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Puerpério Patológico Profª MSC; Kelle Magalhães Enfermeira Obstetra Puerpério patológico • É quando a evolução do puerpério ocorre de maneira distinta do esperado/fisiológico. Puerpério patológico Complicações hemorrágicas Complicações infecciosas Complicações da saúde mental Complicações operatórias/ anestésicas Complicações hemorrágicas Atonia uterina Restos ovulares Lacerações de trajeto 2º causa de morte materna no Brasil Aproximadamente 5% dos partos Hemorragia puerperal • Perda de sangue acima de 500 ml nas primeiras 24h pós parto; • Severa: acima de 1000 ml nas primeiras 24h pós-parto; • Precoce: ocorre nas primeiras 24h pós-parto • Tardia: após 24h pós-parto - Orientações para alta! 1ª causa de morte materna no mundo. 2ª causa de morte materna no Brasil. Puerpério fisiológico Contrações uterinas Miotamponamento Trombotamponamento Globo de segurança de Pinard e contenção da hemorragia Mecanismo de involução uterina no 4º período Atonia/hipotonia uterina • Caracteriza-se por sangramento acentuado, que se reduz apenas durante as raras, rápidas e pouco intensas contrações; • Útero flácido, amolecido e, em geral, aumentado. Causas da atonia uterina • Útero excessivamente distendido (gemelaridade, polidrâmnio, feto macrossômico); • Atividade uterina vigorosa ou pouco eficaz; • Trabalho de parto iniciado ou potencializado com ocitocina; • Parto prolongado; • Manobras inadequadas, como a de kristeller; • Cesarianas Causas da atonia uterina - Alta paridade; - Hemorragia pós-parto anterior; - Massagens e compressão constantes do útero que já está contraído; - Anestesia geral; - Uso de Sulfato de Mg. Manejo ativo do 4º período 1. Utilização de uterotônicos precocemente para todas as puérperas; 2. Clampeamento do cordão observando a involução uterina (aprox. 3 minutos); 3. Dequitação com tração controlada do cordão umbilical, seguido de massagem uterina 4. Massagem vigorosa do fundo + 20 UI de ocitocina em 1000ml de Ringer Lactato ou solução salina a 0,9%; 5. Metilergonovina 0,2 mg IM / EV; 6. Investigar lacerações perineais e do trato genital; 7. Compressão bimanual 8. Exploração uterina manual 9. Histerectomia + Procedimentos para choque hipovolêmico Lacerações de trajeto • Persistência de sangramento (abundante) com fundo uterino contraído. • Revisão do canal de parto detalhada em busca de lacerações. Paredes vaginais Colo do útero Fístulas Fundo de saco de Douglas Atenção especial • Partos taquitócicos, prolongados, feto macrossômico, uso de fórcipes, manobra de kristeller • Excesso de manipulação perineal • Hematomas Cuidados de enfermagem • Verificação constante da contração uterina, revisão do canal de parto e reparação das lesões porventura existentes; • Atenção ao quarto período: involução uterina, características da loquiação; • SSVV a cada 15 minutos/monitorização contínua; • Assistência para choque hipovolêmico: duplo acesso venoso de grosso calibre, hemoderivados disponíveis, SVD, hiperhidratação EV, soluções cristalóides. Profilaxia • Evitar, se possível, partos traumáticos: uso de fórcipes, partos prolongados, taquitócicos; • Detecção precoce; • Equipe treinada e atenta; • Correção pré-natal de quadros anêmicos; Subinvolução uterina Retardo do útero em retornar ao seu tamanho normal Restos placentários Infecção pélvica A Placenta Face materna - cotilédones Face fetal - membranas Restos placentários • Ocorre por iatrogenia ou implantação deficiente. Pode envolver todos os cotilédones (placenta acreta total), alguns a vários cotilédones (placenta acreta parcial), ou um único cotilédone (placenta acreta focal). Restos placentários • Maior frequência em circunstâncias onde a formação decidual provavelmente foi perturbada; • Implantação no segmento inferior do útero, sobre uma cicatriz de cesariana prévia ou outras incisões uterinas prévias, ou após curetagem uterina. Risco de HPP e infecção Evolução Clínica - Placenta acreta focal: o cotilédone envolvido é puxado do miométrio ou é lacerado da