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2 DIREITO DAS OBRIGAÇOES

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araújo – Dezembro de 2016
LIVRO I
DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
1- DIFERENÇA ENTRE OS DIREITOS REAIS E DIREITOS OBRIGACIONAIS
Quanto ao objeto, os direitos reais incidem sobre uma coisa, enquanto os obrigacionais exigem o cumprimento de uma prestação.
Quanto ao sujeito, nos direitos reais o sujeito passivo é indeterminado (são todas as pessoas do universo, que devem abster-se de molestar o titular), enquanto nos direitos pessoais é determinado ou determinável.
Quanto à duração, os reais são perpétuos, não se extinguindo pelo não uso, mas somente nos casos expressos em lei (desapropriação, usucapião em favor de terceiro etc.), os direitos pessoais são transitórios e se extinguem pelo seu cumprimento ou outros meios.
Quanto à formação, os reais só podem ser criados pela lei, sendo seu número limitado e regulado por esta (numerus clausus), ao passo que os pessoais podem resultar da vontade das partes, sendo ilimitado o número de contratos inominados (numerus apertus). 
Quanto ao exercício, por que os reais são exercidos diretamente sobre a coisa, sem necessidade da existência de um sujeito passivo, enquanto o exercício dos direitos pessoais exige uma figura intermediária, que é o devedor.
Quanto a ação, que pode ser exercida contra quem quer que detenha a coisa, ao passo que a ação pessoal é dirigida somente contra quem figura na relação jurídica como sujeito passivo.
2- INTRODUÇÃO E CONCEITO DE OBRIGAÇÃO
Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada obrigação. É uma relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório que se extingue pelo cumprimento, cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível. É o patrimônio do devedor que responde por suas obrigações. O patrimônio constitui a garantia do adimplemento com que pode contar o credor. 
A obrigação deve ser cumprida livre e espontaneamente. Quando tal não ocorre, sobrevém o inadimplemento, surgindo aí a responsabilidade. Não se confunde obrigação com responsabilidade. Esta só surge se o devedor não cumpre espontaneamente a obrigação. A responsabilidade é a conseqüência jurídica patrimonial do descumprimento da relação obrigacional.
Responsabilidade e obrigação podem existir uma sem a outra. Os casos de dívidas prescritas e dívidas de jogo constituem exemplos de obrigação sem responsabilidade. Como exemplo de responsabilidade sem obrigação pode ser mencionado o caso do fiador que é responsável pelo débito somente na hipótese de inadimplemento pelo afiançado. 
3- ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA OBRIGAÇÃO
A obrigação compõe-se de três elementos essenciais: a) subjetivo, relativo aos sujeitos ativo e passivo (credor e devedor) b) O vínculo jurídico existente entre eles e c) o objetivo, atinente ao objeto da relação jurídica.
3.1 ELEMENTO SUBJETIVO
	
Os sujeitos da obrigação podem ser tanto pessoa física quanto jurídica. Devem ser determinados ou ao menos determináveis. Se não forem capazes, serão representados ou assistidos por seus representantes legais. Pode acontecer de ambas as partes serem credor e devedor ao mesmo tempo. Ex. Compra e venda.
Obs. Toda obrigação exige sujeito ativo e passivo. Porém, pode acontecer que um dos sujeitos só seja conhecido posteriormente (promessa de recompensa ou prêmio).
#O que é indeterminabilidade subjetiva?
Um dos sujeitos só será conhecido no futuro (pode ser ativa ou passiva). Ex. Promessa de recompensa para quem achar o cãozinho.
IMPORTANTE!!! Toda vez que o contrato for sinalagmático (bilateral), existirão obrigações para ambas as partes, que serão credoras e devedoras entre si. Temos ai à chamada relação jurídica obrigacional complexa. 
INTERPRETANDO*** Relação jurídica obrigacional complexa é quando o contrato prevê obrigação para ambas as partes, são contratos (diferente de negócio jurídico) sinalagmáticos ou bilaterais.
3.2 VÍNCULO JURÍDICO
Elemento imaterial (virtual, ideal ou espiritual), é o vínculo jurídico estabelecido na relação obrigacional. O vínculo jurídico sujeita o devedor a determinada prestação em favor do credor. Divide-se em débito e responsabilidade. O débito (vínculo espiritual ou pessoal) une o devedor ao credor e exige que aquele cumpra pontualmente a obrigação. A responsabilidade (vínculo material) confere ao credor não satisfeito, o direito de se exigir judicialmente do devedor o cumprimento da obrigação.
1ª teoria - clássica ou monista: Ela fala que o vínculo entre credor e devedor é um só, qual seja, a relação de crédito e débito. Para eles, a responsabilidade civil não integra a obrigação (responsabilidade civil é a conseqüência jurídica e patrimonial do descumprimento da obrigação). 
2ª teoria - teoria BINÁRIA ou DUALISTA: a obrigação faz surgir dois vínculos, quais sejam: 
a) Dever jurídico (schuld/debitum), resultante do crédito-débito e 
b) Responsabilidade civil (haftung/obrigatio). 
Toda obrigação é composta, em um primeiro momento, do dever jurídico de espontaneamente dar, fazer ou não fazer o avençado. Diante do descumprimento do dever jurídico, surge a responsabilidade civil. 
IMPORTANTE!!! O que põe fim a pretensão de exigir o cumprimento da obrigação (responsabilidade civil = pretensão) é a prescrição. 
#Existe dever jurídico sem responsabilidade civil?
Sim, dívida de jogo ou dívida já prescrita, por exemplo, (obrigação natural). A obrigação natural gera dever jurídico, mas não gera responsabilidade civil (não pode ser cobrada em juízo). As obrigações naturais se contrapõem à obrigação civil. 
Obs. Nas obrigações naturais existe o débito-crédito, porém, o descumprimento não gera responsabilidade do devedor (should sem haftung).
IMPORTANTE!!! O cumprimento espontâneo da obrigação natural não pode ser devolvido (soluto retentio - não há direito de cobrar de volta aquilo que se pagou em dívida de jogo. Não há pagamento indevido, o pagamento foi devido, vez que existia obrigação). 
#Pode haver compensação de dívida prescrita com dívida não prescrita?
Compensação voluntária é acordo, então, de acordo com a autonomia da vontade se pode compensar o que quiser. Porém, na compensação legal (que gera a imposição de compensar), só pode compensar dívidas líquidas, vencidas e exigíveis (não prescritas).
Ou seja, se as partes quiserem, como elas tem autonomia da vontade, elas podem compensar qualquer coisa. O que não é possível é que o juiz determine que uma dívida exigível seja compensada com uma dívida prescrita, justamente porque ela não é exigível. 
#Existe responsabilidade sem dever jurídico?
Sim. Por exemplo, a fiança.
IMPORTANTE!!! Na desconsideração da personalidade jurídica, temos uma situação distinta das situações anteriores, pois não existe responsabilidade subsidiária, mas sim, responsabilidade secundária. 
ELEMENTO OBJETIVO
É a prestação, a coisa. É sempre uma conduta humana (dar, fazer ou não fazer) e chama-se prestação ou objeto imediato.
IMPORTANTE!!! Objeto direto (imediato) da obrigação é a conduta (dar, fazer, não fazer). Objeto indireto (mediato) da obrigação é a coisa, é o bem da vida (objeto da prestação). 
#Qual é o objeto imediato da prestação?
Corresponde justamente ao objeto mediato da obrigação, é a coisa, o bem da vida.
O objeto da obrigação há de ser lícito, possível, determinável ou determinado e suscetível de apreciação econômica. 
4- FONTES DAS OBRIGAÇÕES
Fonte de obrigações é o seu elemento gerador, o fato que lhe dá origem, de acordo com as regras de direito.
