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!∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 4 () 23 1- PERSONALIDADE JURÍDICA DE DIREITO INTERNACIONAL: A questão da personalidade internacional é objeto de grande controvérsia doutrinária, estando longe de um consenso. A doutrina tradicional, representada por Francisco Rezek, atribui personalidade internacional apenas aos Estados e às organizações internacionais. No entanto, com a evolução da sociedade internacional, a grande tendência é considerar que são sujeitos de direito internacional os Estados, as organizações internacionais e os indivíduos. O reconhecimento da personalidade internacional dos indivíduos decorre da evolução do direito internacional dos direitos humanos, que já reconhece que o indivíduo possa peticionar perante cortes internacionais ou mesmo ser penalmente responsabilizado pelo TPI (Tribunal Penal Internacional). Embora apenas os Estados, as organizações internacionais e os indivíduos sejam considerados sujeitos de DIP, há outras entidades que participam da sociedade internacional. É o caso, por exemplo, das empresas transnacionais e das ONG’s, que são, então, reconhecidas como atores internacionais. Os sujeitos de DIP (Estados, organizações internacionais e indivíduos) não possuem as mesmas prerrogativas. Os Estados podem celebrar tratados sobre quaisquer assuntos; já as organizações internacionais somente celebram tratados em áreas relacionadas às suas finalidades. Os indivíduos, por sua vez, não têm capacidade para celebrar tratados. Segundo Rezek1, o Estado constitui uma realidade física, já que possui um espaço territorial onde convive uma comunidade de seres humanos. Ele é dotado de uma dimensão material e independe de qualquer documento para sua existência fática. Por isso, dizemos que sua personalidade jurídica é originária, pois precede mesmo a própria Constituição (documento). Por sua vez, as organizações internacionais possuem personalidade jurídica derivada, estas não existiriam caso não houvesse vontade dos Estados em criá-las. Enquanto os Estados são uma realidade física, as organizações internacionais são uma criação jurídica. As organizações internacionais passaram a ser consideradas sujeitos de direito internacional em meados do século XX, mais precisamente em 1949. Naquele ano, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) emitiu um parecer consultivo quanto à possibilidade da ONU apresentar uma reclamação perante o governo responsável pelo assassinato do Conde Folke Bernadotte (representante da ONU no Oriente Médio). Entendeu a Corte Internacional de Justiça (CIJ) que a ONU possuía personalidade jurídica internacional e, 1 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008 !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 3 () 23 portanto, teria legitimidade para reivindicar a reparação de danos. Por reconhecer a personalidade jurídica de direito internacional das organizações internacionais, esse Parecer Consultivo pode ser considerado um marco no âmbito do direito das gentes. 2- ESTADOS: 2.1- Generalidades: O Estado é o sujeito de direito internacional por excelência, ou seja, é considerado o mais importante dentre os entes dotados de personalidade internacional. Dentre os sujeitos de DIP, o Estado é o único que possui plena capacidade jurídica no plano internacional. O Estado, conforme afirmamos anteriormente, possui personalidade jurídica originária de direito internacional público. Tal constatação deriva do entendimento de que a existência dos outros sujeitos de direito internacional encontra fundamento no Estado. As organizações internacionais, por exemplo, dependem de um tratado constitutivo celebrado por Estados para serem criadas. Os indivíduos, por sua vez, possuem um vínculo político-jurídico com um Estado conhecido como nacionalidade. Segundo a doutrina majoritária, os elementos constitutivos do Estado são o território, o povo e o governo soberano.2 a) Território: O território é a dimensão física sobre a qual o Estado exerce sua jurisdição geral e exclusiva, ou seja, a dimensão material onde ele exerce seus poderes. Geral porque, no âmbito do seu território, o Estado exerce todas as competências de ordem legislativa, administrativa e jurisdicional. Exclusiva, porque tais competências são exercidas sem qualquer concorrência por parte de outro poder. A jurisdição do Estado sobre seu território não é, todavia, absoluta, uma vez que há pessoas e bens que não se submetem ao poder estatal, como, por exemplo, os diplomatas, as missões diplomáticas e organismos internacionais. 2 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Editora Juspodium, 2009 !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 5 () 23 b) Povo: O povo é a dimensão pessoal do Estado, não se confundindo com a sua população. Enquanto esta é formada pelo conjunto de pessoas que vivem com ânimo definitivo no seu território, incluindo nacionais e estrangeiros, a dimensão pessoal do Estado (povo) compreende a comunidade nacional, ou seja, o conjunto de seus nacionais. Na dimensão pessoal do Estado estão incluídos, inclusive, os nacionais que tenham se estabelecido no exterior. Segundo Rezek3, o Estado exerce inúmeras competências inerentes à sua jurisdição territorial sobre os estrangeiros residentes. Já em relação aos seus nacionais, o Estado exerce jurisdição pessoal, em virtude do vínculo jurídico-político que une o indivíduo ao Estado: a nacionalidade. c) Governo soberano: O governo é a dimensão política do Estado e é quem exerce o poder soberano estatal. A Paz de Westfália (1648), conforme já afirmamos anteriormente, é considerada um importante marco do direito internacional. E o é justamente porque os tratados celebrados naquela ocasião reconheceram pela primeira vez o poder soberano dos Estados sobre seus territórios, excluindo qualquer ingerência externa. A soberania é, portanto, atributo essencial do Estado, garantindo que sua vontade não se subordine a qualquer outro poder nos planos interno e internacional. Com efeito, na ordem jurídica internacional não existe um poder superior ao dos Estados, o que torna a sociedade internacional descentralizada. Os Estados são independentes para definir sua política interna, bem como suas ações no plano internacional. A soberania guarda correlação direta com o princípio da igualdade entre os Estados, o qual está insculpido na Carta das Nações Unidas. Nas palavras de Portela4, o poder soberano representa uma “supremacia sobre pessoas, bens e relações jurídicas dentro de um determinado território”. Todavia, percebe-se, na atualidade, uma flexibilização do conceito de soberania. Não cabe mais falar em poder ilimitado do Estado, uma vez que a ordem jurídica interna e mesmo a ordem jurídica internacional impõem restrições à ação estatal. O direito internacional humanitário é, atualmente, um campo em que se pode perceber uma destacada interferência internacional nas questões internas. A título ilustrativo, destacamos a autorização do Conselho de 3 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008 4 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Editora Juspodium, 2009 !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2&≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 6 () 23 Segurança da ONU para a intervenção armada na Líbia, em razão das violações aos direitos humanos cometidas pelo governo ditatorial daquele país. 2.2 - Classificação dos Estados: Podemos classificar os Estados em dois grupos no que se refere à sua estrutura: simples e compostos – sendo que estes últimos podem ser subdivididos em compostos por coordenação e compostos por subordinação. Vejamos o que significa cada um desses conceitos! Os Estados simples ou unitários são aqueles que possuem completa soberania no tocante às questões no plano internacional e, ao mesmo tempo, não apresentam divisões de autonomia no tocante às questões internas. Trata-se da forma mais comum de Estado, sendo o tipo existente na maioria dos Estados latino-americanos. Exemplos de Estados simples são Uruguai, Chile, Peru, Portugal e França. Modernamente, nos Estados simples, embora não haja unidades políticas autônomas, é comum haver uma descentralização administrativa. Assim, as decisões políticas estão concentradas no poder central e a execução das políticas é delegada a unidades administrativas sem autonomia. Nesse caso, trata-se de um Estado simples descentralizado. Ressaltamos que, quando o poder central é exercido com exclusividade e abrange todas as funções de índole administrativa, tratar-se-á de um Estado simples centralizado. Os Estados compostos, por sua vez, se dividem em Estados compostos por coordenação e Estados compostos por subordinação. Como ponto comum a esses dois modelos de Estado, destacamos que eles congregam dentro de si vários Estados independentes ou províncias autônomas, sob a égide de um mesmo governo soberano. Os Estados compostos por coordenação são formados ou por uma associação de Estados soberanos ou ainda por uma união de estados federados. Nos Estados compostos por coordenação, a soberania é exercida somente pelo órgão central, sendo que cada um dos Estados conserva a autonomia em suas questões internas. Um exemplo bem claro de Estado composto por coordenação é o próprio Brasil, que possui inúmeras unidades estatais (Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro...) que possuem apenas autonomia na ordem interna, com a conservação do poder soberano nas mãos da União. Outro exemplo seria uma confederação de Estados, diferenciando-se do modelo federativo pelo fato de que nesta os Estados que a compõem não perdem sua individualidade no plano internacional, continuando plenamente detentores de sua soberania. !