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Linguagens e Produção de Texto

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LINGUAGENS E 
PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Evandro Livramento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LINGUAGENS E 
PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
IMES 
Instituto Mantenedor de Ensino Superior Metropolitano S/C Ltda. 
 
William Oliveira 
Presidente 
 
Reinaldo Borba 
Diretor de Novos Negócios 
 
Jussiara Gonzaga 
Gerente Técnica do NEaD 
 
 
 
 
 
 
MATERIAL DIDÁTICO 
 
Israel Dantas 
Coord. de Produção de Material Didático 
 
 
 
 
Produção Acadêmica Produção Técnica 
Evandro Livramento | Autor(a) 
 
Ritta de Cassia Silva Araujo | Revisão de Texto 
 
 
Imagens 
Corbis/Image100/Imagemsource 
 
 
 
© 2016 by IMES 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida 
ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, tampouco poderá ser utilizado 
qualquer tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem a prévia autorização, por escrito, do 
Instituto Mantenedor de Ensino Superior da Bahia S/C Ltda. 
 
2016 
Direitos exclusivos cedidos ao Instituto Mantenedor de Ensino Superior da Bahia S/C Ltda. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA ...................................................................................................9 
1.1 TEMA 1. LÍNGUA, LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO ...........................................................................11 
1.1.1 CONTEÚDO 1. O homem como um ser social ..............................................................................11 
1.1.2 CONTEÚDO 2. Linguagem, língua e fala ......................................................................................19 
1.1.3 CONTEÚDO 3. Variedades linguísticas ..........................................................................................43 
1.1.4 CONTEÚDO 4. Norma culta, coloquial e literária .........................................................................48 
ESTUDOS DE CASO..................................................................................................................................56 
EXERCÍCIOS PROPOSTOS ........................................................................................................................57 
1.2 TEMA 2. ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO E DA LINGUAGEM .........................................................61 
1.2.1 CONTEÚDO 1. Elementos da comunicação ..................................................................................61 
1.2.2 CONTEÚDO 2. Funções da linguagem I .........................................................................................65 
1.2.3 CONTEÚDO 3. Funções da linguagem II ........................................................................................75 
1.2.4 CONTEÚDO 4. Signos linguísticos .................................................................................................80 
ESTUDO DE CASO ...................................................................................................................................84 
EXERCÍCIOS PROPOSTOS ........................................................................................................................85 
2 TIPOLOGIA TEXTUAL .............................................................................................................. 93 
2.1 TEMA 3. CONSTRUÇÃO BÁSICA DA ESTRUTURA TEXTUAL ...............................................................95 
2.1.1 CONTEÚDO 1. Frase ......................................................................................................................95 
2.1.2 CONTEÚDO 2. Coesão textual .......................................................................................................98 
2.1.3 CONTEÚDO 3. Coerência textual ................................................................................................101 
2.1.4 CONTEÚDO 4. Pontuação ............................................................................................................105 
ESTUDO DE CASO .................................................................................................................................107 
EXERCÍCIOS PROPOSTOS ......................................................................................................................108 
2.2 TEMA 4. TIPOLOGIA TEXTUAL ........................................................................................................111 
2.2.1 CONTEÚDO 1. Gêneros textuais .................................................................................................111 
2.2.2 CONTEÚDO 2. Texto descritivo ...................................................................................................113 
2.2.3 CONTEÚDO 3. Texto narrativo ....................................................................................................116 
2.2.4 CONTEÚDO 4. Texto dissertativo ................................................................................................120 
ESTUDO DE CASO .................................................................................................................................124 
EXERCÍCIOS PROPOSTOS ......................................................................................................................125 
GLOSSÁRIO ............................................................................................................................... 128 
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 130 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
Caro amigo, 
É com grande alegria que, neste momento, disponibilizamos para você o módulo de 
Linguagens e Produção de Texto. Uma ferramenta de trabalho construída com muito zelo, no 
intuito de proporcionar sempre o melhor e na máxima qualidade. 
Você contará com todos os conteúdos pertinentes a uma boa formação, independente 
do curso que você esteja fazendo. A ideia é possibilitar uma elaboração do discurso contun-
dente e satisfatória para essa nova perspectiva de mercado de trabalho, em que o indivíduo 
precisa ser muito mais do que um técnico em sua área. 
Seu módulo está dividido em quatro temas que dão conta de, inicialmente, um conteúdo 
voltado para os conceitos de Língua, Linguagem, Comunicação e situações afins. 
Em seguida, há um detalhamento dos aspectos constitutivos da comunicação; não so-
mente os elementos como também suas funções. Tudo isso substanciado com diversos exem-
plos que norteiam sua realidade e suas necessidades. 
Na sequência, a construção do conhecimento é aprofundada na questão da produção do 
texto, baseando-se nos conceitos de frase, oração, período e parágrafo. O intuito é que você 
chegue no último momento do módulo - ou seja, na produção do texto (gêneros textuais e 
tipologia textos) – com bagagem suficiente para dominar o conteúdo e fazer o melhor com a 
posse dele. 
Esperamos que tenha uma boa jornada e que aproveite bastante o conhecimento dispo-
nibilizado. Boa sorte! 
 
Professor Evandro Livramento 
 
 
 
 
 
1 
INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA 
BLOCO 
TEMÁTICO 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA 
1.1 
TEMA 1. 
LÍNGUA, LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO 
1.1.1 
CONTEÚDO 1. 
O HOMEM COMO UM SER SOCIAL 
Começaremos construindo a compreensão dos conceitos de Língua, Linguagem e Co-
municação. Para isso, vale refletirmos sobre a condição do homem como um ser social. 
 O homem é um ser social! Parece lugar comum. Todavia uma análise breve nos fará 
entender que, apesar de ser uma afirmativa lógica e batida, muitas vezes não é absorvida em 
sua inteireza, no intuito de estabelecer uma relação coerente do homem com o seuhabitat. 
A consciência é parte fundamental para a análise da linguagem. A construção da socie-
dade depende desses dois elementos. 
São os homens os produtores das suas representações, das suas ideias, etc., mas os ho-
mens reais agentes, tais como são condicionados por um desenvolvimento determinado 
das suas forças produtivas e das relações que lhes correspondem. (...) A consciência não 
pode ser coisa diversa do ser consciente e o ser dos homens é o seu processo de vida real. 
(...) Desde o início que pesa uma maldição sobre «o espírito»: a de estar «manchado» 
por uma matéria que se apresenta aqui sob a forma de camadas de ar agitadas, de sons, de 
linguagem, em suma. A linguagem é tão velha quanto à consciência. A linguagem é a cons-
ciência real, prática, existente também para outros homens; existente, também, igualmente 
para mim mesmo pela primeira vez e, tal como a consciência, a linguagem só aparece com 
a necessidade, a necessidade de comunicação com os outros homens. (…) A consciência é, 
portanto, desde início, um produto social e, assim sucederá enquanto existirem homens 
em geral. 
11 
LINGUAGENS E PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
Karl Marx 
Fonte: <http://www.citador.pt/textos/a-consciencia-e-um-produto-social-karl-marx> 
Continuando o nosso estudo sobre esses conceitos, vamos entender um pouco mais so-
bre como essa linguagem pode e deve ser registrada e como ela se efetiva na relação humana. 
Neste sentido, para compreendermos essa questão, discutiremos a seguir o conceito de língua. 
O desenvolvimento de uma Língua está relacionado com a evolução dos processos lin-
guísticos de cada povo. Entender esses fatores é parte fundamental para uma boa utilização do 
conjunto de elementos que torna o ser humano um ser sociável e relevante na criação de no-
vos códigos linguísticos. 
O homem é um produtor de cultura ao mesmo tempo que é, também, um produto dela 
mesma. Como produtor, ele engendra os fundamentos básicos para uma percepção contun-
dente do mundo que o rodeia e que o liga à múltipla diversidade de leituras e de reinterpreta-
ção da vida. 
Essa leitura constrói a cultura e essa construção gera a Língua e ressignifica a sociedade 
da qual este mesmo ser humano sofre os efeitos. A observação do ambiente reflete a intensi-
dade com que o indivíduo produz novas formas de comunicação e cria a possibilidade de inte-
rações física e, também, metafísica com o mundo. 
A comunicação é o principal construto social da produção da Língua e das diversas for-
mas de linguagens, por isso o homem, como principal produtor de cultura, tem a capacidade 
de interagir com o ambiente, de edificar suas relações sociais e de se construir como um ser 
político. 
Em seguida, poderemos constatar a desvinculação do conceito de linguagem aos objetos 
não materiais e constantes na condição objetiva humana, em que se afirma não poder enten-
der o processo de produção da linguagem – seja essa de que natureza for – como algo que não 
se engendre da interação da sociedade real. 
 
