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Cartilha Saúde mental e trabalho dores silenciosas Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador – CEREST Regional POA

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A
A
Saúde mental e trabalho:
dores silenciosas
ApresentACAo
ApresentaçãoApresentação
APRESENTAÇÃOAPRESENTAÇÃO
APRESENTACAOAPRESENTACAO
Apresentação
este material lhe ajudará a reconhecer as 
situações de sofrimento psicológico em que 
o trabalho aparece como desencadeante ou 
agravante. A partir desse reconhecimento, 
fica mais fácil fazer os encaminhamentos 
necessários.
Esta é uma cartilha organizada pelo Centro de Referência 
Regional em Saúde do Trabalhador – Regional/POA (CEREST) 
para pensarmos sobre nossas experiências de trabalho e as suas 
relações com a saúde mental.
O objetivo principal desta cartilha é sensibilizar para o papel 
central do trabalho na saúde mental das pessoas, chamando a 
atenção para algumas condições de trabalho que frequentemente 
desencadeiam sofrimento psicológico. 
Apresentação
Trabalhador,
é muito importante que você saiba identificar 
essa relação entre trabalho e saúde mental 
para qualificar seu papel na sociedade e 
manter-se ativo no cuidado da sua saúde. 
Profissional da saúde,
Para facilitar o reconhecimento de 
fatores da organização do trabalho 
que podem afetar a saúde mental 
do trabalhador, traremos algumas 
situações de trabalho como exem-
plos. Também veremos como pro-
ceder nas situações que confirmem 
a relação do sofrimento ou adoeci-
mento mental com o trabalho.
CEREST
2 3
Pensar que as pessoas não passam por crises, sofrimentos 
e dúvidas é irreal. Essas crises nos fazem crescer individual 
e socialmente. Portanto, ter saúde mental é a capacidade 
de, em meio às dificuldades, inventar e reinventar saídas 
que ampliem as alternativas de vida. 
As formas de trabalhar e seus 
impactos sobre a saúde mental 
do trabalhador.Mas, afinal, o que 
é saúde mental?
Ter saúde mental é 
sentir-se capaz de criar 
e repensar a vida!!!
Para falar da relação saúde mental e trabalho 
é necessário pensar sobre as formas como o 
trabalho foi sendo organizado no decorrer da 
história. Pense nos seus avós, como era 
o trabalho deles? Onde trabalhavam? 
Como faziam? O que produziam? 
Fazendo esse exercício, você provavelmente verá 
grandes diferenças entre a forma como eles 
trabalhavam e como você trabalha hoje. Mas 
também verá algumas semelhanças.
Até algumas décadas atrás era muito comum 
um tipo de trabalho onde cada trabalhador rea-
lizava uma pequena parte da produção. As ativi-
dades normalmente eram realizadas em esteiras, 
com exigências de produzir mais e mais rápido, 
sob a cobrança constante dos chefes e contra-
mestres. Os chefes e os engenheiros pensavam 
e controlavam o trabalho, na tentativa de que 
os trabalhadores executassem as tarefas sem 
muita possibilidade de criação.
Por isso, a doença ou sofrimento mental é diferente de 
outras doenças. As condições sociais são um forte deter-
minante para o seu surgimento. Essas dores são silenciosas 
e invisíveis, pouco reconhecidas, e o sujeito que está em 
sofrimento psicológico frequentemente é culpabilizado e 
discriminado pela sua situação.
Veremos como essas características acabam fazendo com 
que a pessoa que está em sofrimento se isole e demore 
a buscar ajuda.
A
4 5
A violência urbana invade o mundo do trabalho
Paulo trabalha como motorista 
para uma empresa de transporte 
coletivo há 12 anos. Sua jornada 
de trabalho começa às 15h e vai 
até as 23h, com frequentes horas 
extras até 1h30min da madrugada. 
Trabalha em uma linha considera-
da violenta, com uma média de seis 
assaltos por mês. Ele já sofreu três 
assaltos na linha, todos com porte 
de arma e, no último, com a morte 
do colega cobrador. “Eles ficaram 
apontando a arma e levaram o ôni-
bus para um lugar escuro, achei 
que ia morrer. Meu colega reagiu e 
eles o mataram. Essa imagem não 
sai da minha cabeça. Fiquei vários 
dias sem conseguir dormir e com 
medo de sair na rua. Sentia meu 
coração acelerado, suor e uma sen-
sação no peito.” Após esse último 
assalto, foi afastado do trabalho 
por dois dias e a empresa não fez 
a CAT (Comunicação de Acidente 
de Trabalho). Quando retornou ao 
trabalho, disse que já no primeiro 
dia não conseguiu completar o 
trajeto da linha. Começou a sentir-
se trêmulo, tonto e com medo de 
perder o controle. Chorou muito, 
teve que ser levado para a em-
presa e foi novamente afastado do 
trabalho.
Para compreender melhor a relação saúde mental e trabalho, apresentaremos algumas situações de 
trabalho contemporâneas. Enquanto você lê, tente imaginar como estes acontecimentos podem afetar 
a saúde mental do trabalhador:
Hoje esse tipo de trabalho ainda existe, mas 
convive com outras formas de se trabalhar, que 
exigem um trabalhador mais flexível, qualificado, 
em constante atualização e muito identificado 
com o que faz. Além disso, ele deve conhecer 
o processo de trabalho para além da atividade 
específica que realiza, sabendo atuar nas diver-
sas áreas que estão relacionadas com o seu 
trabalho. 
Isso, por um lado, pode ser positivo, pois agora 
o trabalhador conhece mais o contexto em que 
se insere seu trabalho e se envolve afetivamente 
com a atividade que realiza. Entretanto, os níveis 
de exigência podem ser muito altos e o medo de 
não corresponder às expectativas do mercado é 
constante.
Somam-se a isso o medo de perder o em-
prego, o subemprego, os contratos informais, 
por tempo determinado, a diminuição dos postos 
de trabalho, as novas tecnologias e máquinas 
incorporadas ao trabalho. Esses fatores também 
repercutem na saúde mental dos trabalhadores, 
que se sentem obrigados a permanecerem em 
seus empregos mesmo em condições precárias.
Essa situação configura um acidente de trabalho?
Trabalhar sob ameaça de violência pode trazer 
consequências negativas para a saúde física e mental 
do trabalhador? 
