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CENEBRA EDUCACIONAL 1 CURSO: ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA CENEBRA EDUCACIONAL 2 Gestão Estratégica Orientada para Resultados Introdução Aceito o planejamento estratégico, num sentido amplo, como as diretrizes que ajudam a eleger as ações adequadas para atingir as metas da organização, se pode argumentar que ele cria as condições adequadas para a tomada de decisões em relação às ações propostas, ou seja, é um meio para estabelecer o propósito da organização, definindo os objetivos, programas de ação e prioridades na con- cessão de recursos. Processo de planejamento estratégico: visão de Bateman e Snell A primeira perspectiva das etapas do processo de planejamento estratégico é adaptada de Bateman e Snell (1998, p. 123): Visão de Maximiano A perspectiva proposta por Maximiano (2006, p. 333) inclui o conceito do planejamento estratégico como um processo cíclico, com a relação entre o processo de monitoramento e controle com CENEBRA EDUCACIONAL 3 os ajustes na análise da situação estratégica. Fonte: Maximiano (2006). . Visão de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel Na análise do processo feita por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), os autores consideraram duas novas variáveis que influenciam diretamente o processo, os valores gerenciais e a responsabilidade social. Fonte: Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). CENEBRA EDUCACIONAL 4 Explicitados os aspectos mais relevantes no esforço de compreensão da relevância do planejamento estratégico na adoção de parcerias estratégicas flexíveis, podemos avançar na concepção e fundamentos para se concretizar esse tipo de parceria. Gestão orientada para resultados Missão Diagnóstico do Ambiente Objetivos Estratégicos Indicadores de Desempenho CENEBRA EDUCACIONAL 5 Metas de Desempenho Monitoramento de Desempenho x Planos de Ação Figura 4 Gestão orientada para resultados. Visão e missão institucional da organização A razão de ser da organização é a sua missão. O seu enunciado é CENEBRA EDUCACIONAL 6 uma referência para orientar os membros da organização quanto às atividades, à filosofia, conceito, valores e princípios da organização. É por meio da definição da missão que se busca agregar e facilitar os esforços e sinergias para alcançar os objetivos da organização. Definição de missão A importância de uma definição adequada de missão numa organização é deixar evidenciado o principal bem ou serviço que a instituição proporciona diretamente a um usuário externo. Assim, numa missão deve-se estabelecer o marco que justifica a intervenção pública no âmbito de responsabilidade; capacidade de manter o foco diretivo no importante; conseguir encaminhar os apoios políticos e capacidades administrativas da instituição; e mostrar aos grupos de interesse a criação de valor público esperado. A declaração da missão deve ser objetiva, sintética, e de fácil compreensão, de forma a identificar as características únicas da organização. Perguntas orientadoras para a definição da missão Para que existe a instituição/programa? Quais são os principais produtos que gera? Quais são os usuários externos e internos? CENEBRA EDUCACIONAL 7 Podem outros oferecer os mesmos produtos/serviços? Qual é a especificidade da instituição/programa? Qual é o público-alvo e a cobertura atual? Qual a percepção da equipe diretiva e dos servidores públicos a respeito da instituição/programa? Definição dos objetivos A definição dos objetivos torna possível selecionar as atividades prioritárias para o melhoramento da organização e aproveitar as vantagens. São conquistas que a organização persegue num prazo determinado. Esses objetivos devem ser coerentes com a missão e orientações das políticas ministeriais. Objetivos estratégicos Os objetivos estratégicos devem estar relacionados com a missão e entendidos e compartilhados pelos seus atores e grupos de interesse; devem ser realistas e não muito ambiciosos; e que sejam os mais específicos possíveis. Os objetivos estratégicos devem ser descritos de modo que possam ser compreendidos e utilizados pelos colaboradores. Registre-se que os objetivos estratégicos nas organi- zações públicas, por não visar a lucros, são qualitativos, tornando-os difíceis de serem quantificados, razão pela qual são criados os indicadores de desempenho e os seus respectivos quantificadores. CENEBRA EDUCACIONAL 8 A definição dos objetivos estratégicos deve permitir identificar ações em âmbitos de: programação; processos; cobertura; qualidade; oportunidade do serviço etc. Registre-se que os objetivos estratégicos surgem como resposta a uma pergunta essencial: que devemos conseguir no curto, médio e longo prazo, para ter um acionar coerente com a missão? Metas de desempenho Se os objetivos estratégicos são resultados de uma dimensão mais geral que a organização pretende alcançar, as metas de desempenho devem ser mais concretas e objetivas, visto que são necessárias ao atendimento dos objetivos e um referencial para a avaliação do desempenho organizacional. Deve-se priorizar, no pro- cesso de definição de metas de desempenho, aquelas que tenham impacto direto e maior com os objetivos estratégicos. Nesse sentido, as metas de desempenho devem definir os níveis de desempenho mínimos aceitáveis, no curto e médio prazo. Elas devem possuir as mesmas medidas de seus respectivos quantificadores. A partir dessas características, pode-se argumentar que as metas constituem a expressão concreta, quantificável dos resultados que se planeja alcançar num determinado período de tempo, com relação ao objetivo e produto identificado. Nesse sentido, contêm uma declaração explícita de níveis de atividades que se pretende alcançar, CENEBRA EDUCACIONAL 9 num horizonte limitado de tempo. Para a construção de metas, além do componente de realismo da meta (ou seja, sua factibilidade), é necessário levar em consideração o elenco de dimensões de desempenho da gestão, que é traduzido na eficiência, eficácia, qualidade e economia. Isso implica na necessidade da geração de compromissos internos, tendo como referência que o seu cumprimento não deve depender de outras or- ganizações ou de fatores exógenos. Monitoramento do desempenho O monitoramento do desempenho é o processo administrativo que indica que aquilo que uma organização está realizando está consistente com o que ela decidiu fazer. Nesse sentido, é relevante destacar que a sistemática de monitoramento do desempenho necessita ser implementada de forma rápida, visto que dessa celeridade depende a obtenção dos planos de ações e a melhoria no desempenho. Planos de ação Os planos de ação são os responsáveis por promoverem a melhoria contínua da organização. Eles são apresentados em reuniões mensais por todos os responsáveis, traduzidos na planilha de monitoramento do indicador de desempenho. CENEBRA EDUCACIONAL 10 Indicadores sociais Observa-se que os indicadores sociais e as metodologias para viabilizar a sua formulação voltaram a fazer parte da agenda das ciências sociais e das preocupações dos gestores públicos. Essa novatendência decorre, entre outros motivos, da exigência de organismos internacionais que financiam programas e projetos em políticas públicas, e que necessitam mensurar o desempenho dos programas e projetos, bem como legitimar as políticas governamentais, democratizar as informações e a avaliação de políticas públicas. Os indicadores são ferramentas gerenciais relevantes de gestão para a administração pública, assim como um instrumento essencial para a fiscalização, controle e acompanhamento da gestão pública por parte da sociedade organizada. Nesse sentido, indicadores são instrumentos de medição das variáveis sociais, entendidos como as medidas que descrevem como uma instituição está alcançando seus objetivos e metas. Deve-se ressaltar, em relação à produção de indicadores — que são utilizados tanto pela administração pública como pela sociedade civil —, que os mesmos devem ter clareza do que se pretende medir; qualidade e precisão na produção das informações que comporão os indicadores; cautela e cuidado na interpretação das informações disponíveis; e permitir que os indicadores sejam compreendidos pela CENEBRA EDUCACIONAL 11 sociedade. Metodologia Balanced Scorecard (BSC) Introdução A metodologia denominada balanced scorecard (BSC) surge no início de 1990, desenvolvida por Robert Kaplan e David Norton, por meio da publicação do estudo intitulado "Measuring performance in the organization of the future", patrocinado pelo Instituto Nolan Norton, a unidade de pesquisa da KPMG. Registre-se que o BSC ganhou uma ampla divulgação em 1992, quando foi reconhecido como um processo revolucionário que mudava completamente a forma de gestão nas empresas. Ao longo da sua evolução transformou-se num sistema de gestão estratégica muito mais abrangente que o projeto original. Os gestores, na concepção de Kaplan e Norton (1997), precisavam mais do que apenas indicadores do desempenho de sua área. Diante dessa constatação, propuseram uma metodologia que fornecesse aos gestores instrumentos que visassem