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Aula 02 63

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1- PERSONALIDADE JURÍDICA DE DIREITO INTERNACIONAL: 
A questão da personalidade internacional é objeto de grande 
controvérsia doutrinária, estando longe de um consenso. A doutrina 
tradicional, representada por Francisco Rezek, atribui personalidade 
internacional apenas aos Estados e às organizações internacionais. 
 No entanto, com a evolução da sociedade internacional, a grande 
tendência é considerar que são sujeitos de direito internacional os 
Estados, as organizações internacionais e os indivíduos. O 
reconhecimento da personalidade internacional dos indivíduos decorre da 
evolução do direito internacional dos direitos humanos, que já reconhece que o 
indivíduo possa peticionar perante cortes internacionais ou mesmo ser 
penalmente responsabilizado pelo TPI (Tribunal Penal Internacional). 
Embora apenas os Estados, as organizações internacionais e os 
indivíduos sejam considerados sujeitos de DIP, há outras entidades que 
participam da sociedade internacional. É o caso, por exemplo, das empresas 
transnacionais e das ONG’s, que são, então, reconhecidas como atores 
internacionais. 
Os sujeitos de DIP (Estados, organizações internacionais e indivíduos) 
não possuem as mesmas prerrogativas. Os Estados podem celebrar 
tratados sobre quaisquer assuntos; já as organizações internacionais somente 
celebram tratados em áreas relacionadas às suas finalidades. Os indivíduos, 
por sua vez, não têm capacidade para celebrar tratados. 
Segundo Rezek1, o Estado constitui uma realidade física, já que 
possui um espaço territorial onde convive uma comunidade de seres humanos. 
Ele é dotado de uma dimensão material e independe de qualquer documento 
para sua existência fática. Por isso, dizemos que sua personalidade jurídica 
é originária, pois precede mesmo a própria Constituição (documento). 
Por sua vez, as organizações internacionais possuem 
personalidade jurídica derivada, estas não existiriam caso não houvesse 
vontade dos Estados em criá-las. Enquanto os Estados são uma realidade 
física, as organizações internacionais são uma criação jurídica. 
As organizações internacionais passaram a ser consideradas sujeitos 
de direito internacional em meados do século XX, mais precisamente em 1949. 
Naquele ano, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) emitiu um parecer 
consultivo quanto à possibilidade da ONU apresentar uma reclamação perante 
o governo responsável pelo assassinato do Conde Folke Bernadotte 
(representante da ONU no Oriente Médio). Entendeu a Corte Internacional de 
Justiça (CIJ) que a ONU possuía personalidade jurídica internacional e, 
1 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. 
São Paulo: Saraiva, 2008 
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portanto, teria legitimidade para reivindicar a reparação de danos. Por 
reconhecer a personalidade jurídica de direito internacional das organizações 
internacionais, esse Parecer Consultivo pode ser considerado um marco no 
âmbito do direito das gentes. 
 
2- ESTADOS: 
2.1- Generalidades: 
O Estado é o sujeito de direito internacional por excelência, ou seja, é 
considerado o mais importante dentre os entes dotados de personalidade 
internacional. Dentre os sujeitos de DIP, o Estado é o único que possui plena 
capacidade jurídica no plano internacional. 
O Estado, conforme afirmamos anteriormente, possui 
personalidade jurídica originária de direito internacional público. Tal 
constatação deriva do entendimento de que a existência dos outros sujeitos de 
direito internacional encontra fundamento no Estado. As organizações 
internacionais, por exemplo, dependem de um tratado constitutivo celebrado 
por Estados para serem criadas. Os indivíduos, por sua vez, possuem um 
vínculo político-jurídico com um Estado conhecido como nacionalidade. 
Segundo a doutrina majoritária, os elementos constitutivos do 
Estado são o território, o povo e o governo soberano.2 
 
a) Território: 
O território é a dimensão física sobre a qual o Estado exerce sua 
jurisdição geral e exclusiva, ou seja, a dimensão material onde ele exerce 
seus poderes. Geral porque, no âmbito do seu território, o Estado exerce todas 
as competências de ordem legislativa, administrativa e jurisdicional. Exclusiva, 
porque tais competências são exercidas sem qualquer concorrência por parte 
de outro poder. A jurisdição do Estado sobre seu território não é, todavia, 
absoluta, uma vez que há pessoas e bens que não se submetem ao 
poder estatal, como, por exemplo, os diplomatas, as missões diplomáticas e 
organismos internacionais. 
 
 
2 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: 
Editora Juspodium, 2009 
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b) Povo: 
O povo é a dimensão pessoal do Estado, não se confundindo com a 
sua população. Enquanto esta é formada pelo conjunto de pessoas que vivem 
com ânimo definitivo no seu território, incluindo nacionais e estrangeiros, a 
dimensão pessoal do Estado (povo) compreende a comunidade nacional, ou 
seja, o conjunto de seus nacionais. Na dimensão pessoal do Estado estão 
incluídos, inclusive, os nacionais que tenham se estabelecido no exterior. 
Segundo Rezek3, o Estado exerce inúmeras competências inerentes à 
sua jurisdição territorial sobre os estrangeiros residentes. Já em relação aos 
seus nacionais, o Estado exerce jurisdição pessoal, em virtude do vínculo 
jurídico-político que une o indivíduo ao Estado: a nacionalidade. 
 
c) Governo soberano: 
O governo é a dimensão política do Estado e é quem exerce o poder 
soberano estatal. A Paz de Westfália (1648), conforme já afirmamos 
anteriormente, é considerada um importante marco do direito internacional. E 
o é justamente porque os tratados celebrados naquela ocasião reconheceram 
pela primeira vez o poder soberano dos Estados sobre seus territórios, 
excluindo qualquer ingerência externa. 
A soberania é, portanto, atributo essencial do Estado, garantindo que 
sua vontade não se subordine a qualquer outro poder nos planos interno e 
internacional. Com efeito, na ordem jurídica internacional não existe um 
poder superior ao dos Estados, o que torna a sociedade internacional 
descentralizada. Os Estados são independentes para definir sua política 
interna, bem como suas ações no plano internacional. 
A soberania guarda correlação direta com o princípio da igualdade 
entre os Estados, o qual está insculpido na Carta das Nações Unidas. Nas 
palavras de Portela4, o poder soberano representa uma “supremacia 
sobre pessoas, bens e relações jurídicas dentro de um determinado 
território”. Todavia, percebe-se, na atualidade, uma flexibilização do conceito 
de soberania. Não cabe mais falar em poder ilimitado do Estado, uma vez que 
a ordem jurídica interna e mesmo a ordem jurídica internacional impõem 
restrições à ação estatal. 
O direito internacional humanitário é, atualmente, um campo em 
que se pode perceber uma destacada interferência internacional nas questões 
internas. A título ilustrativo, destacamos a autorização do Conselho de 
3 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. 
São Paulo: Saraiva, 2008
4 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: 
Editora Juspodium, 2009 
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Segurança da ONU para a intervenção armada na Líbia, em razão das 
violações aos direitos humanos cometidas pelo governo ditatorial daquele país. 
 