Sim, pois, a partir da situação de violência viven-
ciada no ambiente de trabalho, desencadeou-se 
um agravo à saúde mental de Paulo que ele não 
apresentava antes dos assaltos. 
Portanto os procedimentos devem ser os mes-
mos de qualquer outra notificação de doença 
profissional ou acidente de trabalho.
Sem dúvida. A ameaça de qualquer violência, 
de baixo ou alto nível, tem para o psiquismo 
uma tradução de violência, mesmo que esta 
não aconteça. A reação comum é que a pessoa 
ponha em ação mecanismos de ataque ou fuga 
e, no caso de uma situação de alto nível de 
ameaça, como um assalto, acontece um trauma: 
estado alterado de consciência, desorientação 
no espaço-tempo ou, em outras palavras, a pes-
soa pode ficar confusa, sem conseguir identifi-
car onde está e em qual dia da semana, po-
dendo vir a caracterizar um Estado de Estresse 
Pós-Traumático. 
No Brasil, as principais vítimas de violência no 
trabalho são bancários, cobradores e motoristas 
de ônibus, vigilantes, seguranças, transportado-
res de valores, trabalhadores de lotéricas e co-
merciários. 
1
Como realidades diferentes de trabalho afetam a saúde 
dos trabalhadores?
flexível
ousad
o
criativodinâmico
po
liva
len
te
6 7
Uma forma de discriminação 
no trabalho: o assédio moral
Joana tem 35 anos e é auxiliar de enfermagem 
em um hospital. Sempre trabalhou nessa função 
e por isso tem bastante experiência na área. 
Cumpre sua atividade com muita dedicação e, 
quando percebe que alguma coisa pode ser me-
lhorada, procura a enfermeira-chefe para fazer 
algumas sugestões. Nessas ocasiões, a enfermeira 
costuma agir com grosseria com Joana, dizendo 
coisas do tipo: “Quem é você para me dizer o 
que pode ser melhor no setor?” Em uma dessas 
ocasiões, Joana foi insistente em suas propostas 
e elas tiveram uma discussão. Após esse inci-
dente, a chefe passou a controlar tudo o que 
Joana fazia, dizendo na frente dos colegas: “Essa 
aí tem que ficar em cima, senão ela começa a 
querer inventar moda... onde já se viu umatécnica 
de enfermagem achar que sabe alguma coisa!”. 
Joana se sente mal com essas atitudes de sua 
chefe, mas precisa muito desse emprego. Quando 
o sofrimento é muito grande, ela vai ao banheiro, 
chora e depois volta ao trabalho. No último Natal, 
ela queria viajar com sua família e pediu duas 
semanas de férias a que tinha direito. O pedido 
foi negado. Observou, naquelas semanas, que até 
os novos funcionários tiraram férias, e ela não. 
Joana agora começa a perceber que já não tem 
o mesmo jeito com os pacientes, irrita-se facil-
mente e começou a duvidar de sua capacidade 
profissional. Fora do trabalho, sente-se insegura 
na relação com as pessoas, ansiedade, dificul-
dade para dormir, irritabilidade. No trabalho, tem 
muito medo de fazer algum procedimento errado, 
pois sabe que a chefe gritaria com ela perante 
os colegas. Essas situações a deixam com muita 
vergonha e ela já não consegue se relacionar da 
mesma forma com os colegas. Está sendo muito 
difícil trabalhar ali e tem pensado seriamente em 
pedir demissão e buscar um emprego em outra 
área, pois acha que não serve para ser técnica 
de enfermagem. 
Pode-se dizer que Joana é vítima de assédio moral no 
trabalho? Ou as críticas que ela recebe correspondem 
a sua postura profissional?
Essa situação é algo que Joana deve resolver sozinha?
Sim, Joana é vítima de assédio moral no tra-
balho, pois assédio, violência ou constrangi-
mento moral acontece quando o trabalhador é 
submetido a situações de humilhação e cons-
trangimento constantes. Essas situações muitas 
vezes são sutis - a organização, geralmente por 
meio da chefia, constrange, dá ordens confu-
sas, restringe as atividades, exige mudanças de 
turnos de trabalho ou horas extras excessivas, 
exige metas inatingíveis, nega folgas e férias.
Isolar-se e sentir-se culpada pode reforçar o am-
biente em que o individualismo é estimulado, 
estabelecendo-se pactos de silêncio e de re-
produção da violência entre os colegas, as che-
fias e a organização. É fundamental revelar esse 
sofrimento e denunciar a situação de violência 
moral a que vem sendo submetida – muitas vezes, 
uma situação que parece isolada, quando explici-
tada, autoriza os outros a também revelarem os 
constrangimentos a que vêm sendo submetidos. 
Deve procurar aliados na organização e fora dela, 
como áreas de RH, Superintendência Regional do 
Trabalho e Emprego (SRTE), Ministério Público, 
CEREST, Sindicatos, etc. Na SRTE, existe um Nú-
cleo de Igualdade no Trabalho (NIT) que atende, 
a partir de denúncias, situações de discriminação 
no trabalho. Além disso, é importante que o 
trabalhador vítima de assédio busque esclarecer 
com os colegas sobre o que está ocorrendo de 
modo a levá-los a pensar sobre a situação.
Mas o que é assédio moral?
“Podemos dizer que o assédio moral no 
trabalho significa submeter os trabalhadores 
ou trabalhadoras a situações de humilhação 
e de constrangimento, repetitivamente e de 
forma prolongada no tempo.” 
Ana Maria Costa (Auditora Fiscal do Trabalho) 
Coordenadora do NIT/SRTE-RS
2
8 9
A pressão pela produção: 
a “fábrica moderna”
Marco tem 19 anos e trabalha numa empresa 
de telemarketing há um ano e meio. Sua função 
é vender produtos por telefone. O ambiente de 
trabalho é amplo, mas sua mesa fica num peque-
no espaço com divisórias, as quais impedem o 
contato com outros colegas. Marco tem 1,90m 
de altura e a sua cadeira de trabalho é baixa, 
causando muito desconforto. Ele precisa atingir 
uma meta de 20 vendas por dia, e os tempos de 
ligação são controlados pelo computador. Marco 
não pode interagir livremente com as pessoas 
com quem fala por telefone, pois precisa seguir 
algumas frases-padrão conforme lhe orientaram 
no treinamento. Muitas vezes recebe xingamentos 
das pessoas para quem liga. Até pouco tempo 
atrás havia muitos supervisores controlando seu 
trabalho, recentemente eles foram substituídos por 
