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METODOLOGIA DE ENSINO PÓS-GRADUAÇÃO NÚCLEO COMUM CURSOS DE GESTÃO MARINGÁ-PR 2011 Professora Esp. Fabiane Carniel Professora Drª. Gislene Miotto C. Raymundo Professora Esp. Marcia Maria Previato de Souza Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva Coordenação de Ensino: Viviane Marques Goi Coordenação de Curso: Rachel de Maya Brotherhood Coordenação Administrativa de Curso: Marcia Maria Previato de Souza Coordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo Lazilha Núcleo de Produção de Materiais: Ionah Beatriz Beraldo Mateus Capa e Editoração: Luiz Fernando Rokubuiti, Fernando Henrique Mendes e Ronei Guilherme Neves Chiarandi Supervisão de Material: Nalva Aparecida da Rosa Moura Revisão Textual e Normas: Cristiane de Oliveira Alves, Elaine Bandeira Campos e Janaína Bicudo Kikuchi Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br NEAD - Núcleo de Educação a Distância - bl. 4 sl. 1 e 2 - (44) 3027-6363 - ead@cesumar.br - www.ead.cesumar.br Reitor: Wilson de Matos Silva Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão: Flávio Bortolozzi “As imagens utilizadas nessa apostila foram obtidas a partir do site PHOTOS.COM”. NEAD - Núcleo de Educação a Distância CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a distância: C397 Metodologia de ensino/ Fabiane Carniel, Gislene Miotto C. Raymundo, Marcia Maria Previato de Souza - Maringá - PR, 2011. 83 f. “Curso de PÓS-GRADUAÇÃO NÚCLEO COMUM CURSOS DE GESÃO - EaD”. 1. Metodologia do ensino. 2. Ensino superior .3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 378 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR METODOLOGIA DE ENSINO Professora Esp. Fabiane Carniel Professora Drª. Gislene Miotto C. Raymundo Professora Esp. Marcia Maria Previato de Souza 5METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância APRESENTAÇÃO Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Cesumar – Centro Universitário de Maringá – assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa- extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem- estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. Prof. Wilson de Matos Silva Reitor 6 METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância Olá, querido aluno! Seja bem-vindo à leitura de nosso material didático do NEAD_ Núcleo de Educação a distância do CESUMAR. Primeiramente, estamos muito felizes em tê-lo como nosso aluno. Temos a perfeita convicção que fizeste a escolha certa. Somos hoje, o maior Centro Universitário do Paraná e estamos presentes na maioria dos estados brasileiros. Somos conhecidos nacionalmente pela nossa qualidade de ensino em ambas modalidades: presencial e a distância. Este material foi preparado com muito carinho e dedicação para que chegasse a você com a maior clareza possível. Ele foi baseado nas diretrizes curriculares do curso em questão e está em plena consonância com o Projeto Pedagógico do Curso. Neste projeto Pedagógico estão as diretrizes que seu curso segue. Nele, você encontra os objetivos gerais e específicos, o perfil do egresso, a metodologia, os critérios de avaliação, o ementário, as bibliografias e tudo o que você precisa saber para estar bem informado e aproveitar o curso com o máximo proveito possível. Ele está disponível pra você! O que acha de tomar conhecimento dele? Tenho certeza que irá gostar. Tenho certeza que achará muito interessante sua compreensão. No AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem, constam gravações as quais os professores que organizaram esse material gravaram alguns vídeos, que juntamente com sua leitura ajudará você no processo de aprendizagem. Como vivemos numa sociedade letrada, precisamos e devemos estar sempre atentos às informações contidas nas leituras. Uma boa leitura para ter eficiência e atingir nossos objetivos precisa ser muito bem interpretada, de modo que, tão logo seja feita, seja possível absorver conceitos e conhecimentos antes não vistos e ou compreendidos. Além de sua motivação para a absorção desse conteúdo, algumas dicas são bem-vindas: esteja concentrado, enquanto lê. Leia lentamente, prestando atenção em cada detalhe. Esteja sempre com um dicionário por perto, pois ele o ajudará a entender algumas palavras que por ventura serão novas em seu vocabulário. Saiba que tipo de texto e o assunto este material lhe trata. E claro, estude em um ambiente que lhe traga conforto e tranquilidade. Um grande abraço com desejos de um excelente aproveitamento. Profª. Viviane Marques Goi Coordenadora de Ensino do NEAD- CESUMAR SUMÁRIO UNIDADE I AS ORIGENS DA EDUCAÇÃO, PRINCIPALMENTE DA EDUCAÇÃO UNIVERSITÁRIA E O CONTEXTO NA QUAL ESTÁ INSERIDA A UNIVERSIDADE E SUAS ORIGENS...........................................................................................13 O CONTEXTO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL............................................................16 LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA – LDB 9.394/96.....................22 O ARTIGO 43 DA LDB E AS FINALIDADES DA EDUCAÇÃO.....................................................24 A EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL ATUALMENTE...............................................................27 UNIDADE II UMA REFLEXÃO SOBRE AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS A PRÁTICA DOCENTE DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO.......................................................41 AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS BRASILEIRAS.......................................................................44 UNIDADE III OS REQUISITOS E COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO A NECESSIDADE DE CONHECIMENTOS EPISTEMOLÓGICOS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES..................................................................................................................................62 A UTILIZAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM SALA DE AULA.....66 REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO...............................................................................................70 REFERÊNCIAS......................................................................................................................80 UNIDADE I AS ORIGENS DA EDUCAÇÃO, PRINCIPALMENTE DA EDUCAÇÃO UNIVERSITÁRIA E O CONTEXTONA QUAL ESTÁ INSERIDA Professora Esp. Fabiane Carniel Professora Dr.ª Gislene Miotto C. Raymundo Professora Esp. Marcia Maria Previato de Souza Objetivos de Aprendizagem • Entender o contexto educacional em nível superior. • Contextualizar a criação das universidades, bem como suas origens mais remotas para entender a situação do ensino superior atualmente. • Compreender e refletir a criação da LDB – motivações e objetivos. • Refletir sobre o papel do professor e o artigo 43 da LDB. • Compreender, refletir e debater o ensino superior no Brasil na contemporaneidade. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • A universidade e suas origens • O contexto da educação superior no Brasil • Lei de diretrizes e bases da educação brasileira – LDB 9.394/96 • O artigo 43 da LDB e as finalidades da educação • A educação superior no Brasil atualmente 13METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância INTRODUÇÃO Compreender a trajetória do ensino é um fator preponderante em qualquer curso de formação de professores e afins. Diante deste pressuposto, o estudo da trajetória das universidades e do ensino superior é bastante razoável, pois podemos verificar esta instituição como formadora para os demais níveis de educação. Para reflexão acerca de muitas situações que se referem à educação em nosso país, se faz de máxima importância situar-se em todo esse contexto, pois somente a partir do conhecimento de fatores que originaram tais situações é que algumas delas podem ser combatidas. Nesta perspectiva, ainda é possível afirmar que a compreensão deste contexto se constitui em uma importante fonte de conhecimento para outros conceitos que serão estudados e quiçá para planejar e aprimorar as práticas de ensino daqueles que almejam a docência no ensino superior. Nossa proposta nesta unidade é apresentar as circunstâncias gerais que regem a educação superior, pois somente após essa contextualização podemos apresentar os demais conteúdos que compõem esta disciplina. Não seria possível que educador passasse por uma especialização e não soubesse das origens da universidade no mundo e no Brasil. A priori nossa intenção é compreensão por parte do acadêmico do termo universidade e em seguida apresentar-lhe o cenário e as condições que originaram as primeiras universidades no mundo. Na sequência a interação com as origens do ensino superior no Brasil serão brevemente encadeadas, passando inclusive pela criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) e as condições atuais da educação em nosso país. Assim, esperamos contribuir de forma significativa na formação de professores, pois um pressuposto fundamental para o exercício dessa profissão com excelência e qualidade é o conhecimento da educação como um todo. A UNIVERSIDADE E SUAS ORIGENS Para maior compreensão da disciplina em questão é importante situar o acadêmico no contexto histórico da criação das universidades. Para justificarmos nosso estudo e direcioná- 14 METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância lo melhor, explicitaremos nas palavras de Castanho (2000, p. 19) o conceito da