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PPllaanneejjaammeennttoo ddee EEnnssiinnoo Módulo I Parabéns por participar de um curso dos Cursos 24 Horas. Você está investindo no seu futuro! Esperamos que este seja o começo de um grande sucesso em sua carreira. Desejamos boa sorte e bom estudo! Em caso de dúvidas, contate-nos pelo site www.Cursos24Horas.com.br Atenciosamente Equipe Cursos 24 Horas Sumário Introdução..................................................................................................................... 3 Unidade 1 - Conceituação ............................................................................................. 4 1.1 - O que é planejamento educacional?....................................................................... 5 1.2 - Fases e etapas do planejamento ............................................................................. 9 1.3 - Recursos Didáticos ............................................................................................. 22 1.4 - Implementação e controle do planejamento......................................................... 31 Unidade 2 - Alicerçando o planejamento..................................................................... 36 2.1 - Instrumentos úteis ao planejamento..................................................................... 37 2.2 - Currículo Escolar ................................................................................................ 42 2.3 - Estruturação Didática da Aula............................................................................. 47 2.4 - Projeto Escolar - Projeto Político Pedagógico (PPP)............................................ 57 Conclusão do módulo.................................................................................................. 69 3 Introdução Prezado(a) Aluno(a), O planejamento já faz parte do dia a dia do professor, porém todo início de ano letivo o educador se sente angustiado e pressionado por essa etapa. Falar de planejamento nas escolas tornou-se um tabu, por diversos fatores históricos da educação brasileira. Por isso, o que proporemos neste curso é oferecer os instrumentos, metodologias e técnicas necessárias para a realização do planejamento de maneira prazerosa, eficaz para você professor, ou profissional da educação e, por conseguinte significativo para os alunos contribuindo para o aprendizado destes, permitindo assim o alcance de bons resultados. O curso aborda as questões docentes de maneira prática, didática, com uma linguagem clara e foi produzido com base em teorias pedagógicas, fundamentais para o exercício docente, permitindo um bom desenvolvimento do processo de ensino- aprendizagem. Esperamos que você aproveite ao máximo os ensinamentos deste curso, e que faça a diferença na vida de seus alunos, cooperando na formação de uma sociedade melhor, pois como disse o grande educador Paulo Freire “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco a sociedade muda”. Sucesso em sua carreira e bons estudos! 4 Unidade 1 - Conceituação Prezado(a) Aluno(a), Seja bem-vindo(a) ao Curso de Planejamento de Ensino, oferecido pelo Cursos 24 Horas! Nesta unidade iremos estudar os principais conceitos relacionados ao planejamento de ensino. Pretende-se desmistificar o planejamento, esclarecendo as principais dúvidas, partindo do contexto histórico que subsidia até os dias atuais o planejamento. Essa primeira parte compreende um conjunto mais abrangente, portanto fundamental para fortalecer, organizar e preparar esse início de planejamento. Isso primordial para um excelente ano letivo. Bons estudos! 5 1.1 - O que é planejamento educacional? O ato de planejar está no inconsciente de muitas pessoas ao planejarem suas atividades pedagógicas diárias. Algumas pessoas nem mesmo refletem ou tem intenção de planejar, mas acabam fazendo isso automaticamente, como uma forma de organizar melhor o seu dia a dia, seus gastos, seu tempo e sua rotina diária. Entretanto o ato de planejar não é um conceito entendido por todos. Os atos do ser humano sempre são em função de algo, podendo ser atos aleatórios ou atos planejados. Agir aleatoriamente significa "ir fazendo as coisas", sem ter clareza de onde se quer chegar, entretanto, agir de modo planejado significa definir metas e construir conscientemente um planejamento. Segundo a definição do dicionário Houaiss, planejar é elaborar um plano, projetar. Organizar um plano ou roteiro. Ter a intenção ou pretender algo. O planejamento nos ajuda a traçar metas de onde, como e o porquê de se alcançar determinados objetivos. O planejamento funciona como um facilitador, pois ajuda a alcançar metas preestabelecidas. Planejamento não é uma tarefa fácil, corresponde à arte de elaborar planos e saber como executá-los eficazmente. Trata-se de uma ferramenta necessária que requer uma gama de atividades, como análise, reflexão e previsão, coerência, sequência e flexibilidade, conhecimentos e competências etc. Essas atividades devem ser planejadas, antes da execução de um plano. Pretende-se estudá-las ao longo deste curso. Um planejamento pode ser necessário frente às novas situações ou como instrumento de mudança e melhoria. Acreditar nas mudanças, ter vontade de 6 crescimento e aceitar os erros. Quem não se planeja, não organiza suas ações e pode cometer erros e, não raramente, trilhar os mesmos caminhos permanecendo na mesma situação. No ensino não é diferente, o planejamento assume posição de destaque na atividade educacional. O planejamento é um transformador da realidade, é o grande desafio de qualquer educador. Dessa forma, no ensino, o planejamento é necessário para transformar a realidade que cerca o professor. O sistema educacional brasileiro pede por mudanças e por uma tomada de sérias atitudes diante da realidade. No ensino, planejar é prever os acontecimentos a serem trabalhados e organizar atividades voltadas para o ensino-aprendizagem. É rever as estratégias, incorporar novas metodologias e acompanhar as mudanças educacionais. Funciona também na superação de rotina e como um motivador tanto para quem ensina, pois sabe o que vai alcançar, qual direção tomar e também para quem aprende, pois consegue enxergar o propósito do que está aprendendo. Assim, entende-se, portanto, o planejamento como um processo de grande importância para alcançar um fim previsto. O planejamento, visto por essa óptica, parece algo perfeito, fácil e linear. Acontece que a teoria é fácil, mas a prática é muito difícil. Diante das vicissitudes diárias na vida de um educador, mesmo com um ótimo planejamento tudo pode desmoronar. O planejamento educacional exige diretrizes firmes, como se verá nesse curso. Existem alguns impedimentos que prejudicam a aplicação do planejamento de forma adequada. Os impedimentos mais comuns ocorrem quando o planejamento é desacreditado e quando é inadequado. 7 Quando o planejamento é desacreditado. Existe uma ambiguidade, uma ação contraditória na fala dos professores. Eles afirmam a importância do planejamento, mas não o executam. O planejamento escolar está em um âmbito da descrença. É preciso trabalhar com essa descrença, criando métodos de avaliação contínua que demonstrem os resultados alcançados com o planejamento. Essa avaliação nos motiva a manter oplanejamento como um instrumento fundamental para nortear a prática pedagógica. O planejamento do ensino deve ser feito com seriedade e não encarado como uma burocracia documental, feito apenas por mera formalidade, uma obrigação pedagógica, depois engavetada e esquecida. Por conseguinte, os planos não são postos em ação e os objetivos não alcançados. O planejamento não é o inimigo e sim um aliado, uma oportunidade de rever os erros e de melhorá-los. Essa não é uma arte exata, precisa ser adequada ao longo do processo educacional, requer prática e experiência. Quando planejamento é inadequado Por vezes, o planejamento é simplesmente inadequado, não por falta de esforço ou de conhecimentos da disciplina por parte dos professores. O professor planejou cuidadosamente suas aulas, os conteúdos mais relevantes da matéria que irá lecionar. Esses conteúdos foram incluídos ao currículo escolar e aprovados pela coordenação. Depois gastou-se bastante tempo, lendo vários livros e preparando cuidadosamente suas aulas. Parece que tudo vai funcionar perfeitamente, porém é comum, durante as aulas, o professor se deparar com situações adversas, notando que os seus alunos parecem 8 desmotivados, perdidos e, por consequência, desmotiva-se, desanima-se com o próprio planejamento. Na hora da avaliação, o professor pode notar o despreparo dos alunos, nesse momento corre-se o risco de desacreditar do planejamento. Então, o educador se questiona sobre o que houve de errado? Acredita ter feito tudo para dar certo! O primeiro pensamento é atribuir seu fracasso aos alunos. Neste caso, provavelmente o que ocorreu foi uma inadequação por falta de levantamento de informações e de pesquisas sobre as exigências atuais da sociedade. Pode ocorrer de o professor perceber ao longo do ano letivo que seu planejamento não está funcionando, mesmo com todo o esforço que foi empenhado. Nesse caso, o professor