No próximo trecho, entenderemos a perspectiva de Barthes em relação à concepção de 
Língua e seus aspectos estruturantes. 
Roland Barthes tem, da linguagem, uma visão eminentemente social e vê, nela, a ex-
pressão do puro poder social a que todos estamos submetidos: Esse objeto em que se ins-
creve o poder, desde toda eternidade humana, é: a linguagem – ou, para ser mais preciso, 
sua expressão obrigatória: a língua. (BARTHES, 1978:12). Barthes vê, pois, na língua, um 
objeto de submissão e, fatalmente, de alienação. Diz ele que, por estarmos todos aprisiona-
dos irremediavelmente às estruturas lingüísticas, uma vez que devemos nelas enquadrar 
nossos pensamentos, somos todos escravos da língua. Diz ainda: ...a língua, como desem-
12 
EVANDRO LIVRAMENTO 
 
 
 
penho de toda linguagem, não é nem reacionária, nem progressista; ela é simplesmente: fas-
cista; pois o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer. (id., ib., p. 14). Dessa forma, 
de acordo com a teoria de Barthes, uma vez que a língua leva à aceitação obrigatória de su-
as estruturas para a completa comunicação, ela faz parte de uma estrutura de poder a qual 
todos estão submetidos, obrigados. 
Alan de Amorim 
Fonte: <http://www.urutagua.uem.br//02_literatura.htm> 
 
 
Não esqueçamos de antes buscar maiores informações do pensador, para não utili-
zarmos como pressuposto somente a interpretação do autor do texto em questão. 
É necessário a antecipação do conteúdo e da teoria para um melhor aprofundamento. 
Veremos, em seguia, ponderações sobre linguagem, a partir das concepções de ícones do 
pensamento humano. Já que entendemos a Língua como uma perspectiva subjetiva, um cons-
truto individual e coletivo que perpassa também pelas características objetivas da sociedade, 
necessitamos agora, buscar mais elementos que sedimentem essa análise. 
Nesse sentido, Marx e Engels, a partir do texto de Amorim (2008), afirmam que as rela-
ções sociais são a fonte original de todos os fenômenos ideológicos e linguísticos da sociedade. 
Linguagem: as ponderações de Marx e Engels 
Acreditamos que antes de começar qualquer tipo de análise marxiana é necessário man-
ter em mente a metodologia utilizada como pedra-de-toque por esse pensador, qual seja, a do 
materialismo histórico-dialético. É com esse método como fundamento principal que Marx 
desenvolve, cria e articula todo o seu monumental e gigantesco arcabouço teórico. Vilipendi-
ando qualquer tipo de idealismo, Marx assinala, desde a sua remota juventude, que a resolu-
ção de todos os problemas terrenos somente poderá ocorrer no mesmo local onde foram cria-
dos: na base material, objetiva e real da sociedade dos seres humanos. 
A partir da contraposição direta com os jovens hegelianos, Marx vai tanto delineando a 
sua recusa ao idealismo alemão quanto vai forjando a sua teoria materialista da história. Nes-
ta, argumenta que em investigações profundas e honestas da sociabilidade humana deve-se 
partir dos “indivíduos reais, sua ação e suas condições materiais de vida, tanto aquelas por eles 
já encontradas, como as produzidas por sua própria ação. ” (MARX & ENGELS, 1987: 26). 
Como não poderia deixar de ser, a nossa abordagem marxiana da linguagem primará também 
13 
LINGUAGENS E PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
por essas mesmas diretrizes básicas, elegendo-se o solo real das relações sociais como sendo a 
origem de todos os fenômenos ideológicos e linguísticos da sociedade. 
Desse modo, as diversas formas de expressão da linguagem – segundo Marx – repercu-
tem diretamente a partir das relações entre os homens: 
“O representar, o pensar, o intercâmbio espiritual dos homens, aparecem aqui como ema-
nação direta de seu comportamento material. O mesmo ocorre com a produção espiritual, tal 
como aparece na linguagem da política, das leis, da moral, da religião, da metafísica etc. de um 
povo. Os homens são os produtores de suas representações, de suas ideias etc., mas os homens 
reais e ativos, tal como se acham condicionados por um determinado desenvolvimento de suas 
forças produtivas e pelo intercâmbio que a ele corresponde...” (MARX & ENGELS, 1987: 36-7) 
Daí, podemos depreender o fato de que a linguagem em si, autônoma, não existe, é 
sempre ela uma emanação da consciência – consciência essa que, por sua vez, reflete as condi-
ções materiais de seu desenvolvimento. Sendo a linguagem determinada pela consciência e 
esta pela realidade objetiva e material circundante, podemos asseverar que, para Marx, a lin-
guagem nasce, de fato, do processo histórico de criação e reprodução da vida. O mundo obje-
tivo e real condiciona e determina o modo de ser e representar da linguagem. “Produtos teóri-
cos e formas de consciência” são resultados dos modos de produção e das formas de 
intercâmbio por estes engendrados. 
Alterando-se a base materialde uma sociedade podem-se alterar os diversos modos de 
representação e existência dos fenômenos linguísticos; porém, uma simples alteração circuns-
crita à linguagem, jamais poderia redundar em qualquer tipo de mudança significativa na in-
fraestrutura econômica e nas relações de produção daí decorrentes. A linguagem, “a moral, a 
religião, a metafísica e qualquer outra ideologia, assim como as formas de consciência que a elas 
correspondem, perdem toda a aparência de autonomia. Não têm história, nem desenvolvimen-
to...” (MARX & ENGELS, 1987: 37). A linguagem, como reflexo do que foi empiricamente 
absorvido pela consciência do mundo objetivo, se configura, tão-somente, como um instru-
mento de simbolização e comunicação entre os seres humanos. 
Podemos afirmar, ainda, que a mesma é uma das formas de exteriorização do espírito do 
homem, que se encontra, igualmente, “impregnado” de linguagem desde o início de sua exis-
tência. A realidade material e objetiva influencia e “determina” a consciência e a vida dos seres 
sociais utilizando-se da linguagem – é o seu ‘instrumental’. Marx & Engels (1987: 43) assim 
definiram: 
“Desde o início pesa sobre o ‘espírito’ a maldição de estar ‘contaminado’ pela matéria, que 
se apresenta sob a forma de camadas de ar em movimento, de sons, em suma, de linguagem. A 
linguagem é tão antiga quanto a consciência – a linguagem é a consciência real, prática, que 
existe para os outros homens e, portanto, existe também para mim mesmo; e a linguagem nasce, 
como a consciência, da carência, da necessidade de intercâmbio com outros homens. ” 
14 
EVANDRO LIVRAMENTO 
 
 
 
Dessa forma, a linguagem, para Marx, surgiu da interação social dos seres humanos, da 
necessidade dos mesmos se comunicar. Com o seu estabelecimento definitivo no tecido social, 
ela continuou a reafirmar a sua função de representar o que havia na consciência de todos os 
homens, perpetuando a comunicação e a interação entre eles. Tornou-se a mediadora univer-
sal, tanto dos homens relacionando-se entre si quanto destes tomados isoladamente, sofrendo 
influência direta do meio em que vivem. O advento da consciência e da linguagem se caracte-
riza pela sua forma dialética. 
O homem é influenciado pela linguagem ao relacionar-se socialmente e influencia esta 
última ao alterar a realidade objetiva através de sua ação consciente. Portanto, assim como a 
linguagem, “a consciência (...) é desde o início um produto social, e continuará sendo enquanto 
existirem homens. A consciência é, naturalmente, antes de mais nada mera consciência do meio 
sensível mais próximo e consciência da conexão limitada com outras pessoas e coisas situadas 
fora do indivíduo que se torna consciente...” (MARX & ENGELS, 1987: 43) 
A linguagem surge definitivamente neste contexto onde “a consciência da necessidade de 
estabelecer relações com os indivíduos que o circundam é o começo da consciência que o homem 
vive em sociedade. ” (MARX & ENGELS, 1987: 44). O aumento da população e a consequente 
elevação das necessidades materiais, que redundam em aumento da produção, propiciaram a 
aviltação das interações sociais – grande passo para o desenvolvimento dos aspectos conscien-
tes e linguísticos nos seres humanos. Como dito acima, essa evolução da consciência do ho-
mem foi essencialmente mediada pela linguagem, ‘mecanismo’ necessário para que se ampli-
assem as relações entre os seres sociais. Nos intercâmbios entre os homens, a linguagem 
impõe-se como uma condição sine qua non para a efetivação concreta dos mesmos. O resul-
tado dessa interação é o desenvolvimento profundo da consciência humana. 
Fonte: <http://www.espacoacademico.com.br/088/88silva_newton.htm> 
Revista espaço acadêmico – 88 – setembro de 2008. 
Como pôde ser observado, a linguagem para Marx, no texto de Amorim (2008), não 
existe como elemento dotado de autonomia, uma vez que ela é gerada por meio do funciona-
mento da consciência e a própria consciência é gerada pela interlocução material de seus pro-
dutores. 
É coerente entender que a consciência, como extrato dos contextos históricos humanos, 
permite a modificação da linguagem, bem como sua elaboração como síntese social. 
 
 
 
 
15 
LINGUAGENS E PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
 
Se você conseguiu compreender que a linguagem, a consciência e os fatores materiais 
da sociedade real histórica estão num mesmo patamar de construção, você também já en-
tende que a linguagem não é uma construção puramente metafísica. Retomemos... 
Como produto, o homem apresenta-se como um fundamento da comunicação e da es-
trutura social, à medida que não se limita aos fatores sociais e históricos e se recompõe a partir 
dos extratos subjetivos gerados por ele mesmo. 
O homem é um ser social, porque é um ser composto de linguagem e possibilidade dife-
renciadas e autorregidas; porque é a reunião de situações e de perspectivas infinitas e univer-
sais, que denotam a ele uma consciência complexa e repleta de significados. 
 
