Prévia do material em texto
LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL aluno. ² RU ORIENTADOR, Professor.³ RESUMO O presente artigo tem como objetivo dissertar sobre a questão da ludicidade como instrumento pedagógico voltado à aprendizagem na Educação Infantil. Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo apoiada na técnica de Pesquisa Bibliográfica, para a qual foram acessadas obras pertinentes ao tema, sendo livros e dissertações de Mestrado. O texto é fundamentado nos princípios do lúdico, presente em brincadeiras e jogos, do processo de ensino-aprendizagem e das interações possíveis da criança com os sujeitos presentes nesse processo na Educação Infantil. O desenvolvimento deste trabalho conduz a reflexões e sugere problematizações sobre a aplicação, de modo sistemático e integrado nos planejamentos escolares, do lúdico em sala de aula. Hoje com a internet, novas possibilidades se abrem aos professores para pesquisarem e identificarem as melhores formas de se trabalhar com o brincar no ambiente escolar e fora dele. Como trabalhos manuais, envolvendo reciclagem (sucata), são exemplos atuais e acessíveis que podem tanto ser feitos em aula como ser propostos como construção coletiva entre crianças e seus familiares. Palavras-chave: educação. Ludicidade. Pedagogia. Brincadeira. 1 INTRODUÇÃO Brincar, aprender, ser. Toda a criança tem o direito a ser criança. Toda brincadeira pode resultar em aprendizado. E tudo isso está voltado ao ser: ao que a criança se transforma a partir dos estímulos e vivências durante seu desenvolvimento.Esta constatação é possível perceber atuando no meio educacional. Em escolas que lidam com crianças de 0 a 6 anos existe um mundo de possibilidades de se trabalhar criativa e ludicamente. Com esse problema de pesquisa foi dado o início do presente trabalho. Alguns objetivos se percebem de imediato: ____________________________ 2. Josiane Rodrigues Figueiro, Aluno do Centro Universitário Internacional UNINTER. Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso, 2017. 3. Professor Orientador no Centro Universitário Internacional UNINTER. investigar a relação do lúdico com o estímulo à aprendizagem é o primeiro deles. Associado a este objetivo há outros, como: de que maneira a cognição é potencializada por atividades oriundas de jogos e brincadeiras. Como se percebe o papel da escola e da família no desenvolvimento da ludicidade integrada ao aprendizado infantil. Para tanto, buscou-se executar uma Pesquisa Qualitativa, recorrendo-se à técnica de Pesquisa Bibliográfica. Nesse processo foram identificadas importantes contribuições ao entendimento do tema. Muito do que consta nas obras consultadas é possível ser visualizado no dia a dia da sala de aula. Mesmo as crianças menores também aprendem a cada estímulo originado por atos lúdicos. No decorrer do tempo, as crianças, quando maiores, se igualmente mobilizadas por jogos e brincadeiras, podem criar uma imagem positiva do ambiente escolar, gerando vínculos de afeto e resultando em interesse maior pelos estudos. Por isso, o presente artigo tem sua validade e seu uso potencial junto à rede de ensino. Quanto mais houver escolas e professores, assim como familiares, envolvidos, de maneira consciente e técnica, na produção de atividades lúdicas para o desenvolvimento do ensino-aprendizagem, mais chances a sociedade vai ter de jovens interessados não apenas nos estudos, mas nas descobertas que a curiosidade pode mover para a própria vida. Desta forma, o texto apresenta a seguinte estrutura: inicialmente aborda o lúdico, a ludicidade, e a relação com o aprendizado infantil. Na sequência, fundamenta-se teoricamente o estudo, a partir dos autores selecionados pela Pesquisa Bibliográfica. Primeiramente se discorre sobre o lúdico e o desenvolvimento da personalidade, da linguagem e das interações humanas, a partir de estímulos gerados por jogos e brincadeiras. O artigo em questão é oriundo de pesquisa de cunho qualitativo e de denominação bibliográfica. 