Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
NÚCLEO DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL Av. Senador Helvídio Nunes, 2986, Junco – Picos/PI Fixo: (89) 3422-8091 / Vivo: (89) 8113-5768 ideal.secretaria@hotmail.com Sumário Introdução ..................................................................................................................................... 3 Educação Física no Brasil: da origem até os dias atuais ................................................................ 3 Brasil colônia, de 1500 a 1822 ................................................................................................ 3 Brasil império, de 1822 a 1889 ............................................................................................... 3 Brasil república, de 1890 a 1946 ............................................................................................ 4 Brasil contemporâneo, de 1846 a 1980 .................................................................................. 4 Educação Física na atualidade, a partir de 1980 .................................................................. 5 O Profissional de Educação Física e sua missão ............................................................................ 6 Não à ilegalidade! .................................................................................................................... 7 A evolução do mercado ........................................................................................................... 8 Personal Trainer: a tendência do mercado ........................................................................... 8 Licenciatura x Bacharelado.................................................................................................... 9 Educação Física e Reabilitação ............................................................................................ 10 Regulamentação da Educação Física no Brasil .................................................................. 10 Didática ....................................................................................................................................... 20 Diferentes Concepções Sobre o Papel da Educação Física na Escola ......................................... 21 Educação Física como Prêmio ou Castigo ................................................................................... 21 Educação Física como Meio: a Abordagem Construtivista e da Psicomotricidade ..................... 22 Educação Física com o Objetivo Exclusivo de Melhoria da Saúde e da Qualidade de Vida ........ 24 Educação Física como Qualidade do Movimento e Desenvolvimento Motor ............................ 26 Educação Física como Meio de Transformação Social ................................................................ 28 Educação Física na Perspectiva da Cultura ................................................................................. 29 Essas práticas corporais surgiram ao longo da história da humanidade basicamente por duas razões diferentes: ........................................................................................................................ 30 Bibliografia .................................................................................................................................. 34 3 Introdução Educação Física no Brasil: da origem até os dias atuais Brasil colônia, de 1500 a 1822 A mais antiga notícia sobre a Educação Física em terras brasileiras data o ano de sua descoberta, 1500. Tal fato se deve ao relato de Pero Vaz de Caminha, que em uma de suas cartas, que relatam indígenas dançando, saltando, girando e se alegrando ao som de uma gaita tocada por um português (Ramos, 1982). Segundo Ramos (1982), esta foi certamente a primeira aula de ginástica e recreação relatada no Brasil. De modo geral, sabe-se que as atividades físicas realizadas pelos indígenas no período do Brasil colônia, estavam relacionadas a aspectos da cultura primitiva. Tendo como características elementos de cunho natural (como brincadeiras, caça, pesca, nado e locomoção), utilitário (como o aprimoramento das atividades de caça, agrícolas, etc.), guerreiras (proteção de suas terras); recreativo e religioso (como as danças, agradecimentos aos deuses, festas, encenações, etc.) (Gutierrez, 1972). Posteriormente, ainda no período colonial, criada na senzala, sobretudo no Rio de Janeiro e na Bahia, surge a capoeira, atividade ríspida, criativa e rítmica que era praticada pelos escravos (Ramos, 1982). Desta forma, podemos destacar que no Brasil colônia, as atividades físicas realizadas pelos indígenas e escravos, representaram os primeiros elementos da Educação Física no Brasil. Brasil império, de 1822 a 1889 O início do desenvolvimento cultural da Educação Física no Brasil, apesar de não ter ocorrido de forma contundente, ocorreu no período do Brasil império. Pois foi nessa época que surgiram os primeiros tratados sobre a Educação Física. Em 1823, Joaquim Antônio Serpa, elaborou o “Tratado de Educação Física e Moral dos Meninos”. Esse tratado postulava que a educação englobava a saúde do corpo e a cultura do espírito, e considerava que os exercícios físicos deveriam ser divididos em duas categorias: 1) os que exercitavam o corpo; e 2) os que exercitavam a memória (Gutierrez, 1972). Além disso, esse tratado entendia a educação moral como coadjuvante da Educação Física e vice-versa (Gutierrez, 1972). O Início da Educação Física escolar no Brasil, inicialmente denominada Ginástica, ocorreu oficialmente com a reforma Couto Ferraz, em 1851(Ramos, 1982). No entanto, foi somente em 1882, que Rui Barbosa ao lançar o parecer sobre a “Reforma do Ensino Primário, Secundário e Superior”, denota importância à Ginástica na formação do brasileiro (Ramos, 1982). Nesse parecer, Rui Barbosa relata a situação da Educação Física em países mais adiantados politicamente e defende a Ginástica como elemento indispensável para formação integral da juventude (Ramos, 1982). Em resumo, o projeto relatado por Rui Barbosa, buscava instituir uma sessão essencial de Ginástica em todas as escolas de ensino normal; estender a obrigatoriedade da Ginástica para ambos os gêneros (masculino e feminino), uma vez que as meninas não tinham obrigatoriedade em fazê-la; inserir a Ginástica nos programas escolares como matéria de estudo e em horas distintas ao recreio e depois da aula; além de buscar a equiparação em categoria e autoridade dos professores de Ginástica em relação aos professores de outras disciplinas (Darido e Rangel, 2005). 4 No entanto, a implementação da Ginástica nas escolas, inicialmente ocorreu apenas em parte do Rio de Janeiro, capital da República, e nas escolas militares (Darido e Rangel, 2005). Brasil república, de 1890 a 1946 A Educação Física no Brasil república pode ser subdividida em duas fases: a primeira remete o período de 1890 até a Revolução de 1930 (que empossou o presidente Getúlio Vargas); e a segunda fase, configura o período após a Revolução de 1930 até 1946. Na primeira fase do Brasil república, a partir de 1920, outros estados da Federação, além do Rio de Janeiro, começaram a realizar suas reformas educacionais e, começaram a incluir a Ginástica na escola (Betti, 1991). Além disso, ocorre a criação de diversas escolas de Educação Física, que tinham como objetivo principal a formação militar (Ramos, 1982). No entanto, é a partir da segunda fase do Brasil república, após a criação do Ministério da Educação e Saúde, que a Educação Física começa a ganhar destaque perante aos objetivos do governo. Nessa época, a Educação Física é inserida na constituição brasileirae surgem leis que a tornam obrigatória no ensino secundário (Ramos, 1982). Na intenção de sistematizar a ginástica dentro da escola brasileira, surgem os métodos ginásticos (gímnicos). Oriundos das escolas sueca, alemã e francesa, esses métodos conferiam à Educação Física uma perspectiva eugênica, higienista e militarista, na qual o exercício físico deveria ser utilizado para aquisição e manutenção da higiene física e moral (Higienismo), preparando os indivíduos fisicamente para o combate militar (Militarismo) (Darido e Rangel, 2005). O higienismo e o militarismo estavam orientados em princípios anátomo- fisiológicos, buscando a criação de um homem obediente, submisso e acrítico à realidade brasileira. Brasil contemporâneo, de 1846 a 1980 No Período que compreende o pós 2ª Guerra Mundial, até meados da década de 1960 (mais precisamente em 1964, início do período da Ditadura brasileira), a Educação Física nas escolas mantinham o caráter gímnico e calistênico do Brasil república (Ramos, 1982). Com a tomada do Poder Executivo brasileiro pelos militares, ocorreu um crescimento abrupto do sistema educacional, onde o governo planejou usar as escolas públicas e privadas como fonte de programa do regime militar (Darido e Rangel, 2005). Naquela época o governo investia muito no esporte, buscando fazer da Educação Física um sustentáculo ideológico, a partir do êxito em competições esportivas de alto nível, eliminando assim críticas internas e deixando transparecer um clima de prosperidade e desenvolvimento (Darido e Rangel, 2005). Fortalece-se então a idéia do esportivismo, no qual o rendimento, a vitória e a busca pelo mais hábil e forte estavam cada vez mais presentes na Educação Física. Dentre uma das importantes medidas que impactaram a Educação Física no período contemporâneo, está a obrigatoriedade da Educação Física/Esportes no ensino do 3º Grau, por meio do decreto lei no 705/69 (Brasil., 1969). Segundo Castellani Filho (1998), o decreto lei no 705/69 (Brasil., 1969), tinha como propósito político favorecer o regime militar, desmantelando as mobilizações e o movimento estudantil que era 5 contrário ao regime militar, uma vez que as universidades representavam um dos principais pólos de resistência a esse regime. Desta forma, o esporte era utilizado como um elemento de distração à realidade política da época. Ademais, a Educação Física/Esportes no 3º Grau era considerada uma atividade destituída de conhecimentos e estava relacionada ao fazer pelo fazer, voltada a formação de mão de obra apta para a produção (Darido e Rangel, 2005). No entanto, o modelo esportivista, também chamado de mecanicista, tradicional e tecnicista, começou a ser criticado, principalmente a partir da década de 1980. Entretanto, essa concepção esportivista ainda está presente na sociedade e na escola atual (Darido e Rangel, 2005). Educação Física na atualidade, a partir de 1980 A Educação Física ao longo de sua história priorizou os conteúdos gímnicos e esportivos, numa dimensão quase exclusivamente procedimental, o saber fazer e não o saber sobre a cultura corporal ou como se deve ser (Darido e Rangel, 2005). Durante a década de 1980, a resistência à concepção biológica da Educação Física, foi criticada em relação ao predomínio dos conteúdos esportivos (Darido e Rangel, 2005). Atualmente, coexistem na Educação física, diversa concepções, modelos, tendências ou abordagens, que tentam romper com o modelo mecanicista, esportivista e tradicional que outrora foi embutido aos esportes. Entre essas diferentes concepções pedagógicas pode- se citar: a psicomotricidade; desenvolvimentista; saúde renovada; críticas; e mais recentemente os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (Brasil., 1997). A concepção pedagógica psicomotricidade, foi divulgada inicialmente em programas de escolas “especiais”, voltada para o atendimento de alunos com deficiência motora e intelectual (Darido e Rangel, 2005). É o primeiro movimento mais articulado que surgiu à partir da década de 1970, em oposição aos modelos pedagógicos anteriores. A concepção psicomotricidade tem como objetivo o desenvolvimento psicomotor, extrapolando os limites biológicos e de rendimento corporal, incluindo e valorizando o conhecimento de ordem psicológica. Para isso a criança deve ser constantemente estimulada a desenvolver sua lateralidade, consciência corporal e a coordenação motora (Darido e Rangel, 2005). No entanto, sua abordagem pedagógica tende a valorizar o fazer pelo fazer, não evidenciando o porquê de se fazer e como o fazer. Já o modelo desenvolvimentista por sua vez, busca propiciar ao aluno condições para que seu comportamento motor seja desenvolvido, oferecendo-lhe experiências de movimentos adequados às diferentes faixas etárias (Darido e Rangel, 2005). Neste modelo pedagógico, cabe aos professores observarem sistematicamente o comportamento motor dos alunos, no sentido de verificar em que fase de desenvolvimento motor eles se encontram, localizando os erros e oferecendo informações relevantes para que os erros sejam superados. A perspectiva pedagógica saúde renovada, diferentemente das citadas anteriores, tem por finalidade convicta e às vezes única, de ressaltar os aspectos conceituais a cerca da importância de se conhecer, adotar e seguir conceitos relacionados à aquisição de uma boa saúde (Darido e Rangel, 2005). Por outro lado, as abordagens pedagógicas críticas, sugerem que os conteúdos selecionados para as aulas de Educação Física devem propiciar a leitura da realidade do ponto de vista da classe trabalhadora (Darido e Rangel, 2005). Nessa visão a Educação Física é entendida como uma disciplina que trata do conhecimento denominado cultura 6 corporal, que tem como temas, o jogo, a brincadeira, a ginástica, a dança, o esporte, etc., e apresenta relações com os principais problemas sociais e políticos vivenciados pelos alunos (Darido e Rangel, 2005). Em 1996, com a reformulação dos PCNs, é ressaltada a importância da articulação da Educação Física entre o aprender a fazer, o saber por que se está fazendo e como relacionar-se nesse saber (Brasil., 1997). De forma geral, os PCNs trazem as diferentes dimensões dos conteúdos e propõe um relacionamento com grandes problemas da sociedade brasileira, sem no entanto, perder de vista o seu papel de integrar o cidadão na esfera da cultura corporal. Os PCNs buscam a contextualização dos conteúdos da Educação Física com a sociedade que estamos inseridos, devendo a Educação Física ser trabalhada de forma interdisciplinar, transdisciplinar e através de temas transversais, favorecendo o desenvolvimento da ética, cidadania e autonomia. De forma geral, pode-se concluir que a Educação Física vem se desenvolvendo no Brasil à partir de importantes mudanças político-sociais e que atualmente é vista como um elemento essencial para a formação do cidadão Brasileiro. O Profissional de Educação Física e sua missão O profissional da área de Educação Física promove a saúde das pessoas através da prática de atividades físicas, além planejar, supervisionar e coordenar programas esportivos e recreativos. Com o boom da rede social nos dias atuais, muita gente vem apresentando blogs, instablogs, e demais mídias, dando dicas sobre saúde, exercícios, alimentação e outros assuntos voltados para a qualidade de vida. A meu ver, quanto mais gente influenciando e sendo referência para o bom caminho, melhor! Entretanto, temos que ter cuidado para não confundir a capacidade técnica de cada profissional. Afinal, somente alguém habilitado e com experiênciapode realmente indicar o “caminho das pedras” de maneira sensata e sem riscos para sua saúde. Por isso, hoje no blog vou falar sobre o Profissional de Educação Física e vários segmentos em que esta classe atua. Para tanto, consultei alguns especialistas da área que contribuíram para a construção deste post. 7 O profissional da área de Educação Física promove a saúde das pessoas através da prática de atividades físicas, além planejar, supervisionar e coordenar programas de atividades físicas, esportivas e recreativas. De uma maneira geral, seu trabalho consiste em acompanhar e orientar as pessoas durante a prática de esportes ou exercícios físicos e seu público é bastante variado, desde crianças em idade escolar, pacientes que buscam a recuperação de movimentos, pessoas com deficiência física (PCDs) e idosos que necessitam de cuidados específicos. Além disso, este profissional é fundamental para formar e treinar atletas; ídolos dos esportes. É importante frisar que o personal (professor de Educação Física) não pode prescrever ou “orientar” dietas, indicar e prescrever suplementos alimentares ou trabalhar com a reabilitação de lesões, a menos que tenha outra graduação como nutrição ou fisioterapia que o habilite. A definição extensa desta profissão também reflete nas variadas vertentes deste profissional, que está habilitado a atuar na área escolar e não escolar. Dentro das escolas, o profissional é apto para interagir com todos os níveis de ensino, passando pela Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior. A este público, ele oferece planejamento, implantação, implementação e avaliação de programas do componente curricular de Educação Física. É responsável, muitas vezes, por ser a referência esportiva às crianças e jovens, aquele que vai ajudar o aluno a descobrir uma atividade física do seu interesse, capaz de colaborar com a autoestima, socialização, compensação de distúrbios funcionais, integração e relações sociais. Na área não escolar, o profissional pode atuar nos diversos segmentos da organização social, públicas e particulares, com exceção ao sistema escolar, como por exemplo: técnico em esporte; professor em academias, clubes recreativos e esportivos, associações atléticas, associações classistas desportivas e no desporto comunitário; hospitais; hotéis; programas para terceira idade; programas de educação física adaptada; programas de atividades físicas e de lazer; programas de ginástica laboral em empresas e indústrias, hotéis; organização e arbitragem de torneios esportivos e Personal Trainer. O campo de atuação poderá ainda expandir-se à consultoria e prestação de serviços a órgãos públicos, empreendimentos particulares e aos meios de comunicação de massa, no que se relacionar à educação física. Não à ilegalidade! Para garantir que nenhum leigo atue nas escolas, academias, e demais áreas, de maneira ilegal, foi criado o Conselho Federal de Educação Física (Confef), que conta com suas unidades regionais (Crefs). As intuições são as responsáveis por emitir o registro do Profissional de Educação Física, que identifica a formação científica necessária para que o mesmo exerça sua função sem agredir a saúde de qualquer pessoa que usufrua do seu serviço. De acordo com a instituição nacional, cerca de 160 mil profissionais possuem esse registro, porém, estima-se que outros 50 mil ainda não estejam cadastrados. Na área escolar, o profissional de educação física é a referência esportiva às crianças e jovens, aquele que vai ajudar o aluno a descobrir uma atividade física do seu interesse, capaz de colaborar com a autoestima, socialização e compensação de distúrbios funcionais. A regulamentação da atividade provém da Lei nº 9.696, de 1º de setembro de 1998, e afirma que “o exercício das atividades de Educação Física” e a designação de “Profissional de Educação Física” passaram a ser “prerrogativa dos profissionais 8 regularmente registrados nos Conselhos Regionais de Educação Física”, como estabelece o seu art. 1º. “Ao se regulamentar a Educação Física como atividade profissional, foi identificada, paralelamente à importância de conhecimento técnico e científico especializado, a necessidade do desenvolvimento de competência específica para sua aplicação, que possibilite estender a toda a sociedade os valores e os benefícios advindos da sua prática. Assim, o ideal da profissão define-se pela prestação de um atendimento melhor e mais qualificado a um número cada vez maior de pessoas, tendo como referência um conjunto de princípios, normas e valores éticos livremente assumidos, individual e coletivamente, pelos Profissionais de Educação Física”, explica o Presidente do Confef, Jorge Steinhilber, ao ressaltar, em seguida, a importância da Educação Física para a formação e desenvolvimento dos pequenos. Outro importante campo de atuação dos profissionais de Educação Física é a reabilitação, uma área que requer muito estudo e uma atuação multidisciplinar. “Estudos já demonstraram que muitas crianças apresentam dificuldades de alfabetização por falta de coordenação – coordenação dinâmica geral e coordenação motora fina. A Educação Física tem sua especificidade no desenvolvimento do corpo em movimento consciente, fator necessário para a vida toda por cada um de nós e que não sendo desenvolvida prejudica, inclusive, o processo de desenvolvimento da lógica e da alfabetização. Portanto, é necessário que a escola ofereça a disciplina para possibilitar à criança desenvolvimento de seu corpo para que ela possa viver de forma plena. Não há Educação sem Educação Física”. A evolução do mercado Com a exigência da população voltada para a qualidade do corpo e mente, o mercado do profissional de Educação Física expandiu, exigindo uma preparação ainda maior tanto daqueles que já estão inseridos no mercado, como dos estudantes. Por isso, desde 2010, seguindo a orientação do Ministério da Educação, o currículo do Bacharelado em Educação Física tem novas disciplinas obrigatórias, como Ginástica Laboral; Antropologia e Fisiologia do Corpo; Fisiologia do Exercício; Saúde Coletiva; Lazer; e Empreendedorismo. Tudo isso para responder às novas demandas e viabilizar a expansão da profissão. Presidente do Confef, Jorge Steinhilber, explica que o registro profissional é imprescindível para a classe. A bacharel em Educação Física, professora Heloisa Santini, cita como exemplo a introdução da disciplina de Empreendedorismo, diante da necessidade de preparar o aluno para planejar e administrar as suas atividades e até mesmo a sua empresa, já que muitos profissionais da Educação Física atuam individualmente ou abrem suas próprias empresas, como as academias, que tiveram um aumento considerável nos últimos anos. Uma pesquisa realizada pela International Health, Racquet & Sportsclub Association (IHRSA) mostrou que, de 2007 até 2010 o número de academias no Brasil chegou perto de 15.551, ficando atrás apenas dos Estados Unidos da América. Personal Trainer: a tendência do mercado Quem é que gosta de praticar algum exercício sozinho? É possível contar nos dedos esses raros seres humanos, não é verdade? Até porque, atividade física com mais alguém é sempre mais estimulante. Talvez, por isso, que a grande tendência do mercado do Profissional de Educação Física seja o de Personal Trainer, aquele que oferece ao aluno 9 um treinamento específico e personalizado nas academias ou fora delas. Resumindo, o cliente do personal receberá uma orientação constante, não só em relaçãoaos exercícios que irá realizar, mas também poderá contar com a correção dos movimentos e com o fator motivacional que é muito importante durante os dias de treino. Porém, é importante frisar que o personal (professor de Educação Física) não pode prescrever ou “orientar” dietas, indicar e prescrever suplementos alimentares ou trabalhar com a reabilitação de lesões, a menos que tenha outra graduação como nutrição ou fisioterapia que o habilite. Caso o faça, poderá ser enquadrado no exercício ilegal da profissão, crime tipificado no código penal. Atualmente, inclusive, já existe a Sociedade Brasileira de Personal Trainers (SBPT). O órgão afirma os seguintes números em relação a este serviço no País: Número de Personal Trainers no Brasil = 85.000 Distribuição regional: – 56% no Sudeste – 19% no Sul – 12% no Nordeste – 9% no Centro-Oeste – 4% no Norte Faturamento do Personal Training no Brasil = R$ 2,5 bilhões/ano Uma pesquisa realizada pela International Health, Racquet & Sportsclub Association (IHRSA) mostrou que, de 2007 até 2010 o número de academias no Brasil chegou perto de 15.551. Licenciatura x Bacharelado Muitas pessoas tem dúvida entre as qualificações de licenciatura e o bacharelado em Educação Física. A diferença é simples e exponho aqui: A Licenciatura forma professores que atuarão nas diferentes etapas e modalidades da educação básica, portanto, para atuação específica e especializada com a componente curricular Educação Física. O bacharelado (oficialmente designado de graduação) qualifica para analisar criticamente a realidade social, para nela intervir por meio das diferentes manifestações da atividade física e esportiva, tendo por finalidade aumentar as possibilidades de adoção de um estilo de vida fisicamente ativo e saudável, estando impedido de atuar na educação básica. Em resumo, são duas formações distintas com intervenções profissionais separadas. Para o licenciado é exclusividade atuar especificamente na componente curricular Educação Física na educação básica, e ao bacharelado é impossibilitada a atuação docente na educação básica. A esse respeito refere-se, inclusive, a resolução CNE 7/2004 em seu art. 4º, 2º que distingue a formação do graduado do licenciado, estabelecendo: O Professor da Educação Básica, licenciatura plena em Educação Física, deverá estar qualificado para a docência deste componente curricular na educação básica, tendo como referência a legislação própria do Conselho Nacional de Educação, bem como as orientações específicas para esta formação tratadas nesta Resolução. 10 Educação Física e Reabilitação Outro importante campo de atuação dos profissionais de Educação Física é a reabilitação. Cardiopatas, pessoas que passaram por algum tipo de procedimento cirúrgico ou que sofreram lesão óssea e muscular precisam de orientação profissional durante seu processo de reabilitação. A grande tendência do mercado do Profissional de Educação Física é a atuação como Personal Trainer, aquele que oferece ao aluno um treinamento específico e personalizado nas academias ou fora delas. “Esta é uma área que requer muito estudo e uma atuação multidisciplinar, que deve envolver além do profissional da Educação Física, médicos e fisioterapeutas”, observa Diógenes Fogaça, que se formou em Educação Física na primeira turma da UCS, em 1981, e começou a trabalhar com reabilitação há cerca de 15 anos. Ele tambem se especializou em Fisiologia do Exercício e Reabilitação Cardiovascular. “É preciso entender muito bem o funcionamento do corpo humano para poder orientar os exercícios adequados para cada caso”. Regulamentação da Educação Física no Brasil Elaboração de medidas legais e a criação de um conselho O processo da regulamentação e criação de um Conselho para a Profissão de Educação Física, teve início nos anos quarenta. A iniciativa partiu das Associações dos Professores de Educação Física – APEF´s – localizadas no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Juntas fundaram a Federação Brasileira das Associações de Professores de Educação Física – FBAPEF, em 1946. A História da regulamentação da profissão de Educação Física no Brasil, pode ser dividida em três fases: a primeira relacionada aos profissionais que manifestavam e/ou escreviam a respeito desta necessidade, sem contudo desenvolver ação nesse sentido; a segunda na década de 80 quando tramitou o projeto de lei relativo à regulamentação sendo vetado pelo Presidente da República. E a terceira vinculada ao processo de regulamentação aprovado pelo Congresso e promulgado pelo Presidente da República em 01/09/98, publicado no Diário Oficial de 02/09/98. A intenção de se criar uma Ordem ou um Conselho ocorreu nos idos da década de 50. Os saudosos professores Inezil Penna Marinho, Jacinto Targa e Manoel Monteiro apresentaram esta idéia e defendiam sua importância, fazendo paralelo sempre com as demais profissões regulamentadas, a Ordem dos Advogados ou o Conselho dos Médicos, sem, no entanto tomarem qualquer ação efetiva no sentido de consolidar a proposta. Hoje entende-se ter sido em virtude de na época os profissionais atuarem prioritariamente em unidades escolares, os cursos serem exclusivamente de licenciatura e os currículos voltados essencialmente à formação de profissionais para atuarem no ensino formal. Historicamente, a área era responsável por oferecer profissionais a um mercado pré-determinado: a escola. O fato da profissão de Professor não ser regulamentada, torna incoerente desmembrar a Educação Física. 11 Como exemplo dessa preocupação podemos citar o III Encontro de Professores de Educação Física, organizado pela Associação dos Professores de Educação Física da Guanabara, na cidade do Rio de Janeiro, em 1972. Apresentam então, em uma de suas recomendações aprovadas, a proposta de criação dos Conselhos Regionais e Federal de Educação Física, em que se destaca o seguinte registro deliberativo: 4º. Tema: Conselhos Regionais e Federal dos Titulados em Educação Física e Desportos: 1) É de interesse dos titulados em Educação Física e Desportos a criação dos Conselhos Regionais e Federal, reguladores da profissão. 2) O código de Ética profissional é fundamental para as relações de trabalho entre os titulados em Educação Física e Desportos, tanto na área particular, como na oficial. 3) Os participantes do III Encontro dos Professores de Educação Física, ratificam o trabalho que foi executado no encontro anterior, sobre o problema da criação dos Conselhos Regionais e Federal dos titulados em Educação Física e Desportos, e solicitam providências junto às autoridades do executivo e legislativo federal. Contudo, somente em meados dos anos 80 são efetivamente identificadas as ações para a apresentação do projeto de regulamentação da profissão ao legislativo. Assim, fica clara a questão da regulamentação ser uma velha aspiração da categoria profissional. Algo debatido e discutido desde os anos 50 em diversos eventos, pelos formadores de opinião, pelos notáveis da área e pelas IES, tendo se transformado em ação efetiva apenas a partir da década de 80, quando então encontramos a questão da regulamentação profissional sendo efetivamente debatida e ações concretas dinamizadas. No início dos anos oitenta resgata-se a Federação Brasileira das Associações dos Professores de Educação Física - FBAPEF. Mediante uma atuação dinâmica e democrática motiva o surgimento de Associações de Professores deEducação Física – APEFs, em praticamente todos os Estados da União. Nos Estados: Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo dentre outros, ao longo da década de oitenta, as APEFs promoveram diversos Congressos. O objetivo era discutir os rumos da disciplina e da profissão. A necessidade de consolidar e conquistar a regulamentação recebeu aprovação em todos os estados. Podemos deduzir que a segunda fase teve início na reunião entre os diretores, professores e estudantes de Escolas de Educação Física, realizada no dia 22 de novembro de 1983, na FUNCEP, em Brasília-DF, cujo propósito foi discutir sobre a problemática da atuação profissional em Educação Física”, visando a criação de um órgão orientador, disciplinador e fiscalizador do exercício profissional”. Nesta reunião, coordenada pelo Prof. Benno Becker, à época, membro da Comissão de Pesquisa em Educação Física e Desportos do MEC-COPED, diretor das escolas de Educação Física da FEEVALE, Novo Hamburgo, RS, e secretariada pelo Prof. Laércio Pereira, o Prof. Benno apresentou um projeto elaborado, tendo como base os 12 projetos de conselho regionais e federais da psicologia e medicina. Após discussão e debate, o projeto de lei foi aperfeiçoado (Leia a íntegra da ata da reunião). Chegaram ao acordo, que a proposta seria de criação de Conselho dos Profissionais de Educação Física. Nesta oportunidade todos os presentes foram alertados a respeito da tramitação que o projeto teria na Câmara dos Deputados e da necessidade de cada um mobilizar os representantes políticos de cada estado, para a defesa e o acompanhamento do projeto. Designaram os Professores Benno Becker e Antônio Amorim para encaminhamento do projeto de lei ao poder legislativo. O Projeto, já aperfeiçoado, foi apresentado pelo Prof. Benno Becker no encontro de diretores e/ou representantes de Escolas de Educação Física do Brasil, encontro este comemorativo dos cinqüenta anos das Escolas de Educação Física da Universidade de São Paulo, cuja comissão executiva dos festejos era presidida pelo Prof. Walter Giro Jordano, quando na realização do debate sobre os temas “Criação de Conselhos Federal e Regionais de Educação Física” e “Regulamentação da Profissão”, realizado no dia 16 de março de 1984, às 15 horas, na sede da Escola de Educação Física na Universidade de São Paulo. Do ano de 1984 em diante, iniciou de fato, ações concretas para a regulamentação da profissão. A FBAPEF, que estava desativada, é resgatada quando durante o II Congresso de Esporte Para todos – EPT, na cidade de Belo Horizonte, em julho de 1984, é realizada a Assembléia Geral da FBAPEF e eleita a diretoria para reiniciar a gestão da entidade. Nesta ocasião dentre alguns pontos, é discutida a questão da regulamentação da profissão e deliberado que a entidade deve envidar todos os esforços nesse sentido. O Prof. Dr. Inezil Penna Marinho informa sobre a impossibilidade de se criar Ordem ou Conselhos de professor de Educação Física, em razão de ser esta, substantiva da função de Professor. Então, o eminente professor propõe que seja modificado o nome designatório de nossa atividade profissional para “Cineantropólogo”; “Antropocinesiólogo”; Kinesiólogo” ou “Antropocineólogo”. A categoria foi consultada, e eles não concordaram com a mudança do termo. Culturalmente e tradicionalmente, a designação do profissional nas intervenções na área dos exercícios físicos e desportivos, é Professor de Educação Física. Identificado o impasse, surgiu a proposta de designarmos o interventor como “Profissional de Educação Física”. Designação aceita para vencer o impasse legal. Desta forma, passou-se a defender a regulamentação do Profissional de Educação Física. Paralelamente, em 1984 foi apresentado o Projeto de Lei 4559/84, pelo Deputado Federal Darcy Pozza à Câmara dos Deputados. Dispunha sobre o Conselho Federal e os Regionais dos Profissionais de Educação Física, Desporto e Recreação. Foi, oficialmente, o primeiro projeto de regulamentação da profissão. Em praticamente todas as instâncias deliberativas, até então, das APEFs e nos Congressos da FBAPEF, as decisões eram sempre no sentido da luta pela regulamentação. De acordo com o trâmite do projeto de apresentação de propostas para apresentação de substitutivos. 13 O PL 4559/84 foi aprovado pelo Congresso Nacional, em dezembro de 1989, sendo vetado pelo Presidente da República, José Sarney. Isso ocorreu no início do ano de 1990, baseando-se em parecer exarado pelo Ministério do Trabalho. Em razão dessa decepção, as APEFs entram em colapso. O processo de desativação ocorreu inclusive no congresso da FBAPEF de 1990. No início de 1994, grupos de estudantes de Educação Física preocupados com o crescente aumento de pessoas sem formação atuando no mercado emergente (academias, clubes, condomínios, etc.), procuraram a APEF-RJ. A APEF então, reafirmou a posição de que para impedir tal abuso, fazia-se necessário um instrumento jurídico que determinasse serem os egressos das escolas de educação física, os profissionais responsáveis pela dinamização das atividades físicas. Portanto, era requerido para regulamentar a profissão: um novo movimento e mobilização da categoria; a adesão de algum político para apresentar o projeto de lei e todo o desgaste que representaria tal questão, ao longo do trâmite do projeto na Câmara e no Senado. No Rio de Janeiro, o problema se agrava. De maneira bastante informal, percebeu- se que era latente entre os estudantes, a questão do egresso dos cursos de Educação Física. Crescia o interesse em tomar providências para reverter a situação. Com o crescimento do interesse, a questão é debatida pela diretoria da Associação dos Professores de Educação Física do Rio de Janeiro. Trava-se o debate a respeito da propriedade e surge a oportunidade de iniciar uma nova luta pela regulamentação. Em princípio, buscou-se a FBAPEF para desenvolver o processo via instituição representativa da categoria profissional. As diversas deliberações da entidade e das APEFs dependiam de aprovação. Porém, percebia-se um certo marasmo nas ações em prol da regulamentação. Por esse motivo, os Professores: Jorge Steinhilber, Sergio Kudsi Sartori, Walfrido Jose Amaral e Ernani Contursi, decidem lançar o Movimento em Prol da Regulamentação. O Movimento não tinha a participação de um órgão formalmente constituído. Havia uma rede de comunicação, informação, mobilização e adesão. Era aberta a participação de órgãos, instituições, meios de comunicação, profissionais e estudantes. Seu caráter era pluripartidário e democrático. Em Janeiro de 1995, durante a realização do congresso da FIEP em Foz do Iguaçu, o “Movimento pela regulamentação do Profissional de Educação Física” foi lançado na abertura do evento, após contar com a aprovação e adesão do delegado geral da FIEP no Brasil, Prof. Almir Gruhn e do Vice-Presidente, Prof. Manoel José Gomes Tubino. Vale ressaltar que a posse solene dos membros conselheiros do 1º Conselho de Educação Física, ocorreu neste mesmo congresso. O Prof. Jorge Steinhilber proferiu conferência de abertura do Congresso, anunciando que a assembléia da Federação Brasileira das Associações de Profissionais de Educação Física aprovara a proposta de regulamentação da profissão, e que lançava o “Movimento” como mola propulsora da regulamentação e como centro da rede de 14 divulgação e mobilização, que seria necessária para esclarecimentoe adesão nacional a respeito da questão. O lançamento da proposta foi alvo de longos aplausos, por parte dos mais de mil e quinhentos presentes à abertura, demonstrando que a questão recebia apoio e aprovação dos Profissionais de Educação Física. Após a conferência, o presidente da FIEP pronunciou-se, em apoio ao Movimento pela regulamentação da profissão. A primeira ação e difusão nacional do “Movimento” deu-se na reunião em que o Prof. Jorge Steinhilber participou com os delegados da FIEP ( a FIEP possui delegados em praticamente todos os estados da União). Na oportunidade consolidou-se a primeira aprovação nacional. Os delegados assumiram o compromisso de divulgar a proposta, esclarecer no que fosse possível, em seus respectivos estados, e divulgar, de todas as formas possíveis. A segunda ação foi o envio de correspondência às direções das Instituições de Ensino Superior de Educação Física, informando a respeito da importância e necessidade de regulamentarmos a profissão, apresentação do “Movimento” e abertura de possibilidade da adesão ao mesmo, solicitando que a questão fosse divulgada e que estes promovessem discussões, debates e esclarecimento a respeito, junto ao corpo docente e discente. Assim foi lançado o “Movimento nacional pela regulamentação do Profissional de Educação Física”, no início do ano de 1995. Seguem algumas ilustrações do movimento: Figura 1: Teia de colaboradores do “Movimento nacional pela regulamentação do Profissional de Educação Física”. 15 Figura 2: Arte "Regulamentação Já". Para deflagrar o processo formalmente, o Deputado Federal Eduardo Mascarenhas apresenta o projeto de lei relativo à regulamentação da profissão. Projeto de número 330/95, na Câmara dos Deputados. Durante o período de discussão do texto do projeto de lei, surgiu a dúvida se contemplaria amplamente a categoria profissional. O argumento era de que o texto apresentado seria embrionário. Precisava ser analisado por três Comissões na Câmara, onde poderia receber substitutivos e ser totalmente modificado. Vale ressaltar o fato de que o texto apresentado, suscitaria maiores discussões no âmbito da categoria profissional. Assim, oportunizaria a construção. Ao final do trâmite na Câmara, com o projeto devidamente analisado, debatido, refletido, estudado, consultado e pesquisado, optou-se pela apresentação por parte do Deputado Federal. O projeto deveria ser apresentado imediatamente. Durante o ano de 1995 o projeto foi analisado pela Comissão de Educação, Cultura e Desporto. As instituições de ensino, órgãos públicos relacionados com a área e notórios profissionais de Educação Física foram consultados. Todos favoráveis à regulamentação, sendo que algumas pessoas contestam o processo e o texto do projeto. Em novembro de 1995, substitutivo ao projeto de lei, é aprovado na Comissão de Educação, Cultura e Desporto. No início do ano de 1996, na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público, o Deputado Federal Paulo Paim, é designado relator do projeto. O Deputado informou que a Comissão de Trabalho, Administração e Serviço 16 Público, em princípio, era contrária às regulamentações de profissões tendo traçado algumas recomendações que deveriam ser comprovadas para a apreciação do nosso projeto: Recomendações para a elaboração de projetos de lei destinados a regulamentar exercícios de profissões: 1. Em razão da liberdade para o exercício de ofícios ou profissões estabelecidas pela Constituição Federal em seu art. 5º, inciso XIII, a elaboração de projetos de lei destinados a regulamentar o exercício profissional deverá atender, cumulativamente, os seguintes requisitos: 1.1- Imprescindibilidade de que a atividade profissional a ser regulamentada - se exercida por pessoa desprovida da formação e das qualificações adequadas - possa oferecer risco à saúde, ao bem-estar, à segurança ou aos interesses patrimoniais da população; 1.2- A real necessidade de conhecimentos técnico-científicos para o desenvolvimento da atividade profissional, os quais tornem indispensáveis à regulamentação; 1.3- Exigência de ser a atividade exercida exclusivamente por profissionais de nível superior, formados em curso reconhecido pelo Ministério da Educação e do Desporto; 2- Indispensável se torna, ainda, com vistas a resguardar o interesse público, que o projeto de regulamentação não proponha a criação de reserva de mercado para um segmento de determinada profissão em detrimento de outras com formação idêntica ou equivalente”. Em audiência com o relator, o Coordenador Nacional do Movimento, Jorge Steinhilber, defendeu que as proposições regulamentadoras atendem a esse mínimo de requisitos tendo condições de resultar em lei eficaz. Foi definido que seria realizada audiência pública para tratar da questão. Até o dia 17 de outubro de 1996 (audiência pública), o Deputado Paulo Paim consultou as Instituições formadoras de profissionais de Educação Física, entidades, órgãos públicos, profissionais e estudantes de Educação Física. Em praticamente todos os eventos relativos à área (congressos, seminários, convenções e outros) foram promovidas conferências, debates e mesas redondas relativas à regulamentação. Nas Escolas de Educação Física, estudantes promoviam encontros de discussão a respeito da regulamentação. Nos Estados reuniam-se os diretores das Instituições para debaterem, efetuarem consultas e apresentarem resultados. Todos foram favoráveis quanto à regulamentação com modificação no texto. O Movimento Nacional pela Regulamentação do Profissional de Educação Física cresceu e se fortaleceu. Convocou a categoria para enviar correspondências, relativas a abaixo assinados favoráveis à regulamentação ao Deputado Paulo Paim, sendo atendido. É importante ressaltar a reunião de diretores e representantes das Escolas de Educação Física, na Universidade Católica de Campinas convocadas pelo Instituto Nacional do Desenvolvimento do Desporto - INDESP. O objetivo era que conhecessem as propostas do Instituto, uma vez que, por iniciativa dos presentes, levantava-se a questão da regulamentação. O abaixo assinado favorável à regulamentação, foi 17 assinado por 97% dos presentes. Em 17 de outubro de 1996, às 10 horas, no plenário da Comissão de Trabalho, Administração e Serviços Públicos, o Deputado Paulo Paim abre a audiência pública. Pelo estabelecido, o Professor Jorge Steinhilber proferiu explanação histórica sobre a regulamentação e sua importância. Em seguida, o representante do INDESP confirmou o teor de correspondência favorável à regulamentação, outrora encaminhada à Comissão de Educação, Cultura e Desporto. Depois, o Professor Roberto Lial, Presidente da FBAPEF informou que no Congresso de 1994, os presentes deliberaram favoravelmente à regulamentação. Seguindo, o Deputado Paulo Paim ouviu um por um os presentes sendo marcante o fato de que todas as entidades apresentaram-se favoráveis à regulamentação. Um grupo de profissionais e estudantes manifestaram-se contrários em relação ao texto do projeto. A diretoria do CBCE e a diretoria da Executiva Nacional dos Estudantes apresentaram-se contra a proposta. Após ouvir todos os presentes e assinalar os respectivos votos, pronunciou-se o Deputado Eduardo Mascarenhas. Ao final, o Deputado Paulo Paim apresentou uma caixa com milhares de correspondências que recebera informando serem 99%favoráveis à regulamentação. Devido relatos dos presentes e votos favoráveis, estava claramente definido ser a categoria profissional favorável à regulamentação. Havia somente reticências em relação ao texto. Assim, sua decisão era favorável à questão. Instituiu grupo de trabalho para que no prazo de 20 dias, fosse apresentado o texto com as propostas apresentadas. Exigiu que os presentes enviassem suas sugestões. O Grupo de Trabalho apresentou novo texto. O relator o apresentou como substitutivo. Todavia, não houve tempo hábil do substitutivo do Deputado Paulo Paim ser apreciado na Comissão em 1996. O motivo, foi o recesso de final de ano. Em 1997, o Deputado Paulo Paim é galgado à mesa Diretora da Câmara, retirando-se da Comissão. Assim, teve início o processo de negociação para que o novo relator absorvesse todo o processo democrático levado a efeito pelo Deputado Paulo Paim. Acordou-se com o Deputado Federal Paulo Rocha (PT/PA), que por ser do mesmo partido e das mesmas convicções de Paulo Paim, concordou em apresentar o substitutivo construído das propostas oriundas da categoria profissional. Mesmo assim foi moroso o trâmite. Primeiramente a devolução do projeto à Comissão, levada a efeito em 30 de maio de 1997, em seguida sua inclusão em pauta. O Deputado Sandro Mabel (PSDB/GO), líder do governo na Comissão, informava ser favorável ao projeto, mas, não o liberava para a pauta. Informava que o entrave partia do Ministério do Trabalho. Foi levada a efeito a gestão, junto ao Secretário Executivo do Ministério do Trabalho. Na oportunidade foram tiradas as dúvidas do Ministério. Sinal verde para o projeto ser incluído na pauta da Comissão. Em 22 de outubro de 1997 o Projeto, com substitutivo, é aprovado por 18 unanimidade em reunião ordinária e remetido para a Comissão de Constituição e Justiça e de Redação. O projeto é analisado nesta Comissão até o dia 09 de junho de 1998, quando é considerado constitucional e aprovado por unanimidade pronto para a ordem do dia. Na sessão plenária de 30 de junho de 1998 da Câmara dos Deputados, o projeto de lei 330/95 é debatido, apreciado e aprovado com parecer favorável de todos os oradores. Inclusive, foi feita uma homenagem ao Deputado Eduardo Mascarenhas, que havia falecido. Nas palavras da Deputada Telma de Souza (PT-SP): “Sr. Presidente, prestando homenagem ao nosso companheiro já falecido, Eduardo Mascarenhas, ressalto o esforço da votação do Substitutivo do Deputado Paulo Rocha e o incansável vigor da Deputada Laura Carneiro para que todas as Lideranças desta Casa encontrassem um denominador comum que aprovasse essa iniciativa Parlamentar que muito nos honra”. A partir de primeiro de julho de 1998 o projeto de lei passa a ser analisado e apreciado pelo Senado. No dia seguinte, 13 de agosto de 1998, o projeto foi incluído na ordem do dia do Senado. Após alguns momentos de tensão, em razão de possíveis emendas ao Projeto de Lei, o Professor Jorge Steinhilber, reunido com a Deputada Laura Carneiro e Senadores, firma acordo para possibilitar a aprovação do Projeto de Lei nesta sessão. Após algumas manifestações de parlamentares, e um longo e brilhante discurso do Senador Francelino Pereira, o projeto foi aprovado por unanimidade e encaminhado à sanção presidencial. Em 1º de Setembro de 1998, o Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, sanciona a lei 9696/98, publicada no Diário Oficial da União em 02/09/98. 19 Figura 3: Diário Oficial da União No dia 08 de novembro do mesmo ano na cidade do Rio de Janeiro, a Federação Brasileira das Associações de Profissionais de Educação Física (FBAPEF) elegeu os primeiros membros do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), estes eleitos pelas Associações de Professores de Educação Fisica - APEFs e Instituições de Ensino Superior em Educação Física. Na ocasião, o Prof. Jorge Steinhilber, então presidente do Movimento Nacional pela Regulamentação do Profissional de Educação Física, apresentou a chapa dos Conselheiros, sendo aprovada por todos os presentes. Foram eleitos os seguines 18 primeiros Conselheiros Federais de Educação Física: Alberto dos santos Puga Barbosa, Almir A. Gruhn, Antonio Ricardo C. de Oliveira, Carlos Alberto O. Garcia, Edson Luiz Santos Cardoso, Flávio Delmanto, Gilberto José Bertevello, João Batista A. Gomes Tojal, Jorge Steinhilber, Juarez Muller, Laércio Elias Pereira, Manoel José Gomes Tubino, Marcelo F. Miranda Marino Tessari, Paulo Robertto Bassoli, Renato M. de Moraes, Sérgio K. Sartori, Walmir Vinhas. A posse solene dos primeiros membros do CONFEF foi realizada no dia 10 de janeiro de 1999, na abertura do 14º Congresso Internacional de Educação Física da FIEP, em Foz do Iguaçu-PR, como agradecimento ao apoio da Federação ao Movimento da Regulamentação, cerca de 1.500 congressistas presenciaram este acontecimento histórico. 20 Didática No universo da educação, especialmente no ambiente escolar a palavra didática está presente de forma imperativa, afinal são componentes fundamentais do cotidiano escolar os materiais didáticos, livros didáticos, projetos didáticos e a própria didática como um instrumento qualificador do trabalho do professor em sala de aula. Afinal, a partir do significado atribuído à didática no campo educacional, é comum ouvir que o professor x ou y é um bom professor porque tem didática. Para as teorias da educação, porém, a didática é mais do que um termo utilizado para representar a dicotomia entre o bom e o mal professor ou para designar os materiais utilizados no ambiente escolar. Termo de origem grega (didaktiké), a didática foi instituída no século XVI como ciência reguladora do ensino. Mais tarde Comenius atribuiu seu caráter pedagógico ao defini-la como a arte de ensinar. Nos dias atuais, a definição de didática ganhou contornos mais amplos e deve ser compreendida enquanto um campo de estudo que discute as questões que envolvem os processos de ensino. Nessa perspectiva a didática pode ser definida como um ramo da ciência pedagógica voltada para a formação do aluno em função de finalidades educativas e que tem como objeto de estudo os processos de ensino e aprendizagem e as relações que se estabelecem entre o ato de ensinar (professor) e o ato de aprender (aluno). Nesta perspectiva a didática passa a abordar o ensino ou a arte de ensinar como um trabalho de mediação de ações pré-definidas destinadas à aprendizagem, criando condições e estratégias que assegurem a construção do conhecimento. Nesse contexto, a Didática enquanto campo de estudo visa propor princípios, formas e diretrizes que são comuns ao ensino de todas as áreas de conhecimento. Não se restringe a uma prática de ensino, mas se propõe a compreender a relação que se estabelece entre três elementos: professor, aluno e a matéria a ser ensinada. Ao investigar as relações entre o ensino e a aprendizagem mediadas por um ato didático, procura compreender também as relações que o aluno estabelece com os objetos do conhecimento. Para isso privilegia a análise das condições de ensino e suas relações com os objetivos, conteúdos, métodos e procedimentos de ensino. Entretanto, postular que o campo de estudo da Didática é responsável por produzir conhecimentos sobre modos de transmissão de conteúdos curriculares através de métodos e conhecimentos não deve reduzir a Didática a visão de estudo meramente tecnicista. Ao contrário,a produção de conhecimentos sobre as técnicas de ensino oriundos desse campo de estudo tem por objetivo tornar a pratica docente reflexiva, para que a ação do professor não seja uma mera reprodução de estratégias presentes em livros didáticos ou manuais de ensino. Não basta ao professor reproduzir pressupostos teóricos ou programas disciplinares pré-estabelecidos, as informações acumuladas na prática ao longo do processo ensino-aprendizagem devem despertar a capacidade crítica capaz de proporcionar questionamentos e reflexões sobre essas informações a fim de garantir uma transformação na prática. Como um processo em constante transformação, a formação do educador exige esta interligação entre a teoria e a prática como forma de desenvolvimento da capacidade crítica profissional. 21 Diferentes Concepções Sobre o Papel da Educação Física na Escola Atualmente, coexistem, na área da Educação Física, diversas concepções sobre qual deve ser o papel da Educação Física na escola. Essas concepções têm em comum a tentativa de romper com o modelo mecanicista, esportivista e tradicional. São elas: Humanista; Fenomenológica; Psicomotricidade, baseada nos Jogos Cooperativos; Cultural; Desenvolvimentista; Interacionista-Construtivista; Crítico-Superadora; Sistêmica; Crítico-Emancipatória; Saúde Renovada, baseada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,1998); além de outras (DARIDO, 2003). Faz-se necessário destacar que, na prática pedagógica, as perspectivas que se instalam não aparecem de forma pura, mas com características particulares, mesclando aspectos de mais de uma linha pedagógica. Em outras palavras, dificilmente seguimos uma única abordagem. A prática de todo professor, mesmo que de forma pouco consciente, apoia-se em determinada concepção de aluno, ensino e aprendizagem que é responsável pelo tipo de representação que o professor constrói sobre o seu papel, o papel do aluno, a metodologia, a função social da escola e os conteúdos a serem trabalhados. É importante ressaltar também que, neste texto, os termos; modelos, linhas, perspectivas, concepções, tendências e abordagens, serão utilizados como sinônimos. Enfatizamos que, neste texto, não descreveremos cada uma das tendências arroladas anteriormente1, antes, realizaremos uma síntese das principais concepções teóricas da Educação Física na escola. Também sintetizaremos as tendências que derivam dessas concepções, mas que não são defendidas explicitamente por autores e livros, embora sejam extremamente praticadas no interior da escola. Um exemplo disso pode ser notado na tendência de se conceber a Educação Física como prêmio ou castigo e compreendê-la como meio para aprender conteúdos mais valorizados na escola. Educação Física como Prêmio ou Castigo Atualmente, pelo menos na rede pública estadual de São Paulo, a disciplina de Educação Física é oferecida por professores especialistas na área, ou seja, por professores com formação superior em Educação Física, o que pode ser considerado um avanço. Por outro lado, como temos que trabalhar coletivamente, precisamos conhecer como pensam as professoras de sala (PEB 1). Podemos dizer, baseando-nos em pesquisa, que elas têm concepções dominantes sobre o papel da Educação Física na escola, que não são excludentes, antes se complementam, especialmente, na prática cotidiana. Essas concepções podem ser notadas em seus discursos. As professoras reconhecem que os alunos experimentam muito prazer nas práticas corporais. Justamente por isso, utilizam as aulas ora como prêmio, pelo bom comportamento dos alunos em sala de aula, ora, com sua supressão, como castigo. Diante disso, aparecem discursos como: “Se vocês terminarem as tarefas nós sairemos da sala; caso contrário, vocês não terão a aula de Educação Física hoje” ou “Como vocês estão muito indisciplinados hoje, não sairão para as aulas de Educação Física”. Essas práticas são muito frequentes. Isto provavelmente ocorre porque muitos professores não conhecem os benefícios e a importância da Educação Física em termos educacionais e também porque têm dificuldades no tratamento das questões relacionadas à autoridade e aos limites. Mesmo que haja um treinamento e crítica a estes 22 procedimentos, os professores insistem na sua manutenção, provavelmente porque “funciona”, tendo em vista a motivação dos alunos para as aulas de Educação Física. Inclusive, em pesquisa realizada anteriormente (DARIDO, 2004), verificamos que a Educação Física é a disciplina preferida de mais de 50% dos alunos da escola, inclusive dos alunos do Ensino Fundamental. Para os alunos do Ensino Médio, esse número fica em torno de 40%. Esses dados mostram que talvez a escola não esteja aproveitando essas expectativas dos alunos na escola. Educação Física como Meio: a Abordagem Construtivista e da Psicomotricidade Muitos professores não especialistas e até alguns com formação específica em Educação Física entendem que o papel da disciplina é auxiliar na melhoria da alfabetização, da sociabilização, da lateralidade, da coordenação motora etc. Ou seja, existe a crença de que as aulas de Educação Física servem de meio para outras aprendizagens, certamente mais prestigiosas para a escola, como a aprendizagem da matemática ou a alfabetização. Não se trata de negar o papel importante que a questão da interdisciplinaridade deve desempenhar na escola e o foco da Educação Física neste contexto, mas sim de ter em mente que a interdisciplinaridade só será positiva para a Educação Física na escola quando estiverem claras para o professor quais são as finalidades desta disciplina. Somente deste modo, haverá preocupação em assegurar ao aluno as questões relacionadas à cultura corporal com suas características específicas. Essa visão da Educação Física como meio para outras aprendizagens é derivada em grande parte de duas concepções: abordagem psicomotricista e construtivista (DARIDO, 1998). Vejamos, então, um resumo dessas duas perspectivas. O livro Educação de corpo inteiro de autoria do Professor João Batista Freire (1989), teve papel determinante na divulgação das ideias construtivistas na Educação Física, embora o autor tenha também recebido outras influências, como da psicomotricidade, por exemplo. A proposta denominada construtivista é apresentada como uma opção metodológica, em oposição às linhas anteriores da Educação Física na escola, especificamente à proposta mecanicista, caracterizada pela busca do desempenho máximo de padrões de comportamento, sem considerar as diferenças individuais e levar em conta as experiências vividas pelos alunos. O objetivo da proposta mecanicista é selecionar os mais habilidosos para competi- ções de alto nível. No construtivismo, a intenção é a de construir conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo, em uma relação que extrapole o simples exercício de ensinar e aprender. Assim, conhecer é sempre uma ação que implica em esquemas de assimilação e acomodação, em um processo de constante reorganização. Essa concepção teve forte influência de Piaget. A principal vantagem desta abordagem é a de que ela possibilita uma maior integra- ção com uma proposta pedagógica ampla e integrada da Educação Física nos primeiros anos de educação formal. 23 Na orientação da CENP (SÃO PAULO, 1990), a meta da construção do conhecimento é evidente quando propõe como objetivo da Educação Física, [...] respeitar o seu universo cultural (do aluno), explorar a gama múltipla de possibilidades educativas de sua atividade lúdica espontânea, e gradativamente propor tarefas cada vez mais complexas e desafiadoras com vista a construção do conhecimento. (SÃOPAULO, 1990, p. 18). O que não fica esclarecido na discussão desta questão é qual conhecimento que se deseja construir, por meio da prática da Educação Física escolar. Se for o mesmo buscado pelas outras disciplinas, tornaria a área como um instrumento de auxílio ou de apoio para a aprendizagem de outros conteúdos. Através da observação da prática da Educação Física na escola, Darido (2001) verificou que a concepção de Educação Física como meio para um outro fim é demasiadamente aceita e até estimulada pelos diferentes segmentos que compõem o contexto escolar, como diretores, coordenadores, professores da própria área e de outras áreas do conhecimento. A abordagem construtivista teve o mérito de levantar a questão da importância da Educação Física na escola considerar o conhecimento que a criança já possui, independentemente da situação formal de ensino, porque a criança, como ninguém, é uma especialista em brinquedo (FREIRE, 1989). Deve-se, deste modo, resgatar a cultura de jogos e brincadeiras dos alunos envolvidos no processo ensino-aprendizagem, aqui incluídas as brincadeiras de rua, os jogos com regras, as rodas cantadas e outras atividades que compõem o universo cultural dos alunos. Além de procurar valorizar as experiências dos alunos, a sua cultura, a proposta construtivista também tem o mérito de propor uma alternativa aos métodos diretivos tão impregnados na prática da Educação Física. O aluno constrói o seu conhecimento a partir da interação com o meio, resolvendo problemas. Na proposta construtivista o jogo enquanto conteúdo/estratégia tem papel privilegiado. É considerado o principal modo de ensinar, trata-se de um instrumento pedagógico, um meio de ensino, pois enquanto joga ou brinca a criança aprende. Sendo que este aprender deve ocorrer em um ambiente lúdico e prazeroso para a criança. A Psicomotricidade é o primeiro movimento mais articulado que surge, a partir da década de 1970, em contraposição ao modelo esportivista. Nele, o envolvimento da Educa- ção Física é com o desenvolvimento da criança, com o ato de aprender, com os processos cognitivos, afetivos e psicomotores, ou seja, busca garantir a formação integral do aluno (SOARES, 1996). Na verdade, esta concepção inaugura uma nova fase de preocupações para o professor de Educação Física que extrapola os limites biológicos e de rendimento corporal, passando a incluir e a valorizar o conhecimento de origem psicológica. O autor que mais influenciou o pensamento psicomotricista no País foi, sem dúvida, o francês Jean Le Boulch, por meio da publicação de seus livros, da sua presença no Brasil, e de seus seguidores, presentes em várias partes do mundo. Mesmo antes da tradução das suas primeiras obras, alguns estudiosos tomaram contato com suas 24 ideias em outros países da América Latina frequentando cursos e mantendo contatos pessoais. É importante salientar que a Psicomotricidade foi e é indicada não apenas para a área da Educação Física, mas também para psicólogos, psiquiatras, neurologistas, reeducadores, orientadores educacionais, professores e outros profissionais que trabalham junto às crianças. Talvez seja por isso mesmo que é bastante significativa a influência desta abordagem nas escolas normais e nos cursos de pedagogia. Especificamente, na área da Educação Física é possível observar, atualmente, a psicomotricidade como disciplina em alguns cursos superiores. Também pode-se notar que alguns livros utilizam este referencial para a prática escolar e alguns professores participam de associações que agregam especialistas em psicomotricidade. Em crítica ao modelo esportivista Le Boulch afirma que: “[...] a corrente educativa em psicomotricidade tem nascido das insuficiências na educação física que não teve condições de corresponder às necessidades de uma educação real do corpo”, (1986, p. 23). O autor prossegue em suas críticas à Educação Física, ressaltando que: “[...] eu distinguia dois problemas em educação física: um deles ligados aos fatores de execução, centrado no rendimento mecânico do movimento, e outro, ligado ao nível de controle e de comando que eu chamei psicomotor [...]” (1986, p. 23). A educação psicomotora refere-se à formação de base indispensável a toda criança, seja ela normal ou com problemas, e responde a uma dupla finalidade; assegurar o desenvolvimento funcional, tendo em conta possibilidades da criança, e ajudar sua afetividade a expandir-se e a equilibrar-se, por meio do intercâmbio com o ambiente humano. Le Bouch (1986) acreditava que a educação psicomotora é a base na escola primária. Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares e escolares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo e da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar o tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos. Na opinião do autor, a educação psicomotora deve ser praticada desde a mais tenra idade, pois permite prevenir inadaptações difíceis de serem corrigidas quando já estruturadas. O discurso e a prática da Educação Física, sob a influência da psicomotricidade, conduz à necessidade do professor de Educação Física em sentir-se com responsabilidades escolares e pedagógicas. Busca desatrelar sua atuação na escola dos pressupostos da instituição desportiva, valorizando o processo de aprendizagem e não mais a execução de um gesto técnico isolado. Educação Física com o Objetivo Exclusivo de Melhoria da Saúde e da Qualidade de Vida A compreensão de que o papel da Educação Física, na escola, consiste em ser o de auxiliar na recuperação, aquisição e manutenção da saúde é bastante aceita pelo imaginário social, sendo a resposta mais prontamente dada por grande parte dos professores, inclusive da área, e de outros profissionais. O argumento mais utilizado em favor dessa visão é o de que o ser humano nunca foi tão sedentário, inativo e obeso. Assim, o papel da Educação Física seria o de substituir o trabalho corporal antes realizado para a própria sobrevivência. 25 Nahas (1997), Guedes e Guedes (1996), para citar alguns, advogam em prol de uma Educação Física escolar dentro da matriz biológica, da saúde e da qualidade de vida. Guedes e Guedes (1996) ressaltam que uma das principais preocupações da comunidade científica, nas áreas da Educação Física e da saúde pública, é a de levantar alternativas que possam auxiliar na tentativa de reverter a elevada incidência de distúrbios orgânicos associados à falta de atividade física. Os autores, baseados em diferentes trabalhos americanos, entendem que as práticas de atividade física vivenciadas na infância e adolescência caracterizam-se como importantes atributos no desenvolvimento de atitudes, habilidades e hábitos que podem auxiliar na adoção de um estilo de vida ativo fisicamente na idade adulta. Como proposta, sugerem a redefinição do papel dos programas de Educação Física na escola, agora como meio de promoção da saúde ou como indicação para um estilo de vida ativa, também proposta por Nahas (1997). Particularmente, denominamos esta proposta como de saúde renovada. Consideramos saúde renovada porque ela incorpora princípios e cuidados já consagrados em outras abordagens com enfoque mais sociocultural, quando Nahas (1997), por exemplo, sugere que o objetivo da Educação Física, na escola de ensino médio, é o de ensinar os conceitos básicos da relação entre atividade física, aptidão física e saúde. O autor observa que esta perspectiva procura atender a todos os alunos, principalmente os que mais necessitam: sedentários, com baixa aptidão física, obesos e portadores de deficiências. Estas considerações se aproximam daquelas explicitadas por Betti(1991) quando o autor faz referências à necessidade da não exclusão nas aulas de Educação Física. Além disso, Guedes e Guedes criticam os professores que trabalham na escola apenas as modalidades esportivas tradicionais; voleibol, basquetebol, handebol e futebol, “[...] impedindo, desse modo, que os escolares tivessem acesso às atividades esportivas alternativas que eventualmente possam apresentar uma maior aderência a sua prática fora do ambiente escola [...]” (1996, p. 55). Os autores consideram que as atividades esportivas são menos interessantes para a promoção da saúde, devido à dificuldade no alcance das adaptações fisiológicas e porque não prediz sua prática ao longo de toda a vida. Guedes e Guedes (1996), assim como Nahas (1997), ressaltam a importância das informações e conceitos relacionados à aptidão física e saúde. A adoção dessas estratégias de ensino contempla não apenas os aspectos práticos, mas também, a abordagem de conceitos e princípios teóricos que proporcionem subsídios aos escolares, no sentido de tomarem decisões quanto à adoção de hábitos saudáveis de atividade física ao longo de toda vida. Muitas críticas são tecidas a essa visão de saúde renovada na Educação Física escolar. Palma (2000), um dos críticos, por exemplo, aponta que o conceito de saúde não deve estar 40 centrado apenas no indivíduo, nem deve ser visto apenas como a ausência de doenças, antes CONTEÚDOS E DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA como um conceito dinâmico e multifatorial. Para o autor, é um erro responsabilizar somente o indivíduo pela adoção de um estilo de vida ativo. O problema deve ser visto como social, diretamente ligado às condições de vida da sociedade em que este indivíduo está inserido. Alerta que é preciso repensar os “modos de olhar” a saúde, 26 permitindo desta maneira àquele que mais precisa realizar seu direito à prática de atividade física e saúde. Palma (2000) questiona a interpretação que se faz dos estudos a respeito dos benefícios que a atividade física regular proporciona à saúde. Afirma que o modo de olhar a relação entre atividade física e a saúde aponta para duas grandes inquietações: a visão estreita de saúde; a não identificação de grupos desprivilegiados. O autor chama a atenção de que o foco da análise deve considerar as características da comunidade em que as pessoas vivem ao invés dos atributos individuais. Embora se possa encontrar na literatura vários estudos que associam as desigualdades sociais aos valores de morbi-mortalidade, perduram as questões relativas à interpretação destes achados. Autores citados por Palma, ao enfrentarem estas questões, trataram-na como resultante das políticas e condições sociais que se exercem sobre o coletivo das pessoas. Colocam que não basta reconhecer as diferenças entre as médias salariais de determinados grupos. É preciso, antes, perceber que os efeitos das desigualdades sociais sobre a saúde são produtos de processo histórico, político e econômico, os quais refletem a combinação de exposições negativas, perda de recursos, dificuldade de acesso aos bens e serviços, deficiências de informação, entre outros. A relação da saúde com as condições socioeconômicas pode ser verificada em pesquisas realizadas em vários países. O aumento dos riscos de doenças coronarianas, taxas de mortalidade por doenças como hipertensão, arterosclerose, estresse etc., apresenta-se inversamente proporcional à elevação da renda, ou seja, quanto maior o nível socioeconômico e maior grau de escolaridade, menor o risco de desenvolver estas doenças. Portanto, não se pode responsabilizar somente o indivíduo pela adoção de um estilo de vida ativo. O problema deve ser visto como social, diretamente ligado às condições de vida da sociedade em que este indivíduo está inserido. O autor alerta para o fato de que é preciso repensar os “modos de olhar” a saúde, permitindo desta maneira àquele que mais precisa realizar seu direito à prática de atividade física e saúde. Concordamos com a afirmação de Palma (2000) de que é preciso repensar os “modos de olhar” a saúde e permitir aquele que mais precisa realizar seu direito à prática de atividade física e saúde. Porém, em relação à Educação Física escolar, há falta de propostas práticas que vão ao encontro destes objetivos, daí a importância de estudos e trabalhos que procurem refletir sobre as possibilidades de atuação na escola pela perspectiva de saúde coletiva. Educação Física como Qualidade do Movimento e Desenvolvimento Motor O modelo desenvolvimentista é explicitado, no Brasil, principalmente nos trabalhos de Tani et al. (1988) e Manoel (1994). A obra mais representativa desta abordagem é Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista (TANI et al., 1988). Para os autores, a proposta explicitada por eles é uma abordagem entre várias possíveis, dirigida especificamente para crianças de quatro a quatorze anos, a qual busca nos processos de aprendizagem e desenvolvimento uma fundamentação para a Educação Física escolar. 27 Segundo eles, trata-se de uma tentativa de caracterizar a progressão normal do crescimento físico, do desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo e afetivo-social, na aprendizagem motora e, em função destas características, sugerir aspectos ou elementos relevantes para a estruturação da Educação Física Escolar. Os autores dessa abordagem defendem a ideia de que o movimento é o principal meio e fim da Educação Física. Desse modo, uma aula desta disciplina não pode ocorrer sem que haja movimento. Essa abordagem, segundo os autores, não busca na Educação Física solução para todos os problemas sociais do País, pois sabe que discursos genéricos não dão conta da realidade. Em suma, uma aula de Educação Física deve privilegiar a aprendizagem do movimento, embora possam haver outras aprendizagens em decorrência da prática das habilidades motoras. Aliás, habilidade motora é um dos conceitos mais importantes dentro desta abordagem, pois é através dela que os seres humanos se adaptam aos problemas do cotidiano, resolvendo problemas motores. Grande parte do modelo conceitual dessa abordagem relaciona-se com o conceito de habilidade motora. Como as habilidades mudam ao longo da vida do indivíduo, desde a concepção até a morte, a área de Desenvolvimento Motor constituiu-se em uma importante área de conhecimento da Educação física. Do mesmo modo, estruturou-se também uma outra área de conhecimento em torno da questão de como os seres humanos aprendem as habilidades motoras, a área da Aprendizagem Motor. Para a abordagem desenvolvimentista, a Educação Física deve proporcionar ao aluno condições para que seu comportamento motor seja desenvolvido através da interação entre o aumento da diversificação e a complexidade dos movimentos. Assim, o principal objetivo da Educação Física é oferecer experiências de movimento adequadas ao nível de crescimento e desenvolvimento do indivíduo, a fim de que a aprendizagem das habilidades motoras seja alcançada. A criança deve aprender a se movimentar para se adaptar às demandas e exigências do cotidiano em termos de desafios motores. A partir desta perspectiva, passou a ser extremamente vinculada, na área, a questão da adequação dos conteúdos ao longo das faixas etárias. Já no domínio cognitivo, foi proposta uma taxionomia para o desenvolvimento motor, ou seja, uma classificação hierárquica dos movimentos dos seres humanos, do nascimento à morte. Os conteúdos devem obedecer a uma sequência fundamentada no modelo de taxionomia do desenvolvimento motor, proposta por Gallahue (1982) e ampliada por Manoel (1994), na seguinte ordem de fases: dos movimentos fetais;
Compartilhar