Lembre-se de que precisamos entender um pouco mais o teórico para que a percepção 
de seus conceitos seja bem mais absorvidos por todos. 
Para Nietzsche, a partir da noção trazida por Amorim (2008), a construção do conceito 
de linguagem está agregada a situações históricas como a própria criação do Estado, conforme 
conhecemos no presente, e sua noção de verdade e mentira. A linguagem serve a proposta da 
concepção da verdade e do escamoteamento dela; além da estrutura da forma e da matéria. 
A linguagem na concepção nietzschiana 
Segundo Nietzsche, a linguagem é o caminho por onde os seres humanos começam a 
pensar o mundo, ou seja, é a porta de entrada para o conjunto de todos os problemas. Grande 
filólogo e apreciador contumaz das línguas antigas, Nietzsche se utilizou do pensamento sobre 
a linguagem para tentar criar uma teoria que pudesse aproximar os homens da realidade, ob-
jetivando a ruptura de seus grilhões. 
De acordo com Nietzsche, o que levou o homem, orgulhosamente, a se considerar acima 
dos animais foi a crença de que todos os seus conceitos sobre todas as coisas eram verdades 
eternas. Tal intento – o de designar conceitos às formas e matérias – foi propiciado graças ao 
advento da linguagem: o homem “pensava ter efetivamente, na linguagem, o conhecimento do 
mundo. ” (NIETZSCHE, 2005: 72). O formador da linguagem acreditava que “exprimia com 
palavras o supremo saber das coisas.” Nesse sentido, “a linguagem é o primeiro grau do esforço 
em direção à ciência. ” (Ibid.) 
16 
EVANDRO LIVRAMENTO 
 
 
 
A partir da linguagem, utilizando-se da mesma, é que os seres humanos foram dando 
significado às diferentes coisas existentes no planeta. Esse movimento desencadeou uma 
“crença na verdade encontrada” – “erro descomunal” dos homens que haviam propagado tal 
‘fé’ na linguagem. 
Com o desenvolvimento da razão, tendo como ponto de partida essa mesma crença, 
ocorreu uma superestimação da importância da determinação da linguagem. “A linguagem 
como pretensa ciência” (NIETZSCHE, 2005: 72) redundou em tamanha ampliação de sua 
magnitude que, paralelo ao mundo dos homens, foi criado o mundo da linguagem – quase 
com total autonomia. Assim como afirmou Nietzsche (ibid.): “A significação da linguagem 
para o desenvolvimento da civilização está em que, nela, o homem colocou um mundo próprio 
ao lado do outro...”. 
A gênese desse processo de advento da linguagem pode ser encontrada na época em que 
os homens decidiram existir socialmente e em rebanho devido, conforme Nietzsche, à neces-
sidade e ao tédio. O abandono das práticas nômades e a intenção de sair do estado de ‘guerra 
de todos contra todos’ proporcionaram a ascensão das convenções e do contrato social. 
É neste movimento, de estabelecimento do Estado, que ‘as verdades’ passam a ser esti-
puladas e fixadas. Advém, desde então, pela primeira vez, ocontraste entre a verdade (“desig-
nação uniformemente válida e obrigatória das coisas”) e a mentira – negação da anterior. En-
quanto não se havia estabelecido socialmente, via ‘pacto social’, o conceito de verdade não 
existia, nem o de sua antípoda. Quem será a responsável por objetivar, como uma ferramenta, 
todo esse novo mecanismo de fixação das ‘verdades’ será a linguagem. É somente a partir dela 
que será possível averiguar se tal coisa ou fato corresponde com o estipulado socialmente. 
Destarte, com a instituição definitiva da metáfora e da linguagem como precursoras da 
verdade, tornou-se possível “edificar uma ordenação piramidal por castas e graus, criar um 
novo mundo de leis, privilégios, subordinações, demarcações de limites, que ora se defronta ao 
outro mundo intuitivo das primeiras impressões como o mais sólido, o mais universal, o mais 
conhecido, o mais humano e por isso, como regulador e imperativo.” (NIETZSCHE, 2005: 57). 
Aqui se observa, claramente, a onipotência que a linguagem adquire desde o seu advento. 
A impressão que nos dá é que a abordagem nietzschiana valoriza sobremaneira a ques-
tão linguística, ficando patente que, a partir dela e de seus esquemas, pode-se criar qualquer 
coisa, até um mundo novo. 
A linguagem passou a ser utilizada não só para demonstrar uma verdade, mas também 
para escamoteá-la: “O mentiroso usa as designações válidas, as palavras, para fazer aparecer o 
não efetivo como efetivo...”. Dessa forma, “ele faz mau uso das firmes convenções por meio de 
trocas arbitrárias ou mesmo inversões dos nomes...” (NIETZSCHE, 2005: 54). 
17 
LINGUAGENS E PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
É com base nesse ideário que o filósofo alemão argumenta que é impossível o homem 
alcançar a verdade – as manipulações que podem ser feitas com a linguagem impedem a con-
secução de tal objetivo. 
Desse modo, em um contexto social que viceja somente diferentes tipos de representa-
ção, torna-se não-factível o surgimento de homens que tenham qualquer tipo de intenção de 
alcançar a verdade, cada vez mais distante da sensibilidade humana. 
“Eles estão profundamente imersos em ilusões e imagens de sonho, seu olho apenas resvala 
às tontas pela superfície das coisas e vê ‘formas’, sua sensação não conduz em parte alguma à 
verdade (...). De onde neste mundo viria, nessa constelação, o impulso à verdade [à medida que 
o homem] usa o intelecto, em um estado natural das coisas, no mais das vezes somente para a 
representação...” (NIESTZSCHE, 2005: 54) 
De fato, para Nietzsche, o que temos de fazer é aceitar que a ‘verdade descoberta’ é sim-
plesmente um processo, um artifício da linguagem que simplesmente repete a mesma ideia 
com a utilização de novos termos. Daí que ‘as verdades’ são sempre – e tão-somente – diferen-
tes formas de apresentação linguística de um mesmo conceito. A verdade, ainda conforme o 
autor em questão, nunca foi decisiva na gênese da linguagem e o “ponto de vista da certeza” 
nunca foi decisivo nas designações. 
Não há como evitar, assim, a subjetividade nas determinações da linguagem, onde con-
tínua e perpetuamente delimitamos significados de forma arbitrária. “Dividimos as coisas por 
gêneros, designamos a árvore como feminina, o vegetal como masculino: que transposições arbi-
trárias. ” (NIETZSCHE, 2005: 55) 
Para dar continuidade à sua explanação concernente à ideia que através da linguagem 
nós nunca alcançaremos a verdade, Nietzsche argumenta que “As diferentes línguas, colocadas 
lado a lado, mostram que nas palavras nunca importa a verdade, nunca uma expressão ade-
quada: pois senão não haveria tantas línguas” (ibid.) Novamente aqui sobrestima-se o fator 
linguagem: através de um exemplo frágil, o pensador tenta justificar a inexistência da verdade 
devido às diferentes formas linguísticas que ela assume nas mais diversas civilizações. Parece-
nos uma forma de simplificação excessiva imputar à linguagem tantos poderes de manipula-
ção e distorção. 
Se a enxergarmos muito mais como um instrumento, provavelmente estaremos aptos a 
apreender o que ou quem, realmente, está por trás de todo esse movimento de falseamento 
que faz da vida dos homens um verdadeiro engodo. 
Nietzsche acredita que essa falha inicial na conceituação de todas as coisas do mundo 
significará uma verdadeira tragédia para qualquer pesquisador. Justamente por estar utilizan-
do conceitos não correspondentes à essência dos objetos, o cientista nunca obterá êxito real e 
efetivo em suas constatações e pensamentos. Assim asseverou (2005: 56): “Em todo caso, por-
18 
EVANDRO LIVRAMENTO 
 
 
 
tanto, não é logicamente que ocorre a gênese da linguagem, e o material inteiro, no qual e com o 
qual mais tarde o homem da verdade, o pesquisador, o filósofo, trabalha e constrói, provém, se 
não da Cucolândia das nuvens, em todo caso não da essência das coisas. ” 
Acreditamos que não é a não-correspondência entre essência do objeto e sua respectiva 
designação linguística que vai impedir o pesquisador honesto e comprometido de aproximar-
se de maneira profundamente verdadeira da história e das condições de vida dos seres sociais. 
Resta-nos a dúvida se a linguagem pode mesmo obstaculizar tanto o desenvolvimento da ci-
ência e do conhecimento humano a ponto de torná-los impraticáveis. 
Fonte: <http://www.espacoacademico.com.br/088/88silva_newton.htm> 
 
É perceptível a ligação do conceito de Linguagem do teórico com a concepção do Esta-
do, em que se estabelece a proposta da verdade (“designação uniformemente válida e obrigató-
ria das coisas”) e da mentira. Isso imputa uma subjetividade na ação da construção da lingua-
gem, que serve também ao engendramento do pensamento científico baseado no 
racionalismo. 
O racionalismo, como efetividade da concepção objetiva da Linguagem, encontra, na 
verdade das coisas e dos conceitos, a verdade única e absoluta. 
 
Lembremo-nos de que o conceito da ciência moderna está implicado na concepção do 
racionalismo, que contrapõe, em substância, ao conceito da metafísica e da subjetividade. 
Portanto, devemos entender as palavras de Nietzsche de forma mais abrangente e, de certa 
forma, em sua contrariedade. 
Até então, vimos a linguagem pelas perspectivas social, histórica e filosófica. Agora, va-
mos relacionar a linguagem, a língua e a fala. Preste atenção, porque todas essas informações 
são úteis para você, como falante da língua, entender como se efetiva o ato da comunicação 
oral e escrita. 
1.1.2 
CONTEÚDO 2. 
LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA 
A partir do entendimento de que o ser humano é um ser social complexo e definido pela 
leitura de signos repletos de subjetividade - organizada de maneira plural e universal – deno-
 
19 
LINGUAGENS E PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
tamos a linguagem humana como um sistema interativo que realiza a comunicação entre os 
indivíduos. 
A linguagem, sendo compreendida como um movimento de caráter universal e, ao 
mesmo tempo, individual, propõe-se a inter-relacionar os diversos contextos em que haja a 
necessidade de se comunicar; independentemente de ser humano ou de qualquer ser de outra 
espécie. 
Dubois (1988) estabelece a linguagem como uma capacidade específica do ser humano, 
a partir de uma técnica corporal complexa e supõe a existência de uma elaboração simbólica. 
As questões sobre a linguagem e sua estrutura já eram objetos de busca desde os pri-
mórdios da construção do pensamento. Entender a ação de nomear em relação à percepção do 
que se fala e do se escreve com aquilo que não é verbal, que é um objeto de pensamento. 
A filosofia grega já compunha o conceito de linguagem relacionando-o com aquilo que 
rodeia o ser humano; ou seja, as palavras não possuem sentido isolado no contexto da comu-
nicação. 
O texto que segue, para a discussão deste conteúdo, implementa à relação direta entre 
Língua e realidade o processode construção da realidade e não somente da representação. 
Os gregos trabalham a percepção de que existe um espelhamento entre o elemento que 
representa e o elemento que é representado. 
 