O CC considera fontes de obrigações: a) os contratos, b) as declarações unilaterais de vontade e c) os atos ilícitos, dolosos e culposos. Há obrigações, entretanto, que resultam diretamente da lei, como por exemplo, a de prestar alimentos, indenizar danos causados por seus empregados e etc.
Pode-se afirmar, pois, que a obrigaçãoresulta da vontade do Estado, por intermédio da lei, ou da vontade humana, manifestada no contrato, na declaração unilateral ou na prática de um ato ilícito. No primeiro caso a lei é fonte imediata da obrigação, no segundo é mediata.
TÍTULO I
DAS MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES
1- QUANTO AO OBJETO
O CC classifica as obrigações em três tipos quanto ao objeto: obrigação de dar, fazer e não fazer. As duas primeiras são positivas, enquanto a terceira é negativa. Todas as obrigações que venham a se constituir na vida jurídica compreenderão sempre alguma dessas condutas, que resumem o objeto da prestação. 
Obs. Pode ocorrer de a mesma obrigação constituir mais de um tipo. Ex. Empreitada, que se constitui numa obrigação de fazer e de dar.
2- QUANTO AOS SEUS ELEMENTOS
Três são os elementos constitutivos da obrigação: sujeitos, vínculo jurídico e o objeto.
Em relação a eles, a obrigação se divide em simples e composta. Obrigação simples são as que se apresentam com um sujeito ativo, um sujeito passivo e um único objeto, ou seja, todos os seus elementos no singular. 
Para que a obrigação se denomine composta, basta que apenas um de seus elementos esteja no plural. A obrigação composta se da pela multiplicidade de objeto (entregar um veículo ou um animal) ou pela multiplicidade de sujeitos. 
2.1 OBRIGAÇÃO PLURAL OBJETIVA 
Aquela que possui mais de uma prestação pode ser de três tipos:
a) Cumulativa ou conjuntiva: aquela em que o devedor deve cumprir ambas as prestações (entregar o carro E a moto). Ligada pela conjunção “E”. 
b) Alternativa: o devedor terá que cumprir uma das prestações (entregar o carro OU a moto). No silêncio do contrato, quem escolhe é o devedor.
c) Facultativa ou obrigação de faculdade alternativa.
IMPORTANTE!!! Na obrigação facultativa, existe uma prestação devida, que pode ser exigida pelo credor e uma outra, facultativa, que nunca pode (Ex. O devedor deve entregar o apagador mas, se quiser, pode entregar uma caneta). É o devedor que tem a faculdade de escolher a outra coisa, ao invés da alternativa que o credor pode lhe exigir. 
IMPORTANTE!!! Diferença entre obrigação alternativa e facultativa. A obrigação alternativa extingue-se somente com o perecimento de todos os objetos, e será válida se apenas umas das prestações estiver eivada de vício, permanecendo eficaz a outra. A obrigação facultativa restará totalmente inválida se houver defeito na obrigação principal, mesmo que não haja defeito na acessória. 
IMPORTANTE!!! Portanto, existem três tipos de obrigação plural objetiva: a alternativa (entregar o carro OU a moto) a cumulativa (entregar o carro E a moto) e a facultativa (entregar o carro; PORÉM SE EU, O DEVEDOR, QUISER, posso entregar no lugar a moto). 
2.2. OBRIGAÇÃO PLURAL SUBJETIVA
Compostas pela multiplicidade de sujeitos. Podem ser: divisíveis, indivisíveis e solidárias. 
a) Obrigação fracionária: Toda vez que a obrigação for fracionária, deve-se observar se a obrigação é divisível ou indivisível. Se for indivisível, apesar de se tratar de obrigação fracionária, o credor irá exigir de um dos devedores toda a dívida. 
Obrigação divisível é aquela cujo objeto pode ser dividido entre os sujeitos. Nas indivisíveis tal não ocorre. Ambas podem ser ativas ou passivas. 
IMPORTANTE!!! A obrigação fracionária indivisível é quase igual à obrigação solidária porque qualquer credor só poderá exigir a prestação por inteiro e qualquer réu deverá cumpri-la por inteiro. 
Nas obrigações divisíveis, cada credor só tem direito a sua parte, podendo reclamá-la independentemente do outro. E cada devedor responde exclusivamente pela sua cota.
Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.
Nas obrigações indivisíveis, cada devedor só deve também a sua cota-parte. Mas em razão da indivisibilidade física do objeto, a prestação deve ser cumprida por inteiro. Se dois são os credores, um só pode exigir a entrega da prestação, mas somente por ser indivisível, devendo prestar contas ao outro credor.
Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda.
Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados.
Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total.
b) Obrigação solidária: independe da divisibilidade ou indivisibilidade do objeto da prestação porque resulta da vontade das partes ou da lei.
b.1) Ativa: entre credores, qualquer dos credores pode exigir a totalidade da prestação, não importando se esta é divisível, ou não.
b.2) Passiva: qualquer dos devedores pode ser cobrado sozinho da totalidade da prestação, não importando se está é divisível, ou não. 
 
IMPORTANTE!!! Art. 265 do CC a solidariedade nunca se presume, resulta da LEI ou da VONTADE DAS PARTES. Não é porque tem mais de um devedor que serão estes devedores solidários. A regra é que as obrigações sejam fracionárias (divisíveis ou indivisíveis, ou seja, não-solidárias).
Art. 265. A solidariedade não se presume; RESULTA DA LEI ou da VONTADE DAS PARTES.
IMPORTANTE!!! #Qual é a diferença entre obrigação solidária e obrigação fracionária com objeto indivisível?
A diferença está na hipótese de PERDA CULPOSA DA PRESTAÇÃO. Se o boi morreu de fome, a obrigação transforma-se em perdas e danos (que será R$ e, portanto, divisível). Dessa forma, se a obrigação originária for solidária continuará solidária. Por outro lado se ela fosse fracionária com objeto indivisível, “morrendo o boi”, ela passa a ser fracionária normal, já que se transformou em perdas e danos que é divisível. 
O devedor que cumprir sozinho a prestação pode cobrar, regressivamente, a quota-parte de cada um dos co-devedores.
Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores.
c) Mista: solidariedade tanto entre credores, como entre os devedores. Qualquer dos credores pode exigir de qualquer dos devedores a totalidade da prestação.
3- OBRIGAÇÃO DE MEIO OU DE RESULTADO
a) Obrigação de meio: o devedor promete entregar todos os meios ao seu alcance para a obtenção de determinado resultado, sem, no entanto, responsabilizar-se por ele. Ex. Advogados.
b) Obrigação de resultado: o devedor dela se exonera somente quando o fim prometido é alcançado. Ex. Transportador e cirurgião plástico.
4- OBRIGAÇÕES CIVIS E NATURAIS
a) Civis: as que encontram respaldo no direito positivo, podendo seu cumprimento ser exigido pelo credor por meio de ação.
b) Naturais: as inexigíveis judicialmente. O credor não tem o direito de exigir a prestação, e o devedor não está obrigado a pagar. Em compensação, se este, voluntariamente, efetua o pagamento, não tem direito de repeti-la. São as dívidas prescritas (art. 882) e as dividas de jogo (art. 814).
5- OBRIGAÇÕES PURAS E SIMPLES, CONDICIONAIS, A TERMO E MODAIS OU COM ENCARGO
a) Obrigações puras e simples são as não sujeitas a condição, termo ou encargo.
b) Condicionais são aquelas cujo efeito esta subordinado a evento futuro e incerto
c) Nas obrigações a termo o evento esta subordinado a um evento futuro e certo. O termo pode ser inicial ou final.
d) As obrigações modais ou com encargo são aquelas oneradas com algum gravame.