câmeras. Há uma sobre sua cabeça. Pode ir ao 
banheiro somente uma vez por turno, em horários 
especificados. Não faz pausas, exceto no horário 
de almoço. Realiza muitos movimentos repetitivos 
com os braços para discagem dos números, in-
serção de dados no computador. Após os cinco 
primeiros meses de trabalho, começou a sentir 
dores no punho direito. Consultou um médico que 
lhe receitou um remédio para aliviar a dor. 
3
Falta de contato com os colegas por causa das 
divisórias, interação humana ao telefone contro-
lada, poucas pausas, vigilância pelas câmeras, 
xingamentos, movimentos repetitivos, metas, am-
biente restrito e isolado, péssimas condições er-
gonômicas e dor. Também o fato de ser uma 
atividade que lida com os modos de falar e de 
convencer os clientes coloca a inteligência desse 
trabalhador em evidência. No caso da empresa 
tratar esse “uso da inteligência” com punições 
ou premiações, fica ainda mais complexo do 
ponto de vista de sua saúde mental. Falamos 
de um jovem com a sua primeira experiência de 
emprego, e que provavelmente ainda enfrentará 
muitas dificuldades para compreender a reali-
dade deste novo mundo do trabalho.
AQue relação pode haver entre o cotidiano de 
trabalho de Marco 
e as perturbações 
que ele tem sentido 
fora do trabalho? 
Atualmente o remédio não tem tido mais efeito, 
mas as metas que Marco tem atingido estão lhe 
rendendo uma porcentagem a mais no seu sa-
lário e ele precisa continuar com o mesmo ritmo 
de produção. Recentemente começou a perceber 
que tem se cobrado muito em suas atividades 
fora do trabalho: sente necessidade de fazer as 
coisas com rapidez e com perfeição e fica muito 
angustiado quando as coisas não saem como 
gostaria. Há um mês não sente mais vontade de 
ir ao trabalho, sente muitas dores pelo corpo 
(principalmente nos braços e na coluna), não 
quer falar com as pessoas e, se pudesse, ficaria 
todo o tempo trancado no quarto dormindo.
10 11
A era da “qualidade”
Suzana formou-se em Administração e há cinco 
anos trabalha como gestora de recursos huma-
nos. Recentemente foi encarregada de implantar 
um sistema de controle de qualidade na empresa. 
Seu chefe a pressiona para que a empresa ob-
tenha a certificação superior à da concorrência. 
Entretanto, ela está atrasada nos prazos em vir-
tude das dificuldades em treinar os funcionários 
para essas novas mudanças, pois eles não con-
seguem se adequar às normas. Além disso, a 
implantação do sistema está atrelando os ganhos 
dos trabalhadores ao aumento de produção e 
cria descontentamento entre os funcionários. O 
novo sistema exige que os trabalhadores sintam-
se motivados a contribuir com a empresa, mas 
Suzana está tão estressada que acaba não con-
seguindo se controlar e se comporta com muita 
exigência e autoridade diante deles. O conflito 
com os funcionários e o atraso na implantação 
do sistema fez com que Suzana recebesse uma 
advertência da chefia. Com medo da demissão, 
ela agora tem levado trabalho para casa e suas 
amigas se queixam porque ela já não sai com 
elas como costumava fazer antes. Na semana 
passada o nível de stress foi tão alto que Suzana 
teve uma grave crise de herpes. O médico que 
a atendeu recomendou que se afastasse do tra-
balho por alguns dias, mas ela não acatou essa 
recomendação, pois não pode estar de atestado 
em um momento tão delicado para a empresa.
4
As formas de produção inspiradas nos modelos 
de gestão da qualidade, que têm como priori-
dade o controle e a produção da qualidade em 
todos os níveis da produção, na grande maioria 
das vezes, são implantadas de cima para baixo, 
trazendo o temor do desemprego e a intensifica-
ção do trabalho, além disso, há pouca abertura 
para a participação daqueles que executam as 
atividades. Esses modelos criam a exigência de 
um trabalhador polivalente, engajado, que deve 
vestir a camiseta da empresa, escolarizado eem formação permanente. O sentimento de frus-
tração, o temor em não atender as metas e o 
medo de ser demitido, criam uma verdadeira 
“panela de pressão” que pode, cumulativamente, 
causar sofrimentos psíquicos importantes.
As pressões da organização do trabalho, que atin-
gem todos os níveis de hierarquia da empresa, 
muitas vezes são determinantes de um tipo de 
sofrimento psíquico que vai manifestando-se fisica-
mente, por meio de sintomas como: somatizações, 
tristeza, alterações no sono e fadiga. Encarrega-
dos e gerentes vivem tais situações, assim como 
operários e outros cargos dentro da empresa. 
A implantação de um novo sistema de gestão 
pode interferir na saúde dos trabalhadores?
“O sofrimento começa quando a relação homem-organização do trabalho está blo-
queada; quando o trabalhador usou o máximo de suas faculdades intelectuais, psi-
coafetivas, de aprendizagem e de adaptação. Quando um trabalhador usou de tudo 
que dispunha de saber e de poder na organização do trabalho e quando ele não 
pode mudar de tarefa: isto é, quando foram esgotados os meios de defesa contra a 
exigência física. Não são tanto as exigências mentais ou psíquicas do trabalho que 
fazem surgir o sofrimento. A certeza de que o nível atingido de insatisfação não 
pode mais diminuir marca o começo do sofrimento”. (DEJOURS, 1992, p. 52).
A pressão 
sofrida pela 
organização pode 
ser um fator de 
risco para o 
adoecimento?
12 13
-
Por que foi usado o termo “remédio” ao invés 
de veneno? Qual o impacto disso na preservação 
de sua saúde?
Muitas vezes essa terminologia pode confundir o 
trabalhador que faz uso do produto químico com 
a idéia de que ele é um “tratamento” para a 
plantação e, portanto, não traz nenhum prejuízo 
à sua saúde, podendo ser utilizado sem qualquer 
cuidado tanto por crianças como adultos.
O trabalhador rural e 
as intoxicacões químicas
Luís trabalha desde os oito anos na agricultura 
com a família, no interior do Rio Grande do Sul. 
Conta que uma grande empresa de fumo che-
gou no município e ofereceu aos agricultores a 
