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1 AGENTE, ESCRIVÃO E PERITO DA PF+PRF. Direito Penal. Prof.: Nestor Távora. Aula: 04. Monitor: Filipe Ribeiro. MATERIAL DE APOIO – MONITORIA Índice. I. Anotações. II. Lousa. III. Questões. I. ANOTAÇÕES. d.3. Questões Complementares. I. Espécies de culpa: I.a. Culpa consciente; I.b. Culpa inconsciente; I.c. Culpa presumida; I.d. Culpa mediata/indireta. II. Compensação de culpas. III. Concorrência de culpas: quando duas ou mais pessoas agem culposamente contribuindo para o resultado, ambas serão responsabilizadas. IV. Causas de exclusão da culpa: i. Caso fortuito ou força maior; ii. Princípio da confiança: não há culpa quando agimos na confiança de que a outra pessoa se comportará normalmente; iii. Princípio do risco tolerado: comportamentos tolerados em razão da urgência ou imprescindibilidade para a vida humana, afastam a responsabilidade criminal culposa. Exemplo: médico que realiza cirurgia sem a adequada estrutura hospitalar; iv. Erro profissional. V. Preterdolo (crime preterdolosos/crime preterintencional). V.a. Conceito: É uma modalidade de crime qualificado pelo resultado. V.b. Espécies: a. Dolo no antecedente + dolo no consequente: temos uma conduta dolosa e um resultado agravador doloso. Exemplo: lesionar a esposa e agredir até provocar deformidade permanente (art. 129, §2º, IV do CP1); b. Culpa no antecedente e culpa no consequente: pratica uma conduta culposa, produzindo outros resultados, também a título de culpa. Exemplo: incêndio culposo agravado pelo resultado morte (art. 258 do CP2); 1CP. Art. 129, § 2° Se resulta: IV - deformidade permanente; 2CP. Formas qualificadas de crime de perigo comum. Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço. 2 c. Culpa no antecedente e dolo no consequente: produz um resultado a título de culpa, realizando na sequência uma conduta dolosa agravadora. Exemplo: provocar lesão culposa no trânsito e omitir socorro (art. 303, § único do CTB3); d. Conduta dolosa (dolo no antecedente) e resultado agravador culposo (preterdolo): o agente pratica um crime doloso, mas o resultado agravador ocorre a título de culpa. Exemplo: lesão corporal seguida de morte (art. 129, §3º do CP4). 2.3. Resultado. 2.3.1. Conceito: é a modificação no mundo exterior provocada pela conduta do agente. 2.3.2. Teorias sobre o resultado: a. Teoria Naturalística: resultado é a modificação no mundo exterior como fruto da conduta criminosa. OBSERVAÇÃO: Classificação dos crimes quanto ao resultado naturalístico: a.1. Crime material: é aquele que só se consuma com a produção do resultado naturalístico. Exemplo: homicídio; a.2. Crime formal: a lei faz a previsão de um resultado naturalístico, mas ele é irrelevante para a consumação do delito. Exemplo: a corrupção passiva está consumada com a solicitação da vantagem indevida, independente do recebimento (art. 317 do CP5). CONCLUSÃO: Os crimes formais são rotulados de crimes de consumação antecipada. a.3. Crime de mera conduta: não há previsão de resultado naturalístico no tipo penal. Exemplo: desobediência. CONCLUSÃO: Não há alteração no mundo concreto. b. Teoria Jurídica ou Normativa: resultado é toda lesão ou ameaça de lesão a um bem jurídico relevante. CONCLUSÃO: Todo crime tem resultado jurídico, pois atinge um interesse penalmente relevante. OBSERVAÇÃO: Classificação dos crimes quanto ao resultado jurídico: b.1. Crime de dano: ele exige uma efetiva lesão ao bem jurídico para a sua consumação. Exemplo: roubo (art. 157 do CP6); b.2. Crime de perigo: basta a exposição do bem jurídico a um perigo de dano, para que ocorra a consumação. ADVERTÊNCIA: O crime de perigo admite a seguinte divisão: 3CTB. Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do §1º do art. 302. 4CP. Art. 129 (...): Lesão corporal seguida de morte §3°. Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 5CP. Corrupção passiva. Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa 6CP. Roubo. Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. 3 i. Crime de perigo concreto: a realização do tipo penal exige a existência de uma situação de efetivo perigo. Exemplo: periclitação da vida ou da saúde de outrem (art. 132 do CP7); ii. Crime de perigo abstrato: a situação de perigo é presumida pela lei. Exemplo: associação criminosa (art. 288 do CP8); ADVERTÊNCIA: Para o STF, os crimes de perigo abstrato tem respaldo constitucional, desde que o tipo penal criminalize uma conduta verdadeiramente perigosa para o nosso convívio social. 2.4. Nexo Causal (relação de causalidade). 2.4.1. Conceito: é a relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado naturalístico. CONCLUSÃO: Diante de tal raciocínio, podemos identificar se a conduta provocou o resultado. 2.4.2. Teorias: a. Teoria da Equivalência dos Antecedentes (Teoria da Conditio Sine Qua Non/Teoria da Causalidade Simples): a.1. Conceito: causa é toda circunstância antecedente sem a qual o resultado não teria ocorrido. CONCLUSÃO: As causas são igualmente contributivas (equivalência) para a produção do resultado. a.2. Estratégia da eliminação hipotética: CONCLUSÃO 1: Se eliminar o elemento o resultado desaparecer, ele deu causa ao resultado. CONCLUSÃO 2: Se eliminar o elemento, o resultado persistir, ele não deu causa. ADVERTÊNCIA 1: Só responde pelo resultado quem atuou com dolo ou culpa. ADVERTÊNCIA 2: A Teoria da Equivalência dos Antecedentes tem respaldo no art. 13, caput do CP9. b. Teoria da Causalidade Adequada: b.1. Conceito: A conduta só da causa ao resultado se ela sozinha tem condição de provoca-lo (art. 13, §1º do CP10). c. Teoria da Imputação Objetiva: 7CP. Perigo para a vida ou saúde de outrem. Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais 8CP. Associação Criminosa. Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou maispessoas, para o fim específico de cometer crimes: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente 9CP. Relação de causalidade. Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 10CP. Art. 13 (...). Superveniência de causa independente. §1º. A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. 4 c.1. Conceito: ela surgiu para corrigir uma imperfeição da Teoria da Causalidade Simples, que é o regresso ao infinito. ADVERTÊNCIA: Ela não tem previsão no Código Penal. c.2. Requisitos da relação de causalidade na Teoria da Imputação Objetiva: i. Existência de nexo físico; ii. A conduta deve criar um risco proibido ou não tolerado; iii. O resultado deve ser um desdobramento natural da conduta. 2.4.3. Concausa: I. Conceito: ela acontece quando mais de uma causa contribui para a ocorrência do resultado. II. Modalidades: a. Concausa absolutamente independente: a.1. Conceito: é uma causa que sozinha provoca o resultado, sendo independente da conduta do agente; a.2. Hipóteses (aspecto temporal): a.2.1. Preexistente: existe antes da conduta ser praticada, atuando de forma independente para o resultado. Exemplo: atirar em pessoa já envenenada, que morre em razão do veneno; a.2.2. Concomitante: ocorre no mesmo momento da conduta principal, produzindo sozinha o resultado. Exemplo: no momento em que está inoculando o veneno na vítima, um terceiro entra no quarto e a mata a tiros; a.2.3. Superveniente: ela atua após a conduta principal, produzindo sozinha o resultado. Exemplo: após inocular o veneno, a vítima é assassinada por um terceiro a facadas. a.3. Consequência: teremos a ruptura do nexo causal, sendo que o agente responde apenas pelo ato praticado, já que o resultado é atribuído a concausa. b. Concausa relativamente independente: tema da próxima aula. II. LOUSA. 5 6 7 8 9 10 III. Questões. 1.0. 