não conhecia algumas etapas importantes do planejamento. Contexto histórico A descrença, o desânimo e a inadequação têm uma base histórica. Essa situação começou na década de 70, com a teoria comportamentalista de Burrhus Frederic Skinner (Teórico comportamentalista). Essa teoria influenciou a educação da época. Era dado um foco maior nos conteúdos e na definição de objetivos. Por meio dessa tendência, o planejamento foi burocratizado, com uma papelada infinita e formulários, um otimismo excessivo permeava a escola. Os resultados foram decepcionantes para os educadores, pois havia muita documentação desnecessária. Os resultados não foram exatamente os previstos. Acreditava-se muito no saber enciclopédico e na memorização. O aluno, por sua vez, saía da escola despreparado para os desafios do mundo. Mudanças foram acontecendo ao longo dos anos. E na década de 80, essa visão comportamentalista foi dando lugar a outras linhas de pensamento. Neste momento, está 9 em voga a pedagogia Crítica dos Conteúdos, o planejamento foi abandonado em função do processo educacional. A burocracia dá lugar ao pensamento crítico e o planejamento é deixado de lado. Essa linha de pensamento tem o cotidiano e as experiências pessoais do aluno como base. Os saberes são construídos a partir da realidade do aluno. Valoriza-se a socialização e o aspecto cultural do ambiente escolar bem como o desenvolvimento das habilidades e competências do aluno. A educação passa a ser vista como um processo político-social e não apenas um local onde se acumulam os conhecimentos. Retomando: Skinner (1904-1990) afirmava que é possível modelar o indivíduo, através de estímulos e reforços adequados. Segundo ele, todo comportamento é determinado pelo ambiente. Ou seja, um professor pode definir os objetivos que pretende alcançar com seus alunos e oferecer-lhes os estímulos e recompensas à medida que os alunos avançam. Após este período o planejamento se apresenta, tal como conhecemos hoje: inadequado e desacreditado. Um assunto sobre o qual os professores não tratam nas reuniões pedagógicas. 1.2 - Fases e etapas do planejamento Como se vê, planejar é prever antecipadamente algo futuro. Para tanto é preciso conhecer o presente, a realidade atual. Esta funciona como um ponto de partida e vai revelar quais são nossas deficiências, quais são os objetivos ainda não alcançados e que almejamos alcançar. A função principal do planejamento 10 de ensino é realizar um trabalho transformador. O planejamento é o produto desse processo de reflexão e decisão. Ao elaborar um planejamento de ensino, é necessário decorrer de maneira organizada e antecipada, preparando as atividades que serão desenvolvidas ao longo do ano letivo. Esse planejamento deve se basear em fundamentos teóricos, métodos pedagógicos e, também, no sistema de organização e administração da escola. Existem algumas reflexões que devem preceder o planejamento. Essas reflexões auxiliam em sua construção. É preciso pensar para quem se direciona, o que se está planejando e para quê vão servir as suas ações. Seguem alguns exemplos para melhor entendimento: • O que se pretende fazer, o porquê e para quem? • Que objetivos pretende-se alcançar? • Que estratégias serão utilizadas para alcançar tais objetivos? • Quanto tempo será necessário para alcançar os objetivos? • Como avaliar se os resultados estão sendo alcançados? É a partir dessas indagações que se começa a esboçar o planejamento escolar. Veja um esquema da estrutura do processo de planejamento formulada por Vasconcellos. 11 PLANO DE ENSINO-APRENDIZAGEM. Análise da realidade Projeção da finalidade Formas de mediação Conhecimento Objetivo (para quê) Conteúdo (o que) da realidade Metodologia (como, onde) Recursos (com o que) Sujeitos (quem, para quem) Geral Objeto(o que/ disciplina) Especifico Contexto (onde, quando) Necessidade (porquê) Plano Realização Ação Pedagógica Interativa Análise do Processo Confronto Realização – Elaboração + Tomada de Decisão (como está evoluindo) Avaliação de Análise do Processo Conjunto e do Produto (Fonte: Vasconcellos, 1995) 12 Fase Diagnóstica Nessa fase inicial, o diagnóstico da turma com a qual irá se trabalhar deve ser detalhado. É preciso conhecer os elementos pedagógicos (que já foram trabalhados), compreender quais elementos psicológicos envolvidos (anseios e comportamentos próprios de cada idade), além de uma análise econômica, social, política e cultural (conhecer o contexto em que está inserido o aluno). É fundamental fazer um diagnóstico inicial, buscando dados que nos permitam caracterizara clientela. Porém, o diagnóstico não é apenas um retrato da realidade ou um levantamento de problemas, é um confronto entre o real e o desejável. Abaixo temos um esquema claro e representativo do diagnóstico escolar. SituaçãoComparação Objetivo Necessidades (Esquema de Diagnóstico, elaborado por Vasconcellos) O conhecimento da realidade do aluno vai subsidiar as práticas de ensino. Portanto, é necessário trabalhar em função da realidade do educando e não do professor. Por exemplo, o professor pode dizer que os alunos de terceiro ano são obrigados a saber produzir textos coerentes, quando a realidade não é essa, é errôneo partir do pressuposto de que o aluno deveria saber, e sim do que ele realmente sabe. Enxergar a individualidade de cada um é apenas o começo do caminho. Mas fazer esse diagnóstico não é só criticar, ver os defeitos. É preciso identificar 13 as dificuldades e os facilitadores. Para compreender a realidade deve-se, portanto, ir além das aparências, da descrição da realidade. A descrição da realidade não é o suficiente para o diagnóstico, embora seja necessária. Diagnosticar é identificar os problemas mais relevantes, ou seja, aqueles que efetivamente precisam ser resolvidos para a melhoria do ensino. Depois de coletar os dados, deve-se chegar a uma conclusão de quais objetivos são alcançáveis e viáveis e ainda, o que já foi alcançado. É preciso um esforço de reflexão crítica para distinguir necessidades reais e necessidades alienadas (entende-se por necessidades alienadas, aquelas que não correspondem ao interesse daquela comunidade, e sim ao interesse de grupos que procuram algum tipo de vantagem). Essa tarefa exige atenção, perspicácia e sistematização dos dados. A Elaboração do planejamento Depois de feito o diagnóstico, tem-se as condições necessárias para estabelecer os objetivos possíveis e mais adequados de serem alcançados. Inicia-se aqui, a parte ativa do planejamento que é elaboração do plano. Essa fase é um pouco mais longa. A seguir vamos detalhar alguns passos que o professor deve seguir. Definição dos objetivos Definir os objetivos é o primeiro passo na elaboração do planejamento. Nessa fase, é preciso determinar com clareza aquilo que se pretende atingir. Essa afirmação parece óbvia, mas na prática o que mais ocorre é a improvisação na sala de aula, pois muitos professores já dominam o 14 conteúdo e lecionam há muito tempo. É nessa hora que o professor se perde pela falta de organização e da definição dos objetivos, pode chegar o fim o semestre observar que ainda falta muito conteúdo a ser ensinado, mas não existe tempo hábil para tal. Essa definição nos dá uma prévia de quanto tempo levaremos pra alcançar os objetivos gerais impostos pelo sistema educacional. Nesse momento devem ser consideradas as finalidades da educação escolar na sociedade e na nossa escola, bem como o calendário e o horário escolar. Por exemplo: o professor deseja fazer um projeto de leitura com os alunos, para tanto deve levar em consideração quais são as habilidades a serem desenvolvidas nesse projeto, como articular com as atividades já previstas no currículo escolar e qual é a relevância para a formação do aluno. Os objetivos não podem ser feitos apenas pela perspectiva do professor, mas devem atender aos anseios daquela comunidade e as demandas atuais da sociedade. Como nosso sistema educacional é tradicionalista, esse fase pode ser mais difícil. Nossa sociedade também é tradicional, pode ser que as pessoas estranhem mudanças dentro da escola. Sem contar que, existem as exigências curriculares que cada disciplina deve compreender. De modo geral, sempre há espaço para que o professor faça o seu planejamento a partir das diretrizes escolares (que são feitas com base nos documentos oficiais) e enfatizar como abordar os conteúdos. O professor não deve ficar engessado pela filosofia institucional da escola. Nessa etapa, o professor pode e deve contar com a participação dos estudantes, envolvendo-os no processo. Faz-se um diagnóstico preliminar, compreendendo o aluno em sua individualidade, nada mais justo do que a participação ativa do educando no processo de aprendizagem. Na educação, tanto professor como o aluno são partes do 15 processo de ensino-aprendizagem. O professor deve escrever antes de cada aula, o roteiro, ou seja, o que será feito no dia. Essa rotina ajuda o professor e o aluno a se organizarem. Essa prática deve ser mantida como uma rotina para orientar o aluno sobre o processo de aprendizagem. A definição de objetivos antecipa os resultados esperados do trabalho do professor e do aluno. São os fins e os meios