proposta de montarem estufas com sementes 
de fumo. Forneciam sementes, equipamentos e 
“remédios”, orientando que podiam ir para a la-
voura sem qualquer proteção. Relata que ele e 
o irmão envolviam-se diretamente no plantio e 
na colheita, mas que a colocação do “remédio” 
ele realizava sozinho. Lembra que sentia muitas 
tonturas, desmaios, vômitos, diarréia, estava sem-
pre gripado e desidratado e em vários momentos 
apresentava dificuldades para caminhar. Nessas 
ocasiões, quando buscava atendimento médico, 
diziam que era uma virose, davam-lhe soro e o 
mandavam para casa. Lembra que esses sintomas 
apareciam principalmente nos meses de dezem-
bro, época da colheita. Os agricultores vizinhos 
queixam-se dos mesmos problemas. Ele menciona 
também algumas histórias de depressão, suicídio 
e internações psiquiátricas na região.
5 Sim, essa possibilidade precisa ser avaliada, pois existem estudos que relacionam sintomas como os identificados na comunidade de Luís 
com intoxicacões por produtos químicos. Os sin-
tomas referem-se à diminuição da capacidade 
de concentração, processamento da informação, 
memória e coordenação motora fina, ou seja, 
o trabalhador fica com dificuldade de realizar 
pequenos movimentos com as mãos e atividades 
que exigem destreza manual, entre outros. 
Observam-se também em intoxicados mudan-
ças de comportamento e efeitos emocionais tais 
como: ansiedade, irritabilidade, tensão, desmoti-
vação, inquietação, havendo relatos de casos de 
esquizofrenia e depressão relacionados.
Pode haver relação entre o uso de agrotóxicos e 
os sintomas referidos por pessoas da comunidade 
onde Luís mora?
Já existem estudos que identificam esses quadros 
relacionados ao uso de agrotóxicos frequente-
mente utilizados nas lavouras. Foram identifica-
dos alguns sintomas psíquicos: alterações neuro-
comportamentais como problemas de memória, 
percepção das coisas, alterações de humor, 
dificuldades de aprendizagem em crianças, de-
pressão e suicídio.
Existe relação 
entre depressão, 
suicídio e o tipo 
de trabalho que 
eles realizam?
14 15
As doenças ocupacionais 
LER/DORT e o aumento da 
produção
6
Marina trabalhava, até 2005, como costureira em 
uma empresa de confecções. Trabalhava de 10 
a 13 horas por dia durante a semana e, aos 
sábados, 6 horas. Após um mês trabalhando na 
empresa, sua chefia imediata lhe disse que a 
empresa estava muito satisfeita com seu ritmo 
de produção e que por isso ela seria transferida 
a um setor “melhor” (nas palavras do chefe), no 
qual receberia uma porcentagem por quantidade 
de peças produzidas. Como “não era de negar 
serviço”, Marina foi para o novo setor e con-
seguiu, em pouco tempo, ser a funcionária que 
mais produzia. Foi um período muito bom de sua 
vida, porque o seu salário estava bem alto – em 
virtude das horas extras e da porcentagem por 
produção – e ela conseguiu realizar o sonho de 
arrumar sua casa. Na época, ela tinha quase 40 
anos, e os amigos achavam estranho que ela 
não pensasse em casar ou ter filhos, ao que 
ela respondia: “Agora não dá, estou numa fase 
de muito trabalho na empresa”. Ao cabo de um 
ano, Marina teve que se afastar do trabalho em 
decorrência das LER/DORT (Lesões por Esforços 
Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relaciona-
dos ao Trabalho). Sua doença a impossibilita de 
realizar atividades com movimentos repetitivos, e 
mesmo as tarefas de casa já não consegue 
fazer, tendo que pedir ajuda para uma vizinha. 
Desde então sua vida tem sido muito difícil: 
“Desde muito nova eu sempre trabalhei, agora 
que não consigo fazer o que eu fazia, sinto um 
vazio. Antes, eu era costureira, agora já não sei 
quem sou”. Perdeu o contato com suas amigas 
da fábrica e passa os dias sozinha, pois todas 
as pessoas que conhece estão trabalhando. Na 
verdade, ela até prefere assim: faz tempo que 
não gosta de ter contato com outras pessoas, 
preferindo ficar trancada em casa, “em casa nin-
guém me incomoda”, ela costuma dizer. 
Marina passou de “trabalhadora eficiente” para 
“trabalhadora afastada”. E agora, como fica sua 
identidade? Qual o impacto sobre sua saúde mental?
Marina é uma dentre tantos trabalhadores que 
sempre serviram à organização, cumprindo a 
produção e até superando as metas propostas, 
sem tempo de lazer, com sobrecarga de tra-
balho, sem pausas, repetitividade de movimen-
tos, dores constantes, dificuldade para dormir, 
namorar e limitações físicas. Nesses casos, a 
principal fonte de agressão à saúde do tra-
balhador é a própria organização do trabalho. 
Como Marina, a grande maioria dos casos evolui 
para uma forma crônica com a presença per-
manente de dor, trazendo uma série de im-
possibilidades/limitações para exercer atividades 
cotidianas, como lavar e pentear os cabelos, 
lavar louça sem quebrar, entre outras. Essas 
limitações trazem repercussões do adoecimento 
nas relações sociais: família, amigos e vizinhos, 
principalmente discriminatórias, provocando, mui-
tas vezes, o convívio solitário com a doença. 
O mesmo acontece com as relações de trabalho: 
é comum que o trabalhador que adoeceu sofra 
isolamento e discriminação dos empregadores e 
colegas. A baixa autoestima e o sentimento de 
culpa agregam-se as limitações de exercer algu-
mas atividades profissionais, o que termina por 
abalar sua identidade de trabalhador. Falamos 
de uma doença que em geral atinge quem está 
muito interessado no seu trabalho, mostrando 
muita dedicação. Quando a situação é essa, o 
trabalhador sofre ainda mais porque necessita 
afastar-se de algo que lhe traz reconhecimen-
to. Dessa forma, o trabalho, contraditoriamente, 
deixa de ser produtor de saúde e acaba por 
produzir doença, pois não leva em consideração 
o trabalhador, seu corpo e suas necessidades.São trabalhadores em situação de permanente 
sofrimento psíquico, geralmente com sintomas 
depressivos associados.
A
16 17
A violência urbana invade o mundo do trabalho
Paulo trabalha como motorista
 