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 7 () 23 A Comunidade Britânica de Nações, embora seja uma associação de Estados, não pode ser classificada como um Estado composto por coordenação. Em verdade, todos os Estados integrantes da Comunidade Britânica de Nações são plenamente soberanos e dotados de igualdade política no plano internacional. As unidades estatais autônomas em uma federação não possuem personalidade jurídica de direito internacional, já que não possuem soberania. Mesmo que o ordenamento jurídico interno de um país outorgue competência para essas unidades estatais agirem no plano internacional, elas não adquirem personalidade jurídica de direito internacional, pois esta é uma regra de direito interno e quem, em última análise, irá responder no plano internacional será o poder central (União Federal). No Brasil, compete à União manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais. Apesar disso, admite-se que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios realizem operações externas de natureza financeira como, por exemplo, a aquisição de empréstimos junto ao BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento). Entretanto, tais operações possuem natureza contratual (e não convencional) e são condicionadas à atuação da União, pois faz-se necessário a participação do Brasil na entidade e, ainda, a conclusão de um acordo de garantia. A realização desse tipo de operação externa de natureza financeira está, ainda, sujeita à autorização do Senado Federal, conforme art. 52, inciso V, da CF/88. Os Estados compostos por subordinação não mais existem hoje em dia. Trata-se dos Estados vassalos, protetorados e Estados clientes. Tais Estados não possuíam soberania plena, donde vem o uso da expressão “composto por subordinação”. Nesse tipo de Estado, existe de um lado um ente dotado de plena soberania e de outro uma coletividade que dele depende. No século XX, com vistas a regularizar a situação das colônias, a Liga das Nações e a ONU estabeleceram a administração destas sob a forma de mandato e de tutela, respectivamente. As colônias eram territórios que passaram então a estar submetidos à administração de uma determinada soberania. Certas potências receberam o encargo de administrar estes territórios, promovendo-lhes o desenvolvimento até o momento em que reunissem condições de acesso à independência plena. O objetivo era descolonizá-los, momento em que passariam a gozar de plena soberania e, portanto, iriam adquirir personalidade jurídica de direito internacional. Devido ao exíguo tamanho de seus territórios, alguns Estados são chamados de micro-Estados. Citamos Andorra (468 km2), Liechtenstein (160 km2), San Marino (61 km2), Nauru (21 km2) e Mônaco (2 km2). Segundo !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 2 () 23 Rezek5, não se pode negar que estes Estados sejam soberanos, já que suas instituições políticas são estáveis e seus regimes corretamente estruturados. Entretanto, por serem tão pequenos, partes expressivas das competências desses micro-estados são confiadas a outro Estado, normalmente um Estado vizinho, como a França, no caso de Mônaco. 2.3- Imunidade à Jurisdição Estatal: 2.3.1- Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961 x Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1963: Os representantes de um Estado perante o outro gozam de certos privilégios e garantias, os quais estão previstos atualmente na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961 e na Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1963. Em primeiro lugar, cabe-nos destacar a diferença entre o serviço diplomático e o serviço consular. Qual a diferença entre um diplomata e um cônsul? Em rápidas palavras, podemos dizer que o diplomata é o representante do Estado em suas relações internacionais, enquanto o cônsul é o responsável por oferecer aos nacionais proteção e assistência no exterior – assuntos privados. Assim, o diplomata representa o Estado de origem frente à soberania local, enquanto o cônsul representa o Estado de origem para o fim de cuidar, onde atue, de interesses privados. Para que possam exercer com tranquilidade suas funções no exterior, esses representantes do Estado possuem certos privilégios e garantias. Esses privilégios e garantias representam uma espécie de imunidade de jurisdição, ou seja, definem situações em que o Estado soberano não poderá submeter os representantes de outros Estados à sua jurisdição. Várias teorias existem sobre o fundamento e a natureza jurídica das imunidades diplomáticas e consulares. Afinal de contas, por que os diplomatas e cônsules possuem privilégios e garantias? Será que é somente para beneficiá-los? Seria uma espécie de prêmio? A resposta mais aceita atualmente é dada pela Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, que, encampa, em seu preâmbulo, a doutrina funcional estabelecendo que: “Reconhecendo que a finalidade de tais privilégios e imunidades não é beneficiar indivíduos, mas, sim, a de garantir o eficaz desempenhodas funções das missões diplomáticas, em seu caráter de representantes dos Estados;” 5 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008 !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 8 () 23 Segundo Mazzuoli, as imunidades diplomáticas e consulares são baseadas na ficção da extraterritorialidade. Se, por ficção, os agentes diplomáticos e consulares são considerados representantes do soberano que os envia, também por ficção devem ser considerados como estando fora do território em que atuam. 6 A Convenção de Viena de 1961 (sobre relações diplomáticas) prevê privilégios e garantias bem mais extensos do que a Convenção de Viena de 1963. Para ilustrar isso, Rezek apresenta o seguinte raciocínio, que, por sua didática, transcrevemos a seguir: “É indiferente ao direito internacional o fato de que inúmeros países – entre os quais o Brasil – tenham unificado as duas carreiras, e que cada profissional da diplomacia, nesses países, transite constantemente entre funções consulares e funções diplomáticas. A exata função desempenhada em certo momento e em certo país estrangeiro é o que determina a pauta de privilégios. Assim, ao jovem diplomata brasileiro que atue como terceiro-secretário de nossa embaixada em Nairobi aplica-se a Convenção de 1961 – não a de 1963 -, e ele terá uma cobertura mais ampla que aquela de goza o cônsul geral do Brasil em Nova York, veterano titular de um dos postos mais disputados da carreira.” 7 a) Privilégios diplomáticos: A Convenção de Viena de 1961 estabelece dois tipos de prerrogativas para o serviço diplomático: as aplicáveis à missão diplomática e as aplicáveis aos agentes diplomáticos. Os locais da missão diplomática são invioláveis (art.22), isto é, os agentes do Estado acreditado8 não poderão neles penetrar sem o consentimento do Chefe da missão. Ademais, os locais da Missão, seu mobiliário e demais bens neles situados, assim como os meios de transporte da Missão, não poderão ser objeto de busca, requisição, embargo ou medida de execução. Também os arquivos, os documentos e a correspondência oficial da Missão são invioláveis. 6 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 7 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. 8 Estado acreditado é aquele que recebe os agentes diplomáticos e consulares; Estado acreditante é aquele que envia os agentes diplomáticos e consulares. !