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FORMAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS BRASILEIRAS – ANÁLISE DO SÉCULO XIX 
TURMA 25 – 2013
Andressa Cavalcante, Beatriz Almeida, Beatriz Nacarato, Caroline Guimarães
CAIO PRADO JR
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO NACIONAL: A ASSEMBLEIA CONSTITUINTE DE 1823
- A superestrutura política do Brasil-colônia se rompe por não mais corresponder às estruturas econômicas do país, dando espaço para outras formas mais adequadas de governo (emancipação).
- No seu processo, faltam a violência e os conflitos armados que houve nas demais colônias, foi um processo com caráter de ‘arranjo político’. Houve um período de transição em que o Brasil não era uma colônia e nem uma nação. 
- A independência se fez por uma simples transferência política de poderes da metrópole para o novo governo brasileiro e na falta de participação popular, o poder foi todo absorvido pelas classes mais altas.
- D. Pedro: papel ocasional.
- A Constituição reflete as condições políticas reinantes, por isso a importância da Constituição não aprovada de 1823, ela demonstra as origens do Império brasileiro.
- Ela foi inspirada nas Constituições europeias, mas foi elaborada para que proprietários rurais a adotassem contra a burguesia mercantil brasileira e portuguesa. Suas ideias centras eram a liberalidade econômica e a soberania nacional.
- Xenofobismo dos constituintes (medo da recolonização portuguesa): naturalização limitada, incompatibilidade dos naturalizados para cargos de representação nacional, mesmo para brasileiros nascidos em Portugal.
- Preocupação em limitar o poder do Imperador, valorizando a representação nacional (soberania nacional X soberania do monarca).
- Indissolubilidade da câmara, forças armadas sujeitas ao Parlamento e não ao imperador, veto imperial.
- Discriminação dos direitos políticos, limitando os cidadãos e sua participação. Eram excluídos quaisquer cidadãos com rendimento inferior a 150 alqueires de farinha de mandioca, ou seja, toda a população do país.
- A escravidão permanece.
O primeiro reinado
- Reação do partido português. Logo após a independência, d. Pedro se aproxima dos compatriotas portugueses, que lhe ofereciam um poder absoluto. O partido brasileiro, apesar das suas diferenças internas, se posicionava contra essa reação.
- A abertura dos portos faz crescer um sentimento de ‘ânsia de conforto e luxo’ na população, e para bancar tais gastos, os proprietários rurais passam a voltar seus esforços produtivos para o mercado exterior. É a época de exploração cada vez maior do trabalho escravo, que agrava ainda mais a situação das classes pobres, não mais contratadas pelos senhores de fazenda.
- Com a queda de José Bonifácio, quem toma o controle são os absolutistas, que dominam até a abdicação de d. Pedro. O primeiro passo para a recolonização do país foi a dissolução da assembleia. 
- A história do primeiro reinado é a briga constante entre portugueses e brasileiros e foi a ambição de Bonifácio que preparou terreno para a reação portuguesa.
- D. Pedro lança seu projeto de Constituição; com o poder moderador, o imperador controlava os outros três. Não foi convocado o parlamento imediatamente ou o novo documento aceito e jurado.
- A demora para a convocação do senado se deu por causa da explícita grande oposição ao seu governo, mas ao mesmo tempo que enfrenta essa aversão, d Pedro forma o senado ao seu gosto, apenas com políticos favoráveis.
- Cada vez mais se aprofunda o abismo entre o governo e o restante do país. O imperador não ouvia as reclamações, mas também não instituía o absolutismo. O estopim se deu com a noite das garrafadas que, seguida por eventos de forte oposição e tentativas frustradas de d. Pedro de reconciliação com os brasileiros, leva à abdicação.
José Bonifácio – Projetos para o Brasil
- Formulou um projeto civilizatório que pretendia tornar o Brasil em um sonho de país europeu na América.
-Cientista/mineralogista, viveu na Europa quase a vida adulta inteira. Ocupou diversos cargos importantes na Europa, principalmente Portugal.
- Integrou o grupo de ilustrados lusitanos, que tinha por objetivo reformar e modernizar o Império português, de modo a tirá-lo da crise.
- Nomeado secretário da instituição da Academia das ciências de Lisboa.
- Tinha o Brasil como parte mais importante do império.
- Inicia sua carreira política aos 60 anos e, contra a instalação de uma monarquia constitucional em Portugal, logo se torna uma figura importante.
- Foi convidado em 1822 a fazer parte do ministério de d. Pedro. Se torna o mais importante ministro do príncipe e um dos principais articuladores da independência. Foi demitido por causa de seu grande poder.
- Em 1832 assume cadeira na Ass. Constituinte, dissolvida pelo imperador.
- Em 1831 se torna deputado e tutor de d. Pedro II. Foi destituído desse cargo por liberais.
- Bonifácio teve papel fundamental na articulação da Independência, da construção de um Estado nacional e da conquista de um império brasílico.
- Empenhou-se na manutenção territorial da América portuguesa e no afastamento de ideais republicanos em favor de uma monarquia constitucional – único modelo político capaz de absorver as mudanças pretendidas.
- Membro da elite colonial, lança um projeto nacional coerente e articulado, embora não sistematizado.
*DESAFIO: transformar um país com heranças escravistas, majoritariamente negro e mestiço em civilizado segundo padrões europeus.	
	ENTRAVES: heterogeneidade cultural e racial, escravidão, equivocada política indigenista, ignorância.
OUSADO E REFORMISTA PENSADOR, FORMULOU UM PROJETO CIVILIZADOR QUE TINHA POR FIM VIABILIZAR A NAÇÃO.
- Para ele, o brasileiro era intensamente preguiçoso, indolente e ignorante não haveria quaisquer boas consequências se a população não fosse homogeneizada antes.
- Pregava, além da abolição, uma política de incorporação dos negros e índios. A miscigenação seria a única forma de homogeneizar a população.
- Essa nova população, miscigenada, deveria ser civilizada por uma elite ilustrada.
- Trabalho assalariado + miscigenação + integração = manutenção da ordem interna + construção do Estado nacional + desenvolvimento econômico.
- Para ele, o Estado deveria poder interferir nas relações entre senhores de escravo e escravos. Procurou estipular as condições de trabalho de escravos. É função do governo punir os escravos. diminuir a tensão entre os polos da sociedade escravista.
* EXTREMA DIFICULDADE DO PODER PÚBLICO EM TRANSPOR AS FAZENDAS não detenção das capacidades legislativa e coercitiva.
- Incentivos à média propriedade (confisco de terras improdutivas).
- Discutia temas ainda não resolvidos hoje: educação básica para todos, má distribuição de terras, expansão dos direitos reais de cidadania e garantia de inclusão social de todos os brasileiros.
- Anticlericalismo.
- Ecologista.
- Não foram questões humanitárias que moveram Bonifácio, ele defendia o benefício da própria elite. Mas essa elite não estava disposta a pagar o preço de tal modernização.
- O Estado e o Parlamento deveriam criar nação e cidadania por meio de reformas profundas, mas para isso era necessária uma elite cidadã, com o qual Bonifácio não pode contar.
FREI JOAQUIM DO AMOR DIVINO CANECA
INTRODUÇÃO – EVALDO CABRAL DE MELLO
FREI CANECA OU A OUTRA INDEPEDÊNCIA
A VIDA DE FREI CANECA:
-FREI CANECA: “o homem que, na história do Brasil, encarnará por excelência o sentimento nativista.
-A ascendência de frei Caneca não era só reinol; era também popular.
-Frei Joaquim do Amor Divino tomou o hábito em 1796, professou em 1797 e ordenou-se em 1801, para o que teve de alcançar dispensa apostólica, de vez que contava apenas 22 anos de idade.
-A erudição demonstrada nos seus escritos, absorveu-a toda na biblioteca do Carmo e certamente também na célebre biblioteca dos oratorianos do Recife; e seu interesse universal cultivou-o sem sair de Pernambuco, de onde não se afastou, exceto durante os anos de prisão na Bahia.
-Em 1803, ele foi designado professor de geometria e retórica do seu convento,onde lecionou também filosofia racional e moral, exercendo igualmente os cargos de definidor e de secretário do visitador geral da Ordem. Sua carreira eclesiástica parecia fadada ao sucesso.
-Ao contrário de d. Pedro I ou de José Bonifácio, frei Caneca não chegou a ser uma figura nacional.
-O protagonismo de frei Caneca corresponde à última fase de sua vida, começando com a Revolução de 1817. Vislumbramo-lo pela primeira vez, à luz da história política, quando da solenidade pública da benção da bandeira de 1817, emd efesa de um confrade denunciado de anti-revolucionário.
-As obras políticas de frei Caneca escapam ao doutrinarismo e ao debate puramente especulativo de ideias. Elas constituem sobretudo tomadas de posição relativamente a situações concretas da política provincial e brasileira. Assim, o leitor de frei Caneca carece necessariamente do módico de informação cobre o contexto político e provincial das suas obras políticas.
O CONTEXTO HISTÓRICO DE SUAS OBRAS:
-Ao longo da história do Império, Pernambuco viveu sob a permanente suspeita de separatismo por parte dos grupos dirigentes da monarquia, devido às condições especiais em que o processo de Independência tivera lugar no Nordeste oriental, isto é, na região que do São Francisco ao Ceará estava submetida ao entreposto comercial do Recife. Em última análise, a presunção de separatismo foi consequência do hiato ocorrido entre o processo de emancipação no Sudeste e no Nordeste. 
-A instalação do aparelho do Estado português no Rio de Janeiro, com o objetivo declarado de criação de um grande Império luso-brasileiro destinado a habilitar Portugal a recuperar sua posição no sistema de equilíbrio europeu, veio dar uma inflexão imprevista ao processo de emancipação da América Portuguesa, modificando a situação para Pernambuco e seus vizinhos. De 1801 a 1808, em face da guerra européia e do seu previsível impacto sobre a estabilidade do trono bragantino, Pernambuco tinha a opção entre a independência separada ou regionalizada ou ainda associada o centro-sul.