para uma empresa de transporte
 
coletivo há 12 anos. Sua jornada
 
de trabalho começa às 15h e va
i 
até às 23h, com freqüentes horas
 
extras até 1:30h da madrugada
. 
Trabalha em uma linha consid
-
erada violenta, com uma média
 
de seis assaltos por mês. Ele
 
já sofreu três assaltos na linha
, 
todos com porte de arma e, no
 
último, com a morte do colega
 
cobrador. “Eles ficara
m apontan-
do a arma e levaram o ônibus
 
para um lugar escuro, achei que
 
ia morrer. Meu colega reagiu e
 
eles o mataram. Essa imagem
 
não sai da minha cabeça. Fique
i 
vários dias sem conseguir dormi
r 
e com medo de sair na rua. Sentia
 
meu coração acelerado, suor e
 
uma sensação no peito.” Após
 
esse último assalto foi afastado
 
do trabalho por dois dias e a
 
empresa não fez a CAT (Comuni
-
cação de Acidente de Trabalho)
. 
Quando retornou ao trabalho
, 
disse que já no primeiro dia, ele
 
não conseguiu completar o tra
-
jeto da linha. Começou a sentir
-
se trêmulo, tonto e com medo de
 
perder o controle. Chorou muito
, 
teve que ser levado para a em
-
presa e foi novamente afastado
 
