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BIOÉTICA
Paulo Fraga da Silva1
Tornam-se visíveis os recentes avanços da Ciência e da Tecnologia e as 
notáveis transformações sociais resultantes destas conquistas. Naturalmente, o 
impacto das inovações científicas e tecnológicas tem sido objeto de debate 
tanto pelo seu potencial de danos, como, também, pelas suas implicações 
éticas e sociais.
Mas, o debate se torna particularmente acirrado quando se avalia o 
sentido e as implicações de tais avanços frente aos desafios e dificuldades 
para criar um mundo sem exploração, sem opressão e que tenha como pré-
requisitos a garantia de direitos humanos e a defesa da dignidade humana. É 
inevitável questionarmos se avançamos em direção ao futuro que nos 
interessa, considerando todas essas mudanças. Quais as repercussões da 
ação humana que transforma e causa sérios impactos ao ambiente? Toda a 
sociedade deve estabelecer limites para a atividade científica? Que desafios 
enfrentaremos? Enfim, o mundo será melhor ou pior?
Despontando uma Bioética...
Numa breve retrospectiva do século que ora findou, percebemos que o 
mesmo foi marcado por três grandes megaprojetos. O primeiro foi o Projeto 
Manhatan que resultou na descoberta e utilização da energia nuclear, criação 
da bomba atômica e na decisão política de explodir Hiroshima e Nagasaki. O 
segundo foi o Projeto Apollo que levou o homem à Lua. O terceiro e o mais 
recente é o Projeto Genoma Humano, iniciado oficialmente em 1990. O objetivo 
de tal projeto consiste em mapear e seqüenciar todos os genes humanos. Na 
realidade, ele tem suas raízes na descoberta, por Watson e Crick em 1953, da 
molécula de DNA, a “molécula da vida”. É provável que o fio condutor da 
economia do século XXI será a engenharia genética com todo conhecimento 
que virá. A partir do recente anúncio oficial do seqüencialmente do genoma 
humano em 21 de Junho de 2000, abre-se um cenário fantástico em que 
realidade e ficção científica tornam-se, em alguns casos, são indistinguíveis. 
Se por um lado o conhecimento sobre o genoma humano propiciará uma 
redução do sofrimento humano com esperança de cura para várias doenças, 
por outro, poderá gerar perplexidades e inquietações pelas possibilidades de 
novas formas de discriminação. Por exemplo, a predisposição para 
determinadas doenças obtida por testes genéticos, poderá se tornar uma 
exigência em seleção de empregos ou para aprovação de seguros saúde e de 
vida.
1 é bacharel e licenciado em Ciências Biológicas, especialista em Bioética pela Universidade de 
São Paulo, mestre em Educação (ensino de Ciências) pela Universidade de São Paulo, 
doutorando neste mesmo programa. Atualmente é professor no Centro de Ciências e 
Humanidades no programa de Educação de Jovens e Adultos da Universidade Presbiteriana 
Mackenzie.
É neste contexto de temores e esperanças que surge a necessidade 
ética de se pensar nas repercussões dos “novos saberes” biológicos. Vai se 
constituindo a bioética como uma nova face da ética científica. 
Este texto tem o propósito de apenas provocar algumas reflexões e 
contribuir para a divulgação da bioética, além de apontar possíveis 
perspectivas de uma nova forma de dominação sutil e sofisticada que se gesta 
em países ricos, que gradualmente assumem o controle de biotecnologia de 
ponta, como a engenharia genética.
O termo bioética poderia ser etimologicamente definido simplesmente 
como ética sobre a vida. 
“Bioética é um neologismo derivado das palavras gregas bios (vida) e ethike 
(ética). Pode-se defini-la como sendo o estudo sistemático das dimensões 
morais – incluindo visão, decisão, conduta e normas morais – das ciências da 
vida e do cuidado da saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas 
num contexto interdisciplinar.” (Encyclopedia of bioethics, 2ª ed. v. 1, 
introdução, p.XXI, W.T.Reich, ed. 1995 apud Barchifontaine & Pessini, 2000: 
32).
