Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE PAULISTA GRUPO MINISTRO JOAQUIM BENEDITO BARBOSA GOMES PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO CIVIL SÃO JOSÉ DOS CAMPOS 2015 i IRMA APARECIDA DE SOUZA ALINE RAFAELA SILVÉRIO DA SILVA ONI DE FREITAS GOMES PATRICIA APARECIDA TOMAZ DA SILVA KAWAKAMA BRUNO FELIPE RODRIGUES KAZAMA GIUSEPPE GUARDIA RUIZ RODRIGO APARECIDO BARBOSA PIRES WOLFGANG GUARDIA RUIZ PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO CIVIL Trabalho da disciplina Atividades Práticas Supervisionadas (APS) do 4º semestre do Curso de Direito apresentado à Universidade Paulista – UNIP Orientador: Prof. Ms. Fernando Peixoto de Araújo Neto SÃO JOSÉ DOS CAMPOS 2015 ii FICHA CATALOGRÁFICA Princípios constitucionais do processo civil. Irma Aparecida de Souza, Aline Rafaela Silveira, Oni de Freitas Gomes, Patrícia Aparecida Tomaz da Silva Kawakama, Bruno Felipe Rodrigues Kazama, Giuseppe Guardia Ruiz, Rodrigo Aparecido Barbosa Pires, Wolfgang Guardia Ruiz. ─ 2015 35p. : il. color. 1. DIREITO PROCESSUAL. 2. PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS. 3. PROCESSO CIVIL. 1. UNIP iii IRMA APARECIDA DE SOUZA ALINE RAFAELA SILVÉRIO DA SILVA ONI DE FREITAS GOMES PATRICIA APARECIDA TOMAZ DA SILVA KAWAKAMA BRUNO FELIPE RODRIGUES KAZAMA GIUSEPPE GUARDIA RUIZ RODRIGO APARECIDO BARBOSA PIRES WOLFGANG GUARDIA RUIZ PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO CIVIL Trabalho da disciplina Atividades Práticas Supervisionadas (APS) do 4º semestre do Curso de Direito apresentado à Universidade Paulista – UNIP Aprovado em: BANCA EXAMINADORA ________________________________________________ ____ /_____ /_____ Professor: Prof. Ms. Fernando Peixoto de Araújo Neto Universidade Paulista – UNIP iv DEDICATÓRIA Dedicamos este trabalho, por mais singelo e simples que seja, por ser executado por estudantes de quarto semestre do curso de Direito, ao Esmo Sr Ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Dr. Joaquim Benedito Barbosa Gomes, que teve a coragem de aplicar verdadeiro senso de dever do Magistrado, julgando políticos poderosos, que detinham o poder, abrindo de fato o caminho para outros que lhe sucedem neste importante “onda” de moralização do poder, mostrando que o justiça é igual para todos, um dos mais importantes princípios constitucionais. v AGRADECIMENTOS Este grupo, na pessoa de sua líder, aluna Irma Aparecida de Souza, agradece ao Instituto de Estudos Avançados, onde a mesma é bolsista do CNPq, por ceder a infraestrutura computacional e horas de trabalho, necessárias à execução deste trabalho. Ao Professor Mestre Fernando Peixoto de Araújo Neto, pela orientação constante, paciente e segura. vi “Que ingenuidade a minha, pedir que reformulem o poder àqueles que detêm o poder”. (Frase atribuída a Giordano Bruno) vii RESUMO No atual Estado Democrático de Direito que alicerça a sociedade brasileira, os processos judiciais não são somente regidos pelas leis processuais propriamente ditas, havendo toda uma sistemática normativa dentro da Constituição Federal de 1988 que incorpora o acesso à justiça e os mecanismos do devido processo legal no capitulo dos direitos e garantias individuais. O Direito Processual Civil, assim como os demais ramos do Direito, como ciência, assenta-se em princípios, ou premissas básicas, consideradas verdades ou princípios fundamentais. Dentre tais princípios, no Direito Civil, são fundamentais e, por isso, de observância obrigatória como normas do direito objetivo que devem nortear a condução dos processos, os princípios que advém das normas constitucionais, que denominamos de princípios constitucionais do processo civil. Neste trabalho abordam-se os seguintes princípios: da inafastabilidade da jurisdição, do juiz natural, do contraditório e da ampla defesa, da inadmissibilidade de provas ilícitas, da publicidade, da fundamentação das decisões, da lealdade processual, da isonomia ou igualdade, da celeridade processual e do duplo grau de jurisdição. A metodologia empregada é a pesquisa bibliográfica e o objetivo geral do trabalho é a produção de um texto conciso e claro, destinado aos estudantes iniciantes no campo do direito. Palavras chave: Direito processual. Processo civil. Princípios constitucionais. viii ABSTRACT In the current Democratic Rule of Law that underpins the Brazilian society, judicial processes are not only governed by proper processual laws, there are, moreover, objective systematic rules within the Federal Constitution of 1988 that incorporate the right of access to justice and the mechanisms of due legal process in chapter of individual rights and guarantees. The Civil Process, as well as other areas of justice, as a social science, is based on principles or basic assumptions, considered truths or fundamental principles. Among such principles, in Civil Justice, are fundamental and, therefore, of mandatory compliance as the norms of objective law that must guide the conduct of the proper legal process, the principles that derive from the constitutional rules, that we call Constitutional Principles of Civil Process. In this paper, we briefly approach the following principles: of the non exclusion of the jurisdiction, of the natural judge, of the contradictory and the full defense, of the admissibility of illegal evidence, of on advertising, of the reasons for decisions, of processual loyalty, of isonomy or equality, of the procedural celerity and of the two levels of jurisdiction. The methodology is the literature review and the overall objective is to produce a clear and concise text, intended for beginning students in the field of law. Key-words: Civil Right. Civil Process Code. Constitutional principles ix SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... . 7 2 CONCEITO E FUNÇÕES DOS PRINCIPIOS PROCESSUAIS........................ 9 3 PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO CIVIL........................... 1 1 3.1 Principio da inafastabilidade da jurisdição.......................................................... 1 1 3.2 Principio do Juiz natural........................................................................................ 1 3 3.3 Principio do contraditório e da ampla defesa,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,.............................. 1 6 3.4 Principio da inadmissibilidade das provas ilícitas.............................................. 1 7 3.5 Principio da publicidade....................................................................................... 2 0 3.6 Principio da fundamentação das decisões............................................................ 2 2 3.7 Principio do devido processo legal.......................................................................... 2 3 3.8 Principio da isonomia ou da igualdade................................................................ 2 4 3.9 Principio da celeridade processual e da efetividade do processo......................2 6 3.1 0 Principio do duplo grau de jurisdição.................................................................. 2 7 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO..................................................................................... 3 1 5 CONCLUSÃO........................................................................................................... 3 3 REFERÊNCIAS........................................................................................................ 