placenta e adere ao local de implantação hemorragia imediata ou tardia; - No envolvimento mais extenso, a hemorragia torna-se abundante quando tenta-se o desprendimento da placenta; - Placenta acreta total: a tração do cordão pode inverter o útero. Tratamento • Curagem ou curetagem em casos de acretismo placentário; • Histerectomia em casos de incretismo ou percretismo; • Uterotônicos para reduzir a hemorragia. ATENÇÃO: na mesma placenta podem haver vários tipos de penetração no miométrio. Se a placenta tiver grande área de incretismo ou percretismo, a extração manual pode apenas fragmentar a placenta, aumentando a área de sangramento. RISCO DE INFEÇÃO E HEMORRAGIAS REVISÃO DA PLACENTA PÓS-PARTO Inversão Uterina • É causa rara de hemorragia puerperal. Quando ocorre tem alto risco para paciente. Acomete mais multíparas e mulheres com Acretismo placentário, também pode ser resultante da manobra de tração do cordão umbilical. • O útero deve ser reposicionado o mais rápido possível. • O tratamento é feito através da manobra de Taxe, onde o útero é revertido à sua posição normal, introduzindo a mão direita fechada em seu interior. Havendo sucesso usar ocitócitos para manter o útero contraído. Caso for ineficiente realizar laparotomia para tração do corpo e fundo uterino. Infecções puerperais • Considera-se infecção puerperal a que localiza-se nos órgãos genitais e que ocorre após o parto ou abortamento recentes. • Formas clínicas: • vulvoperineal • endometrite Localizadas • Miofascites (Inflamação do múculo) • Parametrites (Inflamação do tecido que reveste o útero) Propagadas • Peritonite • Choque séptico Generalizadas Endometrite • Colonização da ferida placentária • É a forma clínica mais frequente de infecção puerperal • 0,9 a 2,7% dos casos após partos vaginais. • Após cesariana: elevação de 5 a 30 vezes os valores pós- partos vaginais. Fatores de risco • Fatores de risco: grande nº de toques vaginais – luva estéril? tempo de rotura das membranas trabalho de parto prolongado cesariana eletiva retenção de restos ovulares corioamnionite higiene precária Flora polimicrobiana cervicovaginal, com maior prevalência da anaeróbia Sintomatologia • Febre (38ºC) – temperatura oral • Subinvolução uterina • Dor à palpação • Amolecimento do corpo uterino • Loquiação: fecalóide e purulento (enterococos, E. coli) Tríade de Bumm Tratamento • Antibioticoterapia – baseado em cultura e antibiograma • Clindamicina + Gentamicina EV – primeira escolha • Ocitócitos contínuos • Hidratação: ATB nefrotóxicos • Tratamento cirúrgico: curetagem (restos placentários) e histerectomia (gangrena gasosa causada por clostrídio) • Repouso e alívio da dor • Prolongar tratamento até 48 horas após desaparecimento dos sintomas Cuidados de enfermagem • Tratamento mais efetivo e barato • Orientações • Nutrição pré-natal adequada • Higiene do períneo e troca frequente de absorventes • Abstinência sexual por 40 dias • Observar características da loquiação • Orientações de alta PREVENÇÃO Corioamnionite • É a infecção da cavidade amniótica, seus anexos e, eventualmente, do feto. Corioamnionite • Incidência: 0,5 a 1% de todas as gestações • Contaminação por via transcervical corioamniorrexe • Contaminação indireta via hematogênica,membranas íntegras Pode levar a óbito materno e fetal Fatores predisponentes • Rotura prematura das membranas, com tempo de latência > 48 h • Colo permeável no final da gestação, com perda de tampão mucoso • Alterações na flora vaginal – tricomonas • Coito pré-parto – aumento de 10 vezes na incidência – enzimas proteolíticas do sêmen Fatores predisponentes • Trabalho de parto prolongado – atividade contrátil pode aspirar o conteúdo vaginal • Exames vaginais repetidos • Descolamento de membranas • Diminuição da atividade bacteriostática do LA – anemia, def. zinco, outras infecções Conduta Medidas profiláticas • Evitar coito após 36 sem nas pacientes com colo dilatável/coito com preservativo • Evitar exames vaginais no final da gestação e manipulação de membranas • Tratar, durante