do trabalho.
Se em muitas doenças físicas relacionadas ao trabalho falamos de invisibilidade, do ponto de vista 
da saúde mental isso é ainda mais acentuado, ou seja, ela é vivida pelo trabalhador, mas não é 
reconhecida como uma forma de doença. O trabalhador sofre, mas pode não reconhecer esse so-
frimento/desconforto como um fator de agravo à sua saúde. 
No caso da saúde mental, não podemos falar em “fatores de risco” universais, ou seja, cada 
trabalhador vai reagir de forma diferente a uma dada situação de trabalho. No entanto, é 
sabido que algumas condições de trabalho, tais como trabalhar sob pressão, sem possibili-
dade de interação com os colegas, em ambientes competitivos, com sobrecarga de trabalho, 
sob vigilância, sob ameaça de violência, sob constrangimento moral, freqüentemente levam 
o trabalhador ao adoecimento.
Vejamos como continuam essas histórias:
Luís já teve internação psi-
quiátrica e ainda não lhe foi 
dada uma avaliação conclu-
siva sobre o seu caso.
Marina está tomando medi-
cação para dor e antidepres-
sivo. 
Marco, quando procurou 
ajuda, teve o diagnóstico de 
“Transtorno Misto Ansioso 
Depressivo”. 
Paulo foi levado pela sua 
esposa para atendimento 
numa Unidade Básica de 
Saúde. Dali foi encaminha-
do para um psiquiatra que 
prescreveu uma medicação 
para “Transtorno de Estresse 
Pós-Traumático”. 
1 2 3
4 5 6
A partir dessas situações, que são baseadas em histórias reais de trabalhadores, 
podemos ver como o trabalho é importante na vida das pessoas. Cada forma de organização do 
trabalho terá elementos que favorecerão o bem-estar do trabalhador, mas também aqueles que lhe 
trarão sofrimento. 
Nas situações que vimos, havia uma prevalência de situações de sofrimento no trabalho sobre as 
fontes de saúde. 
Joana, apesar da sensação 
de que não anda muito bem, 
não fala de seu sofrimento 
com as pessoas à sua vol-
ta e nem buscou ajuda em 
serviços de saúde. 
Suzana, apesar da sensação 
de que não anda muito bem, 
não fala de seu sofrimento 
com as pessoas à sua vol-
ta e nem buscou ajuda em 
serviços de saúde.
Como podemos ver no desfecho desses casos, ainda temos dificuldade em reconhecer o 
adoecimento psíquico como sendo relacionado ao trabalho. Na grande maioria dos casos, é 
feita uma interpretação individual e sintomatológica, buscando um diagnóstico a partir dos 
sintomas psíquicos que se apresentam, sem considerar as condições de trabalho, ergonômi-
cas, sociais e organizacionais.
O sofrimento 
mental é sempre 
subjetivo, portanto 
ele precisa ser 
expressado, escutado, 
para ser reconhecido 
tanto pelo próprio 
trabalhador, como 
pelos profissionais 
de saúde.
18 19
Cada caso deverá ser tratado de forma única, portanto não existe uma “receita” que vale para todo 
mundo, mas alguns ingredientes já foram estudados e identificados. Vamos agora sugerir alguns in-
gredientes possíveis.
Trabalhador, se você acha que o seu trabalho está colaborando para o seu 
sofrimento/adoecimento, o primeiro passo é buscar ajuda em um serviço de saúde da rede básica 
(UBS, PSF), que deve avaliar a relação do sofrimento psíquico com as condições de trabalho. Em 
caso de confirmação desse nexo, você receberá o atendimento adequado e será orientado a buscar 
seus direitos junto à Previdência Social e ao empregador.
O trabalhador, quando sofre acidente de trabalho, acidente de trajeto ou doença relacionada ao 
trabalho, pode ter que se afastar temporariamente ou permanentemente do trabalho para fazer trata-
mento e se reabilitar, dependendo do seu estado de saúde.
Comunicação do Acidente de Trabalho junto 
ao INSS – Previdência Social, por meio de 
de um documento – CAT (Comunicação de 
Acidente de Trabalho) que deve ser feito 
pela empresa onde trabalha e entregue ao 
trabalhador para ser levado ao INSS, mes-
mo que não precise se afastar do trabalho, 
tanto em situação de acidente quanto de 
doença relacionada ao trabalho.
Atenção médica no momento do acidente;
Em qualquer 
situação de 
acidente ou 
doença do trabalho, 
o trabalhador 
tem direito à...
SUSCEREST
No Brasil, existe uma Rede de Atenção 
Integral à Saúde do Trabalhador - 
RENAST, que tem como objetivo articular, 
no âmbito do SUS, ações de prevenção, 
promoção e recuperação da saúde dos tra-
balhadores urbanos e rurais, independente-
mente do vínculo empregatício e do tipo de 
inserção no mercado de trabalho.
A RENAST cria os CERESTs (Centros 
de Referência Regional em Saúde do 
Trabalhador), que funcionam como articu-
ladores das políticas públicas em saúde do 
trabalhador em sua região de abrangência. 
Entre suas atribuições estão a capacitação 
da rede do SUS para acolhimento, notifica-
ção e tratamento dos agravos relacionados 
ao trabalho; a vigilância aos ambientes de 
trabalho e a vigilância epidemiológica. 
A partir desse modelo, a atenção à saúde 
dos trabalhadores se dará na rede do SUS, 
cabendo aos CERESTs serem referência téc-
nica para essas ações.
Existem alternativas para 
esses trabalhadores?
RENAST
20 21
Não perca tempo! Assim que acontecer algo que não esteja 
respeitando o direito do trabalhador, mantenha a equipe que 
está lhe acompanhando informada, pois ela poderá dar ori-
entações que venham a ajudá-lo. Isso também faz parte do 
atendimento em saúde!
Se os direitos que não estão sendo respeitados forem por 
parte da empresa onde trabalha, você pode procurar a 
Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (antiga 
DRT), para obter informações ou denunciar, se for o caso. 
Observação Importante
Se a empresa não preencher a CAT (Comunica-
ção de Acidente de Trabalho), outras pessoas 
podem preencher, como o sindicato de sua ca-
tegoria, um médico do serviço de saúde onde foi 
atendido, ou ainda o próprio trabalhador. O for-
mulário da CAT pode ser encontrado no site da 
Previdência Social ou adquirido na própria agên-
cia do INSS. Também alguns sindicatos fornecem 
esse documento. Se ficar comprovado que a 
doença ou o acidente são relacionados ao tra-
balho e o trabalhador tiver que ficar afastado, 
terá direito a um benefício da Previdência Social 
