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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - CAMPUS I CURSO DE PEDAGOGIA O PROFESSOR E AS NOVAS TECNOLOGIAS: PONTUANDO DIFICULDADES E APONTANDO CONTRIBUIÇÕES Milena de Jesus Nunes Salvador 2009 2 MILENA DE JESUS NUNES O PROFESSOR E AS NOVAS TECNOLOGIAS: PONTUANDO DIFICULDADES E APONTANDO CONTRIBUIÇÕES Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção de graduação em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação da Profa. Cláudia Silva de Santana. Salvador 2009 3 MILENA DE JESUS NUNES O PROFESSOR E AS NOVAS TECNOLOGIAS: PONTUANDO DIFICULDADES E APONTANDO CONTRIBUIÇÕES Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção de graduação em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação da Profa. Cláudia Silva de Santana. LOCAL__________DE________DE______. ___________________________________ ___________________________________ ____________________________________ 4 AGRADECIMENTOS Agradeço com imensa gratidão a Deus pelo dom da vida e pelo sustento misterioso nesses últimos anos. A meus amigos de Comunhão e Libertação pela gratuita companhia. Agradeço de modo particular a meu amigo Gilberto Bonfim, por ter me ajudado a entender o valor da Universidade, indicando-me Pedagogia como curso de formação acadêmica, que nessa etapa está sendo concluído com grande realização. A minha mãe Maria, que sempre foi muito forte, decidida e guerreira, lutando para dar o melhor às filhas. Ela teve um papel extremante importante na construção da minha vida, abdicando de coisas pessoais para me fazer feliz. A minha irmã Michele, que suportou com paciência o excesso e posse do computador no período em que escrevia o presente trabalho. A minha grandíssima amiga Francesca Fanni, pela amizade, e por ter propiciado o primeiro contato com a temática aqui discutida. A minha orientadora Cláudia Sizan, pela competência, pelo acompanhamento e revisão da minha pesquisa. 5 “Educar é introduzir a realidade total” Luigi Giussani (2004, p. 60) 6 RESUMO Reconhecendo que a educação está ligada a evolução da própria sociedade, faz-se necessário analisar a postura cabível ao professor no momento atual, bem como entender os aspectos que possam interferir nesse processo. Convivendo num âmbito escolar e tendo contato direto com a atuação dos professores, enquanto “conduziam” suas aulas no laboratório de informática, constatou-se que os docentes das escolas fundamentais apresentam dificuldades para conduzir sua prática educativa mediada por recursos contemporâneos, a exemplo das novas tecnologias. Foi despartado então, a seguinte questão: como se dá a prática educativa dos professores das escolas fundamentais com relação ao uso das novas tecnologias? Buscando responder tal questionamento discute-se, neste trabalho, a ação do professor frente às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), pontuando problemáticas e apontando contribuições, com o intuito de oferecer suportes para que o docente conduza sua práxis unindo o ensino aos novos recursos didáticos, sem reduzir as tecnologias a uma perspectiva instrumental. Torna-se indispensável entender que técnica é essa e como o professor pode relacionar-se com ela. Foi realizada revisão bibliográfica com enfoques nas discussões de Kenski, Lévy, Arnoud, Preto, Freire e, em seguida, procedeu-se, a pesquisa exploratória, de caráter quali-quantitativo. Para fim de coleta de dados, foi aplicado questionário aos professores de duas instituições – Pública (A) e Privada (B) – em paralelo a observação da prática educativa dos mesmos. Os dados coletados apontam para a necessidade de maiores discussões sobre a inserção das novas tecnologias na prática educativa e melhor capacitação docente. Palavras-chaves: Educação; Novas tecnologias; Prática educativa; Professor; Tecnologia de Informação e Comunicação 7 RIASSUNTO Riconoscendo che l'istruzione è legata ai cambiamenti della società stessa, è necessario analizzare la postura appropriata dell'insegnante in questo tempo attuale e capire i problemi che si possono verificare in questo processo. Vivendo nell’ambito della scuola e avendo un contatto diretto con il lavoro degli insegnanti, inquanto "guida" delle loro lezioni in laboratorio di informatica, e’ emerso che gli insegnanti delle scuole elementari hanno difficoltà a svolgere pratiche educative mediate dagli strumenti contemporanei, come le nuove tecnologie. In questo modo e’ quindi nata la seguente domanda: come trasmettere in modo adeguato agli insegnanti di scuola elementare le pratiche educative per quanto riguarda l'uso delle nuove tecnologie? Cercando una risposta a tale domanda, in questo lavoro si discute l'azione del docente di fronte alle tecnologie dell'informazione e della comunicazione (TIC), sottolineandone i problemi e i contributi, al fine di fornire un sostegno affinche’ il docente conduca la sua pratica unendo l'insegnamento alle nuove risorse didattiche, senza ridurre le tecnologie ad una prospettiva strumentale. È essenziale capire che tipo di tecnica sia questa e come l'insegnante vi possa fare riferimento. E’ stata svolta una ricerca bibliografica focalizzandosi sulla discussione tra Kenski, Lévy, Arnoud, Preto, Freire, e si e’ poi proceduto con una ricerca esplorativa di tipo sia qualitativ che quantitativo. Per la raccolta dei dati, è stato somministrato un questionario agli insegnanti di due istituzioni - pubblica (A) e privata (B) - in parallelo per osservare la loro pratica. I dati raccolti evidenziano la necessità di ulteriori discussioni in materia di integrazione delle nuove tecnologie nella pratica educativa e una migliore formazione degli insegnanti. Parole chiave: Educazione, Nuove tecnologie, Pratica Educativa, Professore, Tecnologie dell’Informazione e della Comunicazione. 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1- O encontro do robô com o machado......................................................................... 14 Ilustração 2 - O mesmo professor, mas um novo papel................................................................. 34 Ilustração 3 - Download na realidade............................................................................................ 53 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Quadro comparativo das instituições........................................................................... 56 Tabela 2 - Formação profissional do universo pesquisado............................................................ 62 Tabela 3 - Número de professores que utilizam recursos e ferramentas informatizadas na Prática Educativa....................................................................................................................................... 63 10 LISTA DE GRÁFICOS Figura 1 - Conhecimento e utilizaçãopor parte dos professores de algumas ferramentas tecnológicas................................................................................................................................... 64 Figura 2 - Relação entre a utilização de softwares educativos em sala de aula pelos professores e uso regular de MSN e Orkut em domicílio.................................................................................... 64 Figura 3 - Presença de internet em domicílio e realização de cursos de tecnologia / informática segundo faixa salarial.................................................................................................................... 65 Figura 4 - Uso do site www.youtube.com em atividades educativas segundo origem institucional pública ou privada dos professores................................................................................................ 65 11 SUMÁRIO INTRODUÇÃO..................................................................................................... 12 1 TÉCNICA E TECNOLOGIA: A HOME PAGE DA QUESTÃO................. 14 1.1 TECNOLOGIAS E RECURSOS DIDÁTICOS: ORGANIZANDO ÍCONES E CRIANDO NOVOS ATALHOS...................................................................................................................... 23 1.2 AS NOVAS TECNOLOGIAS E UM DESAFIO PARA A EDUCAÇÃO: UM NOVO LINK OU MAIS UM ARQUIVO NA MEMÓRIA................................................................................ 29 2 CHAT, FÓRUM E BACKUP DO PAPAEL DO PROFESSOR.................... 34 2.1 ENTRE OS DESAFIOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS: UPDATE NA FORMAÇÃO DOCENTE..................................................................................................................................... 41 2.2 NOVAS TECNOLOGIAS E AÇÃO DOCENTE: CONEXÕES A UMA NOVA PRAXIS......................................................................................................................................... 47 3 UM DOWNLOUAD NA REALIDADE........................................................... 52 3.1 SCAN DAS INSTITUIÇÕES................................................................................................ 55 3.2 ACESSANDO O PERFIL DOS SUJEITOS PESQUISADOS............................................. 57 3.3 DADOS ARMAZENADOS.................................................................................................. 60 DOWNLOAD CONCLUÍDO: UM NOVO INÍCIO.......................................... 