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Estuários Morfodinâmica Costeira Profª Débora Machado Definição Pritchard (1967): Um corpo de água costeiro; Semi-fechado; Ligação livre com o mar aberto; Água do mar é diluída em quantidades possíveis de serem medidas juntamente com a água doce da drenagem continental. Definição Fairbridge,1980: Estuário é um “inlet do mar”, o qual entra em um vale de rio até o limite superior da maré; Classificação fisiográfica, que pode ser modificada por: História regional do nível do mar; Fatores morfo-tectônicos; Climáticos; Suprimento de água doce; Suprimento de sedimentos. Definição Pritchard: Não permanente, baseada em esquema dinâmico; Limite terrestre é químico (onde a clorinidade cai abaixo de 0.01 ppm). Fairbridge: Considera processos duradouros, como mudanças climáticas e levantamento secular no nível do mar; Limite terrestre é físico (o limite superior de uma maré possível de ser medida). Definição Definição Resumindo: Os estuários são ambientes costeiros de transição entre o continente e o oceano e uma de suas funções é a mistura e diluição de sedimentos fluviais, funcionando como uma bacia receptora natural para a acumulação e armazenagem destes, princi- palmente silte e argila em suspensão. Ocorrência Planícies costeiras; Plataformas continentais extensas; Antigos vales de rios afogados; Amplitude de maré moderada ou alta; Costas que sofreram glaciações recentes (fiordes); Costas arenosas que sofreram ou sofrem deriva litorânea e constroem esporões ou barreiras através de recortes costeiros ou foz de rios, criando estuários e lagoas costeiras. Origem Variações do nível do mar: Aumento ou diminuição (transgressões marinhas iniciadas cerca de 15 mil anos atrás e estabilizadas entre sete e dois mil anos atrás – quando o mar atingiu seu nível atual) Planícies costeiras e os vales dos rios foram gradativamente inundados, dando origem aos estuários, lagoas costeiras, enseadas. Origem Subsidência costeira ou aumento do nível do mar: Vale de rios afogados Origem Gironde - Fr Origem Baía de Chesapeak- USA Origem Fjords Origem Barreira arenosa Origem Falha tectônica Evolução Trapeadores de sedimento Assoreamento; Planícies de maré e marismas: Aceleram o assoreamento. Desenvolvimento: Assoreamento x subsidência (aumento relativo do NM) subsidência dominante: Estuário persistente; Bem desenvolvido; Chesapeak. Evolução Desenvolvimento: Assoreamento x subsidência (aumento relativo do NM); Assoreamento dominante: Diminuição do tempo de vida; Gironde; Cabeceira: Assoreamento mais intenso. Sedimentos - Distribuição Depende: tipos e quantidade de sedimentos disponível; processos hidrodinâmicos; morfologia do fundo. Geral: Sedimento mais grosso deposita primeiro; Gradação de grosso fino / montante jusante. Sedimentos - Distribuição Antiqueira e Calliari, 2006. Sedimentos - Distribuição Antiqueira e Calliari, 2006. Sedimentos - Distribuição Pluma de sedimentos Processos Estuarinos O movimento de sedimentos estuarinos consiste num ciclo de 4 processos: 1.Erosão do leito; 2.Transporte; 3.Deposição; 4.Consolidação. Sedimentos estuarinos normalmente gran- de concentração de sedimento coesivo. Processos Estuarinos Sedimento Coesivo: d< 0,002mm A concentração de sedimentos finos, também chamados lamosos ou coesivos, é normalmente alta nos estuários e seu transporte é afetado por processos específicos, tais como floculação, erosão, deposição e consolidação. No transporte por suspensão, as partículas apresentam uma relação peso sobre volume muito pequena de tal forma que elas não sedimentam. Processos Estuarinos As propriedades elétricas desses minerais argilosos se alteram conforme as características da solução em que eles se encontram; Quando a solução é salina, as forças atrativas de natureza elétrica entre as partículas aumentam, ocorrendo a formação de flocos de partículas; Os flocos apresentam uma relação peso sobre volume bem maior que os minerais argílicos, possuindo flutuabilidade negativa. Assim, começam a sedimentar no fundo do corpo d’água, formando uma camada de lama (sedimento coesivo) que se comporta como um fluido mais denso