-O separatismo dos que promoveram 1817 só poderia ser designado por tal a aprtir de duas qualificações: primeiro, a de que se tratava de secessão não do Brasil mas do Reino Unido, que era a única construção estatal então existente no Império lusitano; e, segundo, que, em última análise, ele não passara de um subproduto das circunstâncias a que se viu confrontada a região.
-Uma grande mudança operara-se a partir dos anos 80 do século XVIII: o surto algodoeiro rompera a antiga dominação canavieira da economia regional, subvertendo o equilíbrio intre-regional no interior da área do entreposto recifense e criando um setor dinâmico que, em vez do açúcar, respondia ao estímulo da Revolução Industrial. Graças à demanda gerada por ela, pela guerra da independência norte-americana e, depois, pelas guerras da Revolução Francesa e napoleônicas, o valor das exportações de algodão pelo Recife sobrepujou continuamente o das exportações do produto tradicional.
-A abertura dos portos redundara na transferência, para casas inglesas sediadas na terra, do controle do comércio do algodão, tornando para o mais importante setor da praça do Recife uma questão de vida e morte a manutenção do novo statu quo, que se via na necessidade de defender com unhas e dentes contra qualquer ameaça recolonizadora. Ao contrário do algodão, a abertura dos portos não teve maiores repercussões para o açúcar, que continuou jungido ao antigo comércio colonial, em face da exclusão do nosso produto do mercado inglês.
-Quem se der ao trabalho de fazer a geografia dos movimentos insurrecionais de Pernambuco na primeira metade do século XIX, a começar pela Revolução de 1817, constatará que, no interior, a sua área natural de apoio é a mata norte; e que a reação baseia-se invariavelmente na mata sul. Nosso ciclo revolucionário foi um movimento baseado na sub-região algodoeira e no núcleo urbano e comercial do Recife.
-Embora sem exercer influência perceptível sobre a junta gervagista, frei Caneca apoiou-a, e a “Dissertação sobre o que se deve entender por pátria do cidadão e deveres deste para com a mesma pátria” visou a dar formulação teórica a um dos principais objetivos de Gervásio Pires Ferreira, como seja conciliar o comércio português da província com a nova ordem de coisas. A principal tese esgrimida pelo carmelita, que recorre inclusive aos rpecedentes da história regional, é a de que os lusitanos domiciliados na terra e a ela ligados pelos vínculos da família e dos interesses deviam ser considerados tão pernambucanos quanto os naturais dela.
-Foi ao tempo do Governo dos Matutos que verdadeiramente frei Caneca ingressou na liça ideológica. Embora encarando com reserva a formação da Junta dos Matutos, cuja inexperiência política era geralmente temida no Recife, frei Caneca nunca a combateu nos seus escritos, em que preferiu centrar o fogo contra a facção pernambucana da Corte, a qual, composta de magistrados e funcionários públicos, endossava a política pessoal do imperador, seja sob o ministério José Bonifácio, seja sob seus sucessores.
-Qual a força efetiva da chamada facção republicana de Pernambuco? Um observador estrangeiro, Lainé, cônsul de França, escrevia em maio de 1823 que “se muitas pessoas não formam um projeto semelhante, há ao menos um grande número entre elas que aspirariam a uma mudança e um grande número à independência parcial da província. Julgava Lainé que embora o republicanismo fosse uma velha mania recifense, como se vira em 1817, “as circunstâncias são agora mil vezes mais oportunas para um tal projeto do que naquela época”. Assim, o republicanismo perbambucano, poderia ser mais apropriadamente designado por autonomismo.
-Para frei Caneca e o Partido Autonomista, escarmentados pelo fracasso republicano de 1817, era evidente que a autonomia provincial tinha prioridade sobre a forma de governo. Eles estavam, portanto, prontos a entrarem num compromisso com o Rio, o qual, em troca da aceitação do regime monárquico, daria amplas franquias às províncias.
-A questão pernambucana voltava assim à estaca zero e é realmente a partir de então, com o fracasso da solução alvitrada no decreto de 24 de abril, que o conflito armado começou a configurar-se inevitável. Foram outros, porém, os acontecimentos decisivos. Em Portugal, uma rebelião militar, a Vilafrancada, abolira em 1823 o regime constitucional das Cortes de Lisboa. Além disso, havendo a dissolução da Constituinte jogado por terra as perspectivas de um regime federativo, só restava criar o fato consumado de uma rebelião para forçar o Rio a negociar uma fórmula constitucional que garantisse a autonomia provincial no âmbito de um Império constitucional, embora, é certo, muitos pensassem em termos de adoção do regime republicano.
-Na sua polêmica com José Fernandes Gama, frei Caneca, sem chegar ao ponto de defender o Governo dos Matutos, protestara a sinceridade da adesão de pernambuco à monarquia constitucional que se ia criar no Rio, sustentando que se os sentimentos republicanos estivessem realmente arraigados na província, nada os teria impedido de se imporem, tanto mais que o Rio de Janeiro não se achava em estado de lhes oferecer resistência, devido ao víes autoritário do ministério José Bonifácio.
-No “Caçador atirando à Arara Pernembucana” e nas “Cartas de Pítia a Damão”, os argumentos de frei Caneca não se dirigiam contra o imperador, mas contra o que considerava a derrapagem autoritária de José Bonifácio. Embora a investida de frei Caneca contra José Bonifácio tenha sido atribuída ao objetivo puramente tático de poupar o imperador, objetivo, aliás, de que não se apartaria até meados de 1824, ao menos ao tempo da Junta dos Matutos o carmelita ainda parecia estar genuinamente convencido das intenções liberais de d. Pedro. Graças ao seu caráter e à escola da história e da experiência prática, o monarca ainda se lhe afigurava imune às tentações do despotismo.
-A nossa Constituição [escrevia frei Caneca] há deser brasileira no espírito e no corpo, de vez que nossa situação era sobradamente diferente.
AS VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA – EDUARDO GALEANO
A PRIMEIRA REFORMA AGRÁRIA DA AMÉRICA LATINA: UM SÉCULO E MEIO DE DERROTAS PARA JOSÉ ARTIGAS
Independência da América Latina: “Ao ataque de lança ou golpes de facão, foram os expropriados os que realmente combateram, quando despontava o século XIX, contra o poder espanhol nos campos da América Latina. A independência não os recompensou: traiu as esperanças dos que tinham derramado seu sangue. Quando a paz chegou, com ela se reabriu uma época de cotidianas desditas”.	
Consequências:
-Os donos da terra e os grandes mercadores aumentaram suas fortunas;
-Ampliação da pobreza das massas populares oprimidas;
-Divisão do território em diferentes países, isto é, não se manteve a unidade territorial;
-Os países colocaram-se ao serviço dos industriais ingleses e dos pensadores franceses: a América Latina logo teve suas constituições burguesas, muito envernizadas de liberalismo, mas não teve, em compensação, uma burguesia criadora, no estilo euporeu ou norte-americano, que se propusesse à missão histórica do desenvolvimento de um capitalismo nacional pujante BURGUESIA = “PRÓSPERAS PEÇAS DA ENGRENAGEM MUNDIAL QUE SANGRAVA AS COLÔNIAS E SEMICOLÔNIAS”
-EM SUMA: “frustração econômica, frustração social, frustração nacional: uma história de traições sucedeu à independência. A América Latina, desgarradada por suas novas fronteiras, continuou condenada à monocultura e à dependência”.
Tentativa de mudança - revolução agrária por José Artigas:
-O caudilho José Artigas encarnou a Revolução Agrária e encabeçou as massas populares numa tentativa de lançar as bases econômicas, sociais e políticas de uma Pátria Grande. Foi o mais importante e lúcido dos chefes federais que combateram o centralismo aniquilador do porto de Buenos Aires.
“Artiga ditava os decretos revolucionários de seu governo popular. Dois secretários – não existia papel carbono – tomavam notas. Assim nasceu a primeira reforma agrária da América Latina [...]”.
-Assim, o código agrário de 1815 – terra livre, homens livres – foi “a mais avançada e gloriosa constituição” de quantas chegariam a conhecer os uruguaios, pois surgiu, definitivamente, como uma resposta revolucionária à necessidade nacional de recuperação econômica e de justiça social.
-Algumas de suas determinações eram: a expropriação e a repartição das terras dos “maus europeus e piores americanos” emigrados por causa da revolução e não indultados por ela; os filhos não pagariam pela culpa dos pais; as terras eram distribuídas de acordo com o princípio de que “os mais infelizes seriam os mais privilegiados”; os índios tinham “o principal direito”.
-Em síntese, o sentido essencial desta reforma agrária consistia em assentar sobre a terra os pobres do campo, convertendo em cidadão o gaúcho acostumado à vida errante da guerra, e às tarefas clandestinas e contrabando, em tempos de paz.
Desfecho:
-A intervenção estrangeira acabou com tudo. A oligarquia levantou a cabeça e vingou-se. A legislação desconheceu, posteriormente, a validade das doações de terras realizadas por Artigas.
-Derrotado, Artigas tinha marchado para o Paraguai, para morrer só ao fim de um longo exílio de austeridade e de silêncio.
-Prevaleceu a miséria.
BRASIL MONÁRQUICO EM FACE DAS REPÚBLICAS AMERICANAS – José Ribeiro Júnior
	 A América Latina vive atualmente momentos decisivos da sua evolução histórica e necessita de uma conscientização dos países que a compõem e uma conseqüente tomada de posição coletiva. A retrospectiva histórica é necessária na medida em que traz à tona problemas de profundas raízes, incompreensíveis sem a busca de suas origens. 