o pré-natal, as infecções vaginais • Em caso de amniorrexe prematura, induzir o parto o mais rápido possível Conduta Medidas em casos suspeitos • Cultura do LA diretamente da vagina ou amniocentese • Hemograma • ATB de largo expectro • Adequar ATB após resultado de cultura Conduta Medidas em casos confirmados • Útero deve ser esvaziado, o mais rápido possível, em qualquer idade gestacional • Se infecção branda e não existir SF, induzir o parto, com cesárea em qualquer sinal de agravamento • Infecção grave + SF = cesárea • ATB após o pinçamento do cordão • ATB no puerpério e uterotônicos Em geral, a corioamnionite desencadeia as contrações uterinas, como um mecanismo de defesa do organismo Nunca inibir o TP, independente da IG Complicação anestésica Cefaléia pós-raqui Cefaléia pós-raqui • Mais incidente em puérperas do que em pessoas não grávidas • Incidência vem reduzindo com a diminuição do calibre da agulha (n.26 e 27) e com hidratação pós operatória adequada • Manifesta-se a partir do segundo dia da punção, agrava-se com a posição ortostática ou sentada e alivia-se com o decúbito dorsal. Cefaléia pós-raqui Líquor Punção subaracnóide 3º, 4º ou 5º espaço interlombar Etiologia • Droga utilizada • Introdução de sangue da punção, pele, antisséptico • Rara Irritação meníngea • Calibre da agulha • Número de punções Extravasamento do LCR do espaço subaracnóide •Hipertensão craniana • Cefaléia pulsátil occipital •Hipotensão craniana • Intensidade sofre alteração postural Terapêutica • Moderada ou leve: decúbito dorsal horizontal com cefalodeclive, hidratação, analgésicos, repouso, luminosidade reduzida. • Intensa: Blood Path – injeção peridural de cerca de 10 ml de sangue autólogo, com assepsia rigorosa. • Aguardar 24h com medidas paliativas, utilizando blood path se cefaléia permanecer intensa. Remissão espontânea: 50% Prevenção • Utilização de agulhas de fino calibre (27)*; • Assepsia e antissepsia rigorosa; • Evitar punções repetidas – correto posicionamento da paciente e preparo técnico do anestesista; • Evitar contaminar a solução anestésica com sangue, antissepticos e partículas estranhas • Hidratação liberal no pós parto *Imbeloni L. E. et al. Rev. Bras. Anestesiologia. Decúbito de 12- 24 em cefalodeclive – sem evidências científicas Complicações psicológicas PUERPÉRIO Período de assimilação das mudanças físicas/psicológicas instaladas Período de assimilação dos sentimentos gerados pelo processo da parturição Período de risco psiquiátrico aumentado Fatores associados Fatores biológicos Fatores psicológicos Fatores sociais Depressão Puerperal Fatores biológicos • Grande variação hormonal no pós-parto (estrogênio, progesterona); • Alteração no metabolismo das catecolaminas (adrenalina e noradrenalina); • Alteração no ciclo de sono/repouso; • Fadiga ATENÇÃO! Essas alterações isoladas não são capazes de gerar um quadro depressivo, mas são responsáveis pelas alterações de humor e sentimentos de incapacidade e insegurança. * Estudo croata2 com 103 puérperas nos 3 primeiros dias de puerpério encontrou diferenças estatisticamente significativas no desenvolvimento de sintomas depressivos no grupo das puérperas com complicações perinatais. 2. Imsiragic AS, Begic’ D, Martinc- Biocina S. Acute stress and depression 3 days after vaginal delivery--observational, comparative study. Coll Antropol. 2009 Jun;33(2):521-7. Fatores psicológicos • A mãe sente-se privada do apoio recebido dos familiares durante a gestação; • Algumas lamentam a perda da relação mãe- filho que existia no ventre – perda de algo muito valioso; • O bebê deixa de ser idealizado e passa a ser um ser real, diferente da mãe; Fatores psicológicos •Adaptação ao novo papel de mãe e luto na transição gravidez/maternidade; • Vivência inconsciente da angústia do próprio nascimento; • Perda do corpo gravídico e não retorno imediato ao corpo original; X Fatores sociais • Rotulagem social da maternidade como uma condição instintiva e beata; • Pai provedor: ausência do companheiro por longos períodos; • Baixa