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 9 () 23 No que diz respeito aos tributos, o Estado acreditante e o Chefe da Missão estão isentos de todos os impostos e taxas incidentes sobre os locais da Missão. Além disso, os direitos e emolumentos que a Missão perceba em razão da prática de atos oficiais (como a concessão de vistos) estarão isentos de todos os impostos ou taxas. E os privilégios aplicáveis aos agentes diplomáticos? Quais são eles? Os agentes diplomáticos gozam de inviolabilidade pessoal e domiciliar, isto é, não podem ser objeto de qualquer forma de prisão ou detenção e, ainda, sua residência particular goza da mesma proteção que os locais da missão. Eles também não podem ser obrigados a prestar depoimento como testemunha. Os agentes diplomáticos gozam de ampla imunidade de jurisdição penal, sendo esta absoluta. Isso quer dizer que, em hipótese alguma, um diplomata que cometa um crime no Estado acreditado poderá ser preso, processado e julgado por esse Estado estrangeiro. Os agentes diplomáticos também possuem imunidade de jurisdição civil e administrativa, as quais, todavia, não são absolutas, tendo sido restringidas pelo art. 31 da Convenção de Viena: Artigo 31 1. O agente diplomático gozará da imunidade de jurisdição penal do Estado acreditado. Gozará também da imunidade de jurisdição civil e administrativa, a não ser que se trate de: a) uma ação sobre imóvel privado situado no território do Estado acreditado, salvo se o agente diplomático o possuir por conta do Estado acreditante para os fins da missão; b) uma ação sucessória na qual o agente diplomático figure, a título privado e não em nome do Estado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário; c) uma ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade comercial exercida pelo agente diplomático no Estado acreditado fora de suas funções oficiais. Na hipótese da alínea “a”, o diplomata possui um imóvel privado no Estado acreditado e sobre ele é impetrada uma ação. Nesse caso, não haverá imunidade de jurisdição civil por parte do diplomata, a menos que ele o possua para os fins da missão. Na hipótese da alínea “b”, por sua vez, há uma ação sucessória sobre um imóvel na qual o diplomata figura a título estritamente privado. Como ele não está, nesse caso, desempenhando funções estatais, ele não terá a imunidade de jurisdição civil. Por fim, na hipótese da alínea “c”, o diplomata exerce uma profissão liberal ou atividade comercial no Estado acreditado que não tem qualquer relação com suas funções oficiais e há uma ação em que ele esteja !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 1: () 23 envolvido. Nesse caso, por estar envolvido novamente a título privado, ele também não irá gozar de imunidade de jurisdição. Cabe registrar, quanto a esse ponto, que o agente diplomático não pode exercer no Estado acreditado nenhuma atividade profissional ou comercial em proveito próprio (art. 42). Os agentes diplomáticos também gozam de imunidade tributária, mas esta diz respeito unicamente aos tributos diretos, não se aplicando aos tributos indiretos. Não é porque o sujeito é diplomata que ele não vai precisar pagar o ICMS referente a uma televisão que ele adquirir, ok? Além disso, a entrada no Estado acreditado de objetos destinados ao uso oficial da Missão e de objetos destinados ao uso pessoal do agente diplomático ou dos membros de sua família é livre de direitos aduaneiros e outras taxas (art.36). Todos os privilégios dos agentes diplomáticos em matéria civil, administrativa, penal e tributária estendem-se aos membros das respectivas famílias. Destaque-se que o conceito de família não foi definido pela Convenção de Viena de 1961. Assim, para fazer jus à extensão dos benefícios, esses indivíduos deverão ter seus nomes relacionados em uma “lista diplomática”. Os membros do quadro administrativo e técnico9 da Missão gozam de inviolabilidade pessoal e domiciliar, ampla imunidade de jurisdição penal, imunidade civil, administrativa e tributária. No entanto, a imunidade de jurisdição civil e administrativa dos membros do quadro administrativo e técnico da Missão se aplica exclusivamente aos atos praticados no exercício de suas funções. Tais privilégios são concedidos exclusivamente aos membros do quadro administrativo e técnico que não sejam nacionais do Estado acreditado nem nele tenham residência permanente. 10 Os membros do pessoal de serviço da Missão diplomática, por sua vez, somente farão jus às imunidades (penal, civil, administrativa) em relação aos atos praticados no exercício de suas funções e desde que não sejam nacionais do Estado acreditado nem nele tenham residência permanente. É, meus amigos! Como vocês podem ver, esses representantes de um Estado perante o outro gozam de inúmeros privilégios. Mas será que só por isso eles podem ficar desrespeitandoas leis do país onde tenham se estabelecido? 9 Como exemplos de membros do quadro administrativo e técnico de uma missão diplomática podemos citar os Oficiais de Chancelaria e os Assistentes de Chancelaria. 10 É comum que a Missão diplomática tenha como funcionários em seu quadro administrativo e técnico nacionais do Estado acreditado. Esses indivíduos não farão jus às imunidades previstas na Convenção de Viena de 1961. !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 11 () 23 É claro que não! A Convenção de Viena estabelece o primado do direito local, segundo o qual, embora imune ao processo, um diplomata deverá observar as leis do país em que se encontra. Não é porque um diplomata está imune ao processo civil ou penal que ele vai transgredir uma norma do país onde se encontra, ok? Essa é a interpretação que devemos fazer do art. 31, parágrafo 4º da Convenção de Viena de 1961, que estabelece que: “A imunidade de jurisdição de um agente diplomático no Estado acreditado não o isenta da jurisdição do Estado acreditante.” “Entendi, Ricardo! Agora me diga o seguinte: e se um diplomata americano representando seu país cometer um crime aqui no Brasil? Ele pode renunciar à sua imunidade? Excelente pergunta! Não, ele não pode! Somente o Estado acreditante pode renunciar à imunidade processual, nunca o próprio beneficiário da imunidade! E você sabe por quê? Porque o Estado acreditante quer, na verdade, manter a exclusividade em julgar aquele que “sujou” seu nome. Mas também seria difícil o diplomata renunciar à sua imunidade para deixar-se ir preso, não é mesmo? Embora não possa prender o diplomata estrangeiro (em razão da imunidade de jurisdição penal), o Estado acreditado possui outra forma de mostrar sua reprovação ao agente diplomático: por meio da declaração de persona non grata. O art. 9º da Convenção de Viena de 1961 estabelece que “o Estado acreditado poderá a qualquer momento, e sem ser obrigado a justificar a sua decisão, notificar ao Estado acreditante que o Chefe da Missão ou qualquer membro do pessoal diplomático da Missão é persona non grata ou que outro membro do pessoal da missão não é aceitável.”. Percebam, amigos, que a declaração de persona non grata independe de qualquer processo administrativo prévio, ou seja, independe da observância do devido processo legal. O Estado acreditado não é obrigado a aceitar os agentes diplomáticos enviados pelo Estado acreditante. Ao contrário, antes mesmo que esse agente diplomático adentre seu território, ele poderá ser declarado persona non grata. Há que se mencionar, ainda, que existe um processo próprio para a nomeação dos chefes das missões diplomáticas (os embaixadores). A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas prevê que o Estado acreditante deverá se certificar de que a pessoa que pretende nomear para chefe da missão diplomática perante o Estado acreditado obteve o “agrément”. O “agrément” é um ato unilateral por meio do qual o Estado acreditado, discricionariamente, indica que aceita a indicação de embaixador feita pelo Estado acreditante. !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 14 () 23 b) Privilégios consulares: A Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1963 estabelece privilégios e imunidades bastante parecidos aos aplicáveis aos agentes diplomáticos. Entretanto, tais privilégios e imunidades são bem mais restritos. No que diz respeito à imunidade penal, os funcionários consulares não poderão ser detidos ou presos preventivamente, exceto em caso de crime grave e em decorrência de sentença de autoridade judiciária competente. Os funcionários consulares e empregados consulares também podem ser presos em decorrência de sentença judiciária definitiva, salvo em razão de atos praticados no exercício de suas funções oficiais. Assim, podemos dizer que a imunidade penal dos funcionários consulares abrange apenas os atos praticados no exercício das funções consulares. Se um cônsul cometer um crime de homicídio, ele poderá ser preso; já se ele falsificar um passaporte (exercício de seu ofício), estará amparado pela imunidade. Da mesma forma, a imunidade civil dos cônsules e funcionários consulares está limitada ao exercício de suas funções. No que diz respeito à imunidade tributária, ela é semelhante à que fazem jus os agentes diplomáticos, abrangendo apenas os tributos diretos. Os locais consulares são invioláveis na medida estrita de sua utilização funcional, e gozam de imunidade tributária. Os arquivos e documentos consulares, a exemplo dos diplomáticos, são invioláveis em qualquer circunstância e onde quer que se encontrem. É fundamental destacarmos que os privilégios consulares não são extensíveis a suas famílias. (IMPORTANTE!!!) Isso porque as imunidades outorgadas aos funcionários consulares pela Convenção de Viena de 1963 se limitam aos atos praticados no exercício de suas funções. 2.4- Imunidade de Jurisdição estatal: A imunidade de jurisdição é um atributo dos Estados, segundo o qual eles não podem ser submetidos ao Poder Judiciário de um outro Estado estrangeiro. Há um tempo atrás, considerava-se que a imunidade de jurisdição estatal era absoluta em razão da aplicação do conceito do “par in parem non habet judicium”, considerada regra costumeira de direito internacional. Essa expressão em latim significa que não há jurisdição entre os pares, isto é, um Estado não se submete à jurisdição de outro Estado. Todavia, o entendimento doutrinário e jurisprudencial dominante flexibilizou a antes absoluta imunidade de jurisdição estatal. Assim, o entendimento que prevalece no atual contexto do direito internacional é o de !