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FACULDADE DE DIREITO MILTON CAMPOS Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Direito Empresarial O DIREITO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO DA EMPRESA CONTEMPORÂNEA Liciane Faria Traverso Gonçalves Nova Lima 2007 2 Liciane Faria Traverso Gonçalves O DIREITO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO DA EMPRESA CONTEMPORÂNEA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu em Direito Empresarial da Faculdade de Direito Milton Campos, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Direito Empresarial. Orientador: Prof. Dr. Aroldo Plínio Gonçalves Nova Lima 2007 3 Liciane Faria Traverso Gonçalves O Direito Ambiental como Instrumento de Gestão da Empresa Contemporânea Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito Empresarial da Faculdade de Direito Milton Campos e _______________, com média igual a________________ , em _____________. Nova Lima, Minas Gerais, 2007. _____________________________________________________________________ Prof. Dr. Aroldo Plínio Gonçalves (Orientador) - Faculdade de Direito Milton Campos ______________________________________________________________________ Prof (a). Dr(a). _____________________________________________________________________ Prof (a). Dr(a). 4 A meus pais, João Luiz e Maria Lídice, pelo amor, educação, incentivo e suporte. Pelos exemplos de integridade, fidelidade e perseverança. 5 Agradeço, primeiramente, a Deus, pelo sopro de vida, pela família que me deu, pelas habilidades, dons e pelas graças infindas. Ao meu pai, que sempre me apóia, orienta e, literalmente, me ajuda nas caminhadas. Pelas “andanças” que realizamos juntos para tirar grande parte das fotos aqui registradas e pelas reportagens coletadas sobre os temas na mídia impressa. À minha mãe, por tudo: ouvir, orar e ter paciência. Aos meus irmãos, Luiz Fernando, Lucas e Laís, pela amizade, avenças e desavenças que nos fazem crescer e a conviver em família. Ao meu querido e carinhoso sobrinho “Pipo”, Pedro Virgílio, a quem eu amo muito. Ao Dani, pelo amor incondicional, companheirismo, pela paciência e compreensão diuturna. Por ter auxiliado escanear muitas das figuras aqui colocadas e na busca junto aos órgãos públicos de processos que puderam fundamentar meu trabalho. Quantas horas nas filas, na busca dos documentos. Muito obrigada, meu amor! Ao meu querido cunhado Pedrinho, PP, por ter escaneado grande parte das fotos e ajudado a tirar algumas delas. À minhas avós, Oneida (in memoriam) e Nena, por terem me dado meus amados pais e grandes mestres, além de terem participado da minha criação. Às tias Alice e Tônia pelas orações e incentivo. À Rosinha (in memoriam) por sempre ter me dado forças e estímulos. Como ela faz falta! “In memoriam”, ao tio Abel, que, além de ser colega de profissão, era muito sensível e entendia meus sonhos e a minha postura, e ao tio Ernani, que sempre me estimulou nos estudos e foi um grande amigo – como ele gostaria de presenciar mais esta etapa de minha vida! Eternas saudades! Queria que vocês estivessem aqui para compartilhar comigo este momento. Ao meu orientador, Professor e Mestre Dr. Aroldo Plínio Gonçalves, pelos ensinamentos em sala de aula e durante a orientação, assim como pela liberdade e confiança depositadas em mim. 6 Ao Professor Doutor Ricardo Adriano Massara Brasileiro, pelo acolhimento acadêmico, que permitiu a defesa da dissertação na data definida pelo Colegiado do Mestrado, após ter sucedido ao meu orientador, Presidindo a Mesa Examinadora. Agradeço, também, ao proprietário dos postos de gasolina Kepler e Luxemburgo, Sr. Maciel, que, sem me conhecer, não titubeou em me fornecer os documentos particulares de seu empreendimento para que eu pudesse ilustrar e confirmar alguns registros aqui observados. À Mole, minha Ursa Panda (poodle/cinza), e à Angel (maltês/branca), meu bebezinho, que, com sua fidelidade canina, estiveram ao meu lado, no meu colo, em meus pés, durante a redação deste trabalho. Ao Nito (periquito) que volta e meia me distraiu com suas estripulias. À Clara (in memoriam), ao Dourado e ao Geminha, (todos, Canários Belga), pelos cantos estridentes que me remetiam ao meio ambiente natural, fazendo-me estar atenta à necessidade da preservação da sadia qualidade de vida, tutelada pela Carta Magna pátria. Muito obrigada, de coração, a vocês que têm feito parte da minha história de vida. Que Deus lhes abençoe, ricamente. Amo vocês! Abraços, Liciane. 7 “O princípio da liberdade é inseparável do princípio da responsabilidade.” LEONI KASSEF 8 Resumo O Direito Ambiental tem sido um importante instrumento na gestão das empresas contemporâneas, como regulador de suas atividades. Difundido está, em todo o planeta, que muitos dos recursos naturais são esgotáveis e qualquer intervenção antrópica no meio ambiente tem algum potencial para provocar impacto ambiental. Ações poluidoras e degradadoras em cadeia já levaram à extinção de diversas espécies e começam a ameaçar o homem. Os fenômenos ambientais são transfronteiriços, isto é, uma queimada no interior do Estado da Bahia pode contribuir para o aumento do aquecimento global e interferir em outros ecossistemas, como, por exemplo, o do Ártico, ocasionando o degelo da calota polar e afetando sua fauna, com a redução do habitat natural dos animais. Assim, estar em consonância com a legislação ambiental é primordial para que os empreendimentos a serem criados, implantados ou expandidos prosperem sem transgredir as normas e afetar o meio ambiente. O rol de normas jurídicas é extenso, rico e favorável ao estabelecimento de projetos que, além de promoverem riquezas, assegurem o equilíbrio do meio ambiente e a sadia qualidade de vida a todos. Dessa forma, o licenciamento ambiental e as medidas mitigadoras e/ou compensatórias surgem como instrumentos garantidores do cumprimento das leis, a partir do que dispõe a Constituição Federal de 1988. Contudo, a empresa contemporânea, causadora de impacto ambiental significativo, deve, além de cumprir o que determina a legislação sobre a mitigação e/ou reparação do dano ao meio ambiente, assumir a responsabilidade socioambiental junto às comunidades do seu entorno, da área impactada por ela. Assim, este trabalho objetiva demonstrar como o Direito Ambiental se tornou um salutar e imprescindível instrumento de gestão da empresa contemporânea. Palavras-chave: Direito Ambiental; Empresa contemporânea; Instrumento de gestão. 9 Abstract The Environmental Law has been an important instrument in the management of the contemporaries companies, as regulating of its activities. Spread out it is in all the planet, that many of the natural resources are exhaustible and any human intervention in the environment has some potential to provoke ambient impact. Polluting and degrading actions in chain already had led to the extinguishing of diversity of species and start to threaten the humanity. The ambient phenomenon are beyond the borders, a forest fire in the interior of the State of the Bahia can contribute for the increase of the global heating andintervene in other ecosystems, for example, in the Arctic caused the thawing of polar hubcap and affecting its fauna, with the reduction of the natural habitat of the animals. Thus, to be in accord with the ambient legislation is primordial to the enterprises that will be created, implanted or expanded, to proper without transgressing the norms and affecting the environment. The roll of rules of law is extensive, rich and favorable to the establishment of projects that, beyond promoting wealth, assure the balance of the environment and the healthy quality of life. Of this form, the ambient licensing and the alleviating and/or compensatory measures appear as warranting instruments of the length of the laws, from what it makes use the Federal Constitution of 1988. However, the contemporary company, causer of significant ambient impact, must, beyond fulfilling what it determines the legislation about the mitigation and/or repairing of the damage to the environment, assuming the ambient responsibility next to the communities of its slop, the area impacted by it. Thus, this work objective to demonstrate how the Ambient Right-hander became salutary and an essential instrument of management of the contemporary company. Key-Words: Environmental Law; Contemporary Company; Management Instrument. 