2.2 - Classificação dos Estados: 
Podemos classificar os Estados em dois grupos no que se refere à 
sua estrutura: simples e compostos – sendo que estes últimos podem ser 
subdivididos em compostos por coordenação e compostos por subordinação. 
Vejamos o que significa cada um desses conceitos! 
Os Estados simples ou unitários são aqueles que possuem 
completa soberania no tocante às questões no plano internacional e, ao 
mesmo tempo, não apresentam divisões de autonomia no tocante às questões 
internas. Trata-se da forma mais comum de Estado, sendo o tipo existente na 
maioria dos Estados latino-americanos. Exemplos de Estados simples são 
Uruguai, Chile, Peru, Portugal e França. 
Modernamente, nos Estados simples, embora não haja unidades 
políticas autônomas, é comum haver uma descentralização administrativa. 
Assim, as decisões políticas estão concentradas no poder central e a execução 
das políticas é delegada a unidades administrativas sem autonomia. Nesse 
caso, trata-se de um Estado simples descentralizado. Ressaltamos que, 
quando o poder central é exercido com exclusividade e abrange todas as 
funções de índole administrativa, tratar-se-á de um Estado simples 
centralizado. 
Os Estados compostos, por sua vez, se dividem em Estados 
compostos por coordenação e Estados compostos por subordinação. 
Como ponto comum a esses dois modelos de Estado, destacamos que eles 
congregam dentro de si vários Estados independentes ou províncias 
autônomas, sob a égide de um mesmo governo soberano. 
Os Estados compostos por coordenação são formados ou por uma 
associação de Estados soberanos ou ainda por uma união de estados 
federados. Nos Estados compostos por coordenação, a soberania é exercida 
somente pelo órgão central, sendo que cada um dos Estados conserva a 
autonomia em suas questões internas. Um exemplo bem claro de Estado 
composto por coordenação é o próprio Brasil, que possui inúmeras unidades 
estatais (Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro...) que possuem apenas 
autonomia na ordem interna, com a conservação do poder soberano nas mãos 
da União. Outro exemplo seria uma confederação de Estados, diferenciando-se 
do modelo federativo pelo fato de que nesta os Estados que a compõem não 
perdem sua individualidade no plano internacional, continuando plenamente 
detentores de sua soberania. 
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A Comunidade Britânica de Nações, embora seja uma associação de 
Estados, não pode ser classificada como um Estado composto por 
coordenação. Em verdade, todos os Estados integrantes da Comunidade 
Britânica de Nações são plenamente soberanos e dotados de igualdade política 
no plano internacional. 
As unidades estatais autônomas em uma federação não 
possuem personalidade jurídica de direito internacional, já que não 
possuem soberania. Mesmo que o ordenamento jurídico interno de um país 
outorgue competência para essas unidades estatais agirem no plano 
internacional, elas não adquirem personalidade jurídica de direito 
internacional, pois esta é uma regra de direito interno e quem, em última 
análise, irá responder no plano internacional será o poder central (União 
Federal). 
No Brasil, compete à União manter relações com Estados estrangeiros 
e participar de organizações internacionais. Apesar disso, admite-se que os 
Estados, o Distrito Federal e os Municípios realizem operações 
externas de natureza financeira como, por exemplo, a aquisição de 
empréstimos junto ao BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e 
Desenvolvimento). Entretanto, tais operações possuem natureza contratual 
(e não convencional) e são condicionadas à atuação da União, pois faz-se 
necessário a participação do Brasil na entidade e, ainda, a conclusão de um 
acordo de garantia. A realização desse tipo de operação externa de natureza 
financeira está, ainda, sujeita à autorização do Senado Federal, conforme art. 
52, inciso V, da CF/88. 
Os Estados compostos por subordinação não mais existem hoje 
em dia. Trata-se dos Estados vassalos, protetorados e Estados clientes. Tais 
Estados não possuíam soberania plena, donde vem o uso da expressão 
“composto por subordinação”. Nesse tipo de Estado, existe de um lado um 
ente dotado de plena soberania e de outro uma coletividade que dele depende. 
No século XX, com vistas a regularizar a situação das colônias, a Liga 
das Nações e a ONU estabeleceram a administração destas sob a forma de 
mandato e de tutela, respectivamente. As colônias eram territórios que 
passaram então a estar submetidos à administração de uma determinada 
soberania. Certas potências receberam o encargo de administrar estes 
territórios, promovendo-lhes o desenvolvimento até o momento em que 
reunissem condições de acesso à independência plena. O objetivo era 
descolonizá-los, momento em que passariam a gozar de plena soberania e, 
portanto, iriam adquirir personalidade jurídica de direito internacional. 
Devido ao exíguo tamanho de seus territórios, alguns Estados são 
chamados de micro-Estados. Citamos Andorra (468 km2), Liechtenstein (160 
km2), San Marino (61 km2), Nauru (21 km2) e Mônaco (2 km2). Segundo 
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Rezek5, não se pode negar que estes Estados sejam soberanos, já que suas 
instituições políticas são estáveis e seus regimes corretamente estruturados. 
Entretanto, por serem tão pequenos, partes expressivas das competências 
desses micro-estados são confiadas a outro Estado, normalmente um Estado 
vizinho, como a França, no caso de Mônaco. 
 
2.3- Imunidade à Jurisdição Estatal: 
2.3.1- Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961 x 
Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1963: 
Os representantes de um Estado perante o outro gozam de certos 
privilégios e garantias, os quais estão previstos atualmente na Convenção de 
Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961 e na Convenção de Viena sobre 
Relações Consulares de 1963. 
Em primeiro lugar, cabe-nos destacar a diferença entre o serviço 
diplomático e o serviço consular. Qual a diferença entre um diplomata e 
um cônsul? Em rápidas palavras, podemos dizer que o diplomata é o 
representante do Estado em suas relações internacionais, enquanto o 
cônsul é o responsável por oferecer aos nacionais proteção e 
assistência no exterior – assuntos privados. Assim, o diplomata representa 
o Estado de origem frente à soberania local, enquanto o cônsul representa o 
Estado de origem para o fim de cuidar, onde atue, de interesses privados. 
Para que possam exercer com tranquilidade suas funções no exterior, 
esses representantes do Estado possuem certos privilégios e garantias. 
Esses privilégios e garantias representam uma espécie de imunidade de 
jurisdição, ou seja, definem situações em que o Estado soberano não poderá 
submeter os representantes de outros Estados à sua jurisdição. 
Várias teorias existem sobre o fundamento e a natureza jurídica 
das imunidades diplomáticas e consulares. Afinal de contas, por que os 
diplomatas e cônsules possuem privilégios e garantias? Será que é somente 
para beneficiá-los? Seria uma espécie de prêmio? 
A resposta mais aceita atualmente é dada pela Convenção de Viena 
sobre Relações Diplomáticas, que, encampa, em seu preâmbulo, a doutrina 
funcional estabelecendo que: 
“Reconhecendo que a finalidade de tais privilégios e imunidades não é 
beneficiar indivíduos, mas, sim, a de garantir o eficaz desempenhodas funções 
das missões diplomáticas, em seu caráter de representantes dos Estados;” 
5 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. 
São Paulo: Saraiva, 2008
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Segundo Mazzuoli, as imunidades diplomáticas e consulares são 
baseadas na ficção da extraterritorialidade. Se, por ficção, os agentes 
diplomáticos e consulares são considerados representantes do soberano que os 
envia, também por ficção devem ser considerados como estando fora do 
território em que atuam. 6 
A Convenção de Viena de 1961 (sobre relações diplomáticas) 
prevê privilégios e garantias bem mais extensos do que a Convenção de 
Viena de 1963. Para ilustrar isso, Rezek apresenta o seguinte raciocínio, que, 
por sua didática, transcrevemos a seguir: 
“É indiferente ao direito internacional o fato de que inúmeros países – 
entre os quais o Brasil – tenham unificado as duas carreiras, e que 
cada profissional da diplomacia, nesses países, transite 
constantemente entre funções consulares e funções diplomáticas. A 
exata função desempenhada em certo momento e em certo país 
estrangeiro é o que determina a pauta de privilégios. Assim, ao 
jovem diplomata brasileiro que atue como terceiro-secretário de 
nossa embaixada em Nairobi aplica-se a Convenção de 1961 – não a 
de 1963 -, e ele terá uma cobertura mais ampla que aquela de goza o 
cônsul geral do Brasil em Nova York, veterano titular de um dos 
postos mais disputados da carreira.” 7 
 