3 4 x 7 1 INTRODUÇÃO No atual Estado Democrático de Direito que alicerça a sociedade brasileira, os processos judiciais não são somente regidos pelas leis processuais propriamente ditas, havendo toda uma sistemática normativa dentro da Constituição Federal de 1988 que incorpora o acesso à justiça e os mecanismos do devido processo legal no capitulo dos direitos e garantias individuais. O Direito Processual Civil, assim como os demais ramos do Direito, como ciência, assenta-se em princípios, ou premissas básicas, consideradas verdades ou princípios fundamentais. Dentre tais princípios, no Direito Civil, são fundamentais e, por isso, de observância obrigatória como normas do direito objetivo que devem nortear a condução dos processos, os princípios que advém das normas constitucionais, que denominamos de princípios constitucionais do processo civil. A metodologia empregada é a pesquisa bibliográfica e o objetivo geral do trabalho é a produção de um texto conciso e claro, destinado aos estudantes iniciantes no campo do direito. A pesquisa bibliográfica básica foi realizada nos livros texto de Direito Processual Civil, como: Nunes (2013), Montenegro Filho (2008), Moraes (2015), Lenza (2015), Santos (2012) e Theodoro Junior (2015) e foi complementada e atualizada com artigos recentes publicados em sítios confiáveis da internet. Ao elencar os princípios constitucionais do processo civil, há algumas diferenças, entre os autores pesquisados, em terminologia e na própria “lista” dos princípios fundamentais. Elencou-se, neste trabalho, dez princípios, entendidos com tendo como base fundamental a Constituição Federal de 1988, os quais permeavam a maior parte da literatura consultada. São eles, os princípios da inafastabilidade da jurisdição, do juiz natural, do contraditório e da ampla defesa, da inadmissibilidade de provas ilícitas, da publicidade, da fundamentação das decisões, da lealdade processual, da isonomia ou igualdade, da celeridade processual e do duplo grau de jurisdição. O presente trabalho foi estruturado em cinco partes, sendo a primeira a presente seção, onde se definiu o objetivo do trabalho e a metodologia empregada na pesquisa. Na segunda parte discute-se muito sucintamente o conceito de princípios e as funções dos princípios processuais. Na terceira parte, os dez princípios constitucionais elencados neste trabalho são apresentados um a um e é brevemente discutida a sua relação direta ou indireta com as disposições constitucionais. Na 8 quarta secção é feita uma breve sinopse dos resultados do presente trabalho e na quinta seção feito o texto de conclusão do manuscrito. 9 2 CONCEITO E FUNÇÕES DOS PRINCIPIOS PROCESSUAIS E de extrema importância o estudo dos princípios que constituem as fontes basilares para qualquer ramo do direito, influindo tanto em sua formação como em sua aplicação. Em relação ao Direito do Processual Civil não poderia ser diferente, já que os princípios estão presentes, em sua formação e na aplicação de suas normas. O ordenamento jurídico não é composto somente pelas leis, costumes e decisões jurisprudenciais, mas se alimenta de princípios diversos, que se mostram, muitas vezes, essenciais à perpetuação e andamento da ciência jurídica. Dessa forma, os princípios passam a atuar como verdadeiros sustentáculos às normas jurídicas. Os princípios são as bases de estruturação de um sistema jurídico e o referencial que direcionará as demais normas, para que sejam regulamentadas de acordo com tais parâmetros fundamentais, subordinando-se a eles, já que expressam valores supremos de nossa justiça. Os princípios, pois, se configuram, como o próprio nome diz, no ponto de partida do direito, abrangendo regras e preceitos que deverão ser os pressupostos exigidos ao se traçar qualquer tipo de norma no âmbito jurídico. O termo “princípios” é empregado pelos doutrinadores do Direito em três sentidos diferentes. Primeiro sentido, como normas gerais ou generalíssimas, as quais traduzem valores, sendo, portanto, um ponto de referência para as regras que as desdobram. O segundo sentido seria como disposições que deveriam ser observadas para estabelecimento de normas específicas. E o terceiro e último sentido seria generalizações, abstraídas da inferência das normas vigentes sobre determinadas leis. O Estado Democrático de Direito está assentado em pilares que chamamos de princípios constitucionais. Tais princípios foram introduzidos na Magna Carta de 1988, no momento em que as relações sociais passaram a ser inseridas e regulamentadas pela ordem jurídica, visando assegurar a garantia dos direitos fundamentais dos cidadãos, dando a estes, maior segurança quando se sentirem lesados. Nessa mesma ótica, com a finalidade de se buscar um Processo eficaz, competente para conduzir a decisões adequadas e fundadas no ideal de justiça, socialmente orientado e democraticamente desenvolvido, foram introduzidos na Constituição Federal de 1988, os princípios constitucionais do processo. 10 Considerando que é através do processo que o Estado, após assumir para si a força da prestação jurisdicional, proibindo o exercício privado desta, excetuadas as hipóteses legalmente previstas, atende aos seus objetivos maiores de garantidor da paz social e das relações jurídicas, resulta inequívoco ser o processo o depositário de um sem número de princípios, ou pressupostos lógicos ou normas, buscando cumprir seus compromissos com a moral e a ética, valendo como algo anterior e externo ao sistema processual e, sobretudo, como bússola na aplicação das regras processuais em busca dos objetivos sociais e políticos do próprio sistema jurídico. Conclui-se, portanto, que a importância de se conhecer os princípios constitucionais do processo se dá pelo fato de, na prática jurídica, os operadores do Direito possam se encontrar em situações de colisão entre princípios e normas, os quais os primeiros deverão prevalecer. Isso porque, os princípios não devem ser usados apenas para integralizar o Direito, quando houver lacunas e omissões. Devem ser usados para tornar as decisões do Poder Judiciário mais justas, pois esse é o objetivo fim dos princípios no Direito. Na seção subsequente do presente trabalho, busca-se tecer uma breve análise sobre os princípios presentes nos processos civis e garantidos constitucionalmente, suas principais características, seus usos e sua importância para o estudo da teoria geral do processo civil. Os princípios processuais constitucionais diretos, genericamente estão presentes no artigo 5 da Constituição Federal de 1988, dentro do Título: “Dos Direitos e Garantias Fundamentais e outros de forma mais indireta, nas disposições sobre a organização do Poder Judiciário. 11 3 PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO CIVIL Nesta seção abordam-se os seguintes princípios: da inafastabilidade da jurisdição, do juiz natural, do contraditório e da ampla defesa, da inadmissibilidade de provas ilícitas, da publicidade, da fundamentação das decisões, da lealdade processual, da isonomia ou igualdade, da celeridade processual e do duplo grau de jurisdição. As suas correlações diretas e indiretas com os princípios constitucionais são apresentadas e sucintamente discutidas.3.1 Princípio da inafastabilidade da jurisdição O princípio da inafastabilidade da jurisdição, que muitos autores chamam de cláusula do livre acesso, do acesso à justiça, ou do direito constitucional de ação, é garantido pela Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso XXXV1, portanto, tal principio é visualizado como garantia fundamental e direito básico. O acesso à justiça pode, portanto, ser encarado como o requisito fundamental – o mais básico dos direitos humanos – de um sistema jurídico moderno e igualitário, que pretenda garantir, e não apenas proclamar direitos de todos. O “acesso” não é apenas um direito social fundamental, crescentemente reconhecido, ele é, também, necessariamente, o ponto central da moderna processualística (CAPPELLETTI; GARTH, 1988, p.12-13). Primeiramente, o princípio assegura a utilização de ações para se ressarcirem as lesões já sofridas por cidadão ou para inibir a ocorrência da lesão, quando ainda somente existe ameaça (Exemplos dessas ações inibitórias são aquelas para se impuser obrigações de não fazer utilizando as técnicas do artigo 461 do Código de Processo Civil2), conforme Nunes et al (2013, p. 95). Os obstáculos encontrados, são referentes à custas judiciais, às possibilidades das partes, a problemas especiais dos interesses difusos, entre outros, sendo que, 1 Artigo 5, Inciso XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; 2 Art. 461. O juiz pode ordenar de ofício ou a requerimento da parte: I - a inquirição de testemunhas referidas nas declarações da parte ou das testemunhas; II - a acareação de 2 (duas) ou mais testemunhas ou de alguma delas com a parte, quando, sobre fato determinado que possa influir na decisão da causa, divergirem as suas declarações. § 1o Os acareados serão reperguntados para que expliquem os pontos de divergência, reduzindo-se a termo o ato de acareação. § 2o A acareação pode ser realizada por videoconferência ou por outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real. 12 tais obstáculos enfatizam-se nas pequenas causas e autores individuais, em especial