2 ATIVIDADE LÚDICA INFLUENCIA TODA A CONSTRUÇÃO DA PERSONALIDADE Segundo Feijó (1992), o lúdico é como uma necessidade básica da personalidade. Envolve corpo e mente e integra as atividades essenciais da dinâmica humana. Portanto, de acordo com este entendimento, é importante que o professor descubra, desenvolva e potencialize a dimensão lúdica que existe em si, visando aperfeiçoar a sua prática pedagógica. Queiroz e Martins (2002) discorrem sobre a existência de aspectos físicos e mentais envolvidos em toda a proposta criativa e recreativa desenvolvida espontaneamente. Eles destacam que, nessas circunstâncias, nota-se que, embora a evolução seja definida, o final nem sempre é previsto. Os autores afirmam, todavia, que o jogo sempre precisará gerar um resultado. A maneira como a criança vivencia, percebe e apreende através do jogo, do ato de brincar, conduz à formação do pensamento infantil. É o que considera Vygotsky (1984), quando afirma que é brincando, jogando, que a criança revela seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor. Segundo ele, a forma de a criança aprender e realizar relações cognitivas das mais variadas (com situações, pessoas, objetos e símbolos), também está associado ao ato de brincar. Ao se observar o objetivo das crianças diante dos brinquedos, nota-se que elas expressam um caráter seletivo, ou seja, manifestam suas preferências. Por exemplo, um bebê ou uma criança de 2 anos ou 3 anos de idade explora todo e qualquer objeto a partir do exercício primário dos sentidos. Primeiramente levando-o à boca. Depois pode querer produzir sons e sentir seu aspecto tátil. Na sequência, ainda, pode tentar encaixar, formar associações com outros objetos, dentre outras possibilidades de ações, conforme seu interesse se mantém. Recomenda-se que, nessa fase, o adulto incentive essa exploração, para desenvolver a percepção de texturas, formas, cores e tamanhos. Nessa perspectiva, a brincadeira infantil, ao longo da infância, vai possibilitando à criança o conhecimento e o reconhecimento das coisas, das ações e reações, e sua capacidade de imitação de diferentes papéis apreendidos por meio do brincar. Igualmente a criança que brinca aprende a expressar melhor seus sentimentos e estabelecer com mais fluência relações com as pessoas de seu meio. 2.1 BRINCAR, EDUCAR E APRENDER A criança é um ser feito para brincar. Em todas as fases da vida humana, sempre há algo a descobrir e aprender, e o meio em muito contribui a isso, bem como as atividades lúdica a que uma criança é exposta desde seu nascimento. Desta maneira, desde que nasce a criança busca a interação, para aprender, descobrir novos conhecimentos. Nesse sentido, o brincar é fundamental na vida da criança. Nessa perspectiva, há algum tempo, observa-se no contexto pedagógico a inclusão das brincadeiras na aprendizagem infantil. O comportamento social da criança gira ao redor das suas brincadeiras e é o momento do educador examinar detalhadamente o que significa o seu brincar, o que ela diz a seu respeito e de seu mundo, bem como o mundo dos adultos. A criança é capaz de construir e de ler a sua realidade, é a protagonista da sua própria história, é capaz de interagir com as pessoas com quem tem referência e com outras crianças, assim como influenciar ambos significativamente. 2.2 LUDICIDADE Segundo Feijó (1992), o lúdico é como uma necessidade básica da personalidade. Envolve corpo e mente e integra as atividades essenciais da dinâmica humana. Portanto, de acordo com este entendimento, é importante que o professor descubra, desenvolva e potencialize a dimensão lúdica que existe em si, visando aperfeiçoar a sua prática pedagógica. A importância de mencionar atividades primordiais do ser humano, antes mesmo do desenvolvimento da linguagem verbal, em que o ato de brincar é significativo: Brincar é uma atividade fundamental para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. Desde muito cedo as crianças se comunicam por gestos, sons e mais tarde a imaginação. Podemos dizer quebrincar é uma atividade natural, espontânea e necessária para sua formação (KISHIMOTO, 1993, p. 45). Discorrem sobre a existência de aspectos físicos e mentais envolvidos em toda a proposta criativa e recreativa desenvolvida espontaneamente. Eles destacam que, nessas circunstâncias, nota-se que, embora a evolução seja definida, o final nem sempre é previsto. Os autores afirmam, todavia, que o jogo sempre precisará gerar um resultado. Quando sujeito a regras, estas são simples e flexíveis e o seu maior objetivo é a prática da atividade em si. Jogar é uma forma de comportamento organizado, nem sempre espontâneo, com regras que determinam duração intensidade e final da atividade. É importante lembrar que o jogo tem sempre como resultado a vitória, o empate ou a derrota (QUEIROZ apud MARTINS, 2002, p.7). A maneira como a criança vivencia, percebe e apreende através do jogo, do ato de brincar, conduz à formação do pensamento infantil. É o que considera Vygotsky (1984), quando afirma que é brincando, jogando, que a criança revela seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor. Segundo ele, a forma de a criança aprender e realizar relações cognitivas das mais variadas (com situações, pessoas, objetos e símbolos), também está associado ao ato de brincar. Recomenda-se que, nessa fase, o adulto incentive essa