65 APÊNDICE A........................................................................................................ 68 APÊNDICE B........................................................................................................ 75 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 88 12 INTRODUÇÃO A educação sempre foi marcada por processos históricos e culturais que conduziram e guiaram modelos de instrução nas famílias, nas comunidades, nas escolas e, atualmente, podemos pensar também em ambientes fora dela. Os padrões tradicionalmente conhecidos de ensino estão dando lugar a novas formas de construir conhecimentos. Tal alteração é característica significativa da inserção das novas tecnologias ao ensino. Porém, educação e novas tecnologias, caminhando juntas, deixam rastros como indicadores de infinitas questões. A sociedade contemporânea vem apresentando diversas formas de conduzir o ensino sistematizado. As inovações tecnológicas exigem do profissional docente constante aperfeiçoamento, principalmente em termos da inserção dos recursos tecnológicos aplicados ao ensino. Logo, entende-se que é necessário haver professores capacitados e qualificados para inserir na sua prática educativa recursos que auxiliem a aprendizagem do aluno. Tendo-se contato direto com o universo dessas questões, ao trabalhar com educação e tecnologia e observar a postura de alguns professores, despertou-se uma pergunta: Como se dá a prática educativa dos professores das escolas fundamentais com relação à tecnologia da informação e comunicação? Neste sentido, levantar discussões acerca dessa temática, que envolve certamente o profissional docente, tem como mérito o fato de apontar caminhos e contribuições para os educadores, mas também para as instituições educativas. Buscou-se desenvolver essa pesquisa, visando dar suporte para o entendimento de conceitos, problemáticas e contribuições das novas tecnologias inseridas na educação. Este trabalho valeu-se de observação subjetiva e pesquisa de dados quantitativos, caracterizando o método quali- quantitativo. Toda a discussão foi construída e embasada por grandes teóricos e pesquisadores da área de educação e tecnologia, como: Pierre Lévy, Vani Kenski, Manuel Castells, Nelson Preto, Arnoud Junior, Manuel Moran, Moacir Gadotti, Paulo Freire, José Libâneo, Demerval Saviani e outros, sendo estruturado em três capítulos. 13 No Capitulo 1, procurou-se situar o leitor a respeito do entendimento conceitual e vivencial do que é técnica e tecnologia, situando-as na história da humanidade. Colaborando com essa discussão, tornou-se pertinente apresentar aspectos da tecnologia como recursos didáticos em tendências pedagógicas diferentes e o desafio que as tecnologias trazem a educação, estando tais aspectos divididos em tópicos. O Capítulo 2 é dedicado especialmente ao professor. Discute- se o papel, a formação e a prática educativa do educador nessa nova era. Objetivou-se levantar questões e reflexões que norteassem a atuação profissional docente com relação as novas tecnologias. Em seguida, no Capítulo 3, são apresentados os dados obtidos em pesquisa observacional, realizada em duas instituições de ensino, para verificar como toda a abordagem apresentada, nos capítulos anteriores, se concretiza. Os dados foram obtidos através de questionário aplicado aos professores. Acredita-se, que ao final de toda à discussão, possa ser possível responder as seguintes questões: técnica e tecnologia, ao que se referem? Educação e tecnologia, qual o desafio e a novidade? Qual o lugar do professor nessa discussão? O que define e caracteriza essa nova forma de fazer educação? Quais as mudanças encontradas nessa inter-relação entre educação e tecnologia? Qual o impacto? Como os professores estão vivenciando essas mudanças? Quais as dificuldades encontradas e quais as contribuições apontadas? Essas indagações configuraram as discussões que perpassaram esse trabalho, esperando que novas questões sejam levantadas para contribuir com os desafios a serem enfrentados. 14 1. TÉCNICA E TECNOLOGIA: A HOME PAGE DA QUESTÃO “... o computador é uma ferramenta que estimula os alunos, desperta interesse e facilita a aprendizagem se for utilizado com objetivos pré-determinados.”1 Estando o estudo inserido na temática: o professor e as novas tecnologias, pretende-se discutir o conceito de técnica e tecnologia na perspectiva de Arnaud (2005), Lévy (1991 e 2003) e Kenski (2003 e 2007), pontuando um apanhado de situações vivenciadas pela humanidade em que a técnica e a tecnologia estiveram presentes. Com a contemporaneidade, caracterizada pela disseminação da tecnologia, pela revolução das ferramentas de comunicação e pela evolução da informática, surgem novas formas de viver, relacionar-se, pensar e agir, dando uma nova face a sociedade e conseqüentemente aos indivíduos. As gerações antigas não têm mais as mesmas característicasdas atuais. Técnicas e tecnologias circundam a vida cotidiana das pessoas implicando novas condutas e um novo pensar. Mas, que técnica e tecnologia são essas a qual se faz referência? Elas sempre foram as mesmas ao longo do tempo? As tecnologias foram, por muito tempo, entendidas como um mero sistema de máquinas 15 que surgiram para substituir o homem. A técnica, por sua vez, aparecia simplesmente como o conjunto de procedimentos que auxiliava a aplicação do método. Porém, há outras perspectivas. O próprio Lévy (1999) usa uma metáfora para expressar a visão impactante e inadequada, apresentada por vários estudos, que se referem a tecnologia como um projétil direcionado a um alvo vivo, como a cultura e a sociedade, e a técnica como algo estranho oriundo de outro planeta. Numa abordagem subseqüente Pierre Lévy (1999, p. 22) expõe sua idéia sobre técnica e tecnologia, servindo como ponto de partida dessa discussão. Ele diz: Seria a tecnologia um ator autônomo, separado da sociedade e da cultura, que seriam apenas entidades passivas percutidas por um agente exterior? Defendo, ao contrário, que a técnica é um ângulo de análise dos sistemas sócio-técnicos globais, um ponto de vista que enfatiza a parte material e artificial dos fenômenos humanos, e não uma entidade real, que existiria independentemente do resto, que teria efeitos distintos e agiria por vontade própria. Vale-se dessa colocação, pois a tecnologia, aqui discutida, tem seu traço marcado pela filosofia grega, onde a técnica, ou seja, teckné, traduz a idéia de arte, oficio. Sendo assim, a técnica significa a arte de fazer algo, ou ainda, um conjunto de procedimentos que permite o desempenho de métodos, práticas e ações objetivando alcançar determinadas intenções e não meros produtos impactantes que não fazem parte da cultura e da sociedade. Desta maneira, a tecnologia tem um aparato histórico próprio do ser humano, que por meio da técnica gera o conhecimento, a interpretação, a aplicação e capacidade para lançar, apurar e produzir instrumentos, ferramentas e equipamentos capazes de gerar modificações e novidades para o homem e para a sociedade como um todo. Por isso a tecnologia não se limita aos suportes materiais, nem aos métodos, nem ao saber fazer. Segundo Arnaud (2005, p. 15) a tecnologia consiste em: [...] um processo criativo através do qual o ser humano utiliza-se de recursos materiais e imateriais, ou os cria a partir do que está disponível na natureza e no seu contexto vivencial, a fim de encontrar respostas para os problemas de seu contexto, superando-os. 1 Fala de uma professora participante da pesquisa. 16 Considera-se, então, que acontecem transformações oriundas do ser humano que, ao alterar a realidade na qual está inserido, modifica a si mesmo, pois vai criando e descobrindo meios de desempenho e construindo conhecimento sobre eles. O ser humano ao passar por esse processo, re-significa conhecimentos já construídos, refletindo sobre eles e sobre o desenrolar desse “processo criativo e tecnológico”, segundo ainda o próprio Arnaud. Percebe-se então que a palavra tecnologia é um termo muito abrangente que envolve aspectos como: técnica moderna e sofisticada, ferramentas, processos e materiais criados e utilizados a partir de um determinado conhecimento. Segundo Amora2 (1999, p.711) a tecnologia é um “conjunto de princípios científicos que se aplicam aos diversos ramos de atividade”. Sendo assim, a técnica nasce da constante necessidade que o homem tem de estar criando, reinventando e construindo meios para satisfazer e responder as suas necessidades imediatas. A exemplo disso, o homem descobriu o fogo, criou o machado e construiu tantos outros instrumentos que favoreceram sua sobrevivência. As descobertas tecnológicas têm, ainda hoje, o mesmo sentido que tinha para os gregos clássicos: a criação, o conhecimento e o saber necessário para dominar e conduzir determinadas situações. Outro aspecto relevante a ser considerado, é a visão equivocada de que a tecnologia é algo da atualidade. Na verdade, as tecnologias existem desde a criação da humanidade, apesar de apresentar-se em cada época de uma maneira diferente. Desse modo, o termo “novas” tecnologias apresenta-se para demarcar constantes mudanças e expansões no meio tecnológico. Mas, que novas tecnologias são essas? Será que elas são tão