10 Lista de fotos Foto 01 - Medida mitigadora: manutenção do Túnel Engenheiro Otávio Pinto da Silva. p. 106 Foto 02 - Medida mitigadora: manutenção do Túnel Engenheiro Otávio Pinto da Silva. p. 106 Foto 03 - Vista lateral do Shopping Diamond Mall. p. 152 Foto 04 - Placa da medida mitigadora do Diamond Mall, na esquina da Avenida Olegário Maciel com Rua dos Timbiras: construção de nova rede de drenagem pluvial na Rua dos Timbiras. p. 152 Foto 05 - Fachada do Extra Hipermercados, às margens da BR-356. p. 153 Foto 06 - Placa de medida mitigadora do Extra Hipermercados. p. 153 Foto 07 - Placa de medida mitigadora do Extra Hipermercados. p. 154 Foto 08 - Placa de medida mitigadora do Extra Hipermercados: construção da Trincheira na BR-356. p. 154 Foto 09 - Medida mitigadora: Trincheira na BR-356. p. 155 Foto 10 - Medida mitigadora: Trincheira na BR-356. p. 155 Foto 11 - Placa da Trincheira na BR-356. p. 155 Foto 12 - Placa do Parque Ecológico Buritis. p. 156 Foto 13 - Placa da medida compensatória da UNA: implantação e manutenção do Parque Ecológico Buritis. p. 156 Foto 14 - Vista parcial do Parque Ecológico Buritis. p. 157 Foto 15 - Placa da área de lazer na Avenida Bento Simão. p.158 Foto 16 - Placa da Unimed contendo orientação para exercícios físicos. p.158 Foto 17 - Placa da Cauê, que cuida de uma praça. p.159 Foto 18 - Placa da Escola Recreio, que cuida de uma praça. p.159 Foto 19 - Placa do Mercado Central, que adota um canteiro. p.160 Foto 20 - Placa da Pink, que adota um canteiro. p.160 Foto 21 - Placa da concessionária Recreio, que criou uma área de preservação. p.161 Foto 22 - Rua Frei Hilário Meeks. p.161 Foto 23 - Lugar para depósito de “latas” de alumínio. p.165 Foto 24 - Palito de picolé feito com madeira de reflorestamento. p.166 Foto 25 - Caixa de secador que contém o selo ambiental. p.169 Foto 26 - Torre camuflada da UFMG. p.172 Foto 27 - Torres camufladas da empresa Larson Company. p.172 11 Figuras Figura 01 - Preferência no controle de impactos ambientais. p. 93 Figura 02 - Modelo de Sistema de Gestão Proposto pela ISO 14.001. p.148 Figura 03 - Política Ambiental da Ale. p.149 Figura 04 - Selo Sofex. p.151 Figura 05 - Folheto utilizado nas bandejas do McDonald’s. p.162 Figura 06 - Bateria. p.163 Figura 07 - Folheto utilizado nas bandejas do McDonald’s. p.164 Figura 08 - Folheto escaneado do Banco Real. p.164 Figura 09 - Propaganda Interface Carpete. p.166 Figura 10 - Propaganda da responsabilidade social da TOK & STOK. p.170 Figura 11 - Divulgação da Cemig sobre a sua responsabilidade ambiental. p.171 12 Lista de Quadros Quadro 01 - Prazos para análise dos processos de licenciamento da Feam. p. 86 Quadro 02 - Prazo de validade da licença. p. 87 Quadro 03 - Medidas mitigadoras e compensatórias do Ale Postos de Serviços Ltda.. p. 96 Quadro 04 - Medidas mitigadoras e compensatórias da Alsco Toalheiro Brasil Ltda.. p.97 Quadro 05 - Medidas mitigadoras e compensatórias da AngloGold Ashanti Mineração Ltda.: empreendimento Mina Cuiabá. p. 98 Quadro 06 - Medidas mitigadoras e compensatórias do Carrefour Comércio e Indústria Ltda., Unidade Pampulha. p. 99 Quadro 07 - Medidas mitigadoras e compensatórias do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), Unidade Estoril II. p. 100 Quadro 08 - Medidas mitigadoras e compensatórias da Estação Rádio Base (ERB) BH e PUC Telemig Celular S.A.. p. 101 Quadro 09 - Medidas mitigadoras e compensatórias da Mineração Itajobi Ltda.. p. 102 Quadro 10 - Medidas mitigadoras e compensatórias da Mineração Morro Velho Ltda.. Empreendimento: Circuito de Raposos - Unidade de Britagem Espírito Santo. p. 103 Quadro 11 - Medidas mitigadoras e compensatórias do Paragem Shopping - SMP Participações Ltda.. p. 104 Quadro 12 - Medidas mitigadoras e compensatórias do Ponteio Lar Shopping. p. 105 Quadro 13 - Medidas mitigadoras e compensatórias do Posto Luxemburgo S.A.. p. 107 Quadro 14 - Medidas mitigadoras e compensatórias do Terra Santa Parque Cemitério - VHR Empreendimentos e Participações Ltda. (VHREP). p.108 Quadro 15 - Medidas mitigadoras e compensatórias da Usina Hidrelétrica de Irapé. p. 110 Quadro 16 - O Direito Ambiental como instrumento de gestão da AngloGold Ashanti. p.120 Quadro 17 - O Direito Ambiental como instrumento de gestão da Sotreq. p.123 Quadro 18 - O Direito Ambiental como instrumento de gestão da Andrade Gutierrez S.A.. p.124 Quadro 19 - O Direito Ambiental como instrumento de gestão da Camargo Corrêa Cimentos S.A. e Controladas. p.125 Quadro 20 - O Direito Ambiental como instrumento de gestão dos Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A.. p.126 Quadro 21 - O Direito Ambiental como instrumento de gestão da Companhia Energética do Ceará (Coelce). p.127 Quadro 22 - O Direito Ambiental como instrumento de gestão de Furnas Centrais Elétricas S.A.. p.128 Quadro 23 - O Direito Ambiental como instrumento de gestão da Triunfo 13 Participações e Investimentos S.A.. p.130 Quadro 24 - O Direito Ambiental como instrumento de gestão da Paranapanema S.A.. p.132 Quadro 25 - O Direito Ambiental como instrumento de gestão da Samarco Mineração S.A.. p.134 Quadro 26 - O Direito Ambiental como instrumento de gestão da Companhia Vale do Rio Doce. p.137 Quadro 27 - O Direito Ambiental como instrumento de gestão da Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas). p.139 Quadro 28 - O Direito Ambiental como instrumento de gestão da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e subsidiárias. p.141 Quadro 29 - O Direito Ambiental como instrumento de gestão da Petróleo Brasileiro S. A. (Petrobras). p.144 Quadro 30 - Benefícios do SGA para a Empresa. p.149 14 Lista de Abreviaturas AAF - Autorização Ambiental de Funcionamento ABEPD - Associação Brasileira de Produtores de Eucalipto para uso Doméstico ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas AIA - Avaliação de Impacto Ambiental AIDS - do inglês Acquired Immunodeficiency Syndrome, ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - SIDA ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica ANP - Agência Nacional do Petróleo APA - Área de Preservação Ambiental ART - Anotação de Responsabilidade TécnicaBH - Belo Horizonte BHTrans - Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte S.A. Cade - Conselho Administrativo de Defesa Econômica Ceasa/MG - Centrais de Abastecimento de Minas Gerais S.A. CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável CF/88 - Constituição Federal de 1988 CFC - Clorofluorcarboneto Ciemg - Centro Industrial e Empresarial de Minas Gerais CLT- Consolidação das Leis do Trabalho Comam - Conselho Municipal do Meio Ambiente Conama - Conselho Nacional do Meio Ambiente Copam - Conselho Estadual de Política Ambiental Copasa - Companhia de Saneamento de Minas Gerais CO2 - Dióxido de carbono. CSN - Companhia Siderúrgica Nacional DIINF - Divisão de Documentação e Informação DN - Deliberação Normativa DNIT- Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes DSTs- Doenças Sexualmente Transmissíveis EIA- Estudo de Impacto Ambiental EIV- Estudo de Impacto de Vizinhança EPAE - Equipe de Pronto Atendimento a Emergências ETE - Estação de Tratamento de Esgoto FCEI - Formulário de Caracterização do Empreendimento Integrado Feam - Fundação Estadual do Meio Ambiente Fiemg - Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais FNMA – Fundo Nacional do Meio Ambiente Fobi - Formulário de Orientação Básica Integrado Geolia - Gerência de Orientação para Licenciamento Ambiental Ibama- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (sigla popular, usada oficialmente até fins do século XX, quando a instituição passou a se denominar FIBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) IEF- Instituto Estadual de Florestas 15 IEL - Instituto Euvaldo Lodi Igam - Instituto Mineiro de Gestão das Águas ISO - International Organization for Standartization LI - Licença de instalação LO - Licença de Operação LOC - Licença de Operação Corretiva LP- Licença Prévia MG - Minas Gerais OIT - Organização Internacional do Trabalho OLA - Orientação para Licenciamento Ambiental ONGs - Organizações Não-Governamentais ONU - Organização das Nações Unidas OSCIPs - Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público PAC - Programa de Aceleração do Crescimento PBH - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte PCA - Plano de Controle Ambiental RCA - Relatório de Controle Ambiental RIMA - Relatório de Impacto Ambiental R.J. - Rio de Janeiro SEM - Environmental Management System Semma - Secretaria Municipal de Meio Ambiente Senai - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Sesi - Serviço Social da Indústria SGA - Sistema de Gestão Ambiental SIG - Sistema de Informações Geográficas SLU- Superintendência de Limpeza Urbana Smaru - Secretaria Municipal Adjunta de Regularização Urbana SMRU - Secretaria Municipal de Regularização Urbana SSR -Sistema de Sensoriamento Remoto SOF - Selo de Origem Florestal Sofex - Selo de Origem Florestal para Exportação S. P. - São Paulo Sudecap - Superintendência de Desenvolvimento da Capital TAC - Termo de Ajustamento de Conduta UE – União Européia Unesco - Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas 16 SUMÁRIO 1 - Introdução p. 18 1.1 - Justificativa p .29 1.2 - Objetivos p. 33 2 - Aspectos gerais da questão ambiental na atualidade p. 39 3 - O Direito Ambiental p. 52 3.1 - O Direito e o conceito de Direito Ambiental p. 52 3.2 - Características do Direito Ambiental p. 57 3.3 - Questões ambientais históricas e o Direito Ambiental no Brasil p. 59 3.4 - Princípios do Direito Ambiental p. 65 3.5 - Classificação do meio ambiente p. 71 3.6 - Reação jurídica ao dano ambiental p. 72 3.7 - O Direito e a recuperação ambiental p. 76 3.8 - Esferas de atuação do Direito Ambiental p. 77 3.9 - Diretrizes ambientais p. 78 3.9.1 - Conceitos de Avaliação, Estudos e Relatórios de Impactos Ambientais p. 78 3.9.2 - Descrição do projeto empresarial e suas alternativas p. 80 3.9.2.1 - Etapas de planejamento, construção e operação empresarial p. 80 3.9.2.2 - Licenciamento ambiental p. 82 3.9.2.2.1 - Licenciamento em Minas Gerais p. 82 3.10 - Custos do estudo e do processo da Avaliação do Impacto Ambiental (AIA) p. 90 4.1 - O Direito Ambiental nas Empresas p. 91 4.1.1 - Análise das medidas mitigadoras e/ou compensatórias de 13 empresas p. 96 4.1.1.1 - Ale Postos de Serviços S.A. p. 96 4.1.1.2 - Alsco Toalheiro Brasil Ltda. p. 97 4.1.1.3 - Anglo Gold Ashanti Mineração Ltda. p. 98 4.1.1.4 - Carrefour Comércio e Indústria Ltda. p. 99 4.1.1.5 - Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH) p. 100 4.1.1.6 - Estação Rádio Base (ERB) p. 101 4.1.1.7 - Mineração