Esses autores mostram que o surgimento da bioética vem num contexto 
onde os avanços tecnológicos na área das ciências da vida, apontam que o 
que está em jogo é aprender a avaliar as possíveis conseqüências das 
descobertas científicas e suas aplicações, de acordo com uma determinada 
metodologia ou certos valores básicos. Esses mesmos autores citam David 
Roy (1991) que define a bioética como “mecanismos de coordenação e 
instrumento de reflexão para orientar o saber biomédico e tecnológico, em 
função de uma proteção cada vez mais responsável da vida humana”. (David 
Roy citado por Barchifontaine & Pessini, 1991). Segundo Varga (1994), a 
bioética 
“estuda a moralidade da conduta humana no campo das ciências da vida. Inclui 
a ética médica, mas vai além dos problemas clássicos da medicina, a partir do 
momento que leva em consideração os problemas éticos levantados pelas 
ciências biológicas, os quais não são primeiramente de ordem médica” (Varga, 
1994: 5). 
Diante do contexto em que nasce a bioética, pode-se entendê-la como 
um esforço interdisciplinar na medida em que áreas envolvidas, isto é, ciências 
da vida e ciências humanas, se unem para reavaliar os valores humanos.
Nesse sentido, Mainetti (1990), observa que:
Perceberemos isto à medida que ampliarmos historicamente o conceito 
de bioética.
Antes, porém, vale à pena dar uma definição mais precisa e por que não 
dizer “enxuta” de bioética. Assim, bioética é uma ética aplicada aos atos 
humanos que podem ter conseqüências irreversíveis sobre os humanos 
ou qualquer ser vivo. (Kottow e Fermim Roland).. 
Bioética – histórico
Ao tentarmos localizar historicamente o termo bioética, verificamos que 
não há um consenso sobre um marco oficial de seu nascimento. Contudo, é 
relevante mencionar que em setembro de 1992 na Universidade de 
Washington, Seatle, durante uma conferência em que se debateu o 
“nascimento da bioética” e na qual estavam presentes muitos pioneiros da nova 
ética médica, 1962 foi apontado como ano de nascimento da bioética. Em 
novembro deste ano foi publicado um artigo na revista Life intitulado Eles 
decidem quem vive e quem morre, o qual mencionava a história de um comitê 
em Seatle cujo objetivo era selecionar pacientes para o programa de 
hemodiálise recentemente aberto na cidade. A demanda de pacientes era 
maior que a capacidade. A solução foi consultar um pequeno grupo, na maioria 
de profissionais não-médicos sobre quais os pacientes que receberiam a 
tecnologia ‘salvadora da vida’. Dessa forma o comitê defrontou-se com a tarefa 
de determinar critérios em questões não-médicas. Este fato para muitos 
marcou o nascimento da bioética. Para outros, principalmente para os 
europeus, o código de Nuremberg em 1947, fruto do tribunal reunido para 
julgar os excessos cometidos em pesquisas com seres humanos durante as 
grandes guerras já marcaria o nascimento da bioética. 
Provavelmente, o termo bioética ganhou maior expressão após a edição 
do livro Bioethics: bridge to the future, escrito pelo biólogo e oncologista Van 
Rensselaer Potter da Universidade Wisconsin, Madison EUA em junho de 
1971, ainda que o seu conceito de bioética tinha uma conotação peculiar. 
“Potter usou a palavra bioética num sentido evolutivo muito distante do 
significado que ela tem hoje, com o resultado de que o uso do termo foi 
marginalizado. Potter explanou seu interesse nos conflitos entre ordem e 
desordem no mundo afetado pelas ciências biológicas.” (Reich, W. T. apud 
Barchifontaine & Pessini, 2000: 18).
Andre Hellegers, obstetra, fisiologista fetal e demógrafo holandês 
fundador do Instituto Kennedy na Universidade de Georgetown, Washington, 
DC foi,provavelmente, quem aplicou o termo à ética da medicina e nas 
ciências biológicas, de tal forma que o nome acabou por se consagrar nos 
círculos acadêmicos e na mente do público (Reich, W. T. apud Barchifontaine & 
Pessini, 2000).
Oliveira (1997) vai apontar que diante desses temas, a bioética 
desponta-se com uma dupla face: uma como disciplina norteadora de teorias 
para o biodireito e legislação e a outra como um movimento social – 
movimento bioético. 
