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a construção do SUAS

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12 Pensar BH/Política Social Dezembro de 2005/Fevereiro de 2006
A Assistência Social é uma política pública de
seguridade social, não contributiva, que deve garantir
acesso e direito a partir da constituição de uma rede
de proteção social, na perspectiva da autonomia dos
indivíduos e das famílias. Assim está descrita na Cons-
tituição Federal de 1988 e na Lei Orgânica da Assis-
tência Social (LOAS).
A nova Política Nacional de Assistência Social,
que prevê o desenvolvimento e a implantação do Sis-
tema Único de Assistência Social (SUAS) em todo o
território nacional, foi aprovada pelo Conselho Nacio-
nal de Assistência Social (CNAS), em 15 de outubro
de 2004. Vamos, aqui, apresentar os pontos principais
da organização prevista para esse Sistema e seus ob-
jetivos.
A Política Nacional busca assegurar um padrão
de proteção social à população socialmente vulnerável
e inverter o quadro "crônico" de atuar apenas nas con-
seqüências sociais. Prevê ações de Proteção Básica,
que visam à prevenção de situações de risco, e ações
de Proteção Especial, para famílias e indivíduos que já
se encontram com direitos violados.
Quanto mais próximas do cidadão a oferta e a
entrega de serviços, melhor a garantia de acesso. As
ações de Proteção Social Básica, tendo como eixo pri-
mordial a valorização da vivência familiar e comunitá-
ria e o sentimento de pertencimento, terão um dese-
nho de intervenção baseado no território onde as famí-
lias moram. Assim, organiza-se um sistema de servi-
ços locais mais simples e de custo menor, voltados para
a prevenção de situações de vulnerabilidade, como por
exemplo, os serviços de convivência, de socialização,
de atendimento, o encaminhamento e a orientação para
famílias.
Dada a natureza de suas realizações, os benefí-
cios de prestação continuada e os eventuais compõem
a proteção básica, além das ações de qualificação pro-
fissional e geração de renda previstas na LOAS.
 Já a Proteção Social Especial é definida como
ações de média ou alta complexidade, dependendo da
situação do usuário: se houver vínculo familiar e co-
munitário, o atendimento se dará na média complexi-
dade; em situações de vínculos rompidos, a atenção se
dará na alta complexidade. Fazem parte da Proteção
Especial os serviços de orientação e apoio sociofamiliar,
o plantão social, habilitação e reabilitação na comuni-
dade das pessoas com deficiência, abordagem de rua,
a execução de medidas socioeducativas de Liberdade
Assistida e Prestação de Serviço à Comunidade (Mu-
nicípios) e de Privação de Liberdade (Estados),
abrigos, albergues, repúblicas, famílias substitutas, tra-
balho protegido, casa lar, centros de passagens. Todas
estas intervenções têm estreita relação com o Sistema
de Garantia de Direitos, quando do atendimento a cri-
anças e adolescentes e, portanto, algumas são com-
partilhadas com os Conselhos Tutelares, o Poder
Judiciário, o Ministério Público, entre outros.
Esta estrutura hierarquizada prevista para a or-
ganização do Sistema visa definir uma "porta de entra-
da" no local de moradia do cidadão, que vai sendo en-
caminhado aos demais serviços conforme o grau de
complexidade e a necessidade de proteção que requer.
Integrados nesse sistema estão entidades de atendi-
mento socioassistencial, atendimento em equipamen-
tos próprios dos governos locais e estaduais, ONG, igre-
jas e todos os tradicionais parceiros da Política de As-
sistência Social.
Modelo de Gestão
O grande desafio do SUAS é a implantação de
um modelo de gestão que organize, de fato, um Siste-
ma em que todas estas ações, programas, projetos,
serviços e benefícios socioassistenciais se articulem,
ROSILENE CRISTINA ROCHA*
O grande desafio do SUAS é a implantação de um
modelo de gestão que organize, de fato, um Sistema, em que
todas estas ações, programas, projetos, serviços e benefícios
socioassistenciais se articulem, convergindo para a participa-
ção dos vários atores sociais que a compõem e tendo como
elementos constitutivos, dentre outros: gestão descentralizada
e intersetorial, participação popular e controle social, finan-
ciamento público, abordagem familiar, ações em rede sob o
controle do Poder Público.
RESUMO
A Construção do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS)
* Assistente social e Secretária Municipal Adjunta de Assistência Social de Belo Horizonte
A
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n
ci
a
12
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13Dezembro de 2005/Fevereiro de 2006 Pensar BH/Política Social
convergindo para a participação dos vários atores so-
ciais que a compõem e tendo como elementos
constitutivos, dentre outros: gestão descentralizada e
intersetorial, participação popular e controle social, fi-
nanciamento público, abordagem familiar, ações em
rede sob o controle do Poder Público. Sobre esses ele-
mentos, discorreremos brevemente aqui.