exploração, para desenvolver a percepção de texturas, formas, cores e tamanhos. Nessa perspectiva, a brincadeira infantil, ao longo da infância, vai possibilitando à criança o conhecimento e o reconhecimento das coisas, das ações e reações, e sua capacidade de imitação de diferentes papéis apreendidos por meio do brincar. Igualmente a criança que brinca aprende a expressar melhor seus sentimentos e estabelecer com mais fluência relações com as pessoas de seu meio. O jogo, para Rodrigues (2013), além de ser de grande valia na vida da criança, é o que impulsiona sua criatividade. A aprendizagem lúdica como instrumento pedagógico pode ser articulada para propiciar as condições necessárias ao desenvolvimento “de recursos e capacidades efetivas, emocionais, sociais e cognitivas das crianças aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos diferentes campos de conhecimento” (RODRIGUES, 2013, p. 41). 2.3 BRINCADEIRA COMO MODELO PARA A VIDA Nos jogos, no faz de conta, a imitação também aparece como um elemento importante para a criança experimentar atitudes, como se fossem realizadas de forma verdadeira. Estudos de Vygotsky (1995) tratam da existência de uma “zona de desenvolvimento proximal”, envolvida no ato lúdico. O conceito formulado pelo autor está ligado ao que uma criança é capaz de fazer como o auxílio de pessoas mais experientes, a partir desse tipo de estímulo. O jogo é citado como um elemento que atua na zona de desenvolvimento proximal, sendo o professor o mediador no processo de construção do conhecimento por parte da criança, bem como de seu desenvolvimento. Dentre as estratégias que colaboram para tal estão às regras inerentes a todo o jogo, sobretudo considerando-se sua aplicabilidade no processo de ensino-aprendizagem. Todo o jogo se inicia com regras, mesmo que estas possam ser repensadas e modificadas conforme a necessidade. Tal negociação visa o estabelecimento de elementos de união, e não de segregação, entre os participantes. Já nas brincadeiras, o elemento que aparece inicialmente é a imaginação, entendido como ação livre, individual e espontânea. Também se observa que a criança expressa, no ato de brincar, representações de seu cotidiano, podendo revelar relações sociais, vivência troca de papéis, situações afetivas e até mesmo episódios de agressividade. A associação entre o real e o imaginado (realidade e simulação) pode ser detectada e trabalhada, portanto, pelo professor. Nota-se, porém, que para tanto a criança precisa ter liberdade para utilizar sua imaginação simbólica, sem ser restringidas no ato criativo. É o que Lima (1993) relata quando defende a necessidade de as crianças brincarem e, enquanto brincam poderem expressar suas fantasias, desejos e experiências. Esse procedimento estaria ligado, conforme o autor, à experimentação de emoções relacionadas às suas realidades interiores. Ainda destaca que as crianças brincam porque gostam de brincar, sendo a brincadeira o melhor instrumento para a satisfação das necessidades oriundas do convívio cotidiano com a realidade. Para Vygotsky (1995), brincadeira é considerada como um espaço de aprendizagem. No ato de brincar, a criança transcende o comportamento cotidiano habitual de sua idade, onde ela age como se fosse maior do que é, representando simbolicamente o que mais tarde realizará. Essa aprendizagem de que fala o autor é nítida desde o nascimento do ser humano. Para ele, o impulso lúdico aparece já nos primeiros meses da vida, na forma do chamado jogo sensório-motor. Da Silva (2006) acrescenta que nesta fase as brincadeiras não são apenas exercícios físicos por meio dos sentidos. Conforme a autora, uma porção de informações acaba enviada e registrada no cérebro da criança, dentro do processo de cognição. Também de acordo com a autora, “por mais simples que sejam as brincadeiras, correspondem a importantes estímulos ao desenvolvimento intelectual da criança, pois o número de registros em seu cérebro é proporcional ao número de informações que recebe” (SILVA, 2006, p. 32). Do segundo ao sexto ano de vida esse impulso lúdico se evidencia sob a forma de jogo simbólico. Nessa fase simbólica, acrescenta Silva (2006, p. 32), a criança imita e vê em seguida no que sua ação resultou. “Experimenta, manipula objetos e dá forma a seu mundo conforme suas impressões, ao mesmo tempo em que registra ocorrências na memória e as recria”. Para a autora, nessa etapa, criança aprecia e necessita ouvir e contar histórias (construção de narrativas ficcionais), como também de brincar de adivinhações, esconde-esconde, dentre outras atividades. Kiskimoto (2000, p. 32) cita Piaget ao frisar o valor da conduta lúdica para o desenvolvimento