Itajobi Ltda. p. 102 4.1.1.8 - Mineração Morro Velho p. 103 4.1.1.9 - Paragem Shopping - SMP Participações Ltda. p. 104 4.1.1.10 - Ponteio Lar Shopping p. 105 4.1.1.11- Posto Luxemburgo Ltda. p. 107 4.1.1.12 - Terra Santa Parque Cemitério - VHR-Empreendimentos e Participações Ltda. p.108 4.1.1.13 - Usina Hidrelétrica Irapé - Cemig p.110 5 - Sustentabilidade p.112 6 - Empresas que aplicam o Direito Ambiental como instrumento de sua gestão p.120 6.1- AngloGold Ashanti p.120 6.2 - Sotreq p.123 17 6.3 - Andrade Gutierrez S.A. p.124 6.4 - Camargo Corrêa Cimento S.A. e Controladas p.125 6.5 - Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A. p.126 6.6 - Companhia Energética do Ceará - Coelce p.127 6.7 - Furnas Centrais Elétricas S.A. p.128 6.8 - Triunfo Participações e Investimentos S.A p.130 6.9 - Paranapanema S.A. Paranapanema S.A. p.132 6.10 - Samarco Minerações S.A. p.134 6.11 - Cia. Vale do Rio Doce p.137 6.12 - Usiminas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas) p.139 6.13 - Companhia Energética de Minas (Cemig) p.141 6.14 - Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras) p.144 7- Sistema de Gestão Ambiental na empresa p.147 7.1 - Marketing empresarial p.157 8 - Conclusão p.173 9 - Bibliografia p.181 18 1 – Introdução Este trabalho está voltado para o exame do arcabouço legal que confere ao Direito Ambiental a chancela, nos limiares dos séculos XX e XXI, de um dos principais instrumentos de gestão empresarial, capaz de orientar e sustentar, juridicamente, a implantação, ampliação e/ou consolidação dos empreendimentos e sua interação com a comunidade que vive em sua área de influência, independentemente do grau dos impactos que as atividades produtivas deverão causar ou que já provocam no meio ambiente. Ações que o operador do Direito Ambiental realiza por meio do exame, definição e elaboração dos procedimentos para o atendimento não só às normas legais destinadas à instalação e/ou expansão de empresas e ao cumprimento de condicionantes para mitigar os impactos socioambientais, bem como, em determinados projetos, até mesmo para suplementar os investimentos públicos em infra- estrutura na organização humana do espaço, como compensação por dano ao meio natural que o empreendimento esteja causando ou se estima que irá provocar quando em operação. Especificamente nas expansões, cabe ao gestor jurídico adotar providências que também confiram ao projeto a necessária conformação a eventuais exigências introduzidas por alterações na legislação, empreendidas pela rapidez com que as dinâmicas econômica e social impõem mudanças, além de, muitas vezes, encontrar, de forma consensual, com o Poder Público, soluções mitigadoras ou compensatórias para novos e/ou mais intensos impactos advindos do aumento das atividades. Trata-se, nesses casos, de, nas fases de elaboração do projeto e de obtenção da Licença Prévia (LP), trabalhá-lo sempre em consonância não só com novas normas que o licenciador municipal ou estadual introduz com a finalidade de mitigar os impactos no meio ambiente, assim como o que representa o real interesse da comunidade, expresso na Audiência Pública. Assim, com a mesmarapidez com que as questões ambientais ganharam dimensão mundial, desafiando a Ciência, empresas e governos a desenvolver tecnologias e programas de crescimento econômico que reúnam condições de evitar o agravamento de problemas ambientais como o do efeito estufa e o conseqüente aquecimento global, o Direito Ambiental vem, a passos largos, porém consistentes, procurando atualizar-se e se aperfeiçoar para atender às demandas cada vez maiores e mais complexas que esta nova área do Direito representa para as Ciências Jurídicas. Nessa construção, o Direito Ambiental tem se valido, como Direito Positivo, de normas do Direito Constitucional, do Trabalho, do Consumidor, 19 Administrativo, Tributário, Econômico, Comercial, Civil e Penal, devido à forte característica interdisciplinar que ele apresenta. Não se pode deixar de descartar que, em face de mudanças verificadas nas relações das organizações econômicas com seus empregados e as comunidades do seu entorno, ocorridas no século XX, decorrentes de avanços sociais, políticos e institucionais, em nível mundial, o Direito Ambiental, visto como instrumento de gestão da empresa, também pode e deve propugnar pelo estabelecimento de um novo padrão de integração com o público interno do empreendimento. Vê-se, assim, que algo que tem dimensão global, como as questões ambientais, quando consideradas pela empresa, encontram-se imbricadas com outras, como a questão da opinião pública, a começar de como o denominado público interno percebe a organização e como contribui para a formação de sua imagem o que, em última análise, é, no estado democrático de direito, nas sociedades participativas e nas empresas com elevado nível de governança, vital à sua manutenção e permanência no mercado. Segundo FORTES1, o público interno de uma organização é constituído por um “agrupamento espontâneo, com ou sem contigüidade física, perfeitamente identificável, originário das pessoas e dos grupos ligados à empresa por relações funcionais oficializadas, que caracterizem um empregador e o empregado”. Para o autor, em se tratando de público, não importa o tipo de contato diário para caracterizá-lo, ou seja, “mesmo que o contato cotidiano seja insignificante, todo e qualquer contratado será enquadrado como público interno”. Assim, FORTES afirma que o público interno de uma organização econômica é formado pelos empregados (ao detalhá-lo, inclui os ex-empregados, os aposentados da empresa, as associações que os representam e os clubes que freqüentam) e seus familiares e dependentes, além dos funcionários terceirizados, nova denominação dada a empregados de outras organizações que prestam serviço a uma empresa, cunhada nas últimas décadas do século XX. FORTES (2003: 74) chama atenção para um outro tipo de público ao qual a empresa tem que estar permanentemente atenta, como, de resto, a qualquer público, pois, nenhuma organização pode se considerar imune à ação do mercado e da opinião pública, de modo especial nos dias atuais, com o elevado nível tecnológico dos processos de comunicação e a melhoria do acesso de praticamente todas as camadas da sociedade à informação, ainda que apenas jornalística, e à informática. Trata-se, aqui, do público misto, descrito por ele como um “agrupamento oriundo do grupo-clientela, perfeitamente identificável, que tem, ao mesmo 1 FORTES, Waldy Gutierrez. Relações Públicas - processo, funções, tecnologia e estratégias. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Summus, 2003. 20 tempo, feições de público interno e de público externo”. Ele explica o nível de sensibilidade do público misto: “resultados vantajosos ou desvantajosos das parcerias estabelecidas, embora isolados, podem criar novas oportunidades ou comprometer o seu desempenho”. O público misto – conforme a classificação de FORTES (2003: 76-77) – é formado por investidores, fornecedores, intermediários (agentes, atacadistas, casas- comissárias, comissários, concessionários, consignadores, consórcios, corretores, distribuidores, leiloeiros, representantes comerciais, revendedores e varejo) e cooperados. De acordo ainda com a concepção de FORTES (2003: 77-80), o público externo constitui-se da comunidade, grupos organizados, sindicatos e entidades representativas, celebridades, escolas, imprensa em geral, governo, concorrentes e competidores, além de países e grupos internacionais. Concluindo a classificação de públicos, FORTES (2003: 81) chama a atenção para o “público em potencial”: “Proveniente da massa, o público em potencial é composto por aquelas pessoas ou grupos organizados que têm pouca ou nenhuma expectativa. Encontram-se adiante do público externo, a empresa não os conhece, e seus ‘componentes’ mantêm um tipo de indiferença ou desconhecimento relativo à empresa. Pessoas ou grupos organizados voltam-se à organização por motivos esporádicos, o nível de aproximação inicial é tênue, mas exigem bom atendimento para, daí, buscar um relacionamento pleno. São exemplos de pessoas ou grupos que podem constituir o público em potencial: associações culturais, autoridades religiosas, bancos, bibliotecas, candidatos a vestibulares, clubes, consultores, consumidores em potencial, curiosos, entidades assistenciais e beneficentes, futuros empregados, organizações não-governamentais, partidos políticos, pessoas isoladas.” Seja qual for a metodologia empregada na classificação dos públicos de uma organização econômica, ANDRADE2 chama a atenção para a importância de sua catalogação: “A complexa constelação das questões socioeconômicas está a aguardar a criação generalizada de públicos em lugar das sedentas massas consumidoras, para que eles possam discutir as controvérsias públicas, a fim de encontrar soluções que devem satisfazer a evidência que os legítimos públicos esperam e têm direito de esperar.” FORTES (2003: 81) chama atenção, também, que é “relevante para pôr em ordem os públicos o fato da heterogeneidade dos seus componentes, tendo em vista que um mesmo cidadão pode estar perante diversas controvérsias, pertencendo a uma ou a outra tipologia de público.” 2 ANDRADE, Cândido Teobaldo de Souza. Relações públicas na ótica econômica. O Público, São Paulo, junho de 1989, p. 4. 