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Curso DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR Disciplina TEORIAS DA APRENDIZAGEM Curso DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR Disciplina TEORIAS DA APRENDIZAGEM Maria Cristina LOURO Maria Cristina URRUTGARAY Moema QUINTANILHA Neila TOMÉ www.avm.edu.br S o b re a s a u to ra s NEILA MARIA DE ALMEIDA TOMÉ, possui graduação em Psicologia pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (1993), graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1996), mestrado em Educação e Cultura Contemporânea pela Universidade Estácio de Sá (2005). Atualmente é coordenadora pedagógica de Ensino Fundamental da Escola Municipal União da Betânia e professora de cursos de pós graduação em Educação da Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Psicologia e Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: Psicologia da educação, formação de professores, memórias profissionais e identidades. Olá, tudo bem? Sou MARIA CRISTINA URRUTIGARAY. Trabalho no IAVM desde 1996 como professora dos cursos presenciais. Já participei de alguns momentos dos cursos a distância, mas agora só chego até vocês pelas apostilas. Sou formada pela UFRJ em Psicologia. Tenho pós-graduação em Psicologia Analítica Junguiana pelo IBMR e Psicopedagogia, pela Universidade de Havana-Cuba. Também fiz meu mestrado por Cuba e me diplomei em Educação com ênfase em psicopedagogia. Como sou Analista Junguiana pela Associação Junguiana do Brasil, aproveitei e me tornei pesquisadora de imagens, imaginário e de símbolos. Trabalho com as Técnicas Expressivas e Arteterapia, e tenho dois livros publicados nesta linha de pesquisa sobre imagens, imaginário e a Arteterapia. MARIA CRISTINA LOURO. Possui graduação em psicologia pela Universidade Santa Úrsula (1989) e mestrado em Psicologia - P.S.E da P.E Cognitiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994). Esta cursando doutorado no Programa de Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2008). MOEMA QUINTANILHA. Psicomotricista, professora do Instituto a Vez do Mestre de disciplinas do curso de psicomotricidade e psicopedagogia. S u m á r io 07 Apresentação 09 Aula 1 O processo de aprendizagem 31 Aula 2 Aspectos psicológicos da aprendizagem 53 Aula 3 A intenção educativa e o conceito de inteligência 71 Aula 4 As contribuições de Gardner e Goleman 99 Aula 5 Afetividade e criatividade 117 AV1 Estudo dirigido da disciplina 120 AV2 Trabalho acadêmico de aprofundamento 121 Referências bibliográficas Teorias da Aprendizagem C A D E R N O D E E S T U D O S A p re s e n ta ç ã o Certamente você já ouviu dizer que a aprendizagem é um processo complexo e multidimensional, uma vez que é afetado por diferentes dimensões. Neste caderno você terá a oportunidade de conhecer melhor este processo a partir do estudo das contribuições de diferentes pesquisadores e estudiosos – como Piaget, Vygostsky, Skinner, Maturana, Goleman, Gardner e outros – que, em momentos distintos e a partir de pontos de vista variados, se dispuseram a entender melhor o que é aprendizagem, quais seriam os fatores dificultadores e promotores da mesma e, de modo particular, sua relação com outras características humanas como a inteligência, a criatividade, a sociabilidade e a afetividade. Trata-se, portanto, de um caderno rico que lhe ofertará a possibilidade de aprofundar conhecimentos sobre a aprendizagem considerando riqueza e suas múltiplas dimensões. Aproveite! O b je ti v o s g e ra is Este caderno de estudos tem como objetivos: Favorecer o entendimento do que seja aprendizagem de forma ampla e atualizada considerando os principais postulados teóricos sobre a mesma; Analisar alguns dos principais aspectos biopsicológicos da aprendizagem; Estudar as relações bipolares entre criatividade e aprendizagem; Auxiliar a compreensão dos processos volitivos e sua importância para o aprendizado e o desenvolvimento da inteligência. O Processo de Aprendizagem Neila Maria de Almeida Tomé A U L A 1 A p re s e n ta ç ã o Considerando a contribuição de diferentes áreas do conhecimento, em especial a Psicologia e a Educação, esta primeira aula tem como objeto de estudo as relações que permeiam o processo de ensino-aprendizagem. Na psicologia em particular a autora nos conduz a uma viagem onde navegaremos pela psicologia experimental e educacional, pelo Behaviorismo de Watson e Skinner, pela psicologia humanista de Rogers, pela construtivismo piagetiano e finalmente pelo socioconstrutivismo de Vygotsky. Não se trata aqui, e esta é uma das preocupações da autora, de esgotar os postulados teóricos apresentados. Muitos dos autores e teorias citadas serão aprofundados em aulas posteriores, mas nesta aula inicial você terá uma primeira aproximação com os mesmos e revendo a importância deles para o desvendamento dos mistérios que envolvem a díade ensino x aprendizagem. O b je ti v o s Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Compreender melhor a partir do estudo de diferentes contribuições o processo de ensino/aprendizagem; Analisar as contribuições da Psicologia para o entendimento dos atores principais e coadjuvantes do processo de ensino/aprendizagem; Considerar equívocos do processo de ensino/aprendizagem e estimular a partir das contribuições de diferentes escolas psicológicas a busca de métodos didaticamente mais eficientes. Aula 1 | O processo de aprendizagem 10 Introdução Gostaria de iniciar aula evocando um trecho já consagrado de Fernando Pessoa: “Navegar é preciso; viver não é preciso... Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que sou: viver não é necessário; o que é necessário é criar.” Ir à essência, desvendar mistérios. Tirar a roupa da mentira, interpretar novas verdades. Navegar, por que não?!! Nunca foi tão necessário navegar, pelo menos na Internet! Criar e recriar espaços, assim como formas de compreensão do sujeito e das suas maneiras de conhecer o mundo e as coisas. A humanidade e seus modos de relação com os objetos de conhecimento mudaram muito, evoluíram, transformaram ou cederam lugar a outras relações ao longo das décadas. Assim, esse módulo objetiva chamar todos vocês a navegarem conosco por esses mares já navegados e por aqueles que estamos descobrindo. Buscaremos, assim, rever as relações que permeiam o processo ensino/aprendizagem, seus atores principais e coadjuvantes. Habilitar você, a analisar os elementos significativos presentes nas teorias da construção do conhecimento e detectar as contribuições destas propostas para a prática pedagógica. Poderemos também ter uma visão (e não a única) de como a psicologia se coloca frente à educação através de exemplos e experiências de educadores e teóricos clássicos e contemporâneos. Venha, navegue conosco. Estamos abertos a sugestões até o fim da viagem. Qualquerdúvida é só entrar em contato. Importante Não deixe de ler as dicas e comentários que se encontram nos quadrinhos ao lado do texto. Dica da professora Atendendo ao convite: Sendo assim, vamos navegar por tais teorias. Lembre-se de que nossa aula não esgota as mesmas. Suas proposições são riquíssimas e merecem ser melhor estudadas. Introdução 10 Desvendando seus próprios mistérios 11 Psicologia humanista e a psicologia da educação 15 Sobre o sujeito na educação e na psicologia 17 Paradigmas na Educação e na Psicologia 18 Conclusão 26 Aula 1 | O processo de aprendizagem 11 Sucesso na jornada! Desvendando seus próprios mistérios EDUCAR É UMA PRÁXIS A relação ensino-aprendizagem sempre foi alvo de indagações e polêmicas, assim como, tradicionalmente se submete às contribuições por diversos especialistas não necessariamente, educadores ou psicólogos da educação. O início do relacionamento entre psicologia e educação teve também, por sua vez, vários marcos e sinais em várias escolas de pensamento e momentos de crise na educação. Por outro lado, a psicologia pesquisou e divulgou muito sobre as sensíveis e não menos importantes interfaces das emoções, da memória, dos aspectos afetivos e culturais com a aprendizagem. A Sociologia e a Antropologia tiveram o mérito de firmar a importância da questão cultural no processo de ensino-aprendizagem, bem como, alguns estereótipos e padrões que são, por vezes, reforçados por determinadas teorias. Por maiores informações que possam ser prestadas, ainda repousam muitas dúvidas sobre o binômio ensinar-aprender: Será que realmente ensinamos, será que só aprende quem realmente quer? De quem é a “culpa” quando não se aprende? Do aluno ou do professor? Seria um problema de método de ensino? Além disso, outros mitos e lendas cercam a figura do educador e da escola deixando sua relação com a psicologia “um pouco delicada”. Importante Quando estudamos profundamente um assunto, torna-se necessário