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 13 () 23 que a imunidade de jurisdição somente abrange os atos de império, não alcançando os atos de gestão. A limitação da imunidade de jurisdição de Estado estrangeiro aos atos de império já é considerada por vários autores como uma norma consuetudinária de direito internacional. Nesse contexto, faz-se necessário diferenciar quando um Estado pratica um ato de império e um ato de gestão. Segundo Portela11, atos de império são aqueles que o Estado pratica no exercício de suas prerrogativas soberanas. Já os atos de gestão são aqueles exercidos pelo Estado em igualdade de condições com os particulares. Dentre os atos de gestão, podemos citar os que se referem a aluguel e compra de bens móveis e imóveis, contratação de prestadores de serviços e de empregados e, ainda, as causas relativas à responsabilidade civil. Assim, pode-se afirmar que não há imunidade de jurisdição nas causas relativas à responsabilidade civil, tendo em vista que estas têm natureza de atos de gestão. Quanto à imunidade de jurisdição de Estado estrangeiro, cabe destacar importante entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo a Corte Constitucional, não há que se falar em imunidade de jurisdição do Estado estrangeiro diante de casos levados à Justiça do Trabalho. Imaginem só, amigos, o caso de um funcionário brasileiro de uma embaixada estrangeira aqui no Brasil. Se o Estado estrangeiro não fizer o pagamento de férias a esse funcionário, como ficará a situação? Ele terá que entrar contra o Estado estrangeiro perante a Justiça do Trabalho! Ih, mas o Estado estrangeiro goza de imunidade de jurisdição! Não, nos casos levados à Justiça do Trabalho, o STF decidiu que há uma exceção à imunidade de jurisdição do Estado estrangeiro. Além das lidestrabalhistas, entende a doutrina que os demais atos de gestão – aquisição de bens móveis e imóveis, por exemplo – não são abrangidos pela imunidade de jurisdição estatal. Assim, nestes casos, o Estado estrangeiro estará sujeito à jurisdição brasileira. Mas será que há possibilidade de renúncia do Estado à imunidade de jurisdição? Sim, existe essa possibilidade! O Estado poderá renunciar à imunidade de jurisdição, submetendo-se ao Poder Judiciário estrangeiro. Destaque-se, todavia, que, se houver renúncia à imunidade no processo de conhecimento, isso não implica renúncia à imunidade no processo de execução, em relação ao qual se exigirá nova renúncia. 2.5- Imunidade de Execução: 11 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Editora Juspodium, 2009. !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 15 () 23 É fundamental não confundirmos “imunidade de jurisdição” com “imunidade de execução”. Enquanto a imunidade de jurisdição impede que um Estado seja submetido ao Poder Judiciário de outro Estado, a imunidade de execução é atributo estatal que lhe garante a proteção dos seus bens no exterior. A imunidade de execução impede que os bens do Estado estrangeiro sejam executados, em virtude de serem invioláveis. Vamos supor que um funcionário de nacionalidade brasileira de uma repartição diplomática estrangeira no Brasil tenha ficado sem receber seus salários durante 5 (cinco) meses e decide acionar o Estado estrangeiro no Poder Judiciário local. Nesse caso, como se trata de uma causa de natureza trabalhista, não há imunidade de jurisdição do Estado estrangeiro (entendimento já consolidado no STF). Logo, o Estado estrangeiro será julgado pelo Poder Judiciário brasileiro, especificamente pela Justiça do Trabalho. Imaginemos, ainda, que o Poder Judiciário reconheceu o direito do funcionário. Findo o processo de conhecimento, partimos, então, para o processo de execução. E agora? Como é que a fica a situação? Bem, o Estado estrangeiro se submeteu à jurisdição brasileira, tendo sido condenado. No entanto, todos os bens desse Estado estão gravados por cláusula de inviolabilidade. Nesse rumo, a jurisprudência do STF considera que a imunidade de execução do Estado estrangeiro é absoluta. O resultado disso é que, mesmo havendo uma decisão contrária a um Estado estrangeiro em uma lide trabalhista, esta poderá não ter efetividade, tendo em vista a impossibilidade de se fazer a cobrança judicial em processo executório. Apesar disso, pode ocorrer (como, de fato, já ocorreu na prática!) de o Estado estrangeiro, voluntariamente, pagar a dívida trabalhista em questão. Destaque-se, ainda, que, caso o Estado estrangeiro tenha renunciado à imunidade de jurisdição, isso não implica renúncia da sua imunidade de execução. Assim, se houve renúncia à imunidade no processo de conhecimento, será necessária nova renúncia no processo de execução, sem o que a sentença não será cumprida. 1. (FGV / XXI Exame de Ordem – 2016) Aurélio, diplomata brasileiro, casado e pai de dois filhos menores, está em vias de ser !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 16 () 23 nomeado chefe de missão do Brasil na capital de importante Estado europeu. À luz do disposto na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, promulgada no Brasil por meio do Decreto nº 56.435/65, assinale a afirmativa correta. a) A nomeação de Aurélio pelo Brasil não depende da anuência do Estado acreditado, visto se tratar de uma decisão soberana do Estado acreditante. b) Mesmo se nomeado, o Estado acreditado poderá considerar Aurélio persona non grata, desde que, para tanto, apresente suas razões ao Estado acreditante, em decisão fundamentada. Se acolhidas as razões apresentadas pelo Estado acreditado, Aurélio poderá ser retirado da missão ou deixar de ser reconhecido como membro da missão. c) Os privilégios e as imunidades previstos estendidos à mulher e aos filhos de Aurélio cessam de imediato, na hipótese de falecimento de Aurélio. d) Se nomeado, a residência de Aurélio gozará da mesma inviolabilidade estendida ao local em que baseada a missão do Brasil no Estado acreditado. Comentários: Letra A: errada. A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas prevê que o Estado acreditante deverá se certificar de que a pessoa que pretende nomear para chefe da missão diplomática perante o Estado acreditado obteve o “agrément”. O “agrément” é um ato unilateral por meio do qual o Estado acreditado, discricionariamente, indica que aceita a indicação de embaixador feita pelo Estado acreditante. Assim, a nomeação de Aurélio pelo Brasil depende da anuência do Estado acreditado (“agrément”). Letra B: errada. O Estado acreditado poderá, a qualquer momento, notificar ao Estado acreditante que o chefe da missão ou qualquer membro do pessoal diplomático da missão é persona non grata. No entanto, o Estado acreditado não precisará fundamentar sua decisão. Letra C: errada. Sabemos que as imunidades diplomáticas são estendidas aos membros da família do diplomata. Havendo falecimento de um membro da missão diplomática, os membros de sua família continuarão no gozo das imunidades a que têm direito até a expiração de um prazo razoável que lhes permita deixar o território do Estado acreditado. Letra D: correta. A residência particular do agente diplomático goza da mesma inviolabilidade e proteção que os locais da missão. !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 17 () 23 O gabarito é a letra D. 2. (FGV / XII Exame de Ordem Unificado – 2013) Um agente diplomático comete um crime de homicídio no Estado acreditado. A respeito desse caso, assinale a afirmativa correta. a) Será julgado no Estado acreditado, pois deve cumprir as leis desse Estado. b) Poderá ser julgado pelo Estado acreditado desde que o agente renuncie a imunidade de jurisdição. c) Em nenhuma circunstância pode ser julgado pelo Estado acreditado. d) Poderá ser julgado pelo Estado acreditado, desde que o Estado acreditante renuncie expressamente à imunidade de jurisdição. Comentários: Letra A: errada. Os agentes diplomáticos possuem imunidade penal absoluta. Apesar de ter que cumprir as leis do Estado acreditado, o agente diplomático não julgado neste. Letra B: errada. O agente diplomático não pode renunciar à sua imunidade. Apenas o Estado acreditante é que poderá fazê-lo. Letra C: errada. É possível, excepcionalmente, que o agente diplomático seja julgado pelo Estado acreditado, na situação em que o Estado acreditante renunciar à imunidade de jurisdição. Letra D: correta. Exatamente isso! O Estado acreditante poderá renunciar expressamente à imunidade de jurisdição. Nesse caso, o diplomata poderá ser julgado pelo Estado acreditado. 3. (Procurador BACEN-2001) Paul Reuter define tratado internacional como sendo “uma manifestação de vontades concordantes, atribuídas a dois ou mais sujeitos de direito internacional, e destinada a produzir efeitos jurídicos em conformidade com as normas de direito internacional”. Assinale a opção em que figurem, tão só, exemplos de sujeitos de direito internacional. a) Estados, Santa Sé ou Estado do Vaticano, organizações não-governamentais (ONGs) e indivíduos. b) Estados, organizações internacionais e empresas multinacionais. c) Estados, Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e Santa Sé ou Estado do Vaticano. !