A filosofia grega é responsável por muitos valores colocados nas discussões atuais so-
bre a construção da linguagem e da estrutura da língua, como objetos de construção da re-
alidade e da característica de um povo. 
Durante muito tempo, grandes questionamentos foram feitos, nos estudos sobre a lin-
guagem, acerca da relação entre as palavras e o mundo. Desde o período clássico, reflexões 
filosóficas sobre como nos referimos ao mundo através da linguagem estiveram presentes na 
agenda teórica de todo pensamento ocidental. Com várias formas de nomear (referenciação, 
representação, significação, categorização), a relação existente entre um dizer (falar ou escre-
ver) e um não dizer (objeto do pensamento ou da realidade empírica) vem inquietando filóso-
fos e linguistas e servindo como base para a composição de inúmeros paradigmas teóricos há 
séculos. A primeira discussão sobre o assunto foi empreendida por Aristóteles. 
O filósofo grego já previa uma relação do mundo com a linguagem. Para ele, essa rela-
ção ocorria através de um processo intralinguístico, por meio de mecanismos criados na pre-
dicação verbal – formas de os homens organizarem dentro do próprio sistema verbal – todas 
20 
EVANDRO LIVRAMENTO 
 
 
 
as coisas existentes. As palavras, no pensamento aristotélico, não possuíam sentido isolada-
mente, mas apenas quando relacionadas a um processo de predicação verbal, através do qual 
atribuímos sentido ao mundo. Conforme o que o filósofo grego preconizava, é devido às pre-
dicações que os vocábulos fazem referências ao mundo. Para ele, o processo de categorização 
daquilo que nos rodeia se realiza, por excelência, na imanência da língua. 
Postulando o contrário da concepção aristotélica, muitos estudos recentes sobre o as-
sunto afirmam que aquilo que damos a entender com nossos usos linguísticos não está previs-
to de uma vez por todas no sistema da língua, e sim nas formas de vida. Segundo esses estu-
dos, efetivamos o processo de construção de sentido na relação que a linguagem possui com a 
vida social. Eles defendem que não é possível nos referirmos à realidade social se não for por 
meio da linguagem, pois essa é a base de qualquer processo remissivo do que existe no mun-
do. Entretanto, o fornecimento de sentido ao que se escreve ou ao que se fala não depende 
apenas da construção linguística, mas está profundamente imbricado aos fatores de ordem 
sociocognitiva. 
[...] 
 
A REPRESENTAÇÃO SOCIAL POR MEIO DA LINGUAGEM: UM PANORAMA 
 
Hoje, os estudos linguísticos entendem não ser eficaz tratar da relação língua/realidade 
social como, estritamente, um processo de representação, e sim como uma atividade de co-
construção da realidade. No entanto, até essa concepção se firmar, surgiram diversas propostas 
teóricas. Podemos apresentar algumas das mais emblemáticas. 
Na Grécia Antiga, por exemplo, a sociedade já procurava entender essa relação. Platão, 
Aristóteles e os estoicos já teorizavam sobre como a linguagem possui significado na relação 
com o que não é linguístico. 
Essa relação foi pensada pelos gregos a partir da diádica entre um elemento que repre-
senta e um representado. Essa relação se configurava num espelhamento entre um elemento e 
outro, fornecendo a ambos a possibilidade de refletirem entre si. O elemento que representa 
passou a ser chamado de signo daquele que é representado e este se tratava sempre de uma 
coisa a qual se podia representar. 
Os estoicos criaram a tríade de composição do signo, que passou a ser revista, durante 
muitos séculos, por aqueles que pensavam filosoficamente a relação linguagem/realidade soci-
al: o triângulo composto por semaînon (significante ou palavra), semainómenon (significado 
ou sentido atribuído à palavra) e prâgma (objeto que a palavra representa). 
 
NOVAS VISÕES DE MUNDO 
21 
LINGUAGENS E PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
 
 Na contramão dessa teoria grega, um dos nomes de maior importância no que diz respei-
to à relação homem/realidade social foi Emmanuel Kant. Ele deu um passo à frente na teoria 
de Aristóteles quando cunhou o conceito de representação do mundo como uma maneira de 
manifestação da atividade do intelecto ordenar as ideias sob uma imagem comum. Para ele, o 
processo de representar algo é uma forma de juízo sobre o mundo, de manifestar os conceitos 
primitivos do intelecto, por meio dos quais – segundo Kant – o sujeito capta o mundo, deter-
mina-o e o ordena conceitualmente de modo igual a todos. 
Contudo, na primeira metade do século XX, essa concepção foi objeto de crítica de Émi-
le Durkheim ao apontar lacunas na perspectiva kantiana, afirmando que o pensamento racio-
nalista de Kant reduzia as categorias a um processo essencialista e imanentista, sem considerar 
a relação entre o indivíduo e o objeto como uma relação social. Para Durkheim as categorias 
são produzidas por fatores sociais primitivos e são reconhecidas no bojo das teorias sociológi-
cas. 
[...] 
 
ESPELHAMENTO E CONSTRUÇÃO 
 
 O fato é que ao representar o mundo pela linguagem não estamos apenas espelhando a 
realidade social, como uma imagem do que existe, mas também contribuindo para a formação 
dessa realidade, dando sentido e existência a ela, pois toda formação de discurso é uma posi-
ção do indivíduo sobre o mundo, ou, como afirmou o pensador russo Mikhail Bakhtin, todo 
signo é carregado de ideologia e traz consigo uma posição axiológica do indivíduo em relação 
ao que se refere. Para ele, toda palavra é enviesada. Por exemplo, dizer “negro” não é o mesmo 
que dizer “afro” quando nos referimos a um indivíduo de tez escura. Afinal, o que estaria im-
plícito nessas escolhas lexicais? O uso de um ou outro termo não é aleatório, está atrelado a 
fatores de ordem social, cultural e cognitiva que permeiam a interlocução em que tal uso foi 
feito. Desse modo, é possível assegurar que, de acordo com a escolha de um dos termos, o 
processo de atribuição construirá sentidos diferentes, pois os referentes (os objetos do mundo, 
elementos extralinguísticos) serão identificados diferentemente com os atributos culturais do 
que forem denominados – “negro” ou “afro”. 
Esse tipo de reflexão somente é possível se considerarmos que a linguagem é um fenô-
meno que funciona como um processo intersubjetivo, pragmático e ideológico e que se mani-
festa eminentemente como prática social. 
A reflexão acerca da relação entre a linguagem e a realidade social como um vetor que 
emerge dos usos linguísticos e aponta para o mundo, entendendo a língua como um espelha-
22 
EVANDRO LIVRAMENTO 
 
 
 
mento da realidade social, foi o posicionamento teórico que prevaleceu anos a fio nos estudos 
da Linguística durante o século XX e que nos fez crer na produção da linguagem como uma 
maneira de representar as nossas ideias e as coisas do mundo e na compreensão dela como 
uma forma de decodificar a representação mental do produtor (consequentemente o que este 
via no mundo). A língua servia, portanto, como uma maneira de retratar o que havia fora de-
la. Tratava-se de uma postura, essencialmente, dualista acerca da linguagem: de um lado esta-
va a língua e do outro o que ela podia representar. 
 
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 
 
 Nos estudos linguísticos estruturalistas era comum admitir-se a existência de uma Lin-
guística externa e uma Linguística interna, a primeira consistia nos fatos relativos à expansão 
duma língua fora de seu território e a segunda atribuía à língua valor de um sistema que co-
nhece somente a sua ordem própria. Esta foi a perspectiva que prevaleceu durante a primeira 
metade do século XX e que compreendia a atividade linguística comoum funcionamento 
imanente, por excelência, a um sistema de códigos, cuja única relação com sua exterioridade 
era de apontar e refletir, a realidade circundante. Tratava-se de uma concepção de língua co-
mo um sistema que representava a realidade, uma espécie de espelhamento do que existe. 
A Linguística externa dava conta da reflexão que se fazia sobre o que era exterior à lín-
gua e tinha relação com ela, como, por exemplo, os costumes culturais de uma nação que re-
percutiam no uso linguístico. Contrariamente a isso, a Linguística interna deteve-se a falar do 
que, de fato, o Estruturalismo acreditava ser a linguagem – um sistema de códigos – ou seja, 
aquilo que era inerente ao próprio sistema da língua. 
Após o advento das perspectivas enunciativas e sociointeracionistas nos estudos linguís-
ticos, a noção de língua como um sistema de representação deu lugar a conceitos que conside-
ravam a atividade linguística não mais como uma forma de retrato da realidade apenas, mas 
como uma maneira de construir a realidade na interação sociocomunicativa. Para tanto, dis-
puseram-se campos da Linguística engajados numa agenda que privilegia o processo discursi-
vo da atividade linguística, ou seja, muito mais as condições de funcionamento da linguagem 
do que o seu sistema estrutural. 
Isso permitiu a mudança de foco sobre a língua, de uma abordagem intrínseca que con-
cebia a estrutura linguística como uma forma de refletir/representar o extralinguístico para 
uma compreensão de que o uso da língua constrói o que é exterior a ela. Ou seja, abandona-se 
a ideia de que, ao se enunciar algo, aponta-se para esse algo e se assume a concepção de enun-
ciação como um processo que instaura a realidade social. 
Uma tendência em perceber a realidade social como constituída através de práticas lin-
guísticas nos permite, hoje, conceber que a noção de língua como representação da realidade, 
23 
LINGUAGENS E PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
tal qual era usada outrora, não é mais aceita nos estudos linguísticos. Assim, cai por terra o 
conceito de representação no tratamento dado às atividades linguísticas. 
As representações sociais podem ser vistas como estereótipos culturais desenvolvidos na 
atividade discursiva, ou seja, como uma criação de ideias comuns a uma cultura desenvolvidas 
por meio da interlocução. Mas é, principalmente, a capacidade humana para a ação discursiva 
que permite a formação das representações, que significam uma forma de práxis sobre a reali-
dade, e não, apenas, um modo de refleti-la. 
Iran Ferreira de Melo (UFPE) 
Fonte: <http://linguaportuguesa.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/28/artigo209998-4.asp> 
 