21 Já na opinião de PENTEADO3, um dos mais respeitados e prolíferos autores no campo das Relações Públicas, com passagem pelo Management Development Branch da Organização Internacional do Trabalho (OIT) da ONU, o público interno das organizações é formado pelos seus donos (aqueles que possuem mais de 50% do capital social da empresa), demais acionistas, empregados e revendedores, além da comunidade do seu entorno (grifo nosso), relacionada por ele em 1978, num quadro em que, nos países em desenvolvimento, consumidores e comunidade ainda dispunham de poucos canais de acesso aos grandes grupos econômicos que comandavam o mercado. No Brasil, além de as empresas terem passado a se preocupar com a sua imagem perante a opinião pública, o advento da Lei n.º 8.078/90 (Código do Consumidor) impôs a elas uma série de obrigações no que tange ao relacionamento, ainda que de forma indireta, com os seus públicos. No art. 6.º, incisos I a VIII e inciso X, estão expressos os direitos básicos do consumidor, dentre eles: “inciso II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações”; “inciso III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, característica, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem”; “inciso VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos”; “inciso VII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor,no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências”. Um código rígido que conta, ainda, com a Lei n.º 10.962/04, que dispõe sobre a oferta e as formas de afixação de preços dos produtos e serviços para o consumidor, além do Decreto n.º 5.903/06, que dispõe sobre as práticas infracionais que atentam contra o direito básico do consumidor de obter informação adequada e clara sobre produtos e serviços.” Vê-se, dessa forma, que não há, na atualidade, como a empresa centrar-se apenas na gestão de uma produção mais econômica, que lhe propicie redução de custos e manutenção de preços competitivos no mercado, resultando em melhores resultados financeiros, sem que esteja atenta a métodos de gestão contemporâneos, que incluem o respeito ao consumidor e ao meio ambiente, a partir do ambiente de trabalho na própria organização. A classificação de PENTEADO (1978: 49) sugeria, assim, uma nova postura para a empresa, ao reunir, por sua forte dimensão social, condições para “estabelecer” ou “restabelecer” a interação da organização não só com seu público interno, mas, 3 PENTEADO, José Roberto Whitaker. Relações públicas nas empresas modernas. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1978, p. 49. 22 simultaneamente, com a sociedade, pois que, há 29 anos, começava a não se aceitar mais que se falasse em avanços, quando se atendia apenas a uma parte do corpo social, de forma deliberadamente pontual, deixando de lado a ainda hoje buscada eqüidade. O próprio desenvolvimento encerra, em sua concepção capitalista contemporânea, o crescimento econômico com inclusão social, em um processo distributivo, solidário e igualitário em oportunidades, voltado para redução das acentuadas desigualdades regionais e sociais, ainda que mantendo a estratificação em termos de renda, patrimônio e nível de vida. Passados quase 30 anos das reflexões de PENTEADO (1978: 49), a mesma questão sobre a importância dos públicos nas relações da empresa com a sociedade volta à cena, com mais força. Segundo FORTES (2003: 24), “atualmente, a sociedade exige participação verdadeira nos debates das questões apresentadas e quer se fazer presente para contribuir efetivamente com os assuntos abordados.” O autor, ao estudar a situação das empresas com relação ao comportamento de seus públicos quanto às questões ambientais, afirma que, entre os grupos de pressão, encontram-se “os ativistas, que assinalam causas locais e específicas.” Ele acrescenta: “Sempre haverá alguém interessado em saber as decorrências ambientais de um processo produtivo, por mais simples que seja, e que, aparentemente, passa despercebido até pelos funcionários da organização. Grupos locais e comunitários e o aprimoramento da democracia representativa deixarão menos espaços para as empresas que desconsideram seus ambientes de tarefa e agem com impunidade.”4 (grifo nosso). Também deve ser levado em conta que, devido ao desenvolvimento tecnológico, que tem permitido o acesso cada vez maior de pessoas à informação, através da mídia eletrônica (de modo especial, rádio e televisão), e não obstante os baixos níveis de escolaridade de parcelas expressivas das populações de países em desenvolvimento, analfabetismo e despolitização, as pessoas estão, a cada dia, mais interessadas em participar das decisões que possam influenciar de alguma forma as suas vidas. Faz 18 anos que ANDRADE5 afirmava: “a sociedade deseja influir na apreciação e resolução das controvérsias de interesse público. E isso somente será factível com a transformação das massas em genuínos públicos.” Ainda sobre as questões que dizem respeito à integração das empresas com os seus públicos, vale recorrer a outras observações de FORTES (2003: 24-25): 4 FORTES, Waldyr Gutierrez. Relações Públicas: processo, funções, tecnologia e estratégias. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Summus, 2003, p. 90. 5 ANDRADE, Cândido Teobaldo de Souza. Psicossociologia das relações públicas. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1989, p. 40. 23 “... a concepção de público é primordial para situar devidamente a atividade de relações públicas, que possibilita dar forma ao público autêntico e, seqüencialmente, constituir a opinião, não se restringindo ao encaminhamento de informações à massa, mas promovendo o debate das diferentes formas de encarar a questão controversa.”(grifo nosso). Não é demais acrescentar o que afirmaram os norte-americanos David Dozier e William Ehling sobre a formação de públicos: “Ocorre quando pessoas, que enfrentam questões similares, reconhecem que um problema existe e se organizam para fazer algo a respeito. Se não há assunto comum para conectar pessoas de alguma forma, tais pessoas não formam um público (são não-público). Quando pessoas enfrentam um tema comum, mas falham em reconhecê-lo, elas são, então, um público latente, um problema potencial de relações públicas que pode vir a acontecer. Uma vez que se identificam e têm uma questão em comum, elas se tornam público informado. Quando se organizam para fazer algo a respeito de um assunto, se tornam públicos ativos.” (grifo nosso)6. O Direito Ambiental, como instrumento de gestão organizacional, encontra eco, assim, nas Ciências da Comunicação e da Administração, respectiva e especificamente nos campos das “Relações Públicas” e, sobretudo, dos “Ambientes Externos das Empresas”, bem assim nos estudos sobre formação de público e seu poder de ação, de modo especial quando mobilizado de forma organizada. Quando PEDROSO (2004: 75) fala em “ética e co-responsabilidade pelo futuro da criação”, na necessidade do empenho de todos para a construção de “uma sociedade democrática, social e ecologicamente justa e solidária,” e numa ecologia humana que “exige a aceitação da democracia como valor universal”, vale-se de pressupostos que impõem o ordenamento jurídico para que, no estado de direito, e com o concurso da aplicação pelo Direito Ambiental da legislação pertinente, permita-se que se propugne por uma sociedade, em que se incluem as empresas, cujos balizamentos fundamentais apontem para o desenvolvimento sustentável. Modelo que não trabalha nas fímbrias das questões socioambientais, mas no seu cerne e, por isso, capaz de dar melhor qualidade de vida e bem- estar a todos, indistintamente. Por ora, um cenário ainda utópico, mas que pode estar mais próximo do que a realidade, em sua face adversa, permite imaginar. Os problemas ambientais causados pela ação antrópica são tantos e tão graves que levam, inclusive, especialistas em administração a fazer duras afirmações, como PEDROSO (2004: 73): 6 DOZIER, David M.; EHLING, William P. Evaluation of public relations programs: what the literature tells us about their effects. In: GRUNING, Jammes E. Excellence in public relations and communication management. Nova Jersey: Hillsdale; Erlbaun, 1992, pp. 170-171. 24 “Poucas são as organizações que se preocupam com a qualidade de vida do ser humano. Os exemplos vêm de cima. Em pleno terceiro milênio, é inconcebível aceitar que o Presidente George W. Bush, dos Estados Unidos, tenha rejeitado o tratado de Kyoto, para a redução de descarte de poluentes na atmosfera. De fato, o tratado de Kyoto vai contra os interesses das empresas petrolíferas dos EUA, justamente as que mais contribuíram para a campanha eleitoral de Bush. Convém lembrar que os Estados Unidos exercem uma liderança predatória. Consomem 45% da produção mundial de combustível para transportar menos de 5% da população. Toda a política dos EUA está inteiramente voltada para a proteção de interesses americanos, ou seja, para a economia interna.” PEDROSO (2004: 73-75), otimista, credita à “consciência ecológica, que agora está eclodindo comforça em todos os povos”, perspectivas de um ambiente mais saudável: “A consciência ecológica produz uma convergência que nenhum outro movimento até hoje conseguiu. Vista em sua dimensão positiva, torna-se base de um entendimento comum, rico em possibilidades de mudanças capazes de corrigir os erros cometidos e de encontrar caminhos novos de vida para o planeta... O ser humano não pode ser considerado em separado do seu meio ambiente. Onde este é agredido e violentado, aí o próprio ser humano é agredido, violentado e ameaçado em sua própria dignidade e sobrevivência. Somos convocados a desenvolver uma ética de