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7 1. INTRODUÇÃO 1.1 Histórico A noção de que os alimentos poderiam ter a capacidade de prevenir doenças e ser usados como forma de tratamento surgiu há 2500 anos atrás. Hipócrates declarou: “Faça do seu alimento seu medicamento”. Os eventos da natureza como as estações do ano e a mudança de cores de frutos e folhas eram tidas como mágica. O fascínio e as aplicações médicas e espirituais das plantas estão descritos em diversos manuscritos egípcio, grego e romano. No entanto, o termo nutracêutico ou alimento funcional é recente. Em meados de 1920 os cientistas foram capazes de isolar componentes dos alimentos e realizar experiências clínicas e laboratoriais para comprovar a eficácia dos nutracêuticos (WILDMAN, 2001). Na década de 80 os japoneses iniciaram estudos com alimentos funcionais, relacionando a ingestão de alimentos de sua população com os baixos índices epidemiológicos de câncer de mama, cólon e a alta longevidade. Em 1984, o Ministério da Educação japonês, criou um departamento chamado “Análise Sistemática e Desenvolvimento das Funções dos Alimentos”, que financiou as pesquisas desta área. Atualmente o país movimenta 28 bilhões de dólares por ano com operações comerciais envolvendo alimentos funcionais (GOLDBERG, 1994). Já na Europa Meridional, onde a dieta é tradicionalmente pobre em gordura saturada, sódio e alto consumo de fibras, os estudiosos têm dado grande ênfase ao consumo de vegetais e grãos e outros produtos que compõe uma dieta saudável. Dentro deste contexto, o interesse cresceu tornando-se um ímpeto para as pesquisas e o futuro desenvolvimento da indústria de alimentos funcionais (ROBERFROID, 1994). Estudos efetuados na década de 50 mostraram que o baixo consumo de gorduras saturadas, aliado ao alto consumo de gorduras monoinsaturadas e de hidratos de carbono complexos, características da dieta Mediterrânea, estão associados à reduzida mortalidade por doenças coronária dos habitantes da região do Mediterrâneo. Nos EUA o caminho foi inverso; preocupados com o alto consumo de fast food e, consequentemente, os altos índices de doenças crônicas degenerativas, o governo americano incentivou as pesquisas na área. A importância de se consumir uma User Realce User Realce 8 dieta balanceada, baixa em sódio, em gordura saturada e colesterol começou a ser aceita por sua população (GOLDEBERG, 1994). Em 1990, o conceito de alimentos funcionais começou a ser difundido nos Estados Unidos, quando o Instituto Nacional do Câncer deu início a um projeto denominado Programa de Alimentos Projetados (Designer Food Program) com duração prevista de 5 anos e investimento de 20 milhões de dólares destinados para a realização de pesquisas sobre componentes de alimentos naturais, principalmente os fitoquímicos presentes em frutas e verduras, que apresentassem atividade anticancerígena (MILNER, 2000). Mudanças de conceito têm sido observadas em diferentes alimentos que comemos, aplicando-se os achados científicos e as inovações tecnológicas da indústria de alimentos. Nos últimos anos a mensagem “dieta-saúde” iniciou-se e desenvolveu o estudo nesta área da nutrição que deverá revolucionar a indústria de alimentos (GOLDEBERG, 1994). Os benefícios potenciais dos alimentos funcionais para a saúde seriam a prevenção das doenças infecciosas, estímulo da imunidade, melhoria da biodisponibilidade dos nutrientes e a prevenção de efeitos tóxicos, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus não insulino dependente, obesidade, osteoporose e câncer (ROBERFROID, 2001). 1.2 Definição de Alimentos Funcionais A portaria n° 398 de 30/04/99 da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde define que “alimento funcional é todo aquele alimento ou ingrediente que, além das funções nutricionais básicas, quando consumido na dieta usual, produz efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro para consumo sem supervisão médica”. Segundo ARAÚJO e ARAÚJO (1999), alimentos funcionais são aqueles que proporcionam benefícios médicos ou de saúde, incluindo a prevenção e o tratamento de doenças. Ou ainda, pode-se definir alimento funcional como o produto que contém, além dos nutrientes conhecidos, compostos capazes de causar efeitos benéficos à saúde. Uma definição bastante abrangente é aquela proposta por SGARBIERI e PACHECO (1999): “qualquer alimento, natural ou preparado, que contenha uma ou User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 9 mais substâncias, classificadas como nutrientes ou não nutrientes, capazes de atuar no metabolismo e na fisiologia humana, promovendo efeitos benéficos para a saúde, podendo retardar o estabelecimento de doenças crônico-degenerativas e melhorar a qualidade e a expectativa de vida das pessoas”. LAJOLO (2001) define alimento funcional como o “alimento semelhante em aparência ao alimento convencional, consumido como parte da dieta usual, capaz de produzir demonstrados efeitos metabólicos e fisiológicos úteis na manutenção de uma boa saúde física e mental, podendo auxiliar na redução do risco de doenças crônico- degenerativas, além das suas funções nutricionais básicas”. A ADA - American Dietetic Association considera alimentos fortificados e modificados como alimentos funcionais, alegando seus efeitos potencialmente benéficos sobre a saúde, quando consumidos como parte de uma dieta variada, em níveis efetivos (ADA REPORTS, 1999). Segundo a companhia multinacional de alimentos Unilever, a definição de alimento funcional é: "o alimento com uma alegação de saúde baseada em evidência científica" (KATAN, 1999). Já o FNB - The Food and Nutrition Board, da Academia Nacional de Ciências (National Academy of Sciences), define alimento funcional como "algum alimento modificado ou ingrediente alimentar que possa produzir um benefício à saúde além dos nutrientes tradicionais que ele contém" (MILNER, 2000). 1.3 Legislação Na América do Norte, os termos alimentos funcionais e nutracêuticos têm sido usados com definição já estabelecida. A dificuldade se encontra na regulamentação destes termos, pois deve haver uma diferenciação entre produtos que são vendidos e consumidos como alimentos, daqueles em que um componente em particular foi isolado e é vendido na forma de barras, cápsulas, pó etc. A separação destes produtos é necessária quando se estabelece limites de consumo. No Canadá, a sugestão feita pelo Health Protection Branch of Health Canada define que os termos alimentos funcionais e nutracêuticos devem ter significados diferentes. No Reino Unido, o Ministério da Agricultura, Pesca e Alimentos (MAFF) desenvolveu a seguinte definição para alimentos funcionais: “Um alimento cujo User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 10 componente incorporado oferece benefício fisiológico e não apenas nutricional”. Esta definição ajuda a distinguir alimentos funcionais de alimentos fortificados com vitaminas e minerais. No Japão, onde o interesse por alimentos funcionais começou em 1980, estes alimentos foram definidos como “Alimentos para Uso Específico de Saúde” - “Foods for Specified Health Use” (FOSHU) em 1991, com a introdução de uma ramificação do Ministério da Saúde e do Bem Estar que trata especificamente desta regulamentação estabeleceu que FOSHU são aqueles alimentos que: Têm efeito específico sobre a saúde devido a sua constituição química; Não devem expor ao risco de saúde ou higiênico; Como a legislação canadense e do Reino Unido propõe, produtos FOSHU ou funcionais,devem ser considerados aqueles consumidos em uma dieta normal. Nos Estados Unidos existe uma legislação específica para a aprovação, rotulagem e publicidade de “dietas suplementares” (Dietary Supplements Health Education Act - DSHEA) a qual pode incluir certos alimentos funcionais. Em virtude da inexistência de uma alegação legal sobre alimentos funcionais nos EUA, suplementos dietéticos em forma de tabletes ou similares, podem ser considerados alimentos funcionais (SMITH et al 1997 e HARDY, 2001). No Brasil, o Ministério da Saúde, através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), regulamentou os Alimentos Funcionais e Novos Alimentos através das seguintes Resoluções: ANVISA/MS 16/99; ANVISA/MS 17/99; ANVISA/MS 18/99 e ANVISA/MS 19/99, cuja essência é: Resolução ANVISA/MS 16/99 trata de Procedimentos para Registro de Alimentos e ou Novos Ingredientes, cuja característica é de não necessitar de um Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) para registrar um alimento, além de permitir o registro de novos produtos sem histórico de consumo no país e também novas formas de comercialização para produtos já consumidos. 