que orientam as tarefas para uma direção. Não há práticas educativas sem objetivos. Existem os objetivos que serão alcançados em longo prazo e em curto prazo. Os objetivos de longo prazo são os gerais, como o que se espera com o curso, ou quais competências os alunos terão adquirido ao final do semestre. Os objetivos de curto prazo são aqueles específicos definidos para cada aula. Os objetivos gerais definem as perspectivas da prática educativa da sociedade brasileira, e os propósitos do papel da escola diante da realidade social que serão convertidos em objetivos específicos de cada matéria de ensino, conforme os graus escolares e idades dos alunos. A definição clara dos objetivos determinará as exigências e resultados esperados, referentes aos conhecimentos e habilidades. Por exemplo, o aluno de 11 anos ao iniciar o 6º ano, deveria ser capaz de solucionar situações problemas x. Esse é um objetivo específico que está dentro dos objetivos gerais de que com essa idade é desejável que o aluno, tenha desenvolvido a capacidade de raciocínio lógico e seja capaz de interpretar textos. Sabe-se que, na maioria dos casos, o professor não participa diretamente dos objetivos gerais do sistema escolar, porém no nível escolar participa diretamente, pois o plano escolar é um trabalho coletivo, realizado nas reuniões pedagógicas. Participa mais diretamente ainda no plano de ensino, mesmo que organizado junto com os colegas (o que é sugerido), esse plano vai orientar sua rotina na sala de aula. 16 Os objetivos são construídos a partir de três diretrizes: • Valores e ideais políticos do sistema social. • Conteúdos básicos científicos. • As necessidades e expectativas da formação cultural. Essas diretrizes são interligadas e contraditórias, são contraditórias na medida em que os conteúdos estão em discordância com a realidade dos alunos. Também existe um interesse do sistema social que os alunos assimilem esses conteúdos, já que estes disseminam a ideologia de grupos dominantes. De certa forma, o professor na definição dos objetivos, com base nos documentos oficiais, deve se posicionar de forma crítica e identificar os objetivos de acordo com sua relevância social. Essa afirmação pode parecer muito radical, mas as ideologias e convicções do educador atingem diretamente os alunos, por isso a importância dessa posição crítica, porque os conteúdos transmitidos para os alunos, não podem ser os ideais particulares do professor, mas sim relevantes subsídios e condições para que os próprios alunos se tornem indivíduos críticos e autônomos. Objetivos gerais O professor deve conhecer e estudar os documentos oficiais (Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s ), pois os objetivos gerais estão vinculados às diretrizes nacionais, estaduais e municipais de ensino. Esses objetivos gerais auxiliam os professores na seleção dos objetivos específicos de ensino. Devem garantir a todas as crianças uma sólida preparação cultural e científica. Os objetivos gerais funcionam como ponto de partida para o planejamento de ensino e são definidos 17 por: • Documentos oficiais.• Escola que estabelece seus princípios e diretrizes para orientação do trabalho docente, determinados pelo consenso da coordenação e do corpo docente. • E usados pelo professor na aplicação da sua disciplina, como base para elaborar seu planejamento. Objetivos Específicos Tem caráter didático e pedagógico e expressam as expectativas do professor sobre o que deseja que seus alunos aprendam no processo de ensino. Existe uma estreita relação entre o objetivo, o conteúdo e a metodologia de ensino, pois os conteúdos são preparados a partir dos objetivos específicos e aplicados de acordo com a metodologia elegida pelo professor. Os objetivos específicos devem atender aos seguintes critérios: • Especificar os conhecimentos, habilidades fundamentais para sem usadas no futuro escolar e pessoal. • Seguir uma sequência lógica, de forma que os conhecimentos e habilidades estejam inter-relacionados. • Devem ser claros e compreensíveis aos alunos. • Estimulantes e com nível de dificuldade gradativo. • Estimar os resultados da aprendizagem. A seguir uma matéria que dá importantes dicas de como iniciar o planejamento, definindo os objetivos e também fala sobre importância da fase diagnóstica, que 18 falamos anteriormente. 19 Ponto de chegada: a definição do currículo Conhecer o que os alunos precisam saber (as chamadas expectativas de aprendizagem) facilita o alinhamento das atividades para o ano. Daniela Almeida O bom planejamento envolve toda a rede municipal ou estadual (na definição de objetivos comuns), a comunidade escolar (na definição das metas de cada instituição específica) e, claro, os professores (na definição de como os conteúdos serão trabalhados em sala de aula). Nesse momento, é fundamental ter em mente aonde se quer chegar - ou seja, explicitar as chamadas expectativas de aprendizagem para poder pensar nas melhores formas de trabalhar cada um dos conteúdos (leia nos quadros que acompanham esta reportagem um resumo do que se espera que os alunos saibam ao fim dos cinco primeiros anos, em Língua Portuguesa e Matemática, com base em documentos das secretarias de Educação do estado e do município de São Paulo). Infelizmente, ainda há poucas redes e escolas trabalhando com expectativas bem definidas. Mas é importante saber que elas nada mais são que a descrição dos conteúdos e das habilidades essenciais a desenvolver em cada disciplina. Além disso, devem mostrar como o domínio de cada conteúdo avança ao longo da escolaridade. Se no 1º ano o aluno precisa saber produzir um texto ditando-o ao professor, as metas para o ano seguinte devem prever qual o próximo passo desse aprendizado (produzir, por conta própria, reescritas de histórias conhecidas, por exemplo). Em Matemática, as crianças começam a ter contato com tabelas simples no 1º ano - para poder chegar ao 5º interpretando dados de representações com dupla entrada. E assim por diante, em cada disciplina. Na vida real, essa primeira etapa da definição de conteúdos se dá antes mesmo do início das aulas, quando são identificados os grandes temas a ensinar. Se você vai lecionar para a mesma série que no ano anterior, uma boa estratégia é olhar para trás e observar o que funcionou - e quais objetivos não puderam ser alcançados. Com base 20 nos registros (anotações no caderno, avaliações dos alunos etc.), é preciso avaliar: os conteúdos foram absorvidos pela turma? Consegui cumprir as metas? O que vou fazer diferente para que todas as crianças efetivamente aprendam o que é necessário? Depois da fase inicial de avaliação diagnóstica, o próximo passo é colocar as novas metas no papel. O que realmente importa é que esse material seja consultado e reavaliado por várias vezes ao longo do ano. O modelo mais tradicional é montar uma lista de conteúdos. Mas você pode construir uma tabela, com colunas dedicadas ao conteúdo, às estratégias de ensino, às ferramentas utilizadas (tipo de material didático) e aos objetivos a serem alcançados. "Infelizmente, esse exercício é muito menos comum do que deveria em nossas escolas", reforça Marta Nornberg, do curso de Pedagogia do Centro Universitário La Salle, em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre. "Ainda somos, enquanto professores, profissionais que pouco registram o que projetam realizar. Daí a necessidade de articular uma construção definindo o que se quer (aonde chegar), como fazer isso, o conjunto de estratégias de ensino, por quanto tempo usar cada uma delas e com que profundidade trabalhar os conteúdos" (leia aqui uma reportagem sobre as formas de organizar as aulas). Marta sugere destrinchar os conteúdos numa grade semanal, variando tanto as atividades de sala de aula como os tipos de lição de casa. Outra sugestão da especialista é fazer com que a tarefa puxe o assunto do dia seguinte de forma a amarrar a continuidade do planejamento. "Cada professor deveria cultivar um diário", afirma Marta. "Ao fim da aula, é enriquecedor o processo de registrar o que foi vivido em sala. E o ideal é relatar em detalhes o desenvolvimento das tarefas, a participação dos alunos, suas próprias reações etc. Só assim é possível refletir sobre o que foi feito." À primeira vista, a tarefa pode parecer simples, mas definir os conteúdos curriculares com base nas expectativas de aprendizagem para o ano letivo exige respeitar a sequência dos objetos de ensino. Além disso, é fundamental dominar as didáticas desses conteúdos para conhecer o percurso da turma e, sobretudo, conseguir 21 avaliar os problemas pelos quais os alunos estão passando. Só assim é possível propor exercícios e planos de aula que façam todos avançarem. Tudo isso sem deixar de lado as características próprias das crianças. "Não podemos esquecer que cada uma é um sujeito, com origem social, cultural e histórica peculiar. Por isso, é bom levantar o máximo de informações sobre a turma antes de dar início ao processo", afirma Marta Marandino, professora de Metodologia do Ensino da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Todo ano, a professora Andrea Maciel usa os primeiros dias de aula para fazer um diagnóstico da turma de 4º ano na EMEF João Belchior Marques Goulart, em São Leopoldo, na Grande Porto Alegre. "As atividades servem para descobrir a partir de que ponto devo continuar desenvolvendo os conteúdos. Uso essa informação para montar o planejamento, levando em consideração as metas preestabelecidas." Conversar com os colegas para conhecer melhor os alunos é outra iniciativa positiva. "Aqui, na escola, temos um combinado: se alguém percebe que algo não progride, buscamos apoio nos outros professores e na coordenação. Às vezes, eu estou fazendo coisas que são óbvias para mim, mas para os estudantes não. E só alguém de fora consegue identificar essa falha no processo de ensino." Esse espaço para a realização do planejamento coletivo, por disciplina ou por série, está se tornando cada vez mais comum em escolas, pois proporciona a troca de experiências e aumenta o repertório de boas práticas: quais estratégias de ensino funcionaram para tal conteúdo? Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/planejamento-e-avaliacao/planejamento/definicao- curriculo-427818.shtml 22 1.3 - Recursos Didáticos Vivemos em uma era de transformações, o mundo tem mudado constantemente e com uma incrível velocidade, muitas vezes, educação permanece inalterada, resistente às mudanças. A escola continua a infundir conhecimentos aos montes, o professor, por sua vez, ainda é tido como o detentor do saber no processo de ensino-aprendizagem, diferentemente daconcepção atual, em que o aluno deve ser o protagonista do processo. Os recursos didáticos aparecem como uma ferramenta fundamental para auxiliar a escola e o professor a participarem dessas mudanças, pois estimulam o estudante a construir seus conhecimentos a partir dos sentidos e da experimentação. Encontram-nos em uma época em que, cada vez mais, os jovens usam a tecnologias em seu dia a dia, várias escolas já dispõem desses recursos, é função do professor selecionar e definir o mais apropriado para cada objetivo. O professor que não possui muitos conhecimentos, precisa se atualizar, pois conhecer os recursos tecnológicos é uma exigência de mercado, bem como de nossa sociedade. Falar sobre recursos pode parecer óbvio, seus ganhos são inegáveis, mas a realidade do nosso sistema é outra. Uma grande parcela das nossas escolas não tem acesso a serviços básicos, quanto mais computadores e acesso a internet. Entretanto, os recursos didáticos não se resumem às tecnologias presentes. Os recursos são variados, porém pouco utilizados e conhecidos (como o retroprojetor), as novidades e mudanças trazidas pelos recursos didáticos na sala de aula, podem ser muito eficientes no processo de aprendizagem. Até uma simples mudança de ambiente pode ser um recurso, pois um ambiente agradável favorece o aprendizado. Afinal quem não gostaria de discutir o livro sob a sombra de uma árvore? Ou animar a turma com uma aula no laboratório de informática. 23 É preciso ter em mente qual é a clientela de educando e aonde se quer chegar, para tanto, é necessário que se avalie os meios necessários para alcançar aquilo a que se almeja. Dentre esses meios, estão os recursos didáticos que o professor utiliza em sala de aula para ajudar a alcançar os objetivos que almeja no ensino de algum conteúdo. De nada adianta querer apresentar aos alunos algumas obras de arte de um determinado artista, se a escola não possuir um projetor ou livros com as imagens; ou planejar uma aula com o uso de calculadoras e não ter uma quantidade suficiente para todos os alunos da classe. Esses recursos didáticos servem de instrumentos complementares que auxiliam na aprendizagem aula e contribuem para o desenvolvimento da criatividade do aluno, deixando a aula dinâmica. Objetivos dos recursos: Quando os usamos de maneira adequada, os recursos de ensino colaboram para: 1- Motivar e despertar o interesse dos participantes; 2- Favorecer o desenvolvimento da capacidade de observação; 3- Aproximar o participante da realidade; 4- Visualizar ou concretizar os conteúdos da aprendizagem; 5- Oferecer informações e dados; 6- Permitir a fixação da aprendizagem; 7- Ilustrar noções mais abstratas; 8- Desenvolver a experimentação concreta. Tipos de recursos 24 Os recursos mais utilizados nas escolas são os recursos de áudio (rádio e verbal), recursos visuais (retroprojetor, cartazes, lousas, figuras, slides), recursos audiovisuais: (televisão), recursos multimídia (computadores), muito embora algumas delas não possuam nem lousa. Esses são apenas uns poucos exemplos, pois há uma variedade de recursos pedagógicos que são igualmente funcionais, como jogos, flash-cards, mapas, gráficos, brincadeiras, simulações (teatros), execução de uma receita culinária, passeios em grupo etc. Enfim, há uma infinidade de recursos que podem ser utilizados pedagogicamente. Na educação, considera-se os recursos audiovisuais essenciais, pois o acesso a essa forma de linguagem é intensa, prende a atenção dos alunos e ajuda na formação do educando. Esse tipo de recurso é muito utilizado, pois se trata de uma ferramenta poderosa no ato educativo, permitindo a inserção do aluno em um mundo multifacetado de cores, sons, gráficos, informações. Essa tecnologia permite uma experiência multissensorial. Contudo, o professor deve contextualizar a utilização de recursos em sala de aula com a disciplina, para não tornar a atividade vazia e sem sentido (qual é função de passar um filme que não tenha ligação alguma com a sala de aula?). Não utilizar essa prática serve para reforçar um ensino descontextualizado e fragmentado, causando o insucesso na prática educativa. É necessário além de tudo, metodologia de trabalho e projeto pedagógico, nesse caso, o uso dos recursos se mostrará válido. Existem algumas pesquisas desenvolvidas pelo professor Edgar Dale (1900- 1985), são internacionalmente conhecidas e tratam do impacto dos recursos didáticos na aprendizagem. O mais famoso conceito desenvolvido por Dale nessas pesquisas foi o Cone do aprendizado, é também chamado de cone da experiência, pois demonstra como esses recursos se relacionam com a aprendizagem. Vejamos o cone: 25 Fonte: http://www.forumconcurseiros.com/forum/showthread.php?t=309387 Essa pesquisa mostra o grau de abstração de cada atividade. Como trazer os conhecimentos do abstrato ao concreto através dos recursos didáticos. É surpreendente o quanto os recursos podem ajudar no processo de aprendizagem do aluno. Atenção: Antes de utilizar algum recurso didático, observe os seguintes quesitos: • Saber se o local permite ou possibilita o uso do recurso escolhido; • Só escolher a técnica ou recurso se tiver absoluto domínio dos mesmos; • Sempre levar em conta o tempo que um determinado recurso vai exigir para ser aplicado; 26 • Na confecção de cartazes, transparências, slides, não poluir com informações em excesso, cores muito fortes ou imagens em demasia; • Os escritos são apenas as principais ideias que devem ser memorizadas, nada de textos longos e cansativos; • Escolher as principais ideias, para que a elaboração do material esteja a serviço dos seus objetivos. Seleção das Estratégias de Ensino As estratégias de ensino são conjuntos de ações (sequências de atividades) que o professor vai executar. Estratégia é uma ação organizada e coordenada para um fim bem definido. Elaborá-la exige conhecimento do terreno no qual a ação se desenvolverá. Executar estratégias de ensino é o processo pelo qual o professor se mobilizará para executar o planejamento, e sua principal característica é a flexibilidade, com o intuito de fazer os ajustes necessários ao longo do planejamento. O professor deve se preocupar em manter um diário para anotar quais estratégias foram melhores aceitas, quais as reações e opiniões dos alunos, para que possa analisar e utilizar essas informações em outras fases do processo de ensino-aprendizagem. Nessa etapa, devemos apenas tentar levantar rotas possíveis, sem nos preocuparmos muito em escolher uma ou outra. Com ajuda dos recursos, é possível criar rotas alternativas e originais para alcançar os objetivos - aqui a palavra rota, quer dizer, encontrar outras maneiras de fazer uma mesma coisa. Por exemplo, se o professor não conseguir explicar um conceito para a classe pode usar um vídeo ou figuras. 