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 12 () 23 d) Estados, Organização das Nações Unidas (ONU) e ONGs. e) Indivíduos, ONGs, organizações internacionais e Santa Sé ou Estado do Vaticano. Comentários: São sujeitos de DIP os Estados, as organizações internacionais (dentre as quais o MERCOSUL) e a Santa Sé ou Estado do Vaticano. A resposta é a letra C. 4. (Juiz Federal- 3ª Região-2006) Em uma ação promovida contra um Estado estrangeiro deve o juiz: a) julgar-se incompetente e enviar a ação para o Tribunal Superior. b) determinar a citação do representante legal do Estado. c) indeferir a inicial por falta de jurisdição. d) encaminhar a inicial ao Ministério das Relações Exteriores. Comentários: Em uma ação promovida contra um Estado estrangeiro, o juiz deverá determinar a citação do representante legal do Estado (letra B), a partir do que será dado início ao procedimento de apuração da imunidade de jurisdição. A legislação processual brasileira não prevê a possibilidade de indeferimento da inicial em razão de falta de jurisdição. 5. (FGV / V Exame de Ordem Unificado – 2011) A embaixada de um estado estrangeiro localizada no Brasil contratou um empregado brasileiro para os serviços gerais. No final do ano, não pagou o 13º salário, por entender que, em seu país, este não era devido. O empregado, insatisfeito, recorreu à Justiça do Trabalho. A ação foi julgada procedente, mas a embaixada não cumpriu a sentença. Por isso, o reclamante solicitou a penhora de um carro da embaixada. Com base no relatado acima, o Juiz do Trabalho decidiu: a) deferir a penhora, pois a Constituição atribui competência à justiça brasileira para ações de execução contra Estados estrangeiros. b) indeferir a penhora, pois o Estado estrangeiro, no que diz respeito à execução, possui imunidade, e seus bens são invioláveis. c) extinguir o feito sem julgamento do mérito por entender que o Estado estrangeiro tem imunidade de jurisdição. !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 18 () 23 d) deferir a penhora, pois o Estado estrangeiro não goza de nenhuma imunidade quando se tratar de ações trabalhistas. Comentários: O Estado estrangeiro goza de imunidade de jurisdição absoluta no que diz respeito aos atos de império. No entanto, nos atos de gestão, o Estado estrangeiro goza de imunidade de jurisdição relativa. Segundo o STF, não há que se falar em imunidade de jurisdição do Estado estrangeiro diante de casos levados à Justiça do Trabalho. Assim, é plenamente possível que a Justiça do Trabalho julgue controvérsias trabalhistas envolvendo Estado estrangeiro. Embora a imunidade de jurisdição do Estado estrangeiro seja relativa nas lides trabalhistas, é importante saber que a imunidade de execução do Estado estrangeiro ainda é considerada absoluta. Nesse sentido, os bens do Estado estrangeiro são invioláveis, motivo pelo qual, na situação apresentada pela questão, o juiz deverá indeferir a penhora. A resposta é a letra B. 3- ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS: 3.1- Generalidades: Uma das grandes tendências evolutivas do Direito Internacional do pós-Segunda Guerra Mundial é a institucionalização, que se caracteriza pelo fato de que ele deixa de regular apenas as relações interestatais, tornando-se mais presente nas organizações internacionais.12 A complexidade das relações internacionais advinda da globalização gerou nos Estados a percepção de que há problemas comuns da humanidade, os quais não podem ser resolvidos por nenhum deles isoladamente. Segundo Accioly, as organizações internacionais multiplicam-se à medida que aumenta a conscientização a respeito dos problemas especificamente internacionais. Tais problemas, por não poderem ser enfrentados por um só Estado, exigem a cooperação internacional13. Nesse sentido, como forma de dar efetividade aos acordos celebrados, criando uma estrutura capaz de monitorá-los, e, ao mesmo tempo, estabelecer um foro para discussões, os Estados criam as organizações internacionais. 12 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 13 ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E do Nascimento & CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público, 17ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009 !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 19 () 23 Embora as primeiras organizações internacionais tenham surgido no século XIX, foi somente a partir da segunda metade do século XX que estas começaram a proliferar. Atualmente, as Organizações Internacionais são consideradas importantes sujeitos de direito internacional público e sua relevância no cenário internacional cresce cada vez mais, fruto do aumento das relações internacionais e da cooperação entre os Estados. Mas qual seria a definição de organização internacional? A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969 estabelece um conceito bem simples, segundo o qual as organizações internacionais são organizações intergovernamentais. Apesar de não estar errado, a doutrina majoritária entende que esse conceito não é suficiente para descrever essas entidades. Um conceito bem mais complexo nos é apresentado por Mazzuoli, segundo o qual organização internacional é uma “associação voluntária de Estados, criada por um convênio constitutivo e com finalidades pré- determinadas, regida pelas normas do direito internacional, dotada de personalidade jurídica distinta da dos seus membros, que se realiza em organismo próprio, dotada de autonomia e especificidade, possuindo ordenamento jurídico interno e órgãos auxiliares, por meio dos quais realiza os propósitos comuns dos seus membros, mediante os poderes próprios que lhes são atribuídos por estes.“14 Bem extenso esse conceito, não é mesmo? De fato, ele é bem complexo, mas nos permite identificar as principais características das organizações internacionais. São elas: 1) São associações voluntárias de Estados: As organizações internacionais surgem como consequência da manifestação de vontade de sujeitos de direito internacional público, isto é, de Estados. Dessa forma, não podem ser constituídas de pessoas jurídicas de direito interno, sejam elas pessoas físicas ou jurídicas. Nesse ponto, deve-se fazer uma distinção entre as organizações internacionais e as ONG’s. As ONG’s, embora possam ter forte atuação internacional, são pessoas jurídicas de direito interno e podem ter, em sua constituição, entes diversos dos Estados. 2) São criadas por convênio constitutivo: As organizações internacionais surgem a partir da celebração de tratados multilaterais, os quais são usualmente denominados tratados constitutivos. O tratado constitutivo é o que dá vida a uma organização internacional, podendo ser considerado uma verdadeira “Constituição” para esse organismo. 14 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 4: () 23 É no tratado constitutivo que se define, dentre outros, a estrutura da organização, o processo decisório, os objetivos e as competências dos seus órgãos. Para Rezek, a existência de uma organização internacional tem apoio no seu tratado constitutivo, cuja principal virtude consiste em haver-lhe dado vida.15 Por vezes, o tratado que institui uma organização internacionallhe atribui explicitamente personalidade jurídica de direito internacional. Entretanto, isso não é algo que seja obrigatório e a personalidade jurídica das organizações internacionais nasce, muitas vezes, de forma implícita, a partir da definição de seus órgãos e respectivas competências. Se uma organização internacional possui capacidade para celebrar tratados em seu próprio nome, existe aí forte indicativo de sua personalidade internacional. 3) Possuem personalidade jurídica distinta da dos seus membros: As organizações internacionais possuem personalidade jurídica de direito internacional derivada, já que surgem a partir da vontade de alguns Estados, que as criam por meio de um tratado, o qual podemos chamar de tratado constitutivo. Em virtude de terem personalidade jurídica própria, as organizações internacionais possuem autonomia em suas decisões, as quais são emanadas abstraindo-se da vontade individual de cada um de seus membros em prol de uma vontade coletiva. Assim, diz-se que as organizações internacionais possuem vontade própria, independente da vontade de seus membros. Modernamente, as decisões das organizações internacionais são consideradas, por parte da doutrina, como fonte do direito internacional público, apesar de não terem sido relacionadas pelo art. 38 do Estatuto da CIJ. Por possuírem personalidade jurídica de direito internacional, as organizações internacionais possuem capacidade para usufruir direitos e contrair obrigações no plano internacional. Nesse sentido, possuem capacidade para celebrar tratados, a qual está regulada pela Convenção de Viena de 1986. A atuação no plano internacional dessas organizações não é tão ampla quanto a dos Estados soberanos. Enquanto os Estados podem celebrar tratados relativamente a qualquer objeto, contanto que este seja lícito (que não viole as normas jus cogens), as organizações internacionais detêm capacidade convencional restrita, limitada aos objetivos e propósitos para os quais foram criadas.16 15 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008 16 VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público, São Paulo: Saraiva, 2009 !