume propriamente dito), consuetudo 
(hábito) e usus (uso), com destaque para os mores maiorum (costumes dos antepassados). São os 
procedimentos adotados na comunidade, considerados aprovados pelo longo tempo de vigência 
e pela aceitação generalizada. São normas que emanam espontaneamente do consentimento 
explícito ou tácito do povo.
NOTIO PERMAGNAimportante
MÓDULO 1
19
De início, havia apenas os costumes não escritos, que eram transmitidos oralmente, passando a ser 
escritos em época posterior, aos quais acrescentaram-se aos poucos as outras fontes do Direito escrito.
O costume, em verdade, se compõe de dois elementos, sendo um externo 
e outro interno. O externo é o próprio uso consagrado e referendado pelo 
tempo; o interno é aquela convicção psicológica de que aquilo tem 
força de obrigação, é o acatamento por parte de quem o usa. É um 
misto, portanto, de juridicidade e moralidade.
b) Lei (lex) – em sentido formal e restrito, é a determinação expressa do povo aprovada nos comícios 
(comitia), representativos da “vontade” do povo romano, com observância obrigatória por todos. 
Com este caráter democrático, as leis prevaleceram na época da república. Passada esta, aos poucos 
foram suplantadas pelas constituições imperiais leis dadas diretamente pelas autoridades do Estado, 
sem passagem pelos comícios.
Por isso, num sentido amplo, leis são todas as normas 
emanadas das instâncias legislativas reconhecidas (cônsules, 
pretores, senado, imperador), além dos comícios e dos plebiscitos. 
Convém recordar que as leis, de início, não eram escritas, 
passando a ser a partir da Lei das XII tábuas.
c) Plebiscito (plebiscitum) – literalmente, decisão da plebe. São determinações votadas nas assembleias 
dos plebeus (concilia plebis), sem a participação dos patrícios.
Essas assembleias começaram a se formar após a Lei das XII Tábuas. De início, a validade das 
decisões atingia apenas os plebeus, mas com o tempo passaram a equiparar-se às leis gerais (leges 
generales), válidas para todos. Tal expansão aconteceu a partir da Lex Hortensia (286 a.C.)
O plebiscito é considerado uma forma anômala 
de produção do Direito, porque não tem origem 
no povo romano propriamente dito, mas na 
decisão de estrangeiros e libertos.
d) Senatusconsulto (senatusconsultum) – era uma deliberação do Senado Romano, resultado de uma 
consulta feita por um cidadão, que também não passava pelo processo legislativo dos comícios 
(comitia) e tinha força de lei.
attendeatenção
attendeatenção
illustratiodica
direito romano
20
O aumento do seu prestígio, no início do império (Principado), levava o povo a fazer 
consultas diretas aos senadores, cujas respostas tinham um caráter de decisão administrativa. 
Na época republicana, o Senado 
não podia editar leis, o que era 
prerrogativa dos comícios, cujas 
decisões o Senado formalmente 
apenas homologava.
No período do Principado, quando prevaleceu 
a diarquia do poder em Roma, o próprio 
Imperador fazia consultas ao Senado, foi quando 
o senatusconsulto ficou equiparado à lex.
e) Editos dos Magistrados (edicta 
magistratuum) – passaram a existir na fase 
republicana, quando os pretores podiam, ao 
início do seu mandato, baixar normas regulamentadoras de sua ação institucional, com poder 
de modifi cação das normas anteriores. Tinham como objetivo esclarecer e aperfeiçoar o Direito 
Civil, em função do interesse público.
É o chamado jus pretorianum ou jus honorarium, que desapareceu depois na fase do dominado, 
quando o Imperador foi aos poucos absorvendo todo o poder de legislar.
f) Constituições imperiais (constitutionesimperiales) – normas emanadas do poder imperial, 
na segunda fase do Império, ou seja, quando a autoridade do Imperador passou a ser absoluta, 
sem limites (dominado).