A gestão descentralizada e intersetorial tem a
territorialidade como fator relevante para viabilizar a
integração das políticas setoriais.
A Política Nacional considera a alta densidade
populacional do país e, ao mesmo tempo, a desigualda-
de socioterritorial. Definiu os municípios brasileiros em
municípios de pequeno porte 1 e 2, de médio e grande
portes e metrópoles. Essa divisão é observada para a
implantação de ações sociais básicas - em todos os
municípios - e de ações sociais especiais em municípi-
os de médio e grande porte e nas metrópoles.
As ações de Proteção Básica se organizam em
torno do CRAS - Centro de Referência da Assistência
Social, referenciando cinco mil famílias por equipamen-
to. De acordo com o porte do Município, portanto, ele
terá maior ou menor número desse equipamento. Já
as ações de Proteção Especial terão como base de
organização o Centro de Referência Especializado e
estarão, preferencialmente, sob a responsabilidade dos
Governos de Estado. Podem estar num município de
grande porte ou metrópole ou consorciado entre vá-
rias cidades próximas.
Grande importância na articulação do Sistema
de Assistência Social tem a integração entre o Benefí-
cio de Prestação Continuada e as demais ações da
Proteção Básica e as ações da Proteção Especial, em
torno das famílias usuárias, visando sua autonomia.
Os municípios estão em processo permanente
de habilitação, de acordo com sua capacidade, nos ní-
veis de gestão Inicial, Básica e Plena. Isto está sendo
possível, entre outras razões, pelo fortalecimento das
CIB - Comissões Intergestores Bipartites, compostas
por governos municipais e estaduais, nas 27 unidades
federadas - e da CIT - Comissão Intergestora Tripartite,
composta por municípios, estados e União. Essas são
instâncias de pactuação entre todos os entes federados,
o que tem possibilitado o avanço na implantação do
Sistema Único de Assistência Social.
A Política Nacional também leva em conta o
impacto recíproco entre as várias políticas setoriais,
sendo necessário construir ações definidas a partir do
território, junto com os demais setores.
A política nacional dá grande centralidade à ges-
tão com participação popular e controle social, desta-
cando o papel dos Conselhos de Assistência Social nos
três níveis de Governo. A estratégia para a implanta-
ção do Sistema, bem como para definir suas priorida-
des e perspectiva universalizadora da Proteção Bási-
ca nos próximos dez anos, será discutida na próxima
conferência nacional.
O financiamento público é expressão da garan-
tia de política pública e de um padrão éticode inclusão
social. Não há como desenvolver e implantar um sis-
tema público sem o efetivo aporte de recursos públi-
cos e autonomia dos entes federados.
Nesse sentido, o SUAS já promoveu um grande
avanço ao implantar o mecanismo de repasse automá-
tico, através dos fundos nacional, estaduais e munici-
pais e da autonomia no emprego dos recursos finan-
ceiros na Proteção Básica. A instauração de pisos fixo
e variável para o financiamento da União dá aos muni-
cípios e estados maior poder decisório sobre suas ne-
cessidades locais de aplicação dos recursos.
A atual disponibilização de informações pela rede
Web tem garantido a consolidação das bases para sua
implantação, monitoramento e avaliação. A descrição
sobre o papel condutor e regulador do Estado sobre a
Política de Assistência Social, conforme previsto na
LOAS, também concorre para a melhor clareza e de-
finição do que cada um dos entes federados deve as-
sumir e financiar na implantação e na execução das
ações do SUAS.
Padrões definidos de financiamento, com metas
voltadas para a universalização da assistência social
"para quem dela precisar", conforme a Constituição
Brasileira, é outra novidade trazida pela Política Na-
cional. Essa questão ainda ganhará contornos mais cla-
ros na Conferência Nacional de Assistência Social, em
dezembro próximo, quando serão definidas as dez metas
prioritárias para a implantação do SUAS.
A nova política nacional estabelece a aborda-
gem familiar como eixo para a construção do SUAS.
Família vista a partir das suas múltiplas configurações
e, como "base da sociedade, tem especial proteção do
Estado". A partir dessa nova premissa, busca-se su-
perar uma histórica focalização por segmento, dando
à matricialidade sociofamiliar novo enfoque na organi-
zação dos serviços da assistência social. A oferta de
serviços é pautada na necessidade da família de ter
condições objetivas de prevenir, proteger, promover e
incluir seus membros.
A intervenção junto às famílias demanda uma
compreensão da totalidade das relações familiares e
comunitárias, do pertencimento social dos usuários,
sempre na perspectiva da defesa dos seus direitos e
garantia de acesso aos serviços. Dessa forma, ao or-
ganizar-se e formatar programas, projetos, serviços e
Assistência
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14 Pensar BH/Política Social Dezembro de 2005/Fevereiro de 2006
Assistência
benefícios, o SUAS tem que considerar a complexida-
de em que se inserem as relações intrafamiliares e
estas com a comunidade.