auxiliá-los para alcançar os objetivos pretendidos em um momento futuro e conhecer os aspectos que envolvem o ambiente e o desempenho organizacio- nal, auxiliando o alcance da excelência empresarial. A metodologia BSC é um conjunto de indicadores que proporcionam à gestão uma compreensão da visão estratégica dos CENEBRA EDUCACIONAL 12 negócios, constituindo-se como uma ferramenta que traduz a visão e a estratégia das empresas em um conjunto coerente de indicadores, sejam eles financeiros ou não financeiros. Para Kaplan e Norton (2004), os objetivos principais são: esclarecer e traduzir a visão e a estratégia; comunicar e associar objetivos e medidas estratégicas; planejar, estabelecer metas e alinhar iniciativas estratégicas; e melhorar o feedback e o aprendizado estratégico. Para implementar a estratégia nas organiza- ções, o BSC viabiliza processos gerenciais críticos definidos previamente: a) Esclarecer e traduzir a visão e a estratégia: esclarece e estabelece um consenso entre os gestores acerca da visão e dos objetivos estratégicos da organização. A visão e a estratégia devem ser expressas como um conjunto integrado de medidas e objetivos definidos, para que todos tenham o mesmo entendimento dos planos estratégicos e do sucesso almejado; b) Comunicar e associar objetivos e medidas estratégicas: comunica e estabelece metas associadas aos objetivos, onde a participação de todos na empresa é de fundamental importância, pois devem ter a compreensão das ações, e à consecução dos objetivos. Isso faz com que todos entendam a estratégia adotada e fiquem alinhados com os processos de mudanças necessários; CENEBRA EDUCACIONAL 13 c) Planejar, estabelecer metas e alinhar iniciativas estratégicas: esse processo busca integrar a estratégia ao processo financeiro. Utilizando as medidas do BSC como base para a alocação de recursos e definição de prioridades, os gestores podem concentrar a sua atenção nas iniciativas que visem alcançar os objetivos estratégicos a longo prazo sem prejuízo dos objetivos do curto prazo; d) Melhorar o feedback e o aprendizado estratégico: este processo é considerado o aspecto mais inovador, aquele que realmente cria um diferencial competitivo sustentável. Como podem surgir novas oportunidades ou respostas a ameaças não previstas na formulação do plano estratégico inicial, os gestores devem avaliar se os objetivos continuam válidos. Caso contrário, devem ajustar a estratégia e, se necessário, efetuar mudanças na estratégia. Uso do BSC na administração Administração é o processo de planejar, organizar, dirigir e controlar o uso de recursos a fim de alcançar os objetivos. Com vista a alcançar esse propósito, o balanced scorecard (BSC), formulado por Kaplan e Norton (2000), se apresenta como um instrumento de gestão organizacional relevante, capaz de fornecer um referencial de análise da estratégia orientada para a criação de valor futuro, CENEBRA EDUCACIONAL 14 estruturado segundo quatro diferentes perspectivas: financeira, que envolve a estratégia de crescimento, de rentabilidade e de risco, sob a ótica do acionista; cliente, importando na estratégia de criação de valor e diferenciação, sob a perspectiva do cliente; processos de negócio internos, que enfoca as prioridades estratégicas de vários processos de negócio, que criam satisfação para os clientes e acionistas; e aprendizado e crescimento das pessoas, alcançando as prioridades para o desenvolvimento de um clima propício à mudança organizacional, à inovação e ao crescimento. Para aqueles autores, essas quatro dimensões são relacionadas entre si a partir da estratégia organizacional. No processo de implantação do BSC, é preciso definir claramente os objetivos e estratégias da empresa, e alinhar o resto da organização com os objetivos propostos; revisar os processos internos ineficazes para o atendimento desses objetivos; definir indicadores controláveis e quantificáveis, e efetuar seu controle sistemático. Nesse sentido, busca-se proceder inicialmente a um alinhamento entre a visão e missão da organização e objetivos e estratégias, tanto gerais como de cada área. Esse processo, com a utilização da metodologia do BSC, torna-se rápido e eficiente, permitindo que cada departamento ou indivíduo saiba de forma clara o que tem que fazer para colaborar com a organização para alcançar os fins preconizados. CENEBRA EDUCACIONAL 15 No que se refere à utilização do balanced scorecard em organizações do setor público, exige-se que sejam observadas algumas premissas como: o foco do esforço deve estar nos conceitos de planejamento, de controle e de estratégia; observar as diretrizes institucionais já existentes (crítica e adaptação) e as interações entre as ações; as dimensões gerenciais propostas no BSC tradicional devem ser tomadas como uma orientação básica para a composição de um modelo (também geral) para a administração pública, incorporando os devidos desdobramentos e transformações das dimensões estratégicas originais; e cada organização deve transformar o modelo e traduzi-lo em sistemas corporativos aderentes à sua realidade e necessidades gerenciais. Deve-se observar também, quando se tratar de organizações públicas, que uma parcela substancial de seus objetivos, definidos com maior ou menor clareza, já estão estabelecidos no plano constitucional ou legal, fator capaz de gerar substanciais limitações à reorientação estratégica.Por sua vez, considerando que as dimensões estratégicas do BSC constituem um padrão básico de referência, e não uma norma hermética e inflexível, é necessária a sua adaptação a cada segmento de atuação ou organização estatal. Registre-se que no âmbito do governo federal, a utilização do balanced scorecard está cada vez mais presente. Constata-se, nos últimos anos, que está havendo uma crescente preocupação de CENEBRA EDUCACIONAL 16 inúmeras organizações públicas da administração direta e indireta, fundações, e empresas públicas em adotar uma gestão estratégica. Vantagens do uso do BSC para a organização A utilização do BSC, conforme ressaltam Kaplan e Norton (1997), permite que a organização quantifique os resultados pretendidos em longo prazo, identifique mecanismos e forneça recursos para que os resultados sejam alcançados, e estabeleça referenciais de curto prazo para as medidas financeiras e não financeiras envolvidas no projeto. O BSC integra as medidas derivadas da estratégia, focalizando o desempenho organizacional a partir de quatro perspectivas distintas e complementares: perspectivas financeiras, do cliente, dos processos internos e perspectiva do aprendizado e crescimento; essas quatro perspectivas formam a estrutura do BSC. Observa-se que o BSC é estruturado em seu modelo clássico em quatro perspectivas. A perspectiva financeira tem como função mostrar aos acionistas como a empresa está desenvolvendo sua estratégia e seu desempenho no negócio. A perspectiva de clientes permite avaliar os desempenhos dos mercados e identificar e atender às expectativas dos clientes. Na perspectiva de processos internos, os executivos identificam os processos críticos em que devem buscar a excelência, a fim de atender aos objetivos dos acionistas e de segmentos específicos de CENEBRA EDUCACIONAL 17 clientes. Os objetivos e medidas dessa perspectiva derivam de estratégias explícitas voltadas para o atendimento às expectativas dos acionistas e clientes-alvo. A perspectiva de aprendizado e crescimento tem a função de definir os objetivos em relação à infraestrutura que a empresa necessita para ter sucesso na consecução dos objetivos das demais perspectivas. Para Kaplan e Norton (1997, p. 131), a capacidade de alcançar metas ambiciosas para os objetivos financeiros dos clientes e dos processos internos depende das capacidades organizacionais para o aprendizado e o crescimento. As estratégias para um desempenho de qualidade superior geralmente exigem investimentos significativos em pessoal, sistemas e processos para que sejam alcançadas as capacidades organizacionais necessárias. Essas perspectivas devem estar sintonizadas através de uma relação de causa e efeito, orientando as ações desenvolvidas em cada perspectiva de acordo com a estratégia definida. Dessa forma, o BSC é uma forma para se organizar um determinado conjunto de objetivos em uma cadeia de geração de valor. Esse conjunto organizado de objetivos é chamado de "mapa estratégico". A metodologia do BSC visa traduzir a missão e a visão estratégica de uma organização em termos de metas e objetivos específicos e mensuráveis. Descreve também a forma de estruturar esses objetivos estratégicos, em uma série de medidas-chaves de CENEBRA EDUCACIONAL 18 desempenho, e tem como ponto de partida o mapa estratégico que orientará a definição do conjunto de indicadores que serão utilizados, as metas e os planos de ação para o alcance dos objetivos finais. Mapa estratégico O mapa estratégico é uma arquitetura que descreve a estratégia, identificando a relação de causa e efeito entre os objetivos nas quatro perspectivas do BSC, orienta o desempenho da organização e cria caminhos para conversão de iniciativas e recursos em melhores resultados, mostrando