do que a água. Processos Estuarinos Conforme a camada de lama vai aumentando de espessura e de densidade, inicia-se o processo de formação de um solo argiloso, que recebe contribuição de areias e matéria orgânica presentes em regiões estuarinas e costeiras; Dependendo das condições hidrodinâmicas do estuário, os sedimentos fluviais podem se depositar (em períodos de baixa dinâmica) ou podem ser exportados diretamente para a região costeira (períodos de grande vazão fluvial). Processos Estuarinos Sedimentos Coesivos (lamosos) ≤ 0,002 mm Estrutura em camadas e uma carga resultante negativa; “Coesão” é o resultado da atração superficial entre partículas de argila; Coesão reforçada por coesão orgânica (devido a matéria orgânica – bactérias presentes neste ambiente fornecem uma “gosma” ou lodo microbiano, estabilizando a estrutura interna da lama e fazendo com que as partículas se mantenham em suspensão por longos períodos). Processos Estuarinos Diagrama de Hjulström Processos Estuarinos 2. Transporte de fundo (bead load): Movimento intermitente; Em contato direto com o fundo; Energia transmitida por contato intergrãos através de colisões rápidas ; Rolamento ou pequenos saltos; Taxa de movimento mais lenta que a do escoamento médio. Processos Estuarinos 2. Transporte em suspensão: Partículas dentro do campo do escoamento; Independentes do fundo; Energia transmitida por turbulência da água; Carga em suspensão se move tão rápido quanto a velocidade média do fluxo; Usualmente a forma dominante em estuários. Processos Estuarinos Pode ser: Por advecção: Movimento do material sem mudar o espalhamento; Geralmente é um movimento resultante na horizontal. Por difusão: Muda o espalhamento; Sedimentos de uma zona de maior concentração para uma zona de menor concentração; Turbulência de ondas e marés são os principais responsáveis pelo transporte difusivo. Processos Estuarinos 3. Deposição / Condições: Assentamento de partículas em suspensão no fundo, por deposição, é controlada por: Concentração de sedimentos; Velocidade de sedimentação; Atrito do fluido. No caso mais simples: sem corrente – período de estofa: Processos Estuarinos 3. Deposição / Condições: A taxa de deposição (Rd) Produto da concentração em suspensão (Cb) e a velocidade de deposição (Ws): Obs: Estofa – não ocorre qquer alteração do nível da superfície da água. d b sR C W Processos Estuarinos Com corrente: Diagrama de Hjulström Processos Estuarinos 3. Consolidação: Deposição acumulação de sedimentos no fundo; Material enterradose consolida “bedding down”, ou “acomodamento” de partículas; Escape de águas intersticiais. Processos Estuarinos Deposição e consolidação ocorrem em 4 fases temporais: 0 – 1 hora: Floculação e rápida deposição de flocos formando uma camada superior tipo “flocos” de alta concentração (2 a 10 g/l) e uma camada inferior de lama fluida de maior concentração (> 10 g/l); ˃1 – 10 horas: Estrutura flocular colapsa e os flocos se acomodam, água escapa através dos interstícios dos flocos depositados; Processos Estuarinos 10 – 500 horas (21 dias): A água intersticial escapa através de furos de drenagem (lentamente); Mais que 800 horas (33 dias): A consolidação continua muito lentamente a medida que o peso dos sedimentos sobrejacentes força a saída da água retida; OBS: Densidade e resistência do sedimento aumentam com o tempo e profundidade. Processos Estuarinos Processos Estuarinos Com correntes: Sem tempo para consolidação; Acúmulo de camadas de suspensões densas (10 a 32 g/l) chamada LAMA FLUIDA; Até vários metros. Goulart, 2013 Processos Estuarinos Goulart, 2013 Processos Estuarinos Machado, 2015 Processos Estuarinos As características e a acumulação de sedimentos de fundo são afetados: Fluxo do rio; Marés; Ondas; Ventos; Forças meteorológicas; Ou seja: Pelos Fatores Hidrodinâmicos! Fatores Hidrodinâmicos Domínio Fluvial: Efeitos do fluxo do rio: Entrada de sedimentos; Manutenção de gradientes longitudinais e verticais: Salinidade; Temperatura; Sedimentos em suspensão . “Velocidade de fluxo” (flushing velocity): 1(/ ) Média anual da descarga Velocidade de fluxo Área da secção transversal na transição