denominação de Universidade: A palavra Universitas era muito usada na linguagem jurídica para designar uma corporação, ou seja, uma associação com certo grau de unidade. Nesse sentido, tinha sinonímia com societas (sociedade), consortiun (consórcio) e até mesmo com collegium (colégio), embora esta última viesse a ter significado próprio na vida estudantil. Universidade designava corporação e se empregava não apenas para a sociedade dos mestres, mas igualmente para outras associações profissionais. Por sua vez a universidade compunha-se de um certo número de faculdades. O que era uma faculdade? Inicialmente, o termo não era designativo de uma unidade administrativa, mas de um ramo de estudos ou mesmo de uma disciplina. Aquilo que hoje designamos como uma disciplina, filosofia, por exemplo, ou como um curso, curso de filosofia, por exemplo, designava-se com a palavra latina facultas. Com o tempo, a faculdade deixou de ser disciplina estudada e passou a ser unidade onde se estudava essa disciplina. Ainda podemos definir esse tipo de instituição como local de formação multidisciplinar de ensino superior, pesquisa e extensão, que visa o domínio do saber humano, qualificando o indivíduo para o exercício de uma profissão ou da pesquisa em determinada área. Essas instituições preveem e formalizam a educação em duas esferas: graduação e pós-graduação. Dessa forma, após a exposição do termo universidade vamos recorrer ao seu passado histórico para melhor compreensão dessa nos dias atuais. Os primeiros estudos superiores são provenientes das escolas monacais e catedráticas. As primeiras funcionavam em mosteiros e as segundas, dentro das catedrais da Igreja Católica, contudo, essas instituições formavam somente especialistas diplomados por serem, na verdade, constituídas por uma agregação de várias escolas de saberes específicos. Os primeiros estudos superiores são provenientes das escolas monacais e catedráticas. As primeiras funcionavam em mosteiros e as segundas, dentro das catedrais da Igreja Católica. Bem mais adiante, na cidade de Bolonha, em 1088, é que nasceu a primeira universidade especializada na área de direito e não relacionada ao clero. A partir daí, principalmente no continente europeu, muitas outras instituições surgiram, dentre elas a mais famosa foi a universidade de Paris fundada na segunda metade do século XII, entre 1150 e 1170. Fo nte : P HO TO S. CO M 15METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância Nesse período, na Europa, houve uma grande mobilização em função da intelectualidade, pois se percebia de forma acentuada o confronto entre a fé Cristã e a cientificidade dos conceitos levantados. De acordo com Castanho (2000, p. 17): Estudantes deslocavam-se de grandes distâncias para ouvir mestres que colocavam “questões” (questiones), que geralmente envolviam a validade do “universais”, isto é, dos conceitos gerais aplicáveis a toda uma classe de coisas, ensejando a questão de saber se tais conceitos tinham existência em si ou se, contrariamente, somente as coisas singulares realmente existiam. No período destacado como Renascimento, em que diversas transformações aconteceram, principalmente, nos campos da política, sociedade, cultura, economia e religião, tais instituições foram ainda mais reforçadas pelos conceitos de retomada das referências culturais da antiguidade clássica. Essa época também é marcada por ser um período de transição do feudalismo para o capitalismo e ruptura com as estruturas medievais. Daí em diante as universidades foram se desenvolvendo cada vez mais, principalmente, diante da necessidade que essas instituições tinham de suscitar o saber e se desvencilhar da Igreja. As universidades constroem sua história de acordo com a sociedade em que estão inseridas defendendo princípios importantes da humanização e formação de sujeitos, acesso ao conhecimento assim como a preparação profissional. Contudo, vale ressaltar que muitos resquícios da universidade medieval perduram em nossos dias, essa afirmação é garantida quando verificamos as palavras de Castanho (2000, p.23): Claro que a universidade medieval não é exatamente a universidade do século XX nem esta, no que tem sido ao longo destes cem anos, será a mesma da do século XXI. Contudo, há uma linha de continuidade no fundo das inúmeras rupturas que assimilaram os mil anos da universidade. Apesar da tensão que marca a inserção social da universidade, ela é uma instituição social e se amolda como tal às diferentes configurações sociais registradas na história. Do modo de produção feudal, que balizou a conformação da sociedade medieval, ao modode produção capitalista na sua modalidade mercantil, que foi o pano de fundo da sociedade renascentista europeia e de suas colônias, daí para o modo de produção capitalista industrial e para as diversas modulações deste, concorrencial, monopolista, neocolonialista, associacionista e agora globalizado, a sociedade mudou muito. As classes sociais se modificaram, a fisionomia sociopolítica geral alterou-se profundamente. E seria ao menos ilógico, se não fosse profundamente anti-histórico, imaginar que alguma instituição social permanecesse incólume. Não haveria a universidade de ser a única exceção numa voragem que transfigurou a família, o Estado, o trabalho, a propriedade. Assim, queremos deixar claro que também a universidade como qualquer outra instituição social, se modifica, se adapta, influencia e é influenciada pela evolução da humanidade e pelas mudanças que essa sofre. 16 METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância A instituição Universidade significa desenvolver ensino, pesquisa e extensão, ter autonomia didática, administrativa e financeira e congregar um corpo docente com titulação acadêmica significativa de mestrado ou doutorado. Exercer atividade docente em Centros Universitários, ente institucional criado pela LDB, significa trab- alhar em instituição que desenvolva ensino de excelência, que atue em uma ou mais áreas do conhe- cimento e que tenha autonomia para abrir e fechar cursos e vagas de graduação sem autorização. Já as Faculdades Integradas representam um conjunto de instituições em diferentes áreas do conheci- mento, que oferecem ensino e, às vezes, pesquisa e extensão. Esses estabelecimentos dependem do Conselho Nacional da Educação (CNE) para criar cursos e vagas. Os Institutos Superiores ou Escolas Superiores atuam, em geral, em uma área do conhecimento e podem fazer ensino ou pesquisa, de- pendendo do CNE para expandir sua área de atuação. Professor do Ensino Superior – identidade, docência e Formação. Professor do ensino superior: identidade, decência e formação / Marília Costa Morosini (Org.). Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 2000. O CONTEXTO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL No Brasil, o processo de criação das Universidades foi tardio, como normalmente acontece em função de nosso país ter sido colônia de exploração de Portugal. Assim, para esse país não era importante que suas colônias tivessem acesso ao conhecimento, muito menos, que sua população pensasse criticamente. Fazendo menção ao que foi dito anteriormente, vale ressaltar que o Brasil não teve a mesma sorte que as colônias espanholas e inglesas tiveram, pois já no século XVI e XVII respectivamente, surgiram cursos universitários nas mesmas. No início da colonização somente as ordens religiosas se preocuparam com a educação no Brasil, porém, essa tal preocupação não se dava pelo fato da educação ser um direito humano, mas sim, para garantir a catequese contra-reformista. Brandão (1997, p.05) afirma que: Os estabelecimentos de ensino dos jesuítas seguiam normas padronizadas, sistematizadas no tratado Studiorum, que previa um currículo único para estudos escolares dividido em dois graus: os Studia Inferiora e os Studia Superiora. A grosso modo, elas correspondiam aos atuais ensinos secundário e universitário respectivamente. Os primeiros desenvolviam-se em até sete séries anuais, enquanto os últimos compreendiam os cursos de Filosofia e Teologia. Os de filosofia levavam três anos, onde eram estudadas obras de Aristóteles, e os de Teologia tinham duração de quatro anos, nos quais se estudavam as escrituras, o hebraico, a teologia especulativa segundo Thomás de Aquino e, no último ano Teologia Prática. 17METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância Normalmente, esses cursos funcionavam em colégios dos próprios Jesuítas e neles estudavam os jovens destinados à preparação do sacerdócio e também estudantes externos. No Brasil, os ensinamentos transmitidos por esses religiosos sofreram algumas alterações pedagógicas para se adaptar a realidade local, dessa forma, o currículo acima descrito se apresentava um pouco distinto, porém, a base eclesiástica era a mesma. Nos colégios Jesuítas do Brasil, havia quatro graus de ensino, sucessivos e propedêuticos: o curso Elementar, o de Humanidades, o de Artes e o de Teologia (BRANDÃO, 1997). Da totalidade de 17 colégios aqui estabelecidos, somente oito ofereciam o curso de artes, reafirmando então o ensino de cunho religioso. O primeiro colégio Jesuíta no Brasil foi fundado na Bahia em 1550 e esse serviu de modelo para os demais colégios instituídos em outras localidades do país. Em 1638, no Rio de Janeiro foi fundado mais um colégio Jesuíta e iniciou suas atividades oferecendo o curso de filosofia. Nesse período, o número de estudantes em todos os colégios dessa ordem religiosa somava- se trezentos. No ano de 1759, os Jesuítas foram expulsos de Portugal e as propriedades onde se estabeleciam tais instituições foram a leilão e terceiros as adquiriram, passando a explorá- las com outros fins que não fossem o de abrigar os colégios, desintegrando então e estrutura até então formada. Com a precariedade da Educação Superior no Brasil e o avanço dela na Europa, pois a presença das instituições universitárias se destacava desde a idade média, os altos funcionários da Igreja, da coroa e os filhos de fidalgos coloniais se deslocavam até lá para aquisição de seu diploma. Nota-se aí que desde muito cedo a educação superior foi e ainda é privilégio das elites de nossa sociedade. Apesar do pouco empenho em instituir uma Educação Superior de qualidade, na transição dos séculos XVII para XVIII, foi criado no Rio de Janeiro, por interesse meramente de ordens práticas, o curso superior de Engenharia Militar, pois tinha como objetivo formar uma extensão do exército português. Também, em meio às turbulências do século XVIII, os inconfidentes mineiros até tentaram a fundação de uma instituição de ensino superior, porém, não tiveram êxito. Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, criou-se em 1808, no Rio de Janeiro a escola médico-cirúrgica com caráter de ensino superior. Somente a partir de 1889, com a proclamação da república é que se constata o aumento das instituições de ensino superior no Brasil. Essas atendiam um modelo de unidades desconexas entre si e voltadas para formação profissional. Mesmo com a necessidade urgente 18 METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância da socialização do Ensino Superior, pois os europeus e muitos outros países da América Latina estavam extremamente evoluídos nesse sentido em relação ao nosso país, somente em 1920, surgiu no governo de Epitácio Pessoa, a Universidade do Rio de Janeiro que mais tarde foi intitulada Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nela foi criada a reitoria e o conselho universitário, caracterizando assim um modelo sistemático e característico desse tipo de instituição. Em 07 de setembro de 1920, O decreto no 13.343, do Ministro do Interior Alfredo Pinto, promulgado pelo presidente Epitácio Pessoa, determinou a criação da Universidade do Rio de Janeiro, a primeira instituição de ensino superior no Brasil que vingou com o nome Universidade. Sua estrutura consistiu numa aglutinação de diversas faculdades (BRANDÃO, 1997, p. 20). Em 1934, foi criada a Universidade de são Paulo, nascida após a derrota na Revolução Constitucionalista de 1932, tinha como objetivo a fundação de uma instituição de altos estudos sociais e políticos para a formação de uma elite moderna e culta. Dessa forma, foi no governo de Getúlio Vargas que as universidades foram realmente se caracterizando como tal. Foi também durante seu governo que se estabeleceu a política educacional liberal, essa por sua vez trazia seus conceitos pautados nas ideias do Liberalismo, que de acordo com pensadores ingleses efranceses tinha como princípios o individualismo, a liberdade, a propriedade, a igualdade e a democracia. Todavia, dentro desses princípios a educação que se estabelecia no Brasil com a criação da universidade de São Paulo, dividia-se em duas vertentes: a elitista e a igualitária. A primeira vertente foi defendida por Fernando Azevedo em que as escolas superiores, deveriam, acima de tudo, formar professores para a escola secundária e essa formação seria satisfatória, pois os saberes intelectuais por seus professores aprendidos seriam nela disseminados a todo povo. Em contrapartida, temos Anísio Teixeira defendendo a educação igualitária. Suas ideias foram decisivas para a criação de políticas educacionais que contribuíssem para o acesso da classe trabalhadora e das camadas médias às universidades. Essas ideias diante do regime político da era Vargas foram muitas vezes sufocadas, e dentre seus intentos, em 1935, em meio a toda essa repressão ele idealizou a Universidade do Distrito Federal, essa enfrentou a resistência do próprio governo federal sob a alegação de que a instituição idealizada por Teixeira não se adequava ao estatuto das Universidades vigente. Isso acontecia em função da previsão por parte do governo da participação democrática dos estudantes no conselho universitário e da autonomia que tal instituição teria. 19METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância Tais previsões se confirmaram, pois os estudantes realmente se constituíram em uma força política ativa, não se deixando manipular por outras forças. Nesse cenário cria-se então a UNE – União Nacional dos Estudantes. Em 11 de agosto de 1937, iniciou-se no Rio de Janeiro o Conselho Nacional dos Estudantes, promovido pela Casa do Estudante do Brasil. Em 5 de dezembro de 1938, o Conselho reuni-se em um congresso denominado 2º Congresso Nacional dos Estudantes, inclusive com a participação de representante do Ministério da Educação. A tese mais importante discutida foi a criação da União Nacional dos Estudantes. Em 22 de dezembro, foi aprovada a proposta relativa aos estatutos da UNE. Na realidade, a sua criação caracterizou-se como resultado da tentativa de cooperação dos estudantes, opositores do autoritarismo, pelo Estado, interessado no seu controle por mecanismos corporativos (BRANDÃO, 1997, p. 20). Na década de 1950 ocorreu a criação das universidades federais, estaduais e municipais, fato esse reforçado pela criação da Lei de diretrizes e Bases da Educação Brasileira - LDB 4.024/61 que suscitou muitas discussões desde 1948. Mas como reforçamos as instituições de ensino não são alheias ao que acontece na sociedade, durante o regime militar (1964/85) a universidade principalmente seus integrantes, alunos, professores e administradores foram perseguidos, pois essas eram consideradas pelo regime focos subversivos. Vale lembrar que também as agremiações estudantis, como principalmente a UNE, foram destituídas e muitos de seus integrantes foram presos ou obrigados a se refugiarem. Diante disso, a proposta do regime militar era modernizar as instituições de ensino superior em nosso país, contudo, por trás dessa proposta o que se pretendia era transformar a universidade em centro de capital humano, única e exclusivamente para atender a interesses econômicos. Dessa forma, percebe-se então a influência de instituições internacionais, principalmente norte-americanas. Por representar resistência e contrariedade ao regime militar, principalmente por meio de manifestações públicas, alunos e diretores de universidades foram perseguidos durante essa época. Posteriormente a isso, já na década de 1970, se presencia uma expansão sem limites do Ensino Superior no Brasil, passando de 300.000 alunos para um milhão e meio em 1980. Muitos fatores contribuíram para esse contexto: a concentração urbana da população, exigência de Fo nte : P HO TO S. CO M 20 METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância melhor formação para mão de obra industrial e de serviços e a facilidade para a abertura de escolas privadas. Na década de 1980 uma grave crise econômica assola o Brasil e como não podia deixar de ser também o Ensino Superior foi afetado por ela. Toda a expansão que acontecera na década anterior fora retardada pela crise. O percentual de alunos ingressantes no ensino superior era bem abaixo de outros países em igual situação de crescimento e desenvolvimento. Então no governo Sarney, foi instaurada uma comissão para analisar a situação do Ensino Superior brasileiro da época e apresentar proposta para uma reforma. De acordo com o relatório apresentado pela então Comissão Nacional para Reformulação da Educação Superior, os principais problemas a serem solucionados eram: professores mal remunerados, carência de equipamentos, laboratórios e bibliotecas, descontinuidade de pesquisas, discriminação social no acesso às universidades, sistemas antidemocráticos de administração e escolha dos quadros dirigentes, crise financeira e pedagógica do ensino privado, excesso de controles burocráticos nas universidades públicas, pouca clareza na prevalência do sistema de mérito na seleção e promoção de professores. Ainda, segundo Brandão (1997), o relatório também destacou que as nossas universidades não estavam preparadas para enfrentar as próximas décadas, assim como os novos desafios da educação no que diz respeito também às concepções de ensino e principalmente um fator preponderante conferido ao ensino superior: o incentivo à pesquisa. É ainda diante dessas circunstâncias que em 1996, se promulgou a última versão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira – LDB 9.394/96, também conhecida como lei Darcy Ribeiro, por ser o senador em questão o relator da referida lei. Desde então, essa é a lei que rege a educação Brasileira como um todo e os artigos 43 a 57 são especificamente destinados ao ensino superior. 21METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância As universidades passageiras: A liberação de antigos anseios federativos, criados pela Proclamação da República, propiciou iniciati- vas de criação de instituições de ensino superior em diversos estados. À revelia do poder central sur- giram três universidades: No Amazonas, em São Paulo e no Paraná, embora durassem pouco tempo. A Universidade de Manaus foi criada em 1909, quando o clico da borracha encontrava-se no auge da prosperidade. O declínio do ciclo da borracha levou a Universidade de Manaus à crise por falta de alunos e de subsídios estatais. Em 1926 ela se dissolveu, dividindo-se em três estabelecimentos iso- lados: A Faculdade de Engenharia, a Escola de Agronomia e Faculdade de Medicina, que deu origem a Faculdade de Farmácia e Odontologia. A Reforma Rivadávia Corrêa encontrou em São Paulo quem tirasse proveito do intento desfocalizado do governo para fundar uma universidade. A Universidade de São Paulo, que em nada tem a ver com a USP atual, foi fundada em 1911, sendo inaugurada um ano depois. O seu objetivo era oferecer ensino de todos os graus: primário, secundário, superior e “transcendental”(abrangendo assuntos de interesse geral). Em 1915, a Universidade chegou a ter 700 estudantes e 100 professores e procurou inovar os métodos de ensino superior, dando à apresentação do fato, ou à demonstração, papel que antes só cabia à exploração do professor. Defensores do ensino superior estatal passaram a criticá-la fortemente. Uma lei da Assembléia Estadual de São Paulo determinava que só poderiam exercer a odontologia os formados por faculdades oficiais. Como a Universidade de São Paulo era particular, seus diplomados não poderiam exercer legalmente a profissão de dentista. Ao contrário das outras universidades passageiras, da Universidade de São Paulo, não restou uma só escola de ensino superior que desse origem a outra universidade. Um mês após a fundaçãoda Universidade de São Paulo, um grupo de profissionais liberais e altos funcionários do governo do Estado do Paraná promoveram a criação da Universidade do Paraná, em 1912. Os estatutos expressavam um ambicioso programa, prevendo a instalação de vários cursos, além de hospital universitário, policlínica geral, maternidade, serviço de assistência jurídica, oficinas técnicas, hospital veterinário, serviço comercial e fazenda modelo. Ela seria uma associação civil gozando de toda autonomia. O ensino seria pago, sendo gratuidade uma exceção. Esse ambicioso projeto não teve tempo de ser realizado. Em 1915, a reforma Carlos Maximiliano, com efeito ret- roativo, impedia a equiparação de escolas superiores em cidades com menos de 100 mil habitantes, como era o caso de Curitiba. Como a instituição visava a equiparação dos cursos federais, não teve outra alternativa, senão, se dissolver. Contudo, o Conselho Superior de Educação reconheceu três de seus cursos isolados: as Faculdades de Direito, Medicina e Engenharia. Em 1946, essas faculdades, acrescidas de filosofia, vieram a compor a Universidade do Paraná, equiparada no mesmo ano e federalizada em 1950. MOREIRA, Daniel A (org). Didática para o ensino superior - técnicas e tendências, in: A evolução do ensino superior brasileiro: uma abordagem histórica abreviada. São Paulo: Thompson, 2003. 22 METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA – LDB 9.394/96. A LDB 9.394/96 apresenta 96 artigos que tratam da educação brasileira em todos os níveis e modalidades: educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, educação de jovens e adultos, educação profissional, educação superior, educação especial e educação a distância. O texto aprovado em 1996 é resultado de um longo embate, que durou cerca de seis anos, entre duas propostas distintas. A primeira conhecida como Projeto Jorge Hage foi resultado de uma série de debates abertos com a sociedade, organizados pelo Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, sendo apresentado pelos senadores Darcy Ribeiro, Marco Maciel e Maurício Correa em articulação com o poder executivo através do Ministério da Educação – MEC. A principal divergência era em relação ao papel do Estado na Educação. Enquanto a proposta dos setores organizados da sociedade civil apresentava uma grande preocupação com mecanismos de controle social do sistema de ensino, a proposta dos senadores previa uma estrutura de poder mais centrada nas mãos do governo. Apesar de conter alguns elementos levantados pelo primeiro grupo, o texto final da LDB se aproxima mais das ideias levantadas pelo segundo grupo, que contou com forte apoio do governo Fernando Henrique Cardoso nos últimos anos de tramitação. Vale retomar que a aprovação da LBD se deu diante de uma expansão fenomenal do ensino superior privado, uma vez que as universidades públicas não supriam a demanda necessária. Além disso, essa situação se dá mediante a uma espécie de subordinação aos mecanismos internacionais que mais uma vez agem sobre a educação dos países em desenvolvimento, e nesse caso especificamente podemos destacar a UNESCO e o Banco Mundial. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira ampliou e incorporou alguns princípios já estabelecidos em nossa constituição, enfatizando o respeito à liberdade e o apreço à tolerância, coexistência das instituições públicas e privadas de ensino, valorização da experiência extraescolar e vinculação entre educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. Para que possamos exercer a docência com verdadeira interação à prática educação é importante conhecer alguns desses princípios: Princípio da igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola. Esse princípio 23METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância está diretamente ligado à democratização do ensino público. Porém, para que haja uma efetiva democratização do ensino público, precisam ser garantidas as condições de permanência na escola. Assim, não basta acesso ao ensino, é necessária a garantia de condições para a permanência nos bancos escolares. Nesse sentido, Estado e instituições sociais como a família são responsáveis por isso. Princípio da liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber do pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e a coexistência de instituições públicas e privadas de ensino. No caso anteriormente descrito, não há que se falar em educação, onde não se admite a diversidade de opiniões. Temos aqui a democracia garantida em toda a sua extensão. A coexistência de instituições de ensino públicas e privadas seguem a mesma linha de raciocínio de respeito à liberdade e tolerância, pois garante investimento do setor privado na educação sem o risco de estatização. Princípio da valorização do profissional da educação. A situação desse profissional infelizmente enfrenta grandes disparidades em nosso país. Além de um salário justo, é preciso garantir um plano de carreira. Porém, não basta a remuneração financeira para o desenvolvimento pleno do professor, é fundamental que esse tenha a seu favor uma boa estrutura física, tecnológica e intelectual para melhor desempenho em sala de aula. Nesse aspecto, destacamos o fornecimento de livros e periódicos de qualidade, a inclusão digital, acesso à vida cultural e troca de informações com docentes de outras instituições. Princípio da garantia de qualidade. Todos aqueles que frequentam os bancos escolares, seja de qualquer nível de ensino, devem receber educação de qualidade. Para isso, todos os princípios já citados e mais uma série de outros fatores que também contemplaremos nesse material, devem estar em harmonia. Não há como se falar em educação de qualidade sem profissionais bem remunerados e preparados, sem suporte material e tecnológico, sem alunos com condições efetivas de acesso ao ensino. Assim, a educação como prioridade nacional deve ser mais que um projeto, deve ser prática incansável de todos. Leia na íntegra a lei que rege a Educação Brasileira – LDB 9.394/96, para isso basta acessar: <ftp:// ftp.fnde.gov.br/web/siope_web/lei_n9394_20121996.pdf> 24 METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância O ARTIGO 43 DA LBD E AS FINALIDADES DA EDUCAÇÃO Não é nosso objetivo neste material analisar o cumprimento da lei 9.394/96 e sim apresentá- la ao acadêmico. Porém, constatamos a fundamental importância de uma breve análise do artigo 43, uma vez que esse trata das finalidades da educação superior e nosso objetivo com essa disciplina é que você como estudante de um curso de especialização seja agente em todo esse processo e desempenhe sua função de modo que auxilie na concretização de tais finalidades. A saber, o artigo 43 da LDB 9.394: Art. 43º. A educação superior tem por finalidade: I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profis- sionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua forma- ção contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem pat- rimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a corre- spondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimentode cada geração; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e region- ais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciproci- dade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição. Dentro dessa perspectiva, iniciaremos nossas considerações ressaltando Souza e Silva (1997, p. 76) em uma menção sobre o artigo aqui analisado: O verbo “estimular” melhor estaria se fosse trocado por promover, que é mais forte e apropriado para o caso. De qualquer forma, fica claro que cabe a esse grau de ensino fomentar a criação cultural, o desenvolvimento do espírito (ou capacidade) científico, bem como do pensamento reflexivo ou crítico. Além disso, também é função primordial desse nível de ensino preparar profissionais para o mercado de trabalho, dessa forma, acompanhando a economia, fatores sociais, bem como as necessidades de cada região e do país em âmbito geral. Chamamos atenção para a importância 25METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância dessas instituições em suscitar em seus estudantes valores sociais, o interesse pela pesquisa, o senso crítico, reflexivo, que os