quais medidas são necessárias ao alcance de cada objetivo proposto, bem como os indicadores que serão utilizados para o monitoramento da execução dessas medidas, e ainda quais as iniciativas de cada setor envolvido para o cumprimento das medidas. Para a orientação da estratégia, cinco princípios gerenciais podem ser seguidos, conforme Kaplan e Norton (2004): (a) traduzir a estratégia em termos operacionais; (b) alinhar a organização à estratégia; (c) transformar a estratégia em tarefa de todos; (d) converter a estratégia em processo contínuo; (e) mobilizar a mudança por meio de liderança executiva. Características do BSC O BSC, desenvolvido por Kaplan e Norton (1992), destaca-se CENEBRA EDUCACIONAL 19 como uma relevante ferramenta desenvolvida para suprir a necessidade de executivos que consideravam inadequados os sistemas de medição de desempenho tradicionais, baseados apenas em medições financeiras ou apenas em medições operacionais, fornecendo uma opção balanceada de indicadores que lhes permite analisar o desempenho de suas organizações simultaneamente a partir de diferentes perspectivas. O BSC inclui, além de indicadores financeiros que mostram os resultados das ações já tomadas, três conjuntos complementares de indicadores operacionais ligados à satisfação do cliente, à eficiência dos processos internos e à habilidade da organização em aprender e melhorar, atividades que levam ao desempenho financeiro futuro. Os executivos podem criar um BSC traduzindo as diretrizes or- ganizacionais e estratégicas de suas empresas em indicadores e metas específicos. Nesse sentido, veja a Figura 1, apresentada a seguir. Balanced scorecard como sistema de gestão estratégica Com a disseminação do BSC, assinalam Kaplan e Norton (1996), algumas organizações passaram a utilizá-lo como ferramenta essencial para estruturar um sistema de gestão estratégica, introduzindo um processo de planejamento estratégico composto de quatro subprocessos que auxiliam as companhias a conectar CENEBRA EDUCACIONAL 20 objetivos de longo prazo com ações de curto prazo: Tradução da visão: auxilia os executivos a construir um consenso sobre a estratégia da companhia e expressá-lo em termos que possam guiar o desdobramento das ações nos níveis operacionais; Comunicação e conexão: permite aos executivos comunicar suas estratégias através da hierarquia organizacional e conectá-las a metas setoriais e pessoais; Planejamento de negócio: permite às companhias integrar seus planos de negócio aos planos financeiros; Feedback e aprendizado: fornece à companhia a capacidade de aprendizado estratégico, permitindo realizar os ajustes necessários nas estratégias previamente definidas. Princípios focados na estratégia Para a utilização do BSC, destacam Kaplan e Norton (2004, p. 20-26), as empresas precisam apresentar alguns princípios focalizados na estratégia. Para os autores, esses princípios são os seguintes: Traduzir a estratégia em termos operacionais; Alinhar a organização à estratégia; Transformar a estratégia em tarefa de todos; CENEBRA EDUCACIONAL 21 Converter a estratégia em processo contínuo; Mobilizar a mudança por meio da liderança contínua. A definição do scorecard apresentada é a de "uma ferramenta de gestão estratégica utilizada para administrar a estratégia a longo prazo, e ainda, deve traduzir a missão e a estratégia de uma unidade de negócios em objetivos e medidas tangíveis" (KAPLAN; NORTON, 1997, p. 9-19). Define-se, ainda, como um conjunto de medidas que viabiliza a visão do negócio, complementando as medidas financeiras tradicionais, onde ocorremquatro processos gerenciais críticos (KAPLAN; NORTON, 2004, p. 70): Esclarecer e traduzir a visão e a estratégia: o processo do BSC se inicia com base no trabalho em equipe da alta administração para traduzir a estratégia de sua unidade de negócios em objetivos estratégicos específicos. É necessário que se estabeleça um consenso entre aqueles que são responsáveis pela administração da empresa, visando tornar os objetivos do scorecard numa responsabilidade funcional conjunta do grupo. Após estabelecer metas financeiras e do cliente, a organização deve buscar identificar objetivos e medidas voltados para os processos internos da empresa; CENEBRA EDUCACIONAL 22 Comunicar e associar objetivos e medidas estratégicas: os objetivos e medidas estratégicas do BSC devem ser comunicados a toda a empresa, visando mostrar aos funcionários os objetivos críticos que devem ser alcançados para que a estratégia da empresa seja bem-sucedida. Essa comunicação dá-se em forma de: newsletters, quadros de avisos, vídeos, softwares internos etc. No momento em que os funcionários conseguem compreender os objetivos e medidas da alta administração, eles conseguem estabelecer metas locais de atuação; Planejar, estabelecer metas e alinhar iniciativas estratégicas: devem ser estabelecidas metas para atender os objetivos do scorecard, as quais devem ser de superação para seus processos de atendimento aos clientes, processos internos e objetivos de aprendizado e crescimento; Melhorar o feedback e o aprendizado estratégico: incorpora ao BSC um contexto de aprendizado estratégico, pois cria instrumentos de aprendizado organizacional em nível executivo. Permite que seja monitorada, ajustada e até mesmo modificada a implementação da estratégia. Perspectivas do BSC CENEBRA EDUCACIONAL 23 As perspectivas apresentadas pelo BSC complementam as medidas financeiras existentes, uma vez que enfocam alguns pontos até então não considerados pelas avaliações, tais como: avaliação de cliente, identificação de processos internos a serem melhorados e/ou trabalhados e análise das possibilidades de aprendizado e crescimento, bem como os investimentos realizados em recursos humanos e sistemas e capacitação que podem apresentar mudanças nas atividades. As quatro perspectivas do BSC equilibram os objetivos de longo prazo e curto prazo; mesmo sendo de uma maneira aparentemente confusa, os scorecards bem elaborados se caracterizam pela unidade de propósito, uma vez que as medidas visam à execução de uma estratégia integrada (KAPLAN; NORTON, 1997). “A contemplação das quatro perspectivas pelo scorecard capacita as empresas a acompanhar os resultados financeiros, de forma a monitorar o progresso no desenvolvimento das capacidades e na aquisição de ativos intangíveis necessários para desenvolver um crescimento futuro, complementando os indicadores financeiros já existentes (KAPLAN; NORTON, 2004, p. 37)." Para Kaplan e Norton (1997, p. 155), para elaborar um BSC que traduza a estratégia em medidas, é necessário considerar três princípios que viabilizam sua integração com a estratégia: Relações de causa e efeito; CENEBRA EDUCACIONAL 24 Vetores de desempenho; Relações com os fatores financeiros. Características do balanced scorecard A utilização intensa do balanced scorecard (BSC), conforme sustentam Kaplan e Norton (1992, p. 71) — que surgiu em decorrência das limitações dos sistemas tradicionais de avaliação de desempenho —, revelou-se uma importante ferramenta de gestão estratégica. Assim, o BSC, além de um exercício de medição, motiva melhorias não incrementais em áreas críticas, como desenvolvimento de produtos, processos, clientes e mercados (KAPLAN; NORTON, 1993, p. 134). O balanced scorecard é uma ferramenta que materializa a visão e a estratégia da empresa por meio de um mapa coerente com objetivos e medidas de desempenho, organizados segundo quatro perspectivas diferentes: financeira, do cliente, dos processos internos e do aprendizado e crescimento. Tais medidas devem ser interligadas para comunicar um pequeno número de temas estratégicos amplos, como o crescimento da empresa, a redução de riscos ou o aumento de produtividade (KAPLAN; NORTON, 1997, p. 24-25; 44). A proposta do balanced scorecard, conforme destacam Kaplan e Norton (1997), consiste na construção de um modelo científico para representar a estratégia da empresa de forma clara e objetiva. CENEBRA EDUCACIONAL 25 Nesse sentido, os autores assinalam que o balanced scorecard traduz a missão e a estratégia da empresa num conjunto abrangente de medidas de desempenho que serve de base para um sistema de medição e gestão estratégica. O principal efeito ou realização do BSC é sua capacidade de poder medir tudo dentro da organização. O BSC é um sistema de gestão que permite à organização esclarecer sua visão e traduzi-la em ações. Fornece o gabarito em torno dos processos internos do negócio e dos resultados externos a fim de melhorar continuamente o desempenho e os resultados da empresa. Ele transforma a missão e estratégia da empresa em um conjunto coerente de objetivos mensuráveis, que possam ser analisados, disponibilizados e monitorados pela administração, bem como pelas unidades de negócios, departamentos ou mesmo por colaboradores de uma organização. O balanced scorecard leva o conjunto de objetivos das unidades de negócios além das medidas financeiras sumarizadas. Os executivos podem avaliar até que ponto suas unidades de negócios geram valor para os clientes atuais e futuros e como devem aperfeiçoar as capacidades internas e os investimentos