Eram apresentadas formalmente como de autoria do Imperador, contudo eram preparadas pelo 
consilium principis, ou seja, uma equipe de jurisconsultos conselheiros do Império, às quais o Imperador 
apenas dava aprovação ofi cial.
Havia quatro tipos de documentos para apresentação dessas constituições imperiais:
 # Editos (edicta) – preceitos de organização geral;
 # Mandatos (mandata) – ordens imperiais a funcionários ou aos Governadores das Províncias;
 # Decretos (decreta) – decisões sobre matérias que eram de competência exclusiva do 
Imperador, exercendo este a função de magistrado;
 # Rescritos (rescripta) – despachos dados pelo Imperador às consultas que eram formuladas 
por escrito (libellus) pelos cidadãos.
g) Resposta dos prudentes (responsa prudentium) – é o resultado da atividade consultiva dos 
jurisconsultos ou jurisprudentes na tarefa de aconselhamento e assessoria aos cidadãos, interpretando 
o Direito para aplicá-lo aos casos concretos que lhes eram apresentados.
COMMENTARIuscomentário
MÓDULO 1
21
A resposta dos prudentes, que era na república uma atividade profi ssional privada, ganhou ares 
de ofi cialidade no período imperial, quando alguns prudentes foram credenciados pelo Imperador para 
emitirem pareceres nas questões que lhes eram formuladas, sendo as suas respostas verdadeiras leis na 
prática. Estes pareceres vinculavam o juiz no julgamento da causa, a não ser que houvesse pareceres 
contraditórios de igual peso, quando o juiz tinha então que decidir conforme um deles. Foram os 
prudentes os responsáveis pela época mais fecunda da produção jurídica romana, a maior manifestação 
do gênio criador do povo romano na esfera jurídica.
As funções jurídicas exercidas pelos prudentes consistiam em: 
 # respondere: aconselhamento sobre questões diversas envolvendo casos concretos;
 # agere: era a assistência jurídica prestada às pessoas acompanhando-as perante os 
magistrados e tribunais, algo similar ao que hoje faz o advogado, com a diferença que o 
prudente não podia falar em nome da pessoa, apenas orientá-lo;
 # cavere (acautelar-se): era uma espécie de assessoria particular à pessoa que tinha 
interesse numa lide, em promover uma lide ou em defender-se, auxiliando-a na redação 
das petições;
 # scribere: redigir documentos jurídicos;
 # instruere: ensinar o direito aos jovens interessados em seguir a carreira de jurisprudente.
2.1.2 FONTES DE CONHECIMENTO OU DE REVELAÇÃO
As fontes de conhecimento ou de revelação são os textos legislativos e a literatura jurídica 
romana, que não produziam normas novas, apenas organizavam as já existentes. Para efeitos práticos, 
se distinguem os textos anteriores a Justiniano e os textos produzidos na época de Justiniano.
direito romano
22
a) Anteriores a Justiniano
 # Lei das XII Tábuas – escrita aproximadamente em 450 a.C. pelo decenvirato presidido 
por Ápio Cláudio, teve importância fundamental no desenvolvimento do Direito 
Romano. É o marco histórico inicial das leis escritas.
 # Edito Perpétuo de Juliano – escrito em 130 d.C., por ordem do imperador Adriano, 
pelo jurisconsulto Sálvio Juliano, que reuniu num só escrito todos os editos dos pretores 
anteriores, consolidando-os, daí ser conhecido como “edito perpétuo”. Originou-se 
do fato de que muitos pretores simplesmente repetiam os editos dos anteriores, não 
introduzindo novas disposições.
 # Lei das Citações – é uma norma da época do imperador Teodósio, que não traz preceitos, 
mas proclama quais os jurisconsultos “ofi ciais”, 
ou seja, aqueles cujos pareceres têm força de 
lei perante os magistrados e tribunais. Data 
aproximadamente do ano 420 d.C. 