novas assim? Para Martín (1995,), “deveríamos perguntar, no entanto, por quanto tempo podemos considerar "novos" os conhecimentos, instrumentos e procedimentos que continuam surgindo como resultado do desenvolvimento cultural da humanidade”. Acredita-se que, pelo próprio ritmo de mudanças a que a humanidade vem sendo submetida, tudo que for novidade e gere uma interpretação (diante de uma técnica ou de outra conduta), carregará consigo o termo “novo”. O homem tem necessidade de nomear as suas criações e, certamente, novas construções não podem ter a mesma denominação que criações 2 Minidicionário da Língua Portuguesa 17 antigas. Por isso, o termo novas tecnologias remete a uma inovação oriunda de um novo tempo, de uma nova demanda, de um novo pensar, sendo necessário acrescentar ao antigo uma novidade plausível e eficiente tanto para o homem como para a sociedade. Os conhecimentos, instrumentos e procedimentos surgem sempre como novos quando a humanidade se desenvolve e os usa de outra maneira ou os reconstrói. A partir da capacidade de rever, investigar e modificar uma determinada técnica, já existente, e utilizá-la para melhorar o desempenho de uma atividade ou conhecimento, nascem as novas tecnologias. Com isso, vale salientar que os indivíduos não são extremamente leigos frente ao novo; na verdade são acomodados ao antigo por costumes e/ou comodismo. Paradoxalmente, pode-se dizer que a tecnologia é ao mesmo tempo antiga e atual. Antiga por ser praticada desde a origem do homem que passou a buscar técnicas para melhorar a sobrevivência; e atual, por continuar acompanhando os indivíduos por meio de equipamentos modernos que respondem a demandas recentes. Os fazedores de machados, por exemplo, há mais de quatro milhões de anos, viram nesse instrumento a possibilidade de desenvolvimento de novos meios para busca de alimentos, o que implicou em mudança de comportamento, mudança na produção e até mesmo na forma física. E porque não dizermos que o machado tornou-se a tecnologia deles possibilitando novas técnicas? Nesse momento tecnológico, esses sujeitos, através do planejamento, buscaram materiais para construir o machado e outros equipamentos, gerando então o criar tecnológico de sua época. A forma como os fazedores de machados passaram a usar essa ferramenta, para realizar tais ações, é o que denominamos de técnica. Kenski (2003, p. 18) diz: “Ao conjunto de conhecimentos e princípios científicos que se aplicam ao planejamento, à construção e à utilização de um equipamento em um determinado tipo de atividade nós chamamos de tecnologia”. Ela enfatiza ainda que “às maneiras, aos jeitos ou às habilidades especiais de lidar com cada tipo de tecnologia, para executar ou fazer algo, nós chamamos de técnica”. O machado, há tanto tempo atrás, foi o “fio de vantagem” dos homens daquela época, pois possibilitou novas construções e mudanças na qualidade de vida. Hoje, pode-se dizer que nossos 18 “fios de vantagens” são as amplas possibilidades de comunicação e informação por meio do rádio, jornal, televisãoe computadores, mas também pelos equipamentos que facilitam as práticas cotidianas da vida humana, como cozinhar, lavar, locomover-se e outros. Essas são as formas do fazer cotidiano tecnológico da época atual. Percebe-se, então, que entre civilizações antigas e atuais, características modernas marcam o fazer tecnológico contemporâneo. A história da humanidade é marcada por diferentes avanços tecnológicos, cada qual concernente ao período histórico-social de sua época, desde a Idade da Pedra até a Revolução pós-industrial. Alguns teóricos enfatizam a passagem temporal das tecnologias que determinaram processos significativos na evolução humana. Para Kenski (2003, p. 20), por exemplo: A evolução social do homem confunde-se com as tecnologias desenvolvidas e empregadas em cada época. Diferentes épocas da história da humanidade são historicamente reconhecidas, pelo avanço tecnológico correspondente. As idades da pedra, do ferro, do ouro, por exemplo, correspondem ao momento histórico- social em que foram criadas “novas tecnologias” para o aproveitamento desses recursos da natureza de forma a garantir melhor qualidade de vida. O avanço cientifico da humanidade amplia o conhecimento sobre esses recursos e cria permanentemente “novas tecnologias”, cada vez mais sofisticadas. A idéia apresentada por Kenski é também sustentada por Pierre Lévy (1993) ao enfatizar que a tecnologia não é algo novo. Para ele as três grandes tecnologias inteligentes, vivenciadas pela humanidade, foram: a oralidade, a escrita e a informática. Segundo ele, a técnica participa e está diretamente ligada a cultura. Cada uma dessas modalidades teve seu momento de apogeu, mas ainda se faz presente atualmente. Considera-se que a oralidade é a forma mais antiga de comunicação que existe. Conversar, assistir TV, ouvir rádio, por exemplo, caracterizam a forma como a informação é passada por meio dessa modalidade. Subtende-se que a linguagem falada foi uma das primeiras tecnologias da humanidade. Para Lévy (1993) o homem diferencia-se dos animais justamente por causa da linguagem, mas também pela forma como usa as informações para se relacionar. Ele acredita que: 19 É também porque cristalizou uma infinidade de informações nas coisas e em suas relações, de forma que pedras, madeira, terra, construtores de fibras ou ossos, metais, retêm informações em nome dos humanos. Ao conservar e reproduzir os artefatos materiais com os quais vivemos, conservamos ao mesmo tempo os agenciamentos sociais e as representações ligadas a sua forma e seus usos. [...] Linguagem e técnica contribuem para produzir e modelar o tempo. Lévy (1993, p. 76) Lévy (1993, p. 77) ainda se refere a oralidade primária e secundaria para mostrar como as técnicas fundamentais de comunicação classifica as culturas em linhas gerais. A oralidade primária remete ao papel da palavra antes que uma sociedade tenha adotado a escrita, a oralidade secundária está relacionada a um estatuto da palavra que é complementar ao da escrita, tal como o conhecemos hoje. Na oralidade primária, a palavra tem como função básica a gestão da memória social, e não apenas a livre expressão das pessoas ou a comunicação prática cotidiana. Hoje em dia a palavra viva, as palavras que “se perdem ao vento”, destacam-se sobre o fundo de um imenso corpus de textos: “os escritos que permanecem”. O mundo da oralidade primária, por outro lado, situa-se antes de qualquer distinção escrito/falado. Por meio dessas colocações entende-se que o marco da sociedade oral era a repetição baseada nas atitudes dos mais velhos por meio de contos, mitos, cantos, narrativas e outros. Nas civilizações antigas, onde houve predominância das sociedades orais, a fala definia o espaço e a cultura dos indivíduos, gerando técnicas a partir da tecnologia principal e imediata que eles tinham: a comunicação por meio da oralidade. A escrita, consecutivamente, surge num novo contexto da civilização, no período Neolítico. Com isso, nasce a necessidade de compreender o que está sendo comunicado graficamente. A memorização e a repetição, que caracterizou a oralidade, não eram suficientes para adquirir o conhecimento por meio da compreensão gráfica. A escrita da qual utilizamos e praticamos hoje é enraizada nos povos antigos, que por meio da agricultura, devido ao tempo previsto para a plantação e a colheita, movimentaram-se para criar suportes para a escrita. Inclusive, a origem da palavra página viria de pagus, o campo cultivado e preparado para o plantio. E a forma como as linhas das páginas são organizadas estaria diretamente relacionada com a simetria do campo cultivado. “A escrita foi inventada diversas vezes e separadamente nas grandes civilizações agrícolas 20 da Antiguidade. Reproduz, no domínio da comunicação, a relação com o tempo e o espaço que a agricultura havia introduzido na ordem da subsistência alimentar”. Lévy (1993, p. 87). Na visão de Lévy (1993) a escrita instaura a comunicação diferida, torna o poder estatal comandante dos homens e permite o exercício da interpretação e da leitura, conduzindo a tecnologia desse momento histórico. Kenski (2003, p. 36) se refere à escrita, no período onde a atividade agrícola predomina, dizendo que esta dá autonomia ao conhecimento. Eis então a presença de uma nova técnica. Ela expõe: Não há mais a necessidade presencial do comunicador, informando, observando e orientando seus discípulos. Os conhecimentos são aprendidos não na forma como foram enunciados, mas no contexto em que o escrito é lido e analisado. [...] A comunicação escrita é aprendida por meio de critérios em que predominam a razão e os aspectos cognitivos da personalidade, pretensamente isentos da emocionalidade. A autonomia, a qual Kenski se refere, originou-se de uma nova modalidade de trabalho dos agricultores, que instalaram novas condutas no seu ofício, acreditando que tais mudanças melhorariam suas práticas de trabalho. Acentuar essa percepção é importante para demarcar a forma como os sujeitos sempre experimentaram e vivenciaram novas técnicas nas suas atitudes cotidianas, como por exemplo, no trabalho agrícola e, desde já, traçavam as mudanças que, hoje, somos convidados a vivenciar. Conclui-se que, seja qual for a época, o