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Centro Universitário Senac Santo Amaro Rosana Cristina Willens Sistema APPCC em Rações Alimentação Animal e suas implicações na Segurança dos Alimentos São Paulo 2017 Rosana Cristina Willens Sistema APPCC em Rações Alimentação Animal e suas implicações na Segurança dos Alimentos Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Senac – Unidade Santo Amaro, como exigência parcial para obtenção do grau de Especialista em Gestão da Segurança de Alimentos. Mediado por Prof. Laís Mariano Zanin São Paulo 2017 AGRADECIMENTOS À família, toda ela, pela paciência; Aos amigos, os sinceros amigos; E aos colegas de profissão, que se deparam todos os dias com as dificuldades mencionadas nesse trabalho. RESUMO Garantir alimentos seguros à população é uma preocupação atual, de toda a cadeia de produção de alimentos, desde a produção primária até o consumidor final. Fabricantes de alimentos para animais são uma parte importante dessa cadeia, já que o alimento fornecido aos animais influencia diretamente na qualidade e segurança dos produtos de origem animal, consumidos por nós. Esse trabalho visa identificar os perigos presentes no processo produtivo de rações suínas que possam a vir afetar a segurança dos alimentos destinados à população e pesquisar tecnologias para prevenção desses perigos, utilizando para isso a ferramenta APPCC. Foram realizadas observações do processo produtivo de uma fábrica de rações suínas e também pesquisa de revisão bibliográfica utilizando principalmente artigos científicos relativos ao assunto. Vários desafios são enfrentados diariamente por profissionais da área, como por exemplo baixo investimento financeiro para realização dos controles essenciais. Alguns perigos que podem prejudicar a segurança dos alimentos (cárneos e leite principalmente) e que podem ter origem na alimentação animal são as micotoxinas, Salmonellas e resíduos de drogas veterinárias. As Boas Práticas de Fabricação (BPF), obrigatórias desde 2003 e o Programa preventivo (de adesão voluntária) de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) são as principais ferramentas que possibilitam às fábricas de rações controlar esses perigos e garantir a segurança dos alimentos ao consumidor. Palavras-Chave: 1. Segurança dos Alimentos. 2. APPCC em rações 3. Alimentação animal. 4. Perigos em rações. ABSTRACT To guarantee safe food to the population is a current concern of all the food production chain, from the primary production to the final consumer. Animal food producers are an important part of this chain, as the food provided for the animals influences directly on the quality and safety of the animal origin goods, which are consumed by us. This paper aims to identify the dangers existents in the productive process of pork feed which can affect the safety of the food destined for people and to search technologies to prevent these dangers, utilizing the tool HACCP for that. Observations of the productive process in a pork feed factory were made, and also a research of literature revision using exclusively scientific articles about the subject. Many challenges are faced daily by professionals of the area, like, for example, the low investment to perform essencial maintenance. Some dangers that can damage the safety of the food (mainly meat and milk) and that can begin in the animal alimentation are the Mycotoxins, Salmonellas and debris of veterinary drugs. The Good Manufacturing Practices (GMP), obligatory since 2003 and the Hazard Analysis & Critical Control Points (HACCP) (voluntary adhesion) are the main tools that enable the feed factories to control these dangers and guarantee the safety of the food to the consumer. Key-words: 1. Food safety. 2. HACCP in feed. 3. Animal alimentation. 4. Danger in feed. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANVISA- Agência Nacional de Vigilância Sanitária APPCC- Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle BPF- Boas Práticas de Fabricação MAPA- Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento NACMCF- Comitê Nacional de Assessoria em Critérios Microbiológicos para alimentos ONU- Organização das Nações Unidas PCC- Ponto Crítico de Controle PIB- Produto Interno Bruto Senac- Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SINDIRAÇÕES- Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 9 1.1 OBJETIVO GERAL: ........................................................................................ 