Cabe aqui ressaltar uma perspectiva mais recente da bioética 
denominada de bioética latino-americana. Nela as interrogações mais difíceis 
giram em torno não de como se usa a tecnologia médica, mas de quem tem 
acesso a ela. Conceitos culturalmente fortes como justiça, eqüidade e 
solidariedade vão ocupar na bioética latino-americana um lugar similar ao 
assumido pelo princípio da autonomia nos Estados Unidos. Neste sentido, a 
bioética na América Latina tem encontro obrigatório com a pobreza e a 
exclusão social, ampliando a reflexão ética, do nível “micro”, isto é, a solução 
de casos clínicos para uma bioética em nível “macro” – sociedade, como 
alternativa à tradição anglo-americana. Exemplificando, na discussão de como 
se usar a tecnologia médica, o foco acabaria mudando para de quem tem 
acesso à tecnologia médica.
Bioética – princípios
É importante ressaltar que certos princípios da bioética situam-se na 
reflexão ética principialista norte-americana, voltada para a preocupação 
pública com o controle social da pesquisa em seres humanos. Três casos 
notáveis mobilizaram a opinião pública norte-americana e suscitaram uma 
discussão em torno da necessidade de regulamentação ética. O primeiro deles 
ocorreu em 1963, no Hospital Israelita de doenças crônicas de Nova York, 
quando foram injetadas células cancerosas vivas em doentes idosos. O 
segundo ocorreu entre 1950 e 1970, no hospital estatal de Willowbrook, Nova 
York período em que vírus de uma forma de hepatite foram injetados em 
crianças com retardamento mental. O terceiro caso teve lugar em Tuskegee, no 
estado do Alabama, onde, de 1940 a 1972 quatrocentos negros sifilíticos foram 
deixados sem tratamento para pesquisar a história natural da doença. A 
pesquisa continuou até 1972, apesar da descoberta da penicilina em 1945. O 
governo norte-americano, em 1996, pediu desculpas públicas àquela 
comunidade negra pelo que foi feito. 
Em função dos escândalos relatados, em 1974 foi criada a Comissão 
Nacional para a proteção dos seres humanos da pesquisa biomédica e 
comportamental (National Commission for the Protection of Human Subjects of 
Biomedical and Behavioral Research), com o intuito de “levar a cabo uma 
pesquisa e um estudo completo que identificassem os princípios éticos básicos 
que deveriam nortear a experimentação em seres humanos nas ciências do 
comportamento e na biomedicina” (Barchifontaine & Pessini, 2000: 44). Esta 
comissão, que demorou quatro anos para publicar o que passou a ser 
conhecido como Relatório Belmont, identifica três principais princípios: 
norteadores da bioética: autonomia, beneficência e justiça, conhecidos como o 
‘tripé’ da bioética ou “trindade bioética”.
O princípio da autonomia, ou respeito à pessoa, incorpora pelo menos 
duas preocupações básicas: a primeira delas é que as pessoas devem ser 
tratadas com autonomia e a outra se refere às pessoas cuja autonomia está 
diminuída, que devem ser protegidas. Pessoa autônoma, de acordo com o 
Relatório é o indivíduo capaz de deliberar e agir sob orientação dessa 
deliberação. A autonomia é entendida como a capacidade de atuar com 
conhecimento de causa e sem coação externa. Para a comissão, o conceito de 
autonomia não é o kantiano, o homem como ser autolegislador, mas outro, 
muito mais empírico, segundo o qual uma ação se torna autônoma a partir do 
momento em que o indivíduo toma uma decisão consciente, após ter sido 
informado das conseqüências.
No princípio da beneficência, (bonum facere, do latim, ‘fazer o bem’) o 
Relatório Belmont rechaça claramente a idéia clássica da beneficência como 
caridade e considera esta como uma obrigação. Neste sentido, são formuladas 
como expressões complementares dos atos da beneficência: não causar dano, 
maximizar os benefícios e minimizar os possíveis riscos.
É neste princípio que se baseia e por ele se orienta o modelo hipocrático 
que não admite escusas, enquanto houver seres humanos que sofrem e 
necessitem de atenção médica e moral. Correia (1996) vai apontar que “fazer o 
bem”, “não causar dano”, “cuidar da saúde”, “favorecer a qualidade de vida”, 
constituem as máximas da moral de beneficência. O autor reafirma que a 
beneficência requer que os agentes morais, no mínimo, abstenham-se de 
prejudicar os outros, mas pode, também, abarcar obrigações de fazer o bem ao 
próximo e promover o seu bem-estar. Este princípio encontrou, ao longo dos 
séculos, respaldo em diversas tradições, da ética cristã ao conceito marxista de 
solidariedade. Até recentemente, a beneficência gozou de primazia dentre os 
princípios da conduta médica e, hoje encontra-se limitada por três fatores 
principais: a necessidade de se definir o que é bem do paciente; a relação 
existente entre este princípio com o critério de autonomia e as novas 
dimensões da justiça na área de saúde. 
