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UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA PRÓ-REITORIA ACADÊMICA CURSO DE PSICOLOGIA JONATHAN SCHUENCK CARDOSO 600764600 FILME: PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN NITERÓI 2017 JONATHAN SCHUENCK CARDOSO 600764600 FILME: PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN Projeto apresentado à Disciplina Psicologia do Desenvolvimento II do curso de Psicologia da Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO, como parte dos requisitos para conclusão do curso. Orientadora: Prof.ª Renata Alves Paes Mestre em Psicologia e Doutora em Neurociência NITERÓI 2017 FILME: PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN (2011, DIRIGIDO POR LYNNE RAMSAY BASEADO NO LIVRO “WE NEED TO TALK ABOUT KEVIN” DE LIONEL SHRIVER). Este filme nos conta a história de um casal apaixonado e bem sucedidos profissionalmente que tem as suas vidas transformadas a partir da gravidez do Kevin. Tudo muda a partir de então e essa gravidez tem influência diferente no casal. Enquanto Franklin está animado, Eva não se sente feliz e preparada para ser mãe. No decorrer do filme, acompanhamos o desenvolvimento da criança até a sua adolescência e vemos como se dá a relação dos pais com o Kevin, a relação com o meio social, os diversos comportamentos em diferentes situações, e o desenvolvimento desses adultos agora exercendo o papel de pais. O filme aborda uma gravidez que não é desejada, alterando toda a rotina e os planos da mãe. Percebemos as dificuldades que Eva tem no relacionamento com o filho e o quanto isso interfere na vida de ambos. Por fim, Kevin é preso após cometer uma tragédia e sua mãe precisa lidar com toda essa situação e os sentimentos que a cercam. Eva já é uma mulher adulta, com uma carreira profissional sólida e feliz no que faz. Apaixonada por Franklin, ela vive os melhores dias de sua vida imersa nesse amor. Pressionada pela sociedade e vivência com amigos, ela passa a se sentir imposta a ser mãe, até mesmo para satisfazer e completar a felicidade do cônjuge. Existe uma construção social onde se acredita que toda mulher deseja naturalmente ter filhos e que a mulher tem seu valor na sua condição maternal, como se fosse o papel mais importante de suas vidas. Mas existem mulheres como Eva que não possuem a menor vontade para serem mães, principalmente se está tendo uma vida profissional e financeira bem sucedida e isso não pode ser considerado anormal. A maternidade é muito mais que uma conexão biológica, ela cria uma longa relação de dependência e rompe com a rotina trazendo grandes mudanças na vida de uma mulher. Para então satisfazer o cônjuge, uma decisão que foi tomada impulsivamente, Eva engravida do Kevin. Percebemos nas cenas o quanto ela rejeita essa gravidez e não desenvolve afeto e relação de amor com o bebê no seu ventre, o que pode influenciar no seu desenvolvimento psicossocial. Papalia (2013, p. 217) considera essa relação de afeto importante, onde “bebês humanos também têm necessidades que precisam ser satisfeitas para que cresçam normalmente. Uma dessas necessidades é por uma mãe que responda afetuosamente e prontamente ao bebê”. Eva não está preparada para ser mãe naquele momento, sendo este um evento que rompe com sua carreira profissional, suas viagens, seu relacionamento e sua liberdade. Suas ações transmitem a ideia de que ela se torna refém dessa criança. Essas modificações físicas, endócrinas, psicológicas e sociais começam a reestruturar a gestante frente às novas experiências, o que também irá interferir na ligação afetiva entre ela e a criança já no ventre a partir do processo de comunicação materno-fetal. O que é um sonho para o Franklin, para Eva se torna um pesadelo e nada que envolva essa experiência a deixa feliz e animada. “Algumas influências sobre o desenvolvimento têm origem principalmente na hereditariedade: traços inatos ou características herdadas dos pais biológicos. Outras influências vêm em grande parte do ambiente: o mundo que está do lado de fora do eu, e que começa no útero, e a aprendizagem relacionada à experiência.” (PAPALIA, 2013, P.42). Percebemos que Kevin ao nascer já é uma criança que desenvolve um comportamento diferente do que se espera, e sua relação com a mãe pode ser resposta de algum evento genético e adquirido ainda na gestação. Eva tenta a todo o momento construir uma relação materna com o filho que não é verdadeira e é percebido por ele. Durante todo o seu crescimento, Kevin percebe que é tratado de forma diferente e esse comportamento da mãe vem influenciando na construção da sua personalidade, revelando um caráter antissocial com características como o egocentrismo, a arrogância, a baixa tolerância à frustração e a carência de consciência ou remorso relacionado à infração cometida. A privação de afeto maternal pode ter desencadeado essa conduta psicopática, geradora de infração. Ainda que não exista uma relação de amor entre eles, Kevin se sente vinculado à Eva e em todo tempo tenta atingir ela de alguma forma, fazendo com que ele tenha exclusivamente toda a sua atenção. A mãe suficientemente boa, que é aquela capaz de satisfazer as necessidades da criança, auxiliará na constituição egóica do bebê na medida em que se identifica com seu filho, e este por sua vez se vê no rosto da mãe. Quando a mãe não é suficientemente boa, o bebê poderá ter dificuldades na maturação do ego ou então seu desenvolvimento ocorrerá de forma distorcida, podendo constituir as bases para o surgimento de características psicóticas (WINNICOTT, 1962). Podemos definir a psicopatia como uma combinação de traços de personalidade e conduta socialmente desviante. Esses indivíduos possuem uma personalidade caracterizada por uma combinação de aspectos interpessoais, afetivos e comportamentais em que arrogância, insensibilidade, comportamento manipulador e superficialidade nas emoções são salientados (BINS e TABORDA, 2016). Kevin apresenta todas essas características, e percebemos o quanto ele manipula a relação com os que estão a sua volta, inclusive o pai e a irmã, fingindo uma relação de amor, utilizando-os como objeto para a própria gratificação. Devido as manipulações e mudanças de comportamento, só Eva consegue perceber quem Kevin se tornou, até que ele resolve matar o pai, a irmã e os amigos da escola. Recai então uma culpa sobre Eva, e ela através do seu comportamento nos transmite uma ideia de aceitação de que a sociedade esteja contra ela, reconhecendo que não tenha conseguido ser uma mãe. Ainda assim, Kevin é a única pessoa que ela tem e mesmo com toda a tragédia, não deixa de se tornar o seu filho. Ela precisa conviver com tudo isso que está acontecendo, sem entregar os pontos. Referências PAPALIA, Diane E. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: AMGH, 2013. BINS, Helena; TABORDA, José Geraldo. Psicopatia: Influências Ambientais, Interações Biossociais e Questões Éticas. Revista Debates em Psiquiatria. p.8- 16, 2016. GAMANHO, Tânia. Gravidez Indesejada – Interrupção voluntária da gravidez nas mulheres adultas e adolescentes das consultas da maternidade Dr. Alfredo da Costa – aspectos sociais que influencia? Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Lisboa, p. 70- 153. 2011. MILBRADT, Viviane. Afetividade e gravidez indesejada, os caminhos de vínculo mãe-filho. Revista Pensamento Biocêntrico, p. 111-133. Pelotas, 2008.
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