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Teoria da História Aula 07 Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho Este material é parte integrante da disciplina, oferecida pela UNINOVE. O acesso às atividades, conteúdos multimídia e interativo, encontros virtuais, fóruns de discussão e a comunicação com o professor devem ser feitos diretamente no ambiente virtual de aprendizagem UNINOVE. Uso consciente do papel. Cause boa impressão, imprima menos. Aula 07: Origens da ciência histórica: gregos e romanos antigos Objetivo: Examinar a origem da ciência histórica no Ocidente a partir das contribuições dos primeiros historiadores do mundo greco-romano. O lugar do mito na explicação das origens O que é um mito? Diferentemente do que diz o senso comum, o mito não se define como uma invencionice ou fantasia. O mito, embora seja de fato uma narrativa com elementos não-históricos, é a forma como os povos antigos explicavam o passado de suas sociedades. E ainda é assim em algumas das sociedades humanas existentes, particularmente entre aquelas que se encontram distantes das influências diretas do mundo moderno. Os gregos antigos tinham um grande elenco de deuses e deusas conhecidos desde o século VIII a.C. na península1 e nas ilhas da Hélade2. Para os gregos, tais divindades, por meio de suas ações e interesses, buscavam interferir no mundo dos homens. Portanto, desde a caminhada diária do sol pela abóbada celeste até as guerras travadas contra os inimigos externos, tudo encontrava na ação e na vontade dos deuses a sua razão de ser. Os mitos não foram privilégio dos gregos. Os povos do mundo antigo tinham seus próprios mitos, que também entre eles explicavam o passado e respondiam às perguntas daquelas sociedades. Por que isso? Devido às condições materiais de vida que enfrentavam, imersos que estavam em mundos agrários, nos quais defrontavam-se diretamente com a natureza e tiravam da terra o que realmente lhes importava: a comida para sua própria subsistência. Bastou que o mundo se tornasse mais complexo, com a advento de sociedades urbanas, para que os mitos fossem, pouco a pouco, perdendo sua força elucidativa. Com os gregos isso aconteceu mais rapidamente entre os séculos VI e IV a.C., e foi exatamente nessa época que surgiram os filósofos e historiadores antigos. Homens como Sócrates e os sofistas, na filosofia, e Heródoto e Tucídides, na história, tornaram-se referências com suas novas explicações sobre o mundo dos homens. Dão soluções a novos problemas, em meio aos conflitos de um mundo urbanizado e hierarquizado, tão diferente das relações horizontalizadas da Antiguidade mais remota. Heródoto e Tucídides Esses dois nomes se destacam ao início da ciência histórica conforme nós a conhecemos hoje. Não significa, em hipótese nenhuma, que fizeram ciência como se faz nos dias atuais, com o refinamento e as metodologias que frequentemente utilizamos. No entanto, são os primeiros que concebem um olhar para trás, para o passado, que revela os caminhos das sociedades sem considerar a intervenção divina como preponderante ou definitiva. Heródoto de Halicarnasso, que viveu no século V a.C., é chamado por muitos pelo nome de “pai da História”. Apesar do possível exagero, vê-lo assim faz algum sentido, pois Heródoto foi o primeiro a escrever um livro que utilizou essa expressão – “História” – para referir-se ao passado como algo que poderia ser conhecido por uma “investigação”. A palavra “história” no idioma grego dos tempos de Heródoto queria dizer exatamente isso: investigação; por isso, o historiador a utilizou como título de seu trabalho. Heródoto, homem rico das elites gregas, usou os seus recursos para viajar pela “Hélade” e também para visitar outras regiões mais distantes, onde pesquisou sobre a cultura dos povos e sobre suas relações com os gregos, chegando inclusive ao Egito e à Pérsia. Assim ensina Fontana (1998) em relação a Heródoto: Pela primeira vez, o historiador não se contenta em narrar, assinala as causas dos acontecimentos e busca o sentido profundo da evolução histórica. Ainda que siga mantendo uma causalidade “divina” para aqueles acontecimentos que parecem sobrenaturais, propõe antes de tudo explicações “humanas e laicas, e, em particular, políticas”. (FONTANA, 1998, p. 18). Túcidides (século V a.C.), por sua vez, notabilizou-se como estudioso da Guerra do Peloponeso, conflito militar no qual se confrontaram as cidades de Atenas e Esparta pelo domínio da península. Tucídides estava convicto de que o estudo rigoroso de um fato histórico como a guerra, feito com base documental segura e levando em conta os depoimentos dos seus participantes e expectadores, levaria certamente às explicações corretas sobre o fato e possibilitaria uma narrativa exata e confiável. Mais do que isso: Tucídides via nessa explicação confiável do passado uma luz a guiar as sociedades do presente. Tanto Heródoto quanto Tucídides eram homens da elite grega. Seus