a) Privilégios diplomáticos: 
A Convenção de Viena de 1961 estabelece dois tipos de prerrogativas 
para o serviço diplomático: as aplicáveis à missão diplomática e as 
aplicáveis aos agentes diplomáticos. 
Os locais da missão diplomática são invioláveis (art.22), isto é, 
os agentes do Estado acreditado8 não poderão neles penetrar sem o 
consentimento do Chefe da missão. Ademais, os locais da Missão, seu 
mobiliário e demais bens neles situados, assim como os meios de transporte 
da Missão, não poderão ser objeto de busca, requisição, embargo ou 
medida de execução. Também os arquivos, os documentos e a 
correspondência oficial da Missão são invioláveis. 
6 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010 
7 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. 
e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. 
8 Estado acreditado é aquele que recebe os agentes diplomáticos e consulares; 
Estado acreditante é aquele que envia os agentes diplomáticos e consulares. 
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No que diz respeito aos tributos, o Estado acreditante e o Chefe da 
Missão estão isentos de todos os impostos e taxas incidentes sobre os 
locais da Missão. Além disso, os direitos e emolumentos que a Missão 
perceba em razão da prática de atos oficiais (como a concessão de 
vistos) estarão isentos de todos os impostos ou taxas. 
E os privilégios aplicáveis aos agentes diplomáticos? Quais são eles? 
Os agentes diplomáticos gozam de inviolabilidade pessoal e 
domiciliar, isto é, não podem ser objeto de qualquer forma de prisão ou 
detenção e, ainda, sua residência particular goza da mesma proteção que os 
locais da missão. Eles também não podem ser obrigados a prestar 
depoimento como testemunha. 
Os agentes diplomáticos gozam de ampla imunidade de jurisdição 
penal, sendo esta absoluta. Isso quer dizer que, em hipótese alguma, um 
diplomata que cometa um crime no Estado acreditado poderá ser preso, 
processado e julgado por esse Estado estrangeiro. Os agentes diplomáticos 
também possuem imunidade de jurisdição civil e administrativa, as 
quais, todavia, não são absolutas, tendo sido restringidas pelo art. 31 da 
Convenção de Viena: 
Artigo 31 
1. O agente diplomático gozará da imunidade de jurisdição penal do 
Estado acreditado. Gozará também da imunidade de jurisdição civil e 
administrativa, a não ser que se trate de: 
a) uma ação sobre imóvel privado situado no território do Estado 
acreditado, salvo se o agente diplomático o possuir por conta do 
Estado acreditante para os fins da missão; 
b) uma ação sucessória na qual o agente diplomático figure, a título 
privado e não em nome do Estado, como executor testamentário, 
administrador, herdeiro ou legatário; 
c) uma ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade 
comercial exercida pelo agente diplomático no Estado acreditado fora 
de suas funções oficiais. 
Na hipótese da alínea “a”, o diplomata possui um imóvel privado no 
Estado acreditado e sobre ele é impetrada uma ação. Nesse caso, não haverá 
imunidade de jurisdição civil por parte do diplomata, a menos que ele o possua 
para os fins da missão. 
Na hipótese da alínea “b”, por sua vez, há uma ação sucessória 
sobre um imóvel na qual o diplomata figura a título estritamente privado. 
Como ele não está, nesse caso, desempenhando funções estatais, ele não terá 
a imunidade de jurisdição civil. 
Por fim, na hipótese da alínea “c”, o diplomata exerce uma 
profissão liberal ou atividade comercial no Estado acreditado que não tem 
qualquer relação com suas funções oficiais e há uma ação em que ele esteja 
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envolvido. Nesse caso, por estar envolvido novamente a título privado, ele 
também não irá gozar de imunidade de jurisdição. Cabe registrar, quanto a 
esse ponto, que o agente diplomático não pode exercer no Estado 
acreditado nenhuma atividade profissional ou comercial em proveito 
próprio (art. 42). 
Os agentes diplomáticos também gozam de imunidade tributária, 
mas esta diz respeito unicamente aos tributos diretos, não se aplicando aos 
tributos indiretos. Não é porque o sujeito é diplomata que ele não vai precisar 
pagar o ICMS referente a uma televisão que ele adquirir, ok? Além disso, a 
entrada no Estado acreditado de objetos destinados ao uso oficial da 
Missão e de objetos destinados ao uso pessoal do agente diplomático ou 
dos membros de sua família é livre de direitos aduaneiros e outras taxas 
(art.36). 
Todos os privilégios dos agentes diplomáticos em matéria civil, 
administrativa, penal e tributária estendem-se aos membros das 
respectivas famílias. Destaque-se que o conceito de família não foi definido 
pela Convenção de Viena de 1961. Assim, para fazer jus à extensão dos 
benefícios, esses indivíduos deverão ter seus nomes relacionados em uma 
“lista diplomática”. 
Os membros do quadro administrativo e técnico9 da Missão 
gozam de inviolabilidade pessoal e domiciliar, ampla imunidade de jurisdição 
penal, imunidade civil, administrativa e tributária. No entanto, a imunidade 
de jurisdição civil e administrativa dos membros do quadro administrativo 
e técnico da Missão se aplica exclusivamente aos atos praticados no 
exercício de suas funções. Tais privilégios são concedidos exclusivamente 
aos membros do quadro administrativo e técnico que não sejam nacionais do 
Estado acreditado nem nele tenham residência permanente. 10 
Os membros do pessoal de serviço da Missão diplomática, por 
sua vez, somente farão jus às imunidades (penal, civil, administrativa) em 
relação aos atos praticados no exercício de suas funções e desde que 
não sejam nacionais do Estado acreditado nem nele tenham residência 
permanente. 
É, meus amigos! Como vocês podem ver, esses representantes de 
um Estado perante o outro gozam de inúmeros privilégios. Mas será que só por 
isso eles podem ficar desrespeitandoas leis do país onde tenham se 
estabelecido? 
9 Como exemplos de membros do quadro administrativo e técnico de uma missão 
diplomática podemos citar os Oficiais de Chancelaria e os Assistentes de Chancelaria. 
10 É comum que a Missão diplomática tenha como funcionários em seu quadro 
administrativo e técnico nacionais do Estado acreditado. Esses indivíduos não farão 
jus às imunidades previstas na Convenção de Viena de 1961. 
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É claro que não! A Convenção de Viena estabelece o primado do 
direito local, segundo o qual, embora imune ao processo, um diplomata 
deverá observar as leis do país em que se encontra. Não é porque um 
diplomata está imune ao processo civil ou penal que ele vai transgredir uma 
norma do país onde se encontra, ok? Essa é a interpretação que devemos 
fazer do art. 31, parágrafo 4º da Convenção de Viena de 1961, que estabelece 
que: “A imunidade de jurisdição de um agente diplomático no Estado 
acreditado não o isenta da jurisdição do Estado acreditante.” 
“Entendi, Ricardo! Agora me diga o seguinte: e se um diplomata 
americano representando seu país cometer um crime aqui no Brasil? Ele pode 
renunciar à sua imunidade? 
Excelente pergunta! Não, ele não pode! Somente o Estado 
acreditante pode renunciar à imunidade processual, nunca o próprio 
beneficiário da imunidade! E você sabe por quê? 
Porque o Estado acreditante quer, na verdade, manter a 
exclusividade em julgar aquele que “sujou” seu nome. Mas também seria difícil 
o diplomata renunciar à sua imunidade para deixar-se ir preso, não é mesmo? 
Embora não possa prender o diplomata estrangeiro (em razão da 
imunidade de jurisdição penal), o Estado acreditado possui outra forma de 
mostrar sua reprovação ao agente diplomático: por meio da declaração de 
persona non grata. 
O art. 9º da Convenção de Viena de 1961 estabelece que “o Estado 
acreditado poderá a qualquer momento, e sem ser obrigado a justificar 
a sua decisão, notificar ao Estado acreditante que o Chefe da Missão ou 
qualquer membro do pessoal diplomático da Missão é persona non 
grata ou que outro membro do pessoal da missão não é aceitável.”. 
Percebam, amigos, que a declaração de persona non grata independe de 
qualquer processo administrativo prévio, ou seja, independe da observância do 
devido processo legal. 
O Estado acreditado não é obrigado a aceitar os agentes 
diplomáticos enviados pelo Estado acreditante. Ao contrário, antes 
mesmo que esse agente diplomático adentre seu território, ele poderá ser 
declarado persona non grata. 
Há que se mencionar, ainda, que existe um processo próprio para a 
nomeação dos chefes das missões diplomáticas (os embaixadores). A 
Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas prevê que o Estado 
acreditante deverá se certificar de que a pessoa que pretende nomear para 
chefe da missão diplomática perante o Estado acreditado obteve o 
“agrément”. O “agrément” é um ato unilateral por meio do qual o Estado 
acreditado, discricionariamente, indica que aceita a indicação de 
embaixador feita pelo Estado acreditante. 
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b) Privilégios consulares: 
A Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1963 estabelece 
privilégios e imunidades bastante parecidos aos aplicáveis aos agentes 
diplomáticos. Entretanto, tais privilégios e imunidades são bem mais restritos. 
No que diz respeito à imunidade penal, os funcionários 
consulares não poderão ser detidos ou presos preventivamente, exceto 
em caso de crime grave e em decorrência de sentença de autoridade judiciária 
competente. Os funcionários consulares e empregados consulares também 
podem ser presos em decorrência de sentença judiciária definitiva, 
salvo em razão de atos praticados no exercício de suas funções oficiais. Assim, 
podemos dizer que a imunidade penal dos funcionários consulares abrange 
apenas os atos praticados no exercício das funções consulares. Se um cônsul 
cometer um crime de homicídio, ele poderá ser preso; já se ele falsificar um 
passaporte (exercício de seu ofício), estará amparado pela imunidade. 
Da mesma forma, a imunidade civil dos cônsules e funcionários 
consulares está limitada ao exercício de suas funções. No que diz respeito à 
imunidade tributária, ela é semelhante à que fazem jus os agentes 
diplomáticos, abrangendo apenas os tributos diretos. Os locais consulares 
são invioláveis na medida estrita de sua utilização funcional, e gozam de 
imunidade tributária. Os arquivos e documentos consulares, a exemplo dos 
diplomáticos, são invioláveis em qualquer circunstância e onde quer que se 
encontrem. 
É fundamental destacarmos que os privilégios consulares não são 
extensíveis a suas famílias. (IMPORTANTE!!!) Isso porque as imunidades 
outorgadas aos funcionários consulares pela Convenção de Viena de 1963 se 
limitam aos atos praticados no exercício de suas funções. 
 