Com base no texto de Iran Melo (2015), percebemos, por exemplo, a importância de um 
pensador como Kant, que amplia a visão aristotélica e propõe que o sujeito é capaz de captar o 
mundo, determiná-lo e ordená-lo, no entanto, nunca, de modo igual. Ao que transparece uma 
visão subjetiva de entendimento da relação do sujeito e do mundo como objeto. 
A linguagem, pois, produz a realidade social e não apenas a espelha de forma mecânica e 
objetiva. Ela é um fenômeno intersubjetivo, pragmática e ideológico que se manifesta de for-
ma contundente, na prática social. Toda concepção sobre linguagem pode ser construída, de 
certa forma, sobre esses fundamentos. 
Por outro lado, a linguagem, em um sentido lato, não pode ser restrita à condição hu-
mana, já que podemos nos comunicar com qualquer ser vivo, desde que haja a permissão, 
através da aprendizagem dos códigos pertinentes a cada relação. 
A comunicação entre humanos e animais, por exemplo, corrobora à ideia de que a lin-
guagem não está restrita à questão humana, uma vez que estabelecemos comunicação com os 
mais variados elementos da natureza, que rodeiam nossa convivência e torna cada vez mais 
complexa a interação entre o indivíduo e o mundo. 
 
Texto 1 - LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA 
 
Fonte: <http://kdfrases.com/frase/109550> 
24 
EVANDRO LIVRAMENTO 
 
 
 
 
O texto de Nelson Mandela demonstra a construção da linguagem sob dois aspectos. O 
primeiro é o da razão e situa a linguagem como um extrato da construção humana em que 
basta o reconhecimento dos códigos para que haja um entendimento entre os elementos em 
questão. Nesse caso, a linguagem está sob uma perspectiva racional que materializa os parâ-
metros da comunicação, através dos traços da experiência apenas normativa. 
O segundo aspecto é o que situa a linguagem num plano mais amplo da subjetividade 
em que o simples reconhecimento dos códigos não estabelece a função humana e precípua da 
comunicação: a integração do homem no ambiente de convivência plural, no qual o domínio 
dos códigos é apenas uma parte da comunicação. 
A linguagem não é cumprida na singularidade do sistema linguístico e na racionalização 
de tudo quanto o ser humano constrói. A linguagem também é emocional e se caracteriza pela 
introdução dos comunicantes num plano metafísico da linguagem, que atinge as faculdades 
humanas de forma contundente. 
 
Texto 2 - LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA 
 
Fonte: <http://kdfrases.com/frase/109550> 
No texto de Hobbes, podemos perceber que a linguagem é vista como um extrato hu-
mano que engloba toda a condição filosófica da verdade e da falsidade. Quando ele afirma que 
a verdade e a falsidade são atributos da linguagem e não das coisas, entendemos que nossa 
percepção das coisas engendra a materialização desses dois elementos. A coisa em si não é 
verdadeira ou falsa. Ela é determinada pela consciência de mundo que o comunicante tem e 
por sua interação no mundo material. 
 
 
Você deverá estar lembrado de que há pouco reconhecemos o conceito de Nietzsche 
sobre a linguagem, no qual ele estabelece a construção das vertentes mencionadas por 
Hobbes: a verdade (“designação uniformemente válida e obrigatória das coisas”) e a menti-
ra, sua concepção contrária. 
25 
LINGUAGENS E PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
Quando Hobbes afirma que não há verdade nem falsidade, ele amplia a concepção e 
discute a formatação dada a esses termos pela própria condição moderna e contemporâ-
nea. 
Texto 3 - LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA 
 
Fonte: <http://kdfrases.com/frase/109550> 
No texto de Shelley, vemos a linguagem como uma construção que é a principal matéria 
prima do pensamento. Não há possibilidade do pensar sem a materialização da linguagem e 
de seus elementos constituintes. A partir da elaboração do pensamento forja-se o universo. A 
dimensão desse universo é medida pela compreensão da linguagem e de sua capacidade de 
gerar espaços vazios para a elaboração de novas perspectivas. 
 Essa ideia de pensamento pode gerar discussões produtivas, se a construirmos na pers-
pectiva de que o pensamento é uma das partes densas da consciência. Elaborar e levantar 
questionamentos sobre o pensamento como materialização da linguagem traz a baila as con-
cepções de Marx e seu materialismo histórico na construção e na elaboração do mundo. 
 
 
 
 
Texto 4 - LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA 
 
Fonte: <http://kdfrases.com/frase/109550> 
 
26 
EVANDRO LIVRAMENTO 
 
 
 
As palavras de Johnson corroboram com a expressão de Shelley, no tocante à aliança da 
linguagem e do pensamento como produto um do outro. A linguagem sendo a roupa do pen-
samento possibilita-nos entender que a importância daquela é a de “proteger” esta. 
Isso ainda nos permite relacionar a linguagem, a pensamento e a consciência. 
 
LINGUAGEM VERBAL E LINGUAGEM NÃO VERBAL 
 
Agora, que já entendemos a concepção de linguagem, em várias de suas concepções, 
vamos buscar entender de que maneira ela acontece em nosso contexto. Para tanto, saber 
que as formas verbal e não verbal estão nos cercando em todos os momentos em que pro-
curamos ler o mundo e suas interações.A linguagem pode ser não verbal e verbal. 
A linguagem não verbal torna-se muito mais instintiva para que haja uma boa decodifi-
cação e a compreensão da mensagem. Essa linguagem prescinde das palavras, mas, nem por 
isso, deve ser superficializada, visto que exige uma atenção muito maior, muito mais sensibili-
dade e, claro, mais atributos naturais do que técnicos. 
Em nosso ambiente, existe uma premente necessidade de utilização da linguagem não 
verbal, no intuito de uma comunicação mais ágil e mais profícua. Essa linguagem facilita a 
apreensão do mundo ao nosso redor e nos permite uma interpretação à vida e de nossa pró-
pria cultura. 
 
Fonte: <http://www.zona-s.pt> 
No exemplo acima, podemos analisar as expressões faciais como uma linguagem não 
verbal contundente. Na primeira, há uma expressão de dúvida, de questionamento de algo que 
tenha sido dito e não tenha sido bem recebido por ela. Na segunda, percebemos um tom 
27 
LINGUAGENS E PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
alheio e de “que impaciência!!”, que permite que saibamos que a pessoa não está nem aí. A 
terceira expressão é de muita receptividade e de apreço ao que se está dizendo ou se mostran-
do. A mulher demonstra naturalidade e um quê de alegria na situação. 
 A publicidade explora, de forma muito contundente, essa forma de linguagem, uma 
vez que precisa alcançar um grande número de pessoas de uma só vez. A mídia - e suas con-
cepções de competitividade – compreende, a partir da linguagem não verbal, as necessidades 
do mercado e as torna perceptíveis aos olhos do grande público. 
A propaganda, em nosso contexto, torna-se extremamente necessária porque mostra o 
mundo, de forma direta, a partir de uma linguagem que reflete o indivíduo face às suas pró-
prias fraquezas ou possibilidades. 
 
Fonte: <http://apropagandainfoco.blogspot.com.br/> 
 
Fonte: <http://apropagandainfoco.blogspot.com.br/> 
Os quadros publicitários acima prescindem da estrutura verbal para influenciar a deco-
dificação do leitor a partir das estruturas verbais “invisíveis” que trazem a comunicação implí-
cita. Apesar de haver palavras escritas (e não apenas símbolos), a expressão do significado não 
é pronunciado verbalmente. Há uma ideia implícita do conteúdo e as palavras que estão apre-
sentadas não determinam o significado desse mesmo conteúdo. 
No primeiro quadro, demonstra-se uma forte influência da mídia no indivíduo, mesmo 
nos seus primeiros anos de vida. Há uma impregnação da propaganda no ser humano através 
de sua estrutura física, mental, psicológica. 
No segundo quadro, o refrigerante diet permitiu ao gato emagrecer tanto que o fez en-
trar na toca do rato para apanhá-lo. 
Então, a linguagem não verbal é extensamente necessária no convencimento, na venda e 
no reforço de uma marca ou logotipo. 
28 
EVANDRO LIVRAMENTO 
 
 
 
Existem outros exemplos de linguagem não verbal que são mais conhecidos, os quais 
não utilizam palavras para que se estabeleça a comunicação. 
 