da criança. Brincando, segundo o autor, “criança demonstra o nível de seus estágios cognitivos e constrói conhecimentos”. Brincadeiras, jogos e atividades interativas, propostas em sala de aula, nos primeiros anos da Educação Infantil, é algo que vem favorecendo o percurso da criança na escola. Através do lúdico, a criança desenvolve sua capacidade de imaginação, abstração e de aplicar ações relacionadas ao mundo real e ao fantástico. Para Velasco (1996), o brinquedo estimula o desenvolvimento de habilidades de forma espontânea, sem compromisso e obrigatoriedade. Quando usada de modo adequado na Educação Infantil, produz significado pedagógico, estimula o conhecimento, a aprendizagem e o desenvolvimento. Essa linha de pensamento é compartilhada por Redin (2000), que considera o lúdico a mediação universal para o desenvolvimento e a construção de todas as habilidades humanas. De todos os elementos do brincar, o autor entende que o mais importante é o que a criança faz e com quem determina a importância ou não do brincar. Entretanto, é preciso estabelecer condições para que o ato de brincar seja realmente proveitoso no ambiente escolar. Coloca essa questão: É importante entender do que se fala quando se fala em brincar e perceber a relevância de um tempo no cotidiano das crianças destinado a um brincar de qualidade, em um espaço adequado, com materiais interessantes para as crianças e que estimulem a criatividade. A mediação de um adulto, de outras crianças, ou dos próprios objetos que se encontram a disposição da criança faz a diferença nas brincadeiras (NAVARRO, 2009. p. 2124-2125). Outro ponto destacado por Navarro (2009, p.2125) é o fato de o brincar ser algo social. “A criança não brinca sozinha, ela tem um brinquedo, um ambiente, uma história, um colega, um professor que media essa relação e que faz do brincar algo criativo e estimulante (...)”. Com isso, ela quer dizer que é importante exercer o brincar mediado pelo contexto da escola, para que sejade qualidade e de fato estimule aprendizagens à criança. Ainda sobre a questão da coletividade presente na escola, e da necessidade de ambientação e divisão temporal adequada, Rodrigues (2013) destaca: Para que a organização do trabalho pedagógico desempenhe bem os objetivos da escola (já mencionados acima), precisamos nos atentar para alguns procedimentos relevantes no processo de ensino aprendizagem. Citaremos alguns que achamos pertinentes: a organização das crianças nas turmas e a arrumação das carteiras e dos materiais em sala de aula; o planejamento do tempo para brincadeiras e jogos; a programação de atividades propostas para serem realizadas; trabalhos coletivos; participação ativa de todos nesse processo, decidindo normas, limites, horários, distribuição de tarefas. Enfim, toda a organização do trabalho pedagógico, em sala de aula, deve ter a participação de todos os alunos, viabilizando, assim, o desenvolvimento de responsabilidade pelas decisões tomadas e de sentimento de pertencimento ao grupo (RODRIGUES, 2013, p. 35). Da mesma forma, Rodrigues (2013, p. 35-36) comenta que é necessário que o professor trabalhe com o que o aluno traz de realidade e desejo. Que ele “(...) reflita e descubra o que os seus alunos já sabem, suas histórias, seus processos, e também sobre o que desejamos que aprendam, para uma melhor organização do trabalho pedagógico”. Segundo a autora, é essencial que o universo de conhecimentos das crianças seja o ponto de partida para as ações lúdicas na prática pedagógica. 2.4 EDUCAÇÃO INFANTIL E O BRINCAR COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO Em um ambiente como o educacional, a brincadeira vai desde a prática livre, espontânea, até as atividades dirigidas, norteadas por regras estabelecidas e que indicam determinadas finalidades ou resultados. O uso de jogos pode contribuir à capacidade de raciocínio lógico, bem como para o desenvolvimento físico, motor, social e cognitivo. Na Educação Infantil esse movimento estimula a capacidade de criação, abstração, fantasia, cognição. Também tem relação com os aspectos emocionais e sociais na criança. Segundo Carneiro e Dodge (2007, p. 59), sobretudo para as crianças pequenas, trata-se de “(...) uma forma de expressão e mostra a relação existente entre ação, pensamento e linguagem”. A criança passa a ter mais chances de lidar adequadamente com situações novas e inesperadas, despertando sua autonomia para a resolução de conflitos e, consequentemente, conseguindo enxergar e entender o mundo fora do seu cotidiano. O direito de brincar apresenta-se como um dos direitos da cidadania, da mesma forma que o direito a cultura, a arte, ao esporte e ao lazer, mas infelizmente