 # Códigos – Código Gregoriano: contém as constituições imperiais de Adriano até Dio-
cleciano; código Hermogeniano: contém as constituições dos imperadores Valentiniano 
e Valente; código Teodosiano: contém as constituições do imperador Teodósio.
b) Da época de Justiniano
O Código de Justiniano é o conjunto de escritos jurídicos organizados por uma Comissão de 
juristas nomeada por este imperador. Teve duas fases. A primeira foi a época de sua vigência direta 
para os cidadãos romanos. A segunda foi o seu resgate alguns anos depois da queda de Constantinopla, 
quando veio a tornar-se o famoso Corpus Juris Civilis, o qual é composto das seguintes partes:
 # O Código Novo ou Codex Novus é a atualização do Codex Vetus, que, por sua vez, fora 
compilado com base nos antigos códices, além das diversas leis esparsas recolhidas. O 
texto do Codex Vetus foi perdido, conhecendo-se dele apenas um fragmento do índice. 
O texto do Codex Novus contém cerca de 4.700 constituições dos imperadores desde 
Adriano. Compreende 12 livros com 775 títulos.
Sua elaboração foi mesclada também com o direito eclesiástico 
(direito canônico), que começou a se formar a partir de 
Constantino. O historiador Procópio de Cesaréa atesta que
...
Pela Lei das Citações, os jurisconsultos cujos 
pareceres tinham força de lei eram Papinia-
no, Paulo, Gaio, Ulpiano e Modestino, além 
daqueles que foram citados em suas obras, a 
saber, Cévola, Sabino e Marcelo. Estes pode-
riam ser ‘citados’ como norma a ser seguida, 
daí o nome de lei das citações.
CURIOSITAscuriosidade
MÓDULO 1
23
...
o imperador Justiniano ficava até muito tarde da noite discutindo questões 
jurídicas com bispos e outras autoridades eclesiásticas, com o intuito de 
harmonizar o Direito Civil com o Direito Eclesiástico.
 # Digesto é a compilação mais famosa dos escritos dos principais jurisprudentes, que 
viveram no período fi nal da república e início do império. Foram coletados cerca de 9.000 
fragmentos das obras de 39 jurisconsultos, organizados por uma comissão especial de 
dezesseis juristas. Foi redigido em três anos e meio. Trata sobre regras de Direito Civil. 
Obra gigantesca, contendo 50 livros com 408 títulos e cerca de 150 mil versículos, foi 
criticada pelos historiadores por conter imperfeições e repetições, fatos que não retiram 
o brilhantismo de sua envergadura. Um manuscrito integral 
do Digesto encontra-se na Biblioteca de Florença, na Itália. 
Digesto é o título da obra escrita em latim. O texto escrito 
em grego chama-se Pandectas, com o mesmo conteúdo.
 # Institutas ou Institutiones é o compêndio didático de Direito 
Privado Romano, composto de quatro livros e baseado 
principalmente nos estudos jurídicos de Gaio (Gaius). Destinava-se à formação de 
jurisconsultos e advogados, um ensinamento jurídico que durava cinco anos. O “manual” 
de Gaio foi escrito em meados do século II d.C., diversas cópias dele circulavam pela 
Itália. Compunha-se de quatro livros com 98 títulos.
 # As Novelas são as novas constituições imperiais publicadas por Justiniano, que foram 
em número de 168 (alguns estudiosos contam 177), publicadas no espaço de tempo 
compreendido entre a edição do Segundo Código e a morte de Justiniano, compiladas 
posteriormente sob o imperador Tibério II. Estavam escritas em latim (Novellae) e em 
grego (Nearai diataxeis = recentes dispositivos), tendo em vista a imensidão do território 
e a variedade de habitantes.
Com a queda do Império Romano do Oriente, chegaram à Itália apenas parte das 
Novelas, as escritas em grego, enquanto as escritas em latim ficaram perdidas por 
bastante tempo, voltando a aparecer em Bolonha entre os séculos XI e XII. Foram 
chamadas ali de Autênticas, porque se acreditava que o texto era idêntico ao original.