necessários em pessoal, sistemas e procedimentos visando melhorar o desempenho futuro (KAPLAN; NORTON, 1997, p. 2). CENEBRA EDUCACIONAL 26 Princípios da organização focada na estratégia Para Kaplan e Norton (2000, p. 18), as empresas bem-sucedidas do balanced scorecard revelaram um padrão consistente na consecução do foco e do alinhamento estratégico. Para os autores, embora cada organização abordasse o desafio à sua própria maneira, em ritmos e sequências diferentes, observaram a atuação de cinco princípios comuns, que denominaram de princípios da organização focalizada na estratégia. Princípio 1: traduzir a estratégia em termos operacionais: não é possível implementar a estratégia sem descrevê-la. Os mapas da estratégia e os balanced sco-recards cuidam das deficiências dos sistemas de mensuração dos ativos tangíveis da era industrial. Os elos na mensuração das relações de causa e efeito nos mapas da estratégia mostram como os ativos intangíveis se transformam em resultados (financeiros) tangíveis. O uso pelo scorecard de indicadores quantitativos, mas não financeiros (como duração dos ciclos, participação de mercado, inovação, satisfação e competências), possibilita a descrição e mensuração do processo de criação de valor, em vez da simples inferência (KAPLAN; NORTON, 2000, p. 20-21). Princípio 2: alinhar a organização para criar sinergias: este princípio representa o desdobramento do BSC corporativo para as áreas de negócio e de apoio das organizações, de acordo com uma CENEBRA EDUCACIONAL 27 visão organizacional, de processos ou de funções. Princípio 3: transformar a estratégia em tarefa de todos: as organizações focalizadas na estratégia exigem que todos os empregados a compreendam e conduzam suas tarefas cotidianas de modo a contribuir para seu êxito.Em muitos casos, adotaram-se scorecards individuais para a definição de objetivos pessoais. Finalmente, cada uma das organizações bem-sucedidas vinculou a remuneração por incentivos ao balanced scorecard (KAPLAN; NORTON, 2000a, p. 22-23). Princípio 4: fazer da estratégia um processo contínuo: as empresas bem-sucedidas na adoção do balanced scorecard implementaram um processo de gerenciamento da estratégia. Trata- se do que se chamou de "processo de loop duplo", que integra o gerenciamento tático (orçamentos financeiros e avaliações mensais) e o gerenciamento estratégico em um único processo ininterrupto e contínuo. Princípio 5: liderança executiva para mobilizar a mudança: o programa de balanced scorecard bem-sucedido começa com o reconhecimento de que não se trata de um projeto de mensuração, mas, sim, de um programa de mudança. Observa-se que o balanced scorecard (KAPLAN; NORTON, 1992), tratado inicialmente como um sistema de medição de desempenho baseado em indicadores, evoluiu ao longo do tempo, CENEBRA EDUCACIONAL 28 tornando-se uma ferramenta importante de gestão que organiza, de forma lógica e objetiva, os conceitos e as ideias preexistentes sobre gestão da estratégia. Missão e visão da empresa O balanced scorecard, na visão de Kaplan e Norton (1996, 1997), é estruturado a partir da missão e visão da empresa. Ele traduz essa missão e estratégia em objetivos e medidas de desempenho organizado segundo quatro perspectivas diferentes que serão avaliadas por indicadores financeiros e não financeiros, suprindo a necessidade das empresas de indicadores capazes de avaliar e orientar as empresas na geração de valor para o futuro. Nesse sentido, os autores sustentam que: "O balanced scorecard traduz a missão e a estratégia em objetivos e medidas, organizados segundo quatro perspectivas diferentes: financeira, dos clientes, dos processos internos e do aprendizado e crescimento. O scorecard cria uma estrutura, uma linguagem para comunicar a missão e a estratégia e utiliza indicadores para informar aos funcionários sobre os vetores do sucesso atual e futuro. Ao articularem os resultados desejados pela empresa com os vetores desses resultados, os executivos esperam canalizar as energias, as habilidades e conhecimentos específicos das pessoas na empresa inteira, CENEBRA EDUCACIONAL 29 para alcançar as metas de longo prazo" (KAPLAN; NORTON, 1996). As quatro perspectivas apresentadas por Kaplan e Norton (1996): financeira, dos clientes, dos processos internos e aprendizado e crescimento podem ser entendidas através de quatro questionamentos que traduzirão a estratégia da empresa na estrutura do BSC: 1 — Para obtermos sucesso financeiro, como devemos encarar nossos acionistas? 2 — Para sermos bem-sucedidos nos nossos pontos de vista, como devemos encarar nossos clientes? 3 — Para satisfazer nossos clientes e acionistas, em quais processos do negócio interno devemos nos sobressair? 4 — Para sermos bem-sucedidos em nossos pontos de vista, como devemos manter nossa capacidade de aprender e crescer? Assinalam Kaplan e Norton (1996) que, para conseguir alcançar seus objetivos, o balanced scorecard deverá ser utilizado como um sistema para administrar a estratégia no longo prazo e não apenas como um conjunto de indicadores que mostram CENEBRA EDUCACIONAL 30 medidas operacionais não financeiras. É importante que ele seja usado para indicar os resultados esperados. O balanced scorecard deve traduzir a visão estratégica da organização, servindo para evidenciar os planos de negócios e a missão das várias unidades de negócios. O processo de criação scorecard deve esclarecer os objetivos estratégicos de modo a descrever tanto o que foi alcançado como os fatores que alteram os resultados, podendo assim gerenciar os caminhos traçados pela organização fazendo a correção necessária dos rumos traçados. Nesse contexto, alertam Kaplan e Norton (1996) que é necessário compreender que não se deve utilizar um conjunto aleatório de medidas de desempenho financeiro e não financeiro. Essas medidas devem derivar de um processo hierárquico direcionado pela missão da empresa. A missão e a estratégia devem ser traduzidas através de medidas e objetivos tangíveis. As medidas representam o equilíbrio entre indicadores externos voltados para os acionistas e clientes e medidas internas dos processos críticos de negócios, inovação, aprendizado e crescimento. Visão geral das perspectivas do BSC Observa-se que, complementando os indicadores financeiros que mensuram o desempenho passado, o BSC inova com a junção CENEBRA EDUCACIONAL 31 de medidores de desempenho futuro, focados estrategicamente nas perspectivas das Finanças Corporativas — resultado financeiro sob a ótica dos acionistas, dos Clientes — nossos produtos e serviços sob a ótica deles, dos Processos Internos — concentrar esforços nos processos que atendam aos acionistas e clientes e Aprendizado e Crescimento — a capacidade de mudar e melhorar continuamente. A definição e integração dos objetivos e das iniciativas dessas quatro perspectivas constituem os pilares do sistema BSC, que devem ser conectados ao pensamento estratégico da organização, como mostra a Figura 2. Que processos agregam valor? CENEBRA EDUCACIONAL 32 Visão geral das perspectivas do BSC. BSC como sistema de gestão estratégica As empresas que utilizam o BSC como pedra angular de um novo sistema de gerenciamento estratégico têm duas tarefas: primeiro precisam elaborar o scorecard e, depois, utilizar o scorecard. O BSC introduz quatro novos processos que ajudam as empresas a conectar os objetivos de longo prazo às ações de curto prazo. Identificados como vetores críticos por Kaplan e Norton (2000). Os processos e suas principais funções podem ser assim sintetizados: Tradução da visão: ajuda os gerentes a desenvolver o consenso em torno da estratégia da empresa, expressando-a em termos que orientam a ação no nível local; Comunicação e conexão: permite que os gerentes comuniquem a estratégia para cima e para baixo na organização e a conectem às metas das unidades e dos indivíduos; Planejamento de negócios: permite que a empresa integre o plano de negócios e o plano financeiro; CENEBRA EDUCACIONAL 33 Feedback e aprendizado: proporciona à empresa a capacidade de aprendizado estratégico, que consiste em reunir feedback, testar as hipóteses em que se baseou a estratégia e efetuar os ajustamentos necessários. Com o BSC no centro do sistema gerencial, a empresa é capaz de monitorar os resultados de curto prazo sob as perspectivas e avaliar a estratégia à luz do desempenho recente. Assim, o BSC cria condições para que as empresas modifiquem a estratégia em função do aprendizado em tempo real. Por intermédio do BSC, é possível: Esclarecer e traduzir a missão e a visão, iniciando-se com um trabalho de equipe traduzindo a estratégia da instituição em objetivos estratégicos específicos; Comunicar e associar objetivos e mensurações estratégicas, que são transmitidos aos colaboradores através de boletins informativos, quadros de avisos e e-mails; Planejar, estabelecer metas e alinhar iniciativas estratégicas, já que são traçadas conjuntamente metas para atingir os objetivos com três a cinco anos de antecedência, as quais, uma vez alcançadas,permitem a evolução da instituição. CENEBRA EDUCACIONAL 34 Processo de construção do BSC Para a construção de um