	Na problemática do século XIX, o texto busca levantar e resolver algumas questões relativas a 3 aspectos, com base quase que exclusivamente num critério político-ideológico:
1)Verificar como e porque a América portuguesa estabeleceu e conservou sua monarquia e unidade territorial após 1822, enquanto a América espanhola, após 1810, se transformou em repúblicas fragmentadas. 
2)Mostrar quais as influências comuns externas atuantes no século XIX latino-americano. 
3)Observar as relações diplomáticas entre a Monarquia brasileira e várias repúblicas, tentando estabelecer influências recíprocas. 
A Independência na América Latina 
	Entre os fins do século XV e inicio do XVI deu-se a ocupação da América Latina pelas monarquias ibéricas. O aspecto em comum das colônias espanholas e portuguesas é que ambas serviram como fornecedoras ao mercado europeu de produtos tropicais de alto valor comercial, metais nobres e pedras preciosas, isto é, sob o signo do capitalismo comercial. Dessa forma, as futuras nações tiveram semelhante formação colonial enquanto instrumentos dos dois países colonizadores.
	Na segunda metade do século XVIII, a América começava a adquirir condições para sua autonomia, enquanto na Europa surgiam transformações importantes em sua estrutura: 1750- primeira fase da Revolução Industrial; 1789-eclodiu a Revolução Francesa, marcando a ascensão da burguesia. Os latinos-americanos que participaram do processo de Independência, como Mirando, O’Higgins, Bolívar, José Bonifácio e outros, estudando ou viajando pela Europa, tomaram contato com essas tranformações e empolgaram-se com as novas ideias liberais.
	Na América, as colonias inglesas lançaram sua declaração de Independência em 1776. O exemplo da independência dos EUA e a ideologia da Revolução Francesa agitaram os espíritos americanos mais esclarecidos, despertando o mundo colonial. Porém, as condiçoes internas para uma autonomia não se cristalizaram antes do início do século XIX, visto que a tomada de consciência não se dava de forma coletiva, nem mesmo da elite mazomba ou crioula. Dessa forma, pode-se dizer que o manifesto de Miranda – precursor, entusiasmado com a Independência dos EUA – e a revolta contra a opressiva taxação nas Minas gerais, que foram os primerios sérios sintomas dessa tomada de consciencia, não surtiram tamanho efeito pois tais pensamentos não encontravam ressonância considerável na América. Ressalta um historiador contemporâneo, que no século XVIII as novas ideias liberais no mundo hispano-americano eram propostas pelas própria metrópole e fruto da filosofia das luzes.
	Em Portugal, vários políticos, entre eles D. Rodrigo de Souza Coutinho, aventaram a possibilidade de transferir a sede da Monarquia para a parte mais rica de seu império, o Brasil. O plano foi abandonado e o Brasil continuou como um vice-reino até o inicio do século XIX. Na América espanhola, no final do século XVIII foram criadas por Carlos III as intendências que absorveram em parte as atribuições político-administrativas dos vice-reinados. 
	Na Europa, no fim do século XVII, destacam-se duas grandes potências: A inglaterra industrializando-se e ocupando seus mercados e círculos de influência política e a França de Napoleão, impregnada dos ideias liberais, buscando a hegemonia do mundo. Em 1806 Napoleão decretou o Bloqueio Continental, dando inicio a importantes consequências para a América Latina. 
	Embora a Inglaterra conseguisse furar o Bloqueio na Europa, precisava expandir seu mercado. Desde meados do século XVIII dirigira suas atenções ao Novo Mundo ibérico desfrutando das vantagens de vassalagem econômica portuguesa. Contrabandeava impunentemente no Brasil e procurava dominar o comércio hispânico-americano principalmente no Prata. Portugal era ponto estratégico na consolidação da manobra napoleônica e D. João acabou optando pelo apoio à Inglaterra e, por sugestão desta, retirou-se para o Brasil em fins de 1807, junto com a família real. 
	Na Espanha, após determinados acordos, tomou posse do trono José Bonaparte, irmão do imperador francês. Porém, os espanhois não aceitaram o seu governo, manifestando solidariedade a Fernando VII e intalando uma junta governativa de caráter revolucionário. A instauração do monarca deu-se em 1814. Coma morte de Fernando VII em 1833, cessou a ameaça da reconquista das antigas colônias. A América espanhola, enfim, ficou toda envolvida na luta pela emancipação, fruto do isolamento causado pela situação na Metrópole. A independência hispânica só veio depois de muita luta e sangue derramado. O Perú, última província a proclamar sua independência, o fez em 1824. 
A Indenpendência do Brasil: conservação monárquica e da unidade territorial
Com a vinda da Corte terminou o processo colonial brasileiro e inaugurou-se a fase independente. O Brasil transformou-se em centro do Império português. A abertura dos portos brasileiros ao comércio livre, o transplante do organismo administrativo para a colônia, a elevação do Brasil a Reino Unido em 1815 transformaram o status político e econômico do país. 
Depois da Revolução Liberal do Porto em 1820 as Cortes Gerais exigiram a volta de D. João VI. A posterior ação das Cortes, assumindo o poder de fato, foi orientada no sentido de anular as concessões feitas ao Brasil no período joanino. Essas intenções explicam-se pelo exame dos elementos que fizeram a revolução. A maior parte já era da burguesia que vivia em função do monopólio comercial e que tinha no Brasil a sua maior fonte de renda. Mas, já era tarde, o processo era irreversível. A chamada burguesia portuguesa, paradoxalmente reacionária, encontrava um Brasil consciente dos seus direitos e nesse momento todas as classes socias coesas em torno de D. Pedro. 
A Independência foi proclamada em 1822, de forma pacífica em relação à América Latina, tendo D. Pedro I como Imperador do Brasil e o regime monárquico transplantado da Europa continuou, apoiados pela maioria do povo brasileiro e políticos. Mesmo os elementos mais radicais concentravam-se mais na ideia do federalismo do que propriamente na República com todas as suas implicações democráticas. Foi dado um crédito ao liberalismo de D. Pedro I e esperava-se muito da prometida Constituição. Por outro lado, a estrutura latifundiária e escravista apoiava a forma monárquica pelo sentido conservador e pela aparência legal de que era revestida a pessoa do príncipe. Ademais, o Brasil recém-independente tinha duas tarefas a cumprir: consolidar a Independência internamente e através do reconhecimento do poder central, pelas províncias recalcitrantes, Bahia, Pará, Maranhão, Piauí e Cisplatina, e fazer-se reconhecer no plano externo. Essa primeira fase teve como principal objetivo, portanto, afastar as tentativas de recolonização.
As províncias do Norte e Nordeste foram dominadas graças às tropas mercenárias contratadas por D. Pedro, assegurando para a monarquia independente a região que era responsável por mais de 60% das rendas nacionais na época. Em 1823, todas as províncias se mantêm sob a tutela do imperador, superando uma das maiores ameaças de desintegração política. 
O governo de D. Pedro conseguiu o reconhecimento de Portugal e dos outros países em 1825. O acordo firmado com a Inglaterra de abolir o tráfico de escravos indispôs os donos de terras e de escravos contra o imperador, uma das causas importantes de sua abdicação.
A disssolução da Asembleia Constituinte em 1823 foi o primeiro sinal em que D. Pedro mostrou-se absolutista e foram suprimidas algumas conquistas liberais: 1824- Confederação do Equador, tendo muitos dos que trabalhavam na emancipação política se sua pátria cruelmente executados. Além disso, a intervenção do Prata, a proteção que ele dispensava aos portugueses e sua preocupação com os problemas do trono português de sua filha D. Maria da Glória, fizeram desencadear sobre o imperador uma série de insubordinações regionais e oposição dos grupos políticos no RJ. D. Pedro abdica em 7 de abril de 1831, consolidando-se a Independência do Brasil com o período regencial (1831-1840). 
Porém, mesmo os brasileiros tendo a oportunidade de transformar o Brasil em República em tal período, não foi o que ocorreu. A Coroa foi conservada para o sucessor legal D. Pedro de Alcântara, pois os liberais moderados – que assumiram o poder – temiam a desordem estabelecida nas repúblicas americanas, juntamente com as elites brasileiras, com apoio da classe latifundiária. Os movimentos de caráter republicano como a Cabanagem, a Sabinada, a Balaiada, feitos pelas classes média e inferior, foram sufocados da mesma forma que os movimentos radicais no RJ. Os senadores tinham que defender a Constituição para segurança de seu cargo vitalício. A defesa de certos interesses e privilégios levou os homens da Regência, invocando o perigo de anarquia e esfacelamento do Brasil, a conservarem a monarquia prolongando-a por mais algumas décadas. Assim, a coroação do Imperados de 15 anos de idade, em 1840, foi feita com o objetivo de realizar uma ação centralizadora e consumar a frágil unidade mantida no Período Regencial
A Independência da América espanhola: A República e o retalhamento territorial 
Na América espanhola houve uma luta pela autonomia antes de se pensar na forma de governo a ser adotada. O grande objetivo não era a República, mas uma equiparação à Metrópole. Todavia, as juntas e governos regionais proclamavam a Independência e a República. 
Bolívar, o libertador, era republicano, mas seu republicanismo era um misto de cesarismo e democracia, fruto de seu estudo na Europa. Propunha República, duas Câmaras, senado beneditário e presidente vitalício com amplos poderes. Locke e Montesquieu acham-se presentes em Bolívar, mas a impressão causada pelo regime napoleônico e a ideia de Hamilton influenciaram também as suas concepções de República fortemente centralizada, tinha tendência monárquica e autoritária pelo temor à desordem. 
Francisco de Miranda revelou suas ideias através de seus projetos constitucionais que possuíam sempre um fundo aristocrático e autoritário. O’Higgins compartilhava das ideias de Miranda e não era sequer liberal. 
O texto traz também exemplos de outros políticos, demonstrando que a concepção republicana dos líderes libertadores da América era um tanto confusa, sendo as primeiras Constituições um misto de Monarquia e República, segundo à necessidade de um governo fortemente centralizado. Na prática, os caudilhos (líderes político-militares no comando de uma força autoritária) substituíam os monarcas e a guerra e sua excessiva duração fizeram passar à direção das novas nações os chefes militares, surgindo o caudilhismo como constituição.