2.4- Imunidade de Jurisdição estatal: 
A imunidade de jurisdição é um atributo dos Estados, segundo o 
qual eles não podem ser submetidos ao Poder Judiciário de um outro 
Estado estrangeiro. Há um tempo atrás, considerava-se que a imunidade de 
jurisdição estatal era absoluta em razão da aplicação do conceito do “par in 
parem non habet judicium”, considerada regra costumeira de direito 
internacional. Essa expressão em latim significa que não há jurisdição entre os 
pares, isto é, um Estado não se submete à jurisdição de outro Estado. 
Todavia, o entendimento doutrinário e jurisprudencial dominante 
flexibilizou a antes absoluta imunidade de jurisdição estatal. Assim, o 
entendimento que prevalece no atual contexto do direito internacional é o de 
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que a imunidade de jurisdição somente abrange os atos de império, 
não alcançando os atos de gestão. A limitação da imunidade de jurisdição 
de Estado estrangeiro aos atos de império já é considerada por vários autores 
como uma norma consuetudinária de direito internacional. 
Nesse contexto, faz-se necessário diferenciar quando um Estado 
pratica um ato de império e um ato de gestão. Segundo Portela11, atos de 
império são aqueles que o Estado pratica no exercício de suas prerrogativas 
soberanas. Já os atos de gestão são aqueles exercidos pelo Estado em 
igualdade de condições com os particulares. Dentre os atos de gestão, 
podemos citar os que se referem a aluguel e compra de bens móveis e 
imóveis, contratação de prestadores de serviços e de empregados e, ainda, as 
causas relativas à responsabilidade civil. Assim, pode-se afirmar que não há 
imunidade de jurisdição nas causas relativas à responsabilidade civil, 
tendo em vista que estas têm natureza de atos de gestão. 
Quanto à imunidade de jurisdição de Estado estrangeiro, cabe 
destacar importante entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF). 
Segundo a Corte Constitucional, não há que se falar em imunidade de 
jurisdição do Estado estrangeiro diante de casos levados à Justiça do 
Trabalho. 
Imaginem só, amigos, o caso de um funcionário brasileiro de uma 
embaixada estrangeira aqui no Brasil. Se o Estado estrangeiro não fizer o 
pagamento de férias a esse funcionário, como ficará a situação? Ele terá que 
entrar contra o Estado estrangeiro perante a Justiça do Trabalho! Ih, mas o 
Estado estrangeiro goza de imunidade de jurisdição! Não, nos casos levados à 
Justiça do Trabalho, o STF decidiu que há uma exceção à imunidade de 
jurisdição do Estado estrangeiro. 
Além das lidestrabalhistas, entende a doutrina que os demais atos 
de gestão – aquisição de bens móveis e imóveis, por exemplo – não são 
abrangidos pela imunidade de jurisdição estatal. Assim, nestes casos, o 
Estado estrangeiro estará sujeito à jurisdição brasileira. 
Mas será que há possibilidade de renúncia do Estado à imunidade de 
jurisdição? Sim, existe essa possibilidade! O Estado poderá renunciar à 
imunidade de jurisdição, submetendo-se ao Poder Judiciário 
estrangeiro. Destaque-se, todavia, que, se houver renúncia à imunidade no 
processo de conhecimento, isso não implica renúncia à imunidade no processo 
de execução, em relação ao qual se exigirá nova renúncia. 
 
2.5- Imunidade de Execução: 
11 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: 
Editora Juspodium, 2009. 
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É fundamental não confundirmos “imunidade de jurisdição” com 
“imunidade de execução”. Enquanto a imunidade de jurisdição impede que um 
Estado seja submetido ao Poder Judiciário de outro Estado, a imunidade de 
execução é atributo estatal que lhe garante a proteção dos seus bens 
no exterior. A imunidade de execução impede que os bens do Estado 
estrangeiro sejam executados, em virtude de serem invioláveis. 
Vamos supor que um funcionário de nacionalidade brasileira de uma 
repartição diplomática estrangeira no Brasil tenha ficado sem receber seus 
salários durante 5 (cinco) meses e decide acionar o Estado estrangeiro no 
Poder Judiciário local. Nesse caso, como se trata de uma causa de 
natureza trabalhista, não há imunidade de jurisdição do Estado 
estrangeiro (entendimento já consolidado no STF). Logo, o Estado 
estrangeiro será julgado pelo Poder Judiciário brasileiro, especificamente pela 
Justiça do Trabalho. Imaginemos, ainda, que o Poder Judiciário reconheceu o 
direito do funcionário. Findo o processo de conhecimento, partimos, então, 
para o processo de execução. 
E agora? Como é que a fica a situação? 
Bem, o Estado estrangeiro se submeteu à jurisdição brasileira, tendo 
sido condenado. No entanto, todos os bens desse Estado estão gravados por 
cláusula de inviolabilidade. Nesse rumo, a jurisprudência do STF considera que 
a imunidade de execução do Estado estrangeiro é absoluta. O resultado 
disso é que, mesmo havendo uma decisão contrária a um Estado estrangeiro 
em uma lide trabalhista, esta poderá não ter efetividade, tendo em vista a 
impossibilidade de se fazer a cobrança judicial em processo 
executório. Apesar disso, pode ocorrer (como, de fato, já ocorreu na prática!) 
de o Estado estrangeiro, voluntariamente, pagar a dívida trabalhista em 
questão. 
Destaque-se, ainda, que, caso o Estado estrangeiro tenha 
renunciado à imunidade de jurisdição, isso não implica renúncia da sua 
imunidade de execução. Assim, se houve renúncia à imunidade no processo 
de conhecimento, será necessária nova renúncia no processo de execução, 
sem o que a sentença não será cumprida. 
 
 
1. (FGV / XXI Exame de Ordem – 2016) Aurélio, diplomata 
brasileiro, casado e pai de dois filhos menores, está em vias de ser 
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nomeado chefe de missão do Brasil na capital de importante Estado 
europeu. 
À luz do disposto na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, 
promulgada no Brasil por meio do Decreto nº 56.435/65, assinale a 
afirmativa correta. 
a) A nomeação de Aurélio pelo Brasil não depende da anuência do Estado 
acreditado, visto se tratar de uma decisão soberana do Estado acreditante. 
b) Mesmo se nomeado, o Estado acreditado poderá considerar Aurélio persona 
non grata, desde que, para tanto, apresente suas razões ao Estado 
acreditante, em decisão fundamentada. Se acolhidas as razões apresentadas 
pelo Estado acreditado, Aurélio poderá ser retirado da missão ou deixar de ser 
reconhecido como membro da missão. 
c) Os privilégios e as imunidades previstos estendidos à mulher e aos filhos de 
Aurélio cessam de imediato, na hipótese de falecimento de Aurélio. 
d) Se nomeado, a residência de Aurélio gozará da mesma inviolabilidade 
estendida ao local em que baseada a missão do Brasil no Estado acreditado. 
Comentários: 
Letra A: errada. A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas prevê que 
o Estado acreditante deverá se certificar de que a pessoa que pretende 
nomear para chefe da missão diplomática perante o Estado acreditado 
obteve o “agrément”. 
O “agrément” é um ato unilateral por meio do qual o Estado acreditado, 
discricionariamente, indica que aceita a indicação de embaixador feita pelo 
Estado acreditante. Assim, a nomeação de Aurélio pelo Brasil depende da 
anuência do Estado acreditado (“agrément”). 
Letra B: errada. O Estado acreditado poderá, a qualquer momento, notificar 
ao Estado acreditante que o chefe da missão ou qualquer membro do pessoal 
diplomático da missão é persona non grata. No entanto, o Estado acreditado 
não precisará fundamentar sua decisão. 
Letra C: errada. Sabemos que as imunidades diplomáticas são estendidas 
aos membros da família do diplomata. Havendo falecimento de um membro da 
missão diplomática, os membros de sua família continuarão no gozo das 
imunidades a que têm direito até a expiração de um prazo razoável que 
lhes permita deixar o território do Estado acreditado. 
Letra D: correta. A residência particular do agente diplomático goza da 
mesma inviolabilidade e proteção que os locais da missão. 
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O gabarito é a letra D. 
2. (FGV / XII Exame de Ordem Unificado – 2013) Um agente 
diplomático comete um crime de homicídio no Estado acreditado. A 
respeito desse caso, assinale a afirmativa correta. 
a) Será julgado no Estado acreditado, pois deve cumprir as leis desse Estado. 
b) Poderá ser julgado pelo Estado acreditado desde que o agente renuncie a 
imunidade de jurisdição. 
c) Em nenhuma circunstância pode ser julgado pelo Estado acreditado. 
d) Poderá ser julgado pelo Estado acreditado, desde que o Estado acreditante 
renuncie expressamente à imunidade de jurisdição. 
Comentários: 
Letra A: errada. Os agentes diplomáticos possuem imunidade penal 
absoluta. Apesar de ter que cumprir as leis do Estado acreditado, o agente 
diplomático não julgado neste. 
Letra B: errada. O agente diplomático não pode renunciar à sua 
imunidade. Apenas o Estado acreditante é que poderá fazê-lo. 
Letra C: errada. É possível, excepcionalmente, que o agente 
diplomático seja julgado pelo Estado acreditado, na situação em que o Estado 
acreditante renunciar à imunidade de jurisdição. 
Letra D: correta. Exatamente isso! O Estado acreditante poderá 
renunciar expressamente à imunidade de jurisdição. Nesse caso, o diplomata 
poderá ser julgado pelo Estado acreditado. 
3. (Procurador BACEN-2001) Paul Reuter define tratado 
internacional como sendo “uma manifestação de vontades 
concordantes, atribuídas a dois ou mais sujeitos de direito 
internacional, e destinada a produzir efeitos jurídicos em 
conformidade com as normas de direito internacional”. Assinale a 
opção em que figurem, tão só, exemplos de sujeitos de direito 
internacional. 
a) Estados, Santa Sé ou Estado do Vaticano, organizações não-governamentais 
(ONGs) e indivíduos. 
b) Estados, organizações internacionais e empresas multinacionais. 
c) Estados, Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e Santa Sé ou Estado do 
Vaticano. 
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d) Estados, Organização das Nações Unidas (ONU) e ONGs. 
e) Indivíduos, ONGs, organizações internacionais e Santa Sé ou Estado do 
Vaticano. 
Comentários: 
São sujeitos de DIP os Estados, as organizações internacionais 
(dentre as quais o MERCOSUL) e a Santa Sé ou Estado do Vaticano. A resposta 
é a letra C. 
4. (Juiz Federal- 3ª Região-2006) Em uma ação promovida contra 
um Estado estrangeiro deve o juiz: 
a) julgar-se incompetente e enviar a ação para o Tribunal Superior. 
b) determinar a citação do representante legal do Estado. 
c) indeferir a inicial por falta de jurisdição. 
d) encaminhar a inicial ao Ministério das Relações Exteriores. 
Comentários: 
Em uma ação promovida contra um Estado estrangeiro, o juiz deverá 
determinar a citação do representante legal do Estado (letra B), a partir do que 
será dado início ao procedimento de apuração da imunidade de jurisdição. A 
legislação processual brasileira não prevê a possibilidade de indeferimento da 
inicial em razão de falta de jurisdição. 
5. (FGV / V Exame de Ordem Unificado – 2011) A embaixada de um 
estado estrangeiro localizada no Brasil contratou um empregado 
brasileiro para os serviços gerais. No final do ano, não pagou o 13º 
salário, por entender que, em seu país, este não era devido. O 
empregado, insatisfeito, recorreu à Justiça do Trabalho. A ação foi 
julgada procedente, mas a embaixada não cumpriu a sentença. Por 
isso, o reclamante solicitou a penhora de um carro da embaixada. 
Com base no relatado acima, o Juiz do Trabalho decidiu: 
a) deferir a penhora, pois a Constituição atribui competência à justiça brasileira 
para ações de execução contra Estados estrangeiros. 
b) indeferir a penhora, pois o Estado estrangeiro, no que diz respeito à 
execução, possui imunidade, e seus bens são invioláveis. 
c) extinguir o feito sem julgamento do mérito por entender que o Estado 
estrangeiro tem imunidade de jurisdição. 
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d) deferir a penhora, pois o Estado estrangeiro não goza de nenhuma 
imunidade quando se tratar de ações trabalhistas. 
Comentários: 
O Estado estrangeiro goza de imunidade de jurisdição absoluta no 
que diz respeito aos atos de império. No entanto, nos atos de gestão, o 
Estado estrangeiro goza de imunidade de jurisdição relativa. 
Segundo o STF, não há que se falar em imunidade de jurisdição 
do Estado estrangeiro diante de casos levados à Justiça do Trabalho. 
Assim, é plenamente possível que a Justiça do Trabalho julgue controvérsias 
trabalhistas envolvendo Estado estrangeiro. 
Embora a imunidade de jurisdição do Estado estrangeiro seja relativa 
nas lides trabalhistas, é importante saber que a imunidade de execução do 
Estado estrangeiro ainda é considerada absoluta. Nesse sentido, os bens do 
Estado estrangeiro são invioláveis, motivo pelo qual, na situação apresentada 
pela questão, o juiz deverá indeferir a penhora. A resposta é a letra B. 
 
3- ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS: 
3.1- Generalidades: 
Uma das grandes tendências evolutivas do Direito Internacional do 
pós-Segunda Guerra Mundial é a institucionalização, que se caracteriza pelo 
fato de que ele deixa de regular apenas as relações interestatais, tornando-se 
mais presente nas organizações internacionais.12 
A complexidade das relações internacionais advinda da globalização 
gerou nos Estados a percepção de que há problemas comuns da 
humanidade, os quais não podem ser resolvidos por nenhum deles 
isoladamente. Segundo Accioly, as organizações internacionais multiplicam-se 
à medida que aumenta a conscientização a respeito dos problemas 
especificamente internacionais. Tais problemas, por não poderem ser 
enfrentados por um só Estado, exigem a cooperação internacional13. Nesse 
sentido, como forma de dar efetividade aos acordos celebrados, criando 
uma estrutura capaz de monitorá-los, e, ao mesmo tempo, estabelecer um 
foro para discussões, os Estados criam as organizações internacionais. 
12 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São 
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 
13 ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E do Nascimento & CASELLA, Paulo Borba. Manual de 
Direito Internacional Público, 17ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009 
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Embora as primeiras organizações internacionais tenham surgido no 
século XIX, foi somente a partir da segunda metade do século XX que estas 
começaram a proliferar. Atualmente, as Organizações Internacionais são 
consideradas importantes sujeitos de direito internacional público e sua 
relevância no cenário internacional cresce cada vez mais, fruto do aumento das 
relações internacionais e da cooperação entre os Estados. 
Mas qual seria a definição de organização internacional? 
A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969 
estabelece um conceito bem simples, segundo o qual as organizações 
internacionais são organizações intergovernamentais. Apesar de não estar 
errado, a doutrina majoritária entende que esse conceito não é suficiente para 
descrever essas entidades. 
Um conceito bem mais complexo nos é apresentado por Mazzuoli, 
segundo o qual organização internacional é uma “associação voluntária de 
Estados, criada por um convênio constitutivo e com finalidades pré-
determinadas, regida pelas normas do direito internacional, dotada de 
personalidade jurídica distinta da dos seus membros, que se realiza em 
organismo próprio, dotada de autonomia e especificidade, possuindo 
ordenamento jurídico interno e órgãos auxiliares, por meio dos quais realiza os 
propósitos comuns dos seus membros, mediante os poderes próprios que lhes 
são atribuídos por estes.“14 
Bem extenso esse conceito, não é mesmo? De fato, ele é bem 
complexo, mas nos permite identificar as principais características das 
organizações internacionais. São elas: 
1) São associações voluntárias de Estados: As organizações 
internacionais surgem como consequência da manifestação de vontade de 
sujeitos de direito internacional público, isto é, de Estados. Dessa forma, não 
podem ser constituídas de pessoas jurídicas de direito interno, sejam elas 
pessoas físicas ou jurídicas. 
Nesse ponto, deve-se fazer uma distinção entre as organizações 
internacionais e as ONG’s. As ONG’s, embora possam ter forte atuação 
internacional, são pessoas jurídicas de direito interno e podem ter, em sua 
constituição, entes diversos dos Estados. 
2) São criadas por convênio constitutivo: As organizações 
internacionais surgem a partir da celebração de tratados multilaterais, os quais 
são usualmente denominados tratados constitutivos. O tratado constitutivo é o 
que dá vida a uma organização internacional, podendo ser considerado uma 
verdadeira “Constituição” para esse organismo. 
14 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010 
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É no tratado constitutivo que se define, dentre outros, a estrutura da 
organização, o processo decisório, os objetivos e as competências dos seus 
órgãos. Para Rezek, a existência de uma organização internacional tem apoio 
no seu tratado constitutivo, cuja principal virtude consiste em haver-lhe dado 
vida.15 
Por vezes, o tratado que institui uma organização internacionallhe 
atribui explicitamente personalidade jurídica de direito internacional. 
Entretanto, isso não é algo que seja obrigatório e a personalidade jurídica das 
organizações internacionais nasce, muitas vezes, de forma implícita, a partir 
da definição de seus órgãos e respectivas competências. Se uma organização 
internacional possui capacidade para celebrar tratados em seu próprio nome, 
existe aí forte indicativo de sua personalidade internacional. 
3) Possuem personalidade jurídica distinta da dos seus 
membros: As organizações internacionais possuem personalidade jurídica 
de direito internacional derivada, já que surgem a partir da vontade de 
alguns Estados, que as criam por meio de um tratado, o qual podemos chamar 
de tratado constitutivo. 
Em virtude de terem personalidade jurídica própria, as organizações 
internacionais possuem autonomia em suas decisões, as quais são emanadas 
abstraindo-se da vontade individual de cada um de seus membros em prol de 
uma vontade coletiva. Assim, diz-se que as organizações internacionais 
possuem vontade própria, independente da vontade de seus membros. 
Modernamente, as decisões das organizações internacionais são 
consideradas, por parte da doutrina, como fonte do direito 
internacional público, apesar de não terem sido relacionadas pelo art. 38 do 
Estatuto da CIJ. 
Por possuírem personalidade jurídica de direito internacional, as 
organizações internacionais possuem capacidade para usufruir direitos e 
contrair obrigações no plano internacional. Nesse sentido, possuem 
capacidade para celebrar tratados, a qual está regulada pela Convenção de 
Viena de 1986. 
A atuação no plano internacional dessas organizações não é 
tão ampla quanto a dos Estados soberanos. Enquanto os Estados podem 
celebrar tratados relativamente a qualquer objeto, contanto que este seja lícito 
(que não viole as normas jus cogens), as organizações internacionais detêm 
capacidade convencional restrita, limitada aos objetivos e propósitos para os 
quais foram criadas.16 
15 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª ed, rev. e atual. 
São Paulo: Saraiva, 2008 
16 VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público, São Paulo: Saraiva, 2009
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4) São instituições permanentes: As organizações internacionais 
são entidades criadas com objetivos determinados em seu tratado constitutivo 
e, portanto, devem ser estruturadas para alcançá-los. Nesse sentido, seria 
incoerente que as organizações internacionais fossem entidades de natureza 
“ad hoc”. Inegavelmente, a estabilidade das relações internacionais reclama a 
existência de instituições permanentes, adequadamente estruturadas para 
alcançar determinados fins. 
 