BSC, Kaplan e Norton (1997) sugerem quatro passos que, se desenvolvidos de forma correta, permitirão a sua consistência. Esses passos são: Definição da arquitetura de indicadores; Consenso em função dos objetivos estratégicos; Escolha e elaboração dos indicadores; e Elaboração do plano de implementação. O primeiro passo para a implementação do balanced scorecard é a definição do objetivo para a sua utilização. Uma vez definidos os objetivos, devem-se identificar as perspectivas a serem utilizadas pela organização. O modelo básico proposto por Kaplan e Norton (1997) está estruturado em quatro perspectivas, mas os autores entendem que é possível incluir novas perspectivas, desde que seja necessário. Então, como é uma instituição de ensino superior, recomenda-se iniciar com a perspectiva da educação, pois esse deve ser o seu foco principal. Definidas as perspectivas, o passo seguinte é a definição dos participantes no processo, como, por exemplo: a alta administração da instituição e os departamentos para construção dos indicadores. Toda a metodologia do BSC depende da clara definição da missão. Para a definição da arquitetura de indicadores a ser utilizada, CENEBRA EDUCACIONAL 35 é necessário identificar não só a missão, mas a visão e estratégias, que são fatores-chave de sucesso e seus objetivos estratégicos. A partir da missão, pode-se estabelecer um programa para desenvolvimento e implantação do novo modelo didático- pedagógico, que compreende desde desenvolvimento de conteúdos e treinamento de professores até a preparação de um BSC para acompanhamento da sua implantação. Feitas essas considerações e observações, trataremos, a seguir, da compreensão dos fundamentos das alianças estratégicas. Compreensão dos Fundamentos das Alianças Estratégicas Alianças Estratégicas Introdução A literatura evidencia que as mudanças aceleradas no cenário mundial, especialmente nas últimas três décadas, vêm exigindo um posicionamento diferenciado das organizações, tanto do setor privado ou público, bem como do terceiro setor. Para Levitt (1983), a dinâmica da globalização, reforçada pela paulatina similaridade mundial de desejos e necessidades, leva as empresas a ampliarem sua concepção do público-alvo, bem como suas noções de concorrência. Decorre que cada vez mais o mercado global arquiteta CENEBRA EDUCACIONAL 36 novas ameaças e oportunidades, tornando as estratégias internacionais como imperativas para a conquista da vantagem competitiva das empresas. Observa-se que, nas últimas décadas, o cenário mundial vem sofrendo profundas mudanças nos campos: econômico, social, político, cultural e ambiental, que afetam o mercado e as indústrias de forma cada vez mais significativa (MATIAS-PEREIRA, 2010). Na atual conjuntura mundial, onde se observa a alta interdependência no setor econômico e o dinamismo dos mercados, essa postura de alta competitividade não está proporcionando os mesmos resultados obtidos num passado recente, especialmente porque as organizações não mais possuem acesso direto aos recursos necessários para o sucesso de seus negócios. Esse contexto explica, em grande parte, por que a formação de alianças estratégicas vem ganhando cada vez mais força como uma postura estratégica no cenário econômico. Teorias sobre cooperação: visão de Gray e Wood Para diversos autores, como por exemplo Gray e Wood (1991), todas as teorias organizacionais enfatizam que a complexidade ambiental, incerteza e turbulência estão entre os problemas enfrentados por uma organização e uma das suas principais tarefas é reduzir tais problemas a proporções controláveis. Os autores CENEBRA EDUCACIONAL 37 argumentam que para algumas teorias as organizações colaboram para reduzir e controlar os problemas, mas que nenhuma oferece um compreensivo modelo de colaboração. A colaboração é um processo, assinalam Gray e Wood (1991), por meio do qual diferentes partes, vendo diferentes aspectos de um problema podem, construtivamente, explorar suas diferenças e procurar limitadas visões. Para os autores, a colaboração ocorre quando um grupo de autonomous stakeholders com domínio de um problema se envolve em um processo interativo, usando divisão de papéis, normas e estruturas, para agir ou decidir questões relacionadas ao problema. Para aqueles autores, algumas teorias como a "Dependência de Recurso, Microeconomia, Administração Estratégica e Ecologia Social (Resource Dependence, Microeconomics e Strategic Management/Social Ecology)" identificam as precondições para colaboração. As teorias Política, Economia Institucional, Institucional e Negociação ("Political, Institutional Economics e Institutional/Negotiated Order") dão explicações sobre os processos de colaboração e sobre afinidades entre dirigentes e seus ambientes. Das seis teorias acima mencionadas, sustentam Gray e Wood (1991), somente três delas explicam o processo colaborativo. Enquanto na teoria da Microeconomia as precondições estruturais CENEBRA EDUCACIONAL 38 são usadas apenas para predizer resultados, na teoria da Dependência de Recursos apresentam-se precondições para a colaboração, para a subsequente distribuição de recursos e finalmente precondições para a dependência dos dirigentes para com os resultados de sua troca colaborativa. Mudanças estruturais das organizações A globalização, para diversos autores, como, por exemplo, Keegan (2005, p. 15-19), representa a síntese das tendências do desenvolvimento capitalista mundial neste começo de século XXI, impulsionado pelas transformações da revolução científico- tecnológica, pela criação de um sistema de produção mundial e produtos globais, movimento acelerado da integração das economias nacionais e, em especial, pela abertura do comércio mundial. Para Filos e Banahan (2001, p. 3), a nova economia digital surge como resultado dos avanços nas tecnologias de redes de trabalho, exigindo um novo grupo de regras e valores que determinam a conduta de seus participantes. O mercado digital, para o autor, oferece novas e ilimitadas oportunidades para aqueles que operam através deste. Conceber essas novas oportunidades traz novos desafios. Os participantes no mercado digital constatam que para alavancar os benefícios dele derivados, as atitudes tradicionais e as perspectivas para realizar negócios precisam ser redefinidas. Como CENEBRA EDUCACIONAL 39 resultado, os conceitos tradicionais de negócios são abandonados e o conceito de organização é dissolvido para ser substituído por novas entidades, que refletem os desafios inerentes a esta nova era econômica. As mudanças estruturais das organizações na atualidade estão alterando de forma bastante significativa as suas configurações, as quais necessitam obedecer a algumas regras para garantir a sua adequada reestruturação. Um dos tipos de estratégias competitivas mais usadas é o das alianças estratégicas que se caracterizam como uma auto cooperação formal entre empresas de forma a atender suas necessidades, onde riscos são compartilhados na busca de se atingir objetivos comuns. Processo evolutivo de cooperação É sabido que as estratégias variam de acordo com o tempo, situação e necessidades. Elas possuem, entretanto, como ponto de convergência: o fato de que deve ser bem estudada, planejadae executada. O termo estratégia é derivado do grego strategía, que significa a "arte do general" (strategos). Nesse contexto, é oportuno destacar o pensamento estratégico sobre o processo evolutivo de cooperação, abordado por Austin (2001a, 2001b) nos seus estudos. Aquele autor, ao analisar os pontos mais importantes orientados para o pensamento estratégico sobre o CENEBRA EDUCACIONAL 40 processo evolutivo de cooperação, destaca as seguintes dimensões estratégicas de uma parceria: 1. A mentalidade da cooperação: refere-se à potencialidade contida na postura e atitude dos atores do processo no que tange aos relacionamentos interpessoais. Segundo Austin (2001a, 2001b), essa dimensão é a mais "sensível", pois são as pessoas que constroem, mantêm e possibilitam o avanço, o retardo e até o fracasso de uma parceria; 2. O alinhamento estratégico: abrange o grau de compatibilidade das definições e dos valores estratégicos assumidos por cada organização ao interagir na rede cooperativa, por exemplo, princípios norteadores, diretrizes gerais e outros elementos que comunicam o perfil de atuação do parceiro no ambiente. Essa dimensão trata do estabelecimento de uma base sólida nos aspectos essenciais de organização da parceria. Assim, a adequada afinidade entre os parceiros nas questões estratégicas constitui o alicerce fundamental para o funcionamento seguro do processo cooperativo; 3. Valor da cooperação: como podem ser avaliados os esforços de cada parceiro, mobilizados no sentido de maximizar as competências para agregar valor ao conjunto de participantes da parceria? O senso da importância vital CENEBRA EDUCACIONAL 41 da atuação sinérgica é um fator determinante para obter resultados significativos e, consequentemente, para alcançar objetivos melhores para os parceiros; 4. Administração do relacionamento: envolve os aspectos ligados às responsabilidades do gerenciamento da parceria que