os pobres, pertencentes aos litigantes organizacionais, sendo que as maiores barreiras do acesso estão nos casos em que o litigante individual reivindica direitos por danos pequenos em face de litigantes habituais. Assim o processo civil, buscou saídas para combater tais obstáculos e garantir o acesso à justiça, sem que os poderes bloqueassem o acesso à justiça. Entretanto, fala-se, também, da representação dos interesses difusos, a abordagem desse tema, trás uma reflexão sobre os institutos básicos de direito, processo civil e sobre as funções dos tribunais, que se precisava ser revistos os conceitos sobre a legitimidade ativa, citação, direito de ser ouvida, coisa julgada, conceitos que, por exemplo, a visão individual do processo deveria ceder espaço à visão ampla social. Após os estudos no Projeto de Florença (MESQUITA, 2015), o direito à inafastabilidade do Poder Judiciário não mais se resume a provocar o aparato jurisdicional. Além disso, passou a ser entendido também como o direito à tutela jurisdicional efetiva: complexo de direitos, deveres e ônus que estende durante todo o processo, concebido como instrumento para proteção do direito material e individual. Fazendo um breve resumo deste principio, olhando os fatores sociais e históricos e, com aplicabilidade no direito atual, tal principio tutelado pela Constituição Federal e pelo novo Código de Processo Civil, segundo Mesquita (2015), a inafastabilidade da jurisdição, garante o fácil acesso ao Poder Judiciário, para quaisquer das partes resolverem suas Lides. Tal principio, garante que o Poder Publico ou Poder Judiciário não negue o acesso a justiça, garantindo que todo magistrado seja capaz e tenha como obrigação julgar as lides ou conflitos existentes na sociedade, impossibilitando que o Juiz Natural se declare incompetente (salvo em casos previstos por lei). Assim, o Poder Publica auxilia o cidadão menos favorecido monetariamente fornecendo o direito de postulação através do defensor publica, direito à ampla defesa e ao contraditório, todos estes pressupostos do Processo Civil, que estão sendo abordados em outras partes deste trabalho. Porém o livre aceso à justiça, por sua vez, deveria cumprir, ainda, certo requisitos, a fim de não se tornar excessivamente generalista. Conforme discute Mesquita (2015, p. 2): Há quem diferencie os conceitos de Acesso ao Judiciário, Acesso à Jurisdição, e Acesso à Justiça, nos seguintes termos: 13 Cláusula do Acesso à Justiça - Insere o indivíduo em uma sociedade em que ele pode ter acesso a proteger os seus direitos. Proteção dos direitos subjetivos e, caso precise, mediante a atuação/intervenção do Estado. Trata- se do conceito mais amplo. Acesso à Jurisdição (direito fundamental à tutela jurídica efetiva) – direito ao devido processo, a que a tutela jurisdicional seja efetiva, que o processo seja equânime, em prazo razoável, com o cumprimento da decisão. Conceito ligado ao processo justo e às garantias processuais, fenômeno endoprocessual. Acesso ao Judiciário – Acesso ao Poder Judiciário; criação de órgãos jurisdicionais, aproximar a população, justiça itinerante. 3.2 Princípio do Juiz natural A imparcialidade do Judiciário e a segurança do povo contra o arbítrio estatal encontram-se amparados no princípio do juiz natural, proclamado nos incisos XXXVII3 e LIII4 do art. 5º da Constituição Federal, uma de suas garantias indispensáveis, uma vez que, contrariamente a isto, a instituição de um tribunal de exceção implicaria numa ferida mortal ao Estado de Direito, visto que sua proibição revela o status conferido ao Poder Judiciário na democracia. O juiz natural é somente aquele integrado no Poder Judiciário, com todas as garantias institucionais e pessoais previstas na Constituição Federal (MONTENEGRO FILHO, 2008, p. 31 a 34; NUNES et al, 2013, p. 86 a 95). Assim, afirma o Ministro do Supremo Tribunal Federal, José Celso de Mello Filho, que somente os juízes, tribunais e órgãos jurisdicionais previstos na Constituição se identificam ao juiz natural, princípio que se estende ao poder de julgar, também previsto em outros órgãos, como o Senado, nos casos de impedimento de agentes do Poder Executivo (LOUREIRA 2015). O referido princípio deve ser interpretado em sua plenitude, de forma a não só proibir-se a criação de Tribunais ou juízos de exceção, como também exigir-se respeito absoluto às regras objetivas de determinação de competência, para que não seja afetada a independência e a imparcialidade do órgão julgador. Desde a Constituição Política do Império do Brasil, jurada a 25/03/1824, o Direito Constitucional brasileiro previa em seu Título VIII – Das disposições gerais, e garantias dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros – extenso rol de direitos humanos fundamentais, entre eles o princípio do juiz natural, repetido, igualmente, por 3 XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; 4 LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; 14 nossa 1ª Constituição republicana, de 24/02/1891, que em seu Título III – Seção II, previa a Declaração de Direitos e nas demais Cartas Republicanas (LOUREIRA 2015). O direito a um juiz imparcial constitui, portanto, garantia fundamental na administração da Justiça em um Estado de Direito e serve de substrato para a previsão ordinária de hipóteses de impedimento e suspeição do órgão julgador. Sempre, repita-se, no intuito de garantir a imparcialidade do órgão julgador. A imparcialidade do juiz, mais do que simples atributo da função jurisdicional, é vistanos dias atuais como seu caráter essencial. Não por outra razão que tem sido eleita por parte da doutrina como a pedra de toque do ato jurisdicional, servindo para diferenciá-lo dos demais atos estatais. Para assegurar a imparcialidade (e a independência) do juiz é que a maioria das Constituições contemporâneas consagra o Princípio do Juiz Natural, exigindo que a designação do julgador se dê anteriormente à ocorrência dos fatos levados a julgamento e feita de forma desvinculada de qualquer acontecimento concreto ocorrido ou que venha a ocorrer (LOUREIRA 2015). Juiz Natural, assim, é aquele que está previamente encarregado como competente para o julgamento de determinadas causas abstratamente previstas. Na atual Constituição o princípio é extraído da interpretação do inciso XXXVII5, do art. 5º e, também, da exegese do inciso LIII6 deste mesmo artigo. Completa o arcabouço de consagração do princípio as garantias outorgadas aos juízes de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios, previstas no caput do art. 957 da Constituição Federal. Costuma-se dizer, considerando o texto dado pela Carta, que juiz natural é somente aquele integrado de forma legítima ao Poder Judiciário e com todas as garantias institucionais e pessoais previstas na Constituição Federal. Por outro lado, somente são efetivamente Juízos e Tribunais, aqueles constitucionalmente previstos, ou, então, os que estejam previstos a partir e com raiz no Texto Constitucional. Não se pode olvidar, contudo, que a própria Constituição excepciona a regra de que juiz natural é tão somente aquele integrante do Judiciário ao atribuir ao 5 Inciso XXXVII, do art. 5º da CF - não haverá juízo ou tribunal de exceção. 6 Inciso LIII do art. 5º da CF - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. 7 Caput do art. 95 da CF - Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias: I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado; II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII; III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37 X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998). 