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1 SÍNDROME DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA SISTÊMICA (SEPSE) EM GATO (FELIS CATUS) - ESTABILIZAÇÃO E TERAPIA SYSTEMIC INFLAMMATORY RESPONSE SYNDROME (SIRS) IN CAT (FELIS CATUS) STABILIZATION AND THERAPY Carolina Minuzzi¹; Edi Cristina Malinovski¹; Hellyend S. Silveira Lustosa¹; Julia de Angelo Pereira¹; Kelly Pimenta;¹ Diogo Ferreira da Motta² ¹ Graduanda em Medicina Veterinária - UTP. ² Docente do curso de Medicina Veterinária - UTP. diogo734@gmail.com Palavras-chave: antibióticoterapia; emergência; hipoperfusão INFORMAÇÕES DO PACIENTE Gato, macho, seis anos, SRD, semidomiciliado na cidade de Curitiba. O paciente deu entrada na emergência da Clínica Escola de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Parana (CEMV - UTP) após ser encontrado prostado no quintal de casa, com uma mordida na região abdominal e evidente perda de sangue. Durante a avaliação notou-se uma solução de continuidade de aspecto penetrante na região do abdome. O suporte básico à vida foi realizado (ABC do trauma) avaliando as vias aéreas, respiração e circulação do animal. Durante o atendimento verificou-se que o animal encontrava-se em taquipnéia (FR: 64 mpm) e taquicardia (FC: 174bpm), assim, a suplementação de oxigênio foi realizada. O paciente apresentou hipotermia (t: 36,5°C) e encontrava-se hipotenso (PAS: 64mmHg), foi avaliado o nível de consciência e a existência de outras lesões para que a estabilização do paciente fosse a mais eficiente. Os exames laboratoriais apresentaram as seguintes informações. Exame solicitado Valores encontrados Valores de referência Hematócrito 27g/dL 24-45 g/dL 2 Exame solicitado Valores encontrados Valores de referência Hemoglobina 4,5% 8-15 % VGM 39 fL 39-55 fL CHGM 30% 31-35 % Proteína plasmática 5,4 g/L 54-78 g/L Leucócitos totais 32.000 quant./uL 5.000-19.500 quant./uL Neutrófilos segmentados 3.000 quant./uL 2.500-12.500 quant./uL Neutrófilos bastonetes 400 0-300 quant./uL Linfócitos 1.300 1.500-7.000 Monócitos 361 0-850 Eosinófilos 910 0-1.500 Basófilos Raros Raros Plaquetas 310 105/uL 3 – 8 105/uL Lactato 5 mmol/L 1,2-3,7 mmol/L No exame ultrassonográfico FAST foi observado presença de líquido livre ao redor de ambos os rins e da vesícula urinária. Foi encontrado líquido livre de coloração avermelhada, e ao encaminhar para o exame citológico constatou-se a presença de eritrócitos e bactérias em grandes quantidades. ESTABILIZAÇÃO DO PACIENTE – TERAPIA GUIADA POR METAS Conforme o histórico de trauma, indica-se que o paciente seja encaminhado imediatamente para o centro cirúrgico para realizar uma celiotomia exploratória a fim de diagnosticar e corrigir a alterações presentes. Toda a equipe deve estar preparada para auxiliar na cirurgia do animal e em uma transfusão sanguínea, que comumente torna-se necessária. As primeiras seis horas após o diagnóstico de SEPSE são cruciais para determinar o prognóstico do animal, assim após realizar o ABC do trauma, deve-se reconhecer e controlar o foco infeccioso, conter a perda de sangue e fazer a reposição volêmica 3 com uso de fluidoterapia, colóides ou cristalóides** (SILVA, C.R.; 2012). Deve-se considerar a coleta de amostras para realização de culturas bacterianas, entretanto, a cultura necessita de 7 a 14 dias para determinar o tipo de microrganismo presente na amostra enviada, assim torna-se necessário o uso de antibióticos de amplo espectro por via intravenosa e a terapia vasopressora é indicada para manter a perfusão caso haja uma hipotensão grave, mesmo durante o decorrer da reposição volêmica (CHACAR, F.C.; 2014). A manutenção do paciente séptico compreende insulinoterapia para o controle de hiperglicemia, estratégia de ventilação mecânica de acordo com a capacidade pulmonar apresentada pelo animal (volumes limitados em animais com lesão pulmonar aguda (LPA) ou Síndrome do desconforto respiratório sistêmico (SDRS)). Caso o paciente permaneça hipotenso após a reposição volêmica e estabilização da temperatura, deve-se considerar o uso de catecolaminas exógenas, que exerçam efeitos inotrópicos e cronotrópicos positivos, melhorem o débito cardíaco e a oferta de oxigênio. Gatos em SEPSE podem apresentar edema pulmonar e efusão pleural que tornam a respiração crepitante e pesada, portanto, deve-se auscultar o tórax do paciente repetidas vezes, pois a crepitação pulmonar só é perceptível quando o edema e efusão já estão em estágio avançado (SILVA, C. R. ; 2012). CHACAR, F. C. ET. AL. (2014) citou que os animais acometidos por SEPSE podem apresentar coagulopatias que podem exigir transfusão sanguínea para aumentar a oxigenação e repor os fatores de coagulação. Esta deve ser considerada em casos de hipóxia e hematócrito abaixo de 20%. Em casos de aumento no tempo de coagulação, indica- se a administração de plasma. Em todas as etapas (diagnóstico, estabilização, tratamento, procedimento cirúrgico, transfusão, manutenção e recuperação) do atendimento, devem-se considerar as particularidades da espécie, que podem oferecer reações potencialmente fatais em gatos. PROTOCOLO DE ESTABILIZAÇÃO E