27 As estratégias usadas para o ensino devem ser maleáveis e passíveis de mudanças a qualquer instante, ou adaptadas para outro contexto distinto, porque o que pode dar certo para uma sala, pode não dar certo com outra. Nesse ponto, deve-se permitir alternativas, pois alguma das alternativas funcionará. Assim o educador não se prende, caso ocorra algum imprevisto que não o permita prosseguir com a estratégia escolhida. Veja abaixo uma matéria da revista Nova Escola, que exemplifica, de maneira clara, como traçar uma estratégia de ensino: Estratégias eficientes para ensinar o conceito de ângulo Usar a ideia de giro para entender o que significam medidas como 90º ou 180º ajuda acompreender o conceito de ângulo e dar sentido a ele. Ao examinar o currículo previsto para sua turma de 5º ano, a professora Andréia Betina Legatsky Klitzke se surpreendeu com uma recomendação no bloco Espaço e Forma: o documento indicava que os alunos deveriam aprender a usar o transferidor para medir ângulos assim que o conteúdo fosse iniciado. "Isso me preocupou", conta ela. "Utilizar o instrumento sem antes compreender o que é ângulo poderia tornar a atividade mecânica e sem sentido." Começava ali uma investigação para tratar o assunto de uma forma que fosse mais significativa e que gerasse, realmente, o aprendizado nessa área. Um caminho surgiu no próprio pátio da EM Professora Karin Barkemeyer, em Joinville, a 186 quilômetros de Florianópolis. Durante os intervalos, os meninos se divertiam no skate fazendo uma manobra chamada "zerinho" - nada mais do que um rodopio de 360º, executado em etapas ou de uma vez só pelos mais habilidosos. Como ainda faltavam alguns meses para tratar do tema, Andréia teve tempo de fazer um planejamento mais adequado. Agregando conhecimentos aprendidos num recém- terminado curso de capacitação em geometria, ela concebeu uma sequência didática completa (leia o quadro abaixo), que apresentava a garotada à noção de ângulo como giro. 28 Os resultados foram tão bons que renderam à Andréia o troféu de Educadora Nota 10 do Prêmio Victor Civita de 2009. "Foi um projeto muito bem construído, da abordagem inicial à avaliação", explica Priscila Monteiro, formadora do Instituto Avisa Lá e selecionadora do Prêmio. "Um dos maiores méritos foi a variedade de atividades, algo especialmente importante numa turma como a dela, em que havia dois alunos com deficiência intelectual." Trata-se de uma providência essencial para contemplar a heterogeneidade que toda classe possui e colaborar para que, de uma forma ou de outra, todos aprendam. No grupo de Andréia, o avanço superou as expectativas para a faixa etária. No fim da sequência, a garotada era capaz de estimar medidas tão sofisticadas como 22,5º. Objetivo Andréia queria superar a abordagem clássica (e, por vezes, pouco produtiva) sobre ângulos, centrada em definições e fórmulas. O ponto de partida foi levar a turma do 5º ano a perceber como os diversos tipos de giro realizados pelo corpo estavam relacionados aos ângulos e poderiam ser medidos em grau. Com base nisso, o projeto previa ainda explorar a noção em polígonos, estimar aberturas e, no fim, discutir sobre a importância do ângulo para diversas profissões, de engenheiro a mecânico, de marceneiro a arquiteto. Passo a passo. A primeira etapa, essencial, foi sondar o que a classe sabia sobre ângulos. A palavra era conhecida ("No futebol, quando o chute é no alto, no canto, é gol no ângulo", disse um aluno), mas o conceito, não. A associação com os giros esclareceu dúvidas e abriu caminhos para atividades de direcionamento por uso de coordenadas ("gire 180º", "vire 90º") e em malha quadriculada (em que era preciso seguir instruções escritas para traçar o rumo certo). O passo seguinte foi a confecção do medidor de ângulos. E, com ele, o aprofundamento: a turma passou a estimar medidas em objetos do cotidiano e em polígonos, superando as expectativas de aprendizagem para o ano. 29 Avaliação O instrumento privilegiado por Andréia foram os portfólios. Construídos em parceria com os alunos, continham exercícios de sala, lições de casa, autoavaliações e provas. Em diversas questões, além da resolução numérica, ela pedia a descrição do raciocínio empregado. "Sempre digo: 'Quero saber como você pensou'. A argumentação ajuda a organizar o pensamento, auxilia na defesa de opiniões e incentiva o trabalho de autocorreção. Na Matemática, a linguagem também tem um papel fundamental", defende ela. No 5º e no 6º ano, o estudo do ângulo é a chave para que a turma possa trabalhar diversos temas: semelhança de figuras, congruência de triângulos, construção de polígonos regulares etc. Entre as ideias que podem ser associadas ao conceito estão as de inclinação, abertura, direção e rotação - a escolhida por Andréia para começar o trabalho. Quando se muda de direção ao andar, por exemplo, pode-se estabelecer uma relação entre o giro e o ângulo e estabelecer a volta completa como ponto de partida, o mesmo que 360º. Tendo esse número como base, é possível levar a turma a pensar em outras equivalências simples: a meia volta, como 180º, e um quarto de volta, como 90º. Para os alunos testarem a validade da nova noção, vale organizar uma atividade de elaboração de comandos de deslocamento, em que um orienta o outro a chegar até determinado ponto com ordens que envolvam ângulos, como: "gire 90º à direita", "dê uma volta de 180º" e assim por diante. Não é uma missão trivial: o estudante relembra a equivalência giro-ângulo e precisa considerar que o que é direita e esquerda para ele não vale para o colega - conforme a posição que cada um ocupa. Como complemento, que tal preparar uma tarefa semelhante em papel quadriculado? Além de reforçar o conceito, lida-se com a passagem do espaço tridimensional (a sala ou o pátio) para a representação bidimensional (o papel), algo fundamental em Matemática. Cumprida essa etapa, já se pode tratar de ângulos menores que 90º, porta de entrada para estimar medidas de amplitude em polígonos. Hora de usar transferidor e esquadro? Não necessariamente. Ainda se apropriando da relação ângulo-rotação, peça que os estudantes cortem um pequeno círculo de papel. Mostre que ele representa um 30 giro completo - 360º, portanto. Convide-os a dobrá-lo ao meio. Notaram a semelhança com o meio giro, 180º? Mais uma dobra e chegamos aos 90º. Se seguirmos dobrando, teremos 45º, 22,5º e assim por diante. Se for usada na exploração de triângulos, trapézios e quadrados (sejam eles figuras geométricas desenhadas em cadernos e livros ou objetos do cotidiano com tais formas), essa espécie de medidor é suficiente para saber se os ângulos são retos, maiores ou menores que 90º. Aí, sim, o transferidor pode ganhar espaço tanto na medida de aberturas como na construção de polígonos. Os alunos vão entender que ele cumpre a mesma função da peça simples que eles construíram. E que ângulo é muito mais do que "uma reunião de dois segmentos de reta orientados com base em um ponto comum", como reza a definição clássica. Inclusão exemplar A presença de um aluno com síndrome de Down e de outro com deficiência intelectual leve fez com que a Educadora Nota 10 buscasse estratégias para fazer uma inclusão de verdade. "Organizei a sequência com muitas atividades, prevendo que alguma ajudasse mais", explica. Deu certo: ao trabalhar com um jogo digital em que era preciso movimentar um personagem por um labirinto, Andréia sentiu que a dupla de fato começou a entender a equivalência entre giro e ângulo. "Aquilo que para a turma foi só reforço, para os dois foi o mais significativo", conta. A flexibilização teve seu ponto alto nas avaliações. Ela preparou dois modelos distintos de prova, com adaptações. Por exemplo: enquanto a turma descrevia um percurso com instruções que usassem ângulos ("gire 90º à direita, 45º à direita" etc.), a dupla traçava o trajeto com base no que dizia a professora. "Ao conhecer as possibilidades de cada um, garantiu a aprendizagem de todos", diz Daniela Alonso, psicopedagoga especialista em inclusão e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/matematica/pratica pedagogica/estrategias-eficientes-para- ensinar-conceito-angulo-matematica-espaco-forma 545982.shtml?page=1 31 1.4 - Implementação e controle do planejamento Com base nas informações levantadasem outras fases, agora é hora da parte ativa do planejamento, que é implementação. Na execução de qualquer projeto, sempre haverá imprevistos. Às vezes, a reação dos alunos ou as circunstâncias do ambiente modificam as estratégias que foram planejadas, pois, por mais bem feito que tenha sido o planejamento, na fase de implementação, modificações podem ser necessárias. A fase de ação é uma tarefa complexa, pois consiste em tirar do papel o que foi planejado. Nem sempre é possível colocar em prática as estratégias elaboradas ou assegurar que elas serão eficazes. Com o plano terminado, na hora de por em prática, pode haver resistências por parte dos colegas, da coordenação e da escola, pois a implementação pode implicar várias mudanças, o que gera incertezas e conflitos. Por essas razões muitos planejamentos ficam apenas no papel. Geralmente, nas etapas anteriores, de diagnóstico, definição de objetivos, seleção de recursos e estratégias não existem muitos problemas, eles aparecem quando estas devem ser executadas na prática. Os principais obstáculos são: • Ausência de liderança e acompanhamento da coordenação escolar; • Falta de cultura de planejamento seja por parte dos outros professores ou por parte da instituição de ensino; • Inexistência de sistemas de informação que possibilitem a coleta e sistematização das informações; 32 • Incompreensão da importância do planejamento; • Questões hierárquicas ou pessoais, como disputa pelo poder; • Falta de comunicação entre as pessoas envolvidas no planejamento; • Falta de acompanhamento e controle da execução das ações planejadas. Controle do planejamento através de avaliações internas. É a fase na qual se levanta todos os pontos positivos, negativos e o quanto dos objetivos iniciais foi alcançado. Essa avaliação funciona como um tipo controle que vai orientar o educador a respeito da maneira como deve prosseguir. A avaliação é uma ferramenta crítica indissociável do planejamento, seja em sua fase de elaboração, na fase de implementação ou na fase de conclusão (final do ano letivo). Enquanto o planejamento define os objetivos que se pretende alcançar, a avaliação subsidia o plano, porque evidencia novas decisões. A avaliação e planejamento caminham no mesmo eixo. O professor avalia para planejar (afinal a fase diagnóstica é uma avaliação da realidade dos alunos), faz o planejamento e avalia a sua elaboração, executa o planejamento, avalia de novo. Enfim, o planejamento é um ciclo constante. A avaliação é uma crítica em relação ao planejamento, mas é mal interpretada e, não raro, usada como um instrumento acusatório, apontando responsáveis pelos fracassos. A real função da avaliação é motivar, mostrando onde o planejamento foi eficaz, ou seja, como ferramenta de reflexão e identificação das falhas. A avaliação só funciona se for encarada de maneira construtiva. Caso contrário, funcionará apenas para desmotivar, trazendo novamente o planejamento no âmbito das descrenças ou, se deixada de lado tornará todo o planejamento obsoleto. 