IMPORTANTE!!! O encargo ou modo, ao contrário da condição, “não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva.”Art. 136 CC.
6- OBRIGAÇÕES DE EXECUÇÃO INSTANTÂNEA, DIFERIDA E PERIÓDICA
Quanto ao momento em que devem ser cumpridas as obrigações se dividem em: 
a) Momentâneas ou de execução instantânea: se consumam num só ato, sendo cumpridas imediatamente após sua constituição. Ex. Compra e venda a vista.
b) De execução diferida: o cumprimento deve ser realizado também em um só ato, mas em momento futuro.
c) Execução continuada ou de trato sucessivo: se cumpre por meios de atos reiterados. Ex. Venda a prazo, em prestações periódicas.
7- OBRIGAÇÕES LÍQUIDAS E ILÍQUIDAS
Líquidas são as obrigações certas quanto a sua existência, e determinadas quanto a seu objeto. Ilíquida, ao contrário, é a que depende de previa apuração, pois o seu valor apresenta-se incerto.
8- OBRIGAÇÕES PRINCIPAIS E ACESSÓRIAS
Reciprocamente consideradas as obrigações se dividem em principais e acessórias. As principais subsistem por si, sem depender de qualquer outra. As obrigações acessórias têm sua existência subordinada a outra relação jurídica, ou seja, dependem da obrigação principal.
O princípio de que o acessório segue o principal, foi acolhido pela nossa legislação (princípio da gravitação jurídica). Assim a nulidade da obrigação principal implica a da acessória, mas a recíproca não é verdadeira.
9- OBRIGAÇÕES COM CLÁUSULA PENAL
São aquelas em que há a cominação de uma multa ou pena em caso de inadimplemento ou de retardamento no cumprimento da obrigação. A cláusula penal tem caráter acessório, e sua principal função é servir como meio de coerção. Pode ser compensatória, quando estipulada para o caso de total inadimplemento, ou moratória, se destinada a garantir o cumprimento de alguma cláusula especial ou simplesmente evitar a mora.
10- OBRIGAÇÕES “PROPTER REM”
As obrigações “propter rem” pertencem a categoria das obrigações híbridas, pois constituem um misto de direito pessoal e de direito real, ou se situam entre o direito pessoal e real. São incluídas nesta categoria as obrigações com ônus reais e com eficácia real.
	Obrigação “propter rem” é a que recai sobre uma pessoa, por força de determinado direito real. Por se transferir a eventuais novos ocupantes do imóvel, é também denominada de obrigação ambulatorial. Exemplo clássico: obrigação de pagar taxa condominial. É típica obrigação propter rem. Vincula pessoas, credor e devedor e se acopla a coisa. Não importa quem seja o dono. Ele terá que arcar com a dívida condominial (ver REsp 846187/SP).
“REsp 846187/SP: (...) 1. As cotas condominiais, porque decorrentes da conservação da coisa, situam-se como obrigações ‘propter rem’, ou seja, obrigações reais, que passam a pesar sobre quem é o titular da coisa; se o direito real que a origina é transmitido, as obrigações o seguem, de modo que nada obsta que se volte a ação de cobrança dos encargos condominiais contra os proprietários.(...)”
Ônus reais são obrigações que limitam o uso e gozo da propriedade, constituindo direitos reais sobre coisas alheias, oponíveis erga omnes. Ex. Renda constituída sobre um imóvel.
Obs. “Não se deve confundir a obrigação propter rem com a obrigação com eficácia real.
	A obrigação com eficácia real é aquela obrigação comum levada a registro e que passa a ter efeitos erga omnes como se fosse um direito real. Não é um direito real, mas gera efeitos reais porque foi levada a registro. Para isso, tem que haver previsão na lei. Não basta registrar o contrato no cartório. Ele vai gerar efeitos erga omnes, mas não reais.
 Ex. Art. 8º, da Lei do Inquilinato, Lei 8245/91.
Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.
CAPÍTULO I
DAS OBRIGAÇÕES DE DAR
SEÇÃO I
DAS OBRIGAÇÕES DE DAR COISA CERTA
1- CONTEÚDO E EXTENSÃO
Quanto ao objeto a obrigação classifica-se em: obrigação de dar, fazer e não fazer. A obrigação de dar se divide em: obrigação de dar coisa certa e de dar coisa incerta. Na primeira, obriga-se o devedor a dar coisa individualizada, que se distingue por características próprias, móvel ou imóvel. 
Cumpre-se a obrigação de dar coisa certa mediante a entrega ou restituição. Estes dois atos podem ser resumidos em uma só palavra: TRADIÇÃO. Como no direito o contrato por si só não gera o domínio, mas apenas gera a obrigação de entregar a coisa alienada, enquanto não ocorrer a tradição, a coisa continuará pertencendo ao devedor, “com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação” (art. 237 CC). Também os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes (237 §único CC).
Regras da obrigação de dar coisa certa:
1ª REGRA: O acessório segue o principal (a tampinha segue a caneta). Tal regra vale no silêncio do contrato. Se as partes estipularem, posso vender uma caneta sem tampinha. 
Art. 233. A obrigação de dar coisa certa ABRANGE os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.
IMPORTANTE!!! As pertenças, embora sejam bens acessórios, não seguem o principal. (se eu vendo minha casa, não se pressupõe que vendo minha TV, minhas roupas junto). 
EXCEÇÕES: (pertenças que seguem o principal)
Previsão em lei ou contrato; 
Pertenças essenciais (aquelas que são essências à natureza do negócio. Ex. Quando vendo um cinema, vai com tudo dentro).
2ª REGRA: o credor não pode ser obrigado a receber coisa diversa, ainda que mais valiosa. Se ele concordar em receber coisa diversa temos uma dação em pagamento. 
3ª REGRA: o credor não é obrigado a receber parte da dívida.
Obrigação de RESTITUIR 
É aquela em que o devedor tem a obrigação de restituir coisa que não lhe pertence. 
Como regra, a perda ou deterioração da coisa por caso fortuito ou força maior (assalto ou enchente), portanto, sem culpa do devedor, se resolve, sem dever indenização. 
Obs. O credor pode cobrar o direito que já existia (Ex. Aluguel devido).
Art. 238. Se a obrigação for de RESTITUIR coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda (Ex. aluguel).
IMPORTANTE!!! O aluguel de carro segue essa regra, a perda/deterioração do carro sem culpa não gera direito à indenização (deve pagar apenas o aluguel). Então, se o carro que a Maria alugou for roubado, ela não deve qualquer indenização à locadora. 
Como res perit domino o dono era a locadora, ela sai perdendo.
Se o inadimplemento for culposo, o devedor deve perdas e danos.
2- PERDA OU DETERIORAÇÃO DA COISA (DESCUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA E RESTITUIR)
Perecimento seria a perda total da coisa, deterioração é a perda parcial.
No caso de perecimento e deterioração da coisa antes da tradição, é preciso primeiramente verificar se o fato ocorreu com culpa ou não do devedor.
1ª HIPÓTESE - Perda da coisa sem culpa: a obrigação fica resolvida para ambas as partes. Se o comprador já tivesse adiantado o dinheiro, o vendedor devolve o dinheiro (res perit domino, ou seja, a coisa perece para o dono). O vendedor que sai perdendo nessa situação, porque a venda só se aperfeiçoa com a tradição/registro). A situação retorna ao status quo ante. 
Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; (1ª parte)
Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda.
2ª HIPÓTESE -Perda da coisa com culpa: acarreta a responsabilidade pelo pagamento de perdas e danos. Nesse caso, havendo o perecimento do objeto, tem o credor o direito a receber o seu equivalente em dinheiro, mais a perdas e danos comprovadas, tanto na obrigação de entregar como na de restituir.
Art. 234 (2ª parte) se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.
Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos.
3ª HIPÓTESE - Deterioração da coisa sem culpa: o credor pode optar em considerar extinta a obrigação (resolve-se o negócio) ou permanecer com o negócio com abatimento do preço. Na obrigação de restituir se recebe a coisa no estado em que se encontra, sem direito a indenização.
Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.
Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.
4ª HIPÓTESE - Deterioração da coisa com culpa: o credor tem opção em requerer só perdas e danos, ou ficar com a coisa + perdas e danos (reduzidos por óbvio). As alternativas deixadas ao credor são as mesmas do art. 235 CC, mas com direito em qualquer caso, a indenização das perdas e danos.
Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.
Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos.
Na obrigação de restituir é a mesma coisa, o credor poderá exigir o equivalente em dinheiro mais perdas e danos.
Art. 240 (2ª parte) se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.
Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos.
Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.
SEÇÃO II
DAS OBRIGAÇÕES DE DAR COISA INCERTA
Dispõe o art. 243 CC: “A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.” Falta apenas determinar sua QUALIDADE.
Obrigação de dar coisa incerta é aquela que consiste na entrega de um objeto determinável. Ainda não está individualizado. Este objeto deve, ao menos, conter indicação do gênero (feijão) e quantidade (10 sacas), a qualidade (???) fica pra depois. Ex. Entregar 10 sacas de feijão (que feijão? O preto? O carioquinha?).
1ª REGRA: após a concentração/escolha, a obrigação transforma-se em dar coisa certa, porque o bem é individualizado na concentração. 
Art. 245. Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção antecedente (obrigação de dar coisa certa).
IMPORTANTE!!! No silêncio do contrato, quem escolhe é o devedor (o devedor sempre se dá bem).
2ª REGRA: IMPORTANTE!!! Princípio do meio termo, “o devedor não pode dar a pior coisa, nem pode ser obrigado a dar a melhor”. 
Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor.
IMPORTANTE!!! Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito. POIS O GÊNERO NUNCA PERECE.
3ª REGRA: descumprimento da obrigação de dar coisa incerta.
Regra, o generun nunquam perit.
1ª Hipótese - Sem culpa: se não tinha havido concentração, o devedor entrega outra coisa do mesmo gênero e quantidade (não tem como perecer).
2ª hipótese - Com culpa: se não tinha havido concentração, o devedor entrega outra coisa do mesmo gênero e quantidade (não tem como perecer).
IMPORTANTE!!! Obrigação quase genérica: com gênero limitado. Ex. Dar uma das 50 vacas filhas do boi bandido. Quando o gênero for limitado (vacas filha do boi bandido, vinho da safra de 1867), se houver perda do gênero (todas as vacas morreram, todas as garrafas se quebraram) a responsabilidade é igual a de dar coisa certa. 
- Sem culpa: extingue a obrigação. 
- Com culpa: perdas e danos.
CAPÍTULO II
DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER
1- ESPÉCIES
Consiste em uma atividade (ação), que não a entrega de algo (Ex. Fazer). A prestação consiste em atos ou serviços a serem executados pelo devedor. 
Pode ser:
a) Fungível: substituível, não há exigência de que o credor cumpra pessoalmente a obrigação, não se trata de ato cuja execução dependa de qualidades pessoais do devedor.
Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.
Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido.
b) Infungível: insubstituível. Gera obrigação personalíssima, quem deve prestar a obrigação é uma pessoa determinada. 
Descumprimento da obrigação.
1ª Hipótese - Sem culpa: extingue a obrigação seja fungível ou infungível. Ex. Show do Bartucada em Guarapari. Quebra do ônibus. Evento imprevisível. Caso fortuito. Extingue-se a obrigação sem indenização devida.
2ª Hipótese - Com culpa: 
a) Na obrigação fungível, pode processar exigindo obrigação de fazer, ou fazer a coisa à custa do devedor.
b) Se a obrigação for infungível, só pode processar exigindo obrigação de fazer.
Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível.
Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos.
Em caso de recusa do devedor de cumprir a prestação, aplica-se o art. 247 CC (perdas e danos).
Obs. Se o credor aceitou que terceiro prestasse a obrigação infungível, não poderá reclamar perdas e danos, vez que se alterou a obrigação, de infungível ela passou a fungível.
IMPORTANTE!!! Quando o credor não tinha outra opção, que não aceitar a coisa, poderá ele exigir perdas e danos (Ex. Contratei Caetano Veloso para o meu casamento e no dia ele mandou o Bonde da Chatuba. Ou fico sem música ou aceito). 
IMPORTANTE!!! Atualmente a regra quanto ao descumprimento da obrigação de fazer ou não fazer é a da execução especifica, sendo EXCEÇÃO a resolução em perdas e danos. 
Art. 497.  Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.
Parágrafo único.  Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da existência de culpa ou dolo.
Art. 499.  A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.
Em caso de obrigação de fazer fungível, que pode ser executada por terceiro “será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível (art. 249 CC).” Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido (art. 249 §único).
CAPÍTULO III
DAS OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZERA obrigação de não fazer, ou negativa, impõe ao devedor um dever de abstenção: o de não praticar o ato que poderia livremente fazer, se não se houvesse obrigado. Se praticarem o ato que se obrigaram a não fazer, tornar-se-ão inadimplentes.
Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos.
Ou o devedor desfaz pessoalmente o ato, ou poderá vê-lo desfeito por terceiro, por determinação judicial, pagando ainda perdas e danos. Sempre haverá o pagamento de perdas e danos em caso de inadimplemento.
Dispõe o art. 250 que “extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar.” O § único do art. 251 ainda preceitua que “em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido”.
A obrigação de não fazer pode ser:
a) Obrigação transeunte: aquela que se for descumprida, ela é extinta, ou seja, ela não permanece no tempo (Ex. Não causar dano. Causou, já era. Ex. Revelar segredo industrial). 
a.1) Descumprimento da obrigação transeunte:
1ª hipótese - sem culpa: a obrigação é extinta
2ª hipótese - com culpa: perdas e danos (seja patrimoniais ou morais).
b) Obrigação permanente: aquela que se prolonga no tempo (Ex. Servidão, não construir acima de determinada altura).
b.1) Descumprimento da obrigação permanente:
1ª hipótese - sem culpa: a obrigação permanece (pode exigir o desfazimento), porém não há direito à indenização.
2ª hipótese - com culpa: pode exigir o desfazimento + perdas e danos. 
CAPÍTULO IV
DAS OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS
1- CONCEITO
	A obrigação alternativa é composta pela multiplicidade de objetos. Tem por conteúdo duas ou mais prestações, das quais somente uma será escolhida para pagamento ao credor e liberação do devedor. Os objetos são ligados pela disjuntiva “OU”. Difere-se da cumulativa, em que também há uma pluralidade de prestações, mas todas devem ser solvidas.
IMPORTANTE!!! Difere-se também da obrigação de dar coisa incerta. Nessa a escolha recai sobre a qualidade do único objeto existente, na obrigação alternativa a escolha recai sobre um dos objetos in obligatione.
2- DIREITO DE ESCOLHA
Art. 252. Nas obrigações alternativas, A ESCOLHA CABE AO DEVEDOR, se outra coisa não se estipulou.
§ 1o Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.
§ 2o Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período.
§ 3o No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação.
§ 4o Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes.
O direito de escolha cabe ao devedor se outra coisa não se estipulou. Se conferida a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes.
Cientificada a escolha, ocorre a concentração, ficando determinado de modo definitivo, sem possibilidade de retratação unilateral o objeto da obrigação. 
O credor NÃO pode ser obrigado a receber parte em uma prestação e parte em outra. O devedor deve uma OU outra.