O estabelecimento de ações em rede tem o
Estado como condutor responsável pela Política de
Assistência Social e as entidades sociais como parcei-
ras fundamentais no atendimento socioassistencial.
Cabe ao Poder Público o ordenamento da rede, as
definições dos padrões de qualidade nos serviços pres-
tados e a garantia do atendimento - quem é financiado
com recursos públicos tem que atender de forma pú-
blica. Os direitos dos usuários atendidos nessa rede
são, desta forma, regulações necessárias e urgentes.
Dentro do SUAS estarão organizados os aten-
dimentos em rede, integrando aqueles realizados de
forma direta pelo Poder Público e aqueles prestados
por instituições sociais. Para toda a rede, devem ser
definidos conjuntamente os critérios de acesso, a por-
ta de entrada, o fluxo de atendimento, de informação e
a capacitação dos recursos humanos. O objetivo é
possibilitar a superação da fragmentação e
superposição no atendimento ao usuário, já que são
vários os prestadores de serviços sociais (entidades,
fundações, governos) e várias também são as fontes
de financiamento.
Passo importante, nesse sentido, foi dado pelo
Conselho Nacional de Assistência Social que regula-
mentou recentemente o artigo 3º da LOAS, definindo
o que é entidade de assistência social para fins de aten-
dimento, financiamento e atribuições no SUAS. A ques-
tão ainda exige avanços conceituais e operacionais no
campo da gestão, considerando-se a própria história
do atendimento da assistência social no país e a nova
realidade.
Dentro dos debates de implantação do SUAS
está a necessidade de desenvolvimento de uma políti-
ca de recursos humanos, com formação e capacitação
continuada dos trabalhadores sociais. Nesse tema, é
preciso considerar os servidores públicos e os traba-
lhadores das entidades sociais que prestam serviços
socioassistenciais.
Trata-se de um grande desafio, uma vez que a
atual legislação não permite a remuneração de servi-
dores públicos com os recursos federais, o que com-
promete o caráter continuado da política e, por conse-
guinte, a qualidade dos serviços prestados. O Ministé-
rio do Desenvolvimento Social e Combate à Fome já
está discutindo uma proposta de norma operacional
básica de recursos humanos a ser apresentada ao Con-
selho Nacional de Assistência Social.
Considerações Finais
A implantação do SUAS tem, ainda, grandes
desafios a enfrentar como a garantia de comple-
mentaridade e respeito às diversidades, o estabeleci-
mento de padrão mínimo de qualidade nacional; a ga-
rantia de comando único da política, em cada esfera
de governo, convergindo para um sistema nacional; a
definição de custos por serviço, a construção de indi-
cadores de vulnerabilidade para orientar, entre outros,
os critérios de partilha dos recursos, a construção de
sistemas de monitoramento e avaliação entre os três
entes federados, que dialoguem entre si.
Sua construção representa o aperfeiçoamento
da Política Pública de Assistência Social, com pers-
pectivas de universalização e maior qualidade de re-
sultados. Como define bem Maria Angela Rocha, "tra-
ta-se de um Sistema articulador e provedor de ações
de proteção social básica e especial, afiançador de
seguranças sociais de acolhida, convivência, autono-
mia, rendimento, próprios da política". E de maneira
central, que tenha como ponto eixo orientador o usuá-
rio, seus direitos e seu protagonismo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Política Nacional de Assistência Social, novembro de 2004. Mi-
nistério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e Conse-
lho Nacional de Assistência Social
NOB.Norma Operacional Básica da Assistência Social. Ministé-
rio do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Mimeo. 2005.
PEREIRA, Maria Ângela Rocha Pereira.O Desafio da Construção
do Sistema Único da Assistência Social-SUAS Brasileiro.
Mimeo.2005.
ROCHA, Rosilene Cristina. Anais da IV Conferência Nacional de
Assistência Social. Brasília, dezembro de 2003.
SPOSATI, Aldaíza. Política de Assistência Social: uma estratégia
de inclusão social. Assistência Social:como construir e implementar
uma gestão inclusiva, Mimeo. 2003.
________, Aldaíza.Contribuição para a Construção do Sistema
Único de Assistência Social - SUAS.In:Revista Serviço Social &
Sociedade - Informe-se, no. 78,São Paulo.Ed.Cortez,julho/
2004,p.171-179.
ABSTRACT
The great challenge of SUAS is the implantation of a
management model able to organize, in fact, a System, in which
all these programs, projects, services , social and assistencial
benefits can articulate themselves converging to the participation
of several social actors who compose it and having as constituent
elements, amongst others: decentralized and intersetorial
management, popular participation and social control, public
financing, familiar approaching, actions in net under the control
of the Public Power.
OS 0000 Rev PensarBH.p65 27/12/2005, 15:2214

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