Fonte: <http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=719> 
Fonte: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichatecnicaaula.html?aula=13263> 
 
 
Fonte: <http://www.megacurioso.com.br/publicidade-e-marketing/37750-11-campanhas-publicitarias-supercriativas.htm> 
Esses exemplos são os mais comuns porque não há palavras na figura em questão. Por 
isso são ditas totalmente não verbais. 
A linguagem verbal é aquela que utiliza expressões verbais (palavras). Elas, de forma 
contundente, expressam o conteúdo da comunicação que se quer emitir. Qualquer tipo de 
linguagem fundamenta-se na utilização de um modelo de códigos organizados e relacionados. 
Muitas vezes, enganamo-nos quando achamos que a linguagem verbal é mais utilizada 
do que a não verbal. Isso porque as duas formas de linguagem acontecem sempre simultane-
amente em qualquer contexto em que estejamos. 
 
29 
LINGUAGENS E PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
Fonte: <http://iamvestibulando.blogspot.com.br/2013/03/linguagem-verbal-e-nao-verbal.htm> 
 
Fonte: <http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=134&evento=3#menu-galeria> 
 
Fonte: <http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=134&evento=3#menu-galeria> 
Na linguagem verbal, apesar de termos uma ideia implícita que precisa ser interpretada, 
temos uma expressão muito mais clara daquilo que é dito ou escrito. 
Na primeira situação, a mensagem é extremamente clara e diz: não fume nesta área. 
Não há dúvida sobre a informação dada na placa de aviso. Esse é um caso típico de linguagem 
verbal que conhecemos dentro de nosso contexto. 
Na segunda situação, a mensagem, apesar de implícita, fica clara, uma vez que o con-
texto da carestia é evidente e o aumento da cesta básica inviabilizou sua aquisição pelas classes 
mais baixas. Então, a utilização da elevação (em termos de altura física) da cesta demonstra 
que ela fica inalcançável (em termos de preço) para aquela família; que fica esperando a cesta 
“baixar”. Então, a linguagem não verbal da altura da cesta denota o aumento do preço dela. 
Na terceira situação, a mensagem fica clara, também, por conta do contexto da violên-
cia. Então, quando a criança aparece de escudo e uma proteção para a cabeça, esclarece-se a 
finalidade da charge: a insegurança para se enviar uma criança para a escola, que o mínimo de 
garantia que o Estado pode dar. 
30 
EVANDRO LIVRAMENTO 
 
 
 
A linguagem verbal, então, traz a predominância de uma situação que pode ser traduzi-
da menos pelo instinto, o que não acontece na linguagem não verbal, e mais pelo contexto da 
situação proposta verbalmente. A verbalização propõe, teoricamente, algo mais concreto do 
que a abstração, praticamente obrigatória, da linguagem não verbal. 
Nada disso, todavia, impede que a linguagem verbal ou não verbal possa ser elemento de 
construção de sentidos figurativos em um texto, a depender do sujeito que o constrói; uma vez 
que ele se utiliza de seu conhecimento linguístico para reconhecer e contextualizar os signos 
propostos. 
 
O que fica bastante claro é que as linguagens verbal e não verbal utilizam-se de contex-
to para que possam ser entendidas em seus códigos pertinentes. Há um acordo social que 
nos permite dissociar aquela expressão descrita por uma imagem ou por uma fala. Saiba-
mos distingui-las e identificá-las. 
A seguir, há um exemplo de propaganda que permaneceu no ar durante muitos anos e 
que, para isso, utilizou a construção relativa à língua e à comunicação visual como elementos 
complementares e não sobrepostos e/ou divergentes. 
O telespectador é persuadido principalmente pelas imagens, que, apesar de serem mais 
discretas, funcionam corroborando com o texto escrito. 
Tudo isso permite ao telespectador ler apenas um dos códigos para reconhecer os dois, 
simultaneamente. Essa estratégia é concebida pelo fato de sermos alfabetizados para o texto 
escrito, mas muito pouco para as imagens. 
 
Para você que assistiu ao comercial da Bombril a vida inteira, será divertido entender o 
fenômeno da utilização da linguagem no intuito de persuadir. 
Segundo Kress & van Leeuwen (1996), os significados expressos por meio da língua e da 
comunicação visual se sobrepõem em parte, e, em parte divergem: pode-se dizer algo tanto 
verbal quanto visualmente, mas, outras vezes, o que é dito verbalmente não pode ser dito vi-
sualmente, e vice-versa. Em Bom Bril, e, em muitos outros textos multimodais, os diferentes 
códigos, verbal e visual, não se opõem: ambos constituem significações diferentes, mas com-
plementares. Assim, não se pode ler apenas um dos códigos, pois ambos cooperam na consti-
tuição dos sentidos. 
31 
LINGUAGENS E PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
Como mensagem, que coloca seres humanos em uma relação de comunicação, ainda 
que nãoface a face, o texto publicitário exige, além de uma compreensão, também a sedução 
do leitor. ... por esse motivo que os elementos verbais e não-verbais, dispostos em um anúncio, 
são permeados de estratégias de persuasão que, na maioria das vezes, passam despercebidos 
pelo leitor-consumidor. 
Se as estratégias que circulam entre os elementos verbais ainda passam despercebidas 
pelos leitores, é provável que ainda mais discretos sejam os elementos de persuasão que fazem 
parte dos elementos não-verbais, mais especificamente, das imagens. Isso porque o ser huma-
no é alfabetizado para ler textos escritos, e posteriormente, interpretá-los, mas, com relação 
aos textos não-verbais, não existe a exigência de alfabetizado, acreditando-se que a interpreta-
ção desses deva ocorrer de forma natural, sem interpretações e sem questionamentos. 
FONTE: HTTP://CASCAVEL.CPD.UFSM.BR/TEDE/TDE_ARQUIVOS/16/TDE-2008-02-15T095131Z-
1284/PUBLICO/JULIANA%20PETERMANN.PDF 
 
Fonte: <http://www.santaluzia-online.com/2014/07/nova-fabrica-da-bombril-sera-instalada.html> 
 
Percebemos que a função da linguagem no comercial da Bom Bril é um exemplo autên-
tico de que a linguagem verbal e não verbal tem muitos elementos de convergência, tornando-
o muito mais atrativo. Como foi dito anteriormente, se não houver oposição entre os códigos, 
o telespectador lerá apenas um código para reconhecer os dois. Como o texto acima afirma, 
para decodificar o texto verbal é necessário um nível de alfabetização adequado, no entanto, 
para decodificar o texto não verbal, é necessário que o indivíduo tenha uma leitura de contex-
to, de ambiente. Portanto, a excelência da Bom Bril está em alimentar os dois lados de elemen-
tos que os façam digerir o produto adequadamente. 
O texto publicitário traz um nível de sedução sobre o leitor muito grande, uma vez que 
precisa convergir para a necessidade dele entendendo os parâmetros contextuais e fazendo 
com que o leitor infira naquilo que lhe seja mais pertinente. 
Para confirmar que o leitor pressupõe de seus elementos cotidianos, a fim de buscar o 
entendimento do texto construído, o fragmento a seguir elabora, justamente, a relação entre a 
cultura do indivíduo e a pretensa interpretação dos elementos textuais. 
32 
EVANDRO LIVRAMENTO 
 
 
 
O texto e a cultura individual do sujeito são lidos simultaneamente e absorvidos sem 
preterir seus interesses e seus valores da interpretação e da produção do texto em questão. 
O autor colocará a materialidade do texto como uma gama de significados e também de 
elementos sociocognitivos que imporá uma determinada alocação desse indivíduo em um 
contexto social. 
 
O importante é sempre reconhecer que as determinações semântica, social e cognitiva 
não poderão ser analisadas a despeito das considerações filosófica e histórica do indivíduo. 
No texto que leremos em seguida, entenderemos de que maneira o texto é produzido em 
função e coerência com o contexto. Para tanto, o conceito de cultura deverá ser levado em 
consideração, no intuito de um entendimento mais amplo. 
Para Halliday (1989:10) o texto é definido por seus aspectos funcionais, ou seja, é a lin-
guagem que desempenha algum papel em algum contexto. Para caracterizar o contexto que 
determina o texto que ser produzido, Halliday utiliza as noções de contexto de situação e con-
texto de cultura de Malinowski. Define o contexto de situação como o ambiente do texto ou a 
situação em que o texto é proferido, e o contexto de cultura como o histórico cultural que an-
tecede a produção textual. É possível inferir, assim, que o texto está no contexto de situação e 
esse, por sua vez, está inserido em um contexto de cultura. 
As características do contexto de situação e do contexto de cultura podem ser lidas por 
meio do texto que é produzido nesse âmbito. O texto enquanto materialidade é um processo 
semântico que se manifesta pela linguagem e que se caracteriza tanto por fenômenos linguísti-
cos quanto por fenômenos sociocognitivos, já que “ao usarmos textos, fazemos uso de diferen-
tes tipos de conhecimentos para interagir com outros indivíduos dentro de determinados con-
textos sociais” (Meurer, 1997:14). Em uma situação de comunicação, os textos são 
constituídos pelos participantes a partir da seleção dos elementos linguísticos mais convenien-
tes em um contexto determinado. 
Fonte: <http://cascavel.cpd.ufsm.br/tede/tde_arquivos/16/tde-2008-02-15t095131z-1284/publico/juliana%20petermann.pdf> 
Hoje em dia, os avançados meios de comunicação são objetos de natureza normal e co-
mum, no entanto é interessante entender o histórico da sociedade, a fim de compreender de 
que maneira o atual modelo de mídia conturba e difere as ações sociais. 
Você vai poder analisar e compreender, a partir de sua própria vivência, as transforma-
ções no mundo mediante a contundência das mídias em nosso contexto. 
 
