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Aula 8 – As Grandes Navegações
Nas aulas anteriores, vimos a transição da mentalidade do homem medieval para o homem moderno. Percebemos que, mesmo na modernidade, muitas heranças medievais se fazem presentes. Essa convivência entre o medieval e o moderno será a característica de toda essa área e transparece em todos os aspectos da vida sociopolítico da época.
Veremos agora de que forma as enormes mudanças econômicas também estão imbuídas desse espírito de transição. Além do renascimento comercial que já abordamos, uma das maiores transformações na vida econômica da idade moderna foram as chamadas grandes navegações. Esse processo ficou conhecido como expansão marítima e afetou não só a Europa, mas também um novo continente, até então desconhecido pelos europeus: a América. Devemos entender esse processo como fruto de um conjunto de fatores, em especial, o fortalecimento da burguesia e a centralização do Estado. Ainda que os processos sejam diferentes em cada país, sem o poder estatal e o investimento burguês, não seriam possíveis naquele momento. Se o século XIV marcou a Europa pelas crises constantes, provocada pela peste que dizimou milhares de pessoas, pela crise agrícola, que gerou um enorme período de fome e pelas rebeliões camponesas, o século XV foi um momento de relativa prosperidade. Com a centralização dos Estados e o renascimento urbano e comercial, havia um acúmulo financeiro e também uma necessidade crescente de investir e expandir o comércio.
Lembre-se que estamos falando de uma enorme mudança de paradigma. Enquanto na Idade Média a terra era o símbolo de poder e riqueza, neste novo contexto a posse da terra é substituída pelo poder monetário. O comércio e o lucro gerado por ele se tornam, então, as maiores fontes de riqueza do período permitindo que o chamemos de acumulação de capital.
As grandes navegações devem então ser entendidas como um desdobramento do desenvolvimento comercial. Embora, aos nossos olhos contemporâneos, esse pareça ser o caminho natural, havia muitas barreiras que deveriam ser transpostas e esse processo, como um todo, envolveu diversos interesses e implicou na superação de uma série de obstáculos, não só políticos e econômicos, mas também culturais.
Pense nas grandes navegações que nos remetem imediatamente aos interesses econômicos. Conseguimos visualizar com bastante clareza o aspecto cultural quando falamos da chegada do europeu na América, do contato com os indígenas, da imposição cultural do branco, mas não temos essa mesma percepção quando falamos da cultura presente no próprio processo de expansão marítima.
O mar, para o homem europeu, era a própria definição de desconhecido. E, é claro, tememos o que não conhecemos. Portanto, aventurar-se no Oceano era uma experiência que estava repleta de muitos perigos. É interessante pensar que as sociedades da antiguidade tinham enorme familiaridade com o comércio marítimo, tendo desenvolvido várias técnicas importantes de navegação. Mas, durante a Idade Média, o comércio era quase inexistente, a vida se restringia aos domínios feudais e o mar caiu no esquecimento. Sobre ele se contavam várias lendas e esta visão era o lar de criaturas marinhas apavorantes. Não é à toa que o Atlântico era conhecido como mar tenebroso.
Além da questão cultural, a sobrevivência de algumas estruturas econômicas feudais foi um empecilho para o início da exploração marítima. No século XV, embora o comércio tenha se desenvolvido, ainda havia resquícios do feudalismo, sobretudo nas zonas rurais. Nelas, ainda predominava o trabalho servil, mas este não se desenvolvia no mesmo ritmo que o comércio urbano. Isso acarretava uma crise agrícola que, por sua vez, gerou crises de abastecimento generalizadas. Temos então, um grande problema, a produção agrícola não era suficiente para abastecer o campo e a cidade. Por sua vez, a produção artesanal das cidades não tinha consumidores na população camponesa. Se conseguir se alimentar já representava uma dificuldade, imagine então comprar produtos como roupas ou artigos domésticos. A este problema, soma-se outro. O comércio de luxo europeu, que produzia lucros extraordinários, era baseado, sobretudo, nas especiarias vindas do Oriente. Vamos imaginar o caminho que estas mercadorias faziam até chegar ao consumidor europeu?
Primeiro, era necessário organizar uma caravana de mercadores. Isso exigia transporte, pessoas e muito, muito dinheiro. Essas caravanas percorriam um caminho enorme até chegar ao Oriente, em uma viagem extremamente longa. Alguns pontos-chave desse caminho estavam sob o domínio dos árabes que cobravam altas taxas para permitir a passagem das mercadorias. Quando estas chegavam ao seu destino, o mercado europeu, tinham preços exorbitantes para poder compensar todos os gastos realizados e, além disso, gerar lucro. A nobreza era uma das principais consumidoras desses produtos, mas sua principal fonte de renda eram as terras, que por sua vez, não produziam tanto quanto deviam para suprir estes gastos. Virou um ciclo vicioso, não é mesmo? Como podemos ver pelo mapa, parte das rotas comerciais passava por países muçulmanos, como Arábia e Egito. A situação se tornou mais grave em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos. Constantinopla era a porta de entrada para o Oriente e o domínio muçulmanos encareceu ainda mais as especiarias como cravo, canela, gengibre, sedas e perfumes. Para agravar a situação, parte dos metais preciosos disponíveis no continente era direcionado ao Oriente para poder pagar as mercadorias, o que provocava uma enorme escassez de moeda. Como sabemos, a falta de moeda disponível é um dos fatores da inflação. Vamos relembrar a lei básica de oferta e demanda:
Se um artigo é raro, ele se torna caro;
Só que nesse caso, o artigo raro é extremamente necessário, pois é a própria moeda, o que aumenta enormemente o valor dos metais preciosos;
Para contornar esse quadro, era preciso buscar maneiras de baratear estas mercadorias, e uma das soluções foi a busca de novos caminhos para o Oriente.