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 41 () 23 4) São instituições permanentes: As organizações internacionais são entidades criadas com objetivos determinados em seu tratado constitutivo e, portanto, devem ser estruturadas para alcançá-los. Nesse sentido, seria incoerente que as organizações internacionais fossem entidades de natureza “ad hoc”. Inegavelmente, a estabilidade das relações internacionais reclama a existência de instituições permanentes, adequadamente estruturadas para alcançar determinados fins. 3.2- Classificação das Organizações Internacionais: As organizações internacionais são entidades com objetivos e áreas de atuação diferenciadas. Algumas delas exercem suas funções somente em âmbito regional; outras têm alcance universal, não ficando sua atuação limitada a uma região. Segundo Francisco Rezek17, as organizações internacionais podem ser classificadas quanto ao seu alcance e quanto ao seu domínio temático. Quanto ao alcance, elas podem ser organizações internacionais de alcance universal ou organizações internacionais de alcance regional. Organizações internacionais de alcance universal seriam aquelas que têm uma propensão para reunir em torno de si a totalidade dos Estados soberanos. Como exemplos de organizações internacionais de alcance universal podemos citar a ONU (Organização das Nações Unidas), a OMC (Organização Mundial de Comércio), a OMA (Organização Mundial de Aduanas) e a OIT (Organização Internacional do Trabalho) Organizações internacionais de alcance regional, ao contrário, são aquelas que reúnem unicamente países de uma determinada região, como por exemplo, a OEA (Organização dos Estados Americanos), o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o MERCOSUL. Quanto ao domínio temático, podemos classificar as organizações internacionais em organizações de vocação política ou organizações de vocação específica. As organizações internacionais de vocação política são aquelas que têm como objetivo principal a preservação da paz e segurança mundiais. Como exemplos de organizações internacionais de vocação política podemos citar a ONU (Organização das Nações Unidas) e a OEA (Organização dos Estados Americanos). 17 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª Ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008 !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 44 () 23 As de vocação específica, por sua vez, seriam aquelas que se ocupam de temas mais especializados – finalidade econômica, financeira, cultural ou estritamente técnica. Exemplos de organizações internacionais de vocação específica seriam a OMC (Organização Mundial de Comércio), a OIT (Organização Internacional do Trabalho) e a OMA (Organização Mundial de Aduanas). As organizações internacionais de alcance universal e domínio específico são as “agências especializadas” da ONU – UNESCO, UNICEF, FAO. Normalmente, os mesmos membros que fazem parte da ONU integram também essas organizações internacionais de alcance universal e domínio específico, o que permite que decisões tomadas no âmbito da ONU estabeleçam diretrizes para essas organizações. Cabe destacar que as agências especializadas da ONU possuem personalidade jurídica de direito internacional própria. As organizações internacionais de alcance regional e domínio político são aquelas que buscam, em escala regional, manter a paz e a segurança entre seus membros – OEA (Organização dos Estados Americanos) e OUA (Organização da Unidade Africana), por exemplo. As organizações internacionais de alcance regional e domínio específico seriam as organizações regionais de cooperação e integração econômica, como a União Europeia, a ALADI (Associação Latino-Americana de Integração), o NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) e o MERCOSUL. Segundo a classificação de Accioly18, as organizações internacionais podem ter objetivos generalizados ou específicos. A ONU seria o melhor exemplo de organização de objetivos generalizados, possuindo esfera de atuação que se estende a várias áreas diferentes – cooperação econômica, social, política e científica. Ainda segundo o mesmo autor, as organizações internacionais podem classificar-se segundo o seu processo decisório em supranacionais e intergovernamentais. Exemplo de organização supranacional é a União Europeia, que possui órgãos que proferem decisões que são automaticamente vinculantes e obrigatórias para todos os Estados-membros, independentemente de ratificação. O MERCOSUL, por sua vez, é uma organização intergovernamental, o que resulta no fato de que as decisões de seus órgãos deverão ser internalizadas no ordenamento jurídico de todos os seus membros para que possam entrar em vigor. As organizações internacionais também podem ser classificadas, quanto à participação dos Estados, em abertas ilimitadamente (é possível o 18 ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E do Nascimento & CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público, 17ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009 !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 43 () 23 ingresso de qualquer Estado), abertas limitadas (é autorizado o ingresso de apenas alguns Estados) ou fechadas (não se permite o ingresso de nenhum Estado além dos membrosoriginários). 19 3.3- Relação entre as organizações internacionais e Estados: Ao contrário dos Estados, que possuem um território, as organizações internacionais são, nas palavras de Rezek20, carentes de uma base territorial. Nesse sentido, para que possam desempenhar suas atividades, é necessário que os órgãos constitutivos das organizações internacionais sejam instalados fisicamente no território de algum Estado. Para que a organização internacional se instale, no entanto, no território desse Estado, é necessário a celebração de um tratado bilateral entre este e a organização, conhecido como acordo de sede. Cabe destacar que o acordo sede pode ser celebrado entre a organização internacional e qualquer Estado, que não precisa, necessariamente, ser um Estado-membro. Nada impede que uma organização internacional celebre vários acordos de sede e seus órgãos estejam localizados em países diferentes. A ONU, por exemplo, celebrou acordos de sede não só com os Estados Unidos – onde está localizada sua sede principal -, mas também com a Suíça – o seu escritório na Europa está localizado em Genebra – e com os Países Baixos – a Corte Internacional de Justiça está instalada em Haia. As organizações internacionais possuem privilégios tanto no seu lugar de sede quanto no território de outros Estados, sejam estes Estados-membros ou não. Os representantes das organizações internacionais gozam de privilégios semelhantes àqueles concedidos aos integrantes do corpo diplomático de um Estado. Da mesma forma, as instalações e os bens móveis das organizações internacionais possuem a garantia de inviolabilidade. Com relação à imunidade à jurisdição, há uma diferença essencial quanto à forma que esta se aplica aos Estados e às organizações internacionais. Conforme já estudamos, a doutrina mais moderna considera que o Estado somente possui imunidade à jurisdição quanto pratica atos de império (e não quando pratica atos de gestão!). Seguindo essa ideia (de imunidade relativa), o STF já decidiu que o Estado estrangeiro não goza de imunidade à jurisdição brasileira em causas de natureza trabalhista. 19 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 20 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008 !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 45 () 23 Para a doutrina, as organizações internacionais também gozam de imunidade à jurisdição estatal. No entanto, trata-se aqui de imunidade absoluta, que engloba assuntos de natureza trabalhista ou qualquer outro. Dessa forma, no caso das organizações internacionais, as causas de natureza trabalhista não excepcionam a regra imunizante. Cabe destacar que, ao contrário do que ocorre em relação aos Estados – cuja imunidade deriva de regra costumeira -, a imunidade das organizações internacionais decorre de seu tratado constitutivo ou de tratados bilaterais específicos.21 3.4 - Sanções: Se um membro age contrariamente aos princípios e normas de uma organização internacional, este deverá ser sancionado. Sua atitude desrespeitosa para com a organização e para com os outros membros não poderá simplesmente “passar em branco.” As formas de sanção são definidas nos acordos constitutivos das organizações internacionais e são aplicadas mediante decisão da própria organização. Usualmente, são aplicáveis dois tipos de sanções: a suspensão de concessões e a expulsão da organização. No art. 5º da Carta da ONU, existe a previsão de que um Estado tenha os direitos e privilégios decorrentes de sua condição de membro suspensos, através de decisão da Assembleia Geral da ONU, mediante recomendação do Conselho de Segurança. Outra forma de sanção prevista na Carta da ONU se refere à suspensão do direito de voto em Assembleia Geral do Estado em atraso no pagamento da parcela que deve à receita da organização. Por fim, como exemplo da possibilidade de sanção na forma de expulsão, destacamos o art. 6º da Carta da ONU, que estabelece que o Estado-membro das Nações Unidas que viole persistentemente os princípios contidos na referida Carta, poderá ser expulso da organização pela Assembléia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. 