procurarmos conhecer a definição dos termos principais. Você sabe o que é PRÁXIS? Se não, procure entender o significado! Quer saber mais? Vejamos algumas definições. De acordo com Tomazi (1997) “Sociologia é a ciência que se preocupa em analisar e explicar os fatos sociais, as relações sociais ou as ações sociais”. E Antropologia é: “o estudo ou reflexão acerca do ser humano.” (Ferreira, 1999) Aula 1 | O processo de aprendizagem 12 Psicologia da Educação sempre teve seu lugar junto à Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem. Aqui encontramos talvez um dos maiores equívocos. A Psicologia da Educação não deve ser apenas uma área onde deságuam esses textos com visões contraditórias, ingênuas ou curadoras de problemas em sala de aula. Normalmente, são estes os momentos em que o psicólogo é solicitado. A Psicologia da Educação deve estar disposta num tripé dinâmico onde não se privilegie nenhuma das visões, buscando uma dialogia entre a psicologia – a educação – as práticas pedagógicas, incluindo a pesquisa em sala de aula. AS ESCOLAS OU SISTEMAS PSICOLÓGICOS Ao tentarmos contemplar uma visão histórica, não gostaríamos que ela se reduzisse apenas a uma descrição de fatos que se sucedem, e sim, a uma análise crítica substanciada em outras ciências que nos auxiliam a compreender o cenário da complexidade: a física, a biologia, as ciências sociais, a filosofia, a fisiologia, dentre outras. A Psicologia enquanto ciência surge com as pesquisas de Wundt que funda o primeiro laboratório de Psicologia Experimental. O pesquisador alemão, após anos de estudo severo da fisiologia e tantas outras ciências, concluiu alguns pontos significativos sobre o objeto de estudo da psicologia: a experiência imediata e as sensações sem interpretações são formadoras de nossa consciência. As suas descobertas foram marcantes e contra e a seu favor levantaram-se vários teóricos e escolas de pensamento. Esta visão estruturalista começou a sucumbir com o tempo. No entanto, seu mérito não pode ser diminuído. Dica de leitura Para um entendimento mais completo sobre essa dinâmica, podemos sugerir uma leitura. Para quem se interessar, a referência da obra é: TOSCANO, Moema. Introdução a Sociologia Educacional. Petrópolis: Vozes, 2001. Dica da professora Isso é muito bom! Procure, sempre que puder, buscar informações em outras áreas que poderão dar subsídio ao tema estudado. Aula 1 | O processo de aprendizagem 13 O Estruturalismo foi a escola de pensamento criada por Wilhelm Wundt, considerado o pai da Psicologia experimental contemporânea. PSICOLOGIA EXPERIMENTAL E A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Carente de modelos próprios e engatinhando enquanto ciência, novamente para dar seus saltos quantitativos e qualitativos a Psicologia se alia aos outros campos do conhecimento. Desta vez, as alianças que nos interessam são com a Psicometria e com a Psicopatologia. Essa vinculação produzirá hipóteses e teorias ligadas às questões educacionais, como veremos mais adiante. O movimento anterior que lançou as bases para a psicologia experimental trouxe os experimentos no ramo da Psicometria. O advento dos testes pode ser usado, a partir daí, como uma arma de poder, delimitando os padrões de “normal” e “patológico”, inserindo os homens nas empresas conforme as necessidades e o perfil de cada uma. Por outro lado, vale a pena frisar aqui as contribuições das descobertas de Pavlov para a aprendizagem, demonstrando que os animais poderiam ser condicionados por meio de estímulos externos. Animais puderam ser usados e os resultados com o auxílio das ciências comparadas poderiam ser trazidos para o campo de ação dos seres humanos. Além disso, devemos citar os chamados neobehavioristas, sucessores do behaviorismo (comportamentalismo) idealizado por Watson e que culminou com Skinner quando nos diz que a psique é fruto de um longo processo de aprendizagens. Os neobehavioristas introduziram ao esquema S-R Quer saber mais? Wilhelm Wundt nasceu em 1832 e morreu em 1926. Para saber mais sobre a história da psicologia, poderá encontrar no capítulo 2 - cujo título é “a evolução da ciência psicológica” no livro Psicologias – uma introdução ao estudo da psicologia. Autores: Ana Maria Bock; Odair Furtado e Maria de Lourdes Teixeira. Editora Saraiva. Para navegar Você poderá encontrar a biografia de Pavlov no site; www.cobra.pages.no m.br/ec-pavlov.html E sobre Watson no site: www.cobra.pages.no m.br/ ec- watson.html Aula 1 | O processo de aprendizagem 14 (estímulo-resposta) elementos que podem interferir na aprendizagem, como o hábito, a recompensa. Tolman chega a afirmar a existência da “interferência de fatores cognitivos na aprendizagem”. Esse precedente deixado pelos neobehavioristas indica claramente que muitos acreditavam que representações, símbolos, imitação adequada ou não poderiam interferir na formação da personalidade e, por conseqüência, no condicionamento do comportamento. A psiquê é fruto de um longo processo de aprendizagens. PSICANÁLISE E PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Sigmund Freud foi, sem sombra de dúvida, uma das mentes maiscriativas desse século. Sua teoria, que privilegiava o inconsciente como a sede máxima dos conflitos intrapsíquicos, veio trazer novas contribuições sobre o que já se pensava sobre o homem. Adotou basicamente paradigmas fisiológicos e psicobiológicos na tentativa de compreender o complicado conflito mediado pelo ego entre o id e o superego. Uma das clássicas afirmações de Freud era a de que “Psicanalisar, Educar e Governar são atos impossíveis.” Freud não estudou profundamente os aspectos educacionais: Não contribuí com coisa alguma para a aplicação da Psicanálise à Educação, mas é compreensível que as investigações da vida sexual das crianças e de seu desenvolvimento psicológico tenham atraído a atenção de educadores e lhes mostrado seu trabalho sob uma nova luz. (Freud, S. In: Kupfer, M., 1989, p. 12). Dica de leitura Para saber mais sobre Tolman e a aprendizagem indicamos: HILGARD, Ernest Ropiequet. Teorias da aprendizagem. 4º Reimpressão. São Paulo: EPU, 1975. Dica de leitura Para se aprofundar em Skinner e o behaviorismo temos: SKINNER, B. F. Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix, 1974. Para navegar Ou no site: http://www.redepsi. com.br/html Dica de leitura Em muitos livros de psicologia você poderá encontrar explicações sobre conceitos de psicanálise, como por exemplo, os citados aqui – id, ego, superego e transferência. Podemos indicar um livro que fale da psicanálise no processo educacional, cujo nome é: Kupler, Maria Cristina. Freud e a Educação – o mestre do impossível. São Paulo: Scipione, 2002. Aula 1 | O processo de aprendizagem 15 Não podemos negar que a figura do professor para o aluno assume um papel relevante ao longo de sua vida. As relações que se travam em sala de aula, às vezes de amor ou de ódio explicitam o que ele chamou de Transferência. O professor, por sua vez, imbuído de sua autoridade e do lugar que ocupa, influencia com sua autoridade tornando a aprendizagem mais ou menos prazerosa, significativa ou não. Essa importância é maior quando a criança está em tenra idade, necessitando mais da presença do representante da figura materna. Entretanto, podemos encontrá-la em todos os níveis de relação ensinante-aprendente. Psicologia humanista e a Psicologia da educação Essa escola de pensamento constituída por uma diversidade de pensadores e orientações filosóficas, prima por apresentar características que a colocam como o ponto descontínuo entre o pensamento psicanalítico e o behaviorismo (comportamentalismo). A busca da essência em detrimento à existência, o ser-homem total, a visão não reducionista e não- mecaniscista do sujeito pareciam preencher perfeitamente os “buracos” daquele momento histórico e político cravado e marcado pelas guerras e a desvalorização do humano. Liberdade, vontade e responsabilidade pareciam soar como uma suave melodia aos ouvidos dos teóricos que a defendiam principalmente dos desabafos de behavioristas. Rollo May, Rogers além de Viktor Frankl, Binswanger vêm engrossar a fileira de psicólogos, de Quer saber mais? Sobre Carl Rogers: Formado em História e Psicologia, aplicou à Educação princípios da Psicologia Clínica, foi psicoterapeuta por mais de 30 anos. No Brasil suas idéias tiveram difusão na década de 70, em confronto direto com as idéias Comportamentalista s (behaviorismo), que teve em Skinner um de seus principais representantes. Rogers é considerado um representante da corrente humanista, não diretiva, em educação. Ele concebe o ser humano como fundamentalmente bom e curioso, que, porém, precisa de ajuda para poder evoluir. Eis a razão da necessidade de técnicas de intervenção facilitadoras. Aula 1 | O