co-responsabilidade pelo futuro da criação, empenhando-nos na construção de uma sociedade democrática, social e ecologicamente justa e solidária. Uma ecologia humana exige a aceitação da democracia como valor universal.” O otimismo de PEDROSO recupera e dá saliência às primeiras manifestações de pequenos grupos de ambientalistas que se organizaram na Europa, a partir da II Guerra Mundial. Não mais os ambientalistas dos manifestos que surgiram quase simultaneamente, ainda no início do século XX, na Antropologia, na Psicologia e na Filosofia, como salienta BENTON7: “A valorização estética e espiritual da natureza e a preferência por uma vida rural arcadiana em harmonia com o campo informou boa parte do ambientalismo do século XX. Pelo menos até os anos 1960, isso determinou um abismo profundo entre os conservacionistas ambientais, por um lado, e um amplo espectro de opinião favorável ao ‘progresso’, que advogava o avanço tecnológico, o crescimento e desenvolvimento econômico e uma abordagem científico-racional da política, por outro. O ambientalismo era encarado por muitos como uma tentativa de proteger tanto um estilo de vida privilegiado quanto um conjunto de valores culturais elitistas. Mas, contra esse ponto de vista unilateral, foi necessário estabelecer a contribuição de um ambientalismo ‘progressista’, o qual, desde o século XIX, denunciava a degradação ambiental das áreas residenciais da classe operária, destacava as ligações entre poluição ambiental, pobreza e falta de saúde, e pugnava por abordagens ambientalmente informadas para a arquitetura e o planejamento urbano... Apesar da crítica metodológica a respeito da onda de tratados ambientalistas e de uma certa reafirmação de uma fé otimista em ‘remédios’ tecnológicos para os efeitos colaterais do contínuo crescimento econômico global sobre o meio ambiente, as questões ambientais não andam longe das manchetes da imprensa desde os anos 1970, e os protestos ambientais e os grupos de pressão continuaram a crescer em tamanho, influência e diversidade por todo o mundo.” 7 BENTON, Ted. Realism and social science. In. A Radical Philosophy Reader. R. Edgley; P. Osborne (Org.). Nova York: Routledge, 1985, apud OUTHWAITE, William & BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1996, p. 10-11. 25 BENTON (1996, apud OUTHWAITE & BOTTOMORE, 10-11) salienta que “essa continuada presença do ambientalismo na agenda política vem sendo sustentada por três condições principais”, numa análise que vem ao encontro do que se observa no senso comum: “Primeiro, uma série de desastres ambientais específicos extremamente conspícuos – na usina de Bhopal, na Índia, nos reatores nucleares de 3-Mile Island, nos Estados Unidos, e Chernobil, na Ucrânia, bem como no vazamento do petroleirto Valdez da Exxon, no litoral do Canadá –, ao lado de uma crescente compreensão ambientalista de desastres ‘naturais’, tais como fome e inundações ligadas à desertificação e ao desmatamento. Segundo, o efeito sobre a qualidade de vida, sentido por setores influentes, cultos e articulados da população nas sociedades ocidentais, do impacto de desenvolvimento industrial rápido e desregulado (industrialização e urbanização do ‘idílio rural’, adulteração, contaminação e envenenamento químico dos alimentos, barulho, poluição e congestionamento pelo uso generalizado do carro particular; e assim por diante). A distribuição espacial e social desses custos é tal que eles não podem ser facilmente evitados com subterfúgios pelos ricos e influentes, tal como podia acontecer com subprodutos de fases anteriores do desenvolvimento econômico. Terceiro, indícios cada vez mais divulgados de impactos ambientais globais da atividade humana presente ou previsível – o ‘inverno nuclear’, o buraco de ozônio, o aquecimento global e a chuva ácida. Essas condições em geral não são percebidas por experiência direta, mas são cada vez mais inteligíveis para públicos cultos.” A tomada de consciência da sociedade sobre a realidade do meio ambiente global e suas candentes questões ambientais ocorre, assim, após o mundo passar por fortes ebulições e profundas transformações nos planos socioeconômico e geopolítico, ao longo do século passado, a começar, numa cronologia histórica, da assunção bolchevique ao poder na Rússia, em 1917, instaurando no país um Estado socialista que, três anos depois, se tornaria, não é demais realçar, um Estado socialista totalitário. O governo socialista assumiu o controle da produção e assinou a paz com a Alemanha, retirando as tropas russas (13 milhões de soldados estiveram envolvidos no conflito) da I Guerra Mundial, conflagração que levou à falência inúmeras empresas nacionais e à crescente inflação. Anos antes, em 1905, a Rússia havia sido derrotada pelo Japão na guerra pelo controle da China e mergulhado em uma grave crise econômica, com greves e manifestações contra o Império. Com a constituição da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e o seu avanço sobre a Europa do Leste, após a II Guerra Mundial, o mundo se tornou bipolarizado, com duas potências hegemônicas: Estados Unidos e União Soviética, situação que se manteve quase inalterada até 1989, com a dissolução das URSS e a queda imediata do regime socialista em todo Leste Europeu, com exceção da Albânia, no Sudeste da Europa, que, mais tarde, não teve como manter um regime que em tudo destoava de seus prósperos vizinhos. 26 Durante todo o período de hegemonia soviética, os problemas ambientais cresceram sem qualquer controle, principalmente com a necessidade de grandes produções de aço, petróleo e bens de consumo duráveis para atender todos os países que se encontravam sob a égide de Moscou, inclusive Cuba. Também foram realizados vultosos investimentos na indústria bélica, com repercussões negativas sobre os orçamentos sociais e riscos de danos incomensuráveis ao meio ambiente. Ainda hoje, passados mais de 15 anos da dissolução da URSS, a Rússia é um dos maiores poluidores mundiais, com lançamento de enormes quantidades de CO2 na atmosfera. Depois dos retrocessos em matéria de direitos humanos e liberdades individuais por praticamente cinco décadas no Leste Europeu e nas repúblicas anexadas pela URSS, como Lituânia e Ucrânia, entre outras, os anos 1990 chegaram com ares de restauração do Estado de Direito naqueles países, mas com uma gama considerável de problemas socioambientais a resolver, já que sua indústria e os setores primário e terciário funcionaram todo esse tempo sem que fossem respeitadas regras elementares antipoluição e antidegradação ambiental. Se, do lado socialista o quadro não foi nada animador com relação à qualidade no ambiente de trabalho, aos direitos e garantias individuais e ao respeito ao meio ambiente em geral, o mesmo não se pode dizer dos países da Europa Ocidental quanto à democracia e direitos humanos. Mas, em matéria ambiental, até o fim dos anos 1970, depois de passar pela reconstrução financiada em parte pelo Plano Marshall, os efeitos da retomada do crescimento econômico contribuíram para a constituição de um passivo ambiental de grandes proporções. Mas, com os movimentos ambientalistas e a constatação dos serviços de saúde dos países daUnião Européia de que aumentava a incidência de chuvas fortemente ácidas e, com elas, o número de pessoas acometidas por doenças respiratórias, da visão e da pele, além da contaminação de culturas agrícolas, pastagens e mananciais hídricos, a situação começou a melhorar com a adoção de medidas para reduzir o lançamento de gases na atmosfera, efluentes em cursos d’água e melhor disposição final dos rejeitos industriais e resíduos sólidos urbanos, assim como o tratamento dos esgotos residenciais antes de seu lançamento em rios, oceanos e mares. Há muito ainda a caminhar nesse sentido, mas a UE já avançou – e bastante – nessa área. Para se exemplificar, basta lembrar que o Rio Tâmisa, que banha Londres, capital da Inglaterra, passou por um programa de despoluição que tomou os 15 últimos anos do século XX e milhões de libras esterlinas, mas, hoje, está com bom nível de balneabilidade, isto é, as pessoas já podem praticar esportes em suas águas, sem o risco de contrair doenças. Efetivamente, em toda a Europa, a atualidade está sendo marcada pela defesa e adoção de 27 programas de produção que incorporem processos mais limpos, com respeito ao meio ambiente, embora o continente, de forma geral, ainda seja um grande poluidor Durante os anos 1980 e 1990, viu-se uma Europa passando por transformações que levaram o metalúrgico polonês Lech Walesa, que trabalhava em um estaleiro, à Presidência da República. Antes, porém, com os movimentos estudantis de fins dos anos 1960 na França e Alemanha, que se espalharam pelo mundo, rapidamente chegando aos Estados Unidos e a países da América Latina, muitos dos quais se encontravam sob regime militar; a revolta dos trabalhadores e a reação do povo ao jugo soviético, na famosa Primavera de Praga, na Hungria, caladas pela força dos tanques do Pacto de Varsóvia; fim da ditadura franquista na Espanha e da salazarista em Portugal, ambas na década de 1970; o término da guerra no Vietnã, em 1975, depois de 11 anos da ocupação parcial do país por tropas norte-americanas; a conclusão do processo de descolonização da maior parte da África e da Ásia; o fim do apartheid na África do Sul, em um conjunto de fatos de grande dimensão social e política, o mundo ganhava novos rumos e a Humanidade, a esperança e a vontade de uma nova conformação global, em que prevalecessem a justiça social e o respeito ao meio ambiente, por meio do desenvolvimento sustentável. Não obstante diversos avanços, como o fim das ditaduras militares na América Latina e da guerra nos Bálcãs, ainda persistem guerras fratricidas na África e na Ásia, o interminável conflito geopolítico e religioso entre palestinos e israelenses, uma velada discriminação racial e restrições aos imigrantes na Europa, sobretudo em relação a africanos, asiáticos e, em alguns países, especificamente a negros, bem como o desrespeito a outros direitos humanos e ambientais em diversas nações africanas e asiáticas. A adversidade, contudo, tem sido, ao longo da História, responsável por descobertas científicas e ajustes sociais que contribuíram para aperfeiçoar as relações humanas, inclusive no campo do trabalho, com a instituição de normas que dignificam o homem na sua faina diária para se manter. Com efeito, nos Estados Unidos, a crise de 1929 arruinou as classes média e baixa, mas as classes dominantes não ficaram a salvo dela. Por causa disso, o modelo econômico do capitalismo liberal começou a ser contestado e logo surgiram economistas defendendo a intervenção do Estado nas atividades econômicas, para reestruturar as nações que estavam em crise. Sobre a questão, ARRUDA8 diz: 8 ARRUDA. José Jobson. História Integrada, v. IV. São Paulo: Ática, 1995, p. 73. 