21 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 46 () 23 6. (Procurador da Fazenda Nacional – 2003) As organizações internacionais exprimem vontade própria – distinta da de seus Estados-membros – ao agir nos domínios em que desenvolve sua ação. Tal se dá tanto nas relações com seus membros, quanto no relacionamento com outros sujeitos do direito internacional. Comentários: As organizações internacionais possuem personalidade jurídica de direito internacional distinta da dos Estados que a integram. Dessa forma, também exprimem sua vontade de forma autônoma, independentemente da vontade de seus membros. Questão correta. 4- ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU): A Organização das Nações Unidas surgiu após a Segunda Guerra Mundial para substituir a Liga das Nações, organização internacional que funcionou em Genebra após a Primeira Guerra Mundial. Era totalmente natural que, após um período de tantos flagelos como a 2ª Guerra Mundial, os países se reunissem em torno de uma organização que buscasse a paz e a harmonia internacional. Assim surgiu a ONU, que nada mais é do que uma associação de Estados reunidos com os seguintes objetivos: 1) Manter a paz e a segurança internacionais. 2) Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio da igualdade e de autodeterminação dos povos. 3) Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e as liberdades fundamentais para todos. 4) Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos. O estatuto da ONU é a Carta das Nações Unidas, assinada em São Francisco em 26 de junho de 1945. Segundo o referido diploma, poderão ser admitidos como membros todos os Estados “amantes da paz” que aceitem as obrigações contidas na Carta e que a juízo da Organização estiverem aptos e dispostos a cumprir tais obrigações. !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 47 () 23 A personalidade jurídica da ONU não está prevista em sua carta constitutiva, tendo sido reconhecida pelo Parecer Consultivo da CIJ de 1949, no conhecido caso do conde Folke Bernadotte. Na oportunidade, a CIJ reconheceu que a ONU possuía personalidade jurídica de direito internacional e, portanto, gozava de legitimidade para pleitear reparação de danos em razão do assassinato do seu representante no Oriente Médio, o conde Folke Bernadotte. Quanto às formas de sanção no âmbito da ONU, podemos apresentar três situações diferentes; 1) Quando um membro violar persistentemente os princípios da Carta da ONU, poderá ser expulso pela Assembléia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. 2) Suspensão do exercício dos direitos e privilégios de membro pela Assembléia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança: quando for levada a efeito ação preventiva ou coercitiva por parte do Conselho de Segurança. 3) Suspensão do direitode voto em Assembléia Geral : quando um Estado estiver em atraso no pagamento da parcela que deve à receita da organização. Atrasou o pagamento, não vai poder votar! São seis os órgãos especiais das Nações Unidas: Assembléia Geral, Conselho de Segurança, Corte Internacional de Justiça, Secretariado, Conselho Econômico e Social e o Conselho de Tutela. A seguir, falaremos um pouco sobre as funções e atribuições de cada um desses órgãos: 4.1- Assembléia Geral: A Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) é o órgão intergovernamental, plenário e deliberativo da Organização das Nações Unidas, sendo composto por todos os países membros, cada um com direito a um voto. A Assembléia Geral se reúne em sessões ordinárias, uma vez por ano, e em sessões extraordinárias, quando as circunstâncias o exigirem. As sessões extraordinárias são convocadas pelo Secretário-Geral, a pedido do Conselho de Segurança ou da maioria dos estados-membros. O processo decisório na Assembléia Geral ocorre da seguinte maneira: 1) Decisões tomadas pela maioria simples dos membros presentes e votantes. !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 42 () 23 2) Questões Importantes: 2/3 dos membros presentes e votantes. A Assembléia Geral das Nações Unidas é o órgão encarregado das seguintes funções: - Discutir e fazer recomendações sobre qualquer assunto dentro das finalidades da ONU. - Considerar princípios gerais de cooperação na manutenção da paz e segurança internacionais - Elaborar recomendações sobre a solução pacífica de qualquer litígio internacional. - Aprovar o orçamento da ONU. - Eleger os membros não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU. 4.2- Conselho de Segurança: O Conselho de Segurança da ONU possui 10 membros não permanentes e 5 membros permanentes (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia). Os membros não-permanentes do Conselho de Segurança são eleitos pela Assembleia Geral e cumprem um mandato de dois anos. As decisões do Conselho de Segurança da ONU poderão ser processuais e não-processuais. Nas decisões não-processuais, assim consideradas as decisões mais importantes, exige-se o voto afirmativo de 9 (nove) dos 15 (quinze) membros do Conselho de Segurança da ONU, sendo que deverão estar incluídos os votos afirmativos de todos os membros permanentes. Os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido) detêm, portanto, o chamado “direito de veto”. O “direito de veto” é prerrogativa única dos membros permanentes do Conselho de Segurança, podendo qualquer um deles impedir a adoção de uma decisão, se opondo à maioria ou unanimidade dos outros membros. Nas decisões processuais, por sua vez, exige-se tão somente o voto afirmativo de 9 (nove) dos 15 (quinze) membros do Conselho de Segurança da ONU, não havendo nestas o direito de veto pelos membros permanentes. !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 48 () 23 O processo decisório no âmbito do Conselho de Segurança está definido no art.27 da Carta da ONU: Artigo 27 1. Cada membro do Conselho de Segurança terá um voto. 2. As decisões do conselho de Segurança, em questões processuais, serão tomadas pelo voto afirmativo de nove Membros. 3. As decisões do Conselho de Segurança, em todos os outros assuntos, serão tomadas pelo voto afirmativo de nove membros, inclusive os votos afirmativos de todos os membros permanentes, ficando estabelecido que, nas decisões previstas no Capítulo VI e no parágrafo 3 do Artigo 52, aquele que for parte em uma controvérsia se absterá de votar. As decisões do Conselho de Segurança da ONU são obrigatórias, vinculando todos os membros das Nações Unidas independentemente de seu consentimento. Todavia, elas não podem violar a própria Carta da ONU e as normas imperativas de direito internacional (jus cogens). A apreciação da licitude das resoluções do Conselho de Segurança pode ser feita pela Corte Internacional de Justiça ou, ainda, por outros tribunais internacionais. De acordo com o art.39 da Carta da ONU, o Conselho de Segurança determinará a existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz ou ato de agressão, e fará recomendações ou decidirá que medidas deverão ser tomadas a fim de manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. A Carta das Nações Unidas tem como um de seus princípios basilares a solução pacífica de controvérsias. A autorização do uso da força armada pelo Conselho de Segurança da ONU somente ocorrerá quando as medidas de caráter pacífico se revelarem inadequadas ou insuficientes. O uso da força é admitido em direito internacional somente em situações excepcionais: em caso de legítima defesa ou de segurança coletiva. A primeira está prevista no art. 51 da Carta da ONU, que estabelece que um Estado poderá agir em legítima defesa, individual ou coletiva, quando ocorrer um ataque armado. A segunda, por sua vez, está prevista nos art. 42 da Carta da ONU. A legítima defesa possui limites definidos pela Carta da ONU, pressupondo 4 (quatro) condicionantes22: - Uma agressão atual ou iminente: agressão não precisa, necessariamente, já ter ocorrido. Uma agressão pode ser considerada iminente quando há fortes indícios de que ela está prestes a ocorrer. 22 VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público, São Paulo: Saraiva, 2009 !