leve a pensar de maneira contextualizada e abrangente para que esses possam agir na sociedade na qual estão inseridos transformando-a para melhor e auxiliando na resolução de problemas e auxiliando no desenvolvimento da nação. Quando Libâneo; Oliveira e Torchi (2005, p. 258) definem as funções do ensino superior, nos reportam basicamente nas ideias expressas no artigo 43: A educação superior [...] tem por finalidade formar profissionais nas diferentes áreas do saber, promovendo a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos e comunicando-os por meio do ensino. Objetiva estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo, incentivando o trabalho de pesquisa e a investigação científica e promovendo a extensão. Visa divulgar à população a criação cultural e a pesquisa científica e tecnológica geradas nas instituições que oferecem a formação em nível superior e produzem conhecimento. A partir disso verificamos então o que pode ser chamada na tríade de sustentação para a universidade, ensino, pesquisa e extensão. Como vimos, nossa LDB regulamenta essa tríade como base crucial na formação dos indivíduos, essa determinação é valida tanto para instituições públicas ou privadas, porém, a necessidade de formação imediata em algumas áreas e de se aumentar a demanda das vagas nesse nível tem feito com que a pesquisa fique em segundo plano ou até mesmo esquecida nesse processo, apontando uma deficiência que precisa ser corrigida imediatamente para que a passagem de um acadêmico pela universidade não se torne falha. De acordo com Balzan (2000), até existem situações em que se pode apresentar um ensino superior de qualidade sem pesquisa e nesses casos somente um professor extremamente atualizado e dotado de uma epistemologia e práticas eficazes poderia ser capaz de supri-la, contudo o mesmo autor é enfático em declarar: exceto os casos que se aproximam desses exemplos e que constituem, de fato, absolutas exceções, a articulação ensino-pesquisa é necessária para que se alcance um ensino de alta qualidade ou, se preferirmos, em nível de excelência. Interligadas como devem ser, ensino, pesquisa e extensão, expressam a identidade da formação superior. Se o ensino leva o aluno a deparar-se com a teoria, a pesquisa lhe demonstra essa realidade, estimula e prepara para produção do seu próprio conhecimento. Assim, toda instituição superior, deve incentivar a pesquisa como também a extensão dela dentro e fora dos limites da universidade para que a população também seja beneficiada pelos conhecimentos lá produzidos. Para Veiga (2006, 87): 26 METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância A docência universitária exige a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Faz parte dessa característica integradora a produção do conhecimento bem como sua socialização. A indissociabilidade aponta para a atividade reflexiva e problematizadora do futuro profissional. Articula componentes curriculares e projetos de pesquisa e de intervenção, levando em conta que a realidade social não é objetivo de uma disciplina e isso exige o emprego de uma pluralidade metodológica. A pesquisa e a extensão indissociadas da docência necessitam interrogar o que se encontra fora do ângulo imediato de visão. Não se trata de pensar na extensão como diluição de ações, para uso externo, daquilo que a universidade produzir de bom. O conhecimento científico gerado pela universidade não é para mera divulgação, mas é para a melhoria de sua capacidade de decisão. Dessa forma, por meio da aprendizagem amparada pelo ensino e pesquisa, o acadêmico alcançará o nível de desenvolvimento cognitivo relativo a muitos outros saberes. Conhecimento, desenvolvimento de capacidades intelectuais são fenômenos coexistentes entre si e quando esses conhecimentos são levados à sociedade, tem-se então a concretização da extensão, dessa forma, o acadêmico evidencia que seu conhecimento poderá auxiliar de alguma maneira outras pessoas e estará então cumprindo seu papel de cidadão, sendo que também é essa uma das funções da educação, seja superior ou de qualquer outro nível. A formação de sujeitos pensantes, reflexivos que sejam de capazes de fazer a diferença para sua nação. Ressaltando ainda as funções e características das universidades, podemos observar as palavras de Castanho (2000, p. 21): Outras características da universidade, que despontam na sua origem e permanecem como balizas estruturais, são: a publicidade, a criatividade, a indissociabilidade entre o ensino e a pesquisa, a intencionalidade e interdisciplinaridade. O caráter público da universidade, sua publicidade, não advém desta ou daquela forma de organização, estatal ou privada, mas de sua abertura, de sua natureza não discriminatória e, ainda, de sua oposição visceral ao mundo dos interesses privados. Ela é pública porque seu único compromisso é com a busca do ajuste entre as palavras e as coisas, o discurso e a realidade, e não com o acúmulo de bens. Nesse sentido, esse autor também destaca a importância do ensino e da pesquisa, além da interdisciplinaridade, termo esse que designa a relação entre as disciplinas, que elas não devem sobreviver de forma autônoma e individualizada e sim manter uma inter-relação que sustente teoria e prática, pois para ele, um dos papéis da universidade é a comprovação entre os conceitos que se tem das coisas e como elas realmente são. 27METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância A EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL ATUALMENTE Se realmente nos dedicássemos nesse capítulo a falar da educação no superior no Brasil atualmente, esgotaríamos esse material, dessa forma, para prosseguirmos nas próximas unidades faremos um breve esboço da situação atual. A promulgação da LDB 9394/96 se deu diante um cenário de transformações sociais e econômicas, nessa época o fenômeno da globalização era predominante e se implantava uma política concernente com tal fenômeno, conhecida como neoliberalismo. Destaca-se nessa perspectiva que normalmente uma lei expressa a opinião ou interesses de um determinado grupo social, assim, a promulgação da LBD suscitou debates e conflitos. Além de todas as circunstâncias sociais e políticas, concomitante à sua aprovação se verificava uma expansão extraordinária do ensino superior privado, pois a demanda de vagas em instituições públicas não supre mais a necessidade da população em se aperfeiçoar e adquirir conhecimentos. Nesse sentido, se observarmosas palavras de Zabalza (2004), podemos compreender melhor o exercício da docência atualmente, pois, afirma que é preciso levar em consideração as transformações pelas quais o cenário universitário está passando, em razão das mudanças do mundo contemporâneo. Entre as mais significativas, notam-se: de um bem cultural, a universidade passou a ser um bem econômico; de um lugar reservado a poucos, tornou-se um lugar para o maior número possível de pessoas; de um bem direcionado ao aprimoramento de indivíduos, tornou-se um bem cujo beneficiário é o conjunto da sociedade; e, ainda, transformou-se em mais um recurso do desenvolvimento social e econômico dos países, submetendo-se às mesmas leis políticas e econômicas; faz parte das dinâmicas sociais e está sujeita aos mesmos processos e às mesmas incertezas do âmbito político, econômico ou cultural que afetam todas as instituições sociais. Suscitam-se então as políticas neoliberais, que ocasionam profundas mudanças na linha de produção mundial, buscando estabelecer-se pela formação e qualificação de recursos Fo nte : P HO TO S. CO M 28 METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância humanos, enfatizando a difusão de conhecimentos, atribuindo cada vez mais responsabilidade à educação. Em contrapartida, se percebe o distanciamento do Estado na manutenção dos setores (até mesmo dos imprescindíveis) para garantir o livre comércio, contexto, propício para ação de mecanismos internacionais, que ditam as regras para a educação brasileira como um todo, o que fica claro nas palavras de Libâneo, Oliveira e Toschi (2005), nesse sentido, a orientação do Banco Mundial (1995) tem sido a de educar para produzir mais e melhor. Tais mecanismos sugerem maior concentração de recursos para a educação básica, deixando a educação superior a cargo da iniciativa privada. Nesse sentido podemos levar em consideração dois pontos decisivos para a aprovação da LDB 9.394/96, o primeiro nos leva a crer que o governo, conforme a imposição dos mecanismos internacionais, aceitou as diretrizes para a educação em função das políticas neoliberais que assolavam o mundo. O segundo, por sua vez, nos leva analisar essa mesma ação de forma inversa, pois o governo pode ter tratado de adequar suas diretrizes educacionais a uma nova configuração política e econômica. Assim, a LDB nos reporta às novas tendências educacionais mundialmente impostas pela globalização e pelo neoliberalismo. Muitos de seus artigos retomam ou fazem referência ao Relatório da Unesco, redigido por Jacques Delors e intitulado, Educação um Tesouro a Descobrir. Um exemplo explícito está no artigo 03 da LBD onde valores como respeito à liberdade, tolerância, respeito ao pluralismo de ideias valorização extraescola são enfatizados tal como preconiza Delors no documento acima citado. Dentro dessa nova perspectiva, as relações sociais não se restringem mais a dominantes e dominados, elas assumem uma complexidade diferenciada que se viu até então na história da humanidade, é justamente aqui, que se faz necessária uma nova