O título de Corpus Juris Civilis não foi dado por Justiniano nem por seus juristas, mas veio a 
surgir no fi nal do século XVI, com a edição feita por Denis Godefroy (Dionisio Godofredo, 1583), 
jurista francêsque resgatou os textos antigos e os reuniu sob esse nome, contendo as Institutiones, o 
Digesto, o Codex Novus e as Novellae. Esta obra foi muito bem aceita e elogiada tanto nos tribunais 
quanto nas escolas jurídicas, constituindo-se a edição atual do Código de Justiniano. 
Digesto – do latim digestus, 
signifi ca repartido, classifi ca-
do, organizado.
Pandectas – do grego, sig-
nifi ca “que contém tudo”, 
“que abrange tudo”. Algo 
como a primeira “enci-
clopédia” jurídica.
CURIOSITAscuriosidade
direito romano
24
2.2 DIVISÃO DO DIREITO ROMANO
2.2.1 DIREITO OBJETIVO e DIREITO SUBJETIVO
Conforme já explicado anteriormente, a palavra jus tinha, entre 
os romanos, duas acepções básicas, conforme se referisse a uma 
norma impositiva (norma agendi) ou a uma norma facultativa 
(facultas agendi). Na visão moderna, correspondem ao Direito 
Objetivo e Direito Subjetivo, importando destacar que para 
os romanos essa distinção não era relevante.
 tinha, entre 
os romanos, duas acepções básicas, conforme se referisse a uma 
) ou a uma norma facultativa 
os romanos essa distinção não era relevante.
a) JUS NON SCRIPTUM e JUS SCRIPTUM (em relação à forma)
No Direito Romano, esta divisão diz respeito às origens costumeiras, quando o processo era 
totalmente oral perante o juiz, em que compareciam as partes e as testemunhas. Só tempos depois 
passaram a ser usados documentos escritos.
 
NON SCRIPTUM:
ususconsuetudo
mores
maiorum
res judicata
 # Non scriptum – direito consuetudinário tradicional, envolvendo o costume, o 
hábito e o uso (mos ou mores maiorum, consuetudo e usus). Assim era no início 
todo o Direito, incluindo as primitivas leis reais e decisões dos magistrados, que 
também não eram escritas.
MEMENTOlembrando
MÓDULO 1
25
 ø Mores maiorum = costumes dos antepassados transmitidos de geração em 
geração; quanto mais antigos, mais fortes, continuando a existir mesmo após o 
surgimento das leis escritas e colocando-se, muitas vezes, acima dessas;
 ø Consuetudo = hábitos de comportamento de menor importância;
 ø Usus = práticas sociais aprovadas pelo uso frequente; na prática, o que garantia 
maior força a uma regra costumeira era a sua antiguidade, ou seja, quanto mais 
antiga, mais forte;
 ø Res judicata = decisões reiteradas dos magistrados, ainda que não escritas.
SCRIPTUM:
senatusconsultum
lex
plebiscitum
responsa
prudentum principum
placita
magistratuum
edicta
 # Scriptum – lex, plebiscitum, senatusconsultum, principum placita (constituição 
imperial), magistratuum edicta (editos dos magistrados), responsa prudentium (resposta 
dos prudentes) – a produção jurídica escrita que começou com a Lei das XII Tábuas e 
se consolidou na era da república. Conceituando:
 ø Lex = norma proposta por um magistrado votada nos comícios dos patrícios e 
aprovada pelo senado; foram largamente adotadas no tempo da república romana;
 ø Plebiscitum = análogo à lex, mas proposto por um tribuno da plebe e votado nas 
assembleias dos plebeus (concilia plebis); inicialmente, valiam apenas para os 
plebeus, mas após a Lei Hortensia (286 a.C.) passou a obrigar a todos;
 ø Senatusconsultum = decisões do senado sobre casos concretos que lá eram 
apresentados pelos cidadãos, não passavam pelo processo legislativo, mas 
tinham força de lei;
 ø Principum placita = leis dadas diretamente pelos Imperadores, sem votação do 
povo; existiram largamente na época do Império e diferem da lex porque não 
passaram pelo processo legislativo ordinário;
 ø Magistratuum edicta = normas baixadas pelos magistrados (cônsules e pretores) 
no início dos seus mandatos, eram uma espécie de “decretos” e funcionavam 
como atualização do ius civile, tomando força de lei, na prática;
 ø Responsa prudentium = doutrina dos jurisconsultos em forma de respostas a 
consultas que lhes eram formuladas pelos cidadãos interessados em ingressar 
com alguma ação perante os órgãos judiciais ou no exercício de sua defesa.