10 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS: .......................................................................... 10 2 DESENVOLVIMENTO .................................................................................... 11 2.1 Metodologia ......................................................................................................... 11 2.2 Principais tipos de contaminantes ...................................................................... 11 2.2.1 Micotoxinas ...................................................................................................... 12 2.2.2 Salmonella........................................................................................................ 13 2.2.3 Uso de antibiótico e aditivos na alimentação animal ........................................ 14 2.3 Boas Práticas de Fabricação e APPCC: Ferramentas para gestão da Qualidade e da Segurança dos alimentos .................................................................................. 15 2.3.1 Boas Práticas de Fabricação (BPF) ................................................................. 15 2.3.2 Análise de Perigos e Pontos Crítico de Controle (APPCC) .............................. 16 2.4 Resultados e discussão ...................................................................................... 18 2.4.1 Observação da Indústria .................................................................................. 18 2.4.2 Dificuldades enfrentadas pelas fábricas para implantação de BPF e APPCC . 21 3 CONCLUSÃO ................................................................................................. 23 4. REFERÊNCIAS .............................................................................................. 25 9 1 INTRODUÇÃO A agropecuária ocupa espaço de destaque na economia brasileira. Em 2013 a agricultura e pecuária já correspondiam juntos a 18,3 % do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, sendo que a agricultura representava 70, 5% e a pecuária 29,5 %. (RIBEIRO; CAVALCANTI, 2013). Em 2016, o campo foi responsável por 46% das exportações brasileiras. (COGO, 2017) Dados do Sindirações apontam que a produção de rações no Brasil alcançou 67,1 milhões de toneladas em 2015. A indústria de alimentos para animais é um elo importante da cadeia produtiva. Alguns tipos de contaminantes, se introduzidos nesse ponto, não serão eliminados ao longo do restante do processo, permanecendo assim na carne consumida por nós. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU, 2012) a população mundial de 7,2 bilhões de pessoas deve alcançar em 2050 a marca de 9,6 bilhões, e este crescimento ocorrerá, principalmente, nos países em desenvolvimento. E, o consumo de proteína animal deve aumentar, acompanhando o crescimento populacional. A segurança da carne está intimamenteligada ao controle que é feito durante a produção dos alimentos para animais de corte. Os consumidores estão mais preocupados com o assunto. A ocorrência de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) importantes como a Bovine Spongiform Encephalopathy (BSE)- a “vaca louca” tem despertado cada vez mais o interesse do público com a segurança dos alimentos que ingerem. (FORSYTHE, 2002). As legislações acerca da segurança na alimentação animal surgiram a partir dessa demanda pela qualidade de todos os alimentos, não só da carne. Algumas dessas regras são de caráter obrigatório, já outras como o APPCC, que possui viés preventivo, é utilizado para identificar perigos possíveis e assim desenvolver estratégias operacionais capazes de manter esses perigos em níveis aceitáveis, ou seja, incapazes de causar mal à saúde do animal e também humana. 10 Trabalhar de forma a prevenir, é um sinal da responsabilidade dos estabelecimentos para com a segurança alimentar de toda a cadeia, certamente. 