Mas, sem o poder estatal, essa alternativa não seria possível. Sabe por quê? Porque, se as caravanas de mercadores já eram um empreendimento custoso, imaginem toda a estrutura necessária para navegar pelo Oceano. Só o Estado centralizado tinha poder e estrutura econômica suficiente para apoiar e organizar este empreendimento. Embora também tenha sido pioneira nas grandes navegações, a Espanha tinha outras preocupações internas. Colombo, um homem muito à frente de seu tempo, já havia proposto uma viagem marítima, muitos anos antes, aos reis Isabel e Fernando. Entretanto, a Espanha lutava para se unificar, sendo necessária a expulsão dos muçulmanos que ainda dominavam Granada. Os muçulmanos foram expulsos em 1492 e, nesse mesmo ano, os reis católicos concederam a permissão a Colombo para realizar a viagem.
Foi um golpe de sorte. Cansado de esperar, o navegador estava prestes a levar seu projeto para a França. Em outubro do mesmo ano, Colombo chegou às ilhas de caribe. Acreditando ter chegado às Índias, chamou seus habitantes de índios. Colombo não acreditava ter chegado a um continente desconhecido. Coube a Américo Vespúcio a chegada ao continente, que por isso ficou conhecido como América. Diferente dos portugueses que se fixaram no litoral, os espanhóis se dedicaram a explorar as novas terras, deparando-se com diversas sociedades indígenas, entre elas a asteca e a inca. A exploração dos metais preciosos das minas, em especial a prata do Peru, elevou a Espanha a um novo patamar e a tornou um dos grandes impérios europeus.
Em 1494, foi assinado o Tratado de Tordesilhas que estabelecia os limites das possessões espanholas e portuguesas. Mas a questão das fronteiras sempre foi problemática e outros tratados foram firmados até que as colônias americanas, dentre elas o Brasil, assumissem a forma que possuem atualmente. Pelo mapa, vemos que o mundo foi, literalmente, repartido entre Portugal e Espanha, com a bênção da Igreja Católica. Estimuladas pelo sucesso ibérico,outros países, como Inglaterra, França e Holanda também se lançaram na expansão marítima, mas essa expansão foi repleta de conflitos. A dificuldade em administrar um território tão extenso logo se fez sentir. Impedir o desvio de metais preciosos, assegurar a chegada dos navios em segurança na Europa e montar uma rede administrativa eficiente foram alguns dos principais problemas que se apresentaram. Dessa forma, o ouro e a prata que chegavam na península ibérica logo escoava para os bolsos da Inglaterra e da Holanda. Vários tratados foram firmados, vantajosos para a Inglaterra, mas nem tão vantajosos para Portugal, por exemplo.
Podemos citar o Tratado de Methuen, firmado entre Inglaterra e Portugal no século XVIII que ficou conhecido como tratado de panos e vinhos. Por este acordo, Portugal teria privilégios para comprar os tecidos ingleses e em troca, a Inglaterra teria os mesmos privilégios na compra de vinhos portugueses. O objetivo era estimular a produção agrícola portuguesa e suprir o déficit econômico que caracterizava a economia lusitana, mas o resultado ficou muito aquém do esperado para Portugal. Como tinha comprador garantido, muitos agricultores se dedicaram ao plantio da uva, causando uma crise de abastecimento. Além disso, a demanda por tecidos era muito maior que a demanda por vinhos, mantendo a balança comercial desfavorável, ou seja, Portugal sempre comprava mais do que vendia. No tocante ao sistema colonial, as diferenças também se fizeram sentir. A Inglaterra aplicou a chamada negligência salutar, que permitia que os colonos se organizassem livremente, concedendo autonomia administrativa. Isso minimizou sobremaneira os conflitos entre colônia e metrópole e os colonos tinham como referência política a própria Inglaterra e seu sistema parlamentar. Entretanto, não é correto fazermos uma divisão do sistema colonial entre colônias de exploração e povoamento. Quando observamos mais a fundo, percebemos que esta classificação cai em desuso. Todas as colônias tiveram que ser povoadas e todas foram exploradas, ainda que de maneira diferente. Se aceitarmos essa classificação, como explicaríamos as colônias inglesas localizadas no sul dos Estados Unidos que tinham uma estrutura socioeconômica muito semelhante à brasileira, com a prática do latifúndio e o uso da mão de obra escrava? Outros fatores explicam as diferenças tomadas na trajetória das colônias: a distribuição de terra, as iniciativas de povoamento e, é claro, a administração metropolitana.
Isto posto, devemos entender a expansão marítima como um acontecimento global, que interferiu direta ou indiretamente em todos os indivíduos, não só da Europa e da América, mas do mundo como um todo. Dela emergem o conhecimento de novas culturas e o estabelecimento de novas estruturas sociopolíticas que se aperfeiçoariam durante toda a era moderna. Alguns teóricos veem na expansão marítima a origem do processo de globalização que falamos tão correntemente hoje em dia. Seja como for, devemos pensá-lo como um processo que atinge todas as áreas, social, política, econômica e cultural e que abarca os mais diversos setores da sociedade moderna.
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