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Obesidade: além da estética. Abrace essa causa A obesidade, doença dita por alguns como “mal do século”, é uma enfermidade complexa, multifacetária, e inflamatória, caracterizada, em termos gerais, pelo acúmulo de tecido adiposo no organismo. No Brasil, dados da Pesquisa de Orçamento Familiar de 2003 revelaram que o excesso de peso afeta 41,1% dos homens e 40% das mulheres, dentre os quais são considerados obesos 8,9% dos homens adultos e 13,1% das mulheres adultas. Existem dois tipos de tecido adiposo: o tecido adiposo marrom (TAM), também chamado de multilocular, mais abundante em recém nascidos e animais que hibernam, tendo como ofício regular a temperatura corporal; e o tecido adiposo branco (TAB), também chamado de unilocular, cujas funções são armazenamento de energia e produção de citocina, sendo predominante em adultos. Además, estudos realizados nos últimos anos descobriram que tecido adiposo unilocular possui forte atuação como órgão secretor. Isso se dá porque ele produz e libera vários fatores peptídicos e não peptídicos. Então, por esse fator, pode-se dizer que o aumento de TAB que está diretamente associado ao grau de obesidade apresentado por um indivíduo. As células do tecido adiposo denominam-se adipócitos. Os adipócitos, por sua vez, sintetizam e liberam adipocinas, proteínas que possuem relação no funcionamento completo do organismo. De um modo geral, é comum perceber que muitas pessoas reconhecem apenas suas funções quanto à regulação do apetite e balanço energético. Entretanto, o que poucos sabem é que ele também intervém em vários outros fatores importantes, como na imunidade, na sensibilidade à insulina, na angiogênese, na inflamação e resposta de fase aguda, na pressão sanguínea e no metabolismo de lipídeos. Entre as adipocinas mais estudadas estão a leptina (pró-inflamatória, também conhecida como “hormônio da saciedade” - por ser anorexígena -, com função de diminuir os níveis séricos de glicose), adiponectina (hormônio insulino-sensível, exclusivo do tecido adiposo) e resitina (também pró-inflamatória, com secreção fortemente relacionada à resistência à insulina). Um ponto importante que análises verificaram foi a concentração sérica dessas proteínas: em pessoas com sobrepeso, tanto a leptina quanto a resistina apresentaram-se em níveis mais elevados; já a adiponectina, apresentou-se em níveis mais reduzidos. É interessante mencionar que algumas citocinas (proteínas pró-inflamatórias que são desencadeadas em processos imunes), como TNF-α, IL-1 e IL-6, aumentam a síntese de leptina e resistina, já que houve correlação positiva entre ambos (leptina e resistina) com os marcadores inflamatórios encontrados em pessoas com sinais inflamatórios severos. Já fatores como ácidos graxos, estrógenos, estimuladores, catecolaminas, andrógenos (testosterona) e hormônio do Crescimento (GH), diminuem os níveis desses dois hormônios de forma notável. Estudos demonstraram ainda que, na obesidade, a hiperleptinemia, seja ela causada por deficiência genética associada a uma resistência à leptina ou por saturação dos receptores, promove uma disfunção do sistema imunológico similar à produzida pela desnutrição. Esse é uma das principais razões pelo qual comumente pessoas obesas também acabam desencadeando outras enfermidades como, por exemplo, a diabetes e doenças cardiovasculares. Como mencionado anteriormente, ao contrário da maioria das proteínas secretadas pelo tecido adiposo, a adiponectina tem ação antiinflamatória e diminui à medida que ele aumenta. Sendo assim, cada vez que os adipócitos se ampliam, seja em número ou em tamanho, induzidos por uma dieta gordurosa, acabam promovendo a diminuição da produção desse hormônio. Isso se torna um problema, pois, uma das peculiaridades da adiponectina é sua insulino-sensibilidade, uma vez que produz a redução dos níveis de triglicérides no músculo e fígado. Como conseqüência da desregulação hormonal, uma pessoa obesa tende a ter maior resistência à insulina, tornando o ambiente propício para que surja o quadro de síndrome metabólica (conjunto de fatores de risco metabólico). Agora, analisando a resistina, outra adipocina de grande expressão, pesquisas comprovam que seus níveis acima do normal são sinônimos de graves problemas. Isso se acontece porque sua ação é antagônica à insulina. De modo geral, atua principalmente de duas maneiras básicas: ela aumenta a glicogênese hepática, além de ser responsável pela diferenciação dos adipócitos, que ocorre por meio de retroalimentação negativa. Outra curiosidade e peculiaridade sobre esse hormônio é que estudiosos também observaram relação positiva entre sua concentração e o índice de calcificação de artéria coronariana. Tal fato levou à conclusão que existe um elo entre a resistina, alguns sinais metabólicos, a inflamação e a aterosclerose. Analisando todos os fatores mencionados, é notável que o excesso de tecido adiposo aamplia a produção de muitas adipocinas. Elas, ocasionalmente, promovem grande impacto em diversas funções corporais. Portanto, muito além do que grande parcela da sociedade acredita, a obesidade é uma disfunção orgânica e não apenas um acometimento estético. Por ser uma patologia multifacetária, seu tratamento é longo e complexo. Dessa forma, a terapêutica proposta para um indivíduo com sobrepeso demanda um aparato multidisciplinar (atividade física, nutrição, psicologia e clínica) e muita cautela. Por conseguinte, o controle da obesidade, dada pela perda de peso, embora sem comprovação científica para diminuição de mortalidade, é muito importante para reduzir o risco de doenças cardíacas e de diabetes mellitus. Além disso, seu manejo também cria uma condição favorável para otimização do controle da ansiedade, além de colaborar de forma expressiva para melhora da performance física e do quadro de resistência à insulina do indivíduo; consequentemente, esse conjunto atenua a síndrome metabólica, que tem como base à resistência à ação da insulina. Sendo assim, o ponto principal do tratamento deve visar reduzir a porcentagem de gordura corpórea do indivíduo com sobrepeso. Alinhado à reeducação alimentar, também é importante que tais indivíduos pratiquem atividade física. Ela, além de colaborar para a perda de gordura corporal e controle da ansiedade, modula de forma direta processos inflamatórios. Portanto, a prática desportiva vai muito além de uma abordagem estética. Ao promover a otimização da resposta inflamatória no organismo, há restauração dos níveis apropriados de leptina e resistina, uma vez que há diminuição dos níveis de citocinas pró-inflamatórias. Em resumo, fica claro, portanto, que a mudança estética resultante da melhora do quadro de obesidade é apenas uma bonificação ao se comparar com as melhorias internas que a administração dessa patologia promove. Com o controle desse processo inflamatório crônico e da síndrome metabólica, todo sistema se beneficia, uma vez que haverá controle de uma parte endócrina do organismo. Finalizando, é notório lembrar que, por ser uma doença multifacetária, necessita que haja grande esforço do paciente para vencer esse quadro, principalmente no que tange o cunho psicológico. Sendo assim, o apoio e incentivo das pessoas próximas são muito relevantes para que a conclusão do processo termine com êxito. Texto autoral por Mayara H. S. Souza 13/01/2018 Bibliografias: Histologia Básica - 13ª Ed. 2017 Junqueira,L. C.; Carneiro,José Histologia - Texto e Atlas - 7ª Ed. 2016 Ross,Michael H.; PAWLINA,Wojciech https://periodicos.ufsc.br/index.php/rbcdh/article/download/6254/10916 http://www.scielo.br/pdf/rbme/v15n5/12.pdfhttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066- 782X2010000200021&script=sci_arttext&tlng=pt
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