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à união estável; a ‘contrario sensu’, as doações feitas antes disso são nulas”. A ação a ser proposta é a anulatória de doação, porque se trata de nulidade relativa e não absoluta. Logo o ato não é nulo, mas anulável. A legitimidade para propor a ação é do cônjuge, mas se ele já faleceu, é dos herdeiros necessários. O prazo para a propositura da ação anulatória de doação é de dois anos, contados da dissolução da sociedade conjugal, que pode se dar pela morte de um dos cônjuges, pela anulação do casamento, pela separação ou divórcio. 17 Este prazo é decadencial, isto porque, esclarece Sanseverino, o Código Civil de 2002, com boa técnica legislativa, estabeleceu critérios claros e pragmáticos para a distinção dos prazos de prescrição e decadência. Na parte geral (art. 189 e SS.), listou os prazos prescricionais, deixando para a parte especial a indicação, casão a caso, das hipóteses de decadência. Para caracterizar o adultério não se exige que a relação mantida pelo cônjuge seja com pessoa de sexo diverso, podendo ser com pessoa do mesmo sexo. “Assim, as doações feitas por doador casado ao seu parceiro homossexual, na constância da sociedade conjugal, também afronta o disposto no art. 550 do CC/2002”, assevera Sanseverino. Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal. 9.5. Doação de ascendente a descendente A doação feita por ascendente a descendente importa em adiantamento de legítima, ou seja, adiantamento do que cabe ao donatário na herança. Com efeito, falecendo o doador, o donatário deve levar o bem recebido à colação para que sejam igualados os quinhões dos herdeiros necessários (CC, art. 2004, § 1º). Todavia, como diz Carlos Roberto Gonçalves, o herdeiro donatário fica liberado da colação se o bem doado não excede à parte disponível do doador, o qual expressamente o dispensou (CC, art. 2005). Para o pai beneficiar um filho em detrimento dos outros, na lição de Silvio Rodrigues, “é mister que o doador a inclua em sua quota disponível, com expressa menção de que o donatário fica dispensado da colação. Caso isso não ocorra, entende-‐se que a doação do pai ao filho nada mais é do que adiantamento daquilo que por morte do doador o donatário recebera”. Salienta-‐se, como ensina Carlos Roberto Gonçalves, “ os efeitos de adiantamento de legítima são exclusivamente decorrentes de doação de ascendentes para descendentes. Entre estes não se distinguem os havidos dentro ou fora do casamento de seus pais por origem biológica ou adotiva.” 18 Ainda, a doação feita pelo avô ao neto não configura adiantamento de legítima. Mas pode ocorrer de o neto donatário suceder representando o pai, por estirpe ou representação. Nessa hipótese, o neto não vai levar o bem recebido à colação, porque, por força do artigo 2.005, § único, do Código Civil, que presume estaria a doação contida na parte disponível do doador (Sanseverino). Anota-‐se, este não é o entendimento de Carlos Roberto Gonçalves. Citando Paulo Lôbo, ele afirma que “o neto somente estará obrigado à colação se suceder no lugar do pai, por estirpe ou representação”. Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança. Art. 2.002. Os descendentes que concorrerem à sucessão do ascendente comum são obrigados, para igualar as legítimas, a conferir o valor das doações que dele em vida receberam, sob pena de sonegação. Parágrafo único. Para cálculo da legítima, o valor dos bens conferidos será computado na parte indisponível, sem aumentar a disponível. Art. 2.003. A colação tem por fim igualar, na proporção estabelecida neste Código, as legítimas dos descendentes e do cônjuge sobrevivente, obrigando também os donatários que, ao tempo do falecimento do doador, já não possuírem os bens doados. Parágrafo único. Se, computados os valores das doações feitas em adiantamento de legítima, não houver no acervo bens suficientes para igualar as legítimas dos descendentes e do cônjuge, os bens assim doados serão conferidos em espécie, ou, quando deles já não disponha o donatário, pelo seu valor ao tempo da liberalidade. Art. 2.004. O valor de colação dos bens doados será aquele, certo ou estimativo, que lhes atribuir o ato de liberalidade. § 1o Se do ato de doação não constar valor certo, nem houver estimação feita naquela época, os bens serão conferidos na partilha pelo que então