1.1 OBJETIVO GERAL: O principal objetivo desta pesquisa é identificar os perigos (Biológicos, Físicos e Químicos) presentes no processo de fabricação de rações, as suas implicações na segurança alimentar, e estabelecer medidas para minimizar e reduzir esses perigos à níveis aceitáveis, ou seja, incapazes de representar risco à saúde dos animais e consequentemente à saúde humana. 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 1. Reconhecer o Plano APPCC como alternativa para a segurança das rações animais; 2. Identificar os perigos no processo de fabricação de rações suínas; 3. Compreender o impacto que os perigos identificados podem gerar à segurança alimentar; 4. Entender as dificuldades enfrentadas pelas indústrias para implantação dos programas BPF e APPCC e também os benefícios observados quando da implantação desses programas; 11 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 Metodologia A metodologia da presente pesquisa é básica, já que não prevê uma aplicação prática específica num primeiro momento, também é caracterizada qualitativa pois a abordagem é descritiva, e exploratória visando principalmente, aumentar o conhecimento e familiaridade com o assunto pesquisado. O estudo baseou-se em sua maior parte em pesquisa teórica ou bibliográfica. Segundo Medeiros (2004, p. 48), “pesquisa bibliográfica significa levantamento de assuntos que se deseja estudar, através de livros, artigos, internet. Estes enriquecem, dão embasamento ao estudo para melhor desempenho e coerência”. Para Trentini e Paim (1999), o estímulo ao pensamento e a definição de um problema de investigação têm como ponto focal a revisão de literatura sobre o tema. As pesquisas de textos de literatura são necessárias para apoiar decisões do estudo, gerar e sanar dúvidas, analisar a posição de autores sobre uma questão, ampliar conhecimentos, reorientar o enunciado de um problema, ou ainda, encontrar novas metodologias que enriqueçam o projeto de pesquisa. 2.2 Principais tipos de contaminantes A qualidade das rações do ponto de vista de segurança envolve a ausência de substâncias e microrganismos nocivos à saúde dos animais, ambiente e dos consumidores. (BELLAVER, 2004). Uma vez que a alimentação animal tem relação direta com a segurança alimentar dos produtos de origem animal, é importante que os estabelecimentos fabricantes de rações realizem controles que possam garantir no final das contas, a segurança dos alimentos que ingerimos. Dentre os principais contaminantes das rações, capazes de afetar a saúde do consumidor final, podemos destacar: Micotoxinas, Salmonella spp., resíduos de antibióticos e aditivos. 12 2.2.1 Micotoxinas A presença de micotoxinas em alimentos tem sido correlacionada a várias patologias humanas. As micotoxinas, são extremamente importantes porque estão associadas a casos graves de câncer e queda do sistema imunológico, pois tem efeito cumulativo no organismo. (ASSIS;2014). A contaminação dos alimentos pode ocorrer no campo, antes e também após a colheita, durante transporte ou armazenamento dos produtos. As micotoxinas são metabólitos secundários que algumas cepas de fungos produzem, e podem trazer grandes perdas para a produção animal, comprometendo diretamente a qualidade dos ingredientes contaminados como os derivados do milho, trigo, sorgo, cevada e arroz. Para os animais, as diversas toxinas encontradas podem provocar efeitos nocivos à saúde, apresentando diferentes sinais clínicos, como queda de desempenho, diferentes graus de diarreias, lotes desuniformes, podendo chegar a apresentar graves lesões no trato gastrintestinal, o que prejudica a digestão dos alimentos resultando em piora da conversão alimentar e elevação do custo de produção. FONSECA (1980) cita que as principais micotoxinas que contaminam os grãos de milho são a aflatoxina, a zearalenona (F-2), a ocratoxina e dois tricotecenos: a toxina T-2 e o deoxinivalenol, sendo as três primeiras mais frequentemente encontradas. Os problemas clínicos observados nos animais decorrente da ingestão de alimentos contaminados por toxinas podem variar de intensidade uma vez que estão relacionados ao grau de contaminação dos cereais. Segundo Camilo Beck, estudioso do assunto, “ Os suínos são considerados entre as espécies uma das mais sensíveis à micotoxinas, podendo estas causar problemas reprodutivos (Zearalenona), baixo consumo (Vomitoxina) e queda da imunidade (fumonisinas)” . No Brasil, as aflatoxinas são as únicas micotoxinas cujos níveis máximos em alimentos estão previstos na legislação. O Ministério da Saúde estabelece o limite de 30 μg/kg (microgramas por quilo) AFB1+AFG1 em alimentos de consumo humano e o Ministério da Agricultura e do Abastecimento estabelece o de 20 μg/kg de aflatoxinas totais para matérias-primas de alimentos e rações. 