3.2- Classificação das Organizações Internacionais: 
As organizações internacionais são entidades com objetivos e áreas 
de atuação diferenciadas. Algumas delas exercem suas funções somente em 
âmbito regional; outras têm alcance universal, não ficando sua atuação 
limitada a uma região. 
Segundo Francisco Rezek17, as organizações internacionais podem ser 
classificadas quanto ao seu alcance e quanto ao seu domínio temático. Quanto 
ao alcance, elas podem ser organizações internacionais de alcance 
universal ou organizações internacionais de alcance regional. 
Organizações internacionais de alcance universal seriam aquelas que 
têm uma propensão para reunir em torno de si a totalidade dos Estados 
soberanos. Como exemplos de organizações internacionais de alcance 
universal podemos citar a ONU (Organização das Nações Unidas), a OMC 
(Organização Mundial de Comércio), a OMA (Organização Mundial de Aduanas) 
e a OIT (Organização Internacional do Trabalho) 
Organizações internacionais de alcance regional, ao contrário, são 
aquelas que reúnem unicamente países de uma determinada região, como por 
exemplo, a OEA (Organização dos Estados Americanos), o BID (Banco 
Interamericano de Desenvolvimento) e o MERCOSUL. 
Quanto ao domínio temático, podemos classificar as organizações 
internacionais em organizações de vocação política ou organizações de 
vocação específica. 
As organizações internacionais de vocação política são aquelas que 
têm como objetivo principal a preservação da paz e segurança mundiais. Como 
exemplos de organizações internacionais de vocação política podemos citar a 
ONU (Organização das Nações Unidas) e a OEA (Organização dos Estados 
Americanos). 
17 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. 
São Paulo: Saraiva, 2008 
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As de vocação específica, por sua vez, seriam aquelas que se ocupam 
de temas mais especializados – finalidade econômica, financeira, cultural ou 
estritamente técnica. Exemplos de organizações internacionais de vocação 
específica seriam a OMC (Organização Mundial de Comércio), a OIT 
(Organização Internacional do Trabalho) e a OMA (Organização Mundial de 
Aduanas). 
As organizações internacionais de alcance universal e domínio 
específico são as “agências especializadas” da ONU – UNESCO, UNICEF, 
FAO. Normalmente, os mesmos membros que fazem parte da ONU integram 
também essas organizações internacionais de alcance universal e domínio 
específico, o que permite que decisões tomadas no âmbito da ONU 
estabeleçam diretrizes para essas organizações. Cabe destacar que as 
agências especializadas da ONU possuem personalidade jurídica de 
direito internacional própria. 
As organizações internacionais de alcance regional e domínio político 
são aquelas que buscam, em escala regional, manter a paz e a segurança 
entre seus membros – OEA (Organização dos Estados Americanos) e OUA 
(Organização da Unidade Africana), por exemplo. 
As organizações internacionais de alcance regional e domínio 
específico seriam as organizações regionais de cooperação e integração 
econômica, como a União Europeia, a ALADI (Associação Latino-Americana de 
Integração), o NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) e o 
MERCOSUL. 
Segundo a classificação de Accioly18, as organizações internacionais 
podem ter objetivos generalizados ou específicos. A ONU seria o melhor 
exemplo de organização de objetivos generalizados, possuindo esfera de 
atuação que se estende a várias áreas diferentes – cooperação econômica, 
social, política e científica. 
Ainda segundo o mesmo autor, as organizações internacionais podem 
classificar-se segundo o seu processo decisório em supranacionais e 
intergovernamentais. Exemplo de organização supranacional é a União 
Europeia, que possui órgãos que proferem decisões que são automaticamente 
vinculantes e obrigatórias para todos os Estados-membros, 
independentemente de ratificação. O MERCOSUL, por sua vez, é uma 
organização intergovernamental, o que resulta no fato de que as decisões de 
seus órgãos deverão ser internalizadas no ordenamento jurídico de todos os 
seus membros para que possam entrar em vigor. 
As organizações internacionais também podem ser classificadas, 
quanto à participação dos Estados, em abertas ilimitadamente (é possível o 
18 ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E do Nascimento & CASELLA, Paulo Borba. Manual de 
Direito Internacional Público, 17ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009
!∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −.
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ingresso de qualquer Estado), abertas limitadas (é autorizado o ingresso de 
apenas alguns Estados) ou fechadas (não se permite o ingresso de nenhum 
Estado além dos membrosoriginários). 19 
 
 
3.3- Relação entre as organizações internacionais e Estados: 
Ao contrário dos Estados, que possuem um território, as organizações 
internacionais são, nas palavras de Rezek20, carentes de uma base territorial. 
Nesse sentido, para que possam desempenhar suas atividades, é 
necessário que os órgãos constitutivos das organizações internacionais sejam 
instalados fisicamente no território de algum Estado. Para que a organização 
internacional se instale, no entanto, no território desse Estado, é necessário a 
celebração de um tratado bilateral entre este e a organização, conhecido como 
acordo de sede. Cabe destacar que o acordo sede pode ser celebrado entre a 
organização internacional e qualquer Estado, que não precisa, 
necessariamente, ser um Estado-membro. 
Nada impede que uma organização internacional celebre vários 
acordos de sede e seus órgãos estejam localizados em países diferentes. A 
ONU, por exemplo, celebrou acordos de sede não só com os Estados Unidos – 
onde está localizada sua sede principal -, mas também com a Suíça – o seu 
escritório na Europa está localizado em Genebra – e com os Países Baixos – a 
Corte Internacional de Justiça está instalada em Haia. 
As organizações internacionais possuem privilégios tanto no seu lugar 
de sede quanto no território de outros Estados, sejam estes Estados-membros 
ou não. Os representantes das organizações internacionais gozam de 
privilégios semelhantes àqueles concedidos aos integrantes do corpo 
diplomático de um Estado. Da mesma forma, as instalações e os bens 
móveis das organizações internacionais possuem a garantia de 
inviolabilidade. 
Com relação à imunidade à jurisdição, há uma diferença essencial 
quanto à forma que esta se aplica aos Estados e às organizações 
internacionais. Conforme já estudamos, a doutrina mais moderna considera 
que o Estado somente possui imunidade à jurisdição quanto pratica atos de 
império (e não quando pratica atos de gestão!). Seguindo essa ideia (de 
imunidade relativa), o STF já decidiu que o Estado estrangeiro não goza de 
imunidade à jurisdição brasileira em causas de natureza trabalhista. 
19 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010 
20 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª ed, rev. e atual. 
São Paulo: Saraiva, 2008 
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Para a doutrina, as organizações internacionais também gozam de 
imunidade à jurisdição estatal. No entanto, trata-se aqui de imunidade 
absoluta, que engloba assuntos de natureza trabalhista ou qualquer outro. 
Dessa forma, no caso das organizações internacionais, as causas de natureza 
trabalhista não excepcionam a regra imunizante. Cabe destacar que, ao 
contrário do que ocorre em relação aos Estados – cuja imunidade deriva de 
regra costumeira -, a imunidade das organizações internacionais decorre de 
seu tratado constitutivo ou de tratados bilaterais específicos.21 
 
3.4 - Sanções: 
Se um membro age contrariamente aos princípios e normas de uma 
organização internacional, este deverá ser sancionado. Sua atitude 
desrespeitosa para com a organização e para com os outros membros não 
poderá simplesmente “passar em branco.” 
As formas de sanção são definidas nos acordos constitutivos das 
organizações internacionais e são aplicadas mediante decisão da própria 
organização. Usualmente, são aplicáveis dois tipos de sanções: a suspensão de 
concessões e a expulsão da organização. 
No art. 5º da Carta da ONU, existe a previsão de que um Estado 
tenha os direitos e privilégios decorrentes de sua condição de membro 
suspensos, através de decisão da Assembleia Geral da ONU, mediante 
recomendação do Conselho de Segurança. 
Outra forma de sanção prevista na Carta da ONU se refere à 
suspensão do direito de voto em Assembleia Geral do Estado em atraso no 
pagamento da parcela que deve à receita da organização. 
Por fim, como exemplo da possibilidade de sanção na forma de 
expulsão, destacamos o art. 6º da Carta da ONU, que estabelece que o 
Estado-membro das Nações Unidas que viole persistentemente os 
princípios contidos na referida Carta, poderá ser expulso da 
organização pela Assembléia Geral, mediante recomendação do 
Conselho de Segurança. 
 