observa-se que muitas crianças são privadas de sua própria infância, assim, ceifadas dos seus direitos. A maneira como o mundo se apresenta, vem desapropriando as crianças do que elas mais gostam, isto é, do brincar. Isso porque o mundo moderno se apresenta com aspectos mais centrados nas ideias de produção no trabalho, e sem se dar conta o adulto muitas vezes acaba minimizando o direito que a criança tem de desenvolver suas potencialidades através da ludicidade. Que as atividades lúdicas são subtraídas do cotidiano infantil, cada vez mais precocemente e que o período referente a infância já não é mais um espaço predominante lúdico, o adulto busca preparar a criança para o futuro, preenchendo todo seu tempo com atividades, afazeres e compromissos, obrigando-a a renunciar o momento presente. O tempo e o espaço pra o lúdico se tornarem cada vez mais restritos na vida infantil, pois o momento destinado para a brincadeira acaba se diluindo diante da hora da tarefa, hora da escola, hora do inglês, hora da computação, etc. (Marcelino, 2000, p.37). O movimento de desapropriação do lúdico no período da infância se apresenta hoje em todas as camadas sociais, obviamente, também naquelas menos favorecidas economicamente, conforme corrobora a citação abaixo. Nas camadas de menor poder aquisitivo um número considerável de crianças tem desde cedo, obrigações familiares e até mesmo profissionais devidos às necessidades da família, complementando, ou mesmo mantendo o orçamento doméstico [...] em outras camadas há também inúmeros casos de crianças que, apesar de não serem premiadas pelas necessidades econômicas, têm desde muito cedo, uma série de obrigações, fruto de “investimentos” feitos pelos pais para que no futuro, sejam os adultos requeridos pelo padrão de sua classe social (Angotti, 2006, p.37). Assim sendo, não importa a classe social em que a criança se encontra, não existe criança que não sinta necessidade de brincar e assim desenvolver-se, essa questão é antropológica, ou seja, a criança precisa viver a interação para progredir e desenvolver-se integralmente. Aindade acordo com Carneiro e Dodge (2007, p.91), para maior possibilidade de êxito em aplicar o lúdico no processo educacional, é preciso criar uma parceria entre escola, família e criança, no sentido de que todos compreendam os benefícios do ato de brincar na Educação Infantil. Dentre os benefícios estão: brincar deixa as crianças mais alegres, possibilita o desenvolvimento de habilidades físicas, motoras, cognitivas, etc. Quando as crianças têm essa estimulação na escola e também no ambiente familiar, há um aumento no potencial disso acontecer. Monti (1998, p. 57) destaca a necessidade de o profissional da área fazer atividades que envolvam objetos e o próprio corpo da criança, como atividades motoras, que contribuiriam para a realização também de atividades gráficas. À medida que as atividades lúdicas da criança se diversificam, ela amplia sua forma de expressão e comunicação: passa a usar a linguagem não apenas para identificar objetos e atividades, como também para empreender diversas transformações tipo faz-de-conta. Com o uso da fantasia, a criança vivencia muitas situações que ela própria cria, e acaba por aprender a resolver problemas. Portanto, com o até agora abordado no texto, é possível reconhecer que o brincar não é só um facilitador, mas um instrumento essencial para um bom desenvolvimento motor, social, emocional e cognitivo da criança. O preparo para a alfabetização depende de processos neurológicos e de uma evolução adequada de habilidades, como percepção, esquema corporal, lateralidade, dentre outros. Tais estímulos são gerados pela pré-escola, os quais podem ser mais aprimorados por meio de recursos lúdicos. A aprendizagem de maneira prazerosa é o que diz a citação. Na fase de alfabetização, aprender pode ser uma maravilhosa aventura, onde a criança se lança num mundo mágico desempenhando atividades com seriedade e motivação. O professor precisa se preocupar com a preservação dessas atitudes, estimulando o aluno à curiosidade, pois esta é a melhor forma de promover a aprendizagem (RODRIGUES, 2013, p. 20). Schwartz (2004, p. 3) apresenta uma questão relacionada ao prazer ou não associado a brincar e estudar. Cita a poeta Cecília Meirelles (1997), em seu poema, ou isto ou aquilo, em que aponta o dilema: “Não sei se brinco, não sei se estudo... não sei o que é melhor...”