15 Senado competência para julgar o Presidente e o Vice-presidente da República nos crimes de responsabilidade. As Constituições brasileiras tradicionalmente acolheram o princípio do juiz natural por meio da proibição de tribunais extraordinários e da exigência de julgamento por autoridade competente (LOUREIRA 2015). Por outro lado, a Constituição Federal traz, tradicionalmente, foros especiais para algumas autoridades em função da dignidade dos cargos ocupados, o que parece ferir princípios republicanos e democráticos segundo os quais todos deveriam ser julgados pelo mesmo juiz. Não fere o princípio do juiz natural, pois a própria carta magna estabelece previamente juízes naturais especiais. Só existirá foro especial no caso de crimes, lato sensu: crime e contravenção penal. O princípio do juiz natural pode ser encontrado na doutrina sob as mais diversas denominações, dentre as quais, pode-se mencionar o princípio do juízo legal, o princípio do juiz constitucional e o princípio da naturalidade do juiz. O inciso XXXVII8, do artigo 5º da Constituição Federal, onde há a primeira tratativa acerca do princípio do juiz natural, prevê a vedação à criação de tribunais de exceção. Na expressão tribunais de exceção, compreende-se tanto a impossibilidade de criação de tribunais extraordinários após a ocorrência de fato objeto de julgamento, como a consagração constitucional de que só é juízo órgão investido de jurisdição. Tribunal de exceção é aquele designado ou criado por deliberação legislativa ou não, para julgar determinado caso, tenha ele já ocorrido ou não, irrelevante a já existência do tribunal. O princípio do juiz natural, especialmente no que tange a este primeiro aspecto, visa coibir a criação de tribunais de exceção ou de juízos ad hoc, ou seja, a vedação de constituir juízes para julgar casos específicos, sendo que, provavelmente, terão a incumbência de julgar, com discriminação, indivíduos ou coletividades (LOUREIRA 2015). O cidadão tem o direito a julgamento por um juízo ou tribunal pré-constituído, legitimamente investido no exercício da jurisdição e com todas as prerrogativas ínsitas ao normal desempenho da função (inamovibilidade, vitaliciedade, independência jurídica e política, e irredutibilidade de vencimentos). As justiças especializadas, constitucionalmente previstas, não ofendem a garantia, uma vez, que são pré- constituídas (ou seja, constituídas anteriormente ao fato a ser julgado), em caráter 8 Inciso XXXVII do artigo 5 da CF - XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção (já citado na página anterior) 16 abstrato e geral, para julgar matérias especificas. A garantia do juiz natural se desdobra em três conceitos: a) só são órgãos jurisdicionais os instituídos pela constituição; b) ninguém pode ser julgado por órgão constituído após a ocorrência do fato; c) entre os juízes pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de competências inalterável a arbítrio de quem quer que seja. O Princípio do juiz natural, insculpido na atual Magna Carta, por se tratar de uma norma de eficácia contida e de aplicabilidade imediata, sofre regulamentação pela legislação infraconstitucional, in casu, pelo vigente Código de Processo Civil, o qual delimita a matéria de competência do juízo e do juiz (BRASIL, 2015b; THEODORO JUNIOR, 2015). Em resumo, a imparcialidade exigida pelo princípio do juiz natural deve ser entendida como aquela apta a possibilitar que o magistrado julgue conforme a sua livre convicção legal, independentemente de qual seja a parte litigante ou o objeto do litígio, motivo pelo qual o juiz precisa estar atento aos institutos da suspeição e impedimento. 3.3 Princípio do contraditório e da ampla defesa Previsto no art. 5º, inciso LV9, da Constituição Federal, o principio do contraditório e da ampla defesa remete à exigência para o exercício democrático de um poder, em que as partes na dinâmica processual, sob prisma de igualdade, têm o direito de produzir as provas que, para sua concepção, sejam necessárias para o convencimento do magistrado, assegurando, durante o decurso processual, o pleno direito de defesa e de pronunciamento. Assim, esse principio dá a oportunidade de uma parte falar sobre as alegações da parte contrária, e de fazer prova contrária. O órgão julgador não pode punir o individuo e negar a manifestação sobre os fundamentos da punição, como as provas, que pode ser obtida por meio de depoimento pessoal, prova pericial, prova documental, confissão, etc. Assegura às partes a regra da isonomia no exercício das faculdades processuais. Ensina Humberto Theodoro Júnior (2004, p. 25) que: 9 LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; 17 Decorrem três consequências básicas desse principio: a) A sentença só afeta as pessoas que foram parte no processo, ou seus sucessores; b) Só há relação processual completa após regular citação do demandado; c) Toda decisão só é proferida depois de ouvidas ambas as partes. Ainda, ensina Di Pietro (2007, p. 367) que: O princípio do contraditório, que é inerente ao direito de defesa, é decorrente da bilateralidadedo processo: quando uma das partes alega alguma coisa, há de ser ouvida também a outra, dando-se-lhe oportunidade de resposta. Ele supõe o conhecimento dos atos processuais pelo acusado e o seu direito de resposta ou de reação. Exige: 1- Notificação dos atos processuais à parte interessada; 2- Possibilidade de exame das provas constantes do processo; 3- Direito de assistir à inquirição de testemunhas; 4- Direito de apresentar defesa escrita. Assim, da doutrinadora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, que diz que a parte interessada deve também ser notificada dos atos processuais, a fim de se cumprir a isonomia processual (DI PIETRO, 2007). 3.4 Princípios da inadmissibilidade das provas ilícitas Com a Carta Magna de 1988 o princípio da inadmissibilidade de provas ilícitas assumiu nova dimensão no sistema judiciário brasileiro, sendo que, antes a posição jurisprudencial era totalmente contraria, adotando o sistema legalista, em que admitia a prova ilícita e a considerava válida (GERRA, 2015). O princípio da inadmissibilidade da prova obtida por meios ilícitos está previsto no artigo 5º, inciso LVI10, da Constituição brasileira de 1988, ao dispor que “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”, como sendo um direito fundamental da pessoa humana, bem como, no artigo 33211 do antigo código de processo civil (Lei nº 5.869 de 11 de Janeiro de 1973), que afirma que: “todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que especificado neste código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa”. Na busca da “verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa” (artigo 10 LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; 11 Artigo 332 da Lei nº 5.869 de 11 de Janeiro de 1973 afirma que: “todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que especificado neste código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa”. 18 332, do antigo CPC, citado), todo o meio de prova deve ser submetido às fases da proposição, da admissão, da produção e da avaliação. Após a produção das provas pelas partes, o magistrado, ao adentrar no juízo de valoração, trabalha com limitações sistemáticas e subjetivas. No primeiro campo, temos como limitadores os seguintes sistemas: prova legal, livre convencimento e persuasão racional. Entretanto, o capítulo VI do atual Código de Processo Civil inicia a regulamentação sobre as provas no sistema processual brasileiro. Os artigos 332 a 341, por sua vez, dispõem genericamente sobre a produção, o ônus, a forma, o momento e os meios de prova admitidos no processo civil brasileiro, entre outros pontos, mas não se refere explicitamente a provas ilícitas. Mas, sendo o Art. 1 do novo Código de Processo Civil12, ao estabelecer que o processo civil seja ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as demais disposições deste Código, uma vez exarado tal princípio, entende-se não se fazer necessária a sua repetição nas demais partes do referido diploma legal. Com a vigência da Constituição de 1988 pode-se afirmar que são inadmissíveis no processo tanto as provas ilegítimas, proibidas pelas normas de direito processual, como as provas ilícitas, colhidas com violação as normas de direito material. As provas ilícitas não podem ser utilizadas no ordenamento jurídico brasileiro, salvo as exceções atribuídas pela doutrina e pela jurisprudência. Destacasse que com a consolidação do princípio o debate jurisprudencial e doutrinário ganhou novo contorno, não se discutia mais se as provas ilícitas eram ou não admitidas, pois sua inadmissibilidade passou a ser norma taxativa no rol dos direitos fundamentais. A discussão evoluiu para outra dimensão buscando-se saber qual o alcance normativo deste princípio, considerando como premissa a ausência de direito absoluto em nosso sistema jurídico (GERRA, 2015). Logo, o debate fomentado até os dias atuais é no sentido de que, se não há direito fundamentais absolutos, o princípio em algum momento poderá ser relativizado, surgindo então às exceções à aplicabilidade do mesmo. A finalidade principal da não admissão das provas ilícitas está consolidada no fato de que sua vedação é inerente ao Estado Democrático de Direito, consiste num mecanismo de 12 Art. 1 do novo Código de Processo civil (Lei 13.105 de 16/03/2015): O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código”. 