prática pedagógica. A educação, mais do que nunca deve estar preparada para lidar com a diversidade. Ela não deve se ater somente ao aspecto formal do conhecimento, mas também preocupar-se o indivíduo, com a pessoa, respeitar e inserir o diferente é fundamental. A escola deve transmitir o saber, o saber fazer, despertar o gosto pelo aprender e contribuir para que se alcance a independência e a autonomia. E assim, o professor deve se preocupar com essa nova identidade da educação e se preparar para enfrentar os desafios. Também vale ressaltar aqui a importância de estarmos atentos às grandes e rápidas mudanças que nossa sociedade sofre a cada dia e que a educação diante de tais mudanças não fica estática. Mesmo sabendo que a criação da LBD, se deu diante de um reflexo direto das políticas da época e representando de alguma 29METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância forma a intencionalidade de alguns grupos, ela é fundamental para o desenvolvimento da educação brasileira e muito depende de nós, docentes bem preparados para se fazer cumprir as leis e determinações nelas expostas e depende também de nós caminharmos, refletirmos as necessidades de mudanças e os caminhos para tal. Nesse cenário da atualidade da educação superior, podemos destacar ainda, a utilização das novas tecnologias em que se pode visitar qualquer canto do mundo, sem sair do lugar, basta estar diante da tela de um computador que tenha acesso à internet. Para Libâneo, Oliveira e Toschi (2005, p. 66): Tais avanços tornam o mundo pequeno e interconectado por vários meios, sugerindo- nos a ideia de que vivemos em uma aldeia global. As informações circulam de maneira a encurtar distâncias e reduzir o tempo, o que se deve à multiplicação dos meios, dos modos e da velocidade com que são propagadas ou acessadas atualmente. As informações se propagam em uma velocidade estrondosa, fazendo com que o professor não seja mais o único detentor do saber, muito menos um transmissor dele. Também nesse aspecto, ele precisará organizar suas práticas para lidar com essa evolução e tirar proveito delas para enriquecer suas metodologias e consequentemente suas aulas. Ainda de acordo com Libâneo, Oliveira e Toschi (2005), as mídias estão presentes em espaços sociais e fortemente ligadas à vida das pessoas. Embora muitas vezes esses meios de comunicação procurem transmitir uma realidade velada ou moldada de acordo com determinadas ideologias, é por através deles que a grande maioria das pessoas recebe informações. Chega o momento em que o professor precisa se adequar para ser o mediador do conhecimento. Ainda é necessário saber minuciosamente o conteúdo que se vai ministrar, contudo, é preciso entender que novos pontos de vista podem ser ressaltados e que os acadêmicos não são seres estáticos que apenas ouvem aquilo que é transmitido. É preciso que o professor maneje o conhecimento levando seus alunos à reflexão. 30 METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância O que é educação A educação está em todos os lugares e no ensino de todos os saberes. Assim, não existe modelo de educação, a escola não é o único lugar onde ela ocorre e muito menos o professor é seu único agente. Existem inúmeras educações e cada uma atende a sociedade em que ocorre, pois é uma forma de reprodução dos saberes que compõe uma cultura, portanto, a educação de uma sociedade tem identidade própria. O ponto fraco da educação está nos seus agentes, pois, com consciência ou não, reproduzem ideologias que atendem a grupos isolados da sociedade. Aí se vê que a educação reflete a sociedade em que ocorre, em sociedades tribais ela é comunitária e igualitária, já em nossa sociedade capitalista, é específica, isolada e desigual. Na Grécia Antiga, a educação denominada de Paideia, se iniciou como comunitária, mas com o de- senvolvimento da sociedade se tornou específica, onde havia uma educação para nobres, outra para plebeus e nenhuma para os escravos, surge a figura do pedagogo, um escravo doméstico que além de conduzir às crianças nobres à escola também era responsável pela sua educação. Em todas as educações gregas o indivíduo era educado para a sociedade como um todo. Em Roma, a educação surgiu como na Grécia, comunitária, mas se desenvolveu de forma diferente, onde a formação do patriarca agricultor sobressaia sobre o cidadão. Mais tarde, surge a escola primária, como a escola de primeiras letras gregas, também surge a escola gramática, e muito mais tarde a de leitor. Havia em Roma a educação que formavam os trabalhadores na oficina de trabalho, e o cidadão era educado para também empregar seu saber na sociedade. A escola surge com o desenvolvimento do cristianismo na Antiga Europa para uma educação que salvaria almas, e isso perdurou até o final do século XIXquando Émile Durkheim começou a ligar educação e sociedade. A educação se transforma em fato social, pois para ele, há um consenso har- mônico que mantém o ambiente social. Então se questiona: Existe mesmo esse consenso? Na verdade, a educação não amplia sua ideia e a prática é bem diferente. Há uma elite capitalista que controla a educação, entretanto, ela ocorre fora das paredes da escola, na comunidade, assim a dominação capitalista encontra resistência política. A única forma de reinventar a educação, como dizia Paulo Freire, é trazê-la ao cotidiano do aluno, fa- zendo com que a vivência e as experiências do indivíduo façam parte efetiva da escola, e a educação será livre e comunitária. ALMEIDA, Marcos Pires. Estrutura e funcionamento da educação básica. Maringá: Cesumar, 2009. 31METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância O texto que você lerá a seguir faz parte da dissertação de Mestrado da professora Gislene, cuja ideia central tange em comprovar a modernidade nas concepções dos jesuítas nos primórdios da educação brasileira: A Educação Jesuítica no Brasil O texto a seguir busca conhecer melhor o Período Colonial no Brasil. Pretende somar esforços na busca de conhecimentos sobre a vida no Brasil nos séculos XVI e XVII na expectativa de oferecer contribuições específicas para a área da Educação. Esta investigação se propôs, através dos documentos escritos nesses séculos, especificamente as CARTAS JESUÍTICAS, comparação com as idéias propostas por RABELAIS, COMENIUS E LOCKE. Esta comparação foi realizada porque ninguém discorda de que estes autores defendem e propagam práticas necessárias à formação do homem moderno. Dessa forma, procuramos demonstrar o quanto a atividade Jesuítica no Brasil Colônia, diferenciando-se da prática da sociedade medieval vivida na Europa, aproxima-se dos intentos que correspondem ao mundo moderno. Nessa empreitada de demonstrar o quanto os Jesuítas já se mostravam como vanguarda em sua prática educativa, defrontamo-nos com o pensamento de alguns historiadores da Educação que de- fendem tese contrária a nossa. Muitos desses autores, entre eles Martins, Severino, Tobias, Cotrim, acabam qualificando moral e aprioristicamente os atos dos padres no contexto brasileiro. Apresentando a educação de forma emancipada da produção de vida humana existente na Colônia, muitos livros de História da Educação apresentam uma visão reduzida do processo social, que impos- sibilita a compreensão do fenômeno educativo enquanto expressão das relações humanas. Nesse sentido, acusam os padres de ministrarem um ensino totalmente desvinculado da realidade aqui ex- istente, vendo o mesmo como um simples transplante da educação européia, ou melhor, como uma mera cópia daquela educação com padrões escolásticos. Ao não estabelecerem relações entre atividade social e educação, muitos historiadores acabam apre- sentando a prática educativa dos Jesuítas na Colônia como totalmente desvinculada das relações vigentes nessa sociedade, eliminando-se, dessa forma, qualquer possibilidade de entendimento da pedagogia em sua totalidade. Por acreditarmos que em conformidade com as relações existentes em uma sociedade é que se objetiva um tipo de educação, isto é, por acreditarmos que as formas que a educação assume cor- respondem às necessidades e às possibilidades dos homens em uma época, é que nos dispomos, mostrar o quanto a prática dos jesuítas correspondia às necessidades existentes no contexto colonial brasileiro, já preso à modernidade, afastando-se, dessa forma, das práticas medievais. Nossa hipótese se deve ao fato de que, ao analisarmos as Cartas Jesuítas, notamos que há algo de novo na forma de observar e descrever a natureza e a realidade aqui existentes. Quando os padres descrevem o clima, a fauna e flora, não estão meramente enumerando as riquezas deste novo mundo, mas querendo assinalar que ele apresenta condições favoráveis para o aumento delas. Podemos dizer que essas descrições se aproximam de um marketing, de procura intencional de lucratividade, correspondendo mais às expectativas da modernidade do que às expectativas religiosas vinculadas à escolástica. 