. Essa problemática poderia ter uma resposta não determinista, mas sim flexível, embora coerente com as regras necessárias ao momento do estudo. Ou seja, que não se dissocie a possibilidade lúdica dentro do processo de ensino-aprendizagem. Essa dicotomia, essa polarização entre “brincar” e “estudar”, como se questionou a poeta, tem resultado, muitas vezes, em uma caracterização negativa do ato de estudar. Como se estudar fosse o oposto a brincar: seria um momento chato, monótono, obrigatório, cansativo. A citação comenta que a ludicidade na educação confere a esse campo um sentido muito positivo, quando devidamente aplicada. (...) Tem como pressupostos a valorização da criatividade, a afetividade, a sensibilidade, a nutrição da alma, sendo dinamizadora no processo de ensino-aprendizagem. Ela permite um trabalho pedagógico com o objetivo de construir conhecimento. É um dos caminhos que estimula o desenvolvimentodo pensamento, da afetividade, da sociabilidade e da motricidade. Através de jogos e brincadeiras as crianças despertam o interesse para aprender de forma prazerosa e alegre, estimulando a criatividade, a curiosidade e ressignificando o mundo ao seu redor (RODRIGUES, 2013, p. 46). Se, a partir da escola, a criança e a família forem estimuladas a pensar e vivenciar a educação dentro de estímulos lúdicos, sempre que possível aos poucos essa divisão iria se amenizar. Contudo, é preciso que o lúdico seja percebido em sua capacidade transformadora, educativa. Ele ajuda a se lidar com segurança/insegurança, medo/coragem, perdas/ganhos, prazer/desprazer, o sério/cômico, objetividade/subjetividade. Ou seja, de maneira lúdica é possível ensinar e aprender sobre a vida, entendida como um complexo jogo em que, como em todos os demais, há objetivos, regras e papéis. Toda a ação no sentido de qualificar a relação aluno-professor e, portanto, viabilizar a capacidade transformadora a partir da educação precisa estar calcado em vínculos afetivos verdadeiros. É fundamental que o professor seja um profissional comprometido com a educação, importando-se com os seus alunos, contemplando suas dificuldades, seus avanços, preocupando-se com os rumos que suas vidas estão tomando. Sobretudo, com o ambiente que está inserido todo esse processo de ensino-aprendizagem, para que se construa um relacionamento pautado na amizade, na confiança, na aquisição de novos saberes, em mudanças geradas em si mesmo e no outro para ser cada vez melhor (RODRIGUES, 2013, p. 29). Embora com diferentes ênfases, as teorias do jogo e da brincadeira, das clássicas até as mais recentes, indicam a importância do lúdico como meio privilegiado de expressão e de aprendizagem infantil, como mencionado anteriormente. Rodulfo (1990) apudSchwartz (2004 p. 4) defende que inexista algo significativo na estruturação e no desenvolvimento de uma criança que não passe pelo brincar. Schwartz (2004), todavia, faz um alerta: os professores devem evitar ver no jogo apenas um meio para se alcançar outros objetivos, fora e além dele. A autora diz que essa possibilidade existe, mas que precisa ser ultrapassado, sob o risco de limitar a criança demasiadamente, sem espaço para ela revelar sua autonomia, suas emoções, suas formas de lidar com os desafios. “É indispensável um ambiente de exploração, de criação, de descompromisso, de antidever, de liberdade, em que a criança não venha a ouvir: ‘Não é assim que se brinca’”. (SHWARTZ, 2004, p. 6). Se a brincadeira for corretamente encaminhada, há vários benefícios sendo agregados ao ato. Brincando com a fantasia, a criança abstrai e viaja no tempo. Pode ir ao passado, experimentar sua visão ou seu desejo sobre o presente e ainda projetar o futuro. Com isso, transita entre o mundo inconsciente e a realidade, complementando-os. Para brincar com o corpo, os educadores podem criar vivenciar e propor atividades que envolvam movimentos representados pelos sentidos (ver, ouvir, tocar, cheirar, degustar). Tudo isso, feito de maneira agradável e inserida em um contexto, pode resultar no entendimento positivo do que é o ambiente escolar, por parte da criança. Família e escola são espaços de aprendizagem à criança para socializar-se, brincando através da adoção de regras. Estímulos, motivação, tentativa e erro, convite à interação, gratificação, tudo isso entra em cena nos projetos que incluem o lúdico ao processo de ensinar e aprender. Fornecendo matriz e estímulo não apenas para um aprendizado pontual (como se trabalhar com formas ou números), mas para um aprendizado à vida (como ensinar, na prática, o respeito ao meio ambiente e a reciclagem como possibilidade de criação e transformação). Contudo é fundamental que toda a ação docente/escolar seja pautada de maneira consciente e capacitada. Isso inclui posturas e atitudes motivadoras. Outro aspecto a se considerar é o papel do professor nessa direção. Mesmo que haja iniciativa por parte de gestores e pedagogos, ainda assim é de suma importância que o professor desenvolva sua autonomia e dialogue com a escola no sentido de propor práticas lúdicas sempre que vislumbrar possibilidades. Isso vai demandar que ele esteja atualizado, que ele busque referências, que ele acesse sites sobre educação e sobre brincadeiras, que ele faça associações entre o objeto de estudo e o que a ele pode ser vinculado como elemento lúdico. 