28 “O plano saneador da economia norte-americana recebeu o nome de New Deal e foi posto em prática no governo do presidente Franklin Delano Roosevelt (1933-45). Com essa nova política, o governo passou a conceder créditos e facilidades de investimento às empresas particulares, ao mesmo tempo em que garantia aos trabalhadores uma série de direitos: salário mínimo, jornada máxima de trabalho, proibição do trabalho infantil e previdência social.” No Brasil, entre outros avanços nos campos econômico e social, salientem-se a promulgação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943, a ampliação da classe média com a aceleração da industrialização e do processo de urbanização nos anos 1950, ao lado de pontos negativos, como o aumento da população de miseráveis, que na virada do século, há sete anos, somavam cerca de 32 milhões de pessoas que viviam com menos do equivalente a US$ 2 por dia, algo como R$ 4,00 ao câmbio do início de maio de 2007. Atualmente, segundo os últimos dados censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quem vive abaixo da linha da pobreza, forma um contingente de cerca de 25 milhões de pessoas, um avanço que advém da implantação de programas sociais, como o Bolsa Família e o Bolsa Escola, que ampliaram a renda de milhões de famílias. Neste quadro em que avanços socioeconômicos contrastam com a manutenção de estratos sociais ainda excluídos dos benefícios da industrialização e do crescimento econômico, também emergem os problemas ambientais, provocados tanto pelo forte e crescente adensamento populacional quanto pelas atividades produtivas intensivas em consumo de recursos naturais, além do modelo de consumo ditado pelo capitalismo, que, por via de conseqüência, pressiona os meios de produção. De fato, no momento, além de tantos problemas de ordem política, econômica e social no Brasil, há todo um conjunto de questões políticas, econômicas, religiosas e geopolíticas, em nível global, como o interesse dos Estados Unidos pelo controle das regiões que possuem as maiores reservas petrolíferas do mundo e produzem mais da metade de todo o óleo consumido pelo mercado mundial. Ao lado dessas questões, encontram-se as de ordem ambiental. Nos últimos painéis promovidos pela ONU para avaliar o clima na Terra, foram divulgadas projeções estarrecedoras e preocupantes de cientistas de todo o planeta. Em essência, o que eles dizem indica que se o homem não contiver o processo de poluição, de emissões de gases na atmosfera e outros danos ao meio ambiente, por conta de um consumo exacerbado que exige grandes produções de bens e de serviços, certamente poderão sobrevir graves problemas decorrentes das mudanças climáticas que deverão ocorrer nas próximas décadas, com inevitáveis danos ao meio ambiente e à Humanidade. 29 1.1 - Justificativa Mesmo que, muitas vezes, estratos sociais organizados não se disponham a proteger o meio ambiente, o público afetado pelos empreendimentos – incluindo a comunidade do seu entorno – pode contar a ajuda do Ministério Público contra quaisquer riscos de danos iminentes ou futuros. O desinteresse de determinados segmentos quanto aos efeitos negativos da ação antrópica sobre o ambiente provavelmente decorra do fato de eles não estarem sob a ameaça ou diretamente afetados, mas, se valendo das normas ambientais, alicerçadas no Direito Ambiental e esculpidas na CF/88 e em farta legislação infraconstitucional, qualquer cidadão, a qualquer momento, pode invocar a interferência do Ministério Público. Se, há pouco menos de 20 anos, as condições no espaço de trabalho e no entorno de determinados empreendimentos eram, muitas vezes, de insalubridade e periculosidade para trabalhadores e comunidades, devido a impactos ambientais, sem que a sociedade acionasse os órgãos competentes para as providências cabíveis, a realidade atual é bem distinta. Nos casos de poluição de cursos d’água, por exemplo, as populações à jusante das áreas dos empreendimentos poluidores praticamente “não tinham voz”, no passado, via de regra, por não disporem de “canais de acesso” às autoridades para resolver a questão, exceto quando os políticos da região se mobilizavam,em face, talvez, de, também eles e suas famílias, se encontrarem prejudicados. Os avanços socioeconômicos e políticos ocorridos em nível mundial, nas últimas décadas, já apontados neste trabalho, não foram acompanhados, entretanto, pelos desdobramentos perversos da globalização da economia, como a ferrenha e não raro antiética disputa pelo mercado, perpetuação da miséria, fome e propagação de doenças em diversas regiões, que já poderiam estar erradicadas em todo o planeta, além de danos de vulto ao meio ambiente e guerras civis fratricidas, decorrentes de dissensões religiosas, étnicas e ideológicas, ao lado de escaramuças pelo poder geopolítico. Num quadro como este, como as questões ambientais podem, efetivamente, ganhar o interesse das empresas e, de resto, da sociedade, incluindo o Poder Público? Empiricamente, poder-se-ia responder: das empresas, por meio dos ganhos que deverão auferir ao respeitarem as normas ambientais, tendo o Direito Ambiental como um dos instrumentos fundamentais do seu processo de gestão; ressalte-se que uma quantidade expressiva de organizações econômicas vem, há algum tempo, operando de acordo com a legislação ambiental, com vistas à sustentabilidade; da sociedade, pela educação ambiental, 30 conscientização pública, cidadania, mas, é provável, lamentavelmente, pelo que o homem mais tema, a ameaça iminente de catástrofes e prejuízos à sua porta, decorrentes desse ou daquele empreendimento ou das mudanças climáticas globais que vêm sendo registradas em ritmo acelerado; do Poder Público, enfim, pelo empenho de administrações responsáveis, pela pressão da sociedade civil ou pelo interesse que muitas vezes demonstra quando algo que possa ser evitado represente risco do surgimento de problema a resolver em curto prazo e que exigirá a disponibilidade de recursos financeiros, escassos ou inexistentes em seu caixa. O Poder Público, ademais, de forma geral, tem centrado o seu interesse, nos novos licenciamentos e renovações dos que vêm causando danos ambientais, na exigência da adoção de medidas compensatórias, direcionadas, principalmente, para a realização pelos empreendedores de projetos de infra-estrutura pública. O financiamento dessas obras pela iniciativa privada é uma forma de a administração pública, sobretudo a municipal, resolver dois problemas de uma só vez: a mitigação de impactos ambientais pela atividade econômica e aliviar os seus cofres, em face da crise fiscal em que se encontra a maioria das mais de 5.000 prefeituras brasileiras. Ademais, os adensamentos residenciais, comerciais e de serviços nas zonas urbanas são um dos principais causadores de danos ao ambiente. E isso ocorre tanto em áreas de periferia e favelas, em que a ausência ou deficiência de infra-estrutura pública implica a baixa qualidade de vida das populações, quanto em áreas ocupadas por estratos sociais de renda e padrões de consumo mais elevados. Nestas, são produzidos fortes impactos ambientais, como, por exemplo, geração de mais resíduos sólidos para descarte (embalagens de papelão, isopor, plástico e do tipo longa vida, garrafas de vidro, ‘latinhas’ de alumínio e latas de aço utilizadas no acondicionamento de alimentos industrializados, revistas e jornais usados, entre outros resíduos). Além disso, os bairros cuja população apresenta boas condições socioeconômicas e vive com relativo conforto têm trânsito denso, pelo menos nas principais vias de acesso a eles, formado por uma grande quantidade de veículos particulares que trafegam, em geral, apenas com o condutor, com a inevitável deterioração da qualidade do ar e elevação dos níveis de ruídos acima do suportável à audição humana. O tema deste trabalho foi escolhido, assim, pelo fato das cidades e municípios terem crescido e continuarem se expandindo sem planejamento e, em especial, Belo Horizonte, nos últimos 30 anos, na direção de seus eixos Sul e Norte e, também, na de diversos municípios da Região Metropolitana, principalmente Nova Lima, Brumadinho e Rio Acima, onde se