33 Contribui também na própria produção do planejamento ou na sua readequação. Às vezes, pode acontecer de o projeto sofrer uma defasagem por diversos motivos já citados no início do curso, como inadequação de conteúdo, descontextualização – não atendendo às necessidades dos alunos –, ou mesmo por estar fora da realidade de determinada turma. Por isso a avaliação é necessária. Como se pode observar, a avaliação acompanha todo o processo de ensino- aprendizagem. Diferentemente do que se pensa em um primeiro instante, ao restringir a avaliação somente ao fim do bimestre, ela deve ser contínua no processo educacional. No início, a avaliação serve de base para o professor iniciar o planejamento, é como se fosse um diagnóstico inicial. A sua execução oferece dados que orientam os professores - questões como: Os objetivos estão sendo alcançados? Devem ser readequados? É preciso mudar a abordagem? O professor deve sempre estar atento durante o processo para perceber o que acontece com seus alunos. O ideal é que avaliação seja feita coletivamente para que seja analisado, juntamente com a coordenação e com os colegas do corpo docente, se os resultados estão sendo positivos e, se não, quais atitudes tomar para mudar essa situação. Como avaliar o planejamento. O esquema a seguir apresenta as principais ações para a realização da avaliação do planejamento. Áreas a avaliar. • Conteúdos adequados ao currículo escolar; • Reação e aceitação dos alunos; • Objetivos adequados à fase escolar; 34 • Resultados na aprendizagem. Definição dos instrumentos utilizados para a avaliação do planejamento. • Questionários de docentes; • Questionários para pais; • Questionários para alunos. Talvez, a maior importância da avaliação, seja o retorno do trabalho. Esse retorno é o que motiva os profissionais da educação. Não colher dados é um erro, os resultados funcionam como motivadores para ambos os lados, tanto para o professor que planejou quanto para o aluno, pois sentirão que seus esforços foram recompensados. Para ilustrar de maneira mais clara a relação do processo de avaliação com o planejamento, utilizaremos o ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act). O ciclo PDCA é uma sequência de ações que podem ser utilizadas para controlar algum processo. É uma ferramenta muita utilizada atualmente em empresas, na organização de projetos, mas também cabe no ambiente escolar para auxiliar a organização do planejamento e mostra a avaliação como processo contínuo. Seu nome deve-se a abreviatura de verbos em inglês: • Plan (Planejar): consiste em estabelecer metas e objetivos, bem como os métodos os quais serão utilizados para que sejam realizados; • Do (Executar, fazer): é a etapa de implementação de acordo com o que foi estabelecido anteriormente no planejamento; • Check (Verificar, checar): avaliar os dados e medir se os objetivos e metas foram alcançados da forma desejada; 35 • Act (Agir): definir quais as mudanças necessárias para garantir a melhoria contínua do projeto. Fonte: http://www.empresasedinheiro.com/wpcontent/uploads/2011/07/pdca_ferramenta- administrativa.jpg Como é possível observar, o ciclo PDCA não trata só da avaliação, mas mostra a maneira como ela se relaciona com o planejamento. Embora esse conceito seja difundido em empresas, o seu valor é explícito nos diversos tipos de planejamento. 36 Unidade 2 - Alicerçando o planejamento Olá, seja bem-vindo(a) à Unidade 2 do nosso curso de Planejamento de Ensino! Nesta unidade, serão abordados os principais instrumentos que auxiliam o professor na realização de um planejamento eficaz. Também compreenderemos qual é a importância do currículo escolar dentro do planejamento de ensino e como adequá-lo a sua classe, por meio da seleção de conteúdos relevantes para o seu aluno. Será aprendido como estruturar e organizar suas aulas, além de maneiras mais eficientes para a aplicação das disciplinas escolares. Igualmente estudaremos detalhadamente o Projeto Político Pedagógico, relacionando sua importância ao planejamento de ensino. Bom estudo! 37 2.1 - Instrumentos úteis ao planejamento Agora serão expostas algumas ferramentas úteis na prática pedagógica, tanto para o planejamento, como no processo de ensino-aprendizagem. Atualmente, um instrumento bastante utilizado são os mapas conceituais,que são grandes aliados do professor no processo de ensino, no planejamento e também do aluno no seu aprendizado. Os mapas conceituais são ferramentas gráficas semelhantes a diagramas, que indicam relações entre os conceitos ligando-os por palavras. São utilizados para auxiliar a ordenação e a hierarquização dos conteúdos de ensino. Os mapas conceituais foram criados por Joseph Novak, embasados nas teorias de David Ausubel de aprendizagem verbal significativa. Ausubel afirmava que a informação no cérebro humano se organiza hierarquicamente, lá os conceitos específicos são ligados por conceitos gerais, e as disciplinas aprendidas pelos alunos também se organizam da mesma forma: conceitos gerais no topo da estrutura, os quais se ramificam por conceitos mais específicos. Nessa teoria, Ausubel denominava de ancoragem a maneira de como o aluno constrói novos conhecimentos, baseados nas suas ideias cognitivas prévias. A estrutura cognitiva está sempre se reestruturando com a relação dos novos conhecimentos interagindo com os anteriores. Essa interação é a chamada aprendizagem significativa, porque a aprendizagem implica em modificações na estrutura cognitiva, ou seja, é um processo de amadurecimento. A ausência de significado nos conhecimentos gera apenas um aprendizado mecânico, onde os conceitos são acrescidos e decorados pelo aprendiz. Com o tempo, os 38 conceitos memorizados serão esquecidos. Na aprendizagem significativa, os novos conceitos se fixam através das estruturas cognitivas preexistentes. Nesta perspectiva, o indivíduo constrói seu conhecimento partindo de sua predisposição e individualidade, Novak criou os mapas conceituais. Estes mapas servem para tornar significativa a aprendizagem do aluno, estabelecendo uma ligação entre o conhecimento sistematizado do currículo escolar conteúdo com os conceitos relevantes que ele já possui. Exemplos de mapas conceituais: Fonte: http://labspace.open.ac.uk/mod/resource/view.php?id=365568 39 Fonte: http://projetodeaprendizagem.pbworks.com/w/page/19250025/Mapas%20Conceituais%205 Observe, por meio dos esboços acima, como os mapas podem ser diferentes uns dos outros, não existe um modelo certo, pois os mapas são representações pessoais. Só o próprio autor consegue explicar o significado que atribui aos conceitos. Eles devem partir de um ponto em comum, com o conceito principal no topo, os conceitos específicos ligados por linhas e palavras nas linhas para indicar as relações. Os mapas conceituais podem ser utilizados como: • Estratégias de estudo; • Estratégia para montar o currículo de uma disciplina; • Instrumento de avaliação de aprendizagem escolar; • Pesquisa e levantamentos educacionais; • Planejamentos em geral. 