direito romano
26
b) JUS PUBLICUM e JUS PRIVATUM (em relação ao conteúdo)
No Direito Romano, esta distinção diz respeito à esfera da aplicação ou da fi nalidade do direito 
(teleologia) e não à sua essência, sua natureza constitutiva. Trata-se de uma divisão mais de caráter 
didático do que sistemático. Os romanos sempre tiveram maior atenção ao jus privatum, no âmbito do 
qual foram desenvolvidos os principais conceitos que ainda hoje infl uenciam os Direitos dos diversos 
países. O jus publicum esteve sempre associado à religião estatal romana, não sendo objeto de discussões 
entre os jurisconsultos. Mesmo na época da república, a res romana (estado romano) era considerada 
uma coisa sagrada e, como todo sagrado, intocável.16
 # jus publicum - regula, portanto, as relações políticas e os fi ns que o Estado deve alcançar. 
Trata da estrutura, da atividade, da organização e do funcionamento do Estado romano. 
No dizer de Ulpiano, são objetos do Direito Público “as coisas sagradas, os sacerdotes 
e os magistrados”, havendo portanto uma confusão entre Direito e religião, na esfera do 
Direito Público, fato que determinou um bloqueio no seu desenvolvimento, favorecendo 
o Direito Privado. Desde os primeiros tempos, sempre competiu ao Estado o culto dos 
deuses nacionais, cujo chefe e sacerdote maior era o rei e, depois, o imperador. Ficava 
assim ao arbítrio do governante as determinações relativas ao Estado Romano.
 # jus privatum - regula as relações entre os cidadãos e fi xa as condições e limites de cada um. 
Quase toda a legislação e doutrina que nos foram legadas pelos romanos pertence ao âmbito 
do Direito Privado, campo em que melhor se observa a criatividade e a genialidade do poro 
romano. Convém recordar que o Direito Privado romano não foi criação integral deles próprios, 
mas houve também infl uências dos direitos de outros povos, sobretudo do grego.
c) JUS CIVILE, JUS GENTIUM e JUS NATURALE (subdivisões do Direito Privado)
A classifi cação do Direito Privado Romano, já entre os próprios jurisprudentes, não era uniforme. 
De acordo com Ulpiano, o Direito Privado é tripartido em Direito Civil, Direito das Gentes e Direito 
Natural. Já na expressão de Gaio, “todo direito que adotamos se refere às pessoas, às coisas e às ações”17. 
Juntando as duas doutrinas deduz-se que o Direito Privado englobava, na prática, todo o Direito Romano. 
Summum jus, summa injuria. [CÍCERO, De Offi ciis 1.10.33]
Textualmente, nas Institutas: Publicum ius est quod ad statum rei Romanae spectat, privatum quod ad 
singulorum utilitatem pertinet. Direito Público é aquele que visa ao estado (interesse) da coisa Romana; o 
16
privado é o que pertence à utilidade das coisas singulares. Res romana = res publica = civitas.17
27
MÓDULO 1
De um modo geral, as relações jurídicas envolvendo pessoas e 
coisas subdividiam o Direito Privado em duas grandes áreas: jus 
commercii – Direito do Comércio, que inclui as relações de compra e 
venda e também as de natureza patrimonial e contratual e o hoje 
chamado Direito Obrigacional; jus conubii – Direito do Matrimônio, 
que inclui, além do próprio casamento e família, as relações de 
parentesco em geral, o pátrio poder, adoção e tutela.