instalaram dezenas de empreendimentos imobiliários nesse período. Tudo isso tem causado impactos ambientais e, com a necessidade de renovação de licenças de operação de diversos 31 empreendimentos, o Direito Ambiental surge, mais uma vez, como instrumento essencial nesse processo. Também justifica a eleição do tema deste trabalho o fato de que, há, ainda, o licenciamento para instalação de novos empreendimentos e para projetos de expansão de setores da economia que se encontram em situação de forte demanda internacional, como o da mineração e de algumas commodities (soja, milho e etanol). Também no plano interno registra-se o aquecimento da construção civil e da indústria automobilística, com repercussões sobre os setores de mineração, siderurgia, cimenteiro e de materiais em geral, como tubos de plástico, fios, cerâmicas, mármores, granitos, tijolos, telhas, vidros, alumínio, madeira, colas, tintas e vernizes, entre outros. A siderurgia brasileira, que vem mostrando considerável crescimento nos últimos anos, também apresenta projetos de instalação de novas usinas e de expansão das que se encontram em funcionamento. Desses setores da economia que estão aquecidos, haverá desdobramentos nas áreas de fornecedores, distribuidores, transportadores e comércio. Paralelamente ao aquecimento de setores da iniciativa privada, com a implantação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pelo Governo Federal, a partir de 2007 – até abril haviam sido contratados R$ 1,92 bilhão, de um total de R$ 15,8 bilhões previstos para desembolso com obras em 2007 – espera-se que a economia brasileira possa crescer a taxas maiores do que as dos últimos anos, estimando-se algo em torno de 4,5% a 5% e até 5,5% ao ano. Como muitos dos projetos do PAC são de infra-estrutura, reside, aí, um dos motivos de o programa ainda não ter ganhado a velocidade esperada, pois não houve a liberação da Licença Prévia para eles. São os casos, por exemplo, das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, que o Governo pretende construir no Rio Madeira, em Rondônia,9 da implantação de uma linha de transmissão de energia elétrica em Florianópolis, Santa Catarina, e da instalação da plataforma de petróleo e gás do Campo dos Golfinhos, no Espírito Santo, embora haja outros empreendimentos que também se encontram na dependência da concessão da LP. Esses projetos contribuirão para a alavancagem de diversos setores da economia, haja vista que irão demandar quantidades consideráveis de matérias-primas e equipamentos, além de gerarem novos postos de trabalho. Mas não deixarão de produzir impactos ambientais e exigem, como, de fato, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis 9A Licença Prévia das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira (RO), depende de definições sobre como proceder adequadamente para evitar o depósito de sedimentos nos lagos das represas, o que pode levar à extinção de várias espécies de peixes, dentre elas, os bagres. 32 (Ibama) está procedendo, a elaboração de EIA/RIMA tecnicamente convincente quanto à sustentabilidade de cada um deles, o que abre novas, instigantes e alvissareiras oportunidades de atuação para os operadores do Direito Ambiental. Por fim, pesquisar o Direito Ambiental como instrumento de gestão das empresas contemporâneas é dar saliência a essa nova área das Ciências Jurídicas, sem prejuízo das demais, em um contexto não só de economia globalizada, mas de economia cada vez mais atrelada às questões ambientais, que passam, indispensavelmente, pelo aparato normativo, que impõe a participação do operador do Direito Ambiental em nível de gestor organizacional. Não há como dissociar a atividade econômica das questões ambientais e da tutela jurídica do meio ambiente. A maior parte dos novos projetos e dos empreendimentos em expansão, devido à sua dimensãoe aos impactos que irão causar no meio ambiente, passará por processo de licenciamento ambiental. Isso enseja a oportunidade de o Direito Ambiental contribuir, de forma decisiva, para que as plantas industriais, áreas de servidão das redes de transmissão de energia elétrica, entorno das áreas que serão submersas para a formação dos lagos de hidrelétricas, áreas de cultivo, áreas de exploração de petróleo e gás, conjuntos de galpões, frotas de veículos e unidades comerciais estejam de acordo com as normas legais e participem da pavimentação de caminhos para o bem-estar social. Esta Dissertação – pede-se venia para repetir – decorre do fato de que as empresas precisam buscar no Direito Ambiental a decisiva contribuição para uma Gestão Organizacional que previna problemas que venham a afetar o meio ambiente e a própria empresa, evitando-lhe contenciosos que, quando não representam perdas econômico- financeiras tangíveis, como nos casos de paralisação de suas atividades, implicam prejuízos à sua imagem. Pior, ainda, quando ocorrem os dois problemas. As ações, tanto das empresas, quanto da sociedade e, ainda, do Poder Público, com relação às questões ambientais, encontram, na atualidade, eficaz apoio no Direito Ambiental, não só devido à rica legislação disponível, mas, também, pelo fato de os operadores dessa nova área do Direito reunirem condições de trabalhar de forma preventiva, atuando diretamente no processo de gestão das organizações, o que faz da Empresa objeto do Direito Ambiental. 33 1.2 - Objetivos Os esforços deste trabalho estão direcionados para a pesquisa das exigências legais e das condicionantes que o Poder Público deve impor, com fulcro na legislação, às empresas que se instalarem e/ou ampliarem suas atividades em qualquer parte do território brasileiro. Essa prática que ganhou ritmo crescente, desde o advento da Lei n.º 6.938/81, que institui a Política Nacional do meio Ambiente e da promulgação da Constituição Federal de 1988 (CF/88), bem como o Direito Ambiental pode atuar como instrumento de gestão empresarial. Para tanto, foram estudados 13 processos de licenciamento ambiental nos municípios mineiros de Belo Horizonte, Rio Acima, Sabará e Nova Lima e analisados balanços anuais (relatórios da administração), folders e sites na internet de 14 organizações empresariais de relevância na economia nacional e internacional, com interesses e atividades nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Ceará e Espírito Santo, bem como na América Latina, em países como o México, Venezuela e Argentina, entre outros. O estudo, ora apresentado, procura mostrar como o Direito Ambiental, empregado como instrumento de gestão das empresas contemporâneas, configura-se eficaz ferramenta de controle da atividade empresarial no que se refere ao respeito ao meio ambiente e à promoção social dos empregados da organização e da população que vive no seu entorno, assim como aos resultados econômicos e financeiros do empreendimento. Enfim, dar saliência à contribuição do Direito Ambiental na organização de um sistema de gestão que contemple o respeito ao ambiente e a busca da sustentabilidade, que somente poderão ser alcançados observando-se as normas contidas na legislação ambiental. Dessa forma, procurar-se-á reforçar a atenção ao emprego de meios legais e éticos que não só elidam ônus que representem prejuízos aos empreendimentos, como a postergação do início do processo produtivo e da geração de receita, seja pelo custo financeiro decorrente da demora no retorno econômico do investimento, seja, de forma específica, pela necessidade de adoção de medidas compensatórias e mitigadoras dos impactos projetados que poderiam ter sido rapidamente negociadas ainda na fase da obtenção da Licença Prévia (LP), emprestando celeridade à execução do projeto. Função tanto dos especialistas em impactos ambientais, quanto do operador do Direito Ambiental, pois há limites legais para o que os órgãos licenciadores podem exigir. Acordar com o Poder Público novas condicionantes com o projeto já em fase de implantação física, devido à revisão do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), da Avaliação de 34 Impacto Ambiental (AIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), proveniente de erros na sua elaboração e no que foi definido como responsabilidade da empresa na obtenção da LP, acarreta, inevitavelmente, dispêndios maiores do que se esses já estivessem definitivamente adotados, de acordo com o que prevê a legislação. O Direito Ambiental entra nessa fase inicial, pois deve participar diretamente de definição das diretrizes para a correta elaboração dos estudos, avaliações e relatórios, numa ação normativa e preventiva. Postergar esse procedimento, deixando-o para, como ocorria no passado, realizá-lo, muitas vezes, como medida apenas paliativa, quase que concomitantemente com a entrada em operação da nova atividade econômica, não encontra mais espaço nos empreendimentos com elevado nível de governança, reconhecidos e legitimados pela sociedade. A esse respeito, o Presidente executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Fernando Almeida, destaca: “A governança corporativa é um conceito de contornos ainda imprecisos, mas que está relacionada à sustentabilidade. Surgiu em meados da década de 1990, nos Estados Unidos e na Inglaterra, quando grandes investidores institucionais, como seguradoras e fundos de pensão, começaram a desconfiar que os conselhos de administração não estariam trabalhando direito no interesse dos acionistas e estimularam a elaboração de códigos de boas práticas. Dentro dessa visão, ‘a boa governança corporativa assegura aos sócios a