21 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª ed, rev. e atual. 
São Paulo: Saraiva, 2008. 
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6. (Procurador da Fazenda Nacional – 2003) As organizações 
internacionais exprimem vontade própria – distinta da de seus 
Estados-membros – ao agir nos domínios em que desenvolve sua ação. 
Tal se dá tanto nas relações com seus membros, quanto no 
relacionamento com outros sujeitos do direito internacional. 
Comentários: 
As organizações internacionais possuem personalidade jurídica de 
direito internacional distinta da dos Estados que a integram. Dessa forma, 
também exprimem sua vontade de forma autônoma, independentemente da 
vontade de seus membros. Questão correta. 
 
4- ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU): 
A Organização das Nações Unidas surgiu após a Segunda Guerra 
Mundial para substituir a Liga das Nações, organização internacional que 
funcionou em Genebra após a Primeira Guerra Mundial. 
Era totalmente natural que, após um período de tantos flagelos como 
a 2ª Guerra Mundial, os países se reunissem em torno de uma organização que 
buscasse a paz e a harmonia internacional. 
Assim surgiu a ONU, que nada mais é do que uma associação de 
Estados reunidos com os seguintes objetivos: 
1) Manter a paz e a segurança internacionais. 
2) Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no 
respeito ao princípio da igualdade e de autodeterminação dos povos. 
3) Conseguir uma cooperação internacional para resolver os 
problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário 
e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e as 
liberdades fundamentais para todos. 
4) Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para 
a consecução desses objetivos. 
O estatuto da ONU é a Carta das Nações Unidas, assinada em São 
Francisco em 26 de junho de 1945. Segundo o referido diploma, poderão ser 
admitidos como membros todos os Estados “amantes da paz” que aceitem as 
obrigações contidas na Carta e que a juízo da Organização estiverem aptos e 
dispostos a cumprir tais obrigações. 
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A personalidade jurídica da ONU não está prevista em sua 
carta constitutiva, tendo sido reconhecida pelo Parecer Consultivo da CIJ 
de 1949, no conhecido caso do conde Folke Bernadotte. Na oportunidade, a 
CIJ reconheceu que a ONU possuía personalidade jurídica de direito 
internacional e, portanto, gozava de legitimidade para pleitear reparação de 
danos em razão do assassinato do seu representante no Oriente Médio, o 
conde Folke Bernadotte. 
Quanto às formas de sanção no âmbito da ONU, podemos apresentar 
três situações diferentes; 
1) Quando um membro violar persistentemente os princípios 
da Carta da ONU, poderá ser expulso pela Assembléia Geral, mediante 
recomendação do Conselho de Segurança. 
2) Suspensão do exercício dos direitos e privilégios de 
membro pela Assembléia Geral, mediante recomendação do Conselho 
de Segurança: quando for levada a efeito ação preventiva ou coercitiva por 
parte do Conselho de Segurança. 
3) Suspensão do direitode voto em Assembléia Geral : quando 
um Estado estiver em atraso no pagamento da parcela que deve à receita da 
organização. Atrasou o pagamento, não vai poder votar! 
São seis os órgãos especiais das Nações Unidas: Assembléia Geral, 
Conselho de Segurança, Corte Internacional de Justiça, Secretariado, Conselho 
Econômico e Social e o Conselho de Tutela. A seguir, falaremos um pouco 
sobre as funções e atribuições de cada um desses órgãos: 
 
4.1- Assembléia Geral: 
A Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) é o órgão 
intergovernamental, plenário e deliberativo da Organização das Nações Unidas, 
sendo composto por todos os países membros, cada um com direito a um 
voto. 
A Assembléia Geral se reúne em sessões ordinárias, uma vez por 
ano, e em sessões extraordinárias, quando as circunstâncias o exigirem. As 
sessões extraordinárias são convocadas pelo Secretário-Geral, a pedido do 
Conselho de Segurança ou da maioria dos estados-membros. 
O processo decisório na Assembléia Geral ocorre da seguinte 
maneira: 
1) Decisões tomadas pela maioria simples dos membros presentes 
e votantes. 
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2) Questões Importantes: 2/3 dos membros presentes e votantes. 
A Assembléia Geral das Nações Unidas é o órgão encarregado das 
seguintes funções: 
- Discutir e fazer recomendações sobre qualquer assunto dentro das 
finalidades da ONU. 
- Considerar princípios gerais de cooperação na manutenção da paz e 
segurança internacionais 
- Elaborar recomendações sobre a solução pacífica de qualquer litígio 
internacional. 
- Aprovar o orçamento da ONU. 
- Eleger os membros não-permanentes do Conselho de Segurança da 
ONU. 
 
4.2- Conselho de Segurança: 
O Conselho de Segurança da ONU possui 10 membros não 
permanentes e 5 membros permanentes (China, Estados Unidos, França, 
Reino Unido e Rússia). Os membros não-permanentes do Conselho de 
Segurança são eleitos pela Assembleia Geral e cumprem um mandato de dois 
anos. 
As decisões do Conselho de Segurança da ONU poderão ser 
processuais e não-processuais. 
Nas decisões não-processuais, assim consideradas as decisões 
mais importantes, exige-se o voto afirmativo de 9 (nove) dos 15 (quinze) 
membros do Conselho de Segurança da ONU, sendo que deverão estar 
incluídos os votos afirmativos de todos os membros permanentes. Os membros 
permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, França e 
Reino Unido) detêm, portanto, o chamado “direito de veto”. O “direito de 
veto” é prerrogativa única dos membros permanentes do Conselho de 
Segurança, podendo qualquer um deles impedir a adoção de uma decisão, se 
opondo à maioria ou unanimidade dos outros membros. 
Nas decisões processuais, por sua vez, exige-se tão somente o 
voto afirmativo de 9 (nove) dos 15 (quinze) membros do Conselho de 
Segurança da ONU, não havendo nestas o direito de veto pelos membros 
permanentes. 
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O processo decisório no âmbito do Conselho de Segurança está 
definido no art.27 da Carta da ONU: 
Artigo 27 
1. Cada membro do Conselho de Segurança terá um voto. 
2. As decisões do conselho de Segurança, em questões 
processuais, serão tomadas pelo voto afirmativo de nove 
Membros. 
3. As decisões do Conselho de Segurança, em todos os outros 
assuntos, serão tomadas pelo voto afirmativo de nove membros, 
inclusive os votos afirmativos de todos os membros permanentes, 
ficando estabelecido que, nas decisões previstas no Capítulo VI e 
no parágrafo 3 do Artigo 52, aquele que for parte em uma 
controvérsia se absterá de votar. 
As decisões do Conselho de Segurança da ONU são 
obrigatórias, vinculando todos os membros das Nações Unidas 
independentemente de seu consentimento. Todavia, elas não podem 
violar a própria Carta da ONU e as normas imperativas de direito internacional 
(jus cogens). A apreciação da licitude das resoluções do Conselho de 
Segurança pode ser feita pela Corte Internacional de Justiça ou, ainda, por 
outros tribunais internacionais. 
De acordo com o art.39 da Carta da ONU, o Conselho de Segurança 
determinará a existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz ou ato de 
agressão, e fará recomendações ou decidirá que medidas deverão ser tomadas 
a fim de manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. 
A Carta das Nações Unidas tem como um de seus princípios basilares 
a solução pacífica de controvérsias. A autorização do uso da força armada 
pelo Conselho de Segurança da ONU somente ocorrerá quando as medidas de 
caráter pacífico se revelarem inadequadas ou insuficientes. 
O uso da força é admitido em direito internacional somente em 
situações excepcionais: em caso de legítima defesa ou de segurança 
coletiva. A primeira está prevista no art. 51 da Carta da ONU, que estabelece 
que um Estado poderá agir em legítima defesa, individual ou coletiva, quando 
ocorrer um ataque armado. A segunda, por sua vez, está prevista nos art. 42 
da Carta da ONU. 
A legítima defesa possui limites definidos pela Carta da ONU, 
pressupondo 4 (quatro) condicionantes22: 
- Uma agressão atual ou iminente: agressão não precisa, 
necessariamente, já ter ocorrido. Uma agressão pode ser considerada iminente 
quando há fortes indícios de que ela está prestes a ocorrer. 
22 VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público, São Paulo: Saraiva, 2009
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- Uma resposta proporcional ao ataque 
- A comunicação imediata do ato ao Conselho de Segurança da ONU. 
- A limitação da resposta até que o Conselho de Segurança tome 
medidas efetivas para o estabelecimento da paz e da segurança internacional. 
A segurança coletiva, por sua vez, é prevista em três situações 
diferentes: ameaça à paz internacional, ruptura da paz e diante de atos 
de agressão23. Prevê a Carta da ONU uma gradação das ações para a 
resolução do conflito, iniciando pelas negociações e passando a outras formas 
de pressão não-militares - isolamento do Estado, interrupção do comércio e 
das relações diplomáticas, como exemplo. O uso da força armada, por meio do 
envio de tropas, é o último recurso admitido. 
Artigo 42 
No caso de o Conselho de Segurança considerar que as medidas 
previstas no Artigo 41 seriam ou demonstraram que são 
inadequadas, poderá levar a efeito, por meio de forças aéreas, 
navais ou terrestres, a ação que julgar necessária para manter ou 
restabelecer a paz e a segurança internacionais. Tal ação poderá 
compreender demonstrações, bloqueios e outras operações, por 
parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos Membros das 
Nações Unidas. 
 