O Direito Sucessório (jus successionis), por sua vez, envolvia aspectos do ius commercii e 
do ius conubii, na medida em que havia envolvimento de pessoas e coisas no trato das relações 
de herança, as quais englobavam tanto laços familiares quanto direitos de natureza patrimonial 
dos herdeiros e sucessores.
Para os fi ns do nosso estudo, seguiremos a classifi cação de Ulpiano:
 # jus civile – Direito relativo ao povo romano especifi camente. Também é chamado jus 
Quiritium ou jus Quiritarium, derivado de quirites, que signifi ca cidadão romano. 
Segundo a lenda, o nome deriva de Cures, cidade do reino 
dos Sabinos,um dos povos formadores originários da 
cidade de Roma, reportando-se assim à origem histórica 
dos cidadãos. Segundo outra lenda, Rômulo, ao ser 
arrebatado para o céu, tornou-se o deus Quirites e os 
romanos, sendo seus descendentes, adotavam para si a 
mesma denominação. Por isso, foi chamado também de 
Direito Nacional.
 # jus gentium – Direito aplicado a todos, comum a todos os 
povos. Normas aplicáveis a todos os que vivem sob a tutela 
jurídica de Roma, seja cidadão ou estrangeiro.18 Começou a se formar após as Guerras 
Púnicas (séc VI a.C.), quando o poder político de Roma ampliou-se consideravelmente 
e a sua importância comercial atraiu para lá pessoas oriundas de todas as regiões do 
Mediterrâneo, criando relações jurídicas novas que precisavam ser regulamentadas. 
Forçou então a criação de uma modalidade de normas direcionadas para as novas situações 
surgidas, constituindo assim o Direito das Gentes, objetivamente destinado a regular as 
relações comerciais e que tinham validade para todos os homens livres, sejam cidadãos 
romanos ou estrangeiros. Deste modo, pela necessidade de proteger também os súditos 
do império que não eram cidadãos romanos, foram instaurados novos procedimentos 
jurídicos mais humanizados, simplifi cados e destituídos do rigoroso formalismo da 
tradição quiritária, iniciando, desse modo, também uma nova ordem processual no Direito 
Romano. O jus gentium transformou-se hoje no Direito Internacional.
Digesto 1, 5, 1, Gaio: Omne autem ius quo utimur vel ad personas pertinet, vel ad res, vel ad actiones.
Também conforme Gaius: Id quod apud omnes populos operaeque custoditur, vocaturque ius gentium, 
quase quo iure omnes gentes utuntur. Populus itaque Romanus partim suo proprio, partim communi omnium 
hominum iure utitur.* Aquilo que de acordo com a experiência de todos os povos se guarda chama-se ius 
gentium, como se fosse um direito pelo qual todas as gentes se orientam. Portanto, o Povo Romano se serve em 
parte do seu próprio, em parte daquilo que é comum a todos os homens. (Institutas, 2, 1, Gaio)
18
Na defi nição de Gaio: Quod 
quisque populus ipse sibi 
ius constituit, id ipsius pro-
prium est vocaturque ius 
civile, quase ius proprium 
civitatis. Aquilo que cada 
povo para si próprio con-
stitui para si como Direito, 
aquele que é próprio dele e 
se chama ius civile, como se 
fosse o direito próprio da ci-
dade. (Institutas, 2, 1, Gaio)
attendeatenção
direito romano
28
 # jus naturale – Direito organizado segundo a razão natural, que é igual para todas as 
pessoas. Sua existência em Roma foi fortemente infl uenciada pela cultura grega. É uma 
acepção abstrata do ius gentium e ao mesmo tempo a regra que lhe serve de fundamento. 
Em princípio, estaria na base do ius civile e do ius gentium, por ser imposto pela própria 
razão, derivado da própria natureza. Por exemplo, a proteção ao nascituro é uma regra 
oriunda do Direito Natural, passada depois para o Direito Civil e o Direito das Gentes.