eqüidade, transparência, prestação de contas (accountability) e responsabilidade pelos resultados’... Tais atributos aplicam-se também, como requisitos desejáveis, às relações da empresa com a sociedade e com o meio ambiente. Por isso, parece inevitável que o conceito de governança corporativa evolua para abranger todos os stakeholders e não apenas os acionistas. Empresas na vanguarda das práticas sustentáveis já perceberam as relações entre sustentabilidade e governança corporativa e começam a criar os instrumentos da governança sustentável.”10 Os lacunosos e obsoletos mecanismos que foram por muito tempo utilizados pelos empreendimentos não mais são aceitos, hoje, pela sociedade, ainda que haja tolerância ou omissão do Poder Público, especialmente quando as atividades empresariais trazem benefícios econômicos imediatos, como geração de postos de trabalho e renda, por conseguinte, receita tributária, não obstante a iminência, em alguns casos, de prejuízos de ordem ambiental, que, certamente, irão causar impactos de forma mais acentuada nos estratos sociais de menor renda, talvez, alguns dos beneficiários, no primeiro momento, dos novos empreendimentos. Um quadro outrora freqüente da retórica de políticos, ao anunciar em que determinado empreendimento seria “responsável pela geração de novos empregos e renda”, independentemente dos impactos sobre o meio ambiente, é pouco provável de ser visto neste 10ALMEIDA, Fernando. Meio Ambiente: negócios, p. 139. In: TRIGUEIRO, André (org). Meio Ambiente no Século 21. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. 35 início de novo milênio. Os mecanismos jurídicos que podem ser acionados pela sociedade com base na legislação existente são suficientes e eficazes para coibir abusos. O Estatuto da Cidade (Lei n.° 10.257/2001), por exemplo, é um deles: “Política Urbana – Capítulo I: Diretrizes Gerais. Art.1.°, parágrafo único. Para todos os efeitos esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. Art. 2.°,Inciso X – adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeiras dos gastos públicos aos objetivos do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os investimentos de bem-estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais.”11 Quando se chama a atenção para a importância do objeto do Direito Ambiental, não se trata, apenas, do que MILARÉ12 afirma, com raro descortino, ao abordar o tema meio ambiente e gestão pública, pois esta nova área das Ciências Jurídicas vai além da busca de soluções para questões ambientais junto ao Poder Público ou em outra esfera, constituindo-se instrumento de gestão e governança corporativas, que implicam procedimentos que se destinam a evitar justamente o que conflita com as normas ambientais, pautados, sempre, pela ética do operador do Direito e da organização. MILARÉ diz que, “na vida pública e no exercício da política, há uma forma sutil de imoralidade (ou falta de ética), que é o abuso do poder, seja para restringir, seja para favorecer.” O autor lembra que essa colocação pode parecer “soar muito distante da questão ambiental, porém, o meio ambiente é uma das vítimas mais insuspeitas e, ao mesmo tempo, menos percebidas dessa desvirtuação.” Ele fundamenta sua assertiva: “Para exemplificar, um famoso relatório da Fundação Dag Hammarsköld, elaborado com a participação de pesquisadores e políticos de 48 países, e subvencionado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), aponta para a problemática do abuso de poder e sua interligação com a degradação ambiental. Cita comportamentos colonialistas e neocolonialistas em relação a uso do solo e minorias sociais. O ‘Relatório Brundtland’, que oficializa a posição da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável, parte de uma visão complexa das causas dos problemas socioeconômicos e ecológicos da sociedade global, enfatizando a ligação entre economia, tecnologia, sociedade e política, chamando a atenção para uma nova postura ética em face do meio ambiente. Alertas tão significativos e autorizados dirigem-se, sobretudo, aos governos, e às elites e classes dominantes que, regra 11 VADE MECUM: acadêmico de direito: Constituição Federal e Emendas Constitucionais, Código Civil, Código de Processo Civil, Código Penal, Código de Processo Penal, Código Tributário Nacional, Consolidação das Leis do Trabalho, Código Comercial, Legislação de Direito Ambiental, Legislação de Direito Administrativo, Legislação Previdenciária, Legislação complementar, Súmulas e Enunciados, p. 1.132. 12 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência e glossário. 4. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2005, p. 93. 36 geral, impõem rumos e tons à política. É assaz freqüente no serviço público a aplicação do perigoso aforismo: ‘Para os amigos tudo, para os inimigos a lei.’”13 Reportar-se à temática do Direito Ambiental não é tão-somente focalizar o emprego de conhecimentos jurídicos com a finalidade de se respeitar a legislação e evitar o dano ambiental. É algo além disso. É ter em tela fazer desse novel instrumento de gestão empresarial o que preconiza a rica legislação sobre meio ambiente: promover o bem-estar social, no tempo e no espaço, com olhos na sustentabilidade. O Direito Ambiental não deve ser instrumento para, sob o argumento de se estar procurando “respeitar a legislação”, interpretá-la ao sabor de interesses inconfessáveis, mas valer-se, sobretudo, do que o legislador reservou especificamente para os empreendimentos no ambiente urbano, seja pelo que dispõe a Constituição Federal de 1988, em termos de política urbana, seja pelo que prevê o Estatuto da Cidade de 2001, ou, ainda, pelo que se pode antever de impactos a serem causados ao ambiente pelo empreendimento considerado, conforme dispõe a Lei n.º 6.938/81, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente. A mesma lógica deve se estender ao meio ambiente em geral, que inclui a área rural e algumas interseções territoriais, como as zonas “rurbanas” – um espaço que reúne características urbanas e rurais –, bastante comum nas periferias da maioria das cidades brasileiras, que cresceram de forma desordenada a partir dos anos 1950. Nos “espaços rurbanos”, é possível encontrar edificações que, embora simples e até pobres em termos arquitetônicos, dispõem de redes hidráulica e elétrica com materiais tecnologicamente avançados, pisos de cerâmica de elevada resistência e estrutura em aço e alvenaria, ao lado de habitações de pau-a-pique, o mesmo ocorrendo com as instalações de pequenas atividades artesanais e industriais, além de áreas destinadas à criação de animais e ao cultivo de hortas e pomares familiares ou comunitários. Sobre meio ambiente, a CF/88 consagra: “Capítulo VI: DO MEIO AMBIENTE (CF/88). Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações...Inciso IV - exigir, na forma da lei, para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade.”14 Assim, no processo de Licença Prévia (LP), que, conforme o Art. 6.° da Resolução 237/97 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), pode ser concedida por um órgão 13 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência e glossário. 4. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2005, p. 94. 14 VADE MECUM: acadêmico de direito. Constituição Federal. Capítulo VI: Do Meio Ambiente. Art. 225, p. 88. 37 ambiental municipal – no caso de Belo Horizonte, pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam) –, deve ser estabelecido, de acordo com o Art. 18, do mesmo diploma legal, que o prazo de validade da LP “deverá ser, no mínimo, o estabelecido pelo cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos relativos ao empreendimento ou atividade, não podendo ser superior a 5 (cinco) anos.” É neste lapso de tempo, geralmente abreviado por interesse dos próprios empreendedores, que, de forma consensual, devem ser negociadas as condicionantes, utilizando-se, para isto, a contribuição de outras áreas do conhecimento, como a pesquisa de opinião, além da obrigação legal da Audiência Pública15, uma vez que, nos órgãos de licenciamento, devem estar representadas não só as entidades técnicas da administração pública, mas os diversos segmentos da sociedade civil. Há, ainda, as fases da Licença de Instalação (LI) e da Licença de Operação (LO), em que também podem ser revistos pontos do projeto e suas condicionantes. Isso ocorre, principalmente, em empreendimentos realizados de forma mais lenta, que se beneficiam de todos os prazos para obtenção da LP, LI e LO. Por estarem sujeitos a profundas alterações nas dinâmicas socioeconômica e socioambiental das áreas urbanas ou rurais onde se inserem, podem obter vantagens. Condicionantes para implantação de empreendimentos potencialmente geradores de impactos no meio ambiente são, grosso modo, uma forma que a sociedade civil organizada e a sociedade política encontraram para não só evitar impactos ambientais, mas também para o Poder Público melhorar as condições infra-estruturais de algumas áreas em que ele teria o dever constitucional de investir, posto que dispõe de parcos recursos para tal, como já ressaltado. Desde a reforma tributária dos anos 1970 e antes da vigência da Lei de Responsabilidade Fiscal, a maioria das prefeituras endividou-se e, com a aceleração do processo de urbanização, nas três últimas décadas do século XX, não conseguiu realizar projetos que ampliassem ou melhorassem a infra-estrutura das cidades, que acompanhassem o aumento
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