incluem acompanhamento da comunicação, desempenho, motivação etc. Trata-se, portanto, da gestão do processo de ação compartilhada, que exige o acompanhamento dos fluxos de atividades definidos, a manutenção dos mecanismos de ação e a motivação das equipes para o incremento dos resultados, ampliados pela força sinérgica dos esforços unificados e coordenados dos parceiros. Alianças no contexto da estratégia As alianças estratégicas, para Hitt, Ireland e Hoskisson (2001), são parcerias entre empresas, em que seus recursos, capacidades e competências essenciais são combinados para perseguir interesses mútuos ao projetar, manufaturar e distribuir bens ou serviços. Elas são formas explícitas de relações entre empresas e podem surgir em três diferentes formas: joint ventures, aliança estratégica acionária e aliança sem participação acionária. Na aliança estratégica acionária, os sócios possuem diferentes porcentagens de capital social num CENEBRA EDUCACIONAL 42 novo empreendimento. As alianças estratégicas acionárias são consideradas mais eficientes para transferir know-how entre as empresas, porque estão mais próximas do controle hierárquico do que as alianças sem participação acionária. Para diversos autores, como, por exemplo, Matias-Pereira (2010), 2 as alianças devem fazer parte de uma estratégia maior, no contexto dos arranjos interorganizacionais. O fato de estabelecer-se uma aliança com a estratégia em si é um grande risco, uma vez que ela é somente um meio para se alcançar algo maior. Nesse sentido, as alianças devem ser utilizadas, sempre que necessário, em conjunto com outras ações e atividades estratégicas, buscando dessa maneira criar a estratégia mais adequada com os objetivos das organizações. Observa-se, assim, que as alianças estratégicas surgem como uma forma factível de as organizações incorporarem rapidamente as habilidades indispensáveis para se tornarem competitivas. Nesse sentido, Means e Schneider (2001) argumentam que essas alianças são um importante instrumento para que as empresas consolidem suas posições no mercado, a fim de que possam ingressar nas comu- nidades de valor agregado que fortalecerão os negócios entre empresas e reduzirão a intermediação com o objetivo de melhor atender o cliente. Objetivos das alianças estratégicas CENEBRA EDUCACIONAL 43 É perceptível que as alianças estratégicas contribuem para, entre outras mudanças, ampliar a base de atuação da organização, diminuir custos, agregar recursos de tecnológicos. Assim, torna-se capaz — por meio da união de sinergia e competências — de promover adequadamente a integração dos elos da cadeia produtiva da organização, e, de forma diferenciada, elevar o nível de satisfação de seus consumidores. Alguns objetivos comuns em alianças estratégicas, segundo Lewis (1992), são: Expandir a capacidade de uma empresa para criar produtos; Reduzir custos; Incorporar novas tecnologias; Antecipar-se aos concorrentes; Atingir escala; Gerar mais recursos para investir em suas competências básicas. O motivo mais forte para se trabalhar com um concorrente é poder unir forças a fim de enfrentar um inimigo comum, segundo Lewis (1992). A sinergia decorrente da aliança daria condições às parceiras de fazer frente à concorrência. A união com um concorrente também é prudente quando as empresas enfrentam CENEBRA EDUCACIONAL 44 condições adversas de negócio ou o poder combinado de outras alianças. Em meio a tais situações, partilhar recursos com um rival pode ser a melhor saída para conseguir atravessar fases ruins. Em síntese, melhorar a cobertura de mercado; aumentar a eficiência mercadológica; melhorar a propaganda; abrir novos canais de distribuição; melhorar o controle sobre os canais; otimizar a cadeia de suprimentos; e reduzir custos de insumo são alguns dos objetivos secundários que devem ser buscados quando se almeja melhorar o acesso a mercados através de uma aliança estratégica (LEWIS, 1992). A aliança estratégica, para Hitt, Ireland e Hoskisson (2002), é como parcerias entre firmas em que seus recursos, capacidades e competências essenciais são combinadas para perseguirem interesses mútuos ao projetar, manufaturar ou distribuir bens ou serviços. Referencial teórico das alianças estratégicas Existem diversos autores relevantes que tratam do tema alianças estratégicas. No campo da vantagem competitiva, a literatura assinala que as fontes para a sua construção podem decorrer das partes componentes da cadeia de valor (PORTER, 1996), de recursos e capacidades (BARNEY, 1991; COLLIS; MONTGOMERY, 1997; GRANT, 1991; TEECE et al., 1997), de competências essenciais (HAMEL; PRAHALAD, 1990, 1995) ou da posição ocupada no CENEBRA EDUCACIONAL 45 mercado (PETERAF, 1993; PORTER, 1991). No conjunto das teorias que buscam explicar a formação de alianças estratégicas, destacam-se: os custos de transação (ANDERSON; GATIGNON, 1986; HENNART, 1988), estratégias competitivas (PORTER, 1985), dependência de recursos (PFEFFER; SALANCIK, 1978), aprendizagem organizacional (KOGUT, 1988), relação social (ANDERSON; NARUS, 1990), economia política (STERN; REVE, 1980) e teoria da firma baseada em recursos (DAS; TENG, 2000). Registre-se que na atualidade as alianças estratégicas vêm sendo apontadas como fontes potenciais para a geração de vantagens por propiciarem flexibilidade, redução dos custos de transação, manutenção do enfoque da empresa nas competências essenciais, redução danecessidade da verticalização e economias diversas (GRANT, 2002; BARNEY, 2002; NALEBUFF; BRANDENBURGER, 1996, 1997; CHANDLER, 2002). Diante do ambiente globalizado, as empresas precisam criar e sustentar colaborações que lhes propiciem suporte competitivo (KANTER, 1994), condição que faz com que a colaboração e cooperação contribuam para a busca de vantagens competitivas, por complementarem competências ou recursos empresariais (CLARKE- HILL; HUANING; DAVIES, 2003), ou neutralizem problemas de apropriação ou a duplicação de esforços por empresas diferentes CENEBRA EDUCACIONAL 46 desenvolverem a mesma coisa (JORDE; TEECE, 1989). Motivações das alianças estratégicas Por meio de uma aliança estratégica, as empresas podem selecionar, desenvolver e empregar capacidades essenciais que permitirão a cada uma obter vantagem competitiva, aumentar o valor ao cliente e direcionar mercados (HARBISON; PEKAR JR., 1999, p. 40). Observa-se, nesse cenário, que para que haja sucesso nesses tipos de parcerias para ambas as partes, é necessárias uma complementaridade de objetivos, onde as empresas possam levantar necessidades e dividir experiências, criando assim um ambiente de aprendizado e resultado mútuo. Para diversos autores, como, por exemplo, Segil (1996), uma aliança é um relacionamento estratégico ou tático, visando ao benefício mútuo de duas ou mais partes, que possuem interesses de negócio ou objetivos compatíveis ou complementares. Por sua vez, afirma Lewis (1992) que "numa aliança estratégica, as empresas cooperam em nome de suas necessidades mútuas e compartilham os riscos para alcançar um objetivo comum" (1992). Nesse sentido, sustentam Harbison e Pekar Jr. (1999, p. 47-51) que existam objetivos principais para que um empreendedor utilize- se da ferramenta de aliança para otimizar seus resultados: CENEBRA EDUCACIONAL 47 Quando os riscos são elevados e não existem mais recursos ou oportunidades de investimento por parte da empresa; Quando a empresa mantém altos custos fixos e precisa comprar em maior quantidade (economia de escala) para obter maiores vantagens em preços ou condições de pagamento; Quando os funcionários da empresa não têm conhecimentos sobre o perfil do cliente e concepção do produto, assim como a estrutura logística para distribuição destes; Quando a empresa não está tecnologicamente preparada para o mundo globalizado nem dispõe de tempo nem recursos para desenvolvê-la; Quando a empresa tem dificuldades de penetração em um mercado desconhecido, mas está segura de seu potencial neste; Quando os custos estão dificultando o resultado da empresa como um todo; Quando a empresa tem necessidade urgente de buscar habilidades ou capacidades em mão de obra a custos menores do que é possível com o desenvolvimento interno. As alianças estratégicas aconteceriam entre várias empresas CENEBRA EDUCACIONAL 48 que cooperam sem focalizarem a redução da competição, não necessariamente envolvendo empresas da mesma indústria e que tanto poderiam ocorrer em termos de uma área de negócio específica como em termos da corporação como um todo (BARNEY, 2002). Doz e Hamel (1998) propõem que a integração de tarefas entre as empresas requer uma interação forte entre as partes, mais facilmente obtida por uma entidade independente; que as incertezas demandam um conjunto de contribuições e benefícios mais atingíveis por meio da igualdade nos acordos e de um plano de compartilhamento de lucros, e que a urgência nas decisões requer uma gestão autônoma com o poder de tomar decisões-chave sem reportar-se às empresas coligadas. Sustentam Dussauge e Garrette (1999) que o elemento-chave para caracterizar uma aliança é o quanto as empresas envolvidas permanecem independentes, apesar de acordos