Na jurisprudência romana mais antiga, só se contrapõe o ius civile ao ius gentium, fato notado 
inclusive na atividade dos pretores. Mas na época mais tardia, fazia-se a contraposição também entre 
o ius gentium e o ius naturale, sendo este mais amplo, envolvendo todos os seres vivos, por infl uência 
de algumas correntes da fi losofi a grega, que concebiam os animais como detentores de alguns direitos.
No período da república, começou a surgir o jus honorarium, sendo este o Direito 
introduzido pelos pretores que, com base no seu poder de imperium, podiam criar 
novas regras ou modificar aquelas já existentes. Por causa disso, muitas vezes, 
o jus honorarium entrava em conflito com o jus civile, vindo a prevalecer sobre 
este. O jus honorarium é também conhecido como Direito Pretoriano, normas que 
estavam contidas nos editos baixados pelos pretores. Embora muitas vezes se 
contrapondo com o jus civile, o jus honorarium é considerado pelos estudiosos como 
uma atualização do jus civile, não um direito à parte.
d) JUS COMMUNE, JUS SINGULARE e PRIVILEGIUM (subdivisões do Direito Privado)
Além das divisões do Direito Privado acima apresentadas, encontram-se na doutrina outras subdivisões:
 # jus commune – normas jurídicas estabelecidas em conformidade com os princípios gerais 
do Direito, aplicáveis a todas as pessoas e a todas as situações nelas previstas. Baseiam-se 
na aequitas (ex.: normas relativas a testamento). Roma havia se convertido no novo centro 
do mundo, por causa da sua liderança política e comercial, reconhecendo-se dessarte sua 
autoridade também para comandar a universalidade do Direito. O jus commune foi também 
desenvolvido pelos glosadores e comentadores medievais, tendo como base o Código de 
Justiniano e sua elaboração serviu de fonte para a composição dos Direitos Nacionais 
europeus, a partir do Renascimento, infl uindo depois sobre todo o mundo moderno;
 # jus singulare – normas jurídicas derivadas dos princípios gerais, mas de aplicação restrita, como 
exceção justifi cada por razões específi cas, valiam apenas para determinadas pessoas ou grupos, 
bem como em situações específi cas. Também baseiam-se na aequitas (ex.: o testamento militar);
 # privilegium – disposição jurídica excepcional, não baseada na aequitas, que se constitui 
em favor de uma pessoa ou uma classe de pessoas.
MÓDULO 1
29
Concluímos o estudo do primeiro módulo com uma 
visão geral histórica e conceitual do Direito Romano. 
As grandes linhas deste Direito, tais como cidadania, 
família, sucessões, coisas, obrigações e mais o Direito 
Processual serão tratadas nos próximos módulos. 
Bons estudos! viaconversandovia
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. 
CRETELLA JR, José. Curso de Direito Romano. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. 
FILARDI, Luiz Antônio. Curso de Direito Romano. 3. ed., São Paulo: Atlas, 1999. 
MARKY, Thomas. Curso Elementar de Direito Romano. 8. ed., São Paulo: Saraiva, 1995. 
PESSOA, Eduardo. História do Direito Romano. São Paulo: Habeas Editora, 2001
RICCOBONO, Salvatore. Roma: Madre de las Leyes. Buenos Aires: Depalma Ediciones, 1975.
TABOSA, Agerson. Direito Romano. 2. ed. Fortaleza: Editora FA7, 2003.
REFERÊNCIAS
bibliografia e outras fontes
3030
1. Conceitue Direito Romano, especifi cando três características desse Direito.
2. Aponte e explique duas vantagens do estudo do Direito Romano na atualidade.
3. Em que circunstâncias surgiu a Lei das XII Tábuas e qual a sua importância para 
o Direito Romano?
4. O que era a concilia plebis e a que se destinava?
5. Explique como era o trabalho dos jurisprudentes romanos inicialmente e como 
foi se modifi cando depois.
