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Equilíbrios de solubilidade / gravimetria Prof. Gilberto Abate Solubilidade dos precipitados em água pura Com base nos valores da constante do produto de solubilidade (Kps) que são tabelados para diversos sais pouco solúveis, é possível obter a solubilidade (S) do respectivo sal em mol L-1. Qual a massa de Ba(IO3)2 que pode ser dissolvida em 500 mL de água a 25oC? Dados do Ba(IO3)2: Kps = 1,57 x 10 -9; M.M. = 487 g mol-1. Equilíbrio entre a fase sólida e os íons em solução: Ba(IO3)2(s) Ba 2+(aq) + 2IO3 -(aq) Kps = 1,57 . 10 -9 = [Ba2+] [IO3 -]2 1 mol de Ba2+ é gerado por 1 mol de Ba(IO3)2 Logo, a solubilidade (S) do Ba(IO3)2 = [Ba 2+], e [IO3 -] = 2[Ba2+] Kps = S x (2S) 2 = 4S3 = 1,57 x 10-9 S = 1,57 x 10-9 4 3 = 7,32 x 10-4 mol L-1 n = 3,66 x 10-4 mol x 487 g mol-1 = 0,178 g Em 0,50 L Qual a [Ag+] e de [CrO4 2-] e a solubilidade do Ag2CrO4 em mg L-1 após dispersar10 g de Ag2CrO4 em 250 mL de água? Dados do Ag2CrO4: Kps = 1,9 x 10 -12; M.M. = 332,0 g mol-1. Ag2CrO4(s) 2Ag +(aq) + CrO4 2-(aq) Kps = 1,9 x 10 -12 =[Ag+]2 [CrO4 2-] Kps = (2S) 2 x S = 4S3 = 1,9 x 10-12 S = 1,9 . 10-12 4 3 = 7,8 x 10-5 mol L-1 = [CrO4 2-] [Ag+] = 2 [CrO4 2-] = 1,56 x 10-4 mol L-1 S Ag2CrO4 = 7,8 x 10 -5 mol L-1 x 332 g mol-1 = 2,59 x 10-2 g L-1 = 25,9 mg L-1. Efeito do íon comum na solubilidade dos precipitados Ag2CrO4(s) 2Ag +(aq) + CrO4 2-(aq) Kps = 1,9 x 10 -12 = [Ag+]2 x 0,10 Calcular a [Ag+], [CrO4 2-] e a solubilidade do Ag2CrO4 na presença de 0,10 mol L-1 de Na2CrO4 Kps = 1,9 x 10 -12, pode-se desconsiderar a [CrO4 2-] oriunda do ppt, frente a 0,10 mol L-1. Assim, [CrO4 2-] = 0,10 mol L-1. [Ag+] = 1,9 x 10 -11 = 4,4 x 10-6 mol L-1 1 mol Ag2CrO4 gera 2 mols Ag +, portanto: S Ag2CrO4 = 2,2 x 10 -6 mol L-1 < 7,8 x 10-5 mol L-1 ppt de BaSO4 em água. SO4 2- Ba2+ NO3 - K+ + KNO3 ppt de BaSO4 em KNO3. Os íons sofrem forças atrativas e repulsivas. Efeito da força iônica na solubilidade dos precipitados 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 -1 2 4 6 8 10 12 14 sal adicionado (mmol L-1) S d o A g IO 3 (m m o l L -1 ) KIO3 KNO3 Empregando os valores de , para = 0,10: Ag+ = 0,75; IO3- = 0,77 AgIO3(s) Ag +(aq) + IO3 -(aq) (Kps = 3,1 x 10 -8) Kps = [Ag +] [IO3 -] ( Ag+) ( IO3 -) S2 = (3,1 x 10-8) / (0,75 x 0,77) [Ag+] = [IO3 -] = S S = 2,32 x 10-4 mol L-1 S AgIO3 em água (mmol L -1) = 0,176 < 0,232 ( = 0,10 mol L-1) = coeficiente de atividade; = força iônica Efeito da acidez na solubilidade dos ppts A solubilidade de muitos precipitados pode aumentar com a variação do pH. Nesses casos há reações químicas. Alguns casos típicos envolvem os ânions do ppt. Exemplos: AgCH3COO; CaC2O4; MnS, em meio ácido favorece a formação de compostos moleculares. Os cátions podem ser influenciados pela [OH-]. AgCH3COO(s) Ag +(aq) + CH3COO -(aq) Kps = 2,3 x 10 -3 AgCH3COO(s) + HNO3(aq) CH3COOH(aq) + Ag +(aq) + NO3 -(aq) 0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 1 2 [HNO3] mol L -1 S A g A c ( m o l L -1 ) cHNO3 (mol L -1) S A g C H 3 C O O ( m o l L -1 ) Efeito de agentes complexantes na solubilidade dos ppts Assim como o pH, a presença de muitos íons podem aumentar a solubilidade dos ppts, por favorecer a formação de íons complexos. Uma grande quantidade de agentes complexantes podem interagir com cátions metálicos, entre eles: CN-, tartaratos, citratos, EDTA, NH3. Exemplo: precipitado de AgCl na presença de NaCl S A g C l (m o l L -1 ) [Cl-] - mol L-1 Ag+(aq) + Cl-(aq) AgCl(s) (1) AgCl(s) + Cl-(aq) AgCl2 -(aq) (2) AgCl2-(aq) + Cl-(aq) AgCl3 2-(aq) (3) Precipitação do BaSO4 Ao adicionar lentamente Na2SO4 à uma solução de BaCl2 0,01 mol L-1, ocorre a formação do BaSO4. Quando inicia a precipitação? SO4 2-(aq) + Ba2+(aq) BaSO4(s) (Kps BaSO4 = 1,08 x 10 -10) Quando [Ba2+] [SO4 2-] = 1,08 x 10-10, inicia a precipitação, ou seja, [SO4 2-] = 1,08 x 10-8 mol L-1. Considera-se que a separação é quantitativa, quando restar menos de 0,1 % de Ba2+ da concentração inicial, assim: 0,1 % x 0,01 = 1,0 x 10-5 mol L-1 = [Ba2+] restante. [SO4 2-] = 1,08 x 10-10 / 1,0 x 10-5 = 1,08 x 10-5 mol L-1 Precipitação do CaSO4 Ao adicionar lentamente Na2SO4 à uma solução de CaCl2 0,01 mol L-1, ocorre a formação do CaSO4. Quando inicia a precipitação? Quando [Ca2+] [SO4 2-] = 4,93 x 10-5, inicia a precipitação, ou seja, [SO4 2-] = 4,93 x 10-3 mol L-1. Considera-se que a separação é quantitativa, quando restar menos de 0,1 % de Ca2+ da concentração inicial, assim: 0,1 % x 0,01 = 1,0 x 10-5 mol L-1 = [Ca2+] restante. [SO4 2-] = 4,93 x 10-5 / 1,0 x 10-5 = 4,93 mol L-1 SO4 2-(aq) + Ca2+(aq) CaSO4(s) (Kps CaSO4 = 4,93 x 10 -5) Separação dos íons Ba2+ e Ca2+ Supondo a adição de Na2SO4 à uma solução de BaCl2 e CaCl2, ambos 0,01 mol L-1. Seria possível precipitar quantitativamente o BaSO4 sem formar CaSO4 ? SO4 2-(aq) + Ca2+(aq) CaSO4(s) (Kps CaSO4 = 4,93 x 10 -5) Inicia a formação do CaSO4 quando [SO4 2-] = 4,93 x 10-3 mol L-1 SO4 2-(aq) + Ba2+(aq) BaSO4(s) (Kps BaSO4 = 1,08 x 10 -10) Assim: [Ba2+] = 1,08 x 10-10 / 4,93 x 10-3 = 2,2 x 10-8 mol L-1. Portanto, se 4,93 x 10-3 > [SO4 2-] ≥ 1,08 x 10-5 mol L-1; será possível precipitar “todo” o Ba2+ sem formar CaSO4. -10 -8 -6 -4 -2 0 -10 -8 -6 -4 -2 0 log [SO4 2-] mol L-1 [B a 2 + ] e [ C a 2 + ] m o l L -1 Ba Ca Graficamente Separação de BaSO4 contendo a mistura de íons Ba 2+ e Ca2+ em concentração analítica (cA) inicial de 0,01 mol L -1, cada um dos íons. Precipitação fracionada - Importante em gravimetria OH- e S2- são importantes em separações analíticas, e em gravimetria, devido aos baixos valores de Kps (solubilidade). Cd(OH)2 Kps = 1,2 x 10 -14 CuS Kps = 6 x 10 -36 Cu(OH)2 Kps = 2,2 x 10 -20 SnS Kps = 1 x 10 -25 Cr(OH)2 Kps = 6,0 x 10 -31 HgS Kps = 1 x 10 -52 Ag+; Pb2+; Hg2 2+ Cu2+; Hg2+ Fe3+; Mn2+; Co2+; Cr3+; Al3+ HCl H2S / H + (NH4)2S / OH - Escolha do precipitante – métodos gravimétricos Ag2CrO4(s) 2Ag +(aq) + CrO4 2-(aq) Kps = 1,9 x 10 -12 AgCl(s) Ag +(aq) + Cl-(aq) Kps = 1,8 x 10 -10 S = 7,80 x 10-5 mol L-1 S = 1,34 x 10-5 mol L-1 Ag2CrO4 tem menor Kps, porém possui maior solubilidade do que o AgCl Esse aspecto é importante também em titulometria de precipitação Métodos gravimétricos (cap. 12 Skoog, cap. 2 Baccan) O analito (espécie de interesse) é separado da matriz pela formação de uma fase sólida (gravimetria por precipitação), por volatilização de uma fase (gravimetria por volatilização), ou ainda por deposição eletroquímica (eletrogravimetria). Proporcionam determinações de elevada exatidão e precisão. Métodos gravimétricos de análise Gravimetria por volatilização SiO2(s) + 6HF(aq) H2SiF6(aq) + 2H2O(l) H2SiF6(aq) 2HF(g) + SiF4(g) Gravimetria por precipitação Fe(OH)3 Fe3+ + NH3 / H2O filtração Secagem, calcinação e pesagem do ppt Cálculos estequiométricos Determinação de SO4 2- como BaSO4 SO4 2- HCl 0,1g de S Chapa aquecedora100 mL BaCl2 1,0 % Checar a precipitação Digestão 2 h Cadinho ao rubro e tarado (0,1 mg) Papel de filtro + ppt Filtração e lavagem com água quente Aquecimento brando Esfriar em dessecador, pesar como BaSO4 ( 0,1 mg) = m (g) ppt M.M. BaSO4 = 233,36 g mol -1 M.M. SO4 2- = 96,058 g mol-1 M.A. S = 32,06 g mol-1 233,36 g 96,058 g m(g) ppt m (g) SO4 2- SO4 2- 233,36 g 32,060 g m (g) ppt m (g) S S Aquecimento 800oC 10 a 15 min Ao invés do uso de papel de filtro, as vezes é possível utilizar cadinhos filtrantes ou cadinhos de Gooch com polpa de lã de vidro ou polpa de papel. Bomba de vácuo Secagem 120oC Estufa Esfriar e pesar Cálculos estequiométricos Algumas aplicações típicas da gravimetria a) Determinação de sulfato como BaSO4 (ppt branco) Ba2+(aq) + SO4 2-(aq) BaSO4(s) (Meio ácido até 0,05 mol L-1, calcinação 800oC, pesagem) b) Determinação de cálcio como CaC2O4, (ppt branco) Ca2+ (aq) + C2O4 2-(aq) + H2O(l) CaC2O4 . H2O(s) Conforme tratamento térmico, pode-se calcular como CaC2O4, CaCO3 ou CaO. d) Determinação de ferro como Fe2O3 (ppt marrom) Fe3+(aq) + 3OH-(aq) Fe(OH)3(s) calcinação 900 oC, pesagem 2Fe(OH)3(s) Fe2O3(s) + 3H2O(g) c) Determinação de níquel com dimetilglioxima (ppt vermelho) O H CH3 - C = N CH3 - C = N O N = C – CH3 N = C – CH3 O H O Ni CH3 - C = NOH CH3 - C = NOH 2 + Ni 2+ Secagem 100 oC e pesagem + 2H+ Propriedades dos agentes precipitantes Propriedade ideal: Deve ser específico, ou pelo menos seletivo; Específicos: Muito raro, reagem com uma única espécie. Ex. Dimetilglioxima em meio alcalino para níquel; Seletivos: O reagente forma ppt com um número limitado de espécies. Ex. Ag+; reage com I-, Cl-, Br-, SCN-, em meio ácido. Formação de precipitados (ppt) Inicia quando o produto das concentrações (mol L-1) dos íons envolvidos atinge seu valor de Kps. BaSO4(s) Ba 