processo de aprendizagem 16 psiquiatras que representam essa linha de pensamento multifacetada dentro de si mesma. Na teoria da aprendizagem, as contribuições foram inúmeras. Carl Rogers, por exemplo, elaborou uma concepção de ensino centrada na perspectiva do aluno. Teve forte influência de ideais como a democracia e a liberdade ao formular o que é a sua obra mais famosa na educação – Liberdade para Aprender. Toda a atenção no processo de ensinar seria para o aluno. Uma infinidade de métodos se adaptou a essa idéia. Essa visão se alastrou rapidamente para todos os setores da escola e de outras organizações. Rogers afirmava que aprendemos aquilo que nos é significativo. Portanto: aluno deve se responsabilizar verdadeira e autenticamente por seu processo de aprendizagem; professor é o facilitador deste processo e deve promover um clima propício para que o próprio aluno produza suas respostas, encontre ele mesmo suas saídas; centro da discussão era o “como ensinar” muitas vezes em detrimento do “o que ensinar”. A teoria rogeriana sobre a educação é socialmente muito justa, entretanto não se pode desvincular as críticas severas que ele tinha em relação à dominação cultural e do ponto de vista filo e ontogenético. Não podemos esquecer as influências socioculturais e hereditárias. O homem é um ser social, nele está inserido, recebendo e produzindo cultura por onde passa. Para navegar Entre nos sites abaixo e saiba mais sobre Carl Rogers. http://www.rogerian a.com/biografia.htm l http://www.centror efeducacional.pro.br /carl.html Importante De acordo com Ferreira (1999), filogenia é a história evolucionária da espécie; e ontogenia é o desenvolvimento do indivíduo desde a fecundação até a maturidade para a reprodução. Aula 1 | O processo de aprendizagem 17 Sobre o sujeito na educação e na psicologia Falar do processo de aprendizagem ao longo da história de forma crítica nos coloca frente a alguns textos e autores que antes de mais nada evocam a presença de uma nova visão sobre o sujeito. Na época do pensamento pré-socrático, as “idéias" sobre divindades arquetípicas primavam. Aristóteles vai trazer o pensar “lógico” e com seu pensamento finalista dizia que o objetivo da ciência era desvendar a “constituição essencial dos seres vivos.”. O real é a base para atingirmos a essência. Partia-se da compreensão do individual para se atingir o universal. Com São Tomás de Aquino passou-se a valorizar a “razão de ser das coisas”. Somente Kant (1724-1804), e sua crítica à razão pura começaram a questionar o que até então era o pensamento vigente. Segundo Descartes (1596-1650), “penso, logo existo”, o pensar puramente racional começa a apresentar brechas e esbarra em severas contradições, o que faço com meus sonhos quando estou dormindo? O que são eles? É inaugurado o século XX e com ele as novas visões sobre o sujeito. Já passamos, como pudemos ver, momentos de excesso de valorização do aspecto psicológico na compreensão do sujeito na educação. Tudo era motivado por questões psicológicas. Isso afastou o psicólogo do discurso e da vivência escolar, ao invés de aproximar essas duas instâncias. Outro olhar “dilacerado” sobre o sujeito foi dado quando se privilegia o fator social como causador de problemas escolares. Quer saber mais? O período (-600/- 400), também chamado de pré- socrático, caracterizou-se pela reflexão sobre a estrutura do mundo natural epelo desenvolvimento da argumentação filosófica. No período (-400/-100), dito socrático, a preocupação com o homem, o estabelecimento de normas de conduta pessoal e o desenvolvimento de elaborados sistemas de pensamento ("escolas filosóficas") dominaram o cenário. Dica de leitura Mais uma sugestão para leitura. Agora é no ramo da Filosofia. A referência da obra é: ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Editora Moderna, 1996. Aula 1 | O processo de aprendizagem 18 Como último equívoco, devemos citar aqueles que desconsideram o binômio homem-meio social e historicamente construído. Esses relegam a outros planos a historicidade do sujeito e de seus processos de construção do conhecimento. Paradigmas na Educação e na Psicologia Devemos nos preocupar não só com a aquisição de conhecimento que o sujeito possa realizar, mas com o seu potencial de ser um ser realmente feliz. EXERCÍCIO 1 A partir dos conceitos aqui apresentados, analise o que significa levar em consideração a questão do “sujeito” no processo de aprendizagem. ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ A história que se segue é para promover um debate interior com relação às concepções de educação e psicológicas que foram postas anteriormente. Os diferentes momentos históricos nos colocam frente a concepções diversas de sujeito e sociedade, bem como de instrumentos de transformação do ambiente e da capacidade intelectual. O quadro da página seguinte nos dá uma visão aproximada dos principais paradigmas da relação sujeito-objeto na construção de modelos pedagógicos. Analise-o com atenção. Dica da professora Sempre que estivermos lendo algo precisamos estar atentos ao seu contexto. Aqui, neste caso, o contexto é histórico. O que isso pode representar? A sociedade era outra, o pensamento era outro, etc. Procure estar atento a esse “detalhe”, pois é um dado relevante para as interpretações. Aula 1 | O processo de aprendizagem 19 OBJETIVISTA SUBJETIVISTA COGNITIVISTA SÓCIO - HISTÓRICA Sujeito Objeto Sujeito Objeto Sujeito Objeto Sujeito Objeto Outro Conhecimento: presente no mundo dos objetos. Conhecimento: conquista do sujeito. Conhecimento: ação entre objeto (meio) e sujeito (3ª Via). Relação dialética entre sujeito x meio Privilégio dos estímulos exteriores sobre o sujeito. Ênfase na capacidade de superação individual do sujeito. Ação do sujeito sobre o objeto. Meio existe, mas não é socialmente construído. Interação entre sujeito e meio socialmente construído é mediada. Transmissão do saber. Construção de conhecimento. As diversas práticas pedagógicas e psicológicas se sucedem, em alguns momentos se contrapõem e em outros se completam. Tudo isso na tentativa de se criar uma escola ideal. Ideal para quem? O acesso ao conhecimento se transformou e hoje contamos com concepções modernas e recursos tecnológicos que implementam a educação a tal ponto que, no dizer de Papert, não podemos mais falar em alfabetização, e sim, em estilos de conhecer. Cada concepção apresentada traz o seu estilo de conhecer o mundo, e o objeto do conhecimento. Leonardo da Vinci fracassou nas suas tentativas de inventar o avião. Fazer um avião na época de Leonardo da Vinci requeria mais do que uma manipulação criativa de tudo o que se sabia sobre aeronáutica. Seu fracasso em fabricar o avião funcional não provou que ele estava errado em suas suposições sobre a viabilidade das máquinas voadoras. Leonardo da Vinci teve que esperar o desenvolvimento de algo que poderia suceder apenas através de grandes mudanças na maneira como a sociedade administra seus recursos. Os irmãos Wright puderam ter sucesso onde Leonardo pôde apenas sonhar porque uma infra-estrutura tecnológica forneceu materiais, ferramentas, motores e combustíveis, enquanto uma cultura científica forneceu idéias que se baseavam nas capacidades peculiares destes novos recursos. Quer saber mais? Para obter mais informações sobre Papert, consulte o site: http://papert.www. media.mit. edu/people/papert/ Aula 1 | O processo de aprendizagem 20 OBJETIVISTA Identificamos aqui técnicas de controle do comportamento do homem. O professor era punitivo e a forma de ensinar aos alunos o que queria era severa e ameaçadora. A figura do aluno não estava no centro das atenções da relação aprender-ensinar. O objeto de ensino era mais valorizado e o aluno um ente passivo que assimilava ou não os ensinamentos. REPRESENTANTES: Skinner, Pavlov, Bechterev, Watson. CRÍTICAS: É uma concepção que não considera o sujeito como ativo no seu processo de aprender. Ele apenas assimila os comportamentos que o professor objetiva segundo suas instruções e objetivos didáticos. Não valoriza a voz e o desejo dos aprendentes. SUBJETIVISTA Desloca o olhar, antes no objeto, para o sujeito que ensina. O professor vira então o catalisador dos processos de aprendizagem. Sua função é facilitar o aprendizado, independentemente da metodologia que use. As características do professor ideal nessa abordagem são: Autenticidade: Não se deve esconder atrás de máscaras ou profissões. O valor dado ao professor é proporcional à sua capacidade de ser o que realmente é. Bechterev, Vladimir. Neurologista e psiquiatra russo (1857-1927) Dica de leitura Fique atento as bibliografias GOULART, Íris Barbosa. Psicologia da Educação: Fundamentos Teóricos e Aplicações á prática pedagógica. Petrópolis: Vozes, 2003. DAVIS, Cláudia e