Obs. Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período (nesse caso: me obrigo a entregar, todo mês, arroz ou feijão ao credor. Nesse caso, posso entregar arroz no primeiro mês, feijão no segundo.. ou seja, poderei escolher a prestação que darei em cada mês) 
3- IMPOSSIBILIDADE DAS PRESTAÇÕES
Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra.
Trata-se de impossibilidade material. Se a impossibilidade for jurídica, por ilícito de um objeto (praticar crime), toda a obrigação fica contaminada de nulidade, sendo inexigíveis ambas as prestações.
Art. 254. Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo ao credor a escolha, ficará aquele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso determinar.
Art. 255. Quando a escolha couber ao credor e UMA das prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de exigir a prestação subsistente OU o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos.
No caso do art. 255 o credor não é obrigado a ficar com o objeto remanescente, pois a escolha era dele. 
Art. 256. Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação.
CAPÍTULO V
DAS OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS
1- CONCEITO
As obrigações divisíveis e indivisíveis são compostas pela pluralidade de sujeitos. 
Obrigações divisíveis são aquelas que o objeto pode ser dividido entre os sujeitos, o que não ocorre com as indivisíveis. É licito afirmar que a divisibilidade ou não de uma prestação confunde-se com a de seu objeto.
Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico.
A indivisibilidade decorre da natureza da coisa (indivisibilidade natural), por vontade das partes (indivisibilidade intelectual) e judicial (Ex. Obrigação de indenizar que deve ser paga por inteiro a mãe, embora o pai não pleiteie).
2- DIVISIBILIDADE E INDIVISIBILIDADE NAS OBRIGAÇÕES DE DAR, FAZER E NÃO FAZER
A obrigação de dar será divisível ou indivisível dependendo de seu objeto.
A obrigação de fazer algumas vezes pode ser divisível e outras não. Por exemplo, a obrigação de fazer uma estátua é indivisível, mas será divisível se o escultor for contratado para fazer 10 estátuas, entregando uma a cada dez dias. 
As obrigações negativas, de não fazer, são em regra geral indivisíveis. 
3- EFEITOS DA INDIVISIBILIDADE E DIVISIBILIDADE
Se a obrigação for divisível, cada devedor só deve a sua quota-parte. A insolvência de um não aumentará a quota dos demais. Havendo vários credores e um só devedor, cada credor receberá somente a sua parte.
Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores. 
Quando a obrigação for indivisível, e há pluralidade de devedores, cada um será obrigado pela dívida toda. Mas somente porque o objeto não pode ser dividido. O que paga a dívida dispõe de ação regressiva contra os outros coobrigados.
Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda.
Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados.
Proclama o art. 260 que se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando:
I - a todos conjuntamente;
II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.
De acordo com o art. 261, “se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total.” 
Dispõe o art. 262, “se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente. Esse mesmocritério se observará no caso de transação, novação, compensação ou confusão.”
IMPORTANTE!!! Segundo o art. 263, “perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos (ou seja, com culpa do devedor)”. No lugar do objeto desaparecido o devedor entregará seu equivalente em dinheiro mais perdas e danos. O objeto transformado em dinheiro pode agora ser dividido. Se houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais (§1º). Como a culpa é pessoal, se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos. (§ 2o).
CAPÍTULO VI
DAS OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS
1- DISPOSIÇÕES GERAIS E CONCEITO
Obrigação solidária é aquela em que, havendo vários devedores, cada um responde pela divida inteira, como se fosse o único devedor. Se a pluralidade for de credores, pode qualquer deles exigir a prestação integral, como se fosse o único credor.
Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda.
IMPORTANTE!!! A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.
Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da LEI ou da VONTADE DAS PARTES.
Dispõe o art. 266 CC que a “obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos co-credores ou co-devedores, e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro.”
2- CARACTERÍSTICAS
a) Pluralidade de credores ou de devedores, ou de uns e de outros (ativa, passiva ou mista).
b) Integralidade da prestação: qualquer credor pode exigi-la integralmente e qualquer devedor responde pela dívida toda.
c) Co-responsabilidade dos interessados: o devedor que solve pode reaver dos demais as quotas de cada um. O credor que recebe sozinho deve prestar contas perante os demais credores pelas quotas de cada um.
3- DIFERENÇA ENTRE SOLIDARIEDADE E INDIVISIBILIDADE
A solidariedade assemelha-se a indivisibilidade em um único aspecto: em ambos os casos o credor pode exigir de um só dos devedores o pagamento da totalidade do objeto devido.
Diferem-se, no entanto pelas seguintes razões:
a) Se cada devedor solidário pode ser compelido a pagar sozinho a dívida por inteiro, tal fato se dá por ser devedor do todo. Nas obrigações indivisíveis, contudo, o co-devedor só deve a sua cota parte. Se pode ser compelido ao pagamento da totalidade do objeto é porque não se pode fracioná-lo.
b) Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos. 
Art. 263. PERDE A QUALIDADE DE INDIVISÍVEL a obrigação que se resolver em perdas e danos.
Na solidariedade, entretanto, tal não ocorre, pois cada devedor continuará responsável pelo pagamento integral do equivalente em dinheiro do objeto perecido.
4- SOLIDARIEDADE ATIVA
Dispõe o Art. 267: “Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro.” O devedor libera-se pagando a qualquer um dos credores, que por sua vez, pagará aos demais a quota de cada um.
De acordo com o Art. 268, enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar. Cessa esse direito, porém, se um deles já ingressou em juízo com ação de cobrança, pois só a ele o pagamento pode ser efetuado.
Proclama o Art. 269: “O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago.” Se também um dos credores nova, compensa, remite ou transige, com isso exonera o devedor do pagamento aos demais sujeitos ativos.
IMPORTANTE!!! Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, SALVO se a obrigação for indivisível. Os herdeiros do credor solidário não podem assim, exigir a totalidade do crédito, mas apenas a própria cota no credito solidário de que o falecido era titular, juntamente com os outros credores. Mas, se este deixou um único herdeiro, se todos os herdeiros agirem conjuntamente ou se indivisível a prestação, pode ser reclamada a prestação por inteiro.
IMPORTANTE!!! Dispõe o Art. 271 que convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade.
O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba, podendo ser convencido em ação regressiva por estes movida (art. 272 CC).
De acordo com o art. 273:
Art. 273. A um dos credores solidários NÃO pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros.
Obs. Art. 274 CC – modificado pelo NOVO CPC. 
Art. 274.  O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles.   (Redação dada pela Lei nº 13.105, de 2015) 
5- SOLIDARIEDADE PASSIVA
5.1 CONCEITO
Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.
Parágrafo único. NÃO importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores.
5.2 EFEITOS
Basta ler a letra da lei.
Art. 278. Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes.
Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; MAS PELAS PERDAS E DANOS SÓ RESPONDE O CULPADO.
Art. 280. Todos os devedores respondem pelos JUROS DA MORA, ainda que a ação tenha sido proposta somente contra um; mas o culpado responde aos outros pela obrigação acrescida.
Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro co-devedor.
Art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores.
Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá a dos demais.
Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores.
Art. 284. No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão também os exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação incumbia ao insolvente.
Art. 285. Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar.
TÍTULO II
DA TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES
CAPÍTULO I
DA CESSÃO DE CRÉDITO
1- CESSÃO DO CRÉDITO
Conceito: É o ato negocial bilateral por meio do qual o credor transfere seu crédito a outro credor, mantendo-se a mesma relação obrigacional. 
	
IMPORTANTE!!! É importante observar que a cessão de crédito NÃO modifica a relação obrigacional. 
Há uma substituição do pólo ativo. 
O credor que transfere seus direitos se denomina cedente. O terceiro a quem são eles transmitidos, investindo-se na sua titularidade, o cessionário. O terceiro personagem, o devedor ou cedido, não participa necessariamente da cessão, QUE PODE SER REALIZADA SEM A SUA ANUÊNCIA.