3 METODOLOGIA O artigo em questão é oriundo de uma pesquisa de denominação bibliográfica. Segundo Rummel (1972, p. 3)apudMaconi e Lakatos (2008, p. 7), trata-se de uma pesquisa que se utiliza de materiais escritos. Paraa qual foram coletadas informações em livros, artigos de revistas, textos, material disponíveis nos meios eletrônicos, literatura de diversos autores, entre elesALMEIDA,PIAGET,VYGOTSKYcitamos algunsque foi de grande ajuda para poder desenvolver este tema ludicidade na educação infantil.Onde se buscou discutir e explicar. Tendo em vista que no embasamento teórico estudado, foi possível perceber o quanto as atividades lúdicas podem auxiliar no desenvolvimento afetivo, cognitivo, motor e pedagógico das crianças. Os pressupostos elencados no presente estudo demonstraram que o lúdico é de suma importância no processo de desenvolvimento do educando, demonstrando-se como um processo educacional, visto que o brincar ajuda a criança a organizar suas ações e realinhar o real. Cabe às escolas não somente tolerar, mas considerar as brincadeiras como fator essencial para aprendizagem. O brinquedo tem intrínseca relação com o desenvolvimento infantil, é o brinquedo que proporciona o maior avanço na capacidade cognitiva da criança. Nesse sentido, a pesquisa contribuiu para se enxergar melhor a questão da sala de aula na Educação Infantil, no que se refere às possibilidades que o professor quanto ao processo de ensino-aprendizagem. Isso porque as obras consultadas oferecem vários elementos para se perceber o lúdico como fator de incentivo ao desenvolvimento da criança, em vários aspectos. É por meio do brinquedo que a criança se apropria do mundo real, domina conhecimentos, se relaciona e se integra culturalmente. Ao brincar e criar uma situação imaginária a criança pode assumir diferentes papéis, como se tornar um adulto, um animal, um herói televisivo, ela pode mudar seu comportamento e agir como se fosse mais velha do que realmente é, pois ao representar o papel de “mãe”, ela agirá como a mãe age. Numa situação de brinquedo a imaginação da criança surge na ação, representando situações que de alguma forma já foram vivenciadas por ela. 4.CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto por Rodrigues (2013), e do que foi discorrido ao longo do texto, o presente artigo leva a algumas considerações conclusivas. Uma delas é a necessidade de fomento, nas escolas, de práticas que associem ainda mais o caráter lúdico aos projetos estabelecidos. Isso principalmente na Educação Infantil, entendida como determinante para a disponibilidade da criança aos estímulos do processo de ensino-aprendizagem que terá dali em diante. Outro aspecto a se considerar é o papel do professor nessa direção. Mesmo que haja iniciativa por parte de gestores e pedagogos, ainda assim é de suma importância que o professor desenvolva sua autonomia e dialogue com a escola no sentido de propor práticas lúdicas sempre que vislumbrar possibilidades. Isso vai demandar que ele esteja atualizado, que ele busque referências, que ele acesse sites sobre educação e sobre brincadeiras, que ele faça associações entre o objeto de estudo e o que a ele pode ser vinculado como elemento lúdico. Mais uma constatação se percebe a partir do que os autores subsidiam, em termos de reflexão e problematização da ludicidade na Educação Infantil: a formação docente. Se, no parágrafo anterior, foi citada e valorizada a iniciativa do professor, é essencial que a escola ou os órgãos a que estejam ligadas (secretarias de ensino) promovam oportunidades de capacitação para uma melhor aplicação do lúdico nasala de aula, bem como para se compartilhar experiências, o que seria extremamente rico, sobretudo se envolvesse outras escolas. A troca de ideias e a exposição de projetos e de trabalhos feitos com base no lúdico como instrumento seriam formas de subsidiar e inspirar os professores a lidar com tão rica possibilidade. O artigo em questão é oriundo de pesquisa de cunho qualitativo e de denominação bibliográfica. Segundo Rummel (1972, p. 3) apud Maconi e Lakatos (2008, p. 7), trata-se de uma pesquisa que se utiliza de materiais escritos, no caso de livros sobre o tema. Também chamada de “pesquisa de fontes secundárias”, inclui a consulta às produções bibliográficas