que as unam, e uma de suas características é certo grau de reversibilidade das escolhas estratégicas, bem como as contribuições que devem ser recíprocas entre os parceiros e uma relação mais balanceada ou igualitária. Uma empresa pode, em princípio, iniciar com a colaboração antes de decidir pela formação da aliança e avançar até onde seja possível a reversão. Para os autores, a teoria dos custos de transação contribui para o melhor entendimento do CENEBRA EDUCACIONAL 49 momento em que alianças acontecem, porque a empresa oscilará entre evitar os custos de atuar com outros no mercado ou internalizar as atividades, caso o custo seja menor do que o previsto com os contratos com outras empresas parceiras. As alianças apareceriam como uma solução intermediária. Nessa visão, uma aliança apenas serviria para minimizar custos. No entanto, a verdadeira aliança estratégica objetiva criar e desenvolver a posição competitiva das empresas envolvidas em um ambiente altamente competitivo. É definida como estratégica quando contribui significativamente para as estratégias das empresas e quando envolve a junção e combinação das capacida- des dos parceiros e o compartilhamento de competências para expandir e diversificar os recursos da empresa, a fim de que esta alcance vantagens, conforme a Resource-based View (DUSSAUGE; GARRETTE, 1999). O ambiente dinâmico e competitivo limita a autonomia da empresa que fica à mercê de um processo mais oneroso para centralizar todas as atividades que precisa realizar, ainda que tenha a capacidade para lidar com elas ou que assuma os riscos e custos inerentes a uma aquisição, o que faz com que o estabelecimento de parcerias, mesmo sendo arranjos mais limitados, propicie a flexibilidade necessária para atuação nesse ambiente e permita à empresa a manutenção de sua independência CENEBRA EDUCACIONAL 50 (KANTER, 1990, 1997, 2010). Assim sendo, a estratégia de cooperação habilita os parceiros a conseguirem uma posição forte no mercado, atuando juntos, mais do que conseguiriam se atuassem isoladamente (DAI; KAUFFMAN, 2003). Categorias de parcerias: visão de Kanter Num cenário onde fica cada vez mais evidente a importância de forma isolada, Kanter (1997, p. 122) identifica em sua análise três categorias de parcerias: 1. Alianças de serviços multiorganizacionais (consórcio entre empresas): empresas de um mesmo setor unem-se para estabelecerem uma nova organização, controlada por todas. Nesse caso, a interdependência entre os parceiros é pouca e é mais difícil obter a concordância sobre o que seja mais adequado para todos, o que faz com que sejam entidades com gerenciamento mais dificultado, e pode resultar na perda de interesse ou do comprometimento. Viabiliza a aliança entre concorrentes para obtenção de ganhos de escala pela partilha de recursos; 2. Alianças oportunistas (joint ventures): a oportunidade de ganhar vantagem competitiva rapidamente, ainda que seja uma vantagem temporária, leva as empresas a buscarem alianças CENEBRA EDUCACIONAL 51 que objetivem o desenvolvimento de empreendimentos, dando aos parceiros a rapidez na mobilidade em direção aos seus objetivos. Ganhos de escala, transferência de tecnologia, acesso a novos mercados ou ambos, especialmente em ambientes mais dinâmicos, aprendizagem e cooperação para acesso ao mercado também são fatores que motivam essa formação; 3. Alianças entre os envolvidos (fornecedores, clientes e funcionários): movidas pela qualidade e inovação, surgem quando são necessários investimentos semelhantes por parte dos envolvidos para atingirem complementaridade em processos de negóciosde empresas que estão inseridas em diferentes estágios da cadeia de criação de valor. Destacam-se no conjunto das teorias sobre alianças estratégicas as que tratam dos ganhos mútuos (KANTER, 1996; JOHANSON; MATTSON, 1988), da organização administrativa (HAGEDOORN; SCHAKENRAAD, 1994), do comprometimento (DAI; KAUFMANN, 2003) e da cooperação (DAI; KAUFMANN, 2003; KANTER, 1996), para a obtenção de uma posição mais forte sem que ocorram perdas (DAI; KAUFMANN, 2003), influenciam as vantagens competitivas relacionadas à elevação da eficiência operacional (PORTER, 1996b), do poder de resposta pela agilidade e CENEBRA EDUCACIONAL 52 flexibilidade (GRAN'T, 1991; KANTER, 1990, 1997), do potencial de pioneirismo (CHANDLER, 2001, 2002), do potencial de inovação (TEECE; PISANO; SHUEN, 1997) e de barreiras fundamentadas na capacidade gerencial para condução dos negócios (CHANDLER, 2001, 2002; TEECE; PISANO; SHUEN, 1997). Conceitos e Formas de Alianças Estratégicas Introdução Aliança estratégica é um instrumento utilizado pelas grandes empresas para proporcionar aos parceiros maior probabilidade de sucesso diante dos desafios e oportunidades do mercado competitivo em que estão inseridas e que, segundo Lorange e Roos (1996), a abordagem cooperativa das alianças estratégicas é mais realista do que a abordagem competitiva para as empresas que desejam ser bem-sucedidas no mercado nacional e internacional, pois as empresas devem combinar esforços para adquirir ou manter vantagens competitivas em quatro áreas: fornecedores, consumidores, novas tecnologias e novos concorrentes/retirantes no mercado. A hierarquia das alianças estratégicas pode ser estabelecida como: empreendimento cooperativo informal, empreendimento cooperativo formal, joint venture, participações societárias através de CENEBRA EDUCACIONAL 53 fusões e aquisições. Os motivos que levam as empresas a consolidarem alianças estratégicas estão ligados à sua posição no mercado, com a finalidade de defesa, permanência, reestruturação e aquisição ou verticalização da produção. As empresas estruturam as alianças estratégicas como forma de: (a) obter um meio de distribuição e de prevenção contra concorrentes; (b) ganhar acesso a nova tecnologia e diversificação em novos negócios; (c) obter economia de escala e atingir integração vertical, (d) superar barreiras alfandegárias ou legais. Alianças estratégicas, para Lewis (1992), é a cooperação entre empresas em torno de suas necessidades mútuas, compartilhando riscos para alcançar um objetivo comum. Os fatores que motivam as empresas a estruturarem alianças estratégicas, segundo o autor, são: (a) crescente abertura de mercado devido às pressões exercidas pelos países desenvolvidos sobre os países em desenvolvimento, que provocam a internacionalização das empresas e tornam a pressão competitiva mais intensa decorrente da necessidade de aumento na escala global e/ou vantagens de escopo (necessidade de trabalhar em conjunto com os sócios para amenizar a escassez de recursos, reduzir tempo dos processos de CENEBRA EDUCACIONAL 54 produção, P&D e aperfeiçoamentos contínuos); (b) rápido desenvolvimento tecnológico que leva a mais curtos ciclos de vida de produtos, exigindo considerável resposta à nova demanda (necessidade de realizar pesquisas mercadológicas em conjunto, com condições de operacionalizar rapidamente seus resultados em estratégias comerciais); (c) maior demanda por serviços e produtos semielaborados que facilitam a vida dos consumidores (necessidade de desenvolver pesquisas sobre as mudanças no hábito alimentar e sobre as novas necessidades); (d) surgimento de muitos novos concorrentes em negócios mais tradicionais devido à globalização do capital e das informações combinadas com as forças das grandes corporações internacionais (necessidade de construir alianças estratégicas internas para gerar defesas contra o avanço dos novos concorrentes). Conceitos e tipologias de aliança estratégica Os conceitos formulados por Hamel e Doz (1999, p. 24) sobre aliança estratégica estão apresentados no Quadro 1, a seguir: Quadro 1 - Conceito de alianças. CENEBRA EDUCACIONAL 55 Aliança estratégica Associação com uma estratégia de negócios fundamental, que dá forma e estrutura à aliança. Possui uma visão que orienta sua gestão e evolução e conta com uma infraestrutura interna que a sustenta. Aliança horizontal Associação que se estabelece com outras companhias para se ter acesso a competências complementares. Essas competências costumam estar vinculadas às informações, à pesquisa e ao desenvolvimento e são importantes para aproveitar alguma oportunidade específica de negócios. Aliança transacional Acordo de alcance limitado e com um objetivo comum. Por exemplo, nas áreas de compras, marketing ou publicidade cooperada de mais de uma empresa. Aliança vertical Associação que se estabelece dentro de uma mesma cadeia de valor, com sócios que apresentam maior economia de escala em certos processos. Por exemplo, um dos sócios pode ter um processo mais eficiente para fabricação, distribuição ou vendas de um produto. Fonte: Hamel e Doz (1999, p. 24). As alianças estratégicas, para Gulati (1998), são arranjos voluntários entre empresas, que envolvem trocas, divisões, CENEBRA EDUCACIONAL 56 compartilhamento ou com desenvolvimento de produtos, tecnologias, serviços e na cadeia produtiva pode ocorrer de forma vertical ou horizontal. Para Argandona (1999), as alianças são formas de relações entre negócios que permitem cooperação em algumas áreas de atividades da empresa