19 limitação ao Estado, uma garantia de que o cidadão não será desprezado, nem os seus direitos fundamentais. Entretanto, o Supremo Tribunal Federal compreende que a prova com violação a direitos fundamentais do réu ou de terceiros pode ser utilizada quando for aplicada para favorecer o réu, e que se justifique na teoria da proporcionalidade (GERRA, 2015). Excepcionalmente, a teoria da proporcionalidade tem aceitado as provas ilícitas quando ocorrer fatos de extrema gravidade, que justifiquem o equilíbrio entre os valores fundamentais oponentes, visando favorecer ao réu, tendo em vista o princípio da inocência. Importante dizer que a teoria da proporcionalidade encontra limites, haja vista que não pode transgredir o princípio da inadmissibilidade das provas colhidas por meios ilícitos (GERRA, 2015). A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 não afasta bruscamente nenhuma corrente jurisprudencial e doutrinária, pois os direitos e garantias fundamentais não podem ser tolhidos de modo a serem absolutos. Mas não se pode esquecer que a regra é o princípio da inadmissibilidade das provas ilícitas. Existem duas exceções ao princípio da inadmissibilidade de provas ilícitas como já mencionados em alguns trechos anteriores desta seção, são elas: Provas ilícitas a favor do réu: são aquela que, sem embargo, da sua ilicitude e, com base no princípio da proporcionalidade, sua admissão e valoração são aceitas com a finalidade de que um inocente não seja erroneamente condenado. Provas ilícitas em favor da sociedade: A admissibilidade das provas ilícitas em favor da sociedade, como defendem os seus seguidores, se faz necessária na defesa do interesse público, ou seja, um interesse maior composto por todos os membros da sociedade, que sofrem com as consequências que advém da impunidade de determinados crimes e organizações criminosas. Sem esquecer ainda que, assim como na admissão das provas ilícitas em favor do acusado, nesta hipótese também há conflito de interesses fundamentais. O princípio da inadmissibilidade de provas ilícitas foi o meio encontrado pelo legislador nacional para estabelecer limites à produção de provas, contudo, cabe-nos esclarecer que a finalidade de tais limitações não é e nem pode ser a de impedir a produção de provas no processo, sem a qual seria ineficaz a prestação jurisdicional por parte do Estado. Trata-se, apenas, de deixar claro àquele que vai buscar auxílio do Estado para solucionar o litígio ocasionador da demandada, que o mesmo terá sim 20 a oportunidade e a garantia da produção de provas, todavia, não será toda prova que será admitida como válida no processo. Na área penal, esta situação já é mais, clara, pois, segundo Lenza (2015, p. 1227), “As provas obtidas por meio de meios ilícitos são inadmissíveis no processo.” Desse princípio decorre, também, o de que as provas derivadas de provas obtidas por meios ilícitos também estarão maculadas pelo vício da ilicitude, sendo, portanto, inadmissíveis(Teoria dos frutos da árvore envenenada). 3.5 Princípio da publicidade O princípio da publicidade encontra-se presente implícita ou explicitamente em quatro dispositivos constitucionais, que são: a) Inciso LIV13 do artigo 5, como uma norma de processo; b) Inciso LX14 do artigo 5, como uma norma de processo; c) Inciso IX15 do artigo 93, como uma norma de processo; e d) Caput do artigo 3716, como uma norma da administração. Assegura a Constituição, aos cidadãos contribuintes o conhecimento e acompanhamento de todos os atos públicos, praticado pelos três poderes. Este princípio, no sistema democrático é o mais fundamental de todos os princípios constitucionais. O princípio da publicidade traz em seu núcleo a ideia de que todos os atos e negócios em que a Administração Pública tomar parte devam ser de conhecimento de toda a sociedade, face ao agir do Estado, tanto em nível político, quanto no administrativo, sempre ser motivado por razões de interesse público. Portanto, tais atos e negócios devem ser cometidos com a maior transparência possível. Em razão disso, dito princípio é empregado com grande intensidade na seara administrativa, 13 Art.5º, Inc. LIV, da Constituição Federal de 1988: Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; 14 Art.5º, Inc. LX, da Constituição Federal de 1988: A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; 15 Art. 93, inc. IX, da Constituição Federal de 1988: Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observada os seguintes princípios: Inc. IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes; 16 Art. 37, caput, da Constituição Federal de 1988: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte. 21 traduzindo-se, em termos filosóficos, em fator de garantia por parte do particular, no que tange ao cabal desempenho das ações da administração pública em prol do bem comum. Na área jurídica, este princípio visa tornar transparente os atos processuais praticados pelo juiz durante a persecução civil ou penal. Desta forma, este princípio impõe que os atos processuais devem ser públicos como garantia democrática da liberdade no que concerne ao controle dos atos de autoridade. Este princípio constitui uma preciosa garantia do indivíduo no tocante ao exercício da jurisdição. A presença do público nas audiências e a possibilidade do exame dos autos por qualquer pessoa, representam o mais seguro instrumento de fiscalização popular sobre a obra dos magistrados, promotores públicos e advogados. Esse princípio também é corolário do princípio do devido processo legal e da ampla defesa. Ele apresenta duas nuances: a primeira e dar conhecimento dos atos processuais aos litigantes e o segundo aspecto refere-se a dar o conhecimento à sociedade da atuação do Judiciário e aqueles que, por ventura, tenham interesse na causa em litígio possam se manifestar. O ordenamento jurídico brasileiro adota o princípio da publicidade dos atos processual restrita, por que apesar de todo o interesse de que os maiores números de pessoas venham a conhecer os processos, existem alguns casos em que o interesse público exige que sejam resguardadas as partes e os atos processuais naquele processo específico, correndo o processo em segredo de justiça, de acordo com Montenegro Filho (2008, p. 38 a 40) e Nunes et al (2013, p. 99 a 101). Além do objetivo principal que é dar conhecimento público dos atos praticados pelo agente público, o princípio da publicidade produz outros efeitos, a saber: a) Condição de eficácia para os atos administrativos, marcando o início de produção de seus efeitos externos; b) Termo inicial para contagem de prazos; e. c) Viabiliza o controle, a fiscalização dos atos praticados pelo Poder Público, seja pelos interessados diretos ou pelo povo em geral. Então como vimos nesta seção o princípio da publicidade é um importante mecanismo de fiscalização da atividade estatal, assegurando a existência da democracia e o exercício da cidadania. Além disso, é através da publicidade de seus 22 atos que o Estado adquire maior credibilidade nas suas decisões e no exercício dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. É assim, que o princípio da publicidade deve ser observado em todas as espécies de processos e não apenas no processo judicial. Contudo, verificamos que esse princípio não é absoluto e há casos em que o interesse público, a intimidade das partes e a ordem pública exigem a decretação do segredo de justiça. Percebemos que a amplitude do princípio da publicidade dos atos processuais é assegurada de forma semelhante em todos os ramos do processo: civil, penal, do trabalho, coletivo e administrativo. Ocorre que há casos em que a própria efetividade do processo encontra-se intrinsecamente ligada ao princípio da publicidade como no processo coletivo. Em outras hipóteses, nos parece que haverá maior necessidade de decretação do segredo de justiça para que sejam assegurados os direitos dos indivíduos, é o que ocorre no processo do trabalho e no processo penal. Ficou, portanto, clara a importância do princípio da publicidade no nosso ordenamento jurídico e na existência de todo Estado Democrático de Direito. 