13 “Dentre as micotoxinas, as aflatoxinas também têm sido as mais pesquisadas em leite e seus derivados. A presença da aflatoxina M1 em leite se deve à presença aflatoxina B1 no alimento destinado ao consumo animal.” (PEREIRA Et. Al, 2005) Segundo BECK, qualquer nível de aflatoxina é tóxico, sendo capaz de se aderir ao DNA e provocar câncer e problemas imunológicos. 2.2.2 Salmonella ssp. No Brasil, assim como em vários países, as salmonelas são consideradas de grande relevância, em termos de doenças de origem alimentar. Estão amplamente distribuídas na natureza, presentes também no trato intestinal de seres humanos e vários animais, incluindo os suínos, mas principalmente em aves. Bovinos, suínos e aves podem ser acometidos pela doença e transmiti-la ao homem por meio dos produtos de origem animal. (ASSIS, 2014). Salmonella spp. pertence à família Enterobacteriaceae. Consistem em bastonetes Gram-negativos, anaeróbios facultativos. Na maioria das vezes, móveis por flagelos, e não formadores de endósporos. O gênero Salmonella compreende duas espécies distintas: S. bongori e S. enterica. Essa última possui seis subespécies, que são as principais responsáveis pelas salmoneloses. Salmonella typhi é causadora da febre tifoide, S. paratyphy geram febres entéricas e o restante delas causam enterocolites (inflamações do intestino delgado e cólon). A ampla distribuição da Salmonella spp entre os animais, no meio ambiente e nos alimentos, assim como a existência de portadores assintomáticos, fazem com que esse gênero seja considerado de grande importância na saúde pública. Assim, programas de controle e erradicação se tornaram permanentes. No caso da produção de suínos, a ração tem sido apontada como uma das principais formas de entrada do microrganismo nas propriedades e um dos maioresfatores de risco de contaminações dos plantéis, podendo ter por consequência a contaminação da carne pós abate. 14 2.2.3 Uso de antibióticos e aditivos na alimentação animal Os antibióticos são compostos produzidos por bactérias e fungos que inibem o crescimento de outros microrganismos. São utilizados na alimentação animal para promover o crescimento e/ou a eficiência alimentar ou prevenir/controlar as doenças que afetam os animais. Em geral, aceita-se que a ação benéfica desses compostos resulta da alteração seletiva da população microbiana no intestino animal. Medicamentos de uso veterinário são administrados aos animais via ração, quando necessário, sob orientação e prescrição de profissional habilitado, que deve determinar o correto uso e retirada destes medicamentos. (KAN; MEIJER, 2007). Resíduos de medicamentos podem permanecer na carne, após o abate, se não forem respeitados os períodos de retirada (carência) orientados pelo fabricante do medicamento. Os promotores de crescimento são compostos usados como microingredientes na ração e que tem a propriedade de promover o crescimento, principalmente modificando o processo metabólico do animal. Normalmente os promotores de crescimento são os medicamentos (antibióticos) só que em doses menores, ou seja, em doses menores são considerados promotores e em doses mais altas são considerados medicamentos terapêuticos. Existe uma preocupação crescente sobre o fato de que a alimentação com antimicrobianos em dietas de animais contribui para a formação de um estoque de bactérias entéricas resistentes às drogas, que são capazes de transferir a resistência para bactérias patogênicas, causando risco à saúde pública. A maior preocupação é com respeito a penicilina e tetraciclinas porque esses são usados em humanos. É indispensável que as indicações técnicas desses produtos na formulação sejam rigorosamente