TERAPÊUTICA ABC do trauma e oxigenação 4 • Fluido isotônico • Reposição do défit de líquidos do espaço intersticial • Composto de 0,6% NaCl ; 0,02% Cálcio dihidratado; 0,03% cloreto de potássio; 0,31% de lactato de sódio • 40 - 60 mL/Kg • 1/3 do volume deve ser administrado de 20 a 30 minutos • Reavaliar o paciente para definir se realiza mais uma prova de carga ou se aumenta a taxa de fluido • Infusão contínua Fluidoterapia Solução de ringer com lactato • Dobutamina é um fármaco inotrópico positivo de ação rápida que reestabeleve o débito cardíaco • Dopamina em doses elevadas atua em receptores alfa 1 e beta 1 aumentando o fluxo sanguíneo • Ambas devem ser administradas diluídas em solução ringer com lactato em infusão contínua • Dopamina 5 - 13 mcg/Kg/mim • Dobutamina 4,4 - 15,4 mcg/Kg/mim • A Norepinefrina deve ser usada em caso de hipotensão não responsiva Catecolaminas exógenas Dopamina ou Dobutamina • Alterações metabólicas como hiperglicemia são comuns em felinos • No paciente séptico, a hiperglicemia é causada pela ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal que aumenta a produção hepática de glicose e inibe a captação de glicose mediada pela insulina para o músculo esquelético • Não permitir que a glicemia ultrapasse 250mg/dL em gatos • Iniciar com insuilina regular na dose de 0,05 IU/Kg/h • Conferir glicemia até que o paciente esteja estável Insulinoterapia 5 • Qualquer trauma ou quadro potencialmente doloroso deve receber medicação analgésica. • Os opióides são a primeira escolha em tratamento de dor aguda plea eficácia, segurança e reversibilidade • Os efeitos adversos são dose dependentes • Podem produzir sedação, depressão respiratória e bradicardia • Não utilizar opióides em pacientes com sinais de trauma encefálico Analgesia Tramadol e fentanil • A Cetamiina em doses subanestésicas proporcionam analgesia e reduz a dose de opióides • Potencializam o efeito • Em necessidade de maior sedação usa-se Cetamina 0,025 - 0,5 mg/Kg + Midazolan 0,2mg/Kg. • Não deve-se utilizar alfa 2 adrenérgicos (Ex: xilazina) em pacientes com choque, hipovolemia ou baixa perfusão periférica Sedação Cetamina, Midazolan • Fazer teste de cultura e antibiograma para iniciar o tratamento com o antibiótico eficaz • Associar antibióticos de amplo espectro durante o período de espera dos resultados de cultura e antibiograma • Administração por infusão contínua • Cefalosporinas e penicilina atuamcontra microrganismos aeróbicos • Metronidazol e clindamicina atuam contra microrganismos anaeróbicos • A enrofloxacina é um antibiótico de amplo espectro utilizado comumente na terapêutica de Sepse, mas esse fármaco não deve ser utilizado em felinos por estar associado a grave degeneração da retina, levando à cegueira. Antibióticoterapia Cefalosporinas de 1°, 2° e 3° geração, penicilina,metronidazol e clindamicina 6 Segundo o Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS), as principais recomendações terapêuticas para o paciente com SEPSE são: mensuração de lactato, avaliações laboratoriais de eritrograma e leucograma para determinar o progresso da infecção, realizar culturas bacterianas a fim de identificar o microrganismo invasor, antibióticoterapia de amplo espectro por via intravenosa, controlar o foco infeccioso, conter perdas de sangue e realizar a reanimação inicial, por meio da reposição volêmica e drogas vasopressoras. Todas estas medidas devem ser tomadas nas primeiras 6 horas após o diagnóstico de Sepse. CONCLUSÃO O conhecimento das distinções de resposta dos felinos frente à Sepse, e a terapêutica indicada é extremamente importante para o aumento de sobrevida desses pacientes. Uma abordagem diagnóstica e terapêutica logo no início da manifestação clínica é imprescindível para a recuperação e para a prevenção de lesões causadas pelo tempo em que o paciente esteve em hipóxia. O ABC do trauma é de suma importância para a estabilização do paciente com Sepse que exigem cuidados imediatos e competentes. 7 REFERÊNCIAS CHACAR, F. C. ET. AL. Sepse em felinos. Repositório institucional UNESP. São Paulo, Brasil, 2014. Disponível em:< https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11 449/140509/ISSN0102-5716-2014-21-01-64-76.pdf?sequence=1&isAllowed=y> REIS, J. ; ET.AL. Protocolos clínicos: diagnóstico e intervenção em clínica de pequenos animais.Universidade de Évora; p.74; Évora, Portugal, 2015. Disponível em:<https://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/16290/1/Protocolos%20cl%C3% ADnicos%20-20diagn%C3%B3stico%20e%20interven%C3%A7%C3%A3o%20em %20cl%C3%ADnica%20de%20animais%20de%20companhia.pdf> SILVA, C. R. Tratamento emergencial do choque em felinos domésticos. Repositório institucional UFRGS, Rio Grande do Sul, Brasil, 2012. Disponível em: <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/69651/000873888.pdf?sequence =1> ZANCAN, R.G. Fluidoterapia no choque hipovolêmico. Repositório institucional UFSM. Rio Grande do Sul, Brasil, 2014. Disponível em:< http://repositorio.ufsm.br/ bitstream/handle/1/779/Zancan_Rubia_Gabriela.pdf?sequence=1&isAllowed=y>
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