O cedente há de ser pessoa capaz e legitimada a praticar atos de alienação.
IMPORTANTE!!! A cessão de credito não se confunde com a cessão de contrato, em que se procede a transmissão, ao cessionário, da inteira posição contratual do cedente. Ex. Transferência a terceiro, feita pelo promitente comprador, de sua posiçãono compromisso de compra e venda.
IMPORTANTE!!! A cessão de crédito distingue-se também da novação subjetiva ativa. Nesta, além da substituição do credor, ocorre a extinção da obrigação anterior, substituída por novo crédito. Na cessão subsiste o crédito antigo, que é transmitido ao cessionário com TODOS OS ACESSÓRIOS.
Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito ABRANGEM-SE TODOS OS SEUS ACESSÓRIOS.
IMPORTANTE!!! Não se confunde também com sub-rogação legal. O sub-rogado não pode exercer os direitos e ações do credor além dos limites desembolsados, não tendo, pois, caráter especulativo.
Pode ser gratuita ou onerosa. 
Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação.
A regra é que sempre cabe cessão de crédito, salvo se ocorrerem algumas circunstâncias impeditivas (que pode ser por convenção, pela natureza do crédito. Ex. alimentar, ou pela lei. Ex. Art. 1749, III).
IMPORTANTE!!! A convenção que proíbe a cessão (pacto de non cedendo) deve ser escrita e estar inscrita no título obrigacional. 
À luz do princípio da boa-fé objetiva, e como decorrência do dever de informação, nos termos do art. 290 o devedor deve ser “notificado” da cessão feita, sob pena de não surtir efeitos em face dele. 
Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita.
Vale lembrar, a teor dos art. 292 e 294, que a notificação é importante para que o devedor saiba a quem pagar, bem como possa defender-se em face do novo credor. A notificação pode ser judicial ou extrajudicial. Qualquer interessado pode fazer a notificação. Entretanto, o maior interessado em notificar é o cessionário, pois de acordo com o art. 292, “fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo.”
Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação.
Obs. O devedor deve ser apenas comunicado, ele não precisa concordar com a cessão. 
Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente.
IMPORTANTE!!! O devedor vai poder opor ao novo credor as defesas que tinha contra o credor originário desde que no momento em que for notificado da cessão, ele oponha as exceções pessoais que tiver contra o cedente. (Ex. Prescrição, coação). Se nesse momento ele não opor essas exceções, ele não mais poderá arguir contra o cessionário, as exceções que eram cabíveis contra o primeiro. 
Já as exceções oponíveis diretamente contra o cessionário podem ser arguidas a todo tempo.
Em regra, a cessão convencional não exige forma especial para valer entre as partes, salvo se tiver por objeto, direitos em que a escritura pública seja da substância do ato. Entretanto, PARA VALER CONTRA TERCEIROS o art. 288 CC exige “instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1o do art. 654”.
Art. 654. Todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração mediante instrumento particular, que valerá desde que tenha a assinatura do outorgante.
§ 1o O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão dos poderes conferidos.
§ 2o O terceiro com quem o mandatário tratar poderá exigir que a procuração traga a firma reconhecida.
Responsabilidade pela cessão: 
IMPORTANTE!!! A regra geral do direito brasileiro, nos termos dos artigos 295 a 297, é no sentido de que o cedente garante a EXISTÊNCIA do crédito (cessão pro soluto); no entanto, em caráter excepcional, nada impede que se convencione também que o cedente garantirá também a SOLVÊNCIA do devedor (cessão pro solvendo). Se ficar estipulado que o cedente responde pela solvência do devedor, sua responsabilidade limitar-se-á ao que recebeu do cessionário, com os respectivos juros mais as despesas com a cessão e as efetuadas com a cobrança.
Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela EXISTÊNCIA DO CRÉDITO ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé.
Art. 296. Salvo estipulação em contrário, O CEDENTE NÃO RESPONDE PELA SOLVÊNCIA DO DEVEDOR.
Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a cobrança.
2- CESSÃO DE DÉBITO OU ASSUNÇÃO DE DÍVIDA
Na cessão de débito, o devedor, com EXPRESSO CONSENTIMENTO do credor, transfere a sua dívida, mantendo-se a mesma relação obrigacional.
Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o CONSENTIMENTO EXPRESSO DO CREDOR, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava.
Há uma mudança no pólo passivo, mantendo-se a mesma obrigação. 
IMPORTANTE!!! Na cessão de débito o silêncio não significa consentimento (quem cala aqui, não consente). O consentimento do credor deve ser EXPRESSO. 
Obs. Como regra, o devedor originário sai fora. O devedor primitivo poderá reassumir a dívida, caso o novo devedor seja insolvente e o credor o ignore. 
Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor.
Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias, SALVO as garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação.
Art. 302. O novo devedor NÃO pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo.
Ex. O devedor novo não pode dizer que o devedor antigo foi coagido, ou agiu em erro, ou que era incapaz. 
3- CESSÃO DE CONTRATO/CESSÃO DE POSIÇÃO CONTRATUAL
O CC brasileiro não trata da cessão de posição contratual. 
Conceito: trata-se do ato jurídico negocial, por meio do qual uma das partes do contrato (cedente) transfere a sua própria posição (incluindo créditos e débitos) a um terceiro (cessionário), COM A ANUÊNCIA DA OUTRA PARTE. 
Obs. A doutrina que melhor explica a cessão de contrato, é a teoria unitária, defendida por autores como Pontes de Miranda e Antunes Varella, no sentido de que a cessão de contrato não deve ser fragmentada, traduzindo uma transferência única e global da posição no contrato. 
Silvio Rodrigues lembra que alguns tipos de contrato, frequentemente são objetos de cessão (Ex. Locação, empreitada, financiamento). 
Na cessão de posição contratual se transferem de uma só vez os direitos e deveres da parte. 
IMPORTANTE!!! Como regra, a outra parte deve autorizar, para que a cessão de posição contratual seja válida. 
TÍTULO III
DO ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
CAPÍTULO I
DO PAGAMENTO
1- NOÇÕES E ESPÉCIES DE PAGAMENTO
Pagamento é o mesmo que adimplemento. Pagamento é o cumprimento de qualquer tipo de obrigação, não só pagar em dinheiro. Ex. Pintor entrega o quadro encomendado.
O pagamento pode ser direto (exato cumprimento da prestação acordada) ou indireto (extinção da obrigaçãode forma diferente do que foi acordado Ex. Dação, novação). 
A obrigação ainda pode se extinguir por meios anormais, isto é, sem pagamento, como nos casos de impossibilidade de execução sem culpa do devedor.
2- NATUREZA JURÍDICA E REQUISITOS DE VALIDADE
Predomina na doutrina o entendimento de que o pagamento tem natureza contratual. Corresponde a um contrato, por também resultar de um acordo de vontades, estando sujeito a todas as suas normas. Para outros o pagamento é um ato jurídico.
Obs. A corrente que mais me agrada é que pagamento é um ato jurídico porque de fato seus efeitos advém da lei e já são conhecidos de todos pela própria definição do que vem a ser pagamento (aquilo que leva à extinção da obrigação).
Lembrar!!! No ato jurídico, os efeitos produzidos advém da lei (reconhecimento de filho). Ao contrário, no negócio jurídico os efeitos produzidos são os determinados pelas partes (contratos). 