seguidas por todos aqueles que determinam o uso dos promotores de crescimento nas rações ou que trabalhem na venda direta dos antibióticos e promotores. Entretanto, isso não é suficiente sendo necessário que se instale um programa efetivo de controle de resíduos. Num horizonte próximo, já são vislumbradas opções para substituição parcial, ou até total dos antibióticos como melhoradores de desempenho ou promotores de 15 crescimento. Produtos como ácidos orgânicos que prometem estabilizar o pH estomacal melhorando a microbiota intestinal dos animais, aumentando assim sua imunidade e ainda óleos essenciais extraídos de plantas, que possuem atividade antimicrobiana vêm sendo estudados e até testados. 2.3 Boas Práticas de Fabricação e APPCC: Ferramentas para gestão da Qualidade e da Segurança dos alimentos Uma das estratégias praticadas pelas organizações como um diferencial competitivo perante os cenários mercadológicos atuais é a aplicação de ferramentas gerenciais de qualidade em seus sistemas, produtos e/ou serviços. As principais ferramentas de qualidade utilizadas em indústrias de alimentos para atingir um alto padrão de qualidade e confiabilidade são as Boas Práticas de Fabricação (BPF) e o programa de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC). A implantação destes programas tem como principal objetivo garantir que o consumo de um determinado alimento não causará danos quando consumido. A implantação de ferramentas de gestão em segurança de alimentos traz vantagens à imagem da empresa junto aos clientes pois demonstra o compromisso constante em melhoria contínua, estabelecendo, desta forma, um diferencial estratégico no mercado que atua. No Brasil, as BPF e o Sistema APPCC são ferramentas amplamente recomendadas por órgãos de fiscalização tais como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, sendo seu uso recomendado em toda cadeia produtiva de alimentos. 2.3.1 Boas Práticas de Fabricação (BPF) As BPF são definidas pelo MAPA como “procedimentos higiênicos, sanitários e operacionais aplicados em todo fluxo de produção, desde a obtenção dos ingredientes e matérias-primas até a distribuição do produto final, com o objetivo de 16 garantir a qualidade, conformidade e segurança dos produtos destinados à alimentação animal. ” Abrange procedimentos relacionados à matéria-prima, utilização das instalações, recepção e armazenamento, manutenção de equipamentos, treinamento e higiene dos trabalhadores, limpeza e desinfecção (ATHAYDE, 1999). O Manual de Boas Práticas contempla todas essas informações, e é tido como uma “Bíblia” dentro da indústria. Nele estão descritos todos os procedimentos adotados a fim de garantir a confiabilidade dos produtos produzidos. Em suma, as BPF têm como principal objetivo garantir a integridade do alimento e a saúde do consumidor. É obrigatório pela legislação, mas, além disso, quando bem implantado, pode trazer retornos como redução de custos, diminuição de mercadorias retornadas, aumento do rendimento e expansão do mercado com a melhoria da qualidade. As BPF são consideradas pré-requisitos para a implantação e bom andamento do Plano APPCC. Pela lógica, uma indústria para planejar prevenir os perigos, precisa indiscutivelmente que seus gestores e colaboradores tenham hábitos voltados à essa prática. A Gestão da Segurança de Alimentos é uma forma estruturada, pensada especialmente, a fim de garantir produtos seguros ao consumidor final. O APPCC depende da boa aplicação das Boas Práticas para dar certo. Logo trataremos mais sobre o assunto, mas se houverem falhas em BPF, haverá muitos Pontos Críticos de Controle (PCC) a controlar, tornando o Plano APPCC quase insustentável. 