Por justiça, o terceiro princípio, entendem os membros da comissão, 
como a “imparcialidade na distribuição dos riscos e benefícios” ou “os iguais 
devem ser tratados igualmente”. O problema está em saber quem são os 
iguais. Para os que estão na área de saúde o que se pretende com este 
princípio é que toda atenção, todo cuidado e todo sistema de saúde sejam 
justos ou, em outras palavras, o princípio de justiça é que nos obriga a garantir 
a distribuição justa, eqüitativa e universal dos benefícios dos serviços de 
saúde. Neste aspecto, Gracia (1990) aponta que há várias teorias da justiça 
que dão suporte à concepção de um sistema justo de serviços de saúde, e 
dentre elas, menciona a justiça como proporcionalidade natural, como 
liberdade contratual, como igualdade social, como bem-estar coletivo e como 
eqüidade (Gracia, 1990 apud Barchifontaine & Pessini, 1996).
Além destes três princípios da bioética descritos pelo Relatório Belmont, outros 
princípios foram acrescidos, sendo também muito importantes.
Um deles, o princípio da alteridade, também é usado como fio condutor para a 
reflexão bioética. Alteridade ao longo da história recebeu diferentes sentidos: “o 
ser outro”, “atitude para com o outro”, “reconhecimento dos outros”, enfim, 
“colocar-se no lugar do outro”. 
Importância e necessidade
A bioética é portanto um instrumento importante para a socialização do 
debate sobre as tecnociências, muito embora não seja fácil para quem não é 
especialista compreender o que se passa na área de ciências biológicas como 
também as rápidas repercussões das pesquisas básicas na frente industrial e 
financeira que têm ou terão repercussões na sociedade.
Enfim, como bem aponta um trecho de um periódico do Kennedy 
Institute:
“(...)do ideal educacional original, passando por profundas metamorfoses 
conceituais até chegar a uma visão ampliada, a bioética tornou-se um 
movimento social, com o objetivo de engajar-se nos problemas éticos e 
biológicos do presente e do futuro da humanidade” (trecho extraído do 
Kennedy Institute de Ethics Journal, vol.9, n.1, 1999, p. 88 apud Barchifontaine 
& Pessini, 2000, p.42).
Fica portanto sinalizada a importância do diálogo permanente entre a 
tecnociênciae a ética, abrindo-se assim novas perspectivas... 
Referências Bibliográficas
BARCHIFONTAINE, C. P., PESSINI, L. (1991). Problemas Atuais de Bioética. São Paulo: 
Loyola, 1991.
_________________________________(2000). Problemas Atuais de Bioética. 5.ed. rev.. 
São Paulo: Loyola. 
BARCHIFONTAINE, C. P., PESSINI, L. (1996). (orgs) Fundamentos da Bioética. São 
Paulo: Paulus. 
OLIVEIRA, F. (1997).Bioética: uma face da cidadania. São Paulo: Moderna.
SILVA, P. F. (2001). Percepções dos alunos de Ensino Médio sobre questões bioéticas. 
São Paulo. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação da Universidade de 
São Paulo.
	BIOÉTICA
	Bioética – histórico
	Bioética – princípios
	Referências Bibliográficas
	BARCHIFONTAINE, C. P., PESSINI, L. (1991). Problemas Atuais de Bioética. São Paulo: Loyola, 1991.
	_________________________________(2000). Problemas Atuais de Bioética. 5.ed. rev.. São Paulo: Loyola. 
	BARCHIFONTAINE, C. P., PESSINI, L. (1996). (orgs) Fundamentos da Bioética. São Paulo: Paulus. 
	OLIVEIRA, F. (1997).Bioética: uma face da cidadania. São Paulo: Moderna.
	SILVA, P. F. (2001). Percepções dos alunos de Ensino Médio sobre questões bioéticas. São Paulo. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

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