32 METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância Os padres, ao descreverem a fauna e a flora aqui existentes, deixam claro em seu discurso a possibili- dade de se aproveitarem melhor da natureza em sua totalidade. Portanto, os Jesuítas ao olharem para o novo mundo, não o contemplam como simples obra do Criador, mas o analisam e o observam com espírito pragmático. Como podemos verificar nas Cartas, nesse contexto a preocupação econômica é constante. Percebemos que a modernidade está falando mais alto do que o espírito escolástico, que se caracteriza por disputas, temas teológicos, filosóficos ou de Direito. A forma como os Jesuítas apreenderam a realidade aqui existente se aproxima muito da assumida por alguns Cronistas da mesma época que, por não estarem diretamente comprometidos com a vida reli- giosa e sua propagação, tinham interesse em descrevê-la de acordo com a curiosidade que a Colônia despertava ou por interesse privado na busca de riqueza. É importante encaminhar essa comparação entre Cronistas e Jesuítas porque os primeiros não costumam ser acusados de retrógrados ou de escolásticos quando descrevem os aspectos da natureza e os relacionamentos entre os homens à época dos descobrimentos. Entre esses Cronistas podemos citar Pero de Magalhães Gandavo (Tratado da Terra do Brasil e História da Província de Santa Cruz), Gabriel Soares de Souza (Tratado Descritivo do Brasil). Suas obras foram elaboradas durante o século XVI e não apresentam apenas o propósito de realizar uma mera descrição da Colônia, mas tratam dos aspectos importantes aos olhos daqueles que estavam interessados em se estabelecerem nessas terras sob formas diversas daquelas deixadas em sua pátria. Como exemplo, podemos lembrar o quanto os padres se preocupavam em demonstrar que o novo mundo apresentava condições de vida plenas de vantagens materiais. Essa intencionalidade de acentuar as vantagens materiais podemos observar em outro cronista, Vicente do Salvador, em sua obra História do Brasil. A natureza animal também é descrita, tanto pelos Cronistas como pelos Jesuítas, sob o mesmo princípio: a utilidade das coisas. Por exemplo, os animais são pensados para a alimentação, à com- ercialização, como escudo protetor para a defesa pessoal, como instrumento de trabalho. Os estu- dos descritivos também os classificam quanto ao grau de nocividade, beleza, quantidade, qualidade. Mostram o desenvolvimento das investigações da Botânica (para fins medicinais), da Biologia, da Anatomia. Enfim, mostram interesse por conhecimentos que favorecem a melhor forma de o homem viver com maior proveito na terra descoberta. Através desse confronto dos textos dos Cronistas com as Cartas Jesuítas observamos que a de- scrição realizada, tanto pelos padres quanto pelos Cronistas, em relação à fauna e flora, à fertilidade do solo, bem como a justificativa da necessidade do trabalho escravo, nos falam de um pensamento que se unifica, sem os limites da religiosidade escolástica. Assim, podemos dizer que os Jesuítas, tal como os Cronistas, envolvidos ou não no processo de colonização realizado no Brasil, não apresen- tam comportamentos característicos da medievalidade. Defendendo a tese de que os Jesuítas apresentam no Brasil Colônia comportamentos que expres- sam a modernidade nascente é que nos propusemos a analisar a sua prática educativa. Porém, faz- se necessário deixar claro nosso entendimento de que a educação ministrada em um determinado contexto não constitui um fenômeno independente da realidade social, mas encontra-se vinculada ao desenvolvimento histórico. Podemos lembrar que, de acordo com a forma como os homens organizam e promovem a produção de sua vida, assim também se organiza o processo educacional.Partindo desse pressuposto é que iniciamos e desenvolvemos o nosso trabalho. Comparamos a práti- 33METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância ca pedagógica dos Jesuítas no Brasil Colônia com a dos pensadores Rabelais (Pantagruel e Gargân- tua), Comenius (Didática Magna) e Locke (Pensamientos sobre la Educación), pois acreditamos que a marca da modernidade se faça presente tanto nesses escritores quanto nos nossos primeiros educa- dores. Propomo-nos especificar e comparar o que esses pensadores e os Jesuítas têm em comum em termos de educação, pretendendo demonstrar, assim, o quanto os Jesuítas se mostravam avançados em sua ação pedagógica no Brasil Colônia. A análise das obras desses autores nos possibilitou compreender, de maneira mais sensível, os sécu- los XVI e XVII, de efervescentes acontecimentos, em que os homens acreditam em seu poder de ação e transformação da realidade. Portanto, em comum e em vigor surge uma nova forma de perceber o homem, diferentemente da concepção da Idade Média e, também, uma nova prática, que não apre- senta características da filosofia escolástica. Quando lembramos que a Cia de Jesus foi criada em 1540, aprovada pelo Papa Paulo III, com a intenção de combater a Reforma protestante e, com ela todas as idéias que se opusessem à doutrina ou às práticas defendidas pelo Papado, fica difícil, nesse quadro, defendermos a modernidade dos Jesuítas originalmente organizados para impedir a transformação social e política em curso no espaço europeu. No entanto, nossa hipótese é de que os Jesuítas que se prontificaram a acompanhar a emp- reitada colonizadora portuguesa, ou que vieram para o Brasil com a intenção de evangelizar os povos, eram tão progressistas quanto os mais ousados pensadores do mundo europeu, que garantiram o desenvolvimento da sociedade burguesa. Sem eliminar as contradições e diferenças específicas a contextos estranhos (Portugal e Brasil nos séculos XVI e XVII) acreditamos que o pensamento moderno e não a filosofia escolástica, tenha co- mandado a prática dos primeiros mestres do Brasil. Através de uma rápida visão panorâmica da modernidade, procuramos, demonstrar o crédito que a so- ciedade burguesa em ascensão e os jesuítas depositam na educação. Salientamos, neste momento, a importância dada ao processo educacional como sendo um elemento teórico-prático indispensável para que os homens concretizassem uma nova ordem social. Procuramos lembrar, da mesma forma que as transformações ocorridas na sociedade, com suas mudanças no modo de produção não acontecem do dia para a noite, que a forma de ser da sociedade feudal não deixa de existir de uma hora para outra, do mesmo modo que as idéias mais arraigadas dos homens não se alteram apenas ao alvorecer de um novo dia. No interior de uma sociedade em transição, o velho e novo encontram-se em constante embate, isso significa dizer que duas formas de conceber a realidade confrontam-se violentamente para assumir o controle da sociedade: o divino e o mundano, o medo e a esperança, a fé e a razão. Excluir qualquer uma delas é excluir o entendimento dos processos de transição ou de mudança. É nesse ambiente complexo de dúvidas, questionamentos, de surgimento de novos conhecimentos e novas formas de conhecer, da invenção da imprensa, da descoberta de novos continentes, de avan- ços marítimos, do dinamismo do comércio com suas conseqüências, que os homens paulatinamente, começam a vislumbrar outro horizonte, falando sobre uma nova forma de existência e exercitando novas formas de conhecimento. Neste contexto, a concepção de mundo, de homem, de religião, apregoada pelo feudalismo, é abalada em sua estrutura e, sistematicamente, vai sendo rejeitada. Há uma mudança no encaminhamento quanto à espiritualidade. A preocupação com a salvação vai diminuindo diante das atividades que 34 METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância estão sendo desenvolvidas e que apontam para outras direções. A preocupação com os homens concretos, com sua organização na Terra, adquire primazia. Nesta nova forma de ser da sociedade, o homem é transformado no centro das preocupações. A preocupação primordial neste momento é o homem como centro das atividades. Como organizar as atividades dos homens é fundamental. Coloca-se o homem no controle do seu próprio destino. É no conjunto desses acontecimentos e fenômenos, com base no qual temos os Jesuítas acreditando em seu poder de ação e transformação da realidade, que temos o compreensão de que a educação Jesuítica segue os caminhos da modernidade. No Brasil, à época do seu descobrimento, os embates entre católicos e protestantes não existem. O papel da Cia de Jesus na Colônia não é assegurar a vitória política dos católicos sobre formas coerciti- vas ou inquisitórias. Aqui, o trabalho dos Jesuítas só tem significado enquanto expansão dos territórios sobre bandeira cristã, já que civilizações tribais desconheciam até mesmo a existência de Cristo e da Bíblia e deviam ser educadas para conviverem com a auto disciplina e o trabalho, ou melhor, com a organização das condições para novas relações sociais. Neste contexto os Jesuítas demonstram seu crédito na educação e na organização social onde exista lei-rei-fé. Buscando entender a vida e a educação no Brasil recém-descoberto analisamos, detalhadamente, a prática pedagógica dos Jesuítas na Colônia, e percebemos o quanto esses padres acreditavam, da mesma forma que os pensadores modernos, no poder da educação, o quanto eles acreditavam, na prática, na possibilidade de a educação transformar o índio em um homem civilizado e produtivo. Portanto, examinamos as atividades dos Jesuítas à luz das idéias propostas por Rabelais, Comenius e Locke. Isto porque ninguém discorda de que estes autores defendem e propagam as práticas ne- cessárias à formação do homem moderno. Com isso nos propusemos a defender a idéia de que os princípios da modernidade se fizeram presentes na prática educativa dos Jesuítas no Brasil Colônia. Através das cartas procuramos examinar todos os recursos didáticos utilizados pela Ordem de Loyola na transformação da sociedade tribal em uma sociedade organizada pelo trabalho disciplinado. Os Jesuítas, ao tentarem, pelo poder da educação extinguir todos os comportamentos típicos da sociedade indígena, demonstram acreditar que o homem pode ser por outro transformado. Tal como qualquer renascentista ou pensador moderno, a preocupação dos Jesuítas era com uma política edu- cacional transformadora. Acreditavam eles na transformação dos homens através de um trabalho pedagógico, humano e humanizado. Aos homens que ensinavam cabia a responsabilidade pelas mu- danças e são com estas idéias que eles acreditam na superação do homem primitivo, transformando-o em um ser capaz de produzir e prover sua existência sob outra forma de organização social. Transformar pela educação (mesmo a religiosa) as relações existentes não é uma exigência da medi- evalidade, é uma necessidade moderna o crédito na educação, nova crença, não significa que os Je- suítas tenham rompido com a fé no Criador, mas apenas minimizaram o poder da Divina Providência sobre as coisas terrenas e delegaram aos homens maior responsabilidade na Terra. Tocar o sino, levantar, rezar, plantar, colher, cantar, participar de eventos, responder por novos hábitos sociais, garantiam a educação Jesuítica coerência e realidade. Comparando dados, temos que, a prática assumida pelos Jesuítas quanto à observação, quanto à experiência, é ressaltada por Rabelais quando este critica os conhecimentos escolásticos como esté- reis. Enquanto Comenius aconselha a observação como remédio contra as superstições, os Jesuítas dissecam plantas, transformando-as em medicamentos. 35METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância Estar aberto para examinar as coisas do mundo é o que garantiu aos Jesuítas a convicção de que poderiam influir nos acontecimentos.Tal como Comenius, eles acreditavam que o professor deveria aprender observando. A opção pela educação inclui o reconhecimento da natureza do aprendiz, da- quilo que se pretende mudar nele ou na sociedade. Tanto Comenius como os Jesuítas se propuseram a tornar os homens livres de seus instintos e suas paixões, através da educação o propósito religioso de negar a antropofagia, o canibalismo, a nudez, a feitiçaria entre outros hábitos selvagens revela também a capacidade dos padres de examinarem as condições concretas da sociedade indígena. Os Jesuítas apresentam práticas modernas quando não estimulam nem o silêncio, nem a meditação, nem a esmola, nem a caridade – comportamentos típicos da Idade Média – mas quando estimulam novos hábitos alimentares, de higiene, cuidados com a saúde, busca de conhecimentos úteis para a preservação física, e também o amor pelo trabalho disciplinado. Dessa forma, os Jesuítas assumem no Brasil Colônia uma prática educativa que nada tem a ver com as características da sociedade medieval. A necessidade de superar a sociedade tribal, que não tem trabalho disciplinado e nem orga- nização social definida por leis civis, pela educação, pode ser verificada pelos objetivos dos Jesuítas, que buscaram de todas as formas a mudança de comportamento, hábitos e atitudes dos índios. Em outro contexto Rabelais também apresenta a preocupação em educar o homem no sentido de que ele saia de seu estágio inferior e entre para um estágio mais desenvolvido. Educar corretamente como nos fala Rabelais, implica um procedimento que é capaz de transformar um imbecil em um homem sábio, integrado ao mundo dinâmico. Essa transformação necessária, realizada pelos padres colonizadores, por si só não dava lugar so- mente para orações, reflexões, jejuns ou meditações. Nas condições colônias a vida dos missionários no Brasil não se fazia apenas de palavras, orações, mas principalmente de obras. As atividades dos Jesuítas perante a nova ordem muito se distancia das características dos monges da Idade Média descritas por Rabelais. Aqui no Brasil os Jesuítas assumiram um dinamismo direcionado para o futuro material da sociedade e não para a preservação de relações político-religiosas em desaparecimento na Europa. Os Jesuítas interferem na educação dos nativos com o objetivo de transformá-los em homens do mun- do português, obedecendo às novas leis e reconhecendo novas autoridades. Em Rabelais também verificamos a necessidade de mudar e ultrapassar certas formas de ser. Em sua obra o personagem Gargântua também recebe dois tipos de educação: a escolástica e a moderna. Mas somente a educa- ção moderna é vista como capaz de transformar Gargântua em um ser importante para a sociedade. Os Jesuítas no Brasil Colônia expressando preocupações modernas de como educar a criança, prior- izam o ensino dos meninos em detrimento do ensino dos pais, pois estes se mostravam inflexíveis para internalizarem novos hábitos e costumes. Educar é transformar, e é mais fácil transformar crian- ças, que são vistas como seres frágeis e mais dependentes que os adultos. Comenius também compartilha do princípio de que a educação na primeira idade é mais importante que na maturidade. A educação do homem é mais viável e se faz com muito mais facilidade caso acompanhe o crescimento natural. Comenius compara a criança a uma planta e acredita que ela irá conformar-se à direção que lhe será dada. Os adultos já com hábitos arraigados, apresentam maior resistência às alterações sugeridas. Analisando a pedagogia dos Jesuítas verificamos que ela parte do princípio de que o homem deve- ria ter sua vontade educada, submetendo-a ao jugo da razão e não às suas inclinações. Por isso o 36 METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância processo de doutrinação dos indígenas pressupõe a destruição da própria organização social. Para se constituir uma nova organização social é preciso um homem que, pelo autocontrole e pela auto- disciplina, obedeça a novas regras, que são justificadas pela razão. É a razão que vai assegurar na educação da modernidade, comportamentos considerados necessários para a construção da nova ordem. Também Comenius afirma a necessidade de os homens serem educados segundo a razão e não segundo inclinações e paixões, tornando-se, desta forma, senhor de seu destino. Educar para a razão, quer o corpo ou a mente, dominar as paixões, as inclinações, os instintos, submeter-se às regras ou às leis que garantam uma organização social considerada de melhor quali- dade são temas verificados em Locke. Também segundo esse autor, a leitura e a escrita devem ser adquiridas num momento posterior quando o indivíduo já adquiriu as virtudes consideradas ideais ao convívio social. O entendimento moderno de Locke e dos Jesuítas sobre como se realiza a compreensão humana é semelhante. Antes de Locke os Jesuítas já estavam encaminhando práticas que revelavam a crença no ser humano como dotado de potencialidades capazes de serem moldadas. Os Jesuítas, também utilizando-se de estratégias sacras como sermões, missas, romarias, iam gra- dativamente transformando o indígena num leal servidor do rei. A prática dessas estratégias não tinha somente o objetivo de levar os índios a assimilarem atitudes religiosas, mas eles também iam apren- dendo sobre a organização e a harmonia das tarefas, cooperação, disciplina, manutenção da ordem, enfim, deviam regular-se por normas estranhas à sociedade tribal. Portanto, os padres não trans- plantaram a educação européia para a Colônia, mas adequaram-na à realidade brasileira, com muita observação, escolheram o caminho da Psicologia para obterem mais sucesso em seus objetivos. Na evangelização do ser bárbaro, para torná-lo um ser civilizado, a Psicologia é o recurso preferido no plano da transformação dos homens. Essa metodologia, que dá importância aos prazeres físicos, está muito mais vinculada à observação, à vida concreta do que à vida espiritual. A preocupação dos Jesuítas com a Psicologia exigia que os planos educativos se preocupassem menos com o poder da graça e mais com o poder dos estímulos materiais. Locke, apesar de se encontrar num outro contexto, afirma que os homens, na nova socie- dade, devem dispor de certa Psicologia para conviver socialmente. Ainda com o objetivo de concentrar a atenção dos gentios nos conteúdos que eram divulgados, e também para impressioná-los, os Jesuítas partiram da realidade em que se encontravam seus apre- ndizes. Constataram o gosto pelo canto, pela dança e por instrumentos musicais, e deles partiram, substituindo gradativamente esses instrumentos pelos órgãos e flautas, e trocando as letras de suas canções tribais por outras, da religião cristã. A clareza dos padres em escolher meios para os fins de transformação revelam a sua sabedoria. Todas as atividades eram intencionalmente planejadas para atrair os indígenas ao convívio com os padres. Através da observação e da experiência os padres estimulavam a imitação, as fantasias, ou as brincadeiras infantis. Através desses recursos estimulavam os filhos dos gentios a participarem das celebrações religiosas catequizando-os. Mas somente eram escolhidos para auxiliarem nas celebra- ções da cristandade os indiozinhos que apresentassem comportamento exemplar. Também Locke, no processo educativo, valoriza os exemplos vivos de homens necessários à sociedade. O prêmio é dado aos que merecem, e os que merecem são os que internalizam as novas ordens (civis). Os Jesuítas também utilizavam encenações teatrais. O conteúdo a ser internalizado era transmitido 37METODOLOGIA DE ENSINO | Educação a Distância de forma descontraída, assemelhando-se a uma comédia. Mobilizando o indígena pela alegria e pela descontração, os Jesuítas iam desvalorizando, através da sátira, os seus costumes inveterados, e em contrapartida, iam enaltecendo os costumes dos colonizadores. A promoção da alegria presente
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