3.6 Princípio da fundamentação das decisões O princípio da fundamentação das decisões judiciais é tão importante dentro da esfera do Direito Brasileiro que está não somente garantido em dispositivo legal especifico (Código de Processo Civil), mas também em nossa lei constitucional, disposto no artigo 93 inciso IX17 da Constituição Federal de 1988. Assim, estão sob pena de nulidade todos os atos praticados pelo Poder Judiciário sem a estrita observância deste princípio. Portanto, este princípio é imprescindível no âmbito das decisões judiciais. Derivado dessa lei maior que é a nossa Constituição Federal, temos uma lei mais especifica que aborda com mais clareza e abrangência requisitos fundamentais para se tornar valido todas as decisões judiciais (sentenças e também acórdãos) que 17 IX - “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentados todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação”. 23 é o artigo 45818 do Código de Processo Civil. Ainda, o artigo 16519 estabelece claramente a obrigatoriedade da fundamentação das decisões judiciais. Segundo Montenegro Filho (2008), toda a decisão judicial deve ser fundamentada dando às partes envolvidas a oportunidade de entender os motivos daquela decisão e poder, se for o caso impugnar através de recurso para cada caso. Se isso não for respeitado, a parte poderá oferecer embargos declaratórios para que o juiz se manifeste sobre sua omissão. Deve, pois, ser fundamentada a decisão judicial, que é gênero, do qual são espécies a sentença, o acórdão e as decisões interlocutórias, estas mesmo que de maneira concisa. Todo magistrado, seja de qualquer instancia do Poder Judiciário, tem a prerrogativa de manifestar qualquer tipo dedecisão judicial, contanto que a fundamente usando de lei, jurisprudência, doutrina, sendo que essa liberdade atinente as suas decisões não são autoritárias, dessa forma garantindo que em todos conflitos de interesses no qual cabe o juiz dizer a lei, ele faça a vontade do Estado, e não a sua própria vontade. 3.7 Principio do devido processo legal Alguns autores chamam este principio de principio da boa fé e da lealdade processual. O nome mais usado nos livros texto de direito é “Principio do devido processo legal”. Nos livros texto de Montenegro Filho (2008, p. 25 a 26) e de Nunes et al (2013, p. 80 a 86) encontramos uma explanação mais extensa daquela apresentada a seguir, mas didática, sobre este princípio. O principio da lealdade processual são deveres das partes de todo aquele que de qualquer forma participarem com lealdade e boa fé. Explicitamente, a garantia do devido processo legal, aparece no artigo 3620, do CPC, com respeito ao procedimento da carta rogatória perante o Superior Tribunal de Justiça. 18 Artigo 458 do CPC: São requisitos essenciais da sentença: I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo; II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; “III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as partes Ihe submeterem.” 19 Artigo 165 do CPC: As sentenças e acórdãos serão proferidos com observância do disposto no art. 458; as demais decisões serão fundamentadas, ainda que de modo conciso. 20 Art. 36. O procedimento da carta rogatória perante o Superior Tribunal de Justiça é de jurisdição contenciosa e deve assegurar às partes as garantias do devido processo legal. 24 No principio da lealdade processual, sujeitos da relação processual, da qual são as partes, são aquelas que possuem o conflito de interesses em que se encontram. As partes devem dirigir-se ao juiz tanto para suas afirmações, ou em suas atividades, e têm por finalidade a composição da lide com justiça. As partes devem proceder de boa fé tanto nas relações recíprocas como em relações ao órgão jurisdicional. A verdade e essencial de parte assim como a atividade do processo precisa ser exercida com moralidade e probidade não podendo nunca deixada de ser dirigido por um espírito colaborador de um juiz na justa composição da lide. Enfim na essência, o princípio da lealdade processual nada mais é do que um comportamento irrepreensível no processo que alcance um grau de lealdade e probidade ou moralidade tanto das partes como de seus advogados. O novo CPC define o litigante de má fé, caracteriza as ações de má fé e estabelece punições, em seus artigos 79 a 8121. Assim, desrespeito ao dever de lealdade processual é o que integra ou que se traduz no ilícito processual, abrangendo do dolo e fraude processuais. Correspondem severas sanções, não só processuais como também pecuniárias, respondem por perdas e danos aquele que pleitear de má- fé como autor, réu ou interveniente. Sem prejuízo das sanções aplicáveis à parte que representar, se a temeridade ou a malicia for imputável ao procurado, o juiz levará o caso ao conhecimento do conselho da ordem dos advogados do Brasil. 3.8 Princípio da isonomia ou da igualdade 21 Art. 79. Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como autor, réu ou interveniente. Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que: I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II - alterar a verdade dos fatos; III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal; IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo; V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; VI - provocar incidente manifestamente infundado; VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório. Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou. 25 O principio da isonomia é chamado por alguns autores de principio da igualdade de tratamento, como, por exemplo, por Montenegro Filho (2008, p. 27 a 30), ou simplesmente de princípio da igualdade. O direito de igualdade consiste em afirmar que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, de acordo com a Constituição Federal, art. 5°, caput22. Não se admite discriminação de qualquer natureza em relação aos seres humanos. A busca da igualdade se dá nas mais diferentes esferas do direito sejam por razão processual, ou social, ou qualquer outra, sempre no intuito de que no futuro haja não discriminações de qualquer forma, tornando o país mais justo. O fundamento do direito de igualdade encontra-se no princípio de que todos devem ser tratados de forma igual perante a lei. Todos nascem e vivem com os mesmos direitos e obrigações perante o Estado. A igualdade foi um dos ideais da Revolução Francesa atingidos com a abolição dos antigos privilégios da nobreza e do clero e, teoricamente, todos passaram a ter o mesmo tratamento perante a lei. (PINHO, 2002, p. 95) O princípio da igualdade interdita tratamento desuniforme às pessoas. Sem embargo, pode-se observar, a função precípua da lei, que significa exatamente dispensar tratamentos desiguais, ou seja, as normas legais nada mais fazem que discriminar situações, de forma que as pessoas compreendias em uma ou em outra vêm a ser colhidas por regimes diferentes. De onde, a algumas são deferidos determinados direitos e obrigações que não assistem a outras, por abrigadas em diversa categoria, reguladas por diferente plexo de obrigações e direitos. (MELLO, 2013) A Constituição Federal vigente adotou o princípio da isonomia ou igualdade de direitos, antecipando a igualdade de aptidão, uma igualdade de tratamento idêntico pela lei, de acordo com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico. (MORAES, 2013) A isonomia funciona de modo que toda situação de desigualdade que permaneça mesmo com a entrada em vigor da norma constitucional não deve ser 22 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]. 