Para o pagamento produzir seu principal efeito, que é o de extinguir a obrigação, devem estar presentes seus requisitos essenciais de validade. São eles:
a) Existência do vínculo obrigacional: se este não existe não há o que pagar. Qualquer pagamento será então indevido, obrigando a restituição por parte de quem o recebeu.
b) Cumprimento da prestação: de acordo com o art. 304, qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor. 
c) Animus solvendi: manifestação da vontade livre. Se o sujeito foi coagido a pagar, esse pagamento não é válido. Deve ter a intenção de pagar.
Obs. O credor deve usar as vias ordinárias de cobrança (ação de cobrança). Não é porque ele tem um crédito que vai poder fazer o que quiser para cobrá-lo. 
d) Sujeito ativo do pagamento: quem paga é o solvens ou pagador. É o devedor da obrigação 
e) Sujeito passivo do pagamento: quem recebe é o accipiens. É o credor da obrigação. 
3- DE QUEM DEVE PAGAR
Art. 304. QUALQUER INTERESSADO na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.
O principal interessado na solução da divida, a quem compete o dever de paga-la, é o devedor. 
IMPORTANTE!!! Só se considera interessado quem tem INTERESSE JURÍDICO na extinção da dívida, isto é, quem está vinculado ao contrato, como o fiador, o avalista, o solidariamente obrigado e etc. 
Entretanto, não somente o devedor ou o terceiro interessado que podem efetuar o pagamento. Pode fazê-lo também, o terceiro não interessado. Que apesar de não ter interesse jurídico na solução da divida, tem outro tipo de interesse tais como o moral, a amizade e etc.
Art. 304. Parágrafo único. Igual direito cabe ao TERCEIRO NÃO INTERESSADO, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.
#O terceiro não interessado pode cobrar aquilo que pagou?
O art. 305 fala que pode cobrar, porém, não há sub-rogação. Somente o terceiro interessado que efetua o pagamento que se sub-roga nos direitos do credor.
Art. 305. O TERCEIRO NÃO INTERESSADO, que paga a dívida em SEU PRÓPRIO NOME, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas NÃO SE SUB-ROGA nos direitos do credor.
Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.
Por outro lado, se o terceiro paga em nome do devedor, não há sub-rogação também, e não há reembolso. Entende-se que neste caso, quis fazer uma liberalidade, uma doação, sem qualquer direito a reembolso.
#O terceiro não interessado pode provocar o pagamento (por meio da consignação)?
Se ele tentar pagar em nome próprio, ele não pode consignar (o credor pode se recusar a receber). Por outro lado, se ele for pagar em nome do devedor ele pode consignar. O credor não pode recusar o pagamento.
Por outro lado, é inoperante a oposição do devedor ao pagamento de sua dívida por terceiro não interessado, se o credor desejar receber. Só há um meio de ele evitar esse pagamento: é o próprio devedor antecipar-se.
De acordo com o art. 306, o pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação. Ex. Arguição de prescrição, decadência, compensação e etc. O terceiro só terá direito ao reembolso até a importância que realmente aproveite ao devedor. 
Prescreve o art. 307: 
Art. 307 Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu. 
Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la.
De acordo com o §único, só resta ao verdadeiro proprietário voltar-se contra quem a entregou indevidamente.
4- DAQUELES A QUEM SE DEVE PAGAR
O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, ou ainda aos sucessores daquele, sob pena de não extinguir a obrigação. Considera-se válido o pagamento a terceiro se for ratificado pelo credor ou se reverter em seu proveito.
Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.
O art. 311 considera autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante. Pois não se descarta a possibilidade do título ter sido extraviado ou furtado o recibo.
Dispõe o art. 309, “o pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor.” Ex. Locador aparente que se intitula proprietário do imóvel e o aluga a outro. Ao verdadeiro credor só resta voltar-se contra o credor putativo.
Obs. Se houver dúvida, deve ser feita a consignação em pagamento. E lembrar que o termo putativo está ligado a boa-fé.
De acordo com o art. 310, não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu. A quitação reclama capacidade e sem ela o pagamento não vale. No entanto, provado que se reverteu em proveito do incapaz, cessa a razão da ineficácia.
IMPORTANTE!!! Hipótese em que o pagamento feito ao verdadeiro credor não valerá.
Art. 312 Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor.
5- DO OBJETO DO PAGAMENTO
O objeto do pagamento é sua prestação. 
Obs. Distingue-se dívida em dinheiro de dívida de valor. Na dívida em dinheiro o objeto da prestação é o próprio dinheiro. Quando, no entanto, o dinheiro não constitui o objeto da prestação, mas apenas representa seu valor, diz-se que a divida é de valor.
Obs. A obrigação de indenizar, decorrente da pratica de um ato ilícito constitui dívida de valor.
Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.
Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou.
Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subseqüentes.
Art. 325. Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida.
Art. 326. Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das partes, que aceitaram os do lugar da execução.
6- DA PROVA DO PAGAMENTO
Pagamento não se presume. Prova-se pela regular quitação fornecida pelo credor. O devedor tem o direito de exigir a quitação, podendo reter o pagamento e consigná-lose não lhe for dada. 
Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada.
Art. 335. A consignação tem lugar:
I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;
Os requisitos que a quitação deve constar se encontram no art. 320.
Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante. (escrita)
Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida.
A quitação deverá ser dada por escrito público ou particular. E ainda que sem os referidos requisitos, valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida.
O CC estabelece três presunções que facilitam a prova do pagamento dispensando a quitação: 
Art. 321. Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido.
Art. 322. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores.
Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos.
Dispõe o art. 322 que quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores. Parte do principio de que não é natural o credor receber a última prestação sem haver recebido as anteriores. Essa presunção é relativa, admitindo-se prova em contrário. Outra presunção relativa é a do art. 323, referente aos juros.
Dispõe o art. 324:
Art. 324 A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento.
Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento.
7- DO LUGAR DO PAGAMENTO
Dispõe o art. 327
Art. 327 Efetuar-se-á o pagamento no DOMICÍLIO DO DEVEDOR, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias. 
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao CREDOR escolher entre eles.
E de acordo com o art. 329, ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor.
A regra geral, portanto, é que o pagamento seja feito no DOMICILIO DO DEVEDOR, a não ser que as partes estipulem lugar diverso para o pagamento. Neste caso, diz que a dívida é “quérable” (quesível). No caso de silencio aplica-se a regra geral.
Obs. De acordo com o CC, dívida relativa à imóvel se paga no local onde esse é situado. 
Art. 328. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem.
IMPORTANTE!!! De acordo com o art. 330, se o credor concorda, reiteradamente em receber a prestação em local diverso, ocorrerá renúncia ao direito de receber no local previsto no contrato (supressio). 
Obs. Supressio é a supressão de um direito pelo não exercício no tempo.
8- TEMPO DO PAGAMENTO
O pagamento não pode ser exigido antes do prazo estipulado, salvo nos casos em que a lei determina o pagamento antecipado. Não pode o credor reclamar o pagamento no último dia do prazo, pois o devedor dispõe desse dia por inteiro. 
As obrigações puras, com estipulação de data para o pagamento, devem ser solvidas nessa ocasião, sob pena de inadimplemento e constituição do devedor em mora. A falta de pagamento constitui o devedor em mora de pleno direito, segundo a máxima “dies interpellat pro homine”, não há necessidade de interpelação ou notificação do devedor, pois a chegada do vencimento corresponde a uma interpelação.
Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.
A regra de que a obrigação deve ser cumprida no vencimento não é absoluta, sofrendo duas exceções: 
1ª) Antecipação do vencimento. Art. 333 CC:
Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código:
I - no CASO DE FALÊNCIA do devedor, ou de concurso de credores;
II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor;
III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las.
Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes.
2ª) Pagamento antecipado quando o prazo tiver sido estabelecido em favor do devedor. Nos contratos, o prazo se presume estabelecido em favor do devedor. Desse modo, pode antecipar o pagamento. Mas se o prazo for estipulado em favor do credor, pode este não receber o pagamento. 