enquanto mantêm competição em outras. Organização em rede As redes no campo das organizações têm colocado ênfase em aspectos objetivistas, por um lado, em características estruturais como centralidade, densidade, estabilidade, buracos contratuais etc. (AHUJA, 2000; ALDRICH; WHETTEN, 1981; ROWLEY, 1997; TICHI, 1981), por outro lado, em aspectos funcionalistas como redução de custos de transação (WILLIAMSON, 1975), redução da dependência por recursos (PFEFFER; SALANCIK, 1978). Segundo Jones et al. (1997), é preferível adotar a denominação "governança em rede" à organização em rede, porque a organização é vista como uma entidade, enquanto as redes são compostas de várias entidades autônomas. Adotar uma perspectiva de redes significa mais do que uma simples relação diádica (entre pares), mas uma complexa relação entre diversos atores (GULATI, 1998) transpondo os limites explícitos do mercado e o paternalismo familiar da hierarquia (POWELL, 1990), onde podem coexistir CENEBRA EDUCACIONAL 57 simultaneamente competição e cooperação (JONES et al., 1997; BERGTSSON; KACK, 2000). Clegg e Hardy (1999) percebem a aparência externa das novas organizações e destacam as redes, fundamentados na suposição de que as relações interorganizacionais podem ser mais importantes do que características internas como tamanho e tecnologia. Já na visão de Dimagigio e Powell (1991) e de Meyer e Rowan (1977), é que a estrutura de uma organização não será somente uma adaptação funcional ao ambiente objetivo, mas uma busca de legitimação institucional. Sendo assim, qualquer tipo de rede ou aliança entre empresas está fortemente imbricada no contexto das relações sociais onde os atores estão inseridos (GULATI, 1998; UZZI, 1997) e ondeafirmam suas identidades. As redes horizontais podem ser entendidas como interações sociais, que envolvem um grupo de empresas buscando interesses comuns, que requerem ações conjuntas e que podem ser realizadas coletivamente e não individualmente (HARDIN, 1994). Essa ação coletiva se refere às atividades que requerem a coordenação de esforços de dois ou mais indivíduos (SANDLER, 1995). Kanter (1988) enfatiza alguns fatores de sucesso para alianças, tais como: que ambos os parceiros tenham excelência individual e valor a compartilhar; flexibilidade e criação de valor conjunto, e não apenas de troca; torna-se necessário que o relacionamento preencha CENEBRA EDUCACIONAL 58 objetivos relevantes para todos. Registre-se que os termos alianças e redes são apresentados, em geral, como sinônimos, uma vez que referidas argumentações contextualizam a mesma ideia. Processo de formação das alianças A cooperação com outras empresas revela que a competência não pode atuar absolutamente sozinha porque a complexidade das funções exige uma aproximação maior de novos talentos, conhecimentos que precisam ser trocados e aperfeiçoados em conjunto. Segundo Nelson e Winter (1982), a formação das redes é influenciada tanto pelo imbricamento estrutural, direcionado às trocas econômicas nas relações interpessoais, quanto pelos imbricamentos cognitivos, que dizem respeito à importância das rotinas organizacionais e também das representações sociais. As alianças, além de serem compostas por empresas interdependentes, apresentam sua identidade, suas metas, cultura e relacionamentos com os membros internos e também externos a estas. O imbricamento mostra que as organizações não atuam isoladamente, mas fazem parte de uma grande estrutura institucional, em que as ações praticadas nestas não se limitam apenas a efetivar escolhas racionais e sim inclui fatores emocionais, éticos, sociais, entre outros. CENEBRA EDUCACIONAL 59 Na perspectiva de Zukin e DiMaggio (1990), em nível individual, o imbricamento cognitivo refere-se à regularidade de modelos mentais que limitam o exercício de raciocínio econômico. Mas o comportamento não é apenas limitado por um constrangimento cognitivo humano, pois acrescenta também comportamentos coletivos, ou por imbricamentos culturais. Por sua vez, o imbricamento estrutural é definido por Marsden (1990) como a proporção relativa de vínculos internos e externos (número de relações existentes em relação ao número total de possíveis relações entre todos os membros da rede) e o número de relacionamento que os membros da rede têm com os não membros. A redução dos custos de transação, o comportamento estratégico e a aprendizagem organizacional tornam-se motivações para a formação de redes, o que acontece principalmente quando um ou todos os atores necessitam adquirir algum tipo de conhecimento crítico do outro. Segundo Kasa (1999), as redes são compostas por empresas independentes, que têm seus próprios interesses, cultura e relacionamentos com instituições fora da rede. Já para Gulati (1998), as fortes influências observadas nas relações pessoais entre os executivos das empresas parceiras contribuem para sugerir que as redes sociais previamente estabelecidas entre componentes de firmas CENEBRA EDUCACIONAL 60 podem servir de base para levar as empresas a formarem alianças entre si. Child e Faulner (1998), por sua vez, argumentam que as alianças podem se desenvolver de forma horizontal, onde os parceiros operam em um mesmo nível da indústria; de forma vertical, que envolve compradores e fornecedores; e, de forma diagonal, com parceiros de diferentes níveis de operação dentro de uma indústria ou mesmo em indústrias distintas. Mas, quando as alianças envolvem objetivos complexos e exigem a participação de vários membros, são denominadas de consórcios. Condições de formação de redes A confiança e a reciprocidade são condições essenciais ao processo de formação de redes. Sinteticamente, a confiança é um estado que envolve expectativas positivas sobre os motivos que uma pessoa tem para com outra, em situações que acarretam risco (BOOM; HOMES apud LEWICKI; BUNKER, 1996). A confiança é exercida por pessoas e estas, além de serem dotadas de relacionamentos com indivíduos, possuem também habilidades de se envolverem com diversas instituições. Portanto, a confiança não deve se limitar apenas de pessoas para pessoas, mas de pessoas para com as organizações. A disposição a priori ou a confiança na cooperação é uma variável CENEBRA EDUCACIONAL 61 interpretativa que incentiva positivamente a formação de redes (KASA, 1999; PODOLNY, 1998). O trabalho em grupo é capaz de reduzir o individualismo no ambiente de trabalho, já que é preciso uma aproximação de ideias coerentes e a construção destas não se forma apenas por um membro, mas sim por participantes confiantes entre si. A confiança identificadora (normativa) é tida como a forma mais elevada de confiança. Ela baseia-se em necessidades, preferências e modelos de pensamentos comuns, fazendo com que partes não apenas conheçam e se identifiquem, mas compreendam, inclusive, o que é necessário fazer para manter a confiança da outra (SHEPPARD; TUCHINISKY, 1996). Na seleção de sócios para formação de alianças, Kasa (1999) argumenta que um critério para selecionar atores potenciais pode ser sumarizado em três: Compatibilidade, que é a habilidade de os atores trabalharem em conjunto. Isso pode ser mensurado por fatores como: estratégia, cultura corporativa e práticas operacionais; Capacidade, que é a habilidade da organização para atividades independentes; Comprometimento, que é a disposição do ator para o trabalho em conjunto. CENEBRA EDUCACIONAL 62 A seleção de parceiros para a aliança não ocorre de forma casual, mas, sim, como sugerem Hitt et al. (2000), deve haver padrões bem definidos. Firmas em mercados emergentes são mais propensas a selecionar parceiros com base em compartilhamento de ativos financeiros, capacitações técnicas, ativos intangíveis e expertises. Enquanto as firmas, em mercados desenvolvidos, são mais interessa- das em desenvolver sua base de recursos enfatizando fatores como competências únicas e conhecimento de mercados específicos. Harrison et al. (2001) argumentam que em ambos os casos as firmas buscam recursos que são complementares aos seus próprios. Kasa (1999) enfoca que existem várias razões para as empresas cooperarem em redes horizontais, como posições de mercado, ações atuais e possíveis das outras empresas e o status corrente da própria empresa. Por outra parte, Olson (1971) inclui o conceito de bens coletivos como fator de estímulo para a formação dos grupos, argumenta que os indivíduos, sempre movidos pelo auto interesse, deveriam aglutinar-se para suprir os bens coletivos necessitados, uma vez que, individualmente, nenhum agente arcará com o seu custo. Enquanto Lei e Slocum (1992) apresentam algumas razões pelas quais as organizações ingressam em redes; estão incluídas as redes de conhecimentos, quando o objetivo é adquirir cada qual outros produtos, conhecimentos e competências; e as redes de negó- cios, quando a intenção é maximizar a utilização de recursos CENEBRA EDUCACIONAL 63 complementares. Benefícios e expectativas das alianças As redes de empresas e toda relação de cooperação partem de uma relação de troca, que precisa ser caracterizada pela complementaridade
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