Oliveira, Zilma de. Psicologia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994. Aula 1 | O processo de aprendizagem 21 Empatia: O professor deve ser empático, ou seja, compreender o sujeito que está sob seus cuidados, suas motivações internas e seus comportamentos expressos. Dessa forma ocorreria o que, para o representante maior deste pensamento – Carl Rogers, a aprendizagem significativa, com valor próprio para quem a aprende. A responsabilidade do aluno seria a de selecionar esses conteúdos segundo seu significado e sua personalidade. REPRESENTANTES: Carl Rogers, Otto Rank, Rollo May. CRÍTICAS: Possui aspectos positivos como o estímulo à auto-avaliação dos processos de aprendizagem, de aconselhamentos de pais e mestres e o incentivo ao indivíduo buscar alternativas e significado no que aprende. COGNITIVISTA Tem sua representação mais significativa na figura e nas obras do suíço Jean Piaget. Piaget teve seu mérito maior ao desvendar a constituição histórica das raízes do aprendizado nas crianças. Ao lado de nomes como Claparede e Flournoy, Piaget desenvolveu suas pesquisas e fundou a concepção conhecida no início do século de “escola ativa”. Piaget buscou reconhecer na construção histórica a capacidade da criança em julgar e elaborar suas teorias de conhecimento a fim de explicar a realidade. Assim,o pensamento e a linguagem da criança poderiam ser expressos de diferentes formas ao longo do seu desenvolvimento. Para navegar Procure entrar em sites de busca para realizar pesquisas. EX: www.google.com.br Aproveite e procure saber mais sobre Jean Piaget. Entre outros teóricos, é claro! Aula 1 | O processo de aprendizagem 22 O meio existe, entretanto, Piaget não o vê como promovedor de um resgate sócio-histórico do sujeito e de seu conhecimento. Piaget foi à gênese da construção do conhecimento, da cognição da criança e a acompanhou ao longo de sua vida. Seus experimentos puderam demarcar algumas etapas ou estágios, assim colocados. Período Sensório-motor: compreende o período de exploração indiferenciada do bebê e da criança pequena até 2 anos de idade. As conquistas desta etapa estão ligadas à descoberta corporal, reconhecimento rudimentar das partes do corpo, desenvolvimento perceptivo, visual e táctil. Período Pré-operatório: dos 2 aos 6 anos de idade, a criança começa a conquistar seu espaço, a construir a sua identidade. Conhece também seus limites, descobre o “não” e o significado inicial das relações sociais. Aos poucos começa a se socializar e sair do que Piaget chamou de fase egocêntrica. O brincar guarda relação com a socialização e a formação da moral e da construção dos argumentos que a criança possui. Período das Operações Concretas: é quando se dá o início da descoberta das relações que cercam o mundo: tempo, espaço, quantidade. Formaliza uma lógica do que antes tinha um conhecimento cotidiano e vulgar. Período das Operações Formais: domínio das diversas formas de linguagem. As relações com o mundo e objetos tornam-se mais sofisticadas. Assim, as operações são de Dica de leitura Veja essa indicação! LA TAILLE, Yves de. Piaget, Vygotsky e Wallon. Teorias Psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992. Aula 1 | O processo de aprendizagem 23 nível combinatório e probabilístico. O sujeito está no máximo de sua socialização. O pensamento egocêntrico, segundo Piaget, desaparece. O desenvolvimento afetivo busca também uma estabilização. O desenvolvimento do ser em Piaget é global: afetivo e cognitivo, apesar de suas pesquisas terem uma ênfase no segundo. Assim, seu sujeito tem um papel ativo na aprendizagem. O outro mérito de Piaget foi a integração de duas formas divergentes de concepção de desenvolvimento: o genético e ambiental. Ambos eram considerados e a Epigênese era o final de um processo que duraria toda a vida do ser. As relações nem sempre harmônicas entre assimilação (ação do meio) e acomodação (função cognitiva: memória, percepção e outras) buscam a Adaptação. A busca do sujeito, em Piaget, é a do sujeito autônomo. REPRESENTANTES: Jean Piaget, Ana Teberoski, Emilia Ferreiro, Maria Montessori. CRÍTICAS: O aspecto mais relevante foi a união que esses pensadores puderam fazer de concepções antagônicas da formação cognitiva do sujeito. Segundo esses autores tanto o meio como a genética possuem ambos sua responsabilidade na gênese afetivo- cognitiva do sujeito. Essa linha de pensamento muitas vezes subordina o individual ao social e nega as contribuições da interação meio social, dialeticamente construídas, no desenvolvimento do ser. A ênfase no aspecto cognitivo é outra consideração que reduz significativamente as descobertas destes pesquisadores e de outros como os neoconstrutivistas representados modernamente nas figuras de Bárbara Freitag e Esther Grossi. Para navegar A biografia de Maria Montessori está em: www.montessoripros aber.com.br/escola/ montessori/biografia .htm E a de Emilia Ferreiro está no site: www.centrorefeduca cional.com.br Aula 1 | O processo de aprendizagem 24 SOCIOINTERACIONISTA Assim conhecida por considerar o meio social como promovedor do desenvolvimento afetivo e cognitivo do sujeito. As relações de aprendizagem não se dão apenas de objeto para sujeito e na ação do sujeito com o meio. A palavra chave dessa abordagem é a INTERAÇÃO. Rubinstein, Vygotsky e Leontiev são alguns pesquisadores da chamada Psicologia histórico-crítica, cuja base é o materialismo dialético. Compreende, assim, o objeto da Psicologia dessa concepção segundo Urt (1994): é o reflexo do mundo externo no mundo interno, ou seja, a interação do homem com a realidade; não o mundo interno em si mesmo, mas a atividade consciente do homem, que se compreende em sua história social, relacionada diretamente com o trabalho e com a linguagem. (Urt. In: Freitas, 1994) Podemos desse modo, falar de um sujeito que, aos poucos, caminha para uma crescente internalização dos processos de aprendizagem que levará toda uma vida partindo da relação dialética entre a ontogênese (desenvolvimento do homem) e a filogênese (desenvolvimento da espécie). Lev Vygotsky, que nasceu na conturbada Rússia no mesmo período que Freinet e Piaget, trouxe-nos, juntamente com seus colaboradores de pesquisas, com crianças e adultos, sua contribuição que nos permitiu uma visão mais integrada e histórica do homem que até então estava dilacerada. Pesquisou intensamente os processos mentais inferiores (memória, percepção etc) e sua Dica de leitura VYGOTSKY. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991. VYGOTSKY. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991. Aula 1 | O processo de aprendizagem 25 transformação em processos mentais superiores. As pesquisas com animais puderam contribuir à medida que Vygotsky pôde perceber que as linhas de desenvolvimento do pensamento e da linguagem nos animais e nos homens eram distintas ao longo de suas vidas. No homem essa evolução que, até determinado momento era equivalente a dos animais, dava saltos qualitativos e quantitativos significativos. Com a mudança do paradigma reflexológico S-R, Vygotsky incrementou decisivamente as implicações da sua teoria, trazendo inúmeras contribuições à Psicologia e à Educação. O esquema proposto por Vygotsky era o seguinte: A inclusão de um mediador entre o sujeito e o objeto de construção do conhecimento possibilitou novas formas de se dar à relação ensino-aprendizagem. A função antes focada no professor ou nas capacidades intrínsecas do aluno é agora deslocada para um colega de sala. O professor instiga e fomenta o diálogo do aluno com o objeto de saber e com as relações internas que o sujeito desenvolve. Outro conceito que se deu, em conseqüência disso, foi o de Zona de Desenvolvimento Proximal. Vygotsky chamou de ZDP a distância que existia entre o desenvolvimento já apresentado e adquirido pelo sujeito e o aprendizado que poderia vir a ter com a ajuda de um colega, do professor ou de outros instrumentos, como o computador. S R X (mediador) Para pesquisar Procure fazer uma pesquisa sobre a vida e obra desses representantes da visão sócio Interacionista. Aula 1 | O processo de aprendizagem 26 O aprendizado em pequenos grupos é incentivado e a imitação se torna a base para novos aprendizados. REPRESENTANTES: Vygotsky, Bakthin, Valsiner, Cole, Bronckart. CRÍTICAS: Ainda não sabemos de todas as possibilidades que esta concepção pode terpara com o sujeito da Psicologia e da Educação. Sabe-se que um grande passo fora dado ao considerar o sujeito no seu todo e seu meio socialmente histórico na construção do conhecimento. Muito tem se pesquisado e descoberto, em decorrência do pouco que foi dito pelo próprio Vygotsky que vivera apenas 38 anos. Conclusão Vários críticos da educação como Goulart, Libâneo e Ferreira são contundentes em afirmar que