2016 – FAURGS - TJ-RS - Juiz de Direito Substituto. Sobre a aplicação dos elementos da teoria geral do delito, assinale a alternativa correta. a) Adamastor, tomado por ciúmes e agindo com animus necandi, desferiu três disparos de arma de fogo calibre .38 contra Bento, que atualmente namora sua ex-companheira Catarina. O primeiro tiro atingiu a região lateral esquerda do pescoço da vítima, enquanto os demais se alojaram na região inferior de sua perna esquerda, próximo ao joelho. Logo após os disparos, contudo, o próprio autor, assustado com o desfecho de sua ação, contatou o SAMU e o Hospital de Pronto Socorro, a fim de que a vítima fosse socorrida e recebesse atendimento médico de urgência, o que efetivamente veio a ocorrer em face do pronto atendimento de uma ambulância. Em que pese não ter corrido risco de vida, Bento recebeu alta médica após permanecer internado durante 45 dias. Pelo exposto, é correto tipificar a conduta de Adamastor como um crime de lesão corporal grave. b) O erro quanto à pessoa e o erro na execução do crime fazem com que o agente responda pelos resultados típicos alcançados, não sendo levadas em consideração as condições e características das vítimas que efetivamente pretendia atingir. c) A legítima defesa putativa própria caracteriza-se por uma intepretação equivocada do agente em relação às circunstâncias reais de uma determinada situação fática, fazendo-o acreditar que está sofrendo (ou na iminência de sofrer) uma agressão injusta, e seu reconhecimento tem como consequência legal o afastamento da ilicitude da conduta, ainda que tal equívoco interpretativo decorra de culpa do próprio agente. 11 d) Quando reconhecido que a conduta delitiva decorre de coação irresistível ou do cumprimento de ordem de superior hierárquico não manifestamente ilegal, o agente que a praticou terá sua pena diminuída de um sexto a um terço. e) Reconhecida a intenção do coautor de participar de crime menos grave, o juiz deverá aplicar- lhe a pena em relação ao mesmo crime dos demais acusados, diminuindo-a, todavia, de um sexto até a metade. 2.0. 2017 – FAUEL - Câmara de Maria Helena – PR - Advogado. De acordo com o Código Penal, “o resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa”. Ainda de acordo com o Código Penal, considera-se causa: a) A ação ou omissão, mesmo que incapaz de causar o resultado previsto no tipo penal. b) A ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. c) A ação ou omissão imaginada pelo sujeito, mesmo que sem efetiva materialização ou exteriorização. d) Apenas a ação pode ser considerada causa, pois a omissão não pode gerar resultado penalmente punível. 3.0. 216 - CESPE - PC-PE - Delegado de Polícia. A relação de causalidade, estudada no conceito estratificado de crime, consiste no elo entre a conduta e o resultado típico. Acerca dessa relação, assinale a opção correta. a) Para os crimes omissivos impróprios, o estudo do nexo causal é relevante, porquanto o CP adotou a teoria naturalística da omissão, ao equiparar a inação do agente garantidor a uma ação. b) A existência de concausa superveniente relativamente independente, quando necessária à produção do resultado naturalístico, não tem o condão de retirar a responsabilização penal da conduta do agente, uma vez que não exclui a imputação pela produção do resultado posterior. c) O CP adota, como regra, a teoria da causalidade adequada, dada a afirmação nele constante de que “o resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa; causa é a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”. d) Segundo a teoria da imputação objetiva, cuja finalidade é limitar a responsabilidade penal, o resultado não pode ser atribuído à conduta do agente quando o seu agir decorre da prática de um risco permitido ou de uma conduta que diminua o risco proibido. e) O estudo do nexo causal nos crimes de mera conduta é relevante, uma vez que se observa o elo entre a conduta humana propulsora do crime e o resultado naturalístico. Gabarito 1.0. a. 2.0. b. 3.0. d.
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