11 Resolução ANVISA/MS 17/99 estabelece as diretrizes básicas para Avaliação de Risco e Segurança de Alimentos que prova, baseado em estudos e evidências científicas, se o produto é seguro sob o ponto de vista de risco à saúde ou não. Resolução ANVISA/MS 18/99 aprova o regulamento técnico que estabelece as diretrizes básicas para análise e comprovação de propriedades funcionais e/ou de saúde, alegadas em rotulagem de alimentos. Resolução ANVISA/MS 19/99 aprova o regulamento técnico de procedimentos para registro de alimento com alegação de propriedades funcionais e ou de saúde em sua rotulagem. Essas resoluções fazem distinção entre alegação de propriedade funcional e alegação de propriedade de saúde, como segue: Alegação de propriedade funcional: é aquela relativa ao papel metabólico ou fisiológico que uma substância (nutriente ou não) tem no crescimento, desenvolvimento, manutenção e outras funções normais do organismo humano. Alegação de propriedade de saúde: é aquela que afirma, sugere ou implica a existência de relação entre o alimento ou ingrediente com doença ou condição relacionada á saúde. Não são permitidas alegações de saúde que façam referência à cura ou prevenção de doenças. As resoluções ANVISA/MS n0 18, e ANVISA/MS n0 19, descrevem: DIRETRIZES PARA UTILIZAÇÃO DA ALEGAÇÃO DE PROPRIEDADES FUNCIONAIS E OU DE SAÚDE: A alegação de propriedades funcionais e ou de saúde é permitida em caráter opcional. O alimento ou ingrediente que alegar propriedades funcionais ou de saúde pode, além de funções nutricionais básicas, quando se tratar de nutriente, produzir efeitos 12 metabólicos e ou fisiológicos e ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro para consumo sem supervisão médica. São permitidas alegações de função e ou conteúdo para nutrientes e não nutrientes, podendo ser aceitas aquelas que descrevem o papel fisiológico do nutriente ou não nutriente no crescimento, desenvolvimento e funções normais do organismo, mediante demonstração da eficácia. Para os nutrientes com funções plenamente reconhecidas pela comunidade científica não será necessária a demonstração de eficácia ou análise da mesma para alegação funcional na rotulagem. No caso de uma nova propriedade funcional, há necessidade de comprovação científica da alegação de propriedades funcionais e ou de saúde e da segurança de uso, segundo as Diretrizes Básicas para Avaliação de Risco e Segurança dos Alimentos. As alegações podem fazer referências à manutenção geral da saúde, ao papel fisiológico dos nutrientes e não nutrientes e à redução de risco a doenças. Não são permitidas alegações de saúde que façam referência à cura ou prevenção de doenças. Para ser registrado como alimento funcional deve ser comprovada a alegação de propriedades funcionais ou de saúde com base em: consumo previsto ou recomendado pelo fabricante; finalidade, condições de uso e valor nutricional, quando for o caso; evidência(s) científica(s): composição química com caracterização molecular, quando for o caso, e ou formulação do produto; ensaios bioquímicos; ensaios nutricionais e ou fisiológicos e ou toxicológicos em animais de experimentação; estudos epidemiológicos; ensaios clínicos; evidências abrangentes da literatura científica, organismos internacionais de saúde e legislação internacionalmente 13 reconhecida sobre as propriedades e características do produto e comprovação de uso tradicional, observado na população, sem associação de danos à saúde. 1.4 Classificação Química Para fins de instrução acadêmica, triagem clínica, desenvolvimento de alimentos funcionais e recomendações dietéticas, as substâncias bioativas em alimentos funcionais podem ser organizadas de diversas maneiras, dependendo do interesse específico. Uma delas é quanto sua natureza química e molecular que permite categorizá-los de acordo com seu grupo molecular, como mostra o esquema 1. Isoprenóides Compostos Proteína/Amino Carboidratos e Ácidos Graxos Minerais Microbiótico (terpenos) Fenólicos Ácido-Base Derivados e Lipídeos Carotenóides Cumarinas Amino ácidos Ácido Ascórbico PUFA Ca Probióticos Omega 3 Saponinas Taninos Compostos Alil-S Oligossacarídeos Se Prebióticos Tocotrienos Lignina Isotiocinatos Polissacarídeos MUFA K não amido Tocoferóis Antocianinas Folato Esfingnolipídeos Cu Terpenos simples Isoflavonas Colina Lecitina Zn Flavonóides Esquema 1. Organização de substâncias bioativas em alimentos funcionais quanto à natureza química e molecular (WILDMAN, 2001). Nos próximos capítulos serão apresentadas algumas das substâncias bioativas mais estudadas até a presente data. 14 2. ISOFLAVONAS 2.1 Estrutura química As isoflavonas são uma subclasse dos flavonóides e têm uma distribuição extremamente limitada na natureza. A base estrutural de componentes de flavonóides é o núcleo flavona que compreende dois anéis benzênicos (A e B), como se vê na figura 1. As isoflavonas são componentes intrínsecos das plantas, cuja quantidade depende de fatores como crescimento e base genética. Embora muitas plantas sintetizem isoflavonas, a forma bioativa está contida em poucos vegetais de consumo humano, sendo a soja a maior fonte (SALGADO, 2001). Encontram-se, predominantemente, na forma de glicosídeos (ligados a moléculas de açúcar), embora os tipos de isoflavonas biologicamente ativos são as formas agliconas (sem a molécula de açúcar). Entre elas estão a daidzeína, a genisteína e a gilciteína, mostradas na figura 2. A figura 3 mostra a estrutura química de glicosídeos e agliconas (HENDRICH & MURPHY, 2000). Fonte: WILDMAN, 2001 Figura 1. Estrutura química da isoflavona. 15 Fonte: SANAVITA, 2001. Figura 2. Estrutura química das principais isoflavonas da soja (forma ativa). Fonte: WILDMAN, 2001 Figura 3. Estrutura química de 12 isômeros de isoflavonas, na forma de aglicona e glucosídeo. 2.2 Mecanismo de ação As isoflavonas são conhecidas também como fitoestrógenos. Como o nome diz são estrógenos derivados de plantas que exercem uma fraca atividade estrogênica no corpo humano. Assim atuam também outros compostos comoas lignanas, o coumestrol e outros flavonóides (SALGADO, 2001) identificados na figura 4. 16 Fonte: DEANGELIS, 2001. Figura 4. Classes comuns de fitoestrógenos. As isoflavonas da soja podem agir de três diferentes formas: a) como estrógenos e antiestrógenos; b) como inibidores de enzimas ligadas ao desenvolvimento do câncer; c) como antioxidantes. A forma a) é justificada pelo fato das isoflavonas ligarem-se aos receptores de estrogênio, exercendo ação estrogênica ou antiestrogênica, dependendo do nível de hormônios sexuais endógenos. Isto é, podem ao mesmo tempo exercer um efeito agonístico ou antagonístico sobre os estrogênios endógenos, porque competem pelos mesmos receptores. A figura 5 mostra a semelhança entre as estruturas químicas do estrogênio e do equol, um metabólito da isoflavona (HENDRICH & MURPHY, 2001). 17 Fonte: SANAVITA, 2001. Figura 5. Semelhança entre as estruturas químicas do estrogênio e do equol, um metabólito de isoflavona. A forma b) de ação das isoflavonas está relacionada à inibição da atividade de enzimas como a tiroxina quinase, responsável pela indução tumoral e a c) diz respeito ao efeito antioxidante das isoflavonas, inibindo a produção de oxigênio reativo, que está envolvido na formação de radicais livres (SALGADO, 2001). 2.3 Fontes e efeitos do processamento: Como já foi dito anteriormente, a maior fonte de isoflavonas é a soja e o seu conteúdo depende de inúmeros fatores, incluindo a variedade do grão, a safra e o tipo de processo usado para produzi-los. Os derivados da soja podem ser divididos em quatro classes: ingredientes de soja: são os crus (ou não processados), como grão, farinha de soja (integral ou com redução de gordura) concentrados de soja, proteína texturizada da soja (PTS) e isolado protéico da soja; alimentos tradicionais de soja: tofu (coagulado protéico de soja), tempeh (soja fermentada), misso (pasta de soja), e outros alimentos derivados da soja, típicos da comida asiática; segunda geração de alimentos de soja: são os alimentos à base de soja, como hambúrgueres, hot dog e carne de soja; 18 alimentos onde a soja é utilizada por sua propriedade tecnológica: fórmulas infantis onde a soja é utilizada para reconstituir a proteína do leite e alimentos onde hidrolisados de soja são adicionados para substituir o glutamato de sódio. Os níveis de isoflavonas e sua distribuição variam amplamente de um grupo para outro (HENDRICH & MURPHY, 2001). O quadro 1 mostra o conteúdo total de diferentes formas de isoflavonas em alimentos derivados da soja que sofreram diferentes tipos de processamento, lembrando que as agliconas são as formas biologicamente ativas. ALIMENTOS DE SOJA GLUCOSIDEOS (g/g de peso seco) AGLICONAS (g/g de peso seco) D G GL D G GL Grãos de soja 270 418 92 27 25 7 Isolados de soja 138 378 39 25 46 11 Concentrados de soja: Extraídos em solução de etanol 19 36 15 0 6 0 Extraídos em solução aquosa 88 260 29 25 40 12 Proteína Texturizada da Soja (PTS) 493 696 179 41 51 19 Broto de soja 3221 5244 1196 257 97 743 Farinha de soja tostada (Kinako) 582 657 95 52 65 37 “Leite” de soja: Esterilizado 68 88 13 2 2 0 Pasteurizado 23 34 5 3 4 1 Tofu 105 143 29 7 9 2 Misso 62 89 10 25 29 12 Tempeh 93 206 14 85 103 9 Salsicha de soja (cru) 11 17 5 0 3 0 Hambúrguer de soja (cru) 12 25 6 8 13 4 Carne de soja (cru) 63 2 4 0 0 1 D: daidzeína, G: genisteína, GL: gliciteína. Fonte: USDA – Iowa State University Isoflavone Database In Wildman, 2000. Quadro 1. Conteúdo de isoflavonas em alimentos e soja. 19 Como se pode observar no quadro 1 a melhor fonte de isoflavonas é o broto de soja, seguido de PTS e grãos de soja. É importante notar que as agliconas (formas biologicamente ativa da isoflavonas), são encontradas nos produtos de soja fermentados em concentração importante. É possível notar também, que a segunda geração de produtos de soja não são fontes relevantes de isoflavonas, isso se deve provavelmente à mistura com outros ingredientes, diminuindo sua concentração no alimento final. Apesar das isoflavonas não serem totalmente destruídas no processamento de alimentos, pode haver redução em sua concentração. O processo de extração com etanol para produzir concentrado de soja causa a perda de isoflavonas. As perdas também acontecem quando o soro do leite da soja é descartado na produção de tofu e quando os grãos de feijão de soja são fervidos durante o primeiro processo de produção de tempeh, com a perda de isoflavonas para a água (WANG & MURPHY, 1996). 