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A nova interpretação do artigo 1830

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O artigo 1.830 do Código Civil está em consonância com a EC nº 66/10?
	O artigo 1.830 do Código Civil de 2002 assim dispõe: 
Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente.
Podemos perceber que o código civil estabelece alguns requisitos para o reconhecimento da sucessão ao cônjuge sobrevivente, eis que, ao momento da morte do outro: 
1. Não estavam separados judicialmente ou; 
2. Não estavam separados de fato há mais de dois anos e, nesse caso: a separação não se deu por culpa do sobrevivente.
Percebe-se que, no que toca à separação de fato, existe um elemento temporal (dois anos) e um elemento subjetivo, isto é, a presença ou não de culpa que deu causa a separação. 
A análise da culpa requer larga dilação probatória. Soma-se a isso que o cônjuge sobrevivente provavelmente não concordará que a culpa pela dissolução conjugal será sua, sem contar o transtorno para se analisar a culpa em pleno processo de inventário. 
Por outro lado, com a Emenda Constitucional (EC) nº 66 de 2010, houve a extinção do requisito de prévia separação judicial por mais de 1 ano ou de comprovada separação de fato por mais de 2 anos para que se pudesse ajuizar ação de divórcio. Acrescenta-se que o artigo 1.830 está oito anos defasado em relação à EC nº 66. A atual redação do artigo 1.830 do Código Civil de 2002 está claramente discrepante da ideia introduzida pela EC. Exigir análise de culpa no processo sucessório, além de ser inviável, é antiquado frente aos ideais da Carta Magna e do atual Direito de Família. A família eudemonista, isto é, aquela que tem como fundamento de existência a busca por uma vida feliz, com base no amor, não comporta na sua base o elemento temporal ou análise de culpa, mas tão somente a averiguação de que esse sentimento de afeto se mantém (não apenas por um, mas por ambos os cônjuges), podendo se extinguir enquanto vivos ou através do fenômeno natural da morte. A exigência de averiguação da culpa ou mesmo do elemento temporal de 2 anos não está em harmonia com a Constituição Federal e deve ser expulso do ordenamento jurídico em vigor. Portanto, para que o cônjuge sobrevivente tenha direito sucessório bastaria que ele não estivesse separado judicialmente ou de fato, sem outras exigências. Com a evolução da sociedade, o Direito, em especial o Direito de Família, não pode dormir.
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