lançadas que tenham relação com o objeto em estudo. Para Marconi e Lakatos (2008, p. 57), “Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto”. As autoras citadas ressaltam, porém, que “a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras” (MARCONI E LAKATOS, 2008, p. 57). As obras que foram pesquisadas e utilizadas para a confecção do texto foram selecionadas de um universo de produções sobre o tema educação. Elas tratam de educação, ludicidade, psicologia, expressão corporal e jogos, primordialmente. Para Manzo (1971, p. 32) apud Marconi e Lakatos (2008, p. 57), com a pesquisa bibliográfica é possível se “oferecer meios para resolver, não somente os problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente”. Nesse sentido, a pesquisa contribuiu para se enxergar melhor a questão da sala de aula na Educação Infantil, no que se refere às possibilidades que o professor quanto ao processo de ensino-aprendizagem. Isso porque as obras consultadas oferecem vários elementos para se perceber o lúdico como fator de incentivo ao desenvolvimento da criança, em vários aspectos. Durante o processo de pesquisa bibliográfica, é usual se construir um sistema de registro dos dados. O fichamento (fichas de leitura) pode ser simples (página e conteúdo) ou completo (incluindo comentários). O adotado foi o fichamento simples, através do qual foram encontradas e anotadas citações e descrições que tinham relação direta com o objeto de estudo. Após esse registro, como próximo procedimento buscou-se a associação das ideias dos autores encontrados, que se somaram para a produção de um raciocínio sobre o problema de pesquisa. No final, essa soma contribuiu para o exercício crítico, considerado tudo o que foi desenvolvido, e as considerações conclusivas a respeito. Por fim, o presente trabalho coloca algumas considerações conclusivas, com base no que foi encontrado de referências bibliográficas, problematizando pontos apresentados ao longo do texto e, principalmente, abordando o papel que a escola, a família e o professor têm no sentido de promover o lúdico a serviço da qualificação do processo de ensinar-aprender e do vínculo do aluno com o estudar de maneira prazerosa e criativa. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica – técnicas e jogos pedagógicos. 9ª ed. São Paulo: Loyola, 1998. CAMPOS, D. M. S. Psicologia da Aprendizagem. 19ª ed. Petrópolis: Vozes, 1986. DA SILVA, Ana Paula Lucena Cardoso. O lúdico na educação infantil. Dissertação de Mestrado. CAMPO GRANDE-MS: UCDB, 2006. Disponível em: http://site.ucdb.br/public/md-dissertacoes/7873-o-ludico-na-educacao-infantil-concepcoes-e-praticas-dos-professores-na-rede-municipal-de-campo-grande-ms.pdf. Acesso em: 29 maio. 2016. FEIJÓ, O. G. Corpo e Movimento. Rio de Janeiro: Shape, 1992. KISHIMOTO, TizukoMorchida. Jogos Infantis: O jogo, a Criança e a Educação. Rio de Janeiro: Vozes, 1993. LIMA, Zélia Vitória Cavalcanti. “Jogo e desenvolvimento: brincadeira é coisa séria”. IN: VIGOTSKI, L. S. A formação Social da Mente. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. MARCONI E LAKATOS. Técnicas de pesquisa. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2008. MARCELINO, Nelson Carvalho. “Estudos do lazer: uma introdução”. Campinas. São Paulo: Autores Associados, 1996. MONTI, Daniel. O jogo pelo jogo: a atividade lúdica na educação da criança e adolescente. Rio de Janeiro, Zahar, 1998. NAVARRO, Mariana Stoeterau. O brincar na educação infantil. Artigo para o IX Congresso Nacional de Educação/III Encontro Sul-brasileiro de Psicopedagogia. Curitiba: PUCPR, 2009. Disponível em: http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2693_1263.pdf. Acesso em: 29 maio. 2016. PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1971. PIRES Ângela Inácia VieiraAludicidade na educação Infantil.Disponível em:<http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/posdistancia/30958.pdfAcesso em: 8Jun de 2015. QUEIROZ, Tânia Dias; MARTINS, João Luiz. Pedagogia Lúdica: Jogos e Brincadeiras de Aa Z. São Paulo: Reideel, 2002. RODRIGUES, Lídia da Silva. Jogos e brincadeiras como ferramentas no processo de aprendizagem lúdica na alfabetização. Dissertação de Mestrado. Brasília: UnB, 2013. Disponível em: http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/14200/1/2013_LidiaSilvaRodrigues.pdf. Acesso em: 29 maio. 2016. Rau,Maria Cristina trois Dorneles. A Ludicidade na educação: uma atitude pedagógica /Maria Cristina trois Dorneles Rau-2,Ed.rev,atual.e ampl.-Curitiba :ibpex,2011.-(Serie Dimensões da Educação). VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994. VYGOTSKY, L. S. (1994). A formação social da mente. São Paulo, Martins Fontes.