A tentativa de Bolívar de conservar a unidade colonial formando a Gran Colombia fracassou junto às aspirações argentinas de conservar o antigo vice-reinado, prevalecendo os particularismos e governos fortes teoricamente republicanos. 
No Brasil o regionalismo foi sufocado pelo poder central, primeiro porque havia uma autoridade moral com forte aparato militar, segundo pela relativa unidade geográfica que facilitou a tarefa unificando-a. No resto da América Latina a diversidade geográfica é muito maior, dificultando o acesso e isolando naturalmente certos territórios. 
Quando no Brasil foi proclamada a Independência, havia quem ocupasse o trono. Quando houve oportunidade de proclamar a República em 1889 já havia a experiência da América espanhola ensanguentada e subdividida. Então, o sentido unitário e a preocupação de evitar convulsões políticas prevaleceram na mente dos homens da Regência. 
A influência inglesa na Independência da América Latina 
Era de interesse inglês que a América cortasse os laços com as metrópoles pois as relações diretas e não através destas eram muito mais vantajosas para a ação econômica inglesa.
Entre os fins do século XVIII até a primeira década do século XIX a Inglaterra conquistou e consolidou seu domínio na América Latina. (“de 1797 a 1810 a América Ibérica tornou-se, e foi até 1914 a mais bela das colônias britânicas”). O governo inglês passou a incentivar os insurretos da América com armas, munições e técnicos. No Brasil, por exemplo, após a dissolução da Constituinte, D. Pedro conseguiu auxílio financeiro da Inglaterra com o qual armou a repressão aos movimentosrevolucionários. 
Relações entre a Monarquia e as Repúblicas após a Independência
O Brasil imperial permaneceu isolado do resto da América, não só na forma de governo, mas economicamente também, dando as costas para os países latino-americanos e voltado para o Oceano Atlântico.
A Cisplatina foi uma das províncias que só reconheceram a autoridade de D. Pedro pelas armas, logo após 1822. Em 1825 os cisplatinos buscam apoio das Províncias Unidas do Rio da Prata (futura Argentina) declarando-se república separada do Brasil e incorporada às províncias unidas. A luta do imperador foi infrutífera pois concordava com as províncias unidas em dar a independência do Uruguai em 1828. Esse foi o primeiro choque entre a Monarquia brasileira e as repúblicas do Sul. 
A intervenção seguinte no Prata foi para evitar a anexação do Uruguai pelo ditador argentino Juan Manuel Rosas e com o objetivo de defender a liberdade de navegação dos rios platinos necessários ao Brasil para o acesso ao Mato Grosso. A interferência da Monarquia foi fator decisivo para a derrubada do governo ditatorial de Rosas. Depois disso o Brasil não teve problemas com a Argentina, mantendo sempre ligações pacíficas.
No Uruguai, devido às incursões de uruguaios em território brasileiro, o Brasil o invadiu e colocou no governo um elemento do partido colorado que se opunha ao partido blanco de Aguirre, causador do incidente. Tomando o poder, Venâncio Flores reatou relações amistosas com o Brasil.
O acontecimento mais sério se deu na América Meridional envolvendo o Paraguai fortemente militarizado de Solano Lopes contra a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai). O conflito iniciado em 1865 terminou cinco anos depois com a derrota do Paraguai.
Em todas as questões internacionais entre o Brasil e as repúblicas, não se observava uma ação imperialista brasileira. O país saiu vitorioso de todas as relações bélicas no Prata mas não extraiu nenhum proveito, pelo contrário, teve muitos prejuízos em materiais e homens.
Não obstante sua situação de mais poderoso da América do Sul, nunca conseguiu liderança por ser o único país monarquista. Por outro lado, não era uma nação que inspirasse confiança total a muitas monarquias europeias. A forma constitucional da monarquia brasileira estava dentro do sistema americano e não tinha, teoricamente, o caráter revolucionário das monarquias da Europa.
A volta do ideal republicano no Brasil 
	A ascensão de D. Pedro II ao trono marcou, passada a Revolução Praieira de 1848 em Pernambuco, o início de uma paz que se prolongaria por algumas décadas. A chama republicana da esquerda liberal da Regência é completamente reprimida pela força que a Monarquia dá ao governo central. A “Conciliação” liderada pelo Marquês de Paraná também ocupa lugar importante na contenção da ideia republicana.
	A época vitoriana iniciada em 1837 e o grande surto industrial operado na Inglaterra sob a égide monárquica foi fator de prestígio do regime e a nação britânica foi modelo para o Brasil, além do constitucionalismo português, que influenciou na consolidação da Monarquia. O único país republicano com sólidas bases era os EUA, mas qualquer tentativa de aproximação por parte dos brasileiros foi anulada pela habilidade inglesa, afastando a ideia de República. 
A Guerra da Tríplice Aliança e o republicanismo no Brasil 
	O ressurgimento da ideia republicana no Brasil coincide com o fim da guerra em 1870. O contato com o Uruguai e principalmente com a Argentina, que superara a fase do caudilhismo, pesou no reavivamento do ideal republicano. A filosofia positivista, por outro lado, deu uma concepção mais atuante ao papel histórico da classe militar. Aos poucos elevou-se o exército na hierarquia da sociedade brasileira do século XIX e deu ambiente para a chamada questão militar, fator importante na proclamação da República. Ou seja, houve influência das repúblicas platinas na proclamação da República do Brasil. 
O Manifesto Republicano
	Lançado pelo jornal A República em 1870, o manifesto patenteava o desejo de alguns brasileiros de igualar o Brasil aos países da América; é o despertar de uma consciência americana. 
	O modelo republicano influenciou também os espíritos românticos do Abolicionismo, na medida em que ligam a liberdade à República, desprestigiando, assim, a Monarquia.
	Quando o interesse regional e a ordem econômica e social interna do Brasil se aliaram aos fatores ideológicos de ordem externa houve a proclamação da República.
	O antigo sistema colonial da América Latina cedeu lugar a uma nova forma de submissão, o imperialismo. A independência nada mais é do que um episódeo da partilha do mundo contemporâneo e parte, apenas, da verdadeira independência. 
	Os países da América Latina são ainda jovens e, como repúblicas, estão enfrentando os mesmos problemas de aperfeiçoamento democrático. No que tange à economia, as suas molas fundamentais, como no século XIX, acham-se controladas por grupos econômicos alienígenas com estreitas ligações a grupos nacionais desvinculados da realidade social e despidos de espírito patriótico. Ainda é uma economia que depende do mercado externo como em todo o período colonial dependeu. A grave crise de alimentação, habitação e educação, características do subdesenvolvimento, são males necessitando de uma ação conjunta a consciente das nações atingidas. É óbvio que nenhum país beneficiário do status quo da América Latina lutará para alterá-lo. 
VOTO SOBRE O JURAMENTO DO PROJETO DE CONSTITUIÇÃO OFERECIDO POR D. PEDRO I – Frei Caneca
-Voto apresentado por frei Caneca na reunião do dia 6 de junho de 1824 sobre o decreto de s.m. (sua majestade) de 11 de março de 1824. Enquanto s.m. manda jurar, como Constituição do império do Brasil, o projeto feito pelo ministério e Conselho do Estado, frei Caneca defende que não se deve adotar, nem jurar como Constituição do império o projeto oferecido para este fim. 
-Fala primeiramente da qualidade do presente projeto para depois examinar se deve ou não ser adotado.
-Uma Constituição não é senão a ata do pacto social, que fazem entre si os homens quando se ajuntam e se associam para viver em reunião ou sociedade, devendo, portanto, apresentar as relações em que ficam os que governam e os governados, pois sem governo não pode existir sociedade. Tais relações, que são deveres e direitos, devem ser tais que defendam e sustentem a vida dos cidadãos, a sua liberdade, propriedade, e dirijam todos os negócios sociais à sua conservação, bem-estar e vida cômoda dos sócios, segundo as circunstâncias de seu caráter, seus costumes, usos e qualidade do seu território, etc. 
-Defende que a emancipação e independência de Portugal não se acha garantida no projeto com aquela determinação e dignidade necessária por 3 motivos: 
1º) Não se determina, no projeto, positiva e exclusivamente o território do império, deixando uma fisga para se aspirar à união com Portugal. Alega, também, que s.m. tem dado fortes indícios de estar de acordo, não só pela dissolução arbitrária e despótica da soberana Assembleia Constituinte e proibição da outra que havia prometido, mas também de muitas outras coisas como, por exemplo, a sua retirada da capital do império para não solenizar o dia 8 de maio, aniversário da instalação da Constituinte.
2º)Porquanto ainda no primeiro artigo se diga que a nação brasileira não admite com outra qualquer laço de união ou federação que se oponha à sua independência, esta expressão é ilusória, pois que o Executivo, pela sua oitava atribuição (art. 102), pode ceder ou trocar o território do império ou de possessões a que o império tenha direito, e isto independentemente da Assembleia Geral.
3º)Porque, jurando o imperador a integridade e indivisibilidade do império, não jura a sua independência. 
-O artigo 2º não pode ser mais prejudicial à liberdade política do Brasil porque, permitindo que as províncias atuais sofram subdivisões, as reduz a um império da China, enfraquecendo as províncias, introduzindo rivalidades, aumentandoos interesses dos ambiciosos, para melhor poder subjugá-las umas por outras; e esta desunião tanto mais se manifesta pelo art. 83, em que se proíbe aos conselhos provinciais de poderem propor e deliberar sobre projetos de quaisquer ajustes de uma para as outras províncias, o que nada menos é que estabelecer a desligação das províncias entre si, e fazê-las todas dependentes do governo Executivo, e estabelecer-se o despotismo asiático. 