2.4 Biodisponibilidade e Absorção O fator determinante da eficácia de isoflavonas são sua biodisponibilidade, isto é, seu acesso ao campo de ação no organismo. A solubilidade, o metabolismo dos componentes (devido a biotransformação de componentes endógenos e exógenos) e a interação dos componentes com outros componentes da dieta determina a biodisponibilidade das isoflavonas. (HENDRICH et al, 1998) As interações físico químicas das isoflavonas com a mucosa gastrointestinal parecem depender da relação hidrofóbica dos componentes. Não há evidências de transporte ativo ou facilitado desses componentes e o peso molecular pode permitir sua difusão. Apesar das isoflavonas se encontrarem predominantemente na forma de glicosídeos nos alimentos, esta forma não foi encontrada no plasma ou urina humana. Desta maneira, as enzimas glicosidades da flora microbiótica intestinal provavelmente agem antes que as isoflavonas sejam absorvidas. Quando consumimos soja, as isoflavonas presentes são hidrolisadas no intestino por ß-glicosidases intestinais, as quais liberam as agliconas biologicamente ativas. Estas formas podem ser absorvidas ou fermentadas pela microflora intestinal, dando origem a vários metabólitos 20 específicos. Acredita-se que as formas conjugadas (com radicais acetil e malonil) são absorvidas no íleo, após hidrólise para a forma aglicônica; as formas não conjugadas são absorvidas no jejuno. As isoflavonas absorvidas são então transportadas para o fígado, onde são removidas da circulação sanguínea através da veia porta, retornando ao intestino pela via biliar, podendo ser excretada pelas fezes. Uma certa porcentagem, porém, entra na circulação periférica, alcançando os tecidos. Essa é então eliminada pelos rins, de maneira similar aos estrogênios endógenos (SETCHELL & CASSIDY, 1999). Diferentes fatores podem interferir no metabolismo das isoflavonas e diferentes metabólitos são originados a partir de suas hidrólises. Um estudo realizado por ZHANG e col.,1999, mostrou que a genisteína parece ser menos absorvida que a daidzeína, observando-se a partir da proporção de ingestão e excreção dos dois compostos encontrados na urina. Esta diferença pode ser explicada pela melhor degradação da genisteína pela flora intestinal, ou pelo caráter hidrofóbico deste componente, mais facilmente retido no organismo. 2.4.1 Transformação microbiótica de isoflavonas É difícil quantificar a ingestão de soja e seu efeito na saúde examinando apenas as isoflavonas e seus metabólitos nos alimentos, pois a hidrólise bacteriana no intestino é particularmente responsável pelo seu metabolismo (HENDRICH & MURPHY, 2001). A biodisponibilidade das isoflavonas da soja depende de um intestino intacto, saudável, com microflora capaz de converter as isoflavonas às suas formas ativas. Estudos mostram que a administração de antibióticos bloqueia o metabolismo das isoflavonas pela microflora intestinal e impede que se torne ativa.Em crianças alimentadas com fórmulas infantis à base de soja nos primeiros quatro meses de vida, a absorção das isoflavonas não ocorre pois a microflora intestinal é pouco desenvolvida (SETCHELL et al, 1984) 21 2.4.2 Interação dietética como determinante da biodisponibilidade das isoflavonas. A biodisponibilidade das isoflavonas pode depender também de sua interação com outros componentes da dieta. Os componentes naturais da soja podem ter algum impacto na biodisponibilidade das isoflavonas, embora este assunto não tenha sido estudado exaustivamente. Um estudo randomizado comparou a excreção urinária de isoflavonas em mulheres alimentadas com diversos tipos de produto derivados da soja: tofu, tempeh, PTS e grãos de soja. Observou-se que as taxas de isoflavonas na urina (excretado/ingerido) eram similares embora os alimentos tivessem composições químicas diferentes.(TEW et al, 1996). Contraditoriamente, um estudo envolvendo homens que se alimentaram de tempeh ou grão de soja por 9 dias mostrou que as isoflavonas do tempeh tiveram absorção duas vezes maior quando comparadas ao do grão usando a excreção urinária como referência. (HUTCHINS et al., 1995) Ainda não há um consenso sobre este tema. É provável que as isoflavonas de produtos de soja fermentada, como tempeh e misso, sejam mais rapidamente absorvidas, uma vez que grande parte das isoflavonas presentes nestes produtos encontram-se na forma aglicona, que são as formas ativas. 2.5 Benefícios para a saúde 2.5.1 Isoflavonas e Câncer O fato de países orientais apresentarem o menor índice de cânceres, principalmente os relacionados com hormônios, mostra que fatores ambientais, como a dieta, podem ser determinantes na diminuição do risco do desenvolvimento destas doenças. A maioria das evidências com relação aos efeitos das isoflavonas em humanos é epidemiológico, baseados na diferença de consumo de produtos de soja em diferentes áreas do mundo. Estudos que mediram a excreção urinária de fitoestrógenos mostram que a concentração de daidzeína, genisteína e equol é substancialmente maior em japoneses, consumidores assíduos de soja (SALGADO, 2001). 22 As isoflavonas afetam o crescimento de células cancerígenas dependentes de hormônios através de seus efeitos receptores de estrógeno e interferências com outros mecanismos de ciclos celulares. 2.5.2 Isoflavonas e efeitos na pré e pós menopausa Estudos mostram que a ingestão de 45 mg de isoflavonas/dia tem a capacidade de prolongar a duração do ciclo menstrual. Ciclos menstruais longos estão associados ao baixo risco de câncer de mama. As isoflavonas têm efeito regulador endócrino, devido à função estrogênica. (BARNES, 1998) Um grande número de ensaios clínicos com alimentos tem sido conduzidos em mulheres pós-menopausa com o objetivo de avaliar os efeitos sobre as ondas de calor e na citologia vaginal. O consumo de uma dieta rica em isoflavonas durante 12 semanas reduziu os sintomas da menopausa, como os fogachos (54%) e os problemas de secura vaginal em (60%) (BRZEZINSKI, 1997). 2.5.3 Isoflavonas e osteoporose Os estudos mostraram que além do efeito estrogênico, a soja pode atuar na prevenção da osteoporose. As proteínas, de um modo geral, exercem um efeito calciúrico, sendo mais intenso quando a ingestão excede muito a necessidade diária. A calciúria é muito menor quando se ingere a proteína da soja. Um estudo realizado em 66 mulheres durante 6 meses, avaliou o efeito de 3 dietas: uma dieta composta de 40 g de caseína, uma dieta composta de 40g de proteína da soja com 56g de isoflavonas e uma dieta contendo 40g da soja com 90g de isoflavonas. Os resultados mostraram que a dieta com 90g de isoflavonas aumentou significativamente a densidade mineral óssea da região lombar quando comparado ao grupo controle e ao que aportava 56g de isoflavonas (HENDRICH & MURPHY, 2001). 2.5.4 Isoflavonas e doenças cardiovasculares A diminuição do risco de doenças cardiovasculares está associada ao consumo de soja, uma vez que esta tem a capacidade de reduzir as concentrações totais de colesterol e de LDL-colesterol, e possui efeitos antioxidantes prevenindo a 23 arteriosclerose. (ANDERSON, 1995) Entretanto, estudos mostram que não se pode atribuir todos os benefícios da soja as isoflavonas isoladamente. Diante disso, O Food and Drug Administration (FDA) concluiu em apoiar a petição de alegação de saúde para proteína da soja pela sua contribuição em promover a saúde cardiovascular em humanos (HENDRICH & MURPHY, 2001). 2.6 Recomendação Diante das evidências dos benefícios da proteína de soja, ANDERSON e col, (1995) determinou a dose de 30g de proteína de soja/dia, como aquela que aporta efeitos positivos à saúde. Esta dose pode ser facilmente incorporada a dieta através do consumo de produtos da soja como: grão, leite de soja, tempeh, tofu e misso. 24 3. FLAVONÓIDES E OUTROS COMPOSTOS FENÓLICOS 3.1 Estrutura química 3.1.1 Compostos fenólicos Os compostos fenólicos são uma das maiores classes de metabólitos secundários de plantas. Quimicamente podem ser definidos como substâncias que possuem um anel aromático contendo um ou mais grupo hidroxila. Os compostos fenólicos existentes nos alimentos abrangem geralmente ácidos fenólicos, cumarinas, flavonóides e taninos e são divididos em dois grandes grupos (DUBICK & OMAYE, 2001). A figura 6 apresenta os compostos fenólicos de maior importância. Fonte: FAULKS & SOUTHON, 2001 Figura 6. Estrutura química dos seguintes compostos fenólicos: (A) tanino; (B) galato de epicatequina e ácido gálico; (C) resveratrol (resveratrol pode existir na configuração 25 cis e trans; (D) teaflavina (R1 = OH) e galato de teaflavina (R1 = H ou galloy1) e (E) quercetina. 