IMPORTANTE!!! Nos contratos regidos pelo CDC, o credor é obrigado a receber o pagamento com redução proporcional dos juros (art. 57 §2º).
De acordo com o art. 331, salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente. 
IMPORTANTE!!! Não havendo prazo avençado, é necessário que o devedor seja informado do propósito do credor de receber, pois nas obrigações sem estipulação de prazo para o seu cumprimento a mora do devedor só começa depois da interpelação judicial ou extra-judicial. 
Art. 397. 
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.
De acordo com o art. 134 CC, nem sempre os atos sem prazo são exequíveis desde logo, ou desde que feita a interpelação, pois há hipóteses em que a execução deverá ser feita em lugar diverso ou depender de tempo.
Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo.
Proclama o art. 332 que as obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que deste teve ciência o devedor. Este dispositivo se refere à condição suspensiva, pois a resolutiva não impede a aquisição do direito desde logo.
CAPÍTULO II
DO PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO
1- CONCEITO
Conceito: É a faculdade que o devedor tem de depositar em juízo o valor ante a recusa ao pagamento, dúvida quanto à quem pagar ou dificuldade em pagar. Tem por objetivo de liberar o devedor da obrigação. É meio indireto de pagamento. Pagar é um dever e também um direito do devedor. Tem natureza declaratória.
A consignação é instituto de direito material e processual. O CC menciona as hipóteses e o CPC o modo de fazê-lo. 
A consignação pode ser judicial ou extrajudicial.
Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais.
2- FATOS QUE AUTORIZAM A CONSIGNAÇÃO
O rol do art. 335 é “numerus abertus”. Rol exemplificativo. 
Art. 335. A consignação tem lugar:
I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; (recusa injusta)
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; (caso de divida quesível)
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto dopagamento.
3- REQUISÍTOS DE VALIDADE
Preceitua o art. 336, “Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento.” Deve ser feito pelo devedor em relação ao verdadeiro credor sob pena de não valer, salvo se ratificado por ele ou se reverter em seu proveito. (art. 304 e 308 CC)
Quanto ao objeto, exige-se a integralidade do depósito. O modo e o tempo será o convencionado no contrato (não poderá pagar de modo diverso e em tempo diverso do que foi estipulado no contrato). A mora do devedor não impede a consignação se ainda não provocou consequências irreversíveis.
4- REGULAMENTAÇÃO
Proclama o art. 337: O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente. Sendo quesível a dívida (regra geral), o pagamento efetua-se no domicilio do devedor, sendo portável, no domicilio do credor.
Os artigos 341 e 342 dizem:
Art. 341. Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada.
Art. 342. Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele cito para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher; feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á como no artigo antecedente.
De acordo com os arts. 338 e 339, enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as consequências de direito. E julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo, embora o credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores. Procura-se resguardar o interesse destes últimos, pois a procedência da ação extingue a obrigação, acarretando a exoneração dos devedores solidários.
Art. 338. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as conseqüências de direito.
Art. 339. Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo, embora o credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores.
Art. 540 do Novo CPC.  Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento, cessando para o devedor, à data do depósito, os juros e os riscos, salvo se a demanda for julgada improcedente.
CAPÍTULO III
DO PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO
1- CONCEITO E ESPÉCIES
Sub-rogação é a substituição de uma pessoa (pessoal), ou de uma coisa (real), por outra pessoa ou por outra coisa, em uma relação jurídica. 
IMPORTANTE!!! A sub-rogação constitui uma EXCEÇÃO a regra de que o pagamento extingue a obrigação. A sub-rogação promove apenas uma ALTERAÇÃO SUBJETIVA da obrigação, mudando apenas o credor. A extinção obrigacional ocorre apenas em relação ao credor, que fica satisfeito. Nada se altera para o devedor, que deverá pagar ao terceiro sub-rogado no crédito.
O efeito translativo pode vir da vontade das partes (convencional art. 347) como da lei (legal art. 346)
Art. 346. A sub-rogação opera-se, de PLENO DIREITO, em favor:
I - do credor que paga a dívida do devedor comum;
II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel;
III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.
Art. 347. A sub-rogação é CONVENCIONAL:
I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos; (espécie de cessão de crédito)
II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.
IMPORTANTE!!! Terceiro interessado é o que pode ter seu patrimônio afetado caso a dívida, pela qual também se obrigou, não seja paga. Sub-roga-se automaticamente nos direitos do credor.
IMPORTANTE!!! O TERCEIRO NÃO INTERESSADO que paga a dívida em seu próprio nome NÃO se sub-roga nos direitos do credor, mas tem o direito de ser reembolsado. Se o terceiro não interessado pagar a dívida em nome do devedor, esse pagamento se considera uma mera liberalidade, um favor, não tendo direito ao reembolso. 
2- EFEITOS
#Quais são os principais efeitos do pagamento com sub-rogação?
Efeito liberatório (libera o credor primitivo) e translativo (transferência dos direitos do credor primitivo para quem pagou).
IMPORTANTE!!! O terceiro que se sub-rogou não recebe só o crédito, RECEBE TAMBÉM PRIVILÉGIOS, AÇÕES E GARANTIAS EXISTENTES (Isso na legal. Na convencional as partes podem estipular o que será transferido).
IMPORTANTE!!! Portanto, na sub-rogação legal o efeito translativo não se opera só sobre o crédito, mas sim sobre todos os direitos do credor primitivo.
#Existe limite na sub-rogação convencional?
Na sub-rogação legal, quem pagou só se sub-roga na quantia que desembolsou (art. 350). Na sub-rogação convencional a doutrina tem aplicado por analogia o art. 350. 
Art. 350. Na sub-rogação legal (e na convencional, por analogia) o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor.
IMPORTANTE!!! Na cessão de crédito não existe esse limite. Na cessão de crédito, que tem natureza especulativa, um sujeito pode comprar um crédito de 100 por 50, caso em que poderá cobrar os 100. Isso não ocorre na sub-rogação. 
IMPORTANTE!!! O pagamento com sub-rogação também não se confunde com a novação subjetiva, por lhe faltar o animus novandi.
Dispõe o Art. 351: “O credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao sub-rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever.” Assim o credor originário terá preferência sobre o credor sub-rogado, pois este por ter efetuado o pagamento parcial, se sub- rogou apenas em parte do crédito.
CAPÍTULO IV
DA IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO
1- CONCEITO
A imputação do pagamento consiste na indicação ou determinação da dívida a ser quitada, quando uma pessoa se encontra obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, e efetua pagamento não suficiente para saldar todas elas.
Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da MESMA NATUREZA, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos.
Esse direito sofre, entretanto, algumas limitações:
a) O devedor NÃO pode imputar pagamento em dívida ainda não vencida se o prazo se estabeleceu em beneficio do credor (CC art. 133). A imputação em dívida não vencida não se fará sem o consentimento do credor.
b) O devedor não pode imputar o pagamento de dívida cujo montante seja superior ao valor ofertado (art. 314 CC).
c) O devedor não pode ainda, pretender que o pagamento seja imputado no capital, quando há juros vencidos, “salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital.”
2- REQUISITOS
a) pluralidade de obrigações
b) identidade de credor e devedor
c) fungibilidade entre as prestações (mesma natureza)
d) dívidas devem ser LÍQUIDAS (certa quanto à sua existência e determinada quanto ao seu objeto) e VENCIDAS (exigível).
e) suficiência da prestação para quitar pelo menos uma dívida pretendida.
#No silêncio do contrato, a quem cabe a escolha da imputação?
No silêncio, quem escolhe qual dívida está sendo paga é o devedor. Caso ele não impute, quem escolhe é o credor.

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