2.3.2 Análise de Perigos e Pontos Crítico de Controle (APPCC) O APPCC constitui um sistema de gerenciamento da segurança do alimento baseado em uma abordagem científica, sistemática, racional, multidisciplinar que avalia a relação custo-benefício, controlando problemas de segurança no processamento de alimentos, especialmente alimentos de alto risco, como carnes. (DEODHAR, 2003) 17 Para atender a demanda da NASA de alimentos seguros para os astronautas consumirem no espaço, a Pillbury Company desenvolveu na década de 1960 o conceito de APPCC. A empresa introduziu e adotou o APPCC como um sistema que poderia oferecer maior segurança por reduzir a dependência de amostragem e análises nos produtos finais já que o APPCC enfatizava o controle de processo. (FAO, 1998). Após um breve interesse inicial, o tema APPCC perdeu relevância, principalmente por não ser uma tarefa simples o desenvolvimento do plano. A implantação exige tempo, conhecimento técnico e recursos principalmente financeiros. Em 1991, o grupo de trabalho do APPCC foi convocado pelo NACMCF (Comitê Nacional de Assessoria em Critérios Microbiológicos para alimentos) para rever o relatório inicial, e o novo documento foi adotado em 1992 como “Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle”. Nesse novo documento foram estabelecidos os sete princípios utilizados até hoje para garantir a segurança dos alimentos. São eles: 1. Realizar a identificação dos perigos e de medidas preventivas; 2. Identificação dos pontos críticos de controle (PCC); 3. Estabelecer limites críticos para as medidas de controle dos PCC’s; 4. Estabelecer os procedimentos de monitoramento; 5. Estabelecer as ações corretivas; 6. Estabelecer procedimentos de registro; 7. Estabelecer procedimentos de verificação; O principal objetivo do sistema consiste em garantir a produção de alimentos seguros através da prevenção de contaminaçãoe não pela inspeção do produto final. 18 A importância do APPCC é reforçada pelo aumento do comércio internacional de alimentos, uma vez que a Comissão do Codex Alimentarius adotou o sistema como o padrão internacional para alimentos seguros. 2.4 Resultados e discussão 2.4.1 Observação da Indústria A fábrica de rações observada está situada na região sul do país. Produz rações bovinas e suínas ambas fareladas. As rações bovinas, são vendidas basicamente para produtores associados e as rações suínas são destinadas para granja própria e produtores integrados. A maior parte da entrega é feita através de caminhões à granel, havendo também alguns tipos de rações comercializadas ensacadas. A fábrica é certificada em BPF pelo MAPA, órgão brasileiro fiscalizador do setor agropecuário, desde o ano de 2014 e possui autorização para o emprego de medicamentos de uso veterinário nas rações suínas, conforme IN 65/2006 e IN 14/2016. Para compra de matéria prima, o fornecedor deve ser obrigatoriamente registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e estar aprovado pelo Controle de Qualidade, mediante análises laboratoriais que comprovem a qualidade da matéria prima fornecida. Foi realizado estudo do fluxograma de processo e em seguida, seguindo os sete princípios do sistema APPCC, e utilizando a matriz de risco abaixo, foram determinados os PCC’s bem como ações preventivas e de controle. 19 Os perigos considerados maiores e críticos foram analisados com a ajuda da árvore decisória, e estabelecidos como PCC ou não. A recepção de matéria prima (milho, farelo de soja e farelo de trigo) foi considerada perigo critico (micotoxinas). No caso do milho para o controle é realizada análise de umidade, devendo esta ser de até 14% (limite crítico) e de classificação de grãos, onde há um padrão para recebimento, estipulados por legislação específica. (PCC1- QUÍMICO) Os farelos de soja e trigo são recebidos mediante laudo de análise bromatológica, toxicológica e microbiológica emitido pelo próprio fornecedor, onde consta o parâmetro de umidade. O controle de micotoxinas é importante em todas as etapas da cadeia de produção, mas é especialmente no armazenamento pós- colheita que a produção pode ser evitada, através do controle de temperatura e umidade dos silos de estocagem. Ao se evitar o aparecimento dos bolores responsáveis, não há produção de micotoxinas. (ASSIS; 2014). Em todas as rações produzidas é adicionado ingrediente adsorvente de micotoxinas. Como não há tratamento térmico no processo produtivo, a recepção também foi considerada PCC para Salmonella spp. (perigo biológico). Esse grupo de bactérias são termo sensíveis, sendo inativadas com temperatura de 60°C (ASSIS, 2014). Assim, se a matéria prima for recebida com a bactéria, a mesma não será eliminada em nenhuma outra etapa do processo