valorização social do papel de mãe/pai; • Ausência de companheiro/relações conturbadas com o mesmo; • Falta de apoio familiar Sintomatologia da Depressão Pós-parto Instabilidade emocional • Crises de choro • Humor deprimido • Irritabilidade • Emocional Somatizações • Cefaléia • Constipação • Insônia • Fadiga Outros sentimentos • Culpa • Incapacidade • Auto depreciação Depressão maior • Pensamentos recorrentes de morte, ideação suidcida, crises de pânico, rejeição ao bebê Psicose puerperal • Sintomas psicóticos Sintomatologia da Depressão Pós-parto Tristeza pós-parto (baby blues): O pico dos sintomas da tristeza pós parto ocorre por volta do 5º dia pós-parto, diminuindo após o 10º dia. Depressão pós-parto: 12,5% até 8 semanas pós-parto e 8,3% até 12 semanas pós parto. Psicose pós-parto: início 2-3 semanas de puerpério. Alta recorrência em gestações subsequentes. Intensidade das manifestações Duração dos sintomas Diagnóstico diferencial Tratamento Baby blues: Encorajar a puérpera a verbalizar seus sentimentos, enfatizando a normalidade das alterações. Observar atentamente a evolução dos sintomas. Depressão Maior: • Antidepressivos tricíclicos (aumento da noradrenalina e serotonina) na dose de 150-300 mg/dia; • Efeito colateral: sedação Tratamento Depressão maior: • Terapia de suporte psicológico (multi/interdisciplinar) que permita a livre expressão dos sentimentos ; • Monitorização de pensamentos suicidas; • Preparo dos familiares/companheiros para lidar com a situação; • Internação pode ser necessária. Tratamento Psicose pós-parto: • Emergência psiquiátrica; • 5% de suicídio e 4% de infanticídio • Antidepressivos/Lítio Aleitamento materno e depressão • Favorece a recuperação materna; • Benefícios ao bebê; • Avaliar riscos de agressão ao RN; • Respeitar a vontade da puérpera; • Em casos de internação, permitir acompanhante para garantir cuidados e segurança do bebê; Atenção: uso de lítio pela puérpera contra-indica o aleitamento materno! Prognóstico • Bom prognóstico, se tratado adequadamente; • Em alguns casos, os sintomas podem persistir por meses ou até anos; •Filhos de mães deprimidas tendem a desenvolver problemas comportamentais, cognitivos e sociais na fase mais tardia de sua vida. Cuidados de enfermagem • Avaliar a interação mãe-RN, a fim de reconhecer sinais precoces de depressão; • Revisar a historia de saúde mental da paciente e sua família; • Promover repouso adequado; • Avaliar a adaptaçãopsicossocial: estimular a paciente a manifestar seus sentimentos em relação à experiência da maternidade; Cuidados de enfermagem • Caso a paciente não tenha um companheiro, identificar uma pessoa lhe dê apoio e com quem possa compartilhar seus sentimentos; • Elogiar seus comportamentos em relação ao RN • Providenciar apoio estratégico na família para que o cuidado do bebê possa ser adequado, liberando a paciente da responsabilidade maior dessa tarefa. Cuidados de enfermagem • Abordar eventuais conflitos conjugais ou dificuldades de adaptação a nova condição de mãe. • Planejamento de alta incluindo a busca de apoio na comunidade • Agendamento de consulta ou visita domiciliar precoce antes da alta hospitalar para as puérperas com fatores de risco. Referências Bibliográficas 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Pré-Natal e Puerpério: Atenção Qualificada e Humanizada – Manual técnico. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas – Brasília: Ministério da Saúde, 2005. 2. LOWDERMILK, DL; PERRY, SE; BOBAK, IM. O Cuidado em Enfermagem Materna. 5ª Edição – Porto Alegre: Artmed, 2002. 3. NEME B. Obstetrícia Básica. 2ª Edição: Sarvier, 2000. 4. WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO guidelines for the management of postpartum haemorrhage and retained placenta. 5. IMBELONI L. E. et al. Cefaléia pós raquianestesia e o desenho das agulhas: experiência com 5050 casos. Revista Brasileira de Anestesiologia, 2001;51 1):43- 52. 6. PERRONI, A. G. et al. Corioamnionite como causa de trabalho de parto prematuro. Femina, 2006;37(1):67-71.