3.1.2 Flavonóides Estruturalmente, os flavonóides constituem substâncias aromáticas com 15 átomos de carbono (C15) no seu esqueleto básico. Possuem nessa estrutura três anéis aromáticos C6 – C3 – C6 (A, B e C), como se vê na figura 7. O esqueleto C15 dos flavonóides é biogeneticamente derivado do fenilpropano (C6 – C3 ) e três unidades de acetato (C6 ). Fonte: WILDMAN, 2001 Figura 7. Estrutura básica dos flavonóides. Os flavonóides constituem o mais importante grupo dos compostos fenólicos e podem ser divididos nos seguintes subgrupos: antocianinas, flavanas, flavononas, flavonas, flavonóis e os isoflavonóides (discutidos no capítulo 3). O quadro 2 apresenta algumas das principais classes de flavonóides, assim como alguns dos seus principais representantes e características 26 Classes Coloração Exemplos Fontes Antocianinas Azul, vermelha, violeta Cianidina, Delfinidina, Peonidina. Antocianinas estão predominantemente em frutas e flores e provavelmente foram os primeiros flavonóides a serem isolados provenientes de pigmentos florais, conforme indicam seus próprios nomes. São usadas como corantes. Flavanas (mono, bi e triflavan) Incolor Catequina, Epicatequina, Luteoforol, Procianidina, Theaflavina Flavanas são encontradas em frutas e chás (verdes ou pretos). Biflavanas são encontradas em lúpulo, nozes e bebidas como chás e água de coco. O sabor peculiar de algumas bebidas, frutas, chás e vinhos é devido, principalmente, à presença das biflavanas. Flavanonas Incolor para um amarelo pálido Hesperidina, Naringenina Flavanonas são encontrados quase que exclusivamente em frutas cítricas. Flavonas Amarelopálido Apigenina, Luteolina, Diomestina, Tangeretina, Nobiletina Tricetina Flavonas são encontrados quase que exclusivamente em frutas cítricas. Mas também em cereais, frutas, ervas e vegetais. Conferem o pigmento amarelo em flores. Os compostos mais comuns são a apigenina e a luteolina. Flavonóis Amarelo pálido Quercetina, Rutina, Mircetina, Campferol Os flavonóis estão presentes em diversas fontes, sendo predominantes em vegetais e frutas. A quercetina é o principal representante da classe. Isoflavonóides Incolor Daidzeína, Genisteína Isoflavonóides são encontrados quase que exclusivamente em legumes, particularmente na soja. FONTE: LOPES et al, 2000. Quadro 2. Principais classes de flavonóides e suas características básicas Existe uma grande diversidade estrutural dos flavonóides, explicada pelas modificações que tais compostos podem sofrer, como: hidroxilação, metilação, acilação, glicolisição, entre outras. Na natureza, os flavonóides estão normalmente ligados a vários açúcares, em complexos chamados glicosídeos. Apesar do termo “flavonóide” derivar do latim flavus, que significa amarelo, observa-se que os grupos flavonóis e flavonas são incolores e que a classe das antocianinas possuem substâncias que variam sua coloração do verde ao azul. (LOPES et al, 2000). Nas plantas eles são essenciais para a pigmentação, crescimento, reprodução, resistência a patógenos e para muitas outras funções. 27 3.2 Fontes e efeitos do processamento do flavonóides e outros compostos fenólicos: As principais fontes de flavonóides e compostos fenólicos são as frutas cítricas (limão, laranja e tangerina) e frutas como cereja, uva, ameixa, pêra, maçã e mamão, sendo encontrados em maiores quantidades na polpa que no suco da fruta. Pimenta verde, brócolis, repolho roxo, cebola e tomate também são excelentes fontes de flavonóides. O gráfico 1 mostra os principais alimentos constituintes da dieta humana fontes de compostos fenólicos (LOPES et al, 2000). 8% 44% 13% 2% 2% 30% Chocolate, Cacau Frutas Bebidas Bebidas Alcoolicas Vegetais Frutas Vermelhas Fonte: HUANG et al, 1992 Gráfico 1. Principias alimentos constituintes da dieta humana fontes de compostos fenólicos e sua percentagem de consumo diário. Vegetais frescos e processados sofrem escurecimento enzimático pela ação da polifenol-oxidase em compostos fenólicos destes alimentos, na presença de oxigênio. Durante o processamento, é importante criar mecanismos para evitar esta reação, que é indesejável do ponto de vista sensorial. (HUANG et al, 1992) Os flavonóides, quando ligados aos açúcares, tendem a ser estáveis à cocção dos alimentos. Contudo, significantes perdas físicas ocorrem se a camada 28 externa das frutas, tais como maçãs e pêras, são removidas antes do consumo, ou durante o processo industrial. (RICE et al, 1997) 3.2.1Compostos fenólicos em vinhos e uvas Os compostos fenólicos do vinho incluem ácidos fenólicos, taninos e flavonóides (antocianinas, rutina, catequina, miricetina, quercetina e epicatequina). Protoantocianidinas e catequinas são os principais compostos encontrados no vinho tinto e em sementes de uvas. A casca da uva e o suco da fruta contêm antocianinas, quercetina e mircetina. O resveratrol é um composto fenólico também encontrado nas uvas e que desperta interesse devido a seus efeitos benéficos à saúde (DUBICK & OMAYE, 2001). A concentração de compostos fenólicos difere nos vinhos tinto e branco. O vinho branco é produzido pela fermentação do suco de uva e o vinho tinto da fermentação do suco com a casca da uva vermelha, com o objetivo de extrair também sua cor; neste caso, há maior concentração de compostos fenólicos. (MAZZA & GIRARD, 1998). Segundo DUBICK & OMAYE (2000) a concentração destes compostos varia de acordo com o tipo de uva e seu processamento. Os vinhos envelhecidos diferem quanto à natureza de seus compostos fenólicos, quando comparado aos vinhos mais novos e às uvas in natura. Com o envelhecimento, as antocianinas do vinho reagem com os taninos presentes para formar outros compostos coloridos, quimicamente estáveis. Com o envelhecimento longo, os taninos condensados precipitam, reduzindo o nível de flavonóides. A percentagem de taninos condensados não é constante no vinho, aumentando com o envelhecimento. As uvas frescas não contêm quercetina ou outros flavonóides na forma aglicona, no entanto, no vinho, as ligações glicosídicas hidrolisam-se lentamente, libertando estas agliconas. A hidrolisação de outros compostos aumenta também os níveis de ácido gálico de zero (nas uvas) para cerca de 50 mg/l nos vinhos (RICE et al, 1997). Na produção do vinho tinto a extração da antocianina e outros compostos fenólicos presentes nas uvas começa na compressão das frutas e continua nos processos de fermentação e prensagem. O aumento da temperatura, que acontece 29 durante a fermentação, também facilita a extração de pigmentos vermelhos, onde estão os flavonóides, que contribuem para as características sensoriais do vinho tinto. O quadro 3 mostra a concentração de alguns flavonóides presentes em vinhos tinto e branco de uvas Vitis vinifera. Compostos Vinho Branco (mg/l) Vinho Tinto (mg/l) Flavonóis Miricetina 0 8.5 Rutina 0 9.7-10 Quercetina 0 274-450 Flavanas Catequina 56 191-360 Epicatequina 21 82-100 Antocianinas Antocianianidina 0 2,8 Resveratrol 0,027 1,5 Fonte: Adaptado de WILDMAN, 2001. Quadro 3. Concentração de flavonóides e resveratrol nos vinhos tinto e branco. Existem poucos estudos referentes à concentração de flavonóides e outros fenóis em sucos de uva, no entanto, estudos recentes mostram que o conteúdo de quercetina e mircetina é menor no suco da fruta (7 a 9 mg/L) do que no vinho tinto (4 a 16 mg/L) (HENDRICH & MURPHY, 2001). 3.2.2 Compostos fenólicos em chás As porções vegetativas imaturas da planta do chá podem conter até 30% de fenóis, dos quais os maiores componentes são os flavonóis como a quercetina, caempferol, mircetina e seus glicosídeos, além de flavanas, flavonas, ácidos fenólicos, ácido gálico e ácido clorogênico. O extrato bruto de chá verde também contém pelo menos 25% de catequinas, compostos que contribuem para amargura e adstringência do chá. (HUANG et al, 1992). Os compostos fenólicos solúveis constituem cerca de 15% em massa do chá preto, no entanto a sua composição pode variar conforme a variedade do chá, a localização geográfica, condições ambientais e natureza do solo. (SHANHIDI & NACZK, 1995). O chá verde é produzido da folha fresca de Camelia sinensis após uma rápida inativação da polifenol-oxidase através do emprego de calor seco em alta temperatura, 30 o que preserva o conteúdo de compostos fenólicos. Por sua vez, o chá preto é derivado de folhas envelhecidas pela oxidação aeróbica de catequinas, catalizada enzimaticamente. Conseqüentemente, os níveis de catequinas são menores no chá preto do que no chá verde (DUBICK & OMAYE, 2001). O quadro 4 mostra a concentração de alguns compostos fenólicos presentes no chá preto e verde. Compostos Chá Verde (mg/g) Chá Preto (mg/g) Flavonóis 50-100 60-80 Quercetina 10-20 Caempferol 20-45 14-16 Miricetina 2-5 Flavanas 300-400 50-100 Catequina 10-20 5 Epicatequina 10-50 10-20 Epigalocatequina 30-100 10-20 Galocatequina 10-30 Galato de epicatequina 30-100 30-40 Galato de epigalocatequina 70-150 40-50 Flavandiols 20-30 Ácidos Fenólicos 30-50 100-120 Teaflavina 30-60 Fonte: WILDMAN,2001. Quadro 4. Concentração de compostos fenólicos nos chás verde e preto. Segundo o departamento de pesquisa da Unilever, Unilever Research (1999) durante o processamento do chá preto, a maioria das catequinas do chá verde são oxidadas a produtos de coloração amarela, vermelha, castanha, predominantemente teoflavinas (duas moléculas de catequinas ligadas) ou teorubiginas (moléculas mais complexas). O tempo de infusão do chá também influência na concentração final dos compostos fenólicos, sendo que o pico máximo de antioxidantes liberados foi verificado durante os primeiros quatro minutos. Ambos os tipos de chá verde e preto contêm altos teores de compostos fenólicos, responsáveis pelos potenciais atributos promotores de saúde, bem como distintos sabores, aromas e cores. 3.3 Absorção, metabolismo e biodisponibilidade O mecanismo de absorção dos flavonóides é o mesmo descrito anteriormente para as isoflavonas da soja no capítulo 3: depende do tipo do alimento, 31 da sua estrutura química e interações com outros componentes como proteínas, etanol e fibras (DUBICK & OMAYE, 2001). Os flavonóides absorvidos, após serem metabolizados no intestino delgado, são sujeitos a várias reações no fígado que incluem: metilação, sulfonação e glucoronidação (se ainda não tiverem sofrido este tipo de reações) levando a diversas formas conjugadas. De fato, biotransformações tais como as mediadas por transferases, responsáveis pela condensação com grupos sulfato ou ácido glucorônico, encontram-se particularmente ativas no fígado, que é considerado como o órgão regulador do metabolismo dos flavonóides presentes na dieta humana (RICE et al, 1997). Estudos em animais e em humanos confirmaram que os flavonóides são encontrados em circulação pouco tempo após o consumo e são distribuídos nos tecidos. Quando o extrato de chá verde foi consumido por voluntários saudáveis, várias catequinas foram encontradas no plasma numa concentração variando entre 0,2 a 2,0% da quantidade ingerida, com uma concentração máxima entre 1,4 e 2,4 horas após a ingestão (GISLASON, 2003). A biodisponibilidade dos fenólicos é crucial para a sua eficiência como agentes anticancerígenos e antienvelhecimento. As catequinas, por exemplo, são prontamente absorvidas no intestino, de 70 a 80% delas passam para a circulação; no fígado, cerca de 90% das catequinas ingeridas são metiladas, sulfatadas ou conjugadas com ácido glucorônico, cerca de 2-5% das catequinas ingeridas permanecem intactas na circulação (GRAHAM, 2000). Em alguns países, como o Reino Unido, adiciona-se leite ao chá. Em laboratório, verifica-se que os flavonóides podem se ligar às proteínas do leite, mas isso não foi confirmado em estudos in vivo. A adição de leite ao chá pode seqüestrar os taninos e, assim, proteger o trato digestivo dos seus efeitos irritantes na mucosa intestinal (ANDERSON & POLANSKY, 2000). 3.4 Mecanismo de ação de flavonóides como antioxidantes Antioxidantes são compostos químicos com capacidade de reagir com os radicais livres e assim restringir os efeitos maléficos ao organismo. O corpo humano 32 produz alguns antioxidantes endógenos, como é o caso de certas enzimas, ou estes podem ser consumidos através da dieta. A maioria dos flavonóides tem a capacidade de reagir com radicais livres e exercer funções antioxidantes no organismo. Alguns dos efeitos deletérios da ação de radicais livres estão listados no quadro 5. 1. Oxidação de LDL, o que pode aumentar o risco de aterosclerose; 2. Promoção de adesão plaquetária, o que pode acarretar trombose aumentando o risco de AVC e enfarte; 3. Dano ao DNA, levando a aberrações cromossômicas e neoplasias; 4. Potencialização da inflamação e desequilíbrio da função imune. Fonte: MAZZA & GIRARD, 1998. Quadro 5. Efeitos da ação dos radicais livres. Os radicais livres são formados naturalmente no metabolismo, e também durante o exercício físico e pela exposição da pele a luz solar. A superprodução de radicais livres também pode ocorrer no caso de tabagismo, inflamações crônicas e poluição ambiental. Estes radicais são moléculas instáveis e reativas, que para se estabilizarem seqüestram elétrons de outras moléculas, levando a danos biológicos potenciais por reação com moléculas de DNA, proteínas e outros componentes da membrana celular. Um exemplo deste processo foi proposto por Cook e Samman (1996) para demonstrar a oxidação nas membranas lipídicas, que acontece em três estágios (DISILVESTRO, 2001): Iniciação: na presença de metais, radicais livres removem uma molécula de hidrogênio de um ácido graxo poliinsaturado para formar um radical lipídico. Propagação: o radical lipídico mais uma molécula de oxigênio formam um radical lipídico peróxido, que se “quebra” dando origem a outros radicais livres. Terminação: os novos radicais livres reagem entre si ou com uma molécula antioxidante que o elimina. O processo de oxidação é abordado com mais detalhes no capítulo 5. 33 Os flavonóides podem agir em qualquer um destes estágios, bloqueando a iniciação quando seqüestram os primeiros radicais livres; o radical flavonóide intermediário, formado após a reação com radicais, pode continuar reagindo com os outros radicais formados durante a fase de propagação e assim acelerar o processo de terminação. (DISILVESTRO, 2001). Outros possíveis mecanismos antioxidantes dos flavonóides são: Alteração da produção de radicais Eliminação de precursores de radicais Quelação de metais Elevação dos níveis de antioxidantes endógenos Os flavonóides e outros compostos fenólicos são conhecidos por inibir a peroxidação lipídica e as lipoxigenases in vitro, e tem-se demonstrado a capacidade destes em seqüestrar radicais como hidroxila, superóxido e peroxila, os quais são de conhecida importância no estado celular pró-oxidante. Ácido elágico, ácido gálico, metilgalato e ácido tânico têm sido usados como antioxidantes, sendo este último reconhecidamente seguro para o uso como aditivo em alimentos. 3.5 Benefícios à saúde Na medicina tradicional, o extrato de uvas e outras frutas eram usados para preparar infusões, tinturas e sucos. Em 1939, Rusznyàk e Szent-Györgyi observaram que a mistura de duas flavononas tem a capacidade de fortificar e diminuir a fragilidade dos capilares e propuseram o nome de vitamina P. Entretanto, a diversidade química encontrada para os flavonóides impediu a classificação destes compostos como vitaminas. Atualmente, numerosos estudos mostraram que flavonóides e outros compostos fenólicos presentes nos alimentos possuem efeitos anticarcinogênicos, antiinflamatórios, anti hepatotóxico, antiviral, antialérgico, antitrombótico e antioxidantes (MAZZA & GIRARD, 1998). 34 3.5.1 Efeitos anticarcinogênicos A atividade anticarcinogênica dos fenólicos tem sido relacionada à inibição dos cânceres de cólon, esôfago, pulmão, fígado, mama e pele. Os compostos fenólicos que possuem este potencial são: resveratrol, quercetina, ácido caféico e flavonóis. Estudos com resveratrol revelaram que este composto age como antioxidante e antimutagênico: induz a fase II de enzimas drug-metabolizing, isso funciona como mediador dos efeitos antiinflamatórios; e inibe a função da ciclogenase e hidroperoxidases. Flavonóides e outros compostos fenólicos também mostraram ser eficientes no estágio inicial do desenvolvimento de cânceres, uma vez que protegem as células contra o ataque direto de substâncias carcinogênicas como as nitrosamidas. O efeito antitumoral dos flavonóides tem sido atribuído a sua capacidade de inibir as polimerasespresentes no DNA e RNA e/ou inativar as enzimas descarboxilase (MAZZA & GIRARD, 1998). 3.5.2 Efeitos antiaterogênicos Acredita-se que os flavonóides, quando ingeridos de forma regular por meio da alimentação diária, podem auxiliar na prevenção de doenças do sistema cardiovascular. Estudos epidemiológicos conduzidos na Holanda e Finlândia têm mostrado uma relação inversa entre o consumo de flavonóides e a ocorrência de doenças cardíacas. Esses compostos são muito importantes para o sistema circulatório, uma vez que regulam a permeabilidade capilar, impedindo a saída de proteínas e células sanguíneas, permitindo o fluxo constante de oxigênio, dióxido de carbono e de nutrientes essenciais. Muitos flavonóides fortalecem os capilares, evitando que os mesmos sejam lesionados, isto se deve em parte ao aumento da atividade vitamina proporcionada por estes compostos, protegendo contra infecções e danos nos vasos capilares (MAZZA & GIRARD, 1998). Outro aspecto importante é o fato de que os flavonóides atuam relaxando os músculos do sistema cardiovascular, contribuindo assim para a reduzir a pressão arterial e melhorar a circulação em geral. Possuem também as atividades antioxidantes já mencionadas, prevenindo a oxidação do colesterol LDL, responsável pela formação 35 de placas (ateromas) que bloqueiam a passagem da corrente sanguínea. Também evitam a formação de coágulos e danos arteriais (DUBICK & GIRARD, 2001). A associação positiva entre a ingestão de catequinas e a redução de doença coronária e diabetes, resultantes da obesidade, podem ser explicada parcialmente pela estimulação do metabolismo lipídio hepático por este flavonóide (aumento da cetil-CoA oxidase e Beta-oxidação) (MAZZA & GIRARD, 1998). 36 4.CAROTENÓIDES 4.1 Estrutura química e síntese nas plantas Os carotenóides são substâncias coloridas amplamente distribuídas na natureza, principalmente nos cloroplastos de plantas, sempre acompanhando as clorofilas. A mudança de cor durante o amadurecimento dos frutos ou envelhecimento de vegetais é causada pelo desaparecimento das clorofilas, que, quando presentes, mascaram as cores de outros pigmentos. Durante o amadurecimento os carotenóides se transformam em cromoplastos, e a síntese de outros novos é estimulada (BELITZ & GROSH, 2000). Mais de 400 carotenóides são encontrados na natureza e podem ser obtidos facilmente por extração a frio com solventes orgânicos. Têm cor intensa, que varia do amarelo ao vermelho, mudando para azul por reação com ácido sulfúrico ou tricloreto de antimônio e se dividem em: Carotenos: carotenóides constituídos por carbono e hidrogênio. Xantofilas: derivados do caroteno que possuem um ou mais átomos de oxigênio. Quimicamente os carotenóides são substâncias lipossolúveis, poliinsaturadas, tetraterpênicas, formadas por oito unidades de isopreno, de tal modo que a ligação isoprênica sofre reversão na parte central da molécula, ficando, então, maneira os dois grupos metílicos centrais separados por quatro carbonos. (BELITZ & GROSH, 2000) A figura 8 mostra a estrutura química dos carotenóides mais comuns. 37 Fonte: FAULKS & SOUTHOW, 2000 FIGURA 8. Estrutura química dos carotenóides mais comuns. A estrutura do licopeno, pigmento encontrado no tomate, é considerada a estrutura fundamental dos carotenóides, da qual podem ser derivadas outras estruturas por reações de hidrogenação, ciclização, oxidação ou combinação desses métodos. São também considerados carotenóides alguns compostos formados por rearranjos ou degradação do licopeno. Em geral, duplas ligações podem ocorrer nas configurações cis e trans, sendo que os carotenóides dos alimentos ocorrem freqüentemente ligações na forma trans. A cor intensa dos carotenóides se deve ao grande número de insaturações conjugadas presentes na molécula. Quanto maior o número de insaturações conjugadas, mais intensa é a cor do composto (OLIVEIRA & MARCHINI, 1998). 38 4.1.1 Nomenclatura A nomenclatura sistemática dos carotenóides é baseada em um núcleo central denominado caroteno, e as especificações para as extremidades são designadas pelas letras gregas (beta), (épsilon), (psi), (phi), (kappa), (xi) que tem os seguintes significados: e , ciclohexano; ciclopenteno; acíclico; cíclico e aril. O quadro 6 mostra os nomes comuns e sistemáticos de alguns carotenóides: NOME COMUM NOME SISTEMÁTICO Bixina Metil-hidrogênio-9’-cis-6,6’-diapocaroteno-6,6.-ato Astaxantina 3,3’-dihidroxi-, caroteno-4,4’-diona Cantaxantina ,-caroteno-4,4’-diona -caroteno (6 R)- --caroteno -caroteno ,-caroteno -caroteno ,-caroteno Criptoxantina ,-caroteno-3,4,3’,4’-letrol Luteína (3R,3’R,6’R)- --caroteno-3,3’-diol Licopeno ,-caroteno Zeaxantin ,-caroteno-3,3’-diol Neurosporeno 7,8-dihidro ,*-caroteno Capsantins (3r,3’S,5’R)-3,3’-dihidroxi--K-caroten-6’-ona Fonte: BELITZ & GROSH, 2000 Quadro 6. Nomes comuns e sistemáticos de alguns carotenóides. 4.1.2 Propriedades A maioria dos carotenóides é termolábel, principalmente as xantofilas. A luz solar direta ou luz ultravioleta podem causar a fotoisomerização cis-trans, podendo inclusive, em condições mais enérgicas, causar a destruição destes pigmentos. Os carotenóides são facilmente oxidados por oxigênio celular ou peróxidos, e mesmo pelo oxigênio do ar, dependendo da luz, calor e presença de pró-oxidantes. Essas reações 39 talvez sejam causadas por meio da formação de radicais livres. (BELITZ & GROSH, 2000) 4.2 Fontes e efeitos do processamento Apesar dos carotenóides encontrarem-se em abundância nos alimento, apenas uma pequena parcela é consumida em quantidades significantes. A maioria dos carotenóides são originados de alimentos vegetais, embora possam ser encontrados em alimentos de origem animal como ovos, leite, queijos, vísceras e alimentos processados, onde são adicionados para colorir alimentos (FAULKS & SOUTHOW, 2000). O Quadro 7 mostra as fontes de alguns carotenóides encontrados na natureza: Carotenóide Fonte Alimentar -Caroteno Cenoura -Caroteno Cenoura, manga,abóbora Luteína Gema de ovos Criptoxantina Milho amarelo, páprica, mamão Zeaxantina Gemas de ovos, milho Crocina Açafrão Bixina Urucum Capsantina Pimenta vermelha Capsorrubina Páprica 5,6-monoepoxi-(i-caroteno) Caraguatá 5,6-diepoxi-(i-caroteno) Caraguatá Violaxantina Amor perfeito Licopeno Tomate, melancia Fonte: BELITZ & GROSH, 2000 Quadro 7. Fontes de carotenóides 40 Embora frutas e vegetais contenham uma quantidade específica de carotenóides, a forma de cultivo destes vegetais pode influenciar sua quantidade total e concentração. Por esta razão, estudos que mensuram a quantidade de ingestão de carotenóides devem analisar a concentração do carotenóide dominante no alimento, ao invés de utilizar apenas tabelas de composição de alimentos. Também devem ser considerados os metabólitos intermediários dos carotenóides. O grande número de duplas ligações, embora sejam essenciais para sua função, torna os carotenóides muito suscetíveis à degradação por oxidação. Por isso os carotenóides são estáveis quando a estrutura do alimento está intacta e são rapidamente degradados quando a estrutura do alimento é abalada e quando são expostos ao calor, luz, oxigênio, peróxidos, metais de transição e lipoxigenases (FAULKS & SOUTHOW, 2000). 4.3 Absorção Devido a suahidrofobicidade, os carotenóides não são solúveis no meio aquoso do trato gastrointestinal. Esses compostos necessitam ser carreados ou dissolvidos em lípides ou em sistema lípide + sais de bile para serem absorvidos pelas microvilosidades da parede dos enterócitos. A absorção dos carotenóides é facilitada pela presença de lipídios da dieta e enzimas digestivas, principalmente as lipases. A ação da lipase produz ácidos graxos livres que são incorporados em uma micela mista (sais de bile, lecitina, glicerol, ácidos graxos livres e uma minoria de compostos lipofílicos). O processamento de alimentos ricos em carotenóides junto com gordura aumenta sua disponibilidade para absorção, em parte devido à possibilidade do carotenóide passar para o meio lipídico antes da ingestão. Os carotenóides são absorvidos passivamente nos enterócitos na fase micelar da digestão, embora não se saiba se todos os carotenóides presentes nas micelas mistas sejam absorvidos, ou se alguns (talvez por seleção) são deixados associados com os sais biliares e colesterol e então excretados. (VAN VLEIT et al, 1995) Fatores que dificultam a absorção de gorduras, como a presença de fibras solúveis, podem também reduzir a taxa de absorção de carotenóides. Doenças que prejudicam a absorção de lipídios como a fibrose cística, doença celíaca e deficiência 41 de vitamina A podem também prejudicar a absorção de carotenóides, resultando em um baixo nível destes compostos no plasma (notados em indivíduos com inflamações crônicas). O uso de substitutos de gordura como o Olestra também pode interferir negativamente na absorção de carotenóides (O´NEIL & TRURNAHAM, 1998). 4.4 Metabolismo Uma vez absorvido, o carotenóide se liga a uma proteína e um triacilglicerol formando um quilomicron. Diferente dos compostos hidrossolúveis, que são transportados para o fígado pela veia porta, os quilomicrons entram na circulação onde são hidrolisados por lipases nos capilares extra-hepáticos. A lipase hidrolisa o triacilglicerol do quilomicron em ácido graxo livre, absorvido imediatamente pelos tecidos. Outras moléculas originadas neste processo como o glicerol, são excretadas pelo fígado. Os carotenóides são então excretados pelo fígado na forma de VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade), que é metabolizado na seqüência em LDL (proteína de baixa densidade), IDL (proteína de densidade intermediária) e HDL (proteína de alta densidade). Essas diferentes classes de lipoproteínas carreiam os carotenóides e os distribuem no corpo humano na seguinte forma: 80% na gordura corporal, 10% no fígado e o restante em locais variados. A retina dos olhos contém altos níveis de xantofilas, luteína e zeaxantina, associadas a proteínas (NOVOTINY, 1995). 4.5 Mecanismo de ação Alguns carotenos são percussores de vitamina A, um nutriente bastante conhecido da dieta humana. Esses compostos, que são denominados pró-vitaminas A, devem ter necessariamente, nas moléculas, a estrutura cíclica da -ionona, mostrada na figura 9 (BELITZ & GROSH, 2000). Exemplos de carotenóides com atividade vitamínica em questão são: , e -caroteno e a criptoxantina (OLIVEIRA E MARCHINI, 1998). 42 Fonte: BELITZ & GROSH, 2000. FIGURA 9. Estrutura cíclica da -ionona. Embora os carotenóides possuam importante atividade como pró-vitamina A, pode desempenhar também, ao lado de outros carotenóides não percussores desta vitamina, outras funções no organismo devido à sua função antioxidante, antimutagênica e por seu efeito imunomodulador (OLIVEIRA E MARCHINI, 1998). As reações oxidativas acontecem na presença de espécies reativas de oxigênio (ERO). São substâncias que apresentam elevada reatividade como: radicais hidroxila (OH-), peroxila (RO2-), alcooxila (RO-), hidroperoxila (HO2-), íon superóxido (O2-), peróxido de hidrogênio (H2O2-), ácido hipocloroso (HOCL-), ozona (O3-) e as formas triplete (3O2-) e singleto (1O2-) do oxigênio. A prevenção das reações oxidativas é feita por antioxidantes, substâncias que, quando presentes em níveis altos em comparação a um composto oxidável, atrasam significantemente ou inibem a oxidação destes compostos. Sob condições normais, os antioxidantes e as ERO estão em equilíbrio, evitando assim os danos oxidativos às células. Sob certas condições, entretanto, esse equilíbrio é perturbado. Esta situação é conhecida como estresse oxidativo e está associada a várias doenças como câncer, processos inflamatórios em geral, arteriosclerose e outros (MANGELS et al, 1993). Substâncias como os carotenóides apresentam propriedades antioxidantes, pois reagem com o oxigênio e radicais livres na transferência de energia ao oxigênio singleto e tripleto e no extermínio do oxigênio singleto. Transferência de energia do oxigênio tripleto: Sob certas condições, algumas moléculas de oxigênio podem absorver luz e produzir tripletos excitados. Os 43 carotenóides, devido a sua estrutura, são capazes de absorver esta energia e liberá-la sob a forma de calor, extinguindo-a do oxigênio tripleto que por sua vez volta à sua forma básica, prevenindo a produção dos radicais livres e conseqüentemente seus efeitos prejudiciais. O2 + Luz 3 O2 3O2 + Carotenóide 3 Carotenóide + O2 3Carotenóide Carotenóide + Calor Exterminação do oxigênio singleto: A luz ou as reações químicas podem converter oxigênio tripleto em singleto que é extremamente reativo. Os carotenóides reagem com o oxigênio singleto produzindo o oxigênio tripleto que por sua vez perde sua energia para o carotenóide, sendo está disseminada na forma de calor. 1O2 + Carotenóide 3O2 + 3 Carotenóide 3 Carotenóide Carotenóide + Calor A estrutura de ligações duplas conjugadas, típica dos carotenóides, tem a capacidade de acomodar cargas ou elétrons desemparelhados. Esta propriedade físico- química confere a habilidade de exterminar os radicais livres in vitro (FAULKS & SOUTHOW, 2000). 4.6 Benefícios para a saúde Os carotenóides têm a capacidade de reduzir o risco de doenças cardiovasculares e cânceres, devido às suas propriedades antioxidante, mencionadas anteriormente. São capazes de: (1) interromper as reações de radicais livres que podem oxidar lipídios insaturados e (2) proteger o DNA contra do ataque de radicais livres. Essas duas evidências parecem ser fundamentais para inibir os processos de iniciação e progressão da aterogênese e câncer, respectivamente (FAULKS & SOUTHOW, 2000). 44 4.6.1 Aterogênese O mecanismo para o desenvolvimento e progressão da doença é a produção de LDL oxidado; este é levado pelos monócitos que se infiltram na parede das artérias se diferenciando a macrófagos, que possuem a capacidade de varrer os LDL oxidados e produzir células espumosas. Essas células formam a camada inicial de gorduras na parede das artérias que acabam por formar as placas características da doença cardiovascular. Os carotenóides têm a capacidade de prevenir os estágios iniciais da formação de peróxidos, protegendo o LDL da oxidação, evitando o processo descrito (HENNEKENS et al, 1996). 4.6.2 Neoplasias Há forte evidência de que os radicais livres gerados endógena ou exogenamente estejam associados a carcinogênese e progressão do câncer, devido aos danos causados a moléculas como lipídeos e proteínas. Mudanças oxidativas do DNA levam à mutação e alteram a função genética, resultando no processo carcinogênico (FLESHNER, 2001). A redução do dano oxidativo pode diminuir o risco do câncer e de doenças cardiovasculares. O aumento os níveis de carotenóidesno organismo também promovem a regulação da comunicação intercelular, a modulação de hormônios e melhoram a resposta imune, diminuindo o risco de doenças crônicas (AGARWAL & RAO, 2000). 4.6.3 Fotoproteção A retina dos olhos contém dois carotenóides tipo xantofila, luteína e zeaxantina, cuja função fotoprotetora, se deve à capacidade antioxidante citada (FAULKS & SOUTHOW, 2000). 4.7 Toxicidade Os carotenóides não se mostram cito ou genotóxicos em estudos que utilizaram altas doses ou suplementação. A carotenoderma ou hiperbetacarotenemia (mão amarela) é uma conseqüência comumente encontrada em estudos com indivíduos 45 que consomem grandes quantidades de cenoura, particularmente se esse indivíduos tem um baixo índice de massa corporal; esta condição é rapidamente reversível depois de cessado o consumo. No entanto altos níveis de luteína, zeaxantina e cantaxantina, que são armazenados nos olhos, podem causar danos oculares (FAULKS & SOUTHOW, 2000). Recentemente dois grandes estudos, o CARET (Beta Carotene and Retinol Efficacy Trial) conduzido nos Estados Unidos e o ATBC (Alphatocopherol Beta Carotene) conduzido na Finlândia, demostraram um inesperado aumento do risco do câncer de pulmão associado à suplementação com beta caroteno (OLIVEIRA e CURY, 2002). 4.8 Licopeno Dos carotenóides, o licopeno é que possui a maior atividade antioxidante in vitro contra as espécies reativas de oxigênio, por este motivo tem despertado o interesse dos pesquisadores (RISO et al, 1999), que apontam esta substância como importante na redução dos riscos de doenças cardiovasculares (BRAMLEY, 2000) e alguns tipos de câncer (RISO et al, 1999). 4.8.1 Estrutura química O licopeno é um carotenóide acíclico, composto de 11 (onze) carbonos com duplas ligações, dispostos linearmente na forma de todo trans (BRAMLEY, 2000), como mostra a figura 10. Contrariamente ao -caroteno, o licopeno não possui ação pró- vitamina A, mas está associado a efeitos benéficos à saúde, como ação antioxidante, regulação da comunicação célula-célula, crescimento celular, dentre outras propriedades (SIES & STAHL, 1998). 46 Fonte: DEANGELIS, 2001. Figura 10. Estrutura química dos isômeros de licopeno 4.8.2 Fontes Acredita-se que o licopeno possa corresponder de 30% até 64%da ingestão total de carotenóides, o que equivale aproximadamente a 3,7 mg/dia. Análises individuais determinaram uma forte relação entre a ingestão de licopeno exógeno e concentrações plasmáticas deste composto (FORMAN et al, 1993), no entanto nenhuma correlação foi encontrada entre licopeno plasmático e consumo de frutas e verduras (Campell et al, 1994). Estes resultados mostram que o licopeno não é um marcador sensível para determinar a ingestão de frutas e vegetais assim mostrando-se pouco distribuído nestes alimentos. O que diferencia o licopeno de outros carotenóides é sua presença em um alimento especial: tomates e produtos derivados como mostra o gráfico 2. 47 0 5 10 15 20 25 30 35 Co nc en tra çã o d e Ca ro ten óid es (m g 10 0) Tomate Enlatado Catchup Molho de Tomate Zeta-Caroteno Gama-Caroteno Beta-Caroteno Licopeno Fonte: Adaptado de BRUNO & WILDMAN, 2001. Gráfico 2. Carotenóides presentes em tomates e produtos derivados. Mais de 85% da ingestão de licopeno provém do consumo de tomates e seus derivados. O estado de maturação do tomate pode alterar a concentração do licopeno: em termos gerais a fruta in natura contém cerca de 30 mg de licopeno/kg de licopeno. Quantidades significativas de licopeno também foram encontrados em sucos de tomate (150 mg/litro) e ketchup (100mg/kg). Estudos também mostraram que o consumo de duas a três latas de suco de tomate por dia, durante quatro semanas, triplicou a concentração plasmática de licopeno. (SIES & STAHL, 1998). O licopeno também é encontrado em goiaba, melancia e grape fruit como mostra o gráfico 3. 48 Fonte: BRUNO & WILDMAN, 2001. Gráfico 3. Concentração de licopeno em vegetais e frutas. 4.8.3 Efeitos do Processamento A principal causa da degradação do licopeno durante o processamento acontece devido à oxidação e isomeração. Mudanças no conteúdo e na distribuição dos isômeros cis e trans resultam em modificação de suas propriedades biológicas. Em produtos processados a oxidação é um processo complexo que depende de muitos fatores como condições de processamento, temperatura, presença de pro ou antioxidantes e lipídios. Ao contrário do que se imaginava, o cozimento de alimentos ricos em licopeno resulta em uma perda mínima desta substância, a ação do calor no alimento, somada a ingestão de gorduras aumenta a biodisponibilidade e a absorção do licopeno. Ao cozinhar o suco de tomate com 1% de óleo de milho aumenta-se de duas a três vezes a concentração do licopeno sérico, ao contrário do suco de tomate não processado, que não resultou em alteração da concentração plasmática, após sua ingestão (STAHL & SIES, 1992). Estudos mostram que a ação do calor resulta numa maior concentração de isômeros cis e sugere que esta configuração é mais facilmente absorvida (STAHL & SIES, 1992). O licopeno encontrado em tomate frescos aparece predominantemente na configuração todo trans, mas é seu isômero cis que é encontrado no plasma e tecidos humano. Embora não se possa concluir que os níveis Melancia, in natura Pimenta, enlatada Goiaba, in natura Goiaba, suco Grapefeuit rosa, in natura Damasco, seco Damasco, enlatado Tomate, Ketchup Tomate, suco enlatado Tomate, extrato enlatado Tomate, molho enlatado Tomate, fresco cozido Tomate, fresco in natura 49 elevados de isômeros cis em humanos sejam devido à ingestão de produtos processados com calor, mas talvez a um mecanismo in vivo que deve ser identificado (NGUYEN, 1998). 50 5. ÔMEGA 3 5.1 Definição Ácidos graxos são ácidos orgânicos com moléculas lineares que podem ter de 4 a 22 carbonos em sua estrutura. Eles são classificados em saturados, monoinsaturados (com uma dupla ligação) e poliinsaturados (com mais de uma dupla ligação). Essa diferença de tamanho, de grau e da posição da insaturação na molécula lhes confere propriedades físicas, químicas e nutricionais diferentes (BELITZ e GROSCHI, 1997). A nomenclatura dos ácidos graxos segue: C n:x onde, x é o número de átomos de carbono e n é o número de insaturações. Um ácido graxo é chamado de ômega 3 quando a primeira dupla ligação está localizada no carbono 3 a partir do radical metil (CH3) e ômega 6 quando a dupla ligação está no sexto carbono da cadeia a partir do mesmo radical. Na figura 11 pode-se observar suas estruturas (COLLI, 2002). Fonte: BELITZ e GROSCHI, 1997 Figura 11. Estrutura química dos ácidos graxos da família ômega. Os ácidos graxos ômega 3 são poliinsaturados (PUFA). Os principais ácidos graxos da família ômega 3 são: Ácido α-linoléico (18:3) Ácido araquidônico (20:4) Ácido α-linolênico (18:3) Ácido eicosapentanóico (EPA) (20:5) Ácido docosahexanóico (DHA) (22:6) 51 Alfa-linolênico (C 18:3) Eicosapentanóico (C 20:5) Docosahexanóico (C 22:6) Outros poliinsaturados existentes são os da família ômega 6: Alfa-linoléico (C 18:2) Ácido araquidônico (C 20:4) Tanto os PUFA ω3 quantoos PUFA ω6 são produzidos apenas pelas plantas, não podendo ser sintetizados pelos organismos animal e humano, e por isso são considerados ácidos graxos essenciais, devendo ser consumidos na dieta (COSTA et al, 2000). Os ácidos graxos de cadeia longa (cadeia de carbonos superior a C18); ácido eicosapentanóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA); são biosintetizados no homem a partir do precursor ω3 α-linolênico, o qual é alongado (aumenta o número de carbonos) pela enzima alongase e desaturado (aumenta o número de duplas ligações) pela enzima desaturase (DE ANGELIS,2001). O esquema 2 mostra a seqüência da síntese de docosanóides a partir de ácidos graxos poliinsaturados ω3 e ω6. 52 PUFA - ѡ 6 PUFA - ѡ 3 (óleos vegetais) (óleos vegetais e peixe) Linoléico (18:2) Elongase Linolênico (18:3) ↓ ← + → ↓ Desaturase Ácido araquidônico (20:4) Eicosapentanóico (20:5) ↓ Elongase ↓ ← + → Docosatetranóico (22:4) Desaturase Docosahexanóico (22:6) Fonte: Waitzberg,2002 Esquema 2. Síntese de docosanóides a partir de ácidos graxos poliinsaturados ω3 e ω6. 5.2 Mecanismo de ação No homem, os ácidos graxos ω3 provocam alterações na função plaquetária e na síntese de prostaglandina, tromboxanes e leucotrienos, conhecidos como eicosanóides. Esta ação ocorre pois o EPA e o DHA teriam a mesma função do ácido araquidônico (ω6) (WAITZBERG, 2002). A partir dos ácidos graxos ω3 e ω6 são formados alguns eicosanóides (ácidos graxos com 20 carbonos), prostaglandinas, tromboxanos, leucotrienos e lipoxinas. Quando formados em grande quantidade, os eicosanóides derivados dos PUFA ω6 (prostaglandina E2, tromboxano A2 e leucotrieno B4) podem contribuir para a formação de trombos e ateromas, para o desenvolvimento de problemas alérgicos e inflamatórios, bem como para a proliferação celular. Os eicosanóides formados a partir dos PUFA ω6 são biologicamente mais ativos do que os biosintetizados a partir dos PUFA ω3. Por isso, deve-se levar em consideração a relação de consumo ω3: ω6, a qual considera-se ótima por volta de 5:1 (PRATES e MATEUS, 2002; VELENZUELA, 2002). 5.3 Fontes Os ácidos graxos ômega 3 EPA e DHA são encontrados em peixes de águas frias, e a sua concentração depende da composição do fitoplâncton local (SANTOS, 53 2001). Os ácidos ômega-3 são menos abundantes nos animais terrestres enquanto que, alguns óleos de origem vegetal, como o de canola, de soja, de gérmen de trigo, são fontes importantes. Os vegetais e animais de origem marinha são ricos em ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa, principalmente EPA e DHA, como pode-se observar no quadro 8 (DE ANGELIS, 2001). Produto Linoléico Linolênico EPA DPA DHA % C18:2 ω6 % C18:3 ω3 % C20:5 ω3 % C22:5 ω3 % C22:6 ω3 Espécies de Pescados Anchova 1,68 0,75 16,68 1,43 8,5 Jurel 1,15 0,6 13,13 2 9,88 Menhaden 1,13 1,26 13,83 2,46 7,83 Sardinha 1,49 0,8 18,28 1,78 9,46 Arenque 1,48 1,28 5,51 0,93 5,76 Cavala 1,45 1,4 7,05 0,6 8,4 Óleos de origem marinha Salmão 3,8 0,91 8,1 3,88 11,55 Anchova 2,38 2,38 11,91 1,61 11,5 Jurel 1,05 0,54 10,74 3,3 17,55 Pescado 0,9 0,6 19 2,9 6 Óleos de origem vegetal Côco 2 - - - - Palma 10 0,2 - - - Canola 20,2 9,52 - - - Oliva 13,9 0,8 - - - Linhaça 16,8 41 - - - Soja 56 7 - - - Gorduras de origem animal Bovina 4,2 - - - - Suína 8,1 >1,5 - - - Frango 25,29 1,36 0,81 0,37 0,71 Fonte: Química Industrial SPES, 2001 In González et al, 2003 Quadro 8. Composição de ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa em diferentes fontes de lipídios. 5.4 Benefícios à saúde A ingestão de ácido graxos ω3 provoca alterações estruturais e funcionais na membrana fosfolipídica. A fluidez da membrana celular aumenta, permitindo maior mobilidade das proteínas e favorecendo maior troca de sinais de transdução, interação 54 hormônio-receptor e transporte de substratos entre os meios intra e extracelular (CUKIER, s/d). Nas plaquetas, o ácido eicosapentaenóico compete com o ácido araquidônico como substrato para a enzima cicloxigenase, inibindo a formação de tromboxano A2 e induzindo a formação de tromboxano A3 , prostaglandina G3 e H3 que têm pouca ou nenhuma atividade biológica. O tromboxane A2 é um importante agente vasoconstritor e agregante plaquetário, conseqüentemente, a menor formação de tromboxane A2 leva a menor agregação plaquetária, refletindo em um maior tempo de sangramento (NOVAZZI e MARANHÃO, 2001). O aumento do consumo de ácidos graxos ω3 pode baixar a pressão arterial (efeito hipotensivo). A intensidade da redução depende do grau de hipertensão arterial sistêmica (mais eficaz na hipertensão arterial sistêmica leve), nível de ingestão de sódio e da dose de ácidos graxos ω3 administrada, particularmente ácido docosahexaenóico; o mecanismo de ação mais provável é o desvio da produção de eicosanóides da série 2, derivados do ácido araquidônico, para a série 3, derivados do ácido eicosapentaenóico. Em conseqüência, há uma atividade mais vasodilatadora e anti- agregante plaquetária. Esses fatores tem sido associados a menores índices de doença cardiovascular (MORIGUCHI e BATLOUNI, 2001). Ocorre também redução nos níveis de triglicérides plasmáticos por inibição da secreção hepática de VLDL e por diminuição da atividade de várias enzimas hepáticas responsáveis pela síntese triglicerídeos. Por esse motivo, desde que a ingestão calórica seja adequadamente controlada, os ácidos graxos ω3 podem exercer efeitos benéficos no perfil de risco cardiovascular de pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (WAITZBERG, 2002). O consumo de ácido graxo ω3 favorece a deformação dos eritrócitos e diminui a viscosidade do sangue, mesmo com doses baixas. Estes efeitos facilitam a microcirculação e possibilitam maior oxigenação dos tecidos. O uso do óleo de peixe, contendo ω3, impede a ativação da proteína C quinase, diminuindo assim, a produção de fatores responsáveis pela lesão cutânea da psoríase, melhorando o eritema, infiltração e descamação. 55 O consumo de ácido graxo ω3 pode atenuar o processo inflamatório e aumentar a resposta prolifarativa linfocitária, e também ser benéfico aos pacientes infectados pelos vírus HIV por diminuir a produção de citocinas e eicosanóides, agentes pró-inflamatórios prejudiciais na manifestação da doença e no mecanismo da anorexia (CUKIER, s/d). 5.5 Recomendação Quanto aos ácidos graxos ω3 (alfa-linolênico, ácido eicosapentaenóico e ácido docosahexaenóico), ainda não há consenso mundial de qual a recomendação para o consumo diário. Existem diferentes recomendações, provenientes de países ou organizações internacionais: nos Estados Unidos, há organismos que sugerem que a ingestão de ácido alfa-linolênico seja de 2,2g/dia, e que o ácido eicosapentaenóico e ácido docosahexaenóico, combinados, atinjam 0,65g/dia, devendo os dois últimos não ultrapassar 6,7g/dia; no Canadá e no Reino Unido estabeleceram-se recomendações de consumo para os ácidos graxos ω3: no primeiro país recomenda-se a ingestão de 1,2 a 1,6g/dia, independente do tipo e, no segundo, recomenda-se que 1% das calorias consumidas seja de ácido alfa-linolênico e 0,5% da combinação de ácido eicosapentaenóico e ácido docosahexaenóico; FAO/WHO preconiza 0,8g a 4g/dia respectivamente (LONGO, 2001). Já as recomendações descritas nas DRIs (Dietary Reference Intakes) estabelecem que 5-10% do valor calórico diário total devem
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