necessitamos considerar os aspectos sociais e culturais do sujeito no tocante as questões da aprendizagem. Será essa unidade dinâmica sujeito-meio, historicamente determinado, que proporcionará uma visão menos fragmentada da escola, dos processos cognitivos e afetivos do aprender? Poderá também abrir os olhos e ouvidos de todos nós para um diálogo horizontal e mais justo sobre as relações de trabalho e aquisição do saber, do pensar e da intersubjetividade em todos os setores. Condenam-se aqui os radicalismos de quaisquer ordens no sentido de se considerar o sujeito que lhe é proposto. As concepções de sujeito, por sua vez, devem ser coerentes com as equivalentes formas de construção de conhecimento a que se propõem abraçar. Dica de leitura FOULIN, Jean-Nöel. & MOUCHOU, Serge. Psicologia da Educação. Porto Alegre: Artmed, 2000. Dica de leitura CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Gente, 2001. Aula 1 | O processo de aprendizagem 27 Abre-se para o próximo século um campo imenso de pesquisas sobre as relações de aprendizagem-ensino. Qual a importância do afeto na educação? Como lidar com os novos instrumentos de construção do conhecimento (computadores e jogos educativos)? Até que ponto a educação poderá mudar a realidade social? Para onde caminha a educação? Boa sorte nas suas reflexões. Que as aulas seguintes o auxiliem na busca de novas respostas sobre esse instigante assunto. EXERCÍCIO 2 Sobre a psicologia da educação e a questão do sujeito é correto afirmar que: ( A ) Devemos buscar um sujeito a-histórico e descontextualizado do seu tempo e de seu lugar; ( B ) Espera-se da psicologia que ela seja capaz de definir a priori o que é um sujeito real; ( C ) A psicologia da educação deve tratar o desenvolvimento do psiquismo infantil sem levar em conta as condições sociais; ( D ) Para se desenvolver um processo de aprendizagem basta entender a dinâmica psíquica do sujeito; ( E ) Pode-se construir uma visão que tenta explicar os processos de construção de conhecimento, tomando o indivíduo em sua relação com a sociedade. Aula 1 | O processo de aprendizagem 28 EXERCÍCIO 3 Podemos afirmar sobre a teoria psicogenética de Jean Piaget que: ( A ) Mostra como os indivíduos desenvolvem sua cognição, a evolução do conhecimento; ( B ) Piaget em momento nenhum considerou o fator social; ( C ) Não é importante a interação com as pessoas, mas sim o desenvolvimento das operações lógicas que os indivíduos constroem; ( D ) Não é relevante a verbalização do raciocínio que o sujeito expressa ao resolver um problema proposto; ( E ) Os indivíduos possuem desenvolvimento apenas social. EXERCÍCIO 4 Apresente as principais características e representantes das abordagens objetivista, subjetivista, cognitivista e sócio-histórica das Teorias da Aprendizagem ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ Aula 1 | O processo de aprendizagem 29 RESUMO Vimos até agora: A contribuição dos aspectos psicológicos foi fundamental para a compreensão do sujeito na educação, muito embora, existiram momentos de excesso dessa contribuição; Como educadores devemos nos preocupar não apenas com o processo de aquisição de conhecimentos do sujeito, mas com o potencial de que ele venha a ser realmente feliz; A relação sujeito e objeto foi marcada por diferentes olhares: objetivista (privilégio dos estímulos exteriores sobre o sujeito); subjetivista (ênfase na superação individual do sujeito); cognitivista (inter-relação do sujeito e do objeto, meio em segundo plano) e sócio-histórica (interação entre sujeito e meio socialmente construído); O olhar objetivista tem como principais representantes Skinner, Pavlov e Watson. Esse olhar é criticado por não considerar o sujeito como ativo no processo de aprendizado; O olhar subjetivista tem como principais representantes: Rogers, Rank e Rollo May. Nesse olhar o professor vira o catalisador dos processos de aprendizagem (facilitador); Sob a ótica cognitivista tanto o meio como a genética assumem uma grande responsabilidade na formação cognitiva do sujei. O maior expoente desse olhar é o suíço Jean Piaget; Aula 1 | O processo de aprendizagem 30 Os estágios do desenvolvimento cognitivo segundo Jean Piaget são: sensório-motor, pré-operatório, operações concretas, e por fim o das operações formais; O olhar sociointeracionista considera o meio social como promovedor do desenvolvimento afetivo e cognitivo do sujeito. O papel do educador nessa proposta é de ser o mediador do conhecimento. O principal nome dessa proposta é Lev Vygotsky. Aspectos Psicológicos da Aprendizagem Maria Cristina Fontes Urrutigaray A U L A 2 A p re s e n ta ç ã o Esta aula é dedicada ao estudo dos aspectos psicológicos do processo de aprendizagem com ênfase no papel da motivação, da linguagem e da socialização na aprendizagem. O processo de produção do conhecimento é analisado a partir de três tipos de pensamento: produtivo, significativo e contemplativo e de sua vinculação com a realidade empírica geradora da experiência. Por sua vez, a volição e sua relação com a aprendizagem é apresentada como uma das grandes preocupações do professor, sendo explicitada sua vinculação com a aprendizagem. Um destaque especial é concedido a linguagem uma vez que a partir de sua aquisição o pensamento pode estruturar-se e ir além da experiência imediata. O final da aula esclarece a contribuição de Piaget no sentido de mostrar o quanto a socialização favorece o desenvolvimento cognitivo e a formação moral do indivíduo. O b je ti v o s Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Identificar os principais tipos de pensamento que auxiliam o processo de construção de conhecimento; Analisar o papel estruturador da linguagem no tocante ao pensamento e sua compreensão; Esclarecer a importância da volição para o aprendizado, salientando seu papel para o aprendizado; Apresentar a construção do conhecimento como uma resultante do processo de uma prática discursiva favorecedor dos processos de significação e da construção dialógica. Aula 2 | Aspectos psicológicos da aprendizagem 32 Fatores psicológicos da aprendizagem: uma introdução Todo processo de aprendizagem formativo implica em um fator essencial chamado de "motivação". Este é o responsável pela condução, orientação e estruturação de nossa atenção, frente a algo "desconhecido". É desta maneira que tem início todo e qualquertipo de aprendizagem. A necessidade de busca e procura, para desvelar algo sentido como desconhecido, é o comportamento gerado pela motivação, como disposição instintiva e inata, e que conduz o indivíduo a aprender. Por este fato, Jerome Bruner considerou que o homem possui uma disposição (motivação) inata para o aprendizado, pois basta sua atenção focar "algo novo" e diferente para que ele se direcione ao desconhecido. De acordo com os conceitos desenvolvidos nos módulos anteriores, o objetivo deste novo módulo não é outro senão o de promover a atenção e reflexão acerca dos múltiplos aspectos inseridos no processo de aprendizagem. Além disso, pretende, obviamente, despertar no leitor o entendimento acerca das distintas teorias de aprendizagem, como modelos de aprender. O aspecto intelectual: o pensamento e a conduta O núcleo específico de todo aprendizado refere- se ao "conhecimento" adquirido como o resultado da busca pelo entendimento de "algo desconhecido". Logo verificamos que em todo conhecimento, de acordo com o que falamos anteriormente, está implicado numa Quer saber mais? Jerome Bruner nasceu em New York in 1915. Cognitivista, psicolingüista, professor da Universidade de Harvard, um dos fundadores da Psicologia Cognitiva. Acredita que a aprendizagem é um processo que ocorre internamente, mediado cognitivamente, e não um produto direto do ambiente, das pessoas ou de fatores externos àquele que aprende. Bruner pesquisou o trabalho de sala de aula e desenvolveu uma teoria da instrução, que sugere metas e meios para a ação do educador. Seu livro, "Uma Nova Teoria da Aprendizagem", em português, foi lançado em 1966. Saiba mais sobre Jerome Bruner em http://www.centrore feducacional.pro.br/ contrib.html Fatores psicológicos da aprendizagem: uma introdução 32 O aspecto intelectual: o pensamento e a conduta 32 A relação conhecimento e experiência 38 O aspecto configurativo e estruturativo 40 O aspecto social: a aprendizagem como vínculo social 46 Aula 2 | Aspectos psicológicos da aprendizagem 33 relação entre sujeito (S) e objeto (O), sendo que a "revelação" de algo (O) como uma "verdade" só se realiza devido à presença de um sujeito (S), que se define como sujeito cognoscente. Dentro deste enfoque, começamos a verificar que a aprendizagem entendida como aquisição de conhecimento ou cognição é um aspecto psicológico, entendido como pensamento, juízo ou raciocínio. O