6. De que modo foram organizados os primeiros códigos jurídicos anteriores a Justiniano?
7. Quais os primeiros códices do Direito Romano e qual a sua fi nalidade prática?
8. O Código de Justiniano vedava a “recolha legislativa”. O que isto signifi cou?
9. Qual o conteúdo do Digesto e por que teve este nome?
10. A que se destinavam as Institutas do Código de Justiniano?
11. O que eram as Novelas?
12. Como e quando o Código de Justiniano veio a chamar-se Corpus Iuris Civilis?
13. Comente a diferença entre os conceitos de jus e fas.
14. O conceito romano de justiça signifi cava proceder de acordo com os princípios 
básicos do Direito. Quais são estes?
15. Os romanos não tiveram preocupação em distinguir as regras morais das regras 
jurídicas. Comente a este respeito.
16. Qual a etimologia e o signifi cado do conceito de equidade?
17. Caracterize a jurisprudência romana como ciência e arte do Direito.
18. O segundo dos preceitos do Direito é, ao mesmo tempo, regra de Direito e 
de Moral. Explique.
19. Por que razão o Direito Romano se desenvolveu mais no âmbito do Direito 
Privado, deixando em segundo plano o Direito Público?
QUESTÕES
pararevisão e aprofundamento
31
QUestões
20. Explique os signifi cados de jus como norma agendi e como facultas agendi.
21. O que são mores maiorum, consuetudo e usus?
22. O que ocorreu com o direito não escrito, após o surgimento das normas escritas 
em Roma?
23. Em que consiste o costume e por que foi a principal fonte do Direito 
Romano antigo?
24. Qual o sentido próprio da lei (lex) no Direito Romano?
25. O que era um senatusconsulto?
26. De que modo os editos dos magistrados foram fatores de renovação do 
Direito Romano?
27. O que eram as constituições imperiais e em que época surgiram?
28. O que foi a Lei das Citações?
29. Como era a divisão do Direito de acordo com Ulpiano?
30. Por que o ius conubii e o ius commercii englobavam grandes áreas do 
Direito Privado?
31. Qual a importância do Direito Natural em Roma e que infl uências este 
Direito teve?
32. O que são fontes de produção e fontes de conhecimento do Direito Romano?
33. Por que a lei das XII Tábuas não é fonte de produção?
34. De quais modos se apresentavam as Constituições Imperiais?
35. Quais as funções práticas dos prudentes romanos?
36. Qual a diferença entre o conceito romano de jurisprudência e o conceito atual?
37. Qual a importância do ius honorarium em relação ao ius civile?
38. O que foi o ius commune e qual a sua importância histórica?
39. Qual a importância do Corpus Juris Civilis para os Glosadores medievais?
40. O que são brocardos jurídicos?
32
Núcleo de Educação a Distância
O assunto estudado por você nessa disciplina foi planejado 
pelo professor conteudista, que é o responsável pela produção de 
conteúdo didático. E foi desenvolvido e implementado por uma 
equipe composta por profissionais de diversas áreas, com o objetivo 
de apoiar e facilitar o processo ensino-aprendizagem.
Projeto Instrucional
Jackson de Moura Oliveira
Roteiro de Áudio e Vídeo
José Glauber Peixoto Rocha
Produção de Áudio e Vídeo
José Moreira de Sousa
Identidade Visual/Arte
Sérgio Oliveira Eugênio de Souza
João José Barros Marreiro
Viviane Cláudia Paiva
Programação/Implementação
Jorge Augusto Fortes Moura
Animação
Francisco Kaléo Mendes Liberato
Editoração
Régis da Silva Pereira
Sávio Félix Mota
Revisão Gramatical
Luís Carlos de Oliveira Sousa
Coordenação Geral
Lana Paula Crivelaro M. de Almeida
Supervisão Administrativa
Denise de Castro Gomes
Professor conteudista
Antonio Carlos Machado
Design Instrucional
Andrea Chagas Alves de Almeida
CRÉDITOS
quem faz
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ANOTAÇÕES

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