pontos de vista refletiam os interesses das classes dominantes. De modo que podemos ver importantes contribuições de ambos os historiadores, caso de Heródoto ao dar destaque à pesquisa e à importância de ir às explicações para os fatos, bem como de Tucídides, com sua ênfase na pesquisa documental e na busca de exatidão. Porém, é evidente que os dois não baixam aos interesses dos explorados. Enxergam o mundo como uma construção das elites. Justificam-nas, inclusive. Assim começou a História enquanto ciência. Pela justificava da ação das elites na construção do mundo. Os historiadores romanos Aos gregos seguem-se os historiadores romanos da Antiguidade. No geral, os historiadores romanos trataram de explicar a ascensão e o desenvolvimento de Roma, cidade-estado que alcançou uma primazia indiscutível no mundo antigo. Os diferentes estágios de desenvolvimento da sociedade e do Estado romano, entre os séculos VIII a.C. (tempo de sua fundação) e IV d.C., passando pelos estágios iniciais até chegar ao império, tiveram de ser justificados historicamente. Assim também como a própria dominação militar, política e econômica que Roma exerceu, estendendo seus limites ao norte da África, às terras dos bárbaros ao norte, à Britânia e à Síria. O primeiro a ser considerado é Políbio (século II a.C.), que embora fosse grego escreveu sobre a história de Roma. Políbio é, na verdade, um historiador de elite que viveu em pleno contexto do helenismo, ou seja, os valores da cultura grega estavam devidamente disseminados pelo mundo romano. Os trabalhos de Políbio deram destaque ao aspecto político da história. Como grego, expressou a dominação romana vista pela ótica universal, transformando suas considerações em doutrinação de caráter político, amplamente favoráveis ao Império. Tito Lívio (século I a.C.) também vai pelos caminhos da história política. No entanto, a obra de Tito Lívio combina-se a um período da sociedade romana na qual os governantes do Império, representando as elites, estão empenhados em construir uma história gloriosa de Roma com o intuito de acalmar as plebes3. Os esforços do historiador romano, assim, estão sintonizados com a ação governamental de popularizar uma história de louvação cultural e política, por intermédio de estátuas e monumentos públicos instalados que visavam criar, no dizer de Fontana em seu livro já citado (1998, p. 26), um “mito nacional romano”. O mesmo se dá com Tácito (século I d.C.), historiador contemporâneo de TitoLívio e que vive debaixo da autoridade do imperador Augusto. Tácito expressa em suas considerações uma certa frustração pelo fim da república – de cuja estrutura de poder fazia parte –, reconhecendo no entanto a política imperial como uma forma de submeter as massas descontentes, tanto as do campo quanto as da cidades. Roma deveria encontrar, na fala dos historiadores, as justificativas e explicações históricas para permanecer eterna aos olhos de todos. Conclusão Com os historiadores do mundo antigo, particularmente com os gregos e os romanos, temos o que poderíamos chamar de “primeira interpretação” da história, que nos leva à uma produção historiográfica que rompe com meras fórmulas de crônicas e louvações narrativas. Não se tem uma formulação interpretativa livre das referências aos seres divinos. No entanto, o dedo das classes dominantes conduz o historiador e seu trabalho de interpretação do passado. Tal história que se narra e que se explica é a da trajetória dos poderosos – legisladores, cidadãos, generais, imperadores, senadores, patrícios4. Mesmo assim, há um fio condutor dessa produção historiográfica que a diferencia do mito. O passado é visto como o tempo histórico da ação desempenhada pelos homens na busca da concretização de seus interesses, determinando os seus próprios caminhos. Saiba Mais Península1: Expressão geográfica que se refere a uma porção de terra continental que se projeta mar ou oceano adentro, como um imenso pontal. Hélade2: Nome original da Grécia, que, ainda hoje, é utilizado por seus habitantes. Do nome “Hélade” vem as expressões “helenismo”, “helênico”, e até mesmo o nome próprio “Helena”. Plebes, plebeus3: Conjunto de pessoas que se distinguiam dos patrícios. Os plebeus eram considerados pessoas de baixa categoria social em Roma, acima somente dos escravos. Embora fossem livres e pudessem ter negócios, não eram considerados formalmente cidadãos romanos. Porém, tinham de ser agraciados de quando em quando pelas elites com afagos que os afastassem da promoção de revoltas e insurreições populares. Patrícios4: Nome com o qual se designavam os cidadãos romanos da elite no período da república. Eram os donos da “pátria”, portanto ricos e latifundiários, dentre eles saíam os governantes de Roma. REFERÊNCIAS FONTANA, J. História: análise do passado e projeto social. Bauru: EDUSC, 1998. FUNARI, P. P. Teoria da história. São Paulo: Brasiliense, 2008.
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