água doce salgada tomada a ppt de salinidade Fatores Hidrodinâmicos Sedimentos finos transportados em suspensão para o mar; Areia transportada próximo ao fundo; Seção transversal aumenta diminui a velocidade do fluxo; Carga de fundo e sedimentos grossos da carga em suspensão; “bancos arenosos alongados” ou barras ou esporões de vazante. Fatores Hidrodinâmicos Encontro água doce e salgada: Velocidade se aproxima de zero; Transporte de carga de fundo é trapeado; A carga em suspensão é amplamente dispersa pelas correntes de maré flutuantes ou pela circulação estuarina e ondas. Fatores Hidrodinâmicos Efeito da Maré: Elevação ou abaixamento da superfície da água; Correntes horizontais; Varia de intensidade de acordo com a localização. Fatores Hidrodinâmicos Afeta os processos sedimentares através de três processos fundamentais: a) Deformação da onda de maré à medida que se propaga estuário acima; b) Descarga do fluxo da maré e a estabilidade do canal; c) Flutuações cíclicas nas correntes de maré. Fatores Hidrodinâmicos a) Deformação da onda de maré: “Marés se propagando em estuários rasos, se modificam, provocando o transporte para montante ou jusante.” Três processos distintos: a.1) Amortecimento por fricção no fundo; a.2) Constrição para montante ou convergência no canal; a.3) Reflexão sobre bancos ou cabeceiras do estuário. Fatores Hidrodinâmicos a.1) Dissipação de energia por fricção: Amplitude decresce exponencialmente para montante: A = A0 e -kx Onde: A = amplitude a uma certa distância x da foz A0 = amplitude na foz K = coeficiente de fricção A deformação por fricção também afeta a “simetria” da onda de maré. Fatores Hidrodinâmicos Profundidade amplitude da onda de maré; Maré onda de águas rasas Onde: h = profundidade da lâmina d’água g = gravidade ɳ= altura local da superfície da onda de maré acima do nível médio Maré alta: ɳ > 0 C↑ Maré baixa: ɳ < 0 C↓ C g h Fatores Hidrodinâmicos A crista de enchente (maré cheia) se propaga mais rápido que a cava. Com isso, A duração de enchente é diminuída e a duração de vazante, aumentada. Assim, A velocidade de enchente é aumentada e a velocidade de vazante é diminuída: Maior velocidade de enchente mais erosão no fundo e mais transporte de sedimentos; Favorece o transporte em direção a terra (para montante). Fatores Hidrodinâmicos Fatores Hidrodinâmicos a.2) Constrição (decréscimo) na seção trans- versal do canal: Concentração de energia : “aumento de amplitude.” Lei de Green (que ignora a fricção): Onde: h = amplitude da onda H = profundidade do canal B = largura do canal 1 1 4 2h k H B Fatores Hidrodinâmicos Fatores Hidrodinâmicos Fricção (diminui amplitude) + Convergência (aumenta amplitude) Estuário hipersincrônico: A convergência excede a dissipação friccional; Estuário sincrônico: A convergência é igual à fricção; Estuário hiposincrônico: A convergência é menor que fricção. A maioria dos estuários são hipersincrônicos. Fatores Hidrodinâmicos Fatores Hidrodinâmicos b) A descarga da maré e estabilidade do canal Canais dominados por maré; Prisma de maré: Quantidade de água que flui para dentro ou para fora durante um período de enchente ou vazante: Onde: Vx = velocidade; Ax = Área de secção transversal; x x xQ V A Alargamento por dragagem causa diminuição da velocidade (Ax↑ - Vx↓) Circulação nos estuários Geral Presença de cunha salina na porção inferior: Salinidade constante; Camada superior: Mistura água doce com salgada (maré); Salinidade aumenta em direção ao oceano; Dominada pelas diferenças de densidade. Circulação nos Estuários Para um estuário com geometria constante (largura e profundidade), a circulação vai variar com: A intensidade da maré (amplitude e correntes) Responsável pela mistura O fluxo de água doce Responsável pela estratificação Circulação nos Estuários: Classificação Classificação segundo a circulação: R: volume de água doce num ciclo de maré; V: volume de água do mar que entra num ciclo de maré; R/V > 1 – Tipo A: Cunha Salina; 0.25 < R/V < 1 – Tipo B: Parcialmente Misturado; R/V < 0.25 – Tipo C: Bem Misturado /R V Continuando….. Classificação / Circulação Tipo A: Cunha salina (R/V > 1) Circulação