-O poder Moderador da nova invenção maquiavélica é a chave mestra da opressão da nação brasileira e o garrote mais forte da liberdade dos povos. Pode o imperador, através deste, dissolver a Câmara dos deputados, mudando a seu bel-prazer os deputados que ele entender que se opõem aos seus interesses pessoais e escolher outros de sua facção, ficando indefeso o povo nos atentados do imperador contra seus direitos, e realmente escravo, debaixo, porém, das formas da lei; e ficando sempre no gozo de seus direito o Senado, que é o representante dos apaniguados do imperador. A qualidade se der dos deputados temporária e vitalícia a dos senadores não é só uma desigualdade que se refunde toda em aumentar os interesses do imperador, como é o meio de criar no Brasil a classe da nobreza opressora dos povos. O poder Executivo, em sua opinião, é o braço esquerdo do despotismo.
-É um absurdo em política que aqueles que fazem ou influem na fatura das leis sejam os mesmos que as executem; e não se pode apresentar uma prova mais autêntica da falta de liberdade do projeto do que esta. 
-A atribuição privativa do Executivo de empregar, como bem lhe parecer conveniente à segurança e defesa do império, a armada de mar e terra (art. 148) é a coroa do despotismo e a fonte caudal da opressão da nação, e o meio de que se valeram todos os déspotas para escravizar a Ásia e a Europa. 
-Os conselhos das províncias são meros fantasmas para iludir os povos porque, devendo levar suas decisões à Assembleia Geral e ao Executivo conjuntamente, fica a depender da vontade e arbítrio do imperador. Depois, tira-se aos conselhos o poder de projetar sobre a execução das leis, atribuição esta que parece de suma necessidade ao conselho, pois este dever estar ao fato das circunstâncias do tempo, lugar, etc., da sua província, conhecimentos indispensáveis para a aplicação das leis. 
-Vota no sentido de não admitir o projeto, julgando-o mau, opressor e contraditório, por não garantir a independência do Brasil, ameaçar sua integridade, oprimir a liberdade dos povos, atacar a soberania da nação e arrastar ao maior crime contra a divindade, o perjúrio, apresentado da maneira mais coativa e tirânica. E ainda diz que em s.m. não há atribuição alguma de onde se possa deduzir o poder de dar a Constituição ao povo e mandá-la jurar.
SOBRE A CRIAÇÃO DO CONSELHO DE ESTADO – Frei Caneca
- 13 de novembro de 1823: decreto imperial em que se cria o Conselho de Estado, que deve fazer o projeto da Constituição e tratar dos negócios de maior monta. (foram nomeados alguns ministros e secretários de Estado e conselheiros da Fazendo Barão de Santo Amaro). 
-O projeto havia de ser encomendado talvez àqueles que em 1821 foram nomeados pelo decreto de 23 de fevereiro para a Comissão da Junta de Cortes da quase Constituição do Brasil (presidente, marqueses e deputados). O projeto, apesar de se dizer ao princípio que seria apresentado à nova Assembleia e, depois aos brasileiros, havia afinal de contas de ser oferecido às Câmaras das províncias, para fazerem suas reflexões para a reforma. 
- Pelo decreto de 13 de novembro as Câmaras hão de fazer sobre o projeto as observações que lhes parecerem justas, e as apresentarão respectivos representantes das províncias, para delas fazerem o conveniente uso, quando reunidas em Assembleia.
- Na proclamação de 16 de novembro se propõe: “ambicionar a glória cada vez mais para si e para o Brasil”, prova de que se pretende estabelecer no Brasil, não um império constitucional, sim uma monarquia absoluta, e mostraríamos que as diferentes bases não constitucionais que se têm lembrado na proclamação de 16 de julho (“os sagrados direitos da segurança individual, da prosperidade e da imunidade da casa do cidadão”) e na 16 de novembro (“independência do império, integridade do mesmo e sistema constitucional”) , apesar de se prometer que serão mantidas religiosamente, são proposições ocas de sentido.
- Sendo o trono que o Brasil levantou e jurou sustentar e defender um trono constitucional, segue-se que, se acaso se tem projetado de não haver cortes constituintes, e que fiquemos reduzidos ao absolutismo de Portugal, serão as províncias do império desmembradas, aniquilar-se-á o império, e ficará o Brasil exposto a ser presa de aventureiros ousados. Tal perigo foi reconhecido na Assembleia pelos senhores Alencar e Montezuma. Este, em face do mesmo ministro do Império declarou que “Deus nos livrasse que a tropa do RJ fizesse ali a respeito da Assembleia o mesmo que a tropa de Portugal, porque em breve ficaria o império reduzido unicamente ao RJ”; e aquele que “o poder Executivo, por ter a força armada à sua disposição, quisesse dissolver a Assembleia, ficasse na certeza de que qualquer atentado da parte do Executivo contra a Assembleia dissolvia o império, e por conseqüência o título de imperador”. 
- Sem representação nacional, sem cortes soberanas que elas mesmas formem a nossa Constituição, não há um império. Debaixo dessa condição impreterível é que a aclamamos a s.m. (sua majestade) e este jurou também da sua parte. Se este faltar ao seu dever, está dissolvido o pacto e o Brasil seguirá seu destino através da mais sanguinolenta guerra.
- A segunda conseqüência da dissolução da Assembleia, se ela não for sem perda de tempo reunida, é a evaporação da liberdade política. A liberdade política é, como diz Montesquieu, aquela tranqüilidade de espírito que goza o cidadão, nascida da opinião que tem cada um da sua segurança. Para que exista, é necessário que o governo seja tal que um cidadão não possa temer outro cidadão, e jamais esta se pode encontrar e gozar naqueles estados em que se acham depositados nas mesmas mãos os dois poderes, Legislativo e Executivo, pois pode-se temer que o mesmo soberano não faça leis tirânicas para ele as executar tiranicamente.
- Proclamou-se um império e levantou-se um imperador para que os cidadãos pudessem fugir ao males de que as monarquias absolutas, precárias, insuficientes e ilusórias as leis sobre estes artigos, todas as vezes que apraz aos soberanos, não há lei alguma fosse isenta de ser interpretada ao seu gosto, e mesmo ab-rogada, ficando o cidadão indefeso. 
- Segue-se em terceiro lugar que se propondo a s.m. a convocar a Assembleia Constituinte que forme o pacto social, e sem a qual não já império, jamais deve ser celebrada na cidade do RJ, sua sede deve ser em um lugar onde não se ache uma Força Armada que possa ser seduzida.
- Também não se devem convocar cortes compostas de outros deputados que os eleitos para a Assembleia que foi dissolvida. Porquanto, a força por que se dissolveu aquele congresso não lhes tirou o direito de formar a Constituição, que lhes foi outorgada pelos povos, e nem estes lhes podem cessar a comissão que lhes deram, porque eles cumpriram exatamente com os seus deveres, e zelaram quanto estava em suas forças os direitos e bens de seus constituintes. 
- A convocação de novos deputados pode levar ao fim desastroso da Assembleia, assim como da primeira, pois não tendo estes o valor de sustentar e defender os direitos da nação, podem se deixar levar pelas influências da facção portuguesa, que a todas as luzes pretende no Brasil estabelecer o governo arbitrário e caprichoso. 
- Para se defenderem, os povos arriscam com o denodo, que produz a desesperação, o amor da vida, e acabam com a aniquilação dos governos. 
Bernardo Pereira de Vasconcelos 
Introdução – José Murilo de Carvalho
- Diz ser liberal – foi um liberal típico do primeiro reinado e legislador, figura marcante da oposição parlamentar.
- Escreve Carta aos senhoreseleitores da Província de Minas Gerais, primeiro manifesto liberal = retrato do liberalismo do Primeiro Reinado.
- Filho de uma família repleta de advogados e juristas portugueses “A família era exemplo perfeito da integração entre as elites burocráticas da metrópole e da colônia”.
- Entrou na faculdade de direito e se destacou na política, na qual seguiu carreira quando retornou ao Brasil. Foi político em tempo integral.
- Questão da dissolução da Assembleia Constituinte que leva à Insurreição pernambucana “invento infernal” perda da possibilidade de manifestação (censura).
- Participou da Assembleia Legislativa, se tornou o orador mais brilhante da Câmara e da oposição.
- Sua participação na atividade legislativa se volta para o funcionamento da monarquia representativa, de forma a acabar com os resíduos absolutistas. “O verdadeiro mestre do parlamentarismo no Brasil” – Rio Branco.
- Foi acusado pelo marquês de Baependi de querer se recomendar aos eleitores. Sua resposta foi a carta aos eleitores. Foi a primeira vez que um representante da nação apresentava seu trabalho aos eleitores, submetendo-o a julgamento.
- A favor da criação de escolas superiores no Brasil e contrário ao tráfico de escravos, Vasconcelos estabelece incompatibilidade entre a escravidão e a luta pela liberdade. O discurso surpreende porque um ano depois, ele defendia a continuidade do tráfico, afirmando que a África civilizava o Brasil. “Uma possibilidade de explicação para o discurso de 3 de julho, uma declaração autenticamente liberal, digna de José Bonifácio, é que ele todo seja uma grande ironia”.
- Em matéria econômica, Vasconcelos era inegavelmente liberal, declara-se contra qualquer tipo de protecionismos e monopólios estatais.
- No campo judiciário, desejava reformar. Defendeu a criação de um juizado de paz, escreveu um livro dedicado à orientação dos novos juízes, propôs acabar com o Desembargo do Paço, de forma a substitui-lo pelo Tribunal Superior de Justiça, foi dele o projeto do código criminal, inspirado em Bentham, com fortes tendências utilitaristas. 
- A guerra de liberais e radicais contra d. Pedro I se deu finda com a abdicação deste. No período regencial, houve ruptura entre liberais e radicais, o que, somado ainda às forças sobreviventes absolutistas, deixou o país à eminência de conflitos.