entendimento ou a "verdade" de algo refere- se à adequação feita sobre o que é o objeto (seus princípios e leis) com aquilo que ele expressa (sua categoria ou classe). O pensamento ou julgamento, por sua vez, decorre de uma tomada de consciência, posicionando-se frente ao princípio de realidade, tomando para si o objeto apreendido. O ato de conhecer, apreender um determinado fato ou acontecimento é chamado pela psicologia como "o ato de entender" (compreender - julgar - interpretar - inferir - etc.), isto é, "pensar". Nesse sentido, o pensamento é definido como a conduta resultante do ato de apreender as relações contidas nas propriedades que caracterizam o objeto. Pensar é dispor de normas e regras (propriedades), que facultam o entendimento ou a compreensão de algo, dispondo-o em categorias ou classes de acordo com sua classificação. Assim sendo, o aspecto intelectivo da aprendizagem supõe processos psíquicos como a abstração, a comparação e a diferenciação que viabilizam o livre jogo das idéias (o ato de pensar propriamente dito), conduzindo à solução de problemas de maneira antecipatória. No entanto, este "livre jogo de idéias" acontece de forma quase lúdica, isto é, sem a presença de pressões, que tencionam o fluir e prejudicam a Para pensar Elementos essenciais do conhecimento: um sujeito conhecedor e um objeto a ser conhecido que pode ser inclusive o próprio ser humano. Aprofundamento Atente a essa definição de conhecimento, fazendo uma análise crítica da mesma. Aula 2 | Aspectos psicológicos da aprendizagem 34 elaboração dos pensamentos. Este fato curioso é muito importante para aqueles que se destinam aos processos instrutivos. Numa situação de conflito ou de tensão psicológica, a sobrecarga de energia psíquica bloqueia ou por vezes paralisa a ação do pensamento. Faz-se necessário, nestes casos, a introdução de exercícios respiratórios, de relaxamento ou até mesmo jogos que baixem o nível de tensão, introduzindo no sujeito cognoscente a sensação de uma "pausa recreativa". Esta sensação atua como um agente refrescante e possibilita a emergência da intuição, como função necessária à resposta antecipatória. Contudo, o conhecimento, como entendimento, processa-se de três maneiras diferentes, as quais exercem uma influência significatória na aprendizagem formativa. O PENSAMENTO PRODUTIVO METÓDICO: A APREENSÃO DAS RELAÇÕES Chamamos de pensamento produtivo aquele tipo de julgamento que traz uma luz nova à consciência pela revelação de algo desconhecido até então. O pensamento é definido como reprodutivo quando traz para a consciência algo já conhecido. Faz-se necessário aclarar que este aspecto "novo" do pensamento produtivo não significa que "algo" já não tenha sido pensado por alguém, simplesmente refere-se ao fato de ser "novo" ou "criativo" para aquele que está desenvolvendo a condução ou construção de seus conhecimentos. Uma das maneiras para que a apreensão do conhecimento se processe decorre de procedimentos racionais discursivos, para os quais são utilizados métodos analíticos a fim de alcançar a solução de um Para navegar Procure sempre visitar sites como fonte de pesquisa. Sobre bibliografia na área de psicologia conheça: www.sobresites.com /psicologia/ bibliografia/aprendiz agem.htm Aula 2 | Aspectos psicológicos da aprendizagem 35 dado problema. Este tipo de pensamento, o metódico, estabelece uma íntima relação entre a proposição de uma tarefa e a direção do pensamento como meta para sua solução. As pessoas dotadas do tipo pensamento analítico são metódicas porque analisam etapa por etapa da atividade (ação), proposta a fim de encontrar o meio necessário para sua consecução. A atividade ou tarefa a executar funciona como esquema antecipatório. Se o sujeito compreende a tarefa a ser realizada, se ele se posiciona com uma postura interrogativa clara (por exemplo, do que se trata? O que está sendo pedido ou exigido? Etc.) se ele sabe precisar bem o que é desejado/esperado, maior será o grau de acerto. Assim sendo, cabe ao docente, quando elaborar uma atividade para o aluno ou quando desenvolver o tema de sua aula, que sempre o faça com o maior grau possível de clareza e precisão dos conceitos, relacionando-os com o nível de compreensão de seus alunos. Permitindo-lhes estabelecer relações entre os conteúdos disciplinares com situações de vida prática e com os conteúdos já assimilados. O PENSAMENTO SIGNIFICATIVO OU A PROCURA PELA COMPREENSÃO Compreender significa captar o sentido ou apreender uma rede de significações. Por exemplo, podemos compreender uma palavra devido ao contexto significativo da frase e da série de pensamentos. Isto significa que o aluno é capaz de apreender cada passo do processo mental (abstração) de cada conteúdo sempre quando o assunto ou o tema abordado for aceitável,for razoável, isto é, fizer sentido para ele. Como a busca pelo sentido passa pela variante dos significantes, temos que um mesmo objeto pode Para refletir Existiria alguma diferença entre compreender e entender? O que a apreensão tem a ver com essa discussão? Aula 2 | Aspectos psicológicos da aprendizagem 36 possuir múltiplos significados, dependendo do contexto que o significa. Por exemplo, quando utilizamos a palavra "operação", ela pode adquirir significados distintos dependendo dos significantes a ela atribuídos. Para um médico, será uma cirurgia; para um matemático, será uma efetuação de uma conta; para um operador de bolsa de valores, dirá respeito a uma aplicação feita, etc. Portanto, a utilização do pensamento significativo deverá ser explorada no processo ensino-aprendizagem muito próximo da vinculação conteúdo com a vida prática ou cotidiana, principalmente no caso da aprendizagem infantil. Já na adolescência e com o adulto, o aprendizado significativo viabiliza o aprofundar-se nas questões do mundo, bem como nas questões pessoais. Favorecendo um encontro com o sentido da própria existência e com os valores éticos necessários à sustentação da cultura e civilização humanas, onde são valorizados os "porquês" das ações e acontecimentos. O PENSAMENTO CONTEMPLATIVO: O APREENDER DE MANEIRA VIVENCIAL Vimos anteriormente que a aprendizagem se processa pelo ato de compreender, que implica a apreensão de um sentido, de uma significação ou pelo caminho do pensamento racional - discursivo. Agora veremos que o pensamento também se processa através de experiências vivenciais de entrega ou de um estado de "deixar que aconteçam os fatos", isto é, um estado de "não fazer" (como ação direta) "fazendo" (ação indireta ou contemplativa). Através de uma atitude oposta à vontade dirigida, o indivíduo se dispõe a escutar, a ouvir, a aceitar, a receber. Enquanto no tipo pensamento racional-discursivo, o entendimento origina-se de ações mentais de crítica, ponderação, análise e combinação Importante É vital entender que as experiências e vivências pessoais afetam a construção do conhecimento humano. Aula 2 | Aspectos psicológicos da aprendizagem 37 de elementos; o pensamento de tipo vivencial, ao contrário, trabalha mais o lado da fantasia, da imaginação. O pensamento vivencial caracteriza-se pelo desabrochar de sentimentos vinculados à imersão de um sujeito (S) num objeto ou numa situação que ele vivencie com profundidade. É o aprendizado de valores profundos que servem de ponte para a aquisição ou formação das convicções pessoais ou valores subjetivos. Este tipo de apreensão de conhecimento não se logra mediante a imposição ou força. Para o alcance deste tipo de pensamento, é necessária uma preparação ou um exercício contínuo de concentração interna (um tipo de tarefa difícil de ser trabalhada na escola). Vemos que, pela descrição do aspecto intelectivo do processo de aprendizagem, que a essência do conhecimento consiste, do ponto de vista psicológico, na apreensão do essencial da realidade objetiva. Isto é, baseia-se na compreensão daquilo que é indispensável e ao mesmo tempo suficiente para que alguma coisa seja. Toda e qualquer experiência só se converte em conhecimento quando tenha passado por um procedimento reflexivo (crítico-analítico-valorativo- compreensivo), combinado ou relacionado com outras experiências. Fato que nos leva a pensar nossas práticas docentes, pois se aprender implica vivenciar um fato (para o alcance do seu valor afetivo), em determinar seu sentido (para estabelecer relações com a rede de significações presentes na história pessoal e na cultura), bem como captar o essencial de um determinado objeto (pensamento discursivo-reflexivo), Para refletir Qual seria a importância do pensamento vivencial? Quer saber mais? No entanto, atualmente, temos aqui no Brasil algumas alternativas que facultam o exercício de concentração pelo aluno. Algumas propostas psicopedagógicas, como as desenvolvidas por Cristina Dias