(INSS), chamado auxílio-doença acidentário – es-
pécie B-91. Esse benefício só é concedido após 
o trabalhador passar pela perícia médica.
E quando 
todos esses 
direitos 
não forem 
respeitados, 
o que fazer?
Profissional da saúde, fique atento ao papel do trabalho nosquadros de adoecimento psíquico que chegam às suas unidades de saúde. Pergunte sobre 
as condições de trabalho do paciente: O que faz? Onde faz? Como 
faz? Com o que faz? Quanto faz?
Em alguns casos, o reconhecimento dessa relação pode ser mais complicado, e você pode ter dúvi-
das. Nessas situações, consulte o “Manual de Doenças Relacionadas ao Trabalho” do Ministério da 
Saúde no site do Ministério da Saúde ou solicite este manual ao CEREST da sua região. Se ainda 
houver dúvidas, poderá conversar com os técnicos do CEREST ou mesmo encaminhar o paciente para 
avaliação de nexo no CEREST de sua região.
Se ficar claro o nexo da doença com o trabalho, é importante que você notifique a suspeita 
por meio do formulário da RINA-SIST/RS (Relatório Individual de Notificação de Agravo do 
Sistema de Informações em Saúde do Trabalhador) e/ou SINAN (Sistema de Informações de 
Agravos de Notificação) e oriente o trabalhador a buscar informações sobre seus direitos 
previdenciários (nos sindicatos, CEREST, serviços de assessoria jurídica ou de assistência so-
cial). A notificação desses agravos é que permitirá que as políticas de saúde do trabalhador 
sejam implementadas.
Estabelecer o nexo do sofrimento psíquico com o trabalho;
Pensar no paciente/trabalhador em um papel ativo;
O trabalhador deve ser orientado a solicitar uma CAT à empresa;
Preencher a RINA-SIST/RS e/ou SINAN;
Encaminhar para o CEREST se houver dúvida do nexo ou para acompanhamentos interdiscipli-
nares;
Se a equipe ou profissional julgar necessário, afastar o trabalhador da atividade;
Realizar um plano de tratamento com o paciente que pode incluir psicoterapia em grupo ou 
individual, participação em grupos do CEREST, acompanhamento psiquiátrico e medicamentoso, 
investindo na saúde de forma ampliada.
Lembre-se de
22 23
Você pode ser a primeira pessoa para quem o 
trabalhador está conseguindo falar de seu so-
frimento e é importante que você consiga iden-
tificar a suspeita de nexo com o trabalho para 
que o trabalhador receba ajuda especializada.
Para essa rede funcionar é
preciso a colaboração de todos! A evolução dos casos depende do suporte 
fornecido pelos serviços 
de saúde, empresas, sindica-
tos, familiares e instituições, 
pois esses podem fornecer 
um conjunto de ações que 
resgatem a identidade 
profissional e social
dos trabalhadores.
É muito importante que você esteja atento às 
suas condições de trabalho e aos efeitos e con-
sequências que ela produz na sua vida. A partir 
disso, você será capaz de denunciar irregulari-
dades em seu trabalho e buscar ajuda. 
Trabalhador
Profissional
da Saúde
Sabemos que as difi-
culdades não são pou-
cas, principalmente frente à 
necessidade de reconhecimento e comprovação 
do adoecimento pelas empresas e pelo INSS. 
Os profissionais de saúde que prestam assistên-
cia aos trabalhadores ouvem há muito tempo 
seus relatos sobre o sofrimento que experenciam 
desde os dias que antecedem as perícias médi-
cas previdenciárias e suas consequências nos 
dias seguintes. Relatam momentos de angústia 
e de apreensão e a intensificação dos sintomas 
dolorosos. Esse agravamento dos sintomas físi-
cos e psíquicos parece relacionar-se a múltiplos 
aspectos que envolvem os procedimentos perici-
ais. A necessidade de comprovação diagnóstica 
e de incapacidade para o trabalho envolve a 
realização de consultas especializadas e exames 
complementares (por exigências periciais) cujos 
custos acabam sendo arcados pelos próprios 
trabalhadores pela dificuldade de agendamento 
pelo SUS, que não consegue atender as de-
mandas nos prazos estipulados. O rito pericial 
propriamente dito é descrito pelos trabalhadores 
como sendo de muita tensão, seja pela possibili-
dade de os resultados de exames complemen-
tares e laudos com as avaliações clínicas serem 
desconsiderados, seja pela forma como se dá 
a relação perito-segurado. 
Criam-se assim outros conflitos para serem 
manejados. Pacientes que se dedicam aos 
tratamentos recomendados - e que tentam 
fazer o que está ao seu alcance para pro-
mover sua recuperação - terão que ciclica-
mente enfrentar essa situação sabendo que, 
se não chegarem às perícias claramente doen-
tes, não terão seus benefícios prorrogados e o 
tratamento, por conseguinte, suspenso ou muito 
dificultado. A esse respeito é exemplar o estudo 
de NARDI, 1999, “A vivência do adoecimento 
relacionado ao trabalho e a relação médico-
paciente: o jogo das instituições”. 
Esse processo – que inclui perícias, eventuais re-
tornos do trabalhador ao trabalho ainda doente, 
discriminação, lutas constantes pelos seus direi-
tos – pode acabar gerando novas formas de so-
frimento psíquico. Esse sofrimento, que se agrava 
com a proximidade das perícias, produz uma 
tensão específica que os trabalhadores denomi-
nam de TPP (tensão pré-perícia).
24 25
Em Porto Alegre, existe o CEREST Regional/
POA, que abrange os municípios da 1ª, 2ª e 
18ª Coordenadorias Regionais de Saúde. Nesse 
serviço, há uma equipe multidisciplinar (médicos 
do trabalho, fisioterapeutas, psicólogo, assistente 
social, terapeuta ocupacional, enfermeiro, jor-
nalista, técnicos em segurança do trabalho e 
servidores administrativos) disponível para ori-
entar e, se necessário, avaliar as situações de 
adoecimento relacionadas ao trabalho. Especifi-
camente na área de saúde mental, dispomos de 
uma equipe composta de uma psicóloga e dois 
estagiários de Psicologia do Trabalho vinculados 
à UFRGS que realizam avaliações individuais para 
o estabelecimento de nexo, orientações e plano 
de tratamento. Esse plano pode incluir a par-
ticipação em atividades em grupo realizadas no 
CEREST ou em outras instituições como sindica-
tos, associações ou demais parceiros em ações 
de saúde do trabalhador.
Grupos realizados no CEREST
Grupos de Reflexão sobre o Trabalho