- Alia-se a Feijó em sua luta pela manutenção da ordem. A favor do parlamentarismo, também defende o liberalismo político. Sem perceber que se contradizia em sua obra Exposição dos princípios, elogiava o direito à resistência e condenava a violência e sedição. O governo prometia abafar as facções para preservar a ordem pública, e nisso havia pleno acordo entre Vasconcelos e Feijó, mas a Exposição distinguia dois tipos de resistência: a que lutava pela liberdade e a que lutava pela anarquia.
- Vasconcelos e Feijó ficaram no poder até 1832, quando ambos foram cúmplices de um golpe visando transformar a Câmara em Assembleia Nacional Constituinte, que fracassou. A luta evoluiu para um compromisso segundo o qual os eleitores autorizariam a legislatura de 1834 a reformar alguns pontos da Constituição. Vasconcelos apresenta um projeto de reforma constitucional na forma do ato adicional de 1834. “Tratava-se de atender às principais reclamações liberais quanto aos resquícios absolutistas da Constituição, sobretudo os referentes ao poder Moderador, e à centralização política e administrativa”.
- O ato adicional introduziu elementos de federalismo na criação de Assembleias provinciais que substituíssem os antigos Conselhos Gerais. As rendas provinciais também foram separadas das nacionais. O poder dos presidentes das províncias aumentou no que dizia respeito à nomeação de funcionários públicos. O poder moderador foi mantido, mas foi abolido o Conselho de Estado e o chefe do governo passou a ser eleito pelo voto popular.
- Vasconcelos se manteve ambíguo em relação ao Ato. Compara o federalismo brasileiro ao americano e a ameaça de uma descentralização com a fragmentação da América espanhola.
- Vasconcelos receava que o Ato adicional fosse uma carta da anarquia, quando a ideia era que ele servisse de carro revolucionário. Ele então se afasta de seus antigos companheiros moderados, orientando-se cada vez mais ao lado conservador. Tal virada seria pela inveja que ele tinha de Feijó, que assumiu a regência única (esse duelo durou até a morte de Feijó). “O padre, preocupado com a ordem e a justiça, e favorável à abolição do tráfico, embora ele próprio fosse senhor de escravos. Vasconcelos, também em busca de governo forte, embora parlamentar, era cada vez mais um defensor do escravismo como fator indispensável para a economia nacional”.
- “sou regressista” – diz querer salvar a sociedade, assume a oposição ao governo de Feijó, que não se diferenciava muito de d. Pedro I no que dizia respeito ao autoritarismo e à incapacidade de ser um monarca constitucional. Sua vocação era de presidente da república. A oposição defendia reformas nos códigos de processo e criminal, considerados foco de impunidade e anarquia.
- A antiga aliança entre Evaristo, Vasconcelos e Feijó se separou cada vez mais no que dizia respeito ao tráfico de escravos. Vasconcelos era o único a favor dela. Era a postura utilitária e amoral diante da política de que Vasconcelos sempre foi acusado.
- Sua política era a do “progresso ordenado”.
- Feijó renuncia por causa das revoltas no Pará e Rio Grande do Sul e Vasconcelos assume posição de destaque no ministério, se tornando ministro da justiça e do império. Tomou posse em 1838 a nova constituição de maioria conservadora, ela aprovou a interpretação do Ato Adicional, a reforma dos códigos processual penal e estabelecimento de conselho de estado.
- Tenta impedir o golpe liberal da maioridade.
- Não volta mais ao ministério, se opõe fortemente ao golpe da maioridade. Ajuda a redigir a legislação do Regresso.
- A interpretação do Ato adicional e a reforma no código de processo foram as fundações do Segundo reinado. Outra contribuição de Vasconcelos foi o projeto sobre as sesmarias e a imigração. O projeto se transformou na lei de terras.
SOBRE FEIJÓ – JORGE CALDEIRA
- Em 07/04/1835, foi a primeira vez na História do Brasil quem houve eleição nacional para indicar o chefe do poder Executivo (para substituir D. Pedro II até que completasse a maioridade).
- Contexto:	
- Não havia partidos políticos organizados;	
- Não havia candidatos previamente indicados;	
- Não havia unidade de pontos de vista;	
- Escolhia-se mais um perfil pessoal que propriamente um programa.
- Eleito: padre Diogo Antônio Feijó:	
- Sem tradição de família;	
- Se, como padre, tinha tradição na Igreja, era negativa: muitos padres o abominavam, pois ele era oposto ao celibato;	
- Tinha fama de falar mal em público;	
- Não era bem-apessoado;	
- Não fez nenhum esforço de campanha para conquistar o cargo.
- Por que foi escolhido?	
- Era um deputado importante.	
	Contexto:
	- O Parlamento era visto como uma conquista dos brasileiros sobre seu destino;
	- Parlamento fora responsável pela renúncia de D. Pedro I;
	- Parlamento, desde 1831, era o único centro efetivo de poder no Brasil;
	- Ser deputado significava participar ativamente do destino do país.
- O que o destacava entre os demais?	
- Atividades que praticou em sua província (ex.: retiro em São Paulo durante os meses de recesso do Parlamento – serviu para se preparar para eventual eleição);
- Além de deputado, fora indicado pelo Parlamento para Ministro da Justiça;
- Era tido em todo o país como um homem indispensável para a superação dos problemas políticos e econômicos do momento;	
- Seu programa de governo era antes uma lista de obstáculos a superar que um rol de promessas anunciando um futuro grandioso;	
- Divulgou suas ideias sobre a situação nacional ao publicar um pequeno jornal (“O Justiceiro”), destinados a seus amigos de província.
- Ideias de Feijó:	
“ A tarefa do governo deveria ser a eliminação dos inúmeros resquícios da velha ordem portuguesa,fechada e excludente, permitindo a implantação da nova ordem, brasileira, na qual o governo seria o fiador da justiça num quadro constitucional”.
- Na época, os que pensavam que a lei deveria garantir a liberdade, que os governos deveriam se submeter à lei, e que a finalidade última disso era criar uma situação social justa eram exceção. 	
- Feijó tinha princípios derivados da filosofia iluminista.
- Dificuldades enfrentadas pelo Brasil para mudança, sobretudo devido à estrutura da sociedade:	
- Acompanhava as dificuldades mundiais de fundamentar o Estado de acordo com as ideias iluministas;	
- Metade da população era de escravos ou índios;	
- A maioria da elite detestava as novas ideias;	
- 97% da população era analfabeta;	
- As comunicações no imenso território eram precárias;	
- A administração colonial herdada intacta se pautava por ideias opostas àquelas de pessoas como Feijó.
-> Feijó conseguiu mostrar que, desde cedo, os brasileiros livres desejavam o caminho da lei e da democracia, e se opunham à escravidão e à multidão de gente contrária a qualquer mudança.
-> Diante dos riscos, Feijó tinha uma oportunidade: os absolutistas, em geral, desprezavam a ideia de se elegerem para mandar.	
-> Essa atitude facilitou a eleição de Feijó e abriu espaço para instituição de onde ele vinha (o Parlamento), porém ele ainda tinha desafios quanto a sua ação no governo, pois teria que contar com as ambições dos absolutistas na hora de governar. 
-> Enquadrar a tradição despótica, os representantes da tradição, à lei era tarefa primordial de Feijó.	
- Maior obstáculo não era a organização do Partido Restaurador, pois estes formavam um grupo fraco no Parlamento; mas eram fortes nos bastidores, visto que influenciavam a Corte que educava o futuro imperador.
-> Em 1821, eleito deputado junto às Cortes de Lisboa, deparou-se com uma constituição já delineada, que na prática reduzia o Brasil à sua condição anterior à abertura dos portos, de mera colônia a ser explorada pela metrópole.
- Apesar do medo, Feijó propôs, na frente dos adversários, a independência das províncias brasileiras, a suspensão dos atos do governo português e a retirada das tropas metropolitanas do território brasileiro.
-> Feijó contra José Bonifácio: Bonifácio não gostava nem um pouco das pessoas que colocavam as ideias dos princípios liberais acima das necessidades do momento, enquanto que Feijó detestava quem colocava as necessidades do momento acima dos princípios liberais.
- Constituição de 1824: 	
- O imperador demitiu e exilou sem processo José Bonifácio;
- Fechou a Assembleia Constituinte;	
- Escreveu por sua conta a Constituição de 1824;
- Com esses gestos, D. Pedro I se tornou monarca absoluto, apesar de tentar disfarçar essa realidade ao validar sua Constituição pelas muitas Câmaras Municipais.
-> Houve protestos, como a Confederação do Equador e a de Itu, a última liderada por Feijó.
-> Eleito deputado, em 1826, Feijó lutava pelas mudanças práticas, destacando-se: educação; organização democrática dos partidos locais; tratamento de índios, pobres e escravos – porém nenhum de seus projetos foi a diante, pois tinha dificuldade de negociar.
-> Feijó ficou famoso pela polêmica gerada por suas posições.
-> O governo tinha grande poder sobre a organização da Igreja, característica peculiar do governo português. Um exemplo disso é a obrigação dos padres brasileiros a seguir o Vaticano; não podiam se casar.
-> Em um conflito, Feijó foi processado e, apesar de posteriormente inocentado, teve sua carreira destruída (antes do processo, Feijó tinha chegado a ser reconhecido como “senhor de engenho”).
- Feijó ligou-se ao frei Jesuíno do Monte Carmelo:	
- O frei não podia se tornar carmelita, pois, por ser mulato e brasileiro, era considerado incapaz de pertencer à ordem (e ter as vantagens que os seculares não tinham, elas tinham ligações diretas com o Vaticano, dinheiro e poder próprios).
- Carmelo juntou, por conta própria, um arremedo de ordem religiosa: juntou padres seculares numa casa, onde estudavam e discutiam a teologia, faziam caridade, preces ou jejuns – ficaram conhecidos como Padres do Patrocínio.
- O número de seguidores aumentava a cada dia, o que irritou os donos dos cargos altos, pois se tornaram concorrentes em rendas e influência espiritual.