2+(aq) + SO4 2-(aq) Kps = [Ba 2+] [SO4 2-] = 1,08 x 10-10 O controle da velocidade de formação é fundamental para obter precipitados com boas características físicas. Formação dos precipitados O ppt deve ter baixa solubilidade, atentar para as condições do meio, pH, força iônica, agentes complexantes, interferentes ; É desejável obter cristais da ordem de 100 m. Podem ser formados ppt coloidais (1 a 1000 nm), que não decantam; A solubilidade do ppt, temperatura, concentração dos reagentes e velocidade de mistura influenciam o tamanho das partículas. Deve ser evitada a supersaturação relativa = (Q – S) / S (Eq. de von Weimarn, Q = Conc. do soluto, S = solubilidade do ppt no equilíbrio). Para valores mais elevados de (Q – S) / S, os ppt tendem ao estado coloidal, e para valores menores tendem a ser cristalinos. Condições ótimas para formação de precipitados Uso de soluções diluídas: minimiza o efeito de co-precipitação; Adição lenta dos reagentes: o grau de supersaturação relativa será menor, e os cristais serão maiores; Usar soluções quentes: aumenta a solubilidade do ppt; Tempo de digestão: Para ppts cristalinos, minimiza a co- precipitação, fornece cristais maiores e fáceis de filtrar; Reprecipitação: Minimização de substâncias estranhas; Precipitação homogênea: Liberação lenta do agente precipitante, ex. hidrólise da uréia. Digestão: Aquecimento do ppt (1 h ou mais) na solução mãe. Permite a saída de moléculas de água e o ppt fica mais denso e fácil de filtrar. Também auxilia obter ppt mais puros; Co-precipitação: Remoção de compostos solúveis durante a formação do ppt. Pode ocorrer por: - Adsorção superficial para ppt com elevada área superficial, - Formação de cristal misto para íons de mesma carga / tamanho, - Oclusão, devido ao crescimento muito rápido, - Aprisionamento mecânico da solução por cristais muito próximos. Após a formação dos precipitados O ppt deve ter baixa solubilidade, evita a perda do analito (espécie de interesse) durante a filtração e lavagem; Cristais maiores facilitam as operações de filtração e lavagem; A lavagem do ppt deve ser feita com um eletrólito apropriado. A água pura pode causar a peptização, que consiste na volta do colóide coagulado ao estado original de dispersão; O ppt não pode reagir com a atmosfera. Se possível, não ser higroscópico; O ppt obtido tem que ter uma composição muito bem definida após a secagem ou calcinação para assegurar a confiabilidade no cálculo estequiométrico. Referências Bibliográficas Skoog, D.A.; D.M.; Holler, F.J.; 1997. Fundamentals of Analytical Chemistry, 7th edition; Ohlweiler, O. A.; 1981. Química Analítica Quantitativa, 3a edição, volume 1; Bard, A. J.; 1970. Equilibrio Químico. Butler, J.N.; 1964. Solubility and pH Calculations. Vogel, A.I., 1981. Análise Inorgânica Quantitativa, 4a Edição.
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