dominada pelo fluxo do rio; Maré desempenha um papel irrisório; Água doce se espalha no topo da água salgada e afina em direção ao mar; A camada de baixo tem forma de cunha e afina em direção à terra; Nítida haloclina; Ondas internas com advecção de sal para cima; A maioria do sedimento é fluvial e se dispersa através da camada de cima. Classificação / Circulação Tipo A: Cunha salina (R/V > 1) Classificação / Circulação Tipo B – Parcialmente Misturado (0.005< R/V < 1) Correntes de maré são aumentadas; O fluxo do rio não domina a circulação; Mistura da maré remove os limites nítidos entre as camadas; Existe ejeção de água doce e salgada para baixo e para cima, respectivamente (turbulência interna devidoa maré); Transporte de sedimentos em suspensão até o limite da intrusão salina. Classificação /Circulação Tipo B – Parcialmente Misturado (0.005< R/V < 1) Classificação / Circulação Tipo C – Bem Misturado (R/V < 0.005) Maré forte (amplitude e correntes); Ausência de estratificação vertical da salinidade; A salinidade varia lateralmente dependendo do hemisfério: Sul, olhando para a terra alta do lado direito Movimento lateral e mistura lateral. Classificação / Circulação Tipo C – Bem Misturado (R/V < 0.005) Classificação / Circulação Classificação / Circulação Fluxo do rio e maré constantes Tipo A C Aumentando a largura (Erosão das margens); Diminuindo a profundidade (sedimentação): Aumentando a razão maré/fluxo do rio; A maré torna-se mais efetiva no processo de mistura; Velocidade do fluxo do rio é minimizada. Tipo C A Diminuindo a largura: Intensifica o fluxo do rio; Aumentando a profundidade. Turbidez Máxima Turbidez Máxima (TM): Altas concentrações de sedimentos em suspensão: 10 a 100 vezes maiores que as concentrações do rio; Porção superior ou média do estuário; Particularmente em estuários parcialmente mistu- rados; Enormes quantidades de sedimentos são retidas; A TM persiste apesar da diluição e da rápida mistura entre a água doce e salgada. Turbidez Máxima Situação teórica: Sedimentos fluviais em suspensão são simplesmente diluídos por água de menor turbidez, podendo depositar-se a medida que entra no limite da cunha salina. Situação real: Altas concentrações de material em suspensão (MS) são encontradas. Turbidez Máxima Aprisionamento na circulação estuarina: Sedimentos em suspensão atingem um pico próximo ao limite de intrusão da água salgada; Limite zona nula (de convergência dos fluxos); Sedimentos (do rio, do mar ou reciclados pela circulação estuarina): Aprisionados na zona nula. Turbidez Máxima Encontro águas doce e salgada Floculação; Aumento da decantação; Deposição no limite da intrusão salina. TM? MAIS sedimento em suspensão! Turbidez Máxima Desenvolvimento da TM no limite superior da ação da maré: Altas velocidades com consequente maior ressus- pensão; Convergência de correntes entre o fluxo de maré para montante e o fluxo do rio para jusante; Localização varia no ciclo de maré; Assimetria da maré: Tendência de transporte à montante. Estuário da Lagoa dos Patos Slides Prof. Elaine Goulart Estuário da Lagoa dos Patos Estuário da Lagoa dos Patos Estuário da Lagoa dos Patos Estuário da Lagoa dos Patos •Sistema lagunar Patos-Mirim •14 000 Km2 (10 263 Km2- Patos) •Bacia de drenagem: 200 000 Km2 Descarga média 3.000 m3/s Circulação Maré: Astronômica (0,5m); Meteorológica (até 2m); Fluxo do rio: Varia sazonalmente; Inverno: cheia; Verão: seca. Circulação Efeito do Vento Circulação Efeito do Vento Costa (2005): Ampliação/convergência dos molhes; Aprofundamento do canal; Impactos na hidrodinâmica; Modelo TELEMAC. Cenários Estudados: A - Morfologia atual; B - Ampliação e convergência dos molhes; C - Ampl.,converg. e aprofundamento do canal Efeito das modif. durante um evento de vazante Elevação Velocidades Efeito das modif. durante um evento de enchente Salinidades Resumão Artigo: Silva, M.C., 2000 Revista ABRH Representação esquemática de um estuário e suas zonas (ou setores) Sistemas aquáticos costeiros Tipos de Estuários – Critério de morfologia Tipos de Estuários – Critério dos padrão de circulação
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