- Começaram a surgir da hierarquia acusações de heresia, subversão da ordem etc.
- Percebe-se que Feijó não era um apreciador das ordens religiosas ou da alta hierarquia da Igreja:	
 - Feijó introduziu no Parlamento a discussão do direito do padroado, de definir onde estariam as fronteiras entre o governo brasileiro e o Vaticano.
- Ele desejava o aumento dos poderes do governo e diminuição da influência romana.
-> Nesse contexto ocorre a discussão da abolição do celibato, Feijó usou o argumento de que esse se baseava numa questão de disciplina, sendo portanto da esfera governamental, e não de fé, ou da esfera romana – com a autorização dos casamentos, ele buscava a moralidade e fé pura, não o contrário.
-> Eventualmente, Feijó chegou a obter apoio variado para sua posição: de deputados (poucos, dos 15 padres que tinham cargo no Parlamento); da imprensa liberal, que desejava a ampliação do padroado; de seus eleitores.
-> Todas as polêmicas parlamentares de Feijó funcionariam apenas como um inocente ensaio para sua capacidade de enfrentar situações difíceis – ser oposição de um imperador despótico era uma coisa; resolver os problemas que ele deixou, tarefa dos parlamentares que sustentavam a Regência, era outra, bem diferente.
- Posição dos partidários sobre a renúncia de D. Pedro I:	
- Liberais exaltados: achavam que a renúncia era apenas um passo no sentido de uma mudança maior;	
- Restauradores: também não levaram a nova ordem legal a sério, portanto não tinham menor pudor em afrontar as leis;	
- Moderados: precisavam aprender a lidar com a turbulência do governo anterior – Feijó, em 1831, nomeado Ministro da Justiça, seria encarregado da manutenção da ordem no país convulsionado.
- A maior ameaça na época era o exército:	
- Imenso - ampliado na Guerra da Argentina (terminada em 1828);
- Sem disciplina - devido ao atraso no pagamento dos salários;
- Facilmente davam ouvidos a provocadores – as ideias contra a ordem vigente, tanto de restauradores, como de exaltados encontravam eco entre os militares irritados.
- Resultado: 	
- Sequência ininterrupta de motins;	
- Turbulência refletida dentro do Parlamento, porém ele se manteve firme.
-> Apesar das dificuldades, Feijó iria governar dentro da lei: a revolta foi dominada sem medidas de exceção, sem censura à imprensa, sem prisões arbitrárias.
-> Criou a Guarda Nacional, formada por cidadãos, para assumir o papel dos policiais demitidos – com a colaboração de Luiz Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias.
-> Apesar de relativo sucesso quanto ao combate das revoltas, a situação do ministro Feijó se complicou quando os motins começaram a ser incentivados pelos restauradores – Se antes os enfrentados eram civis, em meio a tumultos militares, passou-se a enfrentar chefes administrativos e militares que não acreditavam no poder civil e objetivavam desgastar o governo.
-> Tentando enfraquecer os adversários, Feijó acusou (sem provas) José Bonifácio de liderar os restauradores e participar da organização das revoltas, porém a acusação do ministro uniu os adversários e ajudou a ampliar sua força.
- Resultado do erro: Feijó, apesar de conseguir aprovar a retirada de Bonifácio do cargo de tutor da Câmara, perdeu a disputa no Senado – muitos liberais tinham respeito a Bonifácio, porém não toleravam acusações sem provas.
- Em 26 de julho, Feijó pediu demissão.
- Governo após a demissão de Feijó:	
- Teve de enfrentar um problema sem solução: como na ordem legal o despotismo, a arbitrariedade que vinha do lado conservador?	
- Feijó continuou na luta parlamentar e foi eleito senador do Rio de Janeiro em 1833;
- Os liberais ainda conseguiram algumas vitórias, como a reforma da Constituição,em 1834, com a retirada de alguns traços mais evidentes de despotismo, e os poderes locais, muito ampliados;	
- A realidade da escravidão foi usada como um grande fundamento para a ideia de que os homens não eram iguais: longe da capital, as autoridades embebidas de despotismo podiam usar as franquias legais não para proteger os mais necessitados, mas para aumentar o grau de arbítrio com que governavam;
- Explodiram diversas revoltas locais – e reações do governo que não tinham nada de legalidade;
- Começou a era das manipulações eleitorais, que se caracterizava pelos conflitos eleitorais e violência no dia da escolha dos candidatos.
-> Com a morte de D. Pedro I, ficava claro que não era apenas o rei português despótico e autoritário.
-> Era chegada a hora da “nacionalização” de um sistema de poder que até então podia atribuir suas mazelas a fatores externos – em vez da justiça, a lei consagraria a legalização das diferenças (no centro de tudo estava a escravidão).
-> Aceita pelos ex-restauradores a ideia do poder Parlamentar, eles rapidamente se fizeram surgir com força no Congresso – seu grande intérprete foi Bernardo Pereira de Vasconcelos.
-> Bernardo mudou o objetivo da política: deu o nome de Regresso a suas ideias:
- Defendia um Parlamento a serviço do tráfico de escravos e doa fazendeiros donos de escravos;
- Queria limitar a esfera da lei e da liberdade;	
- Ganhou força em 1836 – agora que os conservadores se interessavam por eleições, o aumento do poder local facilitava a tarefa de ganhá-la com o apelo à violência, garantida pela Guarda Nacional (transformada em muitos lugares numa armada dos senhores).
-> O regente buscou um substituto entre os adversários, depois que os aliados declinaram da possibilidade de sucedê-lo. 
-> No dia 19 de setembro de 1837, depois de recusar um bispado oferecido pelo Vaticano e nomear um regressista para seu lugar, renunciou.
-> Entre 1831 e 1835, o tráfico de escravos tinha sido praticamente extinto no Brasil; em 1836, com o início da afirmação do Regresso, o número de escravos trazidos da África crescia a cada ano.
-> O tradicional retiro em São Paulo, dessa vez, significou o começo da preparação de Feijó para se preparar para morte.
- Feijó acompanhou apenas de longe os ecos da vida política:	
- O golpe da maioridade de 1840;	
- Rápida derrubada dos liberais pelos regressistas; 	
- Os regressistas promoveram a manutenção da escravidão;	
- Heranças do governo brasileiro referentes aos liberais: consolidação do poder do Congresso, do sistema eleitoral como veículo para troca nos cargos de mandado;
- Heranças de tons conservadores: perda da liberdade e de poder das instâncias locais de governo, e uma centralização tributária ainda mais violenta;
- Todas essas mudanças, mais a anulação das eleições de 1840, provocaram uma onda de indignação;	
- Ironicamente, quem foi mandado pelo governo para combater os revolucionários foi o barão de Caxias, o aprendiz de Feijó;
-> Feijó foi preso sem processo, exilado sem sentença em Vitória e mantido degredado sem julgamento.
-> Em seu testamento, escrito em 1835, mandava libertar seus escravos e deixava seus bens para a irmã. Sua herança maior, no entanto, era o projetou pelo qual lutou toda a vida: um país justo.
Segundo Feijó, o governo deveria garantir a justiça, a partir da Constituição, tendo em vista a implantação da nova ordem, a brasileira. Nesse ínterim, o Brasil consolidaria a independência do país em relação à metrópole portuguesa e, consequentemente, da velha ordem, que era fechada e excludente. 	Apesar das dificuldades enfrentadas pelo Brasil nesse momento de mudança, Feijó, junto a uma minoria da população nacional, defendia que a lei deveria garantir a liberdade, que os governos deveriam se submeter à lei, e que a finalidade última disso era criar uma situação social justa. Diante dessas convicções políticas, a tarefa primordial de Feijó era enquadrar a tradição despótica, os representantes da tradição, à lei. Em 1821, eleito deputado junto às Cortes de Lisboa, deparou-se com uma constituição já delineada. Apesar do medo, Feijó propôs, na frente dos adversários, a independência das províncias brasileiras, a suspensão dos atos do governo português e a retirada das tropas metropolitanas do território brasileiro. 	Percebe-se, portanto, que tanto a atuação, quanto as convicções de Feijó são congruentes ao princípio da legalidade. Dessa forma, as ideias do autor se assemelham ao artigo 5º, inciso II, da Constituição Federal, de 1988, visto que assim como aquelas, este define a lei como mediadora da igualdade dos cidadãos e como freio para as ações destes, a fim de garantir a liberdade.
VISCONDE DO URUGUAI – Paulino José Soares de Sousa
	ENTRE A AUTORIDADE E A LIBERDADE
	Conhecido como um dos chefes do Regresso Conservador e defensor intransigente do poder central como garantidor da ordem, após sua estadia na Europa, tendo contato com a vida política e intelectual francesas e com o mundo anglo-saxão, Visconde do Uruguai muda seu posicionamento sobre o Brasil, cujo principal fruto foi o Ensaio sobre o direito administrativo, a melhor tentativa de pensar a vida política do Brasil imperial a partir do lado conservador. Ele discute em sua obra a relação entre política e administração, Estado e sociedade, autoridade e liberdade.
	Paulino
	Visconde do Uruguai, ou Paulino José Soares Souza, foi um mineiro que estudou medicina na França, chegando lá nos tempos do Consulado e casou-se com uma francesa cujo pai foi guilhotinado pelos jacobinos. Fez parte do exército de Napoleão e com a queda deste, foi para Portugal com a família. Quatro anos mais tarde vai para São Luís (MA), praticando medicina.