33 
LINGUAGENS E PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
DIFERENTES MÍDIAS 
 
A transformação social dos últimos vinte e cinco anos, certamente, está envolvida com 
as novas concepções e os novos modelos de mídia que se tem contato, hoje em dia. 
Na verdade, o acesso criou um novo mecanismo de vislumbrar o mundo e as pessoas em 
nosso redor. Transformar o mundo a partir das novas tendências midiáticas é conceber um 
novo mundo de possibilidades todo o tempo. 
É claro que a televisão é o principal motivador de lazer e de aquisição conhecimento, 
mas ela tem dividido muito mais essa condição com o maior acesso à internet; até mesmo pe-
las pessoas com menor poder de renda. 
Cada dia que passa, a própria educação que nos forma impele-nos a nos imbuir mais 
desse mundo de oportunidades infinitas que fica muito mais transparente aos nossos olhos. 
Em muitos casos, o conceito de liberdade e de felicidade já se confunde com a descrição da 
necessidade das diversas mídias em nossas vidas. 
A produção de conhecimento, nos dias de hoje, na prática, passa muito pela televisão e 
pela rede mundial – a internet -, por conseguinte o impacto que elas promovem em nossas 
vidas precisa ser dimensionado, no intuito de que tenhamos mais possibilidades de reconhe-
cer o contexto e de aplicar sobre ele nossa própria condição de sujeitos interativos. 
Dados do IBOPE demonstram o quanto esse impacto é significativo e que, certamente, a 
influência é direta e contundente. 
É notório que outros meios que interferem em nossa produção, como Rádios, Revistas, 
Jornais Impressos também são muito fortes. Assim mostra a pesquisa IBOPE. 
 
 
Você deve ter olhos bem apurados para conseguir tirar dessa pesquisa a análise mais 
profunda que te levará a entender o contexto sob uma óptica mais madura e equilibrada. 
A seguir, analisaremos alguns dados compostos pelo IBOPE, nos quais são reveladas as 
preferências pelos diversos meios de comunicação, em relação à idade, escolaridade e renda. 
Não é exagero nenhum dizer que a internet faz cada vez mais parte da vida dos brasilei-
ros, porém, ainda é a televisão a preferida entre eles. De acordo com a Pesquisa Brasileira de 
Mídia 2014 – Hábitos de Consumo de Mídia Pela População Brasileira, a TV é o principal 
meio de comunicação para 76,4% das pessoas, as quais alcança em 97%. 
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EVANDRO LIVRAMENTO 
 
 
 
Em segundo lugar, aí sim, aparece a internet com 13,1% da preferência, sendo que 47% 
da população têm o hábito de usá-la. Enquanto entre os jovens de 16 a 25 anos a predileção 
pela “telinha” cai em 70%, para essa mesma faixa etária, há uma crescente de 25% em relação 
à rede mundial de computadores. 
O estudo realizado pelo IBOPE por encomenda da Secretaria de Comunicação Social 
(Secom) da Presidência da República, revelou que a navegação está atrelada a 3 fatores: 
Idade: Entre o público de 16 a 25 anos 80% têm acesso à web. Já entre aqueles com mais 
de 55 anos nem 20% a utiliza.Renda: Entre os respondentes com renda superior a cinco salários mínimos, 78% usam 
a internet em casa, enquanto o acesso nos domicílios com menos de um salário mínimo se 
limita a 16%. Com relação à navegação semanal, 75% do primeiro grupo a pratica, contra ape-
nas 21% do segundo. 
Escolaridade: 87% dos entrevistados com nível superior afirmaram navegar na rede pe-
lo menos uma vez por semana, sendo que 84% dos domicílios deste grupo contam com acesso 
a ela. Na outra ponta, somente 8% daqueles que cursaram até a 4ª série têm contato com a web 
ao menos uma vez por semana. 
O levantamento mostrou ainda que entre as regiões do país a sudoeste é a que conta 
com maior penetração da internet. Já na nordeste, só pouco mais de 1/3 tem acesso à rede. 
Alcance x Preferência 
 
Para evitar confusão entre essas duas questões, é bom separá-las mais claramente, en-
volvendo inclusive as outras mídias citadas na pesquisa: 
Alcance: 1. TV – 97% dos entrevistados veem TV; 2.RÁDIO – 61% têm o costume de 
ouvir rádio; 3. INTERNET – 47% têm o hábito de acessar a internet; 4. JORNAL – 25% leem 
jornal;5. REVISTA – 15% folheiam páginas de revistas. 
Preferência: 1. TV – meio preferido para 76,4% da população; 2. INTERNET – 13,1%; 3. 
RÁDIO – 7,9%; 4. JORNAL – 1,5%; 5. REVISTA – 0,3%; Outras respostas somam 0,8%. 
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LINGUAGENS E PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
Vale destacar que o brasileiro com acesso à rede mundial de computadores dedica mais 
tempo a ela do que a qualquer outro meio de comunicação. A navegação diária leva 3h39. Já 
em frete à TV são 3h29; ao lado do rádio, 3h07; e segurando o jornal, 1h05. 
Credibilidade dos meios para notícias 
 
Quando o assunto é “notícia” os veículos tradicionais saem na frente. 53% dos entrevis-
tados disseram confiar sempre ou muitas vezes no que leem nos jornais impressos. 50% con-
fiam nas notícias divulgadas no rádio; 49% confiam nas notícias televisivas; 40% nas publica-
das em revistas; 28% nas que saem nos sites; 24% nas que circulam pelas redes sociais; e 22% 
confiam nos blogs. 
O cenário relacionado à propaganda não é muito diferente, uma vez que a ordem de 
confiança é praticamente a mesma: Jornal, Rádio, TV, Revistas, Sites, Redes Sociais e Blogs. 
Para realizar a pesquisa o IBOPE ouviu 18.312 pessoas maiores de 16 anos em 848 
municípios, nos 26 estados e Distrito Federal, entre os dias 12 de outubro e 6 de novembro de 
2013. A margem estimada de erro é de 1 ponto percentual, assumindo o intervalo de confian-
ça de 95%. 
Fonte: <http://agenciafosforo.com.br/2014/03/midias-vida-brasileiros-pesquisa-ibope-2014/> 
A educação reflete o domínio da mídia em todos os ambientes de nossa vida e o desco-
nhecimento dessa estrutura será um passo atrás em relação ao desenvolvimento da própria 
estrutura social. 
A escola é a microssociedade mais evidente e mais concreta que existe, por isso ela é a 
medida exata de todo o contexto que nos rodeia e nos modifica, face à tensão promovida pelo 
avanço das mídias em todos os ambientes. 
A interação entre diferentes linguagens e mídias é um importante fator para a formação 
crítica de alunos do ensino básico. Nas disciplinas de Literatura e Língua Portuguesa, por 
exemplo, adaptações cinematográficas de obras literárias podem ser instrumentos para levan-
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EVANDRO LIVRAMENTO 
 
 
 
tar discussões e estimular o interesse pelos textos. Contudo, como indica estudo desenvolvido 
pela professora Eliana Nagamini, a combinação de uma série de elementos tanto estruturais, 
quanto socioeconômicos e individuais, tornam difícil para muitos docentes a utilização desses 
recursos audiovisuais no processo de ensino. 
A pesquisa de Eliana englobou questionários e entrevistas com 91 professores de Língua 
Portuguesa e Literatura do Ensino Médio de sete escolas da rede estadual de ensino de São 
Paulo. O trabalho integrou a tese de doutorado Comunicação em diálogo com a literatura: 
mediações no contexto escolar, desenvolvida no Programa de Pós Graduação em Ciências da 
Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da USP, com orientação do professor Adil-
son Odair Citelli. 
A análise das respostas dos docentes permitiu à pesquisadora identificar os diversos fa-
tores, chamados mediações, que se combinam para modelar o ambiente educacional, interfe-
rindo na adoção das adaptações audiovisuais em sala de aula. “São alguns fatores que dificul-
tam o contato desse professor com as adaptações e a formação do professor preocupado com 
questões da mídia”, conta. 
 
Mediações no ambiente educacional 
Entre as primeiras circunstâncias identificadas, está a infraestrutura das escolas, defici-
ente em espaços para o trabalho com recursos audiovisuais, como salas de vídeo, dificultando 
a frequência na integração entre as mídias em classe. Outro fator determinante é o próprio 
funcionamento das escolas: a grade horária muitas vezes impede a apresentação de uma obra 
cinematográfica por inteira e a análise aprofundada das duas formas de discurso. Eliana Na-
gamini resume: “Há uma abertura nas diretrizes de ensino para o trabalho com adaptações e 
outros discursos, mas esbarra no cotidiano mais miúdo da sala de aula, que nem sempre per-
mite que o professor faça o trabalho mais adequado”. 
Há também mediações em função do próprio contexto socioeconômico dos professores. 
Elian cita a longa jornada de trabalho de muitos docentes, o que impede maior dedicação à 
preparação de aulas que proponham o diálogo entre literatura e cinema. Outra lacuna, de 
acordo com ela, estaria também na própria formação do professor no Brasil. “Poucos cursos 
de licenciatura sistematizam a discussão sobre a mídia”, relata. A continuidade da formação, 
por sua vez, também sofre interferência da ‘falta de tempo’ do profissional. 
Todas essas mediações não apenas impedem a utilização de produtos cinematográficos 
em sala de aula, mas permeiam e limitam alguns trabalhos existentes. Predominantemente, 
explica Eliana Nagamini, o uso das adaptações se dá por forma de fragmentos ilustrativos, 
existindo grande preocupação com a fidelidade. 
 