40 Como uma ferramenta de aprendizagem, para o aluno: • Fazer anotações; • Resolver problemas; • Planejar o estudo e/ou a redação de grandes relatórios; • Preparar-se para avaliações; • Identificar a integração dos tópicos. Para os professores, em suas diversas atividades rotineiras, como: • Tornar claros os conceitos difíceis, sistematizando-os; • Destacar as ideias principais; • Reforçar a compreensão e aprendizagem por parte dos alunos; • Permitir ao aluno uma visualização resumida dos conceitos chave; • Verificar a aprendizagem e identificar conceitos mal compreendidos pelos alunos; • Auxiliar os professores na avaliação do processo de ensino; • Possibilitar a identificação do alcance dos objetivos que foram definidos no planejamento. É importante ressaltar que, no planejamento de ensino, os mapas conceituais são muito vantajosos, pois toda disciplina possui um estrutura organizada e hierárquica, nas 41 quais os conceitos gerais e específicos se envolvem, e o mapa conceitual é uma representação dessa estrutura. Ao fazer o mapa conceitual de uma disciplina, ficará claro como abordar os assuntos e em qual ordem. Dentro dessa perspectiva, o mapa conceitual deve ser construído pelo professor antes de iniciar qualquer atividade de planejamento. Sondagem A sondagem é muito útil na fase de inicial do planejamento, é um dos instrumentos que o professor utiliza para avaliação dos conhecimentos dos alunos ao iniciar um curso. Normalmente, quando se fala em sondagem, imagina-se logo uma prova com conteúdos escolares, mas a sondagem não se resume às provas. Existem vários instrumentos de sondagem, como os mapas conceituais - mencionado anteriormente-, entrevistas, testes de associação, redações etc. A sondagem deve ser encarada como um ponto de partida do ensino, mais especificamente do planejamento, e não como um papel preenchido pelos alunos a ser entregue para a coordenação, ou para rotular o aluno como aluno atrasado ou aluno adiantado. A sondagem tem a função de ajudar o professor a fazer o planejamento do ensino. Como instrumento de verificação, a sondagem traz inúmeros elementos para o professor, como: qual o estado dos alunos neste momento, que conceitos devem ser trabalhados primeiro, qual a melhor forma de desenvolver esses conteúdos e quais devem ser desenvolvidos ao longo dos anos. Não é raro o professor planejar e ensinar uma matéria vendo que seu aluno não sabe os conceitos básicos, por exemplo, o professor vai ensinar multiplicação e depois descobre que seu aluno ainda não conhece a adição. 42 O Professor deve sempre se lembrar, que o aluno está na escola para ser ensinado. A sondagem analisa as deficiências atuais e promove estratégias para a superação dessas deficiências. As informações institucionais e as fornecidas pelos alunos Essas informações costumam ser relegadas pelos professores ao fazer o planejamento do ensino, como se essas informações nada tivessem a ver com o processo de ensino-aprendizagem. São informações fáceis de serem coletadas, pois quando o aluno é matriculado em uma escola, são fornecidas várias informações, como escolaridade dos pais, onde moram, por quais escolas os alunos passaram, desempenho escolar do aluno em anos anteriores etc. Por exemplo, ao se deparar com uma classe, onde a maioria tem um histórico de reprovações, o professor deve preparar um planejamento diferente do que se fosse uma classe onde os alunos nunca foram reprovados. Os próprios alunos trazem informações, principalmente sobre os adultos, além da visão que eles têm sobre a escola, bem como as suas aspirações profissionais, o que esperam do curso, suas expectativas etc. 2.2 - Currículo Escolar Em todo o processo educacional, as atividades são programadas e elaboradas em função das atividades que serão realizadas em sala de aula. Ao conjunto dessas atividades, damos o nome de currículo. O termo currículo se refere a um controle do 43 ensino e da aprendizagem, ou seja, à atividade prática da escola, o currículo promove a organização dos conteúdos, facilitando a sua aplicação pedagógica. O currículo não pode ser pensado apenas como um rol de conteúdos a serem passados ao aluno, e sim como aquisição de habilidades. Instruir alguém não é ensiná-lo a armazenar informações, mas sim ensiná-lo a participar do processo de obtenção de conhecimento. Ensinar é fazer o aluno pensar por si mesmo, evoluindo cognitivamente de modo progressivo. Para organizar o currículo, é preciso fazer uma relação entre o conhecimento que deve ser trabalhado em sala de aula e a realidade, embora no Brasil, o academicismo seja a forma mais comum de organizar o currículo escolar. O academicismo se refere àmaneira de estruturar o currículo em prol de conteúdos programáticos que devem ser cumpridos. Dessa forma, o conteúdo passa a ser mais importante do que as competências a serem desenvolvidas em sala de aula, assim, temos uma concepção de enciclopedismo, como se o conhecimento bibliográfico, isto é, decorado, fosse o essencial, mesmo que não se saiba como colocá-lo em prática. Entretanto, há uma tendência que busca fazer essa relação entre o conhecimento e a realidade. Essa tendência coloca a realidade como ponto de partida, ou seja, a partir da reflexão da realidade, organizam-se os temas que necessitam ser discutidos. Na hora de definir o currículo escolar e quais são os conteúdos mais relevantes, deve-se pensar em três elementos - a matéria, o professor e o aluno. Esses três elementos se interagem de maneira mútua, isto é, a matéria deve conter elementos da vivência dos alunos, de modo que eles possam assimilá-los conscientemente. O professor, por sua vez, é o mediador desse processo e o aluno, quem será beneficiado com o aprendizado. O que se procura explicar nesse sentido é a importância da participação ativa do aluno. 44 Evidentemente, ao se trabalhar a partir da realidade, o objeto de estudo se contextualiza com o sujeito. Encontramos nessa atual tendência, uma forma mais concreta para o aluno construir seus saberes, que rompe com o tradicionalismo escolar. Afinal o que são os conteúdos? Os conteúdos de ensino de uma disciplina se referem ao conjunto de conhecimentos e as informações necessárias e pertinentes à formação do aluno, de acordo com o nível escolar em que ele se encontra. Em geral os conteúdos de uma disciplina são selecionados com base em guia curriculares oficiais. Segundo José Carlos Libâneo, os conteúdos da cultura, da ciência, da técnica e da arte expressam os resultados das atividades práticas do homem com o mundo, bem como suas experiências com a natureza e também resultados de suas relações sociais, formando o saber científico. Com base nisso, podemos dizer que o conhecimento é fruto do trabalho humano. Percebe-se assim a estreita relação entre o sujeito (aluno) e a sua vivência. Como selecionar os conteúdos? Existem algumas questões que devem ser levantadas na hora de selecionar os conteúdos: • Quais os objetivos educacionais que a escola procurar atingir? 45 • Como organizar eficientemente essas experiências educacionais? • Que conteúdos os alunos deverão adquirir para ser tornarem aptos à vida social? • Como podemos ter certeza de que esses objetivos estão sendo alcançados? Para responder a essas questões, o professor deve tomar como diretriz os currículos oficias e os livros didáticos, ou seja, as estratégias e a seleção dos conteúdos são determinadas pelo professor. Visto que até chegar aqui o professor já percorreu várias etapas de planejamento, logo já possui toda a informação necessária para fazer essa seleção. Como foi dito, a organização do currículo escolar é uma das tarefas mais importantes no planejamento de ensino, pois ele é a base informativa e formativa escolar. Veja quais são as características que os conteúdos selecionados devem ter: Correspondência entre o mundo e os conteúdos. Os conteúdos devem expressar as funções pedagógicas e sociais da escola, promovendo uma formação cultural e científica para os seus alunos. A educação deve contribuir para a transformação da sociedade e os conteúdos devem preparar o aluno para participar ativamente do mundo, exercendo sua cidadania. Uma das principais funções da escola também é promover a interação social. A aplicação dos conteúdos por meio de atividades que promovam essa interação é bastante significativo. Basicamente, preparar o aluno para a vida é o principal critério de seleção de conteúdos. 46 Caráter Científico. Os conhecimentos que fazem parte do conteúdo devem refletir fatos, conceitos e ideias da ciência contemporânea. Os livros didáticos de certa forma cumprem esse papel, mas cabe a o professor destacar o essencial. Uma boa maneira de fazer isso, é conhecer a estrutura da matéria, isto é, sua base. Destacando o que é principal, o aluno tem condições de aprender sem ficar sobrecarregado. Sempre que possível, revise os conteúdos e avalie a aprendizagem dos seus alunos. Talvez em alguns momentos possa ser preciso retomar alguns assuntos ou aplicar uma maior quantidade de exercícios. Caráter Sistemático. Os conteúdos devem ter ligações entre si, e não serem genéricos e fragmentados. O ideal é que até as matérias sejam trabalhadas de maneira interdisciplinar. Nesse caso, um planejamento coletivo, elaborado de forma conjunta com todos os professores, é o mais adequado. Conhecimento Prático Este aspecto corresponde à ligação entre os conteúdos e sua aplicação prática. É apropriado incorporar situações concretas e práticas dos conhecimentos para que o aluno compreenda a distância da teoria e da prática, e saiba quando e como vai utilizar o que aprendeu na escola. Entretanto, é preciso não confundir os conhecimentos relevantes para a prática social com o conhecimento prático. 47 Acessibilidade Acessibilidade significa compatibilizar o conteúdo de acordo com o desenvolvimento do aluno. Um conteúdo muito complexo e acima de sua compreensão, leva o aluno a baixa autoestima e desânimo e um conteúdo muito simplificado, leva a uma diminuição de interesse, alem de não desafia intelectualmente o aluno. Com conteúdos acessíveis e didáticos, e com caráter científico, as garantias de aprendizagem aumentam, assim como uma assimilação sólida e duradoura, tendo em vista a aplicação dos novos conhecimentos. Portanto, a organização e planejamento do currículo escolar servem para transformar o processo de aprendizagem, em algo significativo para o aluno, mesmo dentro da estrutura burocrática e alienada da maioria das escolas. O grande desafio na organização do currículo escolar é mudar a mentalidade educacional atual e comprometer-se com as novas concepções de ensino. 