Allessandrine, Eloisa Fagali e Vera Maria Rossetti Ferretti, em São Paulo, vislumbram através da Arteterapia, o desenvolvimento do pensamento imaginativo, entendendo a arteterapia como uma técnica que viabiliza, através da produção plástica, a integração da forma com o seu conteúdo que ela manifesta. Aula 2 | Aspectos psicológicos da aprendizagem 38 de que maneira estamos quando ensinamos, levando em consideração como alguém aprende. Como o pensamento se desenvolve? O "saber" resultante da aquisição de um conhecimento, dentro da ênfase à aprendizagem formativa, torna-se um "autêntico saber", quando o sujeito do conhecimento atua ou participa ativamente na construção do mesmo, promovendo uma mudança no seu comportamento e nas suas atitudes. A relação conhecimento e experiência Todo e qualquer conhecimento advém de uma base empírica como o sentido original de uma atividade resultante da relação mundana. A experiência fornecerá uma consciência de que alguma coisa ocorreu, fato que se converte precisamente na experiência. As experiências humanas podem resultar de uma diversidade de categorias. Elas podem vir de fatos lúdicos, de experiências de acerto, de outras desastrosas ou de reflexões empírico-realistas. Sejam de que origem for, só percebemos aquelas que mantenham uma relação de dependência com a nossa consciência; isto é, com o sujeito a quem este conteúdo esteja referendando-se. Portanto, tais experiências cognoscitivas são altamente influenciadas e tornam- se dependentes, também, do estado anímico de quem as vivencia. A RELAÇÃO PENSAMENTO E LINGUAGEM Sabemos que a linguagem é o instrumento ou a ferramenta mais valiosa que o homem possui para lidar com a realidade objetal. É através da aquisição da linguagem que o pensamento humano pode estruturar- se em função de ter garantido a constância do objeto pela representação imagético-lingüística do mesmo. Dica da professora Esta é uma das contribuições cuja investigação na Psicologia pode contribuir para a Educação. Uma excelente referência nessa área é o livro de Maria Lúcia Seidl de Moura e Jane Correa denominado, Estudo Psicológico do Pensamento: de W. Wundt a uma ciência da cognição, da Editora UERJ, obra dedicada ao estudo da formação do pensamento e sua fundamentação histórica. :: Cognoscitivas: Aqui definimos, para você, mais uma palavra citada no texto. Segundo Ferreira (1999, p.49), cognoscitivo é: que tem a faculdade de conhecer. Dica da professora Você concorda que essas definições colocadas ao lado do texto facilitam na compreensão do mesmo? Pois é! Então vejamos mais uma palavra. Anímico quer dizer: pertencente ou relativo à alma; psíquico. (Ferreira, 1999, p.14). Aula 2 | Aspectos psicológicos da aprendizagem 39 O mundo objetivo também é resultado da aquisição da linguagem. Sem ela, o homem seria como o animal, somente tocado por impressões sensoriais, sem poder possuí-las. A grande aquisição trazida pela linguagem é a promoção de objetos fixos e (a constância do objeto) feita através da representação mental do seu significante. Assim, determina-se o vínculo entre pensamento e linguagem, de maneira que o pensamento pode se desenvolverrumo a metacognições somente quando pode servir-se da utilização de signos, que o tornem independente da percepção imediata ou da relação concreta com os objetos. A formulação de conceitos resulta da obtenção, por abstração, do essencial de algo. E esta representação mental é essencialmente lingüística. Com a aquisição da linguagem, o homem supera as distâncias ou separações de fatos, acontecimentos e até mesmo de objetos, tornando-os presentes. Pode, ademais, criar imagens para realidades puramente abstratas como a felicidade, a paz, a justiça etc. A linguagem auxilia a estruturação do pensamento, pois na medida em que se consegue relatar e tornar compreensível ao outro o que se pensa, isto significa que a situação transmitida reflete um pensamento claro e preciso acerca de algo. Quanto mais confusas forem as idéias transmitidas, mais elas refletem um pensamento confuso ou um conflito, ou estados ansiosos e conteúdos psíquicos imaturos etc., dependendo do contexto individual. Ter idéias claras é poder falar claramente sobre elas, bem como expressar o estado de desenvolvimento ou de conflito psicológico. :: Metacognição: Metacognição é uma atividade psicológica que proporciona a generalização de idéias para a construção ou elaboração de novas sínteses conceituais; não sendo excluído neste processo cognitivo a escala de valores. Dica de leitura Se esse assunto for relevante para você e seu trabalho Procure ler mais! Você conhece o livro? VYGOTSKY, L. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Esta obra foi responsável pela fundamentação teórica deste subcapítulo. Aula 2 | Aspectos psicológicos da aprendizagem 40 (...) o desenvolvimento do pensamento é determinado pela linguagem, isto é, pelos instrumentos lingüísticos do pensamento. (Vygotsky, 1998, p. 62) O aspecto configurativo e estruturativo Vimos que todo processo de aprendizagem inicia-se pela existência de uma carência de visão ou de entendimento acerca de algo que suscita um questionamento a fim de conhecê-lo. Portanto, uma situação inicial caracterizada como situação problemática - por promover um estado de desajuste, em relação a falta de clareza com respeito a um fato - promove sensações de dúvida, geradoras de hipóteses e conjunturas acerca do fato em si. Estes comportamentos, que direcionam a busca e a procura por esclarecimentos, são considerados elementos prefigurativos mentais, os quais direcionam a formação da representação mental ou a incorporação da figura completa na mente. Quando a "forma" ou a figura surgem por completo na mente, sensações como de adequação à realidade ou ajuste são percebidas, e o conflito como situação problemática anterior desaparece, ressurgindo a ordem ou a organização interna. À luz da Biologia, Maturana afirma que "a participação do sistema nervoso na determinação da conduta do organismo se estabelece através da geração de uma representação (ou abstração) interna do meio, que assume a operação de tal mecanismo" (Maturama, 1998: 54). Dito de outra maneira, a compreensão desta citação permite a revelação dos seguintes fatores: Em todo processo de conhecimento, existe uma realidade independente do observador, sendo externa a ele como organismo; HUMBERTO MATURANA Quer saber mais? Humberto Maturana é um neurobiólogo na Universidade do Chile, em Santiago, e trabalha com neurobiologia da cognição. Além de sua obra citada na bibliografia podemos indicar: MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: UFMG, 1998. Aula 2 | Aspectos psicológicos da aprendizagem 41 O observador é o agente ou "operador" que tem a capacidade de poder explicar esta realidade independente; Quando ele explica esta realidade, ele o faz somente a partir das relações estruturais às quais ela pertence. Portanto, a partir de prefigurações pertencentes à própria figura, alguém pode explicar "algo" ou falar sobre "algo"; Mas, é a partir da interação realizada entre observador-observado e da extração destas preconfigurações, que o observador se torna capaz de realizar a representação mental ou a abstração do observado, passando-o de realidade externa à realidade interna. Assim sendo, a aprendizagem, como aspecto configurativo e estruturativo, apóia-se necessariamente na "percepção". Por percepção podemos entender a "associação que o observador faz entre o objeto perturbante, caracterizado pela conduta do organismo que o configura de maneira independente dele". (Maturana, 1998: 58) Como fundamento à educação, a noção de percepção vinculada à noção de configuração do espaço traz a necessidade de se discutir a noção de "conjunto" (a figura como um todo) com a visão das "particularidades" (as figurações) nas propostas de realização das tarefas docentes. Para haver aprendizagem, buscam-se, nos traços estruturais de uma determinada atividade, aqueles que possam ser notados e claramente percebidos, isto é, os elementos invariantes presentes na configuração. Da mesma maneira que sejam notadas as contradições ou as colocações confusas dos termos com relação à proposta abjetivada. Dica da professora Por falar em PERCEPÇÃO, você já estudou sobre a psicologia da Gestalt? Procure pesquisar! Talvez seja interessante pra você! Importante Invariantes são categorias essenciais presentes em todo e qualquer objeto, sem os quais este objeto não poderia ser definido, identificado, classificado etc. (Bion, 1972). Aula 2 | Aspectos psicológicos da aprendizagem 42 Problematizando-se a questão: promove-se a necessidade do restabelecimento da desestruturação interna causada no observador, voltando do estado de desajuste ao ajustado. Portanto, o processo de configuração