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LINGUAGENS E PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
Diálogo com o mundo exterior 
Com o devido espaço e desenvolvimento, ações educacionais envolvendo uma obra lite-
rária e sua adaptação poderiam ir além da simples ilustração e identificação de pontos coinci-
dentes. Para Eliana, o grande potencial deste tipo de atividade para a educação estaria na ex-
ploração dos desvios. “A adaptação é interessante porque são linguagens e processos de 
produção e recepção diferentes. Quando a obra cinematográfica opera os desvios, ali é que 
está a sua riqueza”, diz. 
Isto, ela relata, além de promover o interesse do estudante pela obra escrita, contribuiria 
ainda mais para sua formação crítica, ao discutir na escola elementos e textos com os quais os 
alunos tem contato no mundo exterior: “A escola precisa se abrir e dialogar com o mundo de 
fora”. Mas para que isso ocorra, ela ressalta, o mundo de fora também precisa repensar a esco-
la, para que se superem as dificuldades no ensino e novas ações e projetos educacionais sejam 
possíveis. 
Imagem: Marcos Santos / USP Imagens 
Fonte: <http://www.usp.br/agen/?p=107762> 
Entendemos, através da concepção do texto anterior, que o diálogo entre a sociedade e 
os processos educativos necessita da interação entre as diferentes mídias, no intuito de criar 
um ambiente de formação crítica. 
A internet é uma concepção de mídia já estabelecida como um viés absolutamente viável 
na construção do conhecimento. O que resta entender é a forma como a internet é utilizada 
para a descoberta de novos caminhos. 
No caso do texto a seguir, discute-se o alcance que o rádio consegue ao se aliar com a 
rede de comunicação mais utilizada no mundo. 
A partir da presença do rádio na internet, muitos pesquisadorestêm buscado entender e 
tipificar esta nova mídia. Pelo viés da tecnologia, poderíamos nomear dois modelos de Radio-
fonia: 1. Radiofonia analógica: emissoras que realizam transmissões analógicas através de ir-
radiação e modulação das ondas eletromagnéticas, também chamadas de rádios hertzianas; 2. 
Radiofonia digital: a) emissoras de rádio hertzianas com transmissão digital e b) emissoras de 
rádio com existência exclusiva na internet ou webradios. No caso específico deste trabalho, o 
objeto é o rádio digital com transmissão pela internet, que denominamos webradio. 
Podemos afirmar que existem hoje três modelos de rádio e a pesquisa deste trabalho 
fundamenta-se nesse pressuposto: 1. Emissoras hertzianas; 2. Emissoras hertzianas com pre-
sença na internet e 3. Emissoras com presença exclusiva na internet, as webradios. 
Quando se fala que o futuro da radiofonia está na digitalização, provavelmente a refe-
rência não seja exatamente o rádio digital hertziano. A tão propalada revolução que deveria 
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EVANDRO LIVRAMENTO 
 
 
 
ser provocada pelo rádio digital hertziano, possivelmente vai demorar muito para acontecer 
aqui no Brasil. 
As mudanças tecnológicas vieram tarde demais e o avanço da internet pode jogar por 
terra as expectativas em torno dessa nova forma de fazer e ouvir rádio. Em 2005, o Núcleo de 
Pesquisa em Rádio e Mídia Sonora da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da 
Comunicação (Intercom) criou um grupo para pesquisar exclusivamente a implantação do 
rádio digital no Brasil e os resultados, apresentados nos congressos da entidade realizados em 
Brasília, em 2006 e Santos, em 2007, mostraram que o rádio digital, em nosso país, está apenas 
engatinhando, e há pouco interesse real das emissoras em implantar essa nova tecnologia. 
Os levantamentos apontam que as emissoras estão tímidas com relação aos investimen-
tos e temerosas quanto à receptividade do público. De qualquer forma, o rádio digital deverá 
ser implantado no Brasil em 2008 mas, certamente, o termo "revolução" é pesado demais para 
definir o processo. 
O rádio digital, na verdade, oferece possibilidades, além de uma melhor qualidade de 
som, de recursos que ampliam os formatos de programação atualmente conhecidos e novos 
canais de interatividade. O rádio na web é também uma forma de radiofonia digital, só que 
muito mais ampla, muito mais dinâmica, que abarca um número maior de novas possibilida-
des de gêneros e formas de interação. 
A webradio também é de fácil operacionalização e manuseio, fatores determinantes para 
o sucesso de qualquer tecnologia. Não é à toa que hoje em dia a transmissão radiofônica via 
internet faz parte do dia-a-dia de associações, ONGs, comunidades diversas e universidades, 
sendo tarefa impossível precisar o número de emissoras que estão na rede. Quando se fala que 
o futuro do rádio é digital, percebe-se que isto não quer dizer necessariamente a digitalização 
das ondas hertzianas, mas uma nova forma de transmissão que se dá pela internet. 
Fonte: <http://www.ufrgs.br/estudioderadio/wp-admin/textos/webradio_novos_generos.pdf> 
 
A LÍNGUA 
 
É preciso entender o contexto da produção da Língua como um terreno dinâmico de 
estrutura e conceitos e ampliar a compreensão de que ela é muito mais do que uma repre-
sentação de códigos e símbolos. 
Neste capítulo do módulo, traremos uma gama de textos representativos para a dis-
cussão mais extensa e condizente com a realidade qualitativa e quantitativa da Língua. 
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LINGUAGENS E PRODUÇÃO DE TEXTO 
 
 
 
A representação da Língua, no domínio da expressão da comunicação, é, no mínimo, 
complexa, visto que a Língua é uma representação social repleta de significados e carregada de 
história. A língua viva é geográfica, é literária, é filosófica e detém a maior carga de humani-
dade, no processo de comunicação. 
Para entender o significado de língua e de linguagem, é fundamental compreender que a 
comunicação se estabelece, a partir do momento em que esses conceitos não são antagônicos, 
mas sim equivalentes, em sua essência, incluindo o atributo da fala, que é uma ação cerebral 
característica. 
Conceituando a língua apenas como um instrumento da comunicação, perdemos muito 
desse conceito, porque a língua é a expressão máxima da cultura e do extrato humano. Ela 
pode representar liberdade, como também pode ser a representação de um domínio de um 
povo por outro. Ela pode demonstrar o caráter marcante de uma sociedade, no entanto pode 
enfraquecer a personalidade individual ou coletiva. 
A língua é, portanto, um sistema de signos cujo seu funcionamento repousa sobre um 
certo número de regras, de correções. É um código que pretende estabelecer uma comunica-
ção entre emissor e receptor. Um sistema de signos construídos pela associação de imagens 
auditivas a conceitos determinados. E para compreendê-la, é fundamental discernir da fala, o 
qual será definido posteriormente. 
Para desvendar esta complexidade, o estudioso francês Roland Barthes, mestre da semi-
ologia, completa a definição Saussure definindo língua como “a linguagem menos a fala”. 
Sendo uma instituição social e um sistema de valores, para Barthes, a língua é “uma instituição 
social, ela é parte social e não premeditada da linguagem; o indivíduo, por si só, não pode nem 
a criar nem a modificar, trata-se essencialmente de um contrato coletivo ao qual temos que 
nos submeter em bloco se quisermos comunicar”. 
Em Cours de Linguistique Générale, Saussure explicou: "para nós, ela não se confunde 
com a linguagem; é somente uma parte determinada. Ela é, ao mesmo tempo, um produto 
social da faculdade da linguagem e um conjunto de conversões necessárias, adotadas pelo cor-
po social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. A língua constitui-se algo 
adquirido e convencional. Pode-se dizer, faz a unidade da linguagem". 
Portanto, a língua, distinta da fala, é um objeto que se pode compreender separadamen-
te. Enquanto que a linguagem é heterogênea. A língua é um sistema de signos que exprimem 
ideias, e é comparável, por isto, à escrita, ao alfabeto dos surdos-mudos, aos ritos simbólicos, 
aos sinais militares, etc. Pode ser também, "um sistema de sinais acústicos orais, que funciona 
na intercomunicação de uma coletividade", define Carlota Ferreira e Suzana Cardoso em A 
dialética no Brasil (Ed. Contexto). 
 
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Carlos Santos (UESB) 
Fonte: <http://www.filologia.org.br/anais/anais%20iv/civ12_5.htm> 
Então, no fragmento de Carlos Santos (2015), vimos que, para Barthes linguagem é a 
língua distinta da fala e a língua é uma instituição social que se premedita a partir da concep-
ção da linguagem. A língua é um contrato coletivo proposto para que um grupo social consiga 
se comunicar. 
Diferente de Saussure, ainda no texto de Carlos Santos (2015), para quem a Linguagem e 
a Língua não se confundem. A língua é um produto social, um conjunto de conversões neces-
sárias ao processo de comunicação humana. A língua ainda pode ser compreendida separada 
da fala, sem superar a heterogeneidade da linguagem. 
A língua produz sentido não somente a partir de sinais acústicos como também através 
de ritos simbólicos e sinais não acústicos que conectam uma coletividade inteira que a reco-
nhece e a produz. 
Por isso, a língua é entendida como uma edificação cultural que reflete o conhecimento 
socialmente construído. 
No texto seguinte, entenderemos o conceito de cultura como criação de um ambiente de 
interação, no qual os sujeitos estão em constante e profunda (inter) relação. 
Na concepção descritiva a cultura é um conjunto inter-relacionado de crenças, costu-
mes, formas de conhecimento, artes, etc., que são adquiridos pelos sujeitos enquanto mem-
bros da sociedade particular e que podem ser estudadas cientificamente. Essas crenças e

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