produtivo. (PCC 2-BIOLÓGICO) 20 Na recepção, é realizada etapa de pré-limpeza de grãos, o que auxilia no controle e prevenção de perigos físicos (materiais estranhos presentes nas cargas). Essa medida é considerada importante também no controle de perigo químico, uma vez que a chance de presença de micotoxinas é maior em grãos quebrados e avariados, que são separados nessa etapa. (PCC 3- FÍSICO) Como não há utilização de tratamento térmico no processo de fabricação das rações, a qualificação dos fornecedores através de análises do produto e visitas às fábricas, bem o controle do recebimento das matérias primas é crucial para a qualidade das rações. Na etapa de moagem e mistura um perigo consideravelmente importante, são os metais (perigo físico) que podem se soltar dos equipamentos. Mas não foi necessário considerar como PCC pois o perigo é controlado com o programa de BPF, através do programa de manutenção preventiva e presença de imã na entrada do moinho. A adição de medicamentos de uso veterinário nas rações suínas tem um cuidado especial, com relação à contaminação cruzada. As rações das etapas finais dos suínos (ou de abate, como são chamadas), não podem conter resíduo maior que 1% da dose utilizada na fabricação da ração anterior (IN 65/2006- MAPA), pois devido aos períodos de carências dos medicamentos, esse resíduo de medicamento pode ficar presente na carne, no momento do abate, para consumo. Para tanto, existem legislações específicas do MAPA (IN 65/2006 e IN 14/2016) que determinam os procedimentos a serem realizados para evitar a contaminação dessas rações de abate. São realizadas limpezas de toda a linha de produção e dos caminhões graneleiros transportadores, nos casos de compartilhamento dessas linhas e caminhões, para fabricação e transporte de rações medicadas e não medicadas. Treinamentos também são realizados constantemente, deixando bem claro aos manipuladores e demais envolvidos no processo, a importância do cuidado para evitar dosagens equivocadas, ou contaminações de qualquer natureza. 21 Dessa forma, a pesagem e adição de medicamentos não foi considerada PCC, tendo em vista que os programas de pré-requisitos (BPF, treinamentos e procedimentos de limpeza validados) abrangem e evitam de forma satisfatória esse perigo. 2.4.2 Dificuldades enfrentadas pelas fábricas para implantação de BPF e APPCC COELHO (2014) cita em seu trabalho de pesquisa com empresas fabricantes de alimentos para animais que entre as principais dificuldades enfrentadas para implantação do APPCC nas fábricas estão a resistência, falta de envolvimento e conscientização dos funcionários e falta de capacitação (treinamento) para os colaboradores. PILECCO (2012) sugere em estudo realizado, que a frequência ideal de treinamento dos colaboradores de fábricas de rações para que se mantenha o programa de BPF deveria ser quinzenal. A dificuldade em realizar investimento em estrutura (equipamentos e instalações), já que a fábrica avaliada é relativamente antiga representa a principal dificuldade para a implantação do sistema APPCC. Antigamente não eram levados em conta exigências relativas à limpeza dos equipamentos por exemplo. Outra questão importante é que muitas fábricas não dispõem de laboratório próprio e as análises são realizadas por cronograma (geralmente semestral), o que não é considerada a amostragem ideal. Isso acarreta em maior tempo para obtenção dos resultados, e geralmente, ao receber os pareceres dos laboratórios, as matérias primas já foram utilizadas, e os produtos comercializados, dificultando o controle e prevenção dos perigos. Falando especificamente sobre o APPCC, a falta da obrigatoriedade por parte do órgão regulamentador também acaba ocasionando falta de interesse junto à direção das empresas. Algumas empresas já tem a consciência da importância da implantação de sistemas de qualidade, outras ainda precisam de alguma cobrança por parte dos órgãos fiscalizadores. 22 Indiscutivelmente, o constante treinamento aos colaboradores, a disponibilidade de recursos pela gerência, ou seja, o envolvimento de todas as pontas do setor, produtivo e administrativo é indispensável para o sucesso na implantação de BPF e do APPCC em qualquer fábrica. 