processa- se através de operações de tentar agrupar, separar os elementos a fim de encontrar a estrutura completa. Quando o professor convida seus alunos a organizar um texto de palavras/frases complexas em frases mais simples, ou fazer um desenho acerca do que foi comentado, ele os está "convidando" a realizar processos de "estruturação". O ASPECTO VOLITIVO: A APRENDIZAGEM COMO PRODUTO DA VONTADE O homem é um ser que age, move e direciona, fixando para si e por si mesmo objetivos e metas, para os quais se orienta decidido, mesmo quando existem oposições ou resistências para tal. Quando assinalamos a vontade ou a intencionalidade humana como aspectos da aprendizagem (como necessidade de busca pelo desvelar do desconhecido), deve-se fazer alusão aos quatro momentos presentes em todo ato volitivo como o agente, a intenção, o movimento e a solução, encontrados na direção dada por uma ação. Assim sendo, temos em todo ato volitivo o elemento que o "desperta", o move, isto é, o agente da ação, propriamente dita, constitui-se pelas necessidades, desejos, intenções e inclinações pessoais. Estas impulsionam o sujeito para o alcance de determinada solução. Entre estes agentes referidos, podemos detectar como sendo os de maior pregnância aqueles que se referem à satisfação das necessidades CONFIGURAÇÃO AGRUPAR SEPARAR ELEMENTOS ELABORAÇÃO DA ESTRUTURA COMPLETA Dica da professora Um dos grandes desafios da sala de aula tem sido a motivação. O que fazer paramotivar meu aluno para estudar esta ou aquela disciplina? Como dar aulas motivadoras? Que instrumentos pedagógicos podem ser mais motivadores em uma turma? Estas e outras questões relacionadas a motivação, palavra que significa “dar motivos”, ainda representam sérios desafios na escola. Aula 2 | Aspectos psicológicos da aprendizagem 43 tanto no sentido de manutenção e promoção da vida quanto aquelas ligadas ao desenvolvimento espiritual, criativo, artístico e religioso. O despertar deste "agente mobilizador" é o elemento fundamental para a prática docente. A atitude do aluno frente a uma questão formulada, que apele para uma situação sentida como necessidade para ele (como a associação de um conteúdo com a vida prática e cotidiana) faz "brotar" ou entrar em ação o fator desencadeante necessário ao aprendizado. Já com relação à "intenção", é importante compreender que este fator está internamente associado ao próprio conhecimento da realidade objetivada, anteriormente, pelo agente da ação ou fator excitante da ação proposta. Sendo esta última, no entanto, efeito da decisão do próprio aluno ou o resultado de uma atividade proposta pelo professor. Para a consecução deste momento, o indivíduo dispõe (ou deve dispor) de atitudes planejadas ou estratégias de ação resultantes de inquisições feitas acerca de como conseguir tais efeitos e/ou conhecimentos. A partir desta "elaboração cognitiva" de "como" posso alcançar o objetivo proposto, surge o terceiro momento do ato volitivo: o movimento ou vontade de solucionar a questão. Infelizmente, nem sempre se consegue verificar ou perceber este movimento ou ação. Isto geralmente só ocorre quando o indivíduo necessita de um esforço para vencer resistências ou inibições, ou quando a estratégia utilizada para dar fim "à questão mobilizadora" não foi eficiente. Pois é um ato tão automático que, somente, nestas situações referidas podemos nos dar conta. Psicologicamente, quando o aluno percebe o "erro" praticado, deve ser estimulado pelo professor a Dica da professora E você? Como tem tratado seu aluno diante do erro? Tem explorado seu potencial ou apenas corrigido o aluno? Aula 2 | Aspectos psicológicos da aprendizagem 44 buscar outras idéias (ou planos de ação), a fim de solucionar suas questões. A atividade docente, neste momento, deve dirigir-se para que o discente perceba a relação necessária entre suas estratégias pensadas e o objeto em questão e que o mesmo saiba aceitar aquelas que são úteis à atividade e eliminar as inúteis à consecução da tarefa esperada. O quarto momento da aprendizagem como volição refere-se à obtenção da solução e a reação a esta situação, que é a própria incorporação ou assimilação do conhecimento almejado, induzido pela excitação inicial. Portanto, podemos considerar a aprendizagem como processo volitivo, como sendo uma característica ou produto da vontade dirigida. Assim sendo, a realização pessoal configura-se como um estado criado a partir da instituição de um valor, pelo qual o indivíduo se apresenta como sujeito de suas ações, assumindo suas responsabilidades e seus critérios eletivos. Fatores estes tão necessários à aquisição da chamada autonomia e o exercício da liberdade pessoal. O impulso para a realização ou a vontade de realização como experiência arquetípica implica a capacidade de rendimento, a "idéia" (ou arquétipo) de realização, bem como o conhecimento necessário para tal realização. Fato que nos remete à experiência do autoconhecimento e da auto-regulação como elementos necessários a tal alcance. Poder desenvolver a capacidade de rendimento supõe potencializar ou atualizar o conjunto de possibilidades e capacidades que se colocam em ação, mediante aspectos individuais ou com certas combinações, dependendo da demanda solicitada em cada caso, de acordo com a postura diante da qual o sujeito se encontre. :: Arquétipos: Arquétipos: são temas típicos e universais dos seres humanos, presentes nos comportamentos. Sendo uma das manifestações da energia psíquica que tanto condiciona quanto estrutura padrões de comportamento no homem. Termo utilizado na Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung (psiquiatra suíço - 1875 - 1961). Aula 2 | Aspectos psicológicos da aprendizagem 45 Orientar e direcionar uma ação pela vontade é o resultado ou a solução de uma situação excitada por uma motivação prévia. Portanto, o conceito de "rendimento" (inclusive o escolar) supõe a difícil tarefa conciliatória, por parte do indivíduo, de reunir suas forças e energias, num sentido corporal e anímico, com a capacidade de suas aplicações e limites, a fim de elaborar as vias de solução; tendo em consideração a antecipação dos possíveis efeitos de sua ação, unidos ao desejo de realização de sua meta e o alcance dos valores intrínsecos a ela. Psicologicamente falando, a vivência do rendimento dada pela aprendizagem volitiva é o resultado de uma elaboração aperceptiva feita pelo ego e para um ego. Sendo assim, o aspecto vivencial do "rendimento" vincula-se ao processo de execução de uma ação dirigida para o alcance de determinada meta. Esta experiência vivencial decorre da união de três fatores intrínsecos a esta ação (o impulso, a capacidade e o conhecimento do rendimento). Quando ocorre a perda de um destes fatores, a experiência de realização pessoal, vivenciada como "sentido pessoal", ou um "mito do significado" para alguém, pode alcançar uma outra dimensão. Como, por exemplo, a experiência do alcance da meta isenta de seu valor constituinte. Fato que acarreta a ausência de uma vivência afetiva aliada à realização. Da mesma forma, esta experiência quando dirigida unicamente pelo impulso ou arquétipo de realização pode provocar manifestações impulsivas e compulsivas sem nenhuma objetivação e direção desta força. Isentando o determinante de uma ação coordenada para a realização de um ego, com uma ausência ou inconsciência dos seus próprios desejos. Quer saber mais? Mito do Significado: é uma interpretação pessoal de acordo com as circunstâncias e que podem converter-se em convicções ou crenças. Seu aspecto mítico refere-se à questão de que nenhuma significação atinge termos absolutos, a menos que se converta num dogma. Aula 2 | Aspectos psicológicos da aprendizagem 46 O aspecto social: a aprendizagem como vínculo social Para Jean Piaget, a razão, nos seus aspectos lógico e moral, é um produto da sociedade. Segundo o autor, a vida social favorece e proporciona elementos necessários ao indivíduo para sua formação moral. De um egocentrismo primário, a criança experimenta, através da relação social com os adultos, o controle lógico e moral de seu pensamento e sentimento. As atitudes de respeito aos pais e as conseqüentes coações, quando aquelas falham, conduzem à atividade cognoscitiva da criança rumo à formação de conceitos de "verdades", aos quais a criança se adapta. Tendo, nestas circunstâncias primárias, maior consideração a opinião dos demais que a sua própria neste processo adaptativo. Assim sendo, não é suficiente, para a formação da consciência moral, que o conteúdo de uma afirmação seja uma verdade por si mesma. Faz-se necessário, para uma adaptação aceitável, que esta verdade esteja vinculada também à palavra dos adultos. Para conseguir sua autonomia, a
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