Grupos fechados, sistemáticos, com trabalhadores que já tenham estabelecido o nexo do sofrimento 
com o trabalho, buscando a reflexão sobre o mundo do trabalho, processo de adoecimento, trata-
mentos e reinserção social.
Grupo de Convivência
Grupo permanente, aberto para trabalhadores vinculados ao serviço e que já participaram do Grupo 
de Reflexão sobre o Trabalho, buscando, por meio da convivência e de atividades artesanais ou 
literárias, a reinserção social, a melhora sintomatológia e a qualidade de vida. 
Grupo Viver Bem
Grupo permanente, aberto para trabalhadores intoxicados por organofosforado do Grupo Hospitalar 
Conceição, que busca a reflexão, os conhecimentos, as orientações e as terapias que ofereçam me-
lhora na sintomatologia física e psíquica.
Grupo Recomeçar
Grupo sistemático aberto a trabalhadores vinculados ao CEREST Regional/POA e à GerAção POA 
que tenham condições de reinserção e desejam uma preparação para inclusão planejada em novo 
processo de trabalho, visando a garantia de direitos sociais.
Temos também uma parceria já estabelecida há muitos anos com a GerAção POA 
Oficina Saúde e Trabalho da SMS/PMPA onde são realizadas atividades de acolhi-
mento, oficinas de trabalho, oficinas de expressão e arte, grupos, cursos, incubação de grupos 
de gestão solidária e atividades externas, que ampliam os espaços de circulação na cidade. 
É um serviço que integra a política de saúde mental e física do trabalhador. 
CEREST Regional/POA
Indicamos também a busca de tratamentos interdisci-
plinares em outros coletivos de trabalhadores que, por 
enquanto, têm se centrado na região da Grande POA
Grupo de Ação Solidária de Portadores de LER/DORT do Sindicato dos Bancários de Porto 
Alegre (GAS);
Associação dos Trabalhadores Vítimas de Doenças e Acidentes de Trabalho no RS/AVIDA;
Grupo Renascer para Pacientes com LER/DORT do IPA;
Grupos da Unidade de Referência em Saúde do Trabalhador de Gravataí;
Grupo dos Metalúrgicos de POA.
Além disso, esses trabalhadores,se identificada a necessidade de um acompanhamento psicoterápico 
individual, serão encaminhados para vários serviços de referência na rede do SUS ou fora dela.
Projeto Saúde Mental do Trabalhador: Tecendo Caminhos da Saúde 
Mental com os Trabalhadores da Rede da Saúde
O projeto se desenvolve por meio de oficinas que visam promover o fortalecimento da Rede de Aten-
ção à Saúde Mental e o cuidado da saúde dos trabalhadores da Atenção Básica.
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Onde buscar orientações
Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador – CEREST Regional/POA
Capitão Montanha, 27/4º andar – Centro/POA
51 3225.2211
crst@sms.prefpoa.com.br
Núcleo Igualdade no Trabalho – Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, NIT/SRTE
Av. Mauá, 1013/4º andar – Centro/POA
51 3227.2775
nit.drtrs@mte.gov.br
Grupo de Ação Solidária (GAS)
Sindicato dos Bancários - General Câmara, 424 – Centro/POA
51-3433.1200
saude@bancariospoa.com.br
AVIDA
Rua dos Andradas, 1560 – 16º andar – Centro/POA
avida-rs@bol.com.br
Centro Universitário Metodista/IPA
Rua Coronel Joaquim Pedro Salgado, 80
Bairro Rio Branco/POA
51 3316.1100 – Coordenação da Terapia Ocupacional
Centro de Documentação, Pesquisa e Formação em Saúde e Trabalho/CEDOP
Do Departamento de Medicina Social, da Faculdade de Medicina da UFRGS.
Rua Ramiro Barcellos, 2600 – 4º andar – Santana/POA
51 3308.5291
www.famed.ufrgs.br/centro-de-documentacao-pesquisa-e-formacao-em-saude-e-trabalho.php
Unidade de Saúde do Trabalhador de Gravataí
Avenida Dorival Luiz de Oliveira, 300 – salas 1 e 2
Centro/Gravataí
51 3043.1382/3043.1383/3043.1384
Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre
Rua Francisco Trein, 116
Cristo Redentor/POA
51 3341.1900
GerAção POA
Mariante, 500
Rio Branco/POA
51 3321.1976
Previdência Social
Prevfone: 0800.780.191
Indicações/recomendações de sites para consultas
Ministério da Saúde/ Saúde do Trabalhador
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/area.cfm?id_area=928
Assédio Moral 
www.assediomoral.org
OIT (Organização Internacional do Trabalho)
www.oit.org
Previdência Social 
www.mpas.gov.br
Saúde e Trabalho On-line 
www.saudeetrabalho.com.br
Biblioteca Virtual em Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde 
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadão/área.cfm?id_area=928
Portal Scielo Brasil (biblioteca eletrônica de periódicos nacionais)
www.scielo.br/scielo.php/script_sci_subject/lng_pt/nrm_iso
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Na elaboração desta cartilha foram utilizadas referências 
dos seguintes documentos:
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS nº 2.437, de 07/12/05.
BRASIL. Ministério da Saúde do Brasil. Doenças relacionadas ao trabalho – manual de procedimentos para os serviços de 
saúde. Série A. Normas e manuais técnicos. Brasília: Ministério da Saúde do Brasil, 2001.
CANGUILHEM, G. (1943, 1995) O normal e o patológico, trad. Maria Thereza Redig de Carvalho Barrocas e Luiz Octavio 
Ferreira Barreto Leite. 4. ed. Rio de Janeiro, Forense Universitária.
DEJOURS, C. A. Loucura do Trabalho – Estudo de Psicopatologia do Trabalho. 5. ed. SP: Cortez, 1992. 168p.
COSTA, Ana. Afinal, o que é assédio moral. Publicado no Jornal do SINDEC - Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do 
Vestuário de Porto Alegre: http://www.sindvestuario.org.br/?id=artigos&pg=assedio
Cartilha elaborada por
Ana Fumegalli – Jornalista CEREST Regional/POA
Etiane Araldi – Estagiária de Psicologia do Trabalho CEREST Regional/POA
Luís Carlos Duarte – Estagiário de Psicologia do Trabalho CEREST Regional/POA
Rosângela Lizardo – Psicóloga CEREST Regional/POA
Colaboradores:
Adriana Silva Tarragô Carvalho – Coordenação CEREST Regional/POA
Ana Costa – Auditora Fiscal do Trabalho – Núcleo Igualdade no Trabalho/SRTE/RS
Geraldo Azevedo – Médico do trabalho – CEREST Regional/POA
Jaqueline Tittoni – Professora do Instituto de Psicologia da UFRGS
Milene Bordignon – Assistente Social – CEREST Regional/POA
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