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 49 () 23 - Uma resposta proporcional ao ataque - A comunicação imediata do ato ao Conselho de Segurança da ONU. - A limitação da resposta até que o Conselho de Segurança tome medidas efetivas para o estabelecimento da paz e da segurança internacional. A segurança coletiva, por sua vez, é prevista em três situações diferentes: ameaça à paz internacional, ruptura da paz e diante de atos de agressão23. Prevê a Carta da ONU uma gradação das ações para a resolução do conflito, iniciando pelas negociações e passando a outras formas de pressão não-militares - isolamento do Estado, interrupção do comércio e das relações diplomáticas, como exemplo. O uso da força armada, por meio do envio de tropas, é o último recurso admitido. Artigo 42 No caso de o Conselho de Segurança considerar que as medidas previstas no Artigo 41 seriam ou demonstraram que são inadequadas, poderá levar a efeito, por meio de forças aéreas, navais ou terrestres, a ação que julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. Tal ação poderá compreender demonstrações, bloqueios e outras operações, por parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos Membros das Nações Unidas. 4.3- Corte Internacional de Justiça: A Corte Internacional de Justiça (CIJ) é o principal órgão judiciário das Nações Unidas e tem como competência central solucionar controvérsias entre seus Membros. A CIJ será composta de um corpo de juízes independentes, eleitos sem atenção à sua nacionalidade, dentre pessoas que gozem de alta consideração moral e possuam as condições exigidas em seus respectivos países para o desempenho das mais altas funções judiciárias ou que sejam jurisconsultos de reconhecida competência em direito internacional (art.2º do Estatuto da CIJ). Se a FGV disser que a Corte Internacional de Justiça é o único órgão judiciário das Nações Unidas, ela estará tentando te enganar. A CIJ não é o único órgão judiciário da ONU, mas sim o principal órgão judiciário das Nações Unidas. 23 VARELLA,Marcelo Dias. Direito Internacional Público, São Paulo: Saraiva, 2009 !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 3: () 23 Segundo o art. 3º do Estatuto da CIJ, a Corte será composta por quinze membros, não podendo figurar entre eles dois nacionais do mesmo Estado. Cabe destacar que um juiz da mesma nacionalidade que uma das partes na controvérsia conserva o direito de nela atuar. No entanto, se isso ocorrer, a outra parte poderá escolher uma pessoa para atuar como juiz. Assim, se houver uma controvérsia entre Brasil e Argentina, um juiz brasileiro integrante da CIJ poderá participar do julgamento. Entretanto, a Argentina terá o direito de escolher alguém para atuar como juiz. Se entre os juízes da Corte nenhum for nacional dos Estados litigantes, cada um dos Estados tem o direito de escolher um juiz. A CIJ tem competência para apreciar todos os litígios que a ela forem submetidos, assim como todos os assuntos previstos na Carta das Nações Unidas e nos tratados e convenções vigentes. No desempenho de suas atribuições, a Corte Internacional de Justiça irá aplicar normas de direito internacional aos casos em concreto. Somente os Estados poderão submeter uma controvérsia à Corte Internacional de Justiça, não podendo uma organização internacional postular perante este órgão. Podemos dividir a competência da Corte Internacional de Justiça em duas: competência contenciosa e competência consultiva. 1) Competência contenciosa: por meio desta competência, a CIJ delibera sobre litígios que a ela tiverem sido encaminhados. Esse é o entendimento do art.38 do Estatuto da CIJ, que determina que compete à CIJ decidir, de acordo com o direito internacional, as controvérsias que lhe forem submetidas. 1. A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará: a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; b) o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito; c) os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas; d) sob ressalva da disposição do Artigo 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito. 2. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão ex aequo et bono, se as partes com isto concordarem. Um exemplo de uma controvérsia submetida à apreciação da CIJ seria a situação em que um país A é vítima de agressão armada por parte do país B !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 31 () 23 e alega que isso representa uma violação à sua soberania e integridade territorial, o que é contrário à Carta das Nações Unidas. Outro exemplo seria se um país A e um país B discordassem quanto aos limites de suas fronteiras marítimas. Citamos ainda como exemplo a demanda apresentada à CIJ pelo Equador contra a Colômbia devido à pulverização aérea de herbicidas tóxicos na fronteira entre os dois países. A competência da CIJ abrange todas as questões que as partes lhe submetam, bem como todos os assuntos especialmente previstos na Carta das Nações Unidas ou em tratados e convenções em vigor. Dessa forma, não interessa se a controvérsia gira em torno de tratados comerciais ou tratados ambientais. Em razão do princípio da soberania, não há obrigatoriedade de que os Estados se submetam à jurisdição da Corte Internacional de Justiça, ou seja, é decisão de cada um deles se submeter ao sistema jurídico internacional. Essa falta de competência compulsória da CIJ está prevista, inclusive, no art.36, parágrafo 2º do Estatuto da referida corte, que diz o seguinte: 2. Os Estados, partes do presente Estatuto, poderão, em qualquer momento, declarar que reconhecem como obrigatória, ipso facto e sem acordos especiais, em relação a qualquer outro Estado que aceite a mesma obrigação, a jurisdição da Corte em todas as controvérsias de ordem jurídica que tenham por objeto: a) a interpretação de um tratado; b) qualquer ponto de direito internacional; c) a existência de qualquer fato que, se verificado, constituiria violação de um compromisso internacional; d) a natureza ou extensão da reparação devida pela ruptura de um compromisso internacional. A interpretação que se deve fazer do art. 36,§ 2º é a de que cada Estado tem autonomia para definir se reconhece ou não como obrigatória a jurisdição da Corte Internacional de Justiça (CIJ). Caso reconheça, dizemos que este Estado aderiu à “cláusula facultativa de jurisdição obrigatória”. A partir daí, ele se submete automaticamente à jurisdição da CIJ. “Entendi, Ricardo! Mas e se um Estado não aderir a essa cláusula, o que acontece?” Ótima pergunta, meu amigo! Nessa situação, o Estado terá que declarar sua submissão à jurisdição da CIJ caso a caso. É o que acontece com o Brasil, que não aderiu à “cláusula facultativa de jurisdição obrigatória”. !∀#∃∀%& ()%∃#)∗+∀&)∗, −. /0∗1∃ 2∗ 345 (6∃&#∀∗ ∃ 78∃9%:∃9; <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ Α 48,∗ ΒΧ <#&=> ?∀+∗#2& ≅∗,∃ !!!∀#∃%&∋%#()∋∗+,∗−&∃+∃∀∗+.∀/& ∀#∃%&∋ 34 () 23 Segundo Accioly24, percebe-se nesse dispositivo do Estatuto da CIJ a “claúsula opcional” de competência, que consiste em uma declaração de cada Estado em que são estipulados os limites em que reconhece a compulsoriedade da CIJ, bem como as áreas em que não reconhece a competência da Corte. As decisões da CIJ somente serão obrigatórias para as partes litigantes e a respeito do caso em questão, ou seja, não possuem eficácia erga omnes, ficando limitadas ao caso em concreto. A sentença proferida pela Corte é definitiva e inapelável. Podem, entretanto, existir dúvidas quanto ao sentido e ao alcance da sentença, o que deverá ser interpretado pela Corte mediante pleito de qualquer das partes na controvérsia. 2) Competência consultiva: a Corte Internacional de Justiça possui também competência para emitir parecer consultivo sobre questões de direito internacional. As questões sobre as quais for pedido o parecer consultivo da Corte serão a ela submetidas por meio de petição escrita, que deverá conter uma exposição do assunto sobre o qual é solicitado o parecer e será acompanhada de todos os documentos que possam elucidar a questão. Quem possui legitimidade para solicitar uma opinião consultiva à CIJ são os órgãos da ONU e as organizações internacionais do Sistema ONU. Na maior parte das vezes, quem solicita esse parecer consultivo é a Assembléia Geral da ONU. Segundo Accioly25, o procedimento para se requerer um parecer consultivo à Corte é bem mais simples que o procedimento contencioso, bastando três requisitos: - a pergunta à Corte deverá versar sobre direito internacional; - a pergunta deve ser feita de forma clara e objetiva; e - a entidade que faz a consulta deve ser habilitada a fazê-lo. Destaque-se que os pareceres da CIJ não são obrigatórios, sendo apenas indicativos da posição da Corte no exame de um caso concreto a ser apreciado no futuro. Os Estados e organizações internacionais podem ser admitidos no processo na condição de amicus curiae, apresentando exposições escritas e orais. 4.4- Secretariado: 24 ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E do Nascimento & CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público, 17ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009 25 ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E do Nascimento & CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público, 17ª Ed. São Paulo: Saraiva,
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