2.3 - Estruturação didática da aula É na sala de aula que o professor vai aplicar seu planejamento. A aula é onde o processo de ensino- aprendizagem vai acontecer. Quando falamos em aula, a primeira imagem que nos vem à mente é a de uma classe silenciosa, todos os alunos sentados em fileiras e o professor expondo um tema. Essa é a chamada aula expositiva, e é a mais usada. A aula é um conjunto de meios e condições pelo qual o professor dirige o processo de ensino. O processo de ensino através das aulas possibilita a aproximação do aluno com os conteúdos de ensino. A realização de uma 48 aula ou de um conjunto de aulas requer uma estruturação didática, isto é, uma sequência de passos de ensino. Geralmente, os professores fazem uma tabela para estruturar a aula ou um conjunto de aulas como esta abaixo: Nome da matéria Nível de graduação: Assunto: Preparado por: Visão geral e objetivo O que será ensinado e a sua utilidade. Padrões educacionais abordados Quais padrões educacionais estaduais/nacionais esta lição satisfaz. Guia do professor Guia do estudante 49 Objetivos (Especifique habilidade/informações que serão passadas) Informações (Forneça e/ou demonstre informações necessárias) Materiais necessários • Papel • Lápis • Outros Verificação (Etapas para verificar o grau de compreensão do aluno)Atividade (Descreva a atividade independente para reforçar esta lição) Outros recursos • Internet • Livros etc. Resumo Observações adicionais Mas que plano é esse? Antes de iniciarmos propriamente o assunto, existem alguns pontos que merecem esclarecimento. Quais são as diferenças entre planos de aula, plano de unidade e plano de curso? Muitas vezes, esses conceitos não estão bem claros para o professor, e existe uma incerteza de como cada um deve ser elaborado. 50 A finalidade desse tópico é auxiliá-lo com seu plano de aula, não se trata apenas de um preenchimento de formulários. É necessário deixar bem claro que os formulários são válidos e úteis, porém o seu preenchimento sem reflexão só torna o ensino enfadonho e mecânico e isto não é planejamento e apenas preenchimento. Existem três tipos de planejamentos indispensáveis quando se pensa no processo de ensino-aprendizagem: Planejamento de curso - É a proposta geral de trabalho do professor em uma dada disciplina. Pode ser anual ou semestral, isso depende da instituição. Deve se ter um detalhamento desse plano incluindo o objetivo geral e as formas de avaliação. Dimensão Elementos Análise da Realidade Identificação Sujeitos Objetos Contexto Objetivos Da Escola Da Disciplina Formas de Mediação Conteúdos Metodologia Atividades Avaliativas Bibliografia (Adaptação do modelo de Vasconcellos) 51 Planejamento de unidade didática É uma especificação maior dos conteúdos gerais do curso. Normalmente, é divididos em blocos para que facilite a compreensão e aprofundamento daquilo que se quer ensinar. É um detalhamento periódico (bimestral ou semestral). Contém a explicitação dos objetivos para aquele período de trabalho. Estes dois planejamentos acima citados se diferem do planejamento de aula por serem mais gerais e abrangentes. Planejamento aplicado à aula como espaço social Se considerarmos a aula, o processo onde ocorre a interação do ensino com a aprendizagem, do mestre com o aprendiz, onde o professor media as atividades em função do aprendizado do aluno, pode-se afirmar que a aula é a forma didática básica do planejamento. Ao ministrar uma aula, o professor deve se esforçar para que ela seja mais do que uma simples exposição de conteúdos, precisa desenvolver uma ação didática organizada, dirigida para o processo de aprendizagem, com fins instrutivos. Esse processo não se dá em apenas uma aula, pois os resultados do ensino não são instantâneos. O tempo de duração da aula deve ser muito valorizado, para ser produtivo, pois na maioria das vezes é o único tempo que o aluno tem para estudar. Na sociedade atual, os alunos ficam muito tempo sozinhos e sem auxílio para os estudos. Então cabe ao professor aproveitar ao máximo esse tempo que o aluno dispõe. A aula deve ser estruturada por etapas, mas também devem ser criativas e flexíveis, considerando que não existe uma sequência necessariamente fixa. É na sala de aula onde ocorre a interação social mais importante da escola, que é dos alunos entre si e com o professor. 52 Favorecendo o aprendizado Antes de iniciar um novo conteúdo ou no início do ano letivo, o professor precisa preparar o conteúdo de acordo com a disciplina, além de preparar os alunos e, posteriormente,explicitar dos objetivos em sala de aula, e só então, a introdução da nova matéria, ou seja, no início do ano, o professor precisa fazer uma sondagem para saber quais são os conteúdos os quais os alunos já dominam e quais terão mais dificuldades. Essa etapa prepara o aluno e o faz sentir como participante do processo de ensino- aprendizagem. A preparação do professor compreende alguns passos: o planejamento das aulas, planejamento dos recursos que serão usados em sala, seleção do conteúdo e das atividades que serão realizadas e, principalmente, uma previsão do tempo necessário para a aplicação do tema. A preparação dos alunos compreende criar condições favoráveis para o aprendizado. Inicialmente, o professor pode começar chamando atenção para o assunto que será abordado, podendo até promover um pequeno debate com os alunos pedindo opiniões, trocando experiências e criar uma problematização. Esse momento de diálogo ocorre para criar a introdução da matéria e sistematizar ideias e conceitos para operar a matéria mentalmente na parte teórica, criando assim a capacidade de abstração nos alunos. Para motivar seus alunos, primeiramente realize perguntas para sondar os conhecimentos prévios, isso pode ser feito por meio de uma breve revisão. Em seguida, comece o novo conteúdo, apontando a importância da matéria. Todos esses cuidados permitirão uma maior atenção por parte dos alunos. 53 A organização do ambiente é importante (se for uma aula prática), isso desperta o interesse deles, facilitando o aprendizado. Para tornar significativo o aprendizado, deve-se fazer uma ligação da matéria nova com a anterior, isso faz parte dessa preparação. Aplicação e encerramento da matéria nova Após a introdução da matéria, o professor começa relacionando os objetos e fenômenos ligados ao tema, para uma compreensão concreta por parte do aluno, depois conceitua os principais temas. A seguir, expõe o tema verbalmente para os alunos e propõe uma atividade relativamente independente, pois sempre que necessário, o professor deverá auxiliar nas dúvidas e fazer intervenções pertinentes. Nesse processo, os conhecimentos vão se consolidando, o que pode exigir recapitulações, atividades ou exercícios para maior assimilação. Nessa aplicação, ocorre um processo de transição do “não-saber” para o saber. Para aulas mais dinâmicas e didáticas, deve-se empregar métodos diretos e indiretos. Os métodos diretos ocorrem por meio de demonstrações, estudos do meio e outras atividades práticas como a experimentação e excursões entre outras, já os métodos indiretos ocorrem por meio da explicação verbal do professor, que deve ser clara e objetiva. Na parte de conclusão, se faz necessário uma conversação com a classe, procurando avaliar quais são os objetivos que estão sendo alcançados e também para permitir uma interação e reflexão do professor com os alunos, de maneira que seja possível construir um pensamento autônomo nos educandos. 54 Em etapas anteriores, o trabalho do professor consistiu em transmitir novos conhecimentos e prover condições para a assimilação da matéria. No entanto, o processo de ensino ainda não acabou, é preciso consolidar os novos conhecimentos. Geralmente nas escolas, essa fixação tem sido reduzida à repetição mecânica. Os exercícios e tarefas costumam ser voltados para a memorização de regras, sem preocupação em desenvolver a autonomia e formação de pensamento do aluno. A consolidação da matéria se dá, efetivamente, por meio de exercícios significativos, recapitulação da matéria ou tarefas que levem o aluno a reproduzir o conhecimento, aplicando-os a uma situação conhecida. Os exercícios levam à fixação do conteúdo e à recapitulação, ligando novos conhecimentos aos antigos, dando mais significado à aprendizagem. Ao encerrar, um assunto é desejável que ocorra a aplicação da matéria. Trata-se de prover oportunidades para que os alunos possam utilizar os conhecimentos de forma criativa, ou seja, unir teoria e prática, estabelecendo vínculos com a escola e a vida e ligando os conteúdos da matéria, aos fatos da vida, para que fique em evidência quanto foi compreendido do assunto. Ao finalizar o novo assunto,
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