23 3 CONCLUSÃO Além de atender a demanda, os fabricantes de rações animais têm que se adequar às exigências de legislação referentes à segurança dos alimentos, de forma a garantir alimentos seguros para toda a cadeia de produção de alimentos de origem animal. Frente a essas exigências, as BPF e o plano APPCC certamente representam importantes opções de gestão da segurança dos alimentos. Na avaliação realizada durante esse trabalho, foi possível identificarcomo principais perigos dentro da indústria, as micotoxinas, Salmonella spp., resíduos de aditivos e antibióticos e ainda materiais estranhos provenientes das matérias primas e dos equipamentos. Foram estabelecidos três PCC’s dentro do processo produtivo das rações, bem com as ações de controle relativas a eles. Esse número de Pontos Críticos de Controle, não excessivo, possibilita a prevenção adequada da ocorrência dos riscos. Isso comprova que os programas de BPF, Procedimentos Operacionais Padrão e treinamentos (pré-requisitos) estão realmente implementados dentro da Fábrica de Rações. Principalmente a qualificação de fornecedores de matérias primas, os controles na etapa de recepção destas e os constates treinamentos aos colaboradores são fatores muito importantes. O envolvimento de todos, incluindo a alta direção da empresa, embora não seja fácil, é ponto positivo, visto que a liberação de recursos é indispensável. As dificuldades enfrentadas pelos profissionais da área são várias. Podemos destacar que os escassos investimentos pela diretoria das empresas, a falta de comprometimento ou envolvimento e de capacitação de colaboradores, e até mesmo a deficiência de fiscalização representam os maiores problemas. Os benefícios da implantação de sistemas de gestão, em contrapartida, embora possam ser percebidos geralmente à médio ou longo prazo, também são vários, dentre eles, em relação aos produtos: a redução de reclamações, aumento da produtividade e qualidade dos produtos e ainda a maior satisfação dos clientes. 24 Quanto aos benefícios internos, a maior organização dos setores, redução de acidentes de trabalho e satisfação e/ou orgulho dos colaboradores podem ser considerados os principais, embora não únicos. O aumento constante da demanda por alimentos de origem animal faz com que aumente também o consumo de alimentos para os animais e, consequentemente a necessidade de fabricação de rações. O comprometimento de todos os elos da cadeia, desde o plantio dos grãos utilizados na alimentação animal até os pontos de venda de carnes é indispensável. Investimentos em pesquisas para opções economicamente viáveis e seguras principalmente, adequações de equipamentos, são certamente uma necessidade, quase emergencial dentro do processo como um todo. Os diversos pontos da cadeia produtiva, além das instituições de ensino e pesquisa e também do poder público, possuem importância fundamental, auxiliando no desenvolvimento de tecnologias que possibilitem aumentar a produtividade com preocupação constante na segurança dos alimentos e também do meio ambiente. 25 4. REFERÊNCIAS ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 21500: Orientações sobre gerenciamento de projeto. Rio de Janeiro: ABNT, 2012. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Legislação. Disponível em URL: http://www.anvisa.gov.br Acesso em 15 maio 2017. ASSIS, Luana de. Alimentos Seguros. Ferramentas para gestão e controle da produção e distribuição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2014. ATHAYDE, A. Sistemas GMP e HACCP garantem produção de alimentos inócuos. Engenharia de Alimentos. São Paulo, n° 23:20-25, jan/fev. 1999. BELLAVER, Cláudio. A importância da Gestão da Qualidade de insumos para Rações visando a Segurança dos Alimentos. Disponível em: https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/recursos/palestras Acesso em 05 maio 2017. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n°4, 23 de fevereiro de 2007. Regulamento Técnico sobre as condições higiênico sanitárias e de boas práticas de fabricação para estabelecimentos fabricantes de produtos destinados à alimentação animal e o roteiro de inspeção. 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