	Seu filho, Paulino José, cursou direito em Coimbra. Lá se tornou colega do futuro marquês do Paraná, a isso se resumindo os grandes feitos de sua vida. Por causa da revolução do Porto, regressa ao Brasil onde logo se muda para São Paulo, indo estudar na recém criada Facvldade de Direito de São Paulo. “O ambiente na faculdade era francamente liberal, se não republicano. A exaltação estudantil cresceu em 1830 após a revolução que derrubou Carlos X na França e redobrou em 1831” com a abdicação de d. Pedro I. As inclinações de Paulino José eram republicanas. Já próximo de sua formatura, Paulino muda seu comportamento, larga a vida medíocre, não mais pede dinheiro ao pai, passa a se sustentar com a advocacia, quando faz os primeiros contatos com políticos como Diogo Antônio Feijó e Antonio Carlos Ribeiro de Andrada.
	Formado em 1831, começaram a funcionar os mecanismos de cooptação típicos; seu antigo colega de Coimbra já era aos 31 anos, ministro da Justiça da Regência, e chama Paulino para o cargo de juiz na Corte. No ano seguinte ocorre um fato determinante na vida do futuro visconde: o casamento com Ana Maria Macedo Álvares de Azevedo, ocorrido na capela da casa de Joaquim José Rodrigues Torres, ministro da marinha e futuro visconde de Itaboraí, que com Eusébio de Queirós e Paulino formaria a trindade saquaresma (um parênteses com uma curiosidade não relevante, mas interessante: Ana Maria era semianalfabeta e tinha 13 anos, seu primeiro presente de casamento foi uma boneca. Ela era herdeira de uma família de grandes proprietários de fazendas). Isso envolveu os dois numa rede de relações que abrangia grande parte do sudeste
	Entre 1831 e 1837, grande parte dos políticos pertencentes à nova geração filiava-se ao grupo liberal moderado; com a abdicação, há grande luta entre eles, os caramurus à direita e exaltados republicanos, farroupilhas, à esquerda. Em 1834 foi aprovado o Ato Adicional, um compromisso com os caramurus (ele aboliu o Conselho de Estado, aprovou a eleição popular do regente e reduziu o centralismo político da Constituição de 1824. Foram criadas assembleias provinciais, as Províncias ganharam mais autonomia, isso tudo para se chegar perto do modelo de federalismo americano, faltando apenas a introdução de eleição presidencial).
	Paulino entra na chapa dos moderados para a eleiçãoda primeira legislatura da Assembleia Provincial do RJ. Isso foi o pontapé inicial na sua meteórica carreira política. Foi um momento de substituição da velha guarda ligada a d. Pedro I pelos novos bacharéis. Com a eleição de Feijó como regente, Paulino assume o posto de presidente da província do RJ, no qual permaneceu por uma longa e excepcional duração do cargo. Foi nesse período e sob o controle de Feijó que o país teve uma experiência republicana, quando a luta política atingiu níveis nunca antes alcançados. Grandes revoltas eclodiram, o que levou à proclamação da independência na BA, no PA e RS. Sem muita preocupação com a unidade do país ou com a manutenção da escravidão, Feijó entra em conflito com a Câmara; com a morte de Evaristo Veiga, perde seu apoio e renuncia.
	O bloco moderado se parte ao meio em 1837, Vasconcelos via como se o carro revolucionário tivesse avançado demais, era preciso pará-lo, a liberdade fora longe a ameaçava sua própria existência. Forma-se o partido conservador (entre os membros, os dois amigos de Paulino), com senhores de engenho e de café. O partido liberal também contava com senhores rurais, mas aqueles voltados ao mercado interno, como mineiros, paulistas e gaúchos.
	Paulino, eleito deputado geral pelo RJ, toma posse em pleno regresso conservador. Une-se a seus amigos no partido conservador e se aproxima de Vasconcelos. Foi uma aproximação improvável, quase antitética entre os dois: Vasconcelos tinha inteligência privilegiada, mas era agressivo, impiedoso. Paulino era inteligente, mas introvertido, avesso a conflitos, “era capaz de valsar sobre uma mesa repleta de cristais, sem tocar numa peça” (Cotegipe). Juntos, elaboraram e ajudaram a aprovar na Câmara e no Senado as medidas centrais do regresso: Lei Interpretativa do Ato Adicional, Reforma no código processual criminal e lei do Conselho do Estado.
	SENHOR PAULINO
	Paulino aceita o posto ministerial em 1840, após a queda dos liberais que tinham feito a Maioridade. Ele vota as propostas de reforma de Vasconcelos, que por aprovadas, fazem eclodir as revoltas em MG e SP, cujos líderes foram os membros do próprio partido liberal e fazendeiros e comandantes da Guarda Nacional. Uma das maiores dificuldades do combate era que grande parte dos manifestantes estavam ligados por laços de parentescos. A luta contra foi quase que inteiramente segurada por Paulino e seus amigos, ele ocupava o Ministério da Justiça, Eusébio chefiava a polícia da Corte e Honório, a província do RJ. Caxias comandava as tropas no campo de batalha.
	A experiência de governo em momento tão dramático marcou Paulino, ele, em discursos na Câmara e nos relatórios do Ministério da Justiça, volta sempre às revoltas para justificar as ações repressoras do governo. Ele chagou a pedir legislação mais forte para sufocar o “espírito da anarquia e desordem”, o alvo principal eram os setores mais pobres, considerados quase bárbaros. O mal vinha de doutrinas exageradas e abstratas a respeito da liberdade. O remédio era a reforma do código de processo criminal. As revoltas passaram então a ser lideradas pela elite, e a solução passou a ser uma reorganização política. Vinha o fortalecimento do executivo (antes, a Câmara possuía um poder nunca antes ou depois experimentado). Houve a reforma do Ato Adicional, reduzindo o poder provincial, e a reintrodução do Conselho de Estado como órgão de assessoria do poder moderador.
	Com a anistia dos rebeldes de SP e MG, os liberais voltam ao poder e não modificam a legislação contra a qual se rebelaram antes, o antes temido poder moderador, se mostrou um ótimo instrumento para administrar o conflito entre as elites. O imperador inicia com Paulino longa relação pessoal. Volta ao poder já eleito senador, como ministro dos Negócios Estrangeiros. Havia agora dois problemas políticos externos: a política das Rosas no Rio da Prata e a política da Inglaterra contra o tráfico de escravos.
	Esse último era mais importante economicamente. A pressão inglesa se tornou insuportável, quando aumentaram as apreensões de navios brasileiros. Paulino convence os amigos que não havia solução se não acabar com o tráfico. O projeto foi rapidamente aprovado pela Câmara e pelo Senado. Eusébio assumiu a aplicação da lei, e conseguiu interromper o comércio de escravos. Antes do agravamento dessa crise, já tinha sido levantada a questão da mão de obra que movia a única indústria do país: a agricultura. Considerações de moral e civilização, além da própria segurança, e dos interesses bem entendidos do país, exigiam que o Brasil acabasse com tráfico, mesmo na ausência de pressão inglesa.
	VISCONDE DO URUGUAI
	Fora do Ministério, foi eleito visconde do Uruguai. Foi nomeado enviado extraordinário e ministro plenipotenciário junto ao imperador dos franceses, à rainha da Grã-Bretanha e ao papa. Ele deveria negociar com Napoleão III um tratado de limites entre Brasil e Guiana francesa. Sua missão não teve êxito. Volta da Europa um homem diferente, não mais se posiciona na oposição, restringiu suas atividades ao Senado e ao Conselho do Estado. Passou a se concentrar na família e nos livros. Uma das razões para o afastamento era a discordância com a política de conciliação introduzida por Honório. A viagem a Paris evitou conflitos com o amigo. Dedica-se então aos estudos, lutando contra a saúde precária, mas mesmo assim publica Ensaio sobre o direito administrativo e Estudos práticos. Morreu com 59 anos em 1866.
REVOLUÇÃO NAS IDEIAS
Quando em Paris, Uruguai fez questão que o filho também permanecesse na Europa. Segundo Uruguai, sua estada na Europa proporcionou uma grande revolução em suas ideias e no modo de encarar as coisas. Além disso, fez diversos contatos com intelectuais. É preciso, portanto, que se examine e analise no que consistem essas mudanças que o visconde chama de revolução. Uruguai afirma que o que mais o impressionou na França e na Inglaterra foi o bom funcionamento da administração. Nesses dois países tudo se movia pela ordem e regularidade, a população tinha confiança na justiça civil, criminal e administrativa. Para Uruguai, liberdade política sem boas instituições administrativas não pode produzir bons resultados.
Sobre o Ensaio sobre o direito administrativo:
O Ensaio consta de dois volumes: em um, trata-se do direito administrativo, o segundo discute o Poder Moderador e a centralização. Sobre o direito administrativo, distingue-se governo de administração e discute a situação brasileira nesse campo. Segundo visconde, no Brasil, ao contrário que na França e Inglaterra, a administração não leva o Estado até o cidadão, nem o cidadão até o Estado, porque é muito centralizada, absoluta, ineficiente e politizada. Acrescenta ainda que o Ato Adicional não resolveu o problema porque concentrou, por sua vez, a Administração no governo provincial em detrimento dos governos locais. 
Considera-se que o Conselho de Estado liga-se ao direito administrativo por ser, no Brasil e em Portugal, um órgão ao mesmo tempo político e administrativo. A parte sobre Conselho de Estado expõe os grandes debates que precederam sua recriação em 1841. Os liberais opunham-se ao Conselho, pois temiam que os conservadores dele se apossassem e limitassem o poder do imperador. Uruguai defende a existência do Conselho, mas sugere que se acabe com a acumulação de tarefas políticas e administrativas pela criação de dois conselhos.
No caso do poder Moderador, a questão central era se seus atos, previstos na Constituição, requeriam ou não a referenda dos ministros. Para Uruguai, não, pois a referenda não era exigida na Constituição (lado legal) e sua exigência tornaria o imperador prisioneiro dos ministros (lado político). Ironicamente, ao contrário do caso do Conselho do Estado, nessa discussão são os conservadores que defendem a independência do imperador.
No capítulo sobre a centralização, Uruguai distingue a centralização política da administrativa e contrasta o sistema francês com o anglo-americano. O primeiro aproxima o povo pela administração, o segundo

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