4.3- Corte Internacional de Justiça: 
A Corte Internacional de Justiça (CIJ) é o principal órgão judiciário 
das Nações Unidas e tem como competência central solucionar controvérsias 
entre seus Membros. 
A CIJ será composta de um corpo de juízes independentes, eleitos 
sem atenção à sua nacionalidade, dentre pessoas que gozem de alta 
consideração moral e possuam as condições exigidas em seus respectivos 
países para o desempenho das mais altas funções judiciárias ou que sejam 
jurisconsultos de reconhecida competência em direito internacional (art.2º do 
Estatuto da CIJ). 
 
Se a FGV disser que a Corte Internacional de Justiça é o 
único órgão judiciário das Nações Unidas, ela estará 
tentando te enganar. A CIJ não é o único órgão 
judiciário da ONU, mas sim o principal órgão 
judiciário das Nações Unidas. 
23 VARELLA,Marcelo Dias. Direito Internacional Público, São Paulo: Saraiva, 2009
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Segundo o art. 3º do Estatuto da CIJ, a Corte será composta por 
quinze membros, não podendo figurar entre eles dois nacionais do 
mesmo Estado. Cabe destacar que um juiz da mesma nacionalidade que 
uma das partes na controvérsia conserva o direito de nela atuar. No entanto, 
se isso ocorrer, a outra parte poderá escolher uma pessoa para atuar como 
juiz. Assim, se houver uma controvérsia entre Brasil e Argentina, um juiz 
brasileiro integrante da CIJ poderá participar do julgamento. Entretanto, a 
Argentina terá o direito de escolher alguém para atuar como juiz. Se entre os 
juízes da Corte nenhum for nacional dos Estados litigantes, cada um dos 
Estados tem o direito de escolher um juiz. 
A CIJ tem competência para apreciar todos os litígios que a ela forem 
submetidos, assim como todos os assuntos previstos na Carta das Nações 
Unidas e nos tratados e convenções vigentes. No desempenho de suas 
atribuições, a Corte Internacional de Justiça irá aplicar normas de 
direito internacional aos casos em concreto. 
Somente os Estados poderão submeter uma controvérsia à 
Corte Internacional de Justiça, não podendo uma organização internacional 
postular perante este órgão. 
Podemos dividir a competência da Corte Internacional de Justiça em 
duas: competência contenciosa e competência consultiva. 
1) Competência contenciosa: por meio desta competência, a CIJ 
delibera sobre litígios que a ela tiverem sido encaminhados. Esse é o 
entendimento do art.38 do Estatuto da CIJ, que determina que compete à CIJ 
decidir, de acordo com o direito internacional, as controvérsias que lhe 
forem submetidas. 
1. A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito 
internacional as controvérsias que lhe forem submetidas, 
aplicará: 
a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que 
estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados 
litigantes; 
b) o costume internacional, como prova de uma prática geral 
aceita como sendo o direito; 
c) os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações 
civilizadas; 
d) sob ressalva da disposição do Artigo 59, as decisões judiciárias 
e a doutrina dos juristas mais qualificados das diferentes nações, 
como meio auxiliar para a determinação das regras de direito. 
2. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de 
decidir uma questão ex aequo et bono, se as partes com isto 
concordarem. 
Um exemplo de uma controvérsia submetida à apreciação da CIJ seria 
a situação em que um país A é vítima de agressão armada por parte do país B 
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e alega que isso representa uma violação à sua soberania e integridade 
territorial, o que é contrário à Carta das Nações Unidas. Outro exemplo seria 
se um país A e um país B discordassem quanto aos limites de suas fronteiras 
marítimas. Citamos ainda como exemplo a demanda apresentada à CIJ pelo 
Equador contra a Colômbia devido à pulverização aérea de herbicidas tóxicos 
na fronteira entre os dois países. 
A competência da CIJ abrange todas as questões que as partes 
lhe submetam, bem como todos os assuntos especialmente previstos 
na Carta das Nações Unidas ou em tratados e convenções em vigor. 
Dessa forma, não interessa se a controvérsia gira em torno de tratados 
comerciais ou tratados ambientais. 
Em razão do princípio da soberania, não há obrigatoriedade de 
que os Estados se submetam à jurisdição da Corte Internacional de 
Justiça, ou seja, é decisão de cada um deles se submeter ao sistema 
jurídico internacional. Essa falta de competência compulsória da CIJ está 
prevista, inclusive, no art.36, parágrafo 2º do Estatuto da referida corte, que 
diz o seguinte: 
2. Os Estados, partes do presente Estatuto, poderão, em 
qualquer momento, declarar que reconhecem como 
obrigatória, ipso facto e sem acordos especiais, em relação a 
qualquer outro Estado que aceite a mesma obrigação, a 
jurisdição da Corte em todas as controvérsias de ordem 
jurídica que tenham por objeto: 
a) a interpretação de um tratado; 
b) qualquer ponto de direito internacional; 
c) a existência de qualquer fato que, se verificado, constituiria 
violação de um compromisso internacional; 
d) a natureza ou extensão da reparação devida pela ruptura de 
um compromisso internacional. 
A interpretação que se deve fazer do art. 36,§ 2º é a de que cada 
Estado tem autonomia para definir se reconhece ou não como obrigatória a 
jurisdição da Corte Internacional de Justiça (CIJ). Caso reconheça, dizemos 
que este Estado aderiu à “cláusula facultativa de jurisdição obrigatória”. 
A partir daí, ele se submete automaticamente à jurisdição da CIJ. 
“Entendi, Ricardo! Mas e se um Estado não aderir a essa cláusula, o 
que acontece?” 
Ótima pergunta, meu amigo! Nessa situação, o Estado terá que 
declarar sua submissão à jurisdição da CIJ caso a caso. É o que acontece 
com o Brasil, que não aderiu à “cláusula facultativa de jurisdição obrigatória”. 
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Segundo Accioly24, percebe-se nesse dispositivo do Estatuto da CIJ a 
“claúsula opcional” de competência, que consiste em uma declaração de cada 
Estado em que são estipulados os limites em que reconhece a compulsoriedade 
da CIJ, bem como as áreas em que não reconhece a competência da Corte. 
As decisões da CIJ somente serão obrigatórias para as partes 
litigantes e a respeito do caso em questão, ou seja, não possuem eficácia 
erga omnes, ficando limitadas ao caso em concreto. A sentença proferida 
pela Corte é definitiva e inapelável. Podem, entretanto, existir dúvidas 
quanto ao sentido e ao alcance da sentença, o que deverá ser 
interpretado pela Corte mediante pleito de qualquer das partes na 
controvérsia. 
2) Competência consultiva: a Corte Internacional de Justiça possui 
também competência para emitir parecer consultivo sobre questões de direito 
internacional. As questões sobre as quais for pedido o parecer consultivo da 
Corte serão a ela submetidas por meio de petição escrita, que deverá conter 
uma exposição do assunto sobre o qual é solicitado o parecer e será 
acompanhada de todos os documentos que possam elucidar a questão. Quem 
possui legitimidade para solicitar uma opinião consultiva à CIJ são os 
órgãos da ONU e as organizações internacionais do Sistema ONU. Na 
maior parte das vezes, quem solicita esse parecer consultivo é a Assembléia 
Geral da ONU. 
Segundo Accioly25, o procedimento para se requerer um parecer 
consultivo à Corte é bem mais simples que o procedimento contencioso, 
bastando três requisitos: 
- a pergunta à Corte deverá versar sobre direito internacional; 
- a pergunta deve ser feita de forma clara e objetiva; e 
- a entidade que faz a consulta deve ser habilitada a fazê-lo. 
Destaque-se que os pareceres da CIJ não são obrigatórios, 
sendo apenas indicativos da posição da Corte no exame de um caso concreto a 
ser apreciado no futuro. Os Estados e organizações internacionais podem 
ser admitidos no processo na condição de amicus curiae, apresentando 
exposições escritas e orais. 
 
4.4- Secretariado: 
24 ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E do Nascimento & CASELLA, Paulo Borba. Manual de 
Direito Internacional Público, 17ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009
25 ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E do Nascimento & CASELLA, Paulo Borba. Manual de 
Direito Internacional Público, 17ª Ed. São Paulo: Saraiva,

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