26 recepcionada, visto que não é compatível com os valores que a Constituição de 1988 proclama. Garante-se desta forma que tanto o legislador seja incapaz de criar regra que não promova a isonomia, ou seja, dê tratamento desigual à situação igual, quanto o aplicador do direito que não pode aplicar a lei em beneficio de uns e detrimentos de outros em situações idênticas. Normas com diferenciação abusiva, seria negação de isonomia, o que implicaria na inconstitucionalidade, os tribunais não poderão decidir diferentemente em situações iguais o que leva à uniformização de jurisprudência, como as súmulas, e o particular não pode discriminar sob pena de ação civil ou penal. Isso mostra que a diferenciação dos seres é mais evidente conforme a evolução das sociedades, podendo ser distinguidas conforme sua natureza, utilidade e outras características e isto não é afronta ao principio da isonomia e sim uma necessidade comum de agrupamento, o que devia ser mais observado pelas leis brasileiras (MIRANDA, 2015). Homens e mulheres são iguais perante a lei enão devem ser diferenciados a não ser para equilibrar certos problemas, como, por exemplo, diminuir as diferenças de acesso à justiça. É uma discriminação legal que privilegia a mulher em detrimento do homem, chocando-se contra os artigos 5°, caput e inciso I, e 226, §5° da Constituição de 1988, que preveem a igualdade entre homens e mulheres inclusive no exercício dos direitos e deveres da sociedade conjugal (MIRANDA, 2015). 3.9 Princípio da celeridade processual e da efetividade do processo Nos livros texto sobre os princípios do processo civil, este principio é também chamado por alguns autores de principio da duração razoável do processo e muitos autores incluem nele o principio da efetividade do processo, por exemplo, Nunes et al (2013, p. 102 a 104). Esse principio já se encontrava assegurado nas normas infraconstitucionais, sendo previsto inclusive punições processuais no caso de apresentarem recursos meramente protelatórios, dentre outras possibilidades. 27 Com a emenda Constitucional numero 45 o inciso LXXVlll23 do art. 5 da CF, passou também a referir-se a essa garantia, assegurando a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. Como o processo é um instrumento da jurisdição então ele deve utilizar-se dos princípios e valores apresentados na constituição Federal vigente e dentre esses valores que são consagrados podemos vislumbrar a efetividade do processo. A palavra efetividade significa a capacidade de se produzir efeitos dessa forma ao analisarmos sob o ângulo processual temos que assegurar o objetivo a que se propõem. Para tanto é necessário que o processo disponha de instrumentos adequados para a realização do objetivo a que se propõem. Por isso há a necessidade de observarem-se normas processuais, mas essa precisa estar em conformidade com a técnica processual tem dois grandes objetivos: a) conferir segurança ao instrumento, no sentido de proporcionar absoluta igualdade de tratamento aos sujeitos parciais do processo e b) garantir seja a tutela jurisdicional, na medida do possível, resposta idêntica à espontânea da regra de direito material, quer o ponto de vista da justiça da decisão, quer pelo ângulo da tempestividade. Conforme discutido brevemente ao longo desse trabalho os princípios processuais constitucionais encontra-se inseridos em nossa carta Magna, porem, não é pacifico entre os doutrinadores o seu significado e o seu alcance. Estamos num processo de compreensão da sistemática processual, em que os temas afetos aos princípios fundamentais e estruturantes de nosso processo, precisam ser analisados de forma plena, permitindo, assim, que se concretizem os direitos defendidos em nosso ordenamento jurídico. Dessa feita, toda e qualquer norma processual que venha a ser criada, ou em seu momento de aplicação, deve-se antes passar pelo crivo dos princípios fundamentais do processo, para que essa norma esteja em consonância com estrutura processual vigente em nosso ordenamento jurídico e, acima disso, com os princípios constitucionais. 3.10 Princípio do duplo grau de jurisdição 23 LXXVIII: a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). 28 Este principio refere-se quando a parte não satisfeita com a decisão judicial pelos juízos de causa, poderá recorrer aos juízos de recursos. É o direito de recurso para reavaliação da decisão por tribunal superior. Ensina Theodoro Júnior (2015, p. 26) que: Não basta, porém, assegurar o direito de recurso, se outro órgão não se encarregasse da revisão do decisório impugnado. Assim, para completar o principio da recorribilidade existe, também, o principio da dualidade de instancias ou do duplo grau de jurisdição. A doutrina diverge em considerar o duplo grau de jurisdição como um princípio de processo inserido na Constituição Federal, já que inexiste a sua previsão expressa no texto constitucional. Entretanto, autores, tais como Theodoro Junior (2015), admitem o duplo grau de jurisdição, como princípio de processo inserido na Constituição Federal. Aqueles que acreditam que o duplo grau de jurisdição é um princípio processual constitucional, inclusive no processo civil, fundamentam a sua posição, na competência recursal estabelecida na Constituição Federal. Alguns exemplos desta previsão implícita do duplo grau de jurisdição inserido na no inciso LV24 do artigo 5 da Constituição Federal de 1988. Ainda, neste sentido, a CF ao estabelecer em seu artigo 10225 as competências do STF, confere-lhe a incumbência de julgamento de recursos, bem como, no artigo 10526, ao STJ, também, o julgamento de recursos. Diante disso, em que pese não traga de forma expressa, pode-se dizer que o duplo grau de jurisdição ou garantia de reexame das decisões proferidas pelo Poder Judiciário, pode ser incluído no estudo acerca dos princípios de processo civil definidos na Constituição Federal. O reexame dos pronunciamentos jurisdicionais é algo quase tão antigo quanto o próprio direito dos povos, de maneira que todo ato decisório do juiz que possa 24 LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral. São assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela. Inerentes. 25 Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da. Constituição, cabendo-lhe: I -... II - julgar, em recurso ordinário: III - julgar, mediante recurso extraordinário (...); 26 Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I -... II - julgar, em recurso ordinário; III - julgar, em recurso especial; 29 prejudicar um direito ou um interesse da parte deve ser recorrível, como meio de evitar ou emendar os erros e falhas que são inerentes aos julgamentos humanos; e, também, como atenção ao sentimento de inconformismo contra julgamento único, que é natural em todo ser humano. O princípio do duplo grau de jurisdição visa assegurar ao litigante vencido, total ou parcialmente, o direito de submeter à matéria decidida a uma nova apreciação jurisdicional, no mesmo processo, desde que atendidos determinados pressupostos específicos, previstos em lei. Todavia, os recursos devem acomodar-se às formas e oportunidades previstas em lei, para não tumultuar o processo e frustrar o objetivo da tutela jurisdicional em manobras caprichosas e de má-fé (THEODORO JUNIOR, 2015). Portanto, o princípio constitucional do duplo grau de jurisdição, ainda que de forma implícita naquele texto, garante ao litigante a possibilidade de submeter ao reexame as decisões proferidas em primeiro grau, desde que atendidos os requisitos previstos em lei. Como exemplo, de não atendimento aos requisitos previstos em lei, mostra-se a seguir a decisão da 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Pernambuco, em recurso de agravo contra decisão em apelação civil, com alegação de ofensa ao duplo grau de jurisdição: DIREITO CIVIL. RECURSO DE AGRAVO CONTRA DECISÃO TERMINATIVA MONOCRÁTICA PROFERIDA EM APELAÇÃO CÍVEL. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO E À AMPLA DEFESA. SEGURO DE VEÍCULO. PRESCRIÇÃO ÂNUA. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1- Trata-se de Recurso de Agravo interposto contra decisão terminativa monocrática lavrada nos autos de Apelação Cível, a qual teve seu seguimento negado, por ser manifestamente improcedente. 2- A parte recorrente destaca que a utilização do art. 557 do CPC pelo Relator, para negar seguimento monocraticamente ao recurso de apelação interposto, fere seu direito de ampla defesa, bem como um dos fundamentos do princípio do duplo grau dejurisdição, qual seja: a apreciação da matéria por um órgão colegiado. 3- Não há qualquer ofensa aos princípios acima referidos a realização do julgamento monocrático dos recursos pelo Relator, desde que, obviamente, o caso esteja adequado às hipóteses elencadas no CPC ou no Regimento Interno. A ampla defesa foi garantida, posto que a recorrente apresentou seu recurso de apelação e este recurso foi julgado pelo Tribunal, representado pela figura do Relator do recurso. Por outro lado, também não houve prejuízo quanto ao duplo grau de jurisdição, afinal, a ideia do princípio é de que a matéria seja novamente avaliada, o que de fato aconteceu. 4- No caso em apreço, a recorrente/autora ajuizou ação contra a seguradora de seu veículo para a percepção de indenização pela ocorrência de sinistro. A negativa da Seguradora ocorreu em fevereiro de 2008, e a Srª Ana da 30 Rocha Abdala somente propôs esta ação em 2010, ou seja, dois anos depois do fato. O Código Civil prevê um prazo prescricional de 01 (um) ano para a propositura da ação de indenização fundada em contrato de seguro. 5- Recurso de Agravo não provido à unanimidade. 31 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO O direito processual civil, inserido no âmbito do direito público, refere-se ao conjunto de normas jurídicas que regulamentam a jurisdição, a ação e o processo, como forma de eliminar conflitos de interesses de natureza não penal e não especial. Apresentam-se como fontes do direito processual civil a lei (fonte primária), os costumes, a doutrina e a jurisprudência, servindo de referência à edificação de normas jurídicas e como subsídio para o julgamento das ações judiciais (MONTENEGRO FILHO, 2008). Os princípios se apresentam como vigas do ordenamento jurídico, garantindo que as normas legais sejam editadas com a sua observância, e que o magistrado deles não se afaste no momento do julgamento das ações judiciais (MONTENEGRO FILHO, 2008). Elencou-se, neste trabalho, dez princípios, entendidos com tendo como base fundamental a Constituição Federal de 1988, os quais permeavam a maior parte da literatura consultada. São eles, os princípios da inafastabilidade da jurisdição, do juiz natural, do contraditório e da ampla defesa, da inadmissibilidade de provas ilícitas, da publicidade, da fundamentação das decisões, da lealdade processual, da isonomia ou igualdade, da celeridade processual e do duplo grau de jurisdição. Principio da inafastabilidade de jurisdição garante o livre acesso à justiça. É também conhecido como o direito constitucional de ação, de maneira que tal princípio é visto como uma garantia fundamental e um direito básico. O principio do juiz natural garante que as partes sejam julgadas pelo representante do poder (geralmente do Judiciário) investido da prerrogativa de pôr fim ao conflito de interesses, evitando a figura do juízo ou do tribunal de exceção. O princípio do contraditório e da ampla defesa garante às partes o direito de produzirem as provas necessárias à instrução do processo, de interpor recursos contra decisões judiciais, de se manifestar sobre documentos atados aos atos, etc. O principio da inadmissibilidade de provas ilícitas garante que são inadmissíveis no processo tanto as provas ilegítimas, proibidas pelas normas de direito processual, como as provas ilícitas, colhidas com violação às normas de direito material. As provas ilícitas não podem ser utilizadas no ordenamento jurídico brasileiro, salvo as exceções atribuídas pela doutrina e pela jurisprudência. 32 Pelo princípio da publicidade do processo e dos atos processuais, garante-se às partes e aos seus advogados o amplo acesso a todos os documentos dos atos, às salas de audiência, sofrendo as ressalvas e as mitigações previstas no CPC, as quais foram ditadas em observância do interesse público. O princípio da motivação impõe ao magistrado o dever de fundamentar todas as decisões judiciais, mesmo que de forma concisa (no caso das terminativas), sob pena de nulidade, apresentando-se como matéria de ordem pública, sobrepondo-se ao interesse meramente particular das partes em litígio. O principio do devido processo legal ou da lealdade processual se apresenta como um supra princípio, englobando todos os demais, de modo que a infração a qualquer deles impõe, necessariamente, a infração ao principio do devido processo legal. O princípio da isonomia garante tratamento paritário às partes em litígio, assegurando, que partes desiguais sejam tratadas de forma desigual. Pelo princípio celeridade ou da razoável duração do processo, assentando de forma idealista, os protagonistas do embate devem qualificar o processo como meio, não como fim, evitando a prática de atos exageradamente burocratizados procrastinatórios, exigindo-se originalidade do operador do direito. O princípio do duplo grau de jurisdição garante o direito de recurso para reavaliação da decisão por tribunal superior, principio este indiretamente entendido como constitucional com base na competência recursal estabelecida na Constituição Federal. 33 5 CONCLUSÃO O objetivo geral do trabalho foi à produção de um texto objetivo, conciso e claro, destinado aos estudantes iniciantes no campo do direito sobre os princípios constitucionais do processo civil. A metodologia empregada foi a pesquisa bibliográfica onde se buscou textos de linguagem clara, objetiva e organizada e procurou-se organizá-los numa sequência lógica. Procurou-se fugir do “juridiquês” e a literatura básica, que foram os principais livros texto utilizados por estudantes do curso de direito, foi complementada e atualizada com pesquisa de textos atuais em sítios confiáveis da internet. Assim, neste trabalho foram descritos sucintamente os princípios constitucionais do processo civil e foi apresentada a sua correlação direta e indireta com as disposições da Constituição Federal de 2008. As disposições (artigos) da legislação citada, para maior clareza, foram extraídas do texto legal e reproduzidas na forma de notas de rodapé, de forma que, o leitor, terá facilitada a compreensão do texto e poderá, rapidamente, fazer a leitura da norma legal “in verbis”. 34 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Presidência da República: Casa Civil. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm. Acesso em 29 set 2015. BRASIL. Novo Código de Processo Civil. Lei 13.105/2015. Presidência da República: Casa Civil. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- 2018/2015/Lei/L13105.htm CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1988. Reimpressão em 2002. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo 20ª edição, São Paulo, Atlas, 2007. GUERRA, Guilherme Aires. A inadmissibilidade das provas obtidas por meio ilícito, em conflito com outros direitos fundamentais e o princípio da proporcionalidade. Disponível em http://www.ambito- juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11479. Acesso em 15 nov 2015. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 19 Ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. LOUREIRA, Ed Cesar. O princípio do juiz natural. Disponível em http://www.coladaweb.com/direito/principio-do-juiz-natural. Acesso em 15 nov 2015. MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 31 Ed. São Paulo: Editora Atlas, 2015. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. O conteúdo jurídico do Princípio da Igualdade. 3ª Ed. 22ª tiragem. São Paulo: Editora Malheiros, 2013. MESQUITA, Maíra de Carvalho Pereira. Do princípio da inafastabilidade da jurisdição. Disponível em Jus Navigandi http://jus.com.br/artigos/24807/do-principio- da-inafastabilidade-da-jurisdicao#ixzz3oTNMDUsT. Acesso em 06 nov 2015. MIRANDA, Dannúbia Cutrim. O princípio da isonomia no processo civil. Disponível em http://jus.com.br/artigos/24807/do-principio-da-inafastabilidade-da- jurisdicao. Acesso em 15 nov 2015. MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: Teoria geral do processo e processo de conhecimento. 4 Ed. São Paulo: Editora Atlas, 2008. NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre; CÂMARA, Bernardo Ribeiro; SOARES, Carlos Henrique. Curso de direito processual civil: Fundamentação e aplicação. 2 Ed. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2013. 35 PINHO, Ruy Rebello. Instituições de Direito Público e Privado. São Paulo: Atlas, 2002. SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 29 Ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2012 . THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. Vol. 1. 56 Ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2015. VILAS-BÔAS, Renata Malta. Princípios constitucionais do Direito Processual Civil. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm >. Acesso em 29 set 2015. WAQUIM, Bruna Barbieri. Breve análise dos Princípios Constitucionais do Processo. Disponível em http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2124/Breve- analise-dos-Principios-Constitucionais-do-Processo. Acesso em 28 set 2015.
Compartilhar