homem está sempre criando formas novas de sobrevivência e melhoria da qualidade de vida. A autonomia do conhecimento chega à sociedade contemporânea baseada no uso da linguagem oral, da escrita e da síntese entre som, imagem e movimento. O processo de produção e o uso desses meios compreendem as tecnologias especificas de informação e comunicação, as TICs”. Kenski (2007, p. 28). A linguagem oral e escrita não deixam de existir, mas junto a elas são acrescentadas novas e convenientes formas de produção e propagação do conhecimento, da comunicação e informação. Verifica-se essa constatação no caso da linguagem digital, por exemplo, que não elimina as outras linguagens, no entanto, demarca suas especificidades. A linguagem digital “é uma linguagem de síntese, que engloba aspectos da oralidade e da escrita em 21 novos contextos”. Kenski (2007, p. 31). Ainda para Kenski (2003, p.38): A tecnologia digital rompe com a narrativa contínua e seqüenciada dos textos escritos e se apresenta como um fenômeno descontínuo. Sua temporalidade e sua especialidade, expressas em imagens e textos nas telas, estão diretamente relacionadas ao momento de sua apresentação. Computadores, técnicas de som, imagens, programas e textos marcam a nova forma de assimilação do conhecimento. A leitura e a escrita, por exemplo, na linguagem digital, pode ser desenvolvida por meio de modalidadesdiferentes como estrutura discursiva e hipertexto3, entendido por Lévy (1993, p. 33) como “conjunto de nós ligados por conexões” e “tipo de programa para a organização de conhecimentos ou dados, a aquisição de informações e a comunicação”, permitindo uma inovação significativa. Referindo-se ainda a presença do hipertexto como nova modalidade de leitura e escrita, considerando o processo educativo, Lévy (1993, p. 40) diz: O hipertexto ou a multimídia interativa adequam-se particularmente aos usos educativos. É bem conhecido o papel fundamental do envolvimento pessoal do aluno no processo de aprendizagem. Quanto mais ativamente uma pessoa participar da aquisição de um conhecimento, mais ela irá integrar e reter aquilo que aprender. Ora, a multimídia interativa, graças à sua dimensão reticular ou não linear, favorece uma atitude exploratória, ou mesmo lúdica, face ao material a ser assimilado. É, portanto, um instrumento bem adaptado a uma pedagogia ativa. Compreende-se quão tamanha é a importância da adaptação das novas técnicas aos usos educativos. Essa adaptação está não só nos equipamentos, mas também nas pessoas envolvidas no processo educativo, isso se quiser-se praticar uma pedagogia ativa, como bem salientou Lévy. Observa-se que dentro de tais alterações, não só os aparelhos antigos ganharam novas 3 Entendido como a base da linguagem digital, que para Kenski (2007, p. 32) são “seqüências em camadas de documentos interligados, que funcionam como páginas sem numeração e trazem informações variadas sobre determinado assunto”. 22 faces e estruturas, tornando-se cada vez menores e mais potentes. A oralidade e a escrita ganharam novas formas de concepção. A linguagem digital incorpora a oralidade e a escrita para que elas sejam utilizadas por meio de técnicas presentes no nosso tempo contemporâneo. O exemplo de Lévy (1993, p. 112) ao discutir as inovações das telas planas e ultraleves, é representativo dessa perspectiva. Ele diz: O terminal da informática ou a televisão dos anos oitenta lembram, em muitos aspectos, os livros do século XXI: são pesados, enormes, acorrentados por seu cabo de força. A mobilidade e a leveza do livro de bolso, a portabilidade do rádio transistorizado ou do walkman poderiam abrir todo um novo campo de utilizações e apropriações [...]. Seja nos livros, seja nos aparelhos, ou na forma de conceber a oralidade e a escrita observam-se constantes alterações oriundas da era contemporânea. A linguagem digital traz consigo não só um leque de códigos binários a serem identificados e compreendidos, mas uma grande gama de inovação frente a objetos, métodos e estruturas já conhecidas, contribuindo para a informação, comunicação, interação e aprendizagem. Diante desse contexto, percebe-se que a tecnologia não está distante dos nossos olhos e muito menos das nossas ações; apenas diferentes tecnologias geraram diferentes visões de mundo, pois como bem salienta Lévy (1999, p. 24) “por trás das técnicas agem e reagem idéias, projetos sociais, utopias, interesses econômicos, estratégias de poder, toda a gama dos jogos dos homens em sociedade”. Por isso, dos machados aos computadores ampliam-se as técnicas e revoluciona-se a qualidade de vida, mas é necessário viver as mudanças passo a passo sem rupturas bruscas. Continuar pensando que a tecnologia é algo novo nos causará um atraso significativo, em termos de percepção, diante de tudo que a sociedade oferece. Não é por acaso que Lévy4 nos convida a pensar e refletir ao dizer que estamos apenas na pré-história da civilização digital. 4 Reportagem extraída do Jornal A Tarde de 20/10/08. Salvador-Ba. 23 1.1 TECNOLOGIAS E RECURSOS DIDÁTICOS: ORGANIZANDO ÍCONES E CRIANDO NOVOS ATALHOS No cenário acima apresentado verificou-se um percurso histórico e conceitual de técnica e tecnologia que agora permite compreender como tais fatores estiveram presentes na educação ao longo do tempo. O presente tópico aponta a forma como a tecnologia e os recursos didáticos acompanharam as práticas pedagógicas. Cada época usou da tecnologia disponível reconhecendo que era função precípua pensar e elaborar novas técnicas para responder às demandas recentes. Com a educação, obviamente, não foi diferente; por isso nos tempos atuais fala-se em outros métodos e outras técnicas utilizando o que existe de mais moderno nas áreas tecnológicas. Os recursos didáticos, entendidos como todo material usado pelo professor para auxiliar a aprendizagem do educando, que acompanharam por muito tempo o ensino sistematizado nas instituições escolares foram: os livros, cadernos, textos escritos, quadro-negro e giz. Na atualidade, ocorreu a inserção de novos recursos nas escolas, como por exemplo: computadores, televisão, rádio, aparelho de DVD e outros. Porém, os recursos atuais, mesmo estando disponíveis, ainda não são devidamente explorados ou utilizados com a mesma importância e valorização dos recursos tradicionais. Como ilustração, tomaremos como base o caso das tão conhecidas tendências pedagógicas, que utilizaram os recursos didáticos a partir dos posicionamentos emblemáticos da época, determinando, talvez, o fazer pedagógico de cada momento histórico. A concepção tradicional, que predominou do século XVI ao século XIX, sendo propagada no Brasil na Primeira República (1889-1930), fundou-se em duas vertentes, a religiosa, mais presente na Idade Média e a leiga, mais presente na Idade Moderna. Essa concepção visava preparar o individuo para vida, para o desempenho de papeis sociais, de acordo com as aptidões individuais. As pessoas precisam aprender a adaptarem-se aos valores e as regras vigorantes na sociedade de classe. Tinha-se como objetivo ampliar a rede escolar possuindo um caráter puramente quantitativo centrado no desenvolvimento intelectual das pessoas. 24 Com essas características, os conteúdos escolares eram distantes da experiência dos alunos e marcado pela mera transmissão do professor, com presença efetiva do método expositivo de ensino. O professor era a autoridade suprema e o aluno, um ser passivo que deveria assimilar e internalizar as explanações. O aluno era destinado a memorizar, acolhendo as informações para obter os conhecimentos, ou seja, visava-se disciplinar a mente e formar os hábitos (LUCKESI,1994). Assim, cabia ao aluno expressar seu entendimento na realização de atividades mecânicas, repetindo de forma precisa às informações conteudistas. O principal recurso áudio-visual nesse momento era o som da voz e a imagem do professor. Nesse período, pensar a escola, sem ser seriada e disciplinar não era cabível; precisava-se apenas de uma sala de aula com um quadro negro e giz, para realizar o objetivo explícito: ensinar e aprender. O quadro negro, o giz e o livro didático, materiais necessários para essa modalidade de ensino, eram os recursos didáticos tecnológico da época, pois serviam como ferramenta para a conduta do professor. No início do século XX a Escola Nova - Tendência Liberal Renovada - demarca importantes contribuições nos sistemas educacionais e na mentalidade dos professores. Vários aspectos constituíram a renovação da educação; entre eles, o desenvolvimento da sociologia e da psicologia da educação. A principal proposta dessa tendência pedagógica era que a educação se renovasse para instigar a mudança social. O professor aos poucos foi deixando o centro do processo de ensino dando lugar a autoformação e a atividade espontânea do aluno, que começa a fazer parte e contribuir no processode ensino, sendo autor da sua própria experiência. Fazia-se necessário aprender experimentando, ou seja, aprender a aprender. Skinner, teórico famoso por suas técnicas psicológicas de condicionamento humano, aplicadas ao ensino-aprendizagem, muito contribuiu para essa renovação da educação, sendo referência, para os escolanovistas, ao pensar e rever os métodos e as técnicas educacionais. O quadro negro, o giz e o livro didático, que eram os recursos tecnológicos da tendência tradicional, passam a ser trocados pelo rádio, televisão e outros aparelhos, no ponto de vista do interesse da Escola Nova. Marca-se, nesse período, o desenvolvimento das tecnologias de ensino. Os professores começam a ficar “assustados” e “perdidos”, reconhecendo de imediato a necessidade da análise da prática e da discussão do cotidiano da escola. 25 O método qualitativo, apresentado pela Tendência Liberal Renovada, caracterizou-se por ressaltar a qualidade das questões educacionais e apontar caminhos distintos da tendência tradicional, demarcando um leque de mudanças que estavam por vir em outros momentos históricos da educação. A Escola Nova, apesar das grandes contribuições para o ensino, começou a não responder às demandas referentes ao preparo dos profissionais. Surgiu então, na segunda metade do século XX, a Pedagogia Tecnicista, considerando o professor técnico, ou seja, especialista em ensinar e responsável pela eficiência do ensino, tendo como tarefa principal obter o comportamento adequado pelo controle da instrução. Os princípios dessa tendência pedagógica eram a racionalidade, a eficiência e a produtividade. O homem era considerado produto do meio e a escola, responsável por produzir sujeitos competentes para o mercado de trabalho. Marcada pela técnica para atingir objetivos instrucionais, a Pedagogia Tecnicista exagera no uso do livro didático visando o aprender fazendo. Os professores realizam os planejamentos e planos de aula para serem seguidos de forma mecânica. Eis então a ênfase do ensino pautado no livro didático que demarcou, de forma precisa, o recurso didático desse momento. “[...] a escola funciona como modeladora do comportamento humano, através de técnicas especificas.” Libâneo (1990, p. 28). Se na pedagogia tradicional o aluno não tinha voz, e na Escola Nova o professor começa a dar espaço para a atuação deles no processo de ensino, no tecnicismo ambos passam a segundo plano, prevalecendo o sistema técnico de organização e condução da instrução. Para Luckesi (1994, p. 61), a escola atua assim: [...]no aperfeiçoamento da ordem social vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente com o sistema produtivo; para tanto, emprega a ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia comportamental. [...] A pesquisa cientifica, a tecnologia educacional, a análise experimental do comportamento garantem a objetividade da prática escolar, uma vez que os objetivos instrucionais (conteúdos) resultam da aplicação de leis naturais que impedem dos que a conhecem ou executam. Ainda nesse período, tornou-se relevante o uso de recursos tecnológicos e audiovisuais 26 geradores da modernização do ensino. Nessa época, esses recursos apareceram para priorizar a crescente industrialização. Não se questionava a forma como eles eram usados e, muito menos, se os professores sabiam utilizá-los. Focava-se na preparação dos indivíduos para o mercado de trabalho e se tais recursos ajudavam deveriam ser inseridos no ensino sem grandes questionamentos. No fim dos anos 70, a Tendência Progressista - Crítica social dos conteúdos - sinaliza de forma precisa à necessidade da democratização do ensino e do entendimento da relação entre a educação escolar e a sociedade. Isso daria-se pela forma diferenciada de trabalhar os conteúdos do ensino. O educador, ao propiciar a relação do educando com os conteúdos do ensino, deverá fazê-lo de forma dinâmica e, sempre que possível, relacionar a experiência do aluno com os conteúdos trabalhados, tentando, sistematicamente, evidenciar a importância de uma sólida formação escolar como instrumento para a sua prática cotidiana. Desta forma, a atuação do educador deverá ser coerente, articulada e intencional, de forma a propiciar a crítica ao social, bem como uma educação escolar viva, na vida social concreta. (FUSARI, 1988, p. 24) O professor tinha como tarefa mediar o saber do aluno relacionando os conteúdos trabalhados com a experiência deles. Os métodos do ensino eram voltados para uma relação entre a prática vivida pelo aluno e os conteúdos propostos pelo professor. Libâneo (1990, p. 38) refere- se à tendência crítico-social dos conteúdos relatando que: “[...] a atuação da escola consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade”. A relação da escola com a sociedade caracterizava-se pela preparação dos educandos para o mundo em que estavam inseridos, tornando-os seres críticos e conscientes das contradições presente na sociedade da qual faziam parte. Assim os alunos aprendiam a vivenciar criticamente toda a aprendizagem que recebiam. A técnica reconhecida nesse momento é a transmissão/assimilação crítica dos conhecimentos. “Utiliza-se de técnicas de acompanhamento individual e grupal e eventualmente, de consultoria ao professor”. Libâneo (1990, p. 73). As tendências pedagógicas, aqui apresentadas, nasceram de movimentos sociais e 27 filosóficos em períodos históricos distintos, servindo como base para a construção da prática pedagógica dos professores. É pertinente não segui-las como verdades absolutas; no entanto, ao buscar compreendê-las surge uma visão mais ampla daquilo que constituiu e caracterizou a tecnologia de cada época. Por meio dessa explanação busca-se compreender a urgência da necessidade de novos recursos para as exigências educacionais dos novos tempos. As práticas de leitura e escrita, por exemplo, mudaram, não cabendo mais a concepção excessiva dos recursos tradicionais. Vivemos num período de pós-modernidade, entendido por Gadotti (2001), não apenas como um modismo, mas como um movimento de indagação sobre o futuro. Para pensar a complexidade das transformações, é necessária uma percepção da forma de conceber o tempo e o espaço. Uma vez que a cultura atual está carregada por uma nova linguagem, que não é mais só a leitura e da escrita, mas dos rádios, da televisão e dos computadores, faz-se necessária a discussão da inserção das novas tecnologias a educação. Segundo Gadotti (2001, p.272), pensar a educação hoje sem considerar os aspectos da tecnologia contemporânea colabora para que “o indivíduo do nosso tempo, viva isolado, num analfabetismo funcional e social”. Convidar os professores a estarem atentos a essas tendências é proporcionar uma reflexão sobre o desenvolvimento do fazer didático-pedagógico, problematizando questões do cotidiano escolar, verificando suas carências e buscando meios de adequar a sua prática educativa ao modelo atual de educação. Tal, certamente, só será possível com a comparação constante entre os recursos disponíveis e a prática do ensino. Por isso, pensar a educação contemporânea inclui olhar para a tecnologia disponível na sociedade e que pode, de alguma forma, contribuir no processo de ensino e aprendizagem. O uso da tecnologia não se restringe apenas aos novos modelos de determinados equipamentos e produtos; ela altera comportamentos. A ampliação da tecnologia impõe-se à culturaexistente, transformando não apenas o comportamento individual, mas o de todo o grupo social. Bellonni (2001, P. 55) diz que: “A integração das inovações tecnológicas aos processos educacionais vai depender, então, da concepção de educação das novas gerações que fundamentam as ações e políticas do setor”. 28 Sendo assim, deve-se repensar os métodos, refletir sobre a prática educativa e entender como a educação hoje pode responder as demandas da sociedade sem estacionar-se nos modelos e práticas tradicionais. Segundo Gadotti (2000, p. 250) repensando e refletindo, chegamos a percepção de que: Na sociedade da informação, a escola deve servir de bússola para navegar nesse mar do conhecimento, superando a visão utilitarista de oferecer informações “úteis” à competitividade, para obter resultados. Deve oferecer uma formação geral na direção de uma educação integral. Apesar de a educação escolar ainda apresentar uma postura distante da discutida por Gadotti, faz-se necessário repensar o ensino considerando a sociedade informacional. Para Kensky: “A escola continuará a mesma ainda por algum tempo: seriada; disciplinar; com turmas razoavelmente grandes; professores e alunos interagindo em um mesmo ambiente físico – a sala de aula”, isso se não considerar-se a bússola à qual Gadotti referiu-se. Foram traçadas várias possibilidades que apontam para um caminho diverso do apresentado por Kenski; é preciso apenas seguir um caminho adequado. A dificuldade ao trabalhar com essas tecnologias não está só na visão retrógrada que as escolas ainda detém, mas também na preparação deficitária de muitos professores para utilizar certos recursos. Para além da falta de habilidade em desenvolver certas atividades educativas, há ainda a visão de que os recursos tecnológicos modernos são tão preciosos que não podem ser acessados de modo mais generalizado. Eles tornam-se, muitas vezes, verdadeiros objetos “de decoração” em um espaço reservado da escola. As tecnologias, desta forma, tornam-se um problema, e não uma novidade positiva para o desenvolvimento das atividades escolares. (KENSKI, 1996). Se a novidade ainda assusta e amedronta, é preciso aceitar o desafio de enfrentar o moderno, pois assim, o novo “deixará” de ser novidade, não porque se tornará algo ineficaz e arcaico, mas porque passará a ser dominado com segurança, assim como se fez por muito tempo com o giz e o quadro negro. Para Paulo Freire (1996, p.35): 29 É próprio do pensar certo a disponibilidade ao risco, a aceitação do novo que não pode ser negado ou acolhido só porque é novo, assim como o critério de recusa ao velho não é apenas o cronológico. O velho que preserva sua validade ou que encarna uma tradição ou marca presença no tempo continua novo. Essa colocação de Freire convida a estar aberto à novidade, pois é por meio dela que o professor pode buscar, indagar e pesquisar para conhecer o que ainda não é conhecido e comunicando, anunciando uma novidade. As novas tecnologias, entendidas como algo novo aplicado ao ensino, trazem aos professores a possibilidade de inserir no modelo antigo de ensino uma novidade respaldada pela busca de suportes que gerem segurança para tal aplicação. Diante das mudanças e novidades que as novas tecnologias apresentam é importante, identificar o desafio que ela proporciona a educação. Será que elas oferecem apenas instrumentos ou propiciam a possibilidade de repensar os processos educacionais na contemporaneidade? A discussão apresentada no próximo tópico leva em consideração questões dessa natureza. 1.2 – AS NOVAS TECNOLOGIAS E UM DESAFIO PARA EDUCAÇÃO: UM NOVO LINK OU MAIS UM ARQUIVO NA MEMÓRIA? Dentro da complexidade e amplitude das novas tecnologias e de sua aplicação ao ensino, essa pesquisa fundamenta-se particularmente na Tecnologia de Comunicação e Informação (TIC). Segundo Santos (2002, p. 49) a presença da TIC na escola: [...] pode representar um movimento ímpar, uma vez que nos permite pensar na redução das distâncias, numa maior integração das escolas entre si e com o mundo contemporâneo; não somente como consumidoras, mas como possibilidades de produzir conhecimento e de fazer de cada espaço escolar um lugar de produção coletiva, no qual sejam constituídas interações não-lineares e onde sejam fortalecidas essas redes de relações. As novas tecnologias e a economia do conhecimento estão mudando a maneira de enxergar a educação e o ensino escolar: a educação formal está dando lugar à noção de um aprendizado que prolongue-se por toda a vida. Assim, no decorrer da história, os indivíduos vêm tendo mais oportunidades de envolvimento em atividades educacionais fora das salas de aula 30 tradicionais. Brandão (1982) As TIC difundiram-se na virada do ultimo milênio, com um grande número de recursos informatizados surgindo com um abundante nível de informação. Os recursos informatizados extrapolaram o papel de simples veículo portador de informações, pois excederam os dispositivos e ambientes comuns de comunicação, proporcionando maior interação entre os envolvidos no processo comunicativo e alterando os conceitos de espaço e tempo. Outrora era utilizado o termo NTIC (Novas Tecnologias de Comunicação e Informação), mas, com a habitualidade vivencial das Novas Tecnologias, o adjetivo “Nova” vem desaparecendo, cedendo espaço para o termo TIC e suas especificidades. A articulação entre as novas tecnologias e a educação caracterizou-se, inicialmente, pelo uso dos computadores no ensino. Um leque de atividades diversificadas, com atuação em rede, informações, mensagens e uma amplitude de ferramentas marcaram o espaço das TIC. Nos últimos dez anos o uso das TIC no processo de ensino e aprendizagem tornou-se ponto de intensa discussão. Segundo Alves (1998) a articulação da informática com a educação, ao longo do tempo, funda-se em duas vertentes: a primeira, caracterizando-se pelo ensino da informática na escola baseado na instrução da utilização dos aplicativos e a segunda, com a inserção dos softwares educacionais na rotina escolar. Mundialmente, há significativa repercussão da associação das teorias e práticas da educação à informática justamente pelo fato de as ferramentas tecnológicas oferecem à didática meios de renovação às aulas tradicionais. Espaços diversos e mídias digitais proporcionam situações de interação, comunicação, informação e colaboração, tornando a aprendizagem não mais pautada apenas na escrita e nos meios impressos. Com essa abordagem cabe questionar se as ferramentas (recursos) podem ser, sozinhas, responsáveis por mudanças significativas no processo de ensino-aprendizagem. Nesse cenário surge ainda outra pergunta: Educação e tecnologia: qual é a novidade então? Acredita-se que a simples utilização dos recursos não determina mudança qualitativa no ensino-aprendizagem. Esta advém da possibilidade de construir um novo pensar sobre a educação. Portanto, as TIC, 31 inseridas aos processos educativos, não devem ser entendidas apenas como novos instrumentos para uma educação do futuro. Preto (1996, p. 112) enfatiza a idéia de que não basta inserir novos recursos tecnológicos para elaborar uma “nova” educação dizendo: Não basta, portanto, introduzir na escola o vídeo, televisão, computador ou mesmo todos os recursos multimidiáticos para fazer uma nova educação. É necessário repensá-la em outros tempos, porque é evidente que a educação numa sociedade dos mass media, da comunicação generalizada, não pode prescindir da presença desses novos recursos. Porém, essa presença, por si só, não garante essa nova escola, essa nova educação. Vive-seum mundo novo, buscando uma educação nova, que não só apresente vários recursos imprescindíveis à época contemporânea, mas ofereça meios para repensar o papel da escola, dos profissionais, dos métodos e do ensino-aprendizagem. Em 1978, Saldanha já se referia a tecnologia não como máquinas de ensinar, mas como uma nova atitude, uma nova maneira de pensar e tratar os problemas educacionais. Atualmente, nessa nova era, as tecnologias apresentam-se como perspectiva de novas reflexões sobre a educação não só por difundir novos meios de transmitir o conhecimento, mas por incentivar o aprendizado e o pensamento, na troca de saberes e experiências gerada por uma inteligência coletiva. Desse modo, não são as “máquinas de ensinar” que serão responsáveis pela educação, mas o profissional docente, por isso é preciso considerá-lo. O entendimento de que as novas tecnologias podem criar novos espaços de conhecimento, novos modelos de atividades, dinâmicas diferenciadas, aulas em espaços distintos dos tradicionais, conteúdos trabalhados de forma eficaz, são aspectos a serem considerados pelos professores. O ensino conduzido dessa forma apresenta-se muito mais interessante tanto para o aluno, que aprende, como para o professor que ensina e sente-se motivado a pensar formas diferenciadas de trabalhar os conteúdos e atividades, tornando a aprendizagem mais significativa. Eis uma oportunidade nova de aprendizagem para os alunos que, desmotivados e acostumados com práticas tradicionais, não mais se interessam pelo que a escola oferece. Por isso não podemos conceber as novas tecnologias como máquinas de ensinar ou o uso dos recursos tecnológicos como instrumentalidade. Se pensarmos as novas tecnologias apenas como novas ferramentas para o processo educativo, a única transformação que alcançaremos será 32 a visão de que tais recursos servirão para animar uma educação cansada. (PRETO, 1996). [...] o uso como instrumentalidade esvazia esses recursos de suas características fundamentais, transformando-os apenas num animador da velha educação, que se desfaz velozmente, uma vez que o encanto da novidade também deixa de existir. Essa é, na realidade, uma das características do mundo em que vivemos. Preto (1996, p. 114) Para esse teórico, as novas tecnologias, principalmente de comunicação e informação, representam uma nova forma de pensar, como alicerce de uma nova educação, quando são entendidas como fundamentos e não como instrumentos, pois o que torna a escola sem futuro é justamente a crença que o futuro da escola está no equipamento entendido como recurso tecnológico para o ensino. A presença desses recursos, como fundamento da nova educação, transforma a escola, que passa a ser um novo espaço, físico inclusive, qualitativamente diferente do que vem sendo. Sua função, nessa perspectiva, será a de construir- se num centro irradiador de conhecimento, com o professor adquirindo, também e necessariamente, uma outra função. Função de comunicador, de articulador das diversas histórias, das diversas fontes de informação. Preto (1996, p. 115). Lynn Alves (1998) sustenta essa idéia, ao demonstrar sua crença sobre a inserção das novas tecnologias a educação como um elemento para um novo pensar, e não meramente um conjunto de ferramentas e instrumentos aplicados ao ensino. Ela acredita ser necessário repensar o papel da escola, da prática pedagógica, gerando momentos de reflexão e discussão, mas também uma nova forma de pensar e conceber a sociedade. Estamos trabalhando na perspectiva de considerar estas tecnologias como possibilitadoras de uma multiplicidade de visões de mundo, do rompimento com a noção de tempo e espaço, instaurando uma nova forma de ser e pensar na sociedade. Com isso, as nossas relações, o nosso modo de aprender e comunicar, são transformados, possibilitando a construção coletiva do conhecimento. (ALVES, 1998. p. 7) As novas tecnologias trazem consigo um novo desafio para educação, pois implicam a discussão de um novo pensar para as condutas tão conhecidas da prática educativa. Arnaud (2005, p. 17) também argumenta sobre a possibilidade de um novo pensar a partir da inserção da tecnologia ao ensino, expondo que: 33 A questão tecnológica, a meu ver, para além do mero aspecto material e instrumental, constitui-se numa rede de significados na qual o ser humano está implicado. Assim, parece-me que se tornou extremamente necessário compreender a lógica e funcionamento desta rede, como metáfora inspiradora ou arquétipo de um novo pensar/agir na prática pedagógica, especialmente, na práxis curricular. Compreende-se com tais argumentos o desafio e a compreensão necessária para praticar nas escolas, o uso das novas tecnologias, não como um mero recurso da atualidade, mas como um método a ser aplicado ao ensino. Tal método deve ser elaborado dentro do projeto-pedagógico da escola para favorecer o desempenho qualitativo dos processos educacionais de uma era que revela as carências do sistema educativo, mas aponta ao mesmo tempo possibilidade para reverter tal situação. Desta forma, tais ferramentas devem ser devidamente ponderadas, para que façam parte da prática educativa dos professores como meio de repensar e reavaliar os padrões tradicionais calcados em métodos distantes da realidade contemporânea. Para Moran (2000, p. 32), com as novas tecnologias: “O professor tem um grande leque de opções metodológicas, de possibilidades de organizar sua comunicação com os alunos, de introduzir um tema, de trabalhar com os alunos presencial e virtualmente e também de avaliá-los”. Estando a questão da tecnologia ligada a metodologia, se faz necessário conhecer bem o sujeito que realiza o método, ou seja, o professor. Como o professor se relaciona com essas tecnologias? Eles as usam de forma adequada? E qual a forma adequada? Os professores usam as ferramentas tecnológicas apenas como instrumento de incremento ao ensino, como foi explanado anteriormente, ou reconhecem nelas formas de rever sua prática, melhorar o processo de ensino- aprendizagem por meio das novas formas de comunicar, conceber a leitura, a escrita e a linguagem, apropriando-se a uma nova forma de conhecimento? O capítulo subseqüente refere-se a tais questões, considerando que, mesmo diante dos instrumentos e das ferramentas tecnológicas, o ensino e aprendizagem podem se tornar extremamente tradicionais e ineficientes. Por isso é conveniente pensar, avaliar e discutir se a questão é só a presença ou ausência de recursos tecnológicos, ou se o ponto a ser observado é a maneira como o profissional docente utiliza-o e é preparado para isso. 34 2. CHAT, FÓRUM E BACKUP DO PAPEL DO PROFESSOR “Me sinto preparada parcialmente. Se por um lado domino alguns recursos das TIC e reconheço suas amplas possibilidades, de outro, sinto que há limites no trabalho reduzindo tais recursos à ferramentas de elaboração e execução de aulas. Creio que as TIC podem ser elementos de construção e difusão de conhecimentos. Para tanto é necessário maior conhecimento de softwares apropriados.”5 Na era pós-industrial, unir educação e novas tecnologias é algo tão necessário e essencial como a internet foi para o governo norte-americano no período da Guerra Fria. Nas constantes discussões sobre essa interação, fala-se não somente dos equipamentos que podem se tornar recursos para o ensino, mas também dos espaços físicos e infra-estrutura, do uso da internet mas, muitas vezes, é deixado em segundo plano o profissional que media a educação nas instituições escolares e conseqüentemente dará direcionamento pedagógicoas tecnologias: o professor. Qual o perfil do professor nessa nova era? O que lhe cabe? Esse é o questionamento alicerce que acompanhará a discussão desse capítulo, pois pensar o papel do professor na 5 Fala de uma professora participante da pesquisa. 35 sociedade atual é pontuar as diversificações que apresentam-se dentro de sua função educativa. Sustentam essa discussão teóricos como Pimenta (2000), Preto (1996), Moran (2000), Freire(1996), Lévy (1999) e outros. A inserção da tecnologia na educação requer discussões em vários aspectos, como, por exemplo, a aplicação e o direcionamento das atividades, o método avaliativo dos alunos, o diagnóstico da aplicação das tecnologias, dentre outros. Não se tem a pretensão de desconsiderar tais aspectos, porém o professor é o sujeito que deverá se relacionar diretamente com os recursos tecnológicos no processo do ensino e da aprendizagem. É de extrema relevância considerar as alterações nas condições do trabalho do professor e, obviamente, de sua prática. Portanto, preferiu-se focar a discussão sobre o papel profissional docente e sua prática educativa. O professor sempre foi considerado o sujeito que detinha o conhecimento, sendo o único capaz de ensinar, àquele que nada sabia, o aluno. Hodiernamente, no entanto, os alunos chegam à escola cada vem mais informados e desmotivados a aprender da forma como a escola propõe, por meio do uso constante dos livros didáticos e aulas expositivas conduzidas isoladamente pelo professor. O aluno detém atualmente, conhecimentos e informações disponíveis na contemporaneidade, mais que os professores. Os alunos demonstram conhecer as novas tecnologias mais que os docentes e estes, na sua maioria, apresentam dificuldades para trabalhar com os novos aparatos tecnologias. Existe uma situação paradoxal, pois enquanto os jovens interagem com as tecnologias, através de meios eletrônicos, informações audiovisuais, sites de relacionamentos, os professores formam-se para conduzir aulas baseadas em práticas usuais. Quando estão diante de novas técnicas e novos instrumentos tecnológicos, reproduzem os modelos tradicionais de ensino. Os alunos, devido à presença constante dos meios de comunicação, possuem um comportamento diferente dos professores: eles agem e pensam por meio de outra razão cultural; eles são os “nativos da era digital”. Considerando a linguagem audiovisual como a linguagem da sociedade nesse milênio e constatando que os jovens em idade escolar são criados numa convivência íntima com os 36 videogames, televisões e computadores, entendem-se algumas das razões do fracasso escolar e alguns elementos para sua superação. Preto (1996). Demarcando tais fatores, chega-se a questionar se a presença do professor ainda é necessária, em uma sociedade repleta de comunicação e informação disponível, já que há vários espaços de aprendizagem além da escola e novos meios de ensinar e aprender. No entanto, a presença do professor ainda é necessária; precisa-se apenas entender que professor formamos e que professor pretendemos formar nesse período pós-industrial. Pimenta (2000) defende a idéia de que o professor continua sendo um profissional necessário e importante na contemporaneidade. Para ela, os meios de comunicação só seriam mais importantes que o professor se eles forem considerados meros transmissores de informações. Os professores são necessários, mas a maioria deles não são nativos da era digital6. O que falta então aos nossos professores? Qualificação no exercício profissional da docência? Sim, mas não só isso. A integração das novas tecnologias na escola requer a presença de “novos” docentes, na perspectiva de Libâneo (2006, p. 10). O novo professor precisaria, no mínimo, de uma cultura geral mais ampliada, capacidade de aprender a aprender, competência para saber agir na sala de aula, habilidades comunicativas, domínio da linguagem informacional, saber usar meios de comunicação e articular as aulas com as mídias e multimídias. Para que nasça um professor com as características apresentadas por Libâneo, não é prudente pensar somente na questão da qualificação, que precisa ser revista, mas também no resgate da identidade profissional do docente, a questão salarial, o processo de formação inicial e continuada e outros fatores. Na execução desta pesquisa, verificou-se que os professores com maior faixa salarial são os que mais convivem com as tecnologias. Por exemplo, vão ao cinema, tem internet e TV a cabo em casa. A condição salarial dos professores implica ainda na atuação que eles têm em suas aulas, considerando as novas tecnologias. Tal comprovação pincela alguns indícios de todo o leque de questões que perpassam a questão profissional docente quando 37 discutimos seu papel e a presença das novas tecnologias (Figura 1). Uma professora da escola privada relatou, no questionário, que as TIC estão presentes no seu dia a dia através da utilização do computador, realização de pesquisas, envio e recebimento de e-mail. Referiu ainda ter realizado alguns cursos particulares e, constantemente, pequenos cursos oferecidos pela instituição que trabalha. Enquanto isso, uma professora da rede pública de ensino relatou não ter internet em casa, nem dispor de dinheiro para fazer cursos particulares, participando de alguns que a escola, vez ou outra, oferece. Outra professora da instituição privada comentou ainda: “Tomei alguns cursos particulares e constantemente freqüento cursos oferecidos pelas escolas que trabalho. Sinto-me preparada, mas sempre acho que falta alguma coisa, pois o ser humano anda aprendendo sempre”. A análise da Figura 1 e do relato da professora sugere que os professores com faixa salarial acima de três salários mínimos fizeram cursos de informática e/ou tecnologia e possuem internet em casa. Dos 20 professores, 1 não informou a faixa salarial, cinco ganham até 3 salários e 14 acima de 3 salários. Mercado (2000, p. 23) salienta que: O professor, na nova sociedade, revê de modo critico seu papel de parceiro, interlocutor e orientador do educando na busca de suas aprendizagens. Ele e o aprendiz estudam, pesquisam, debatem, discutem e chegam a construir conhecimentos, desenvolver habilidades e atitudes. O espaço aula se torna um ambiente de aprendizagem, com trabalho coletivo a ser criado, trabalhando com os novos recursos que a tecnologia oferece, na organização, flexibilização dos conteúdos, na interação aluno-aluno e aluno-professor e na redefinição de seus objetivos. Assim, verifica-se que as mudanças necessárias ao trabalho docente, frente ao uso das novas tecnologias na educação, incluem também o pensar uma nova lógica para o ensino. Lógica esta, entendida por Kenski (2003, p. 73) não como mais um modismo, pois: 6 Grifos meus referente a uma expressão contrária a apresentada por Marc Prensky que usa o termo “nativos da era digital” para se referir as crianças que tem contato com as tecnologias logo após o nascimento, não tendo medo da imensidão da rede. 38 Para que as novas tecnologias não sejam vistas como apenas mais um modismo, mas com a relevância e o poder educacional transformador que elas possuem, é preciso refletir sobre o processo de ensino de maneira global. Antes de tudo, é necessário que todos estejam conscientes e preparados para assumir novas perspectivas filosóficas, que contemplem visões inovadoras de ensino e de escola, aproveitando-se dasamplas possibilidades comunicativas e informativas das novas tecnologias, para a concretização de um ensino crítico e transformador de qualidade. Essas alterações, de perspectiva filosófica, na postura do professor e, conseqüentemente do ensino, surgem a partir do reconhecimento de que essas tecnologias podem produzir novas formas de aquisição de conhecimentos, tanto na sala de aula como fora dela. A lógica do conhecimento, hoje, estrutura-se de outra forma; por isso não é suficiente simplesmente adequar o ensino tradicional à presença das novas tecnologias. “Novas tecnologias e velhos hábitos de ensino não combinam”. Kenski (2003, p. 75). A questão é entender que a inserção dessas novas técnicas ao ensino requer perspectivas diferenciadas, que apontem caminhos para repensar a forma de praticar-se a educação e formar-se o aluno. É preciso considerar que as tecnologias – sejam elas novas (como o computador e a internet) ou velhas (como o giz e a lousa) – condicionam os princípios, a organização e as práticas educativas e impõem profundas mudanças na maneira de organizar os conteúdos a serem ensinados, as formas como serão trabalhadas e acessadas as fontes de informação, e os modos, individuais e coletivos, como irão acorrer as aprendizagens. Kenski (2003, p. 76) Eis então o que cabe aos professores: mudança na percepção do ensino, gerada a partir da observação do tipo de aprendizagem que se deseja alcançar. A escola pode desenvolver-se junto com a tecnologia ou estacionar-se nos modelos tradicionais, desconsiderando tanto a técnica como os recursos tecnológicos que o momento atual proporciona. Para Moran (2000, p. 32): Não se trata de receitas, porque as situações são muito diversificadas. É importante que cada docente encontre sua maneira de sentir-se bem, comunicar- se bem, ajudar os alunos a aprender melhor. É importante diversificar as formas de dar aula, de realizar atividades, de avaliar. Com relação à dinâmica da mudança da conduta do professor, considera-se que deverá ser 39 um processo gradativo, vez que requer um trabalho contínuo de adaptação, conhecimento e aprendizado dos novos recursos. Para Kenski (2003, p. 77): É necessário, sobretudo, que os professores se sintam confortáveis para utilizar esses novos auxiliares didáticos. Estar confortável significa conhecê-los, dominar os principais procedimentos técnicos para sua utilização, avalia-los criticamente e criar novas possibilidades pedagógicas, partindo da integração desses meios com o processo de ensino. É preciso associar as modalidades antigas as atuais, não descartando totalmente a práxis habitual e não permitindo que todo o desenrolar do ensino aconteça por meio das tecnologias atuais, afinal o extremo não é produtivo. É preciso balancear, associar, aproveitar e integrar o ensino às novas tecnologias. O papel do professor é o de facilitador, incentivador e motivador da aprendizagem. O processo de mudança do papel do professor requer tempo, mas é premente que ocorra devido ao ritmo do desenvolvimento tecnológico. Kenski (2003) após demonstra dados concretos de uma pesquisa realizada pelo National Information Infrastructure Advisory Council7, constata que não basta oferecer aos professores um conhecimento instrucional de como trabalhar com novos equipamentos. Para adquirir as habilidades necessárias, o conhecimento de hardware, a capacidade de produção de softwares e a utilização de redes na prática pedagógica são necessários um mínimo de 30 horas de treinamento, podendo ser preciso até 215 horas. [...] a adaptação ao novo ambiente tecnológico, com a exploração de suas potencialidades para a educação, é obtida após três meses de experiência. No entanto, o aproveitamento criativo dos recursos do computador e das redes ocorre com cerca de dois anos de uso contínuo, em sala de aula. É importante notar que, durante todo o processo, o professor deve ser assessorado por técnicos, que garantam apoio permanente e imediato para a resolução de problemas com os equipamentos. Kenski (2003, p. 79). Como se nota, essa é uma realidade ainda distante dos professores brasileiros. Por mais que se realizem cursos de preparação, conhecimento instrucional e outros, ainda se está muito 7 Conselho ligado ao anterior governo federal americano que, apresentou uma tabela com as habilidades docentes para o trabalho com as novas tecnologias. 40 aquém da perspectiva acima ilustrada. Esse trabalho de aproximação das tecnologias aos professores precisa ser realizado com urgência e deve ser iniciado já nos cursos de licenciatura e pedagogia, o que de certa forma já vem acontecendo, mesmo que de maneira limitada. Para Lévy (1999) aquilo que se preza é a mudança qualitativa nos processos de aprendizagem, por isso o destaque no papel do professor. Se continuarmos formando professores sem essa percepção, continuaremos vivendo num mundo cheio de tecnologias, mas com atitudes e conhecimentos limitados, presos a costumes e hábitos ultrapassados. Pensar a integração das inovações tecnológicas, que requer a preparação dos professores aos processos educacionais, depende da concepção de educação que pretende-se ter e oferecer. O papel do professor frente às tecnologias amplia-se significativamente, pois ele deixa de ser o informador, que impõe conteúdos e passa a ser um orientador da aprendizagem, e segundo Lévy (1999, p. 171) “torna-se um animador da inteligência coletiva dos grupos que estão ao seu encargo”. Retomando a pergunta que norteia este capítulo: qual o perfil do professor nessa nova era? Conclui-se que o papel do profissional docente, para as exigências educacionais do nosso tempo, se amplia e não se extingue, pois como nos diz Freire (1996), ao ensinar aprende-se e ao aprender ensina-se. O perfil do professor é, segundo Kenski (2002), o de “agente de inovações” que incansavelmente pesquisa, aceita os desafios e caminha sempre em vistas à aquisição de novos conhecimentos. Cabe apontar que ritmo a mudança na formação do professor está tendo frente a tantas transformações que vem acontecendo. Será que o nível de qualificação e formação estão acompanhando o ritmo da sociedade? Esses são os fundamentos básicos que pretende-se explanar no próximo tópico, pois como bem nos diz Freire (1996,p. 23) “[...]quem forma se forma e reforma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado”. 41 2.1 ENTRE OS DESAFIOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS: UPDATE NA FORMAÇÃO DOCENTE O homem não é, por natureza, o que é ou deseja ser; por isso necessita formar- se, ele mesmo, segundo as exigências de seu ser e de seu tempo, voltado para além do que decorre no dia-a-dia da existência e no reino das motivações imediatas. Marques (2006, p. 43). A evidência de uma sociedade cada vez mais tecnológica aponta para a necessidade evolutiva de vários ramos, inclusive o educativo. Ao pensar em incluir nos currículos escolares as novas tecnologias é preciso levar em consideração as competências e habilidades para lidar com tal inclusão. Fez-se referência à competências e habilidades do profissional docente, pois ele deverá ser o sujeito capacitado para, nas suas aulas, orientar os educandos, considerando o componente tecnológico como auxiliador do ensino. Pergunta-se, no entanto, se os professores estão preparados para esse novo trabalho, para